ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

Carlos Gomes

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II PARTE - ACTIVIDADES ECONÓMICAS E SOCIAIS

A actividade do homem realiza-se sempre no quadro de determinadas relações e estruturas económicas e sociais. Traduz não só a sua atitude em relação aos objectos de trabalho, mas também a ajuda e participação colectiva das pessoas, adquirindo assim o carácter duma actividade conjunta. A actividade humana contém duas características inteiramente ligadas e inseparáveis: a acção material e o pensamento. Nenhuma ideia, objectivo ou desejo do homem podem ser alcançados sem a realização duma actividade física, sem a utilização de meios materiais e de instrumentos de trabalho. Qualquer acção material do homem exige, por outro lado, a compreensão do seu sentido, a posse de determinados hábitos e consciência do seu objectivo; a actividade prática activou o desenvolvimento do pensamento que foi levado à compreensão generalizada das pessoas através da linguagem e da escrita.

Desde que o homem começou a produzir, a actividade económica tornou-se ininterrupta e essencial para, de forma mais ou menos perfeita e espontânea, assegurar o nível geral das condições dominantes de existência. Nenhuma sociedade poderia subsistir se interrompesse ou deixasse de produzir bens e serviços, suspendesse a sua circulação ou frustrasse a sua distribuição entre os seus membros. Esta lei é válida para qualquer formação económica, mantém-se na actualidade e, é de crer, que continue a manter-se no futuro.

Segundo Aron I. Gurevitch, “A actividade económica constitui uma das componentes da vida social, das relações recíprocas entre o mundo e o homem e da influência criadora do segundo sobre o primeiro”. (As Categorias da Cultura Medieval, pag. 247, Ed. Caminho, 1990)

A actividade económica é uma grandeza susceptível de ser medida ou comparada no tempo ou no espaço, sofrendo as inevitáveis modificações e mutações que lhe são inerentes dentro do enquadramento de cada sociedade. As acções efectuadas por unidades elementares concretizam-se no decorrer do tempo através do desenrolar do processo económico e desenvolvem-se em espaços que têm as suas dimensões próprias. O espaço deve ser tomado como um lugar concreto dotado de características físicas, climáticas e composição dos solos, habitado por seres humanos, exercendo as mais diversas actividades enquadradas no modo de produção vigente, dotado de meios tecnológicos e culturais diversificados, que se organiza de maneira mais ou menos estável, ainda que variável no tempo.

O desenvolvimento das forças produtivas reflecte-se na modalidade e no peso relativo dos diferentes sectores da actividade económica. Segundo a relação directa ou indirecta entre a natureza e o homem ou entre os próprios homens, podem distinguir-se três tipos de actividade económica. Entre todas eles existem relações de interdependência mútua: o vestuário não se obtém sem a transformação da matéria-prima, algodão, lã ou seda; as máquinas exigem a extracção prévia do ferro e a sua transformação; a preparação dos trabalhadores exige a prestação duma formação escolar. Na actividade primária, é decisivo o papel desempenhado pela própria natureza. É o que acontece com a agricultura, a caça, a pesca, a criação de animais ou a extracção mineira. O resultado da produção depende em grande medida das condições naturais, sem excluir os utensílios e as técnicas utilizadas. A transformação dos produtos da actividade primária dá lugar a um tipo de actividade denominada secundária ou transformadora. O trabalho é efectuado em condições que reflectem um maior domínio das forças da natureza por parte do homem e incide sobre produtos já anteriormente obtidos. A produção, já com características artesanais ou industriais, depende em grande parte da força de trabalho, da evolução técnica dos instrumentos utilizados, da energia e até dos modos de organização. Na actividade terciária, ou dos serviços, a relação entre o homem e a natureza é ainda menos directa. Estes serviços podem estar ligados à produção material, como os transportes ou as comunicações, o comércio, a gestão pública ou podem ser prestados a indivíduos fora da actividade directamente produtiva, como a saúde, a educação, a investigação, os serviços culturais e desportivos.

Com a formação de classes sociais antagónicas, os objectivos da actividade dos homens deixam de ser determinados apenas pela satisfação das necessidades reais dos indivíduos ou das comunidades. Tais objectivos diferem dum modo de produção para outro. Adquirem a forma de acumulação de riqueza, a realização dum rendimento em espécie ou monetário e a execução de uma certa incumbência social. No sistema capitalista caracterizam-se pela acumulação intensiva de capitais e a obtenção máxima de lucros.