ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

Carlos Gomes

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5.5 – COMÉRCIO INTERNO

O comércio interno manifestava-se numa divisão em ramos comerciais diferenciados, visível nas actividades retalhistas que eram condicionadas pela técnica de produção e o nível do sistema transportador. O comércio não-profissional dependia da margem de bens que excediam o auto-consumo familiar. Nisso se distinguia do comércio ambulante e do comércio local fixo.

As cidades desempenhavam o papel de centro comercial para a população dos arredores. Era a sua função principal e nela se situavam, além dos edifícios públicos e dos templos, sobretudo lojas de retalhistas. Cada ramo de comércio tinha o seu lugar marcado. A organização das trocas locais era muito mais susceptível de regulação do que o comércio de longa distância. Com o decorrer do tempo desenvolveu-se o comércio longínquo de algumas matérias-primas procuradas para o fabrico de artefactos a que depois se juntaram os minérios.

O domínio estatal estendia-se ao comércio local fixo pertencendo-lhe, nas diversas povoações, os edifícios e locais onde se vendiam os diferentes géneros. Nestes locais, as transacções implicavam o pagamento de contribuições, dízimas ou oitavas. Os cereais, quando fornecidos como tributo da população local, eram trocados por produtos manufacturados, quer se tratasse de objectos utilitários ou decorativos. Pelas suas características o pequeno comércio interno conseguia, em grande medida, fugir ao domínio senhorial.

No Egipto, o controlo rigoroso da actividade comercial não dava lugar a que o comércio privado desempenhasse um papel importante na economia do país. Porém, o pequeno comércio de retalho continuava a florescer nos mercados das aldeias e nos bazares das cidades, embora o governo tivesse instituído taxas sobre a maior parte dos objectos vendidos, cereais ou azeite, animais ou produtos manufacturados.

No Império Romano, os principais factores que determinavam o comércio interior entre as províncias consistiam na disponibilidade existente em mercadorias que permitia a uma região satisfazer as necessidades de outras regiões.

Na China, o comércio interno concentrava-se em bairros mercantis que funcionavam sob a supervisão do governo. Quando lhe convinha, o Estado concedia monopólios e privilégios aos grandes comerciantes e às corporações mediante um adiantamento sobre as taxas que eles próprios se encarregavam de cobrar. Uma grande parte do comércio chinês era interno e independente dos regulamentos de exportação e importação. As vastas extensões que constituíam o país eram mais ou menos suficientes para si próprios.

Na Índia, o comércio estava centralizado nos bazares onde se encontravam lojas e entrepostos. A procura de matérias-primas obrigava a um comércio de longa distância, através de trocas simples ou complexas, que por sua vez levavam a uma interacção regional.

Na Europa, século XVIII, o aumento da procura dependia do aumento da população, das mudanças verificadas na agricultura que apontavam para uma intensificação de compras no mercado aberto, do progressivo aumento do poder de compra das populações rurais, da uniformidade cada vez maior do consumo, do crescimento dos centros urbanos.

Na África Ocidental, o comércio local ou inter-regional era assegurado por almocreves que, individualmente ou em grupo, ocorriam aos mercados locais, transportando e vendendo de tudo um pouco. Porém, era intensa a luta entre comerciantes e comerciantes locais, que dispunham de estabelecimentos próprios em várias cidades.

Na América, o comércio entre as aldeias era florescente, tanto para os produtos agrícolas como para os produtores de matérias-primas e produtos manufacturados. O desenvolvimento do comércio costeiro contribuiu para a existência duma vasta rede de trocas entre as diversas comunidades da costa e dos planaltos. As populações apresentavam uma forte tendência para satisfazer as suas necessidades não apenas com produtos locais, mas também através do comércio regional. Em grande parte das Américas, a economia de produção alimentar foi seguida duma clara evolução social onde o aumento da relação entre pessoas e recursos e a especialização produtiva conduziram à expansão das trocas entre famílias e entre comunidades.