Uma perspectiva keynesiana
Tesis doctorales de Economía

POLÍTICA CAMBIAL E MACROECONOMIA DO DESENVOLVIMENTO

Paulo Gala

 

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Uma perspectiva keynesiana

De uma perspectiva keynesiana, a formalização da crítica à estratégia de crescimento com poupança externa apresentada acima deve abrir mão da hipótese de pleno emprego e definir uma função investimento que anteceda a poupança, gerada ex post pela criação de renda. Os impactos do câmbio devem aparecer diretamente na função investimento e a demanda agregada deve determinar o nível de utilização da capacidade instalada e emprego.

Um modelo de inspiração keynesiana de Bhaduri e Marglin (1999) mostra como um câmbio relativamente desvalorizado pode contribuir para aumentos de investimento, poupança e acumulação de capital. Ao definir uma função investimento que depende de capacidade utilizada e de margens de lucro e uma função consumo que depende dos salários reais, os autores introduzem o nível da taxa de câmbio no processo de acumulação de capital. Como no argumento de Bresser (2004a), o nível do câmbio real define o nível dos salários reais no curto prazo ao estabelecer o preço relativo entre bens comercializáveis e não comercializáveis: um câmbio relativamente apreciado significando menores preços de comercializáveis, maiores salários reais, menores margens de lucro, maior consumo e menor investimento; um câmbio relativamente depreciado significando maior preço de bens comercializáveis, menores salários reais, maiores margens de lucro e maior investimento. No segundo caso, a subvalorização contribuiria também para um aumento da utilização de capacidade instalada e investimento decorrentes do maior nível de exportações e renda. Com funções investimento e exportações suficientemente elásticas, a economia poderia entrar num tipo de crescimento “investment-led”.

Os autores iniciam o modelo com uma definição da função poupança S dependendo de uma parcela fixa s do lucro dos capitalistas. Os trabalhadores consomem o total de sua renda e, portanto, não poupam.

S =sR = s(R / Y)(Y / Y *)Y * (1)

Onde R é a renda dos capitalistas e Y * o produto potencial. Simplificam ainda mais a expressão ao definir h =R / Y como a porcentagem de renda dos capitalistas em relação à renda total e z =Y / Y * como o nível de utilização de capacidade instalada. Definindo o produto potencial como Y* = 1, chegam a seguinte expressão:

S = shz (2)

1 > h > 0 (2.1)

1 > z> 0 (2.2)

Assumindo uma firma verticalmente integrada como representativa do processo produtivo, definem a seguinte regra de formação de preços de inspiração kaleckiana:

p =(1 + m)bw (3)

Onde p é o nível de preços, w o salário nominal, 1/ b a produtividade to trabalho e m um “mark-up” sobre os custos de trabalho. Definindo-se W /Y como a participação dos trabalhadores na renda, N como trabalhadores empregados e b = N /Y , temos que,

W / Y = wN / pY = bw/ p = 1/1 + m (4)

E a participação dos capitalistas na renda, h =R / Y será,

h = R /Y = ( pY -wN)/ pY = 1 -W / Y = m /1 + m (5)

As expressões (3), (4) e (5) também deixam claras as questões de distribuição de renda. Para um dado nível de produtividade, existe uma relação inversa entre “mark-up” e salário real. Quanto maior o “mark-up”, maior a participação dos lucros na renda h . Uma maior participação dos lucros na renda implicará necessariamente uma menor participação dos salários. Um “mark-up” maior estará associado a um salário real menor.

Levando-se em consideração a equação (2) que tem implícita a hipótese de que os trabalhadores consomem 100% de sua renda, os autores concluem inicialmente que aumentos dos salários reais significam reduções da poupança interna e aumentos de consumo. Como conseqüência, a demanda agregada poderá cair ou aumentar, dependendo dos efeitos da queda das margens de lucro na função investimento. Inicialmente os autores definem uma função investimento que depende positivamente da margem de lucro (h):

I = I(h) (6)

¶I / ¶h > 0 (6.1)

Ao igualar poupança a investimento chegam ao equilíbrio do mercado de bens que define uma relação IS.

shz =I(h) (7)

O nível de utilização da capacidade instalada em relação a margens de lucro praticadas dependerá da seguinte derivada:

¶z /¶h = (Ih -sz)/ sh (8)

Ih=¶I / ¶h > 0 (8.1)

Como sz é sempre positivo, a utilização da capacidade instalada aumentará ou diminuirá dependendo da diferença (Ih -sz) . Se o investimento for pouco elástico a va riações nas margens de lucro, quedas de salário real terão efeitos recessivos, pois a queda do consumo não será compensada por um aumento de investimento dos empresários (Ih < sz). Essa é a clássica tese do subconsumo, onde reduções de salário real reduzem o consumo e demanda agregada. Se os investimentos forem altamente sensíveis à margem de lucro, teremos então

o efeito oposto. Reduções do salário real aumentarão os lucros que por sua vez aumentarão a demanda agregada e a utilização de capacidade instalada. A economia entrará numa trajetória de “investment-led growth”. Num segundo passo, os autores incorporam o nível de utilização da capacidade instalada z como argumento direto da função investimento que passa agora a depender da margem de lucro/participação do lucro na renda h e de z , gerando um novo equilíbrio no mercado de bens (curva IS).

I= I (h, z), Ih > 0, Iz > 0 (9)

shz = I (h, z) (10)

¶z / ¶h = (Ih -sz) /( sh -Iz ) (11)

Segundo os autores, ao impor a condição keynesiana de que o equilíbrio no mercado de bens se dá por variações do nível de poupança e não de investimento sh -Iz > 0 , chegam aos mesmos resultados apresentados no parágrafo anterior.

Estendendo o modelo para uma economia aberta, introduzem funções para o volume de exportações Xe e importações Xm que dependem respectivamente do câmbio real q e do nível de utilização de capacidade instalada z , com as seguintes elasticidades: (dXe / dq )(q / Xe ) =he (12)

(dXm / dq )(q / Xm ) =-h m (13)

(¶Xm / ¶z)(z / Xm ) = u (14)

No novo equilíbrio do mercado de bens, o total da poupança mais o gasto com importações M deverão se igualar ao total do investimento mais o gasto em exportações E ,

shz + M = I(h, z) + E (15)

A derivada parcial de utilização de capacidade instalada em relação à margem de lucro será muita próxima da situação de economia fechada (expressão 10):

¶z / ¶h = (Ih -sz)(gu + sh -Iz ) (16)

Onde g representa a participação inicial de importações e exportações sobre o produto e u é a elasticidade do volume de importações em relação à utilização da capacidade instalada. Novamente assumindo que (gu + sh -Iz ) > 0, chega-se a conclusões semelhantes às desenvolvidas inicialmente.

No modelo em economia aberta, uma desvalorização real do câmbio reduzirá o salário real e aumentará a margem de lucro dos empresários. Haverá aumento de investimento, exportações e nível de renda contanto que as funções sejam suficientemente elásticas. No caso das exportações e importações, o efeito total sobre a balança comercial e contas correntes será positivo se valer a condição Marshall Lerner (he + hm > 1) (Bhaduri e Marglin 1999 pg.115).

Em síntese, o modelo apresenta possíveis respostas de um sistema a variações exógenas de salários e câmbio real numa perspectiva keynesiana. A influência do nível do câmbio real no investimento e poupança agregados via definição do nível do salário real representa um importante canal macroeconômico pouco explorado pela literatura de “mainstream” ou estruturalista.


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