ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

Carlos Gomes

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7.5 – BURGUESIA URBANA

A população urbana era constituída por alguns grupos principais: um deles, abrangia os comerciantes, mercadores, armadores navais, mestres artesãos, os lavradores mais ricos, funcionários administrativos e certos profissionais mais destacados; um outro grupo era constituído por artesãos, pequenos comerciantes e artífices; um pequeno estrato integrava alguns assalariados. A burguesia urbana incluía, fundamentalmente, a burguesia mercantil, industrial e a burguesia de Estado. À medida que o papel económico do artesanato se torna mais destacado, os mestres artesãos organizam-se em corporações e começam a intervir organicamente na administração concelhia.

Muito antes de surgir uma manifestação clara de consciência de classe por parte da burguesia mercantil, existia já um grupo de mercadores com um papel activo e específico na vida social. A burguesia comercial, fazia empréstimos à tesouraria do Estado, além de desempenhar frequentemente funções de cobradores de impostos. Muitas vezes operava sob as ordens duma burguesia cosmopolita, que controlava também as feiras internacionais,

Uma das suas características é a presteza com que entrou em acordos com a sociedade senhorial, assim que os seus privilégios foram conquistados. Tais acordos foram, em parte, de natureza económica, mas também assumiram aspectos sociais e políticos. A burguesia adquiriu propriedades, entrou em sociedades comerciais com a aristocracia, recebeu os descendentes da nobreza nas suas corporações, aceitou alianças políticas nos governos das cidades, nos cargos ministeriais ou lugares na Corte.

A burguesia colocava-se inicialmente num degrau hierárquico depois do clero e da nobreza, mas assumia-se cada vez mais como uma fracção dirigente. O domínio político e administrativo pertencia ainda à classe senhorial, mas uma oposição antagónica basilar entre a aristocracia e as restantes classes espelhavam já conflitos inevitáveis de interesses. A burguesia urbana tinha como evidente objectivo alargar cada vez mais o âmbito da sua actividade, estendendo-a para além dos confins do termo dos concelhos. Porém, deparava com limitações resultantes do tipo de relações de produção características dos domínios senhoriais, da dificuldade de incrementar para além de certos limites a colocação de bens comercializáveis, de satisfazer os encargos e as exigências impostas pela classe senhorial. A sua força crescente, muitas vezes apoiada pelos soberanos, era utilizada contra as incursões senhoriais e na defesa dos seus privilégios e interesses.

A preponderância da alta burguesia, que tendia a vincar a sua autonomia, ia-se afirmando sobretudo nos órgãos de administração municipal ou nas reuniões magnas dos homens do concelho. Os membros instruídos da burguesia eram muitas vezes colocados nos conselhos reais, na administração urbana, nas direcções municipais ou eram-lhes confiada a responsabilidade dos organismos locais encarregados dos interesses económicos e fiscais do Estado. A burguesia participava assim da centralização da autoridade real.

Na sociedade capitalista, a alta burguesia torna-se uma classe dominante, proprietária dos meios mais importantes e decisivos da produção e vivendo primordialmente à custa do trabalho assalariado. A sua fonte de rendimentos ia desde os provenientes da mais-valia, fonte da acumulação de capital, da exploração dos pequenos produtores e comerciantes e dos povos de países menos desenvolvidos. O objectivo fundamental da sua actividade reside na obtenção do máximo de lucro com o mínimo de capital desembolsado. Esta obcecação conduz ao desencadear duma exploração sem limites das camadas trabalhadores, à produção de artigos de consumo inúteis ou prejudiciais, à destruição do ambiente, ao domínio de outros povos ou à condução de guerras altamente destrutivas das populações e dos meios de produção.

Na Grécia, desenrolou-se uma luta de vários séculos entre a aristocracia latifundiária e os comerciantes que pretendiam conquistar maiores facilidades para a venda das suas mercadorias.

No Império Romano, a burguesia urbana, composta por diversas profissões, lojistas, empreiteiros, homens que pelas suas funções ou situações económicas se distinguiam pela sua posição social, viam reforçados o domínio económico e o político, daí retirando benefícios que asseguravam a sua posição como classe.

Na sociedade islâmica, no final do I milénio, ocorrem modificações que reflectiram as aspirações duma classe média surgida nos centros urbanos que adquiriu gradualmente uma significativa fortuna e influência. Travou-se então uma luta entre as tradições tribais e as novas ideias islâmicas que conduziu a um processo de transformação social relevante.

Na Europa Ocidental, século XVIII, a burguesia constituía o segundo patamar da escala social, devido à sua grande riqueza material como ao elevado apreço que conseguira granjear junto de outros grupos. Era uma classe principalmente composta por gente cuja riqueza derivava da posse dos meios de produção não agrícola, ou seja, aqueles que possuíam “riqueza dinâmica” e cujo espírito industrial contrastava com a vida de ócio duma nobreza que vivia dos rendimentos do trabalho de outrem. As suas fileiras foram engrossadas por mercadores, antigos artesãos, técnicos especializados, comerciantes, banqueiros. A riqueza da burguesia não era igual à da aristocracia, pois expressava-se fundamentalmente em termos monetários. A classe era mais dinâmica e os seus lucros derivavam dos negócios e a acumulação de capital permitia investimentos na indústria e em propriedades tanto citadinas como rurais. Esta riqueza abria-lhes o caminho para a ascensão social e até mesmo para a nobilitação. A burguesia mantinha-se fiel aos órgãos de soberania que constituíam uma fonte de negócios lucrativo e que, com frequência, decretavam medidas favoráveis ao comércio e à indústria num contexto de proteccionismo. Apesar de tudo, a burguesia sentia-se em desvantagem no seio da ordem estabelecida e considerava injusto o sistema de privilégios que a nobreza ainda mantinha. A própria riqueza acumulada estava encurralada num sistema económico que representava uma barreira em termos de desenvolvimento futuro. A aristocracia constituía um obstáculo ao seu progresso económico, ao seu reconhecimento por parte da sociedade e à defesa dos seus interesses por parte do poder político. Daí a luta renhida que se travou em numerosos países.