Arturo Sousa (CV)
1. Pedestrianismo: significado, caraterização e singularidades:
                1.1.  Conceitos e considerações gerais do pedestrianismo
O pedestrianismo é nas  sociedades atuais uma atividade desportiva, de lazer, de natureza e ainda  cultural e turística (Bietolini, 2007; Braga, 2007; Calmé, 2011; Gabriel, 2005;  Gonçalves, 2002; Granet, 2012; Santos & Cabral, 2005). Isto acontece porque  é uma tendência atual de exercício físico, que implica algum movimento. É lazer  porque tende a ser uma prática planeada e realizada num tempo livre fora das  obrigações sociais. Todavia, é uma forma de identidade pessoal e social, que  envolve elementos culturais e do património natural dos povos, bem como pode  levar a viagem para outros territórios com vista à sua prática. 
                Esta atividade é uma prática  singular bastante realizada nos dias que correm por indivíduos um pouco de todo  o mundo, desde turistas, residentes, curiosos, jovens e idosos, entre tantas  outras categorias. No entanto, “se quisermos falar em passeios a pé como  prática organizada, sobretudo pelas famílias, recuaríamos ao século XVIII e  como local apontaríamos a Inglaterra” (Braga, 2007: p.10). Este autor diz-nos também que só depois da 2ª guerra  mundial deu-se o “boom” da criação de percursos por várias regiões de Portugal  e do mundo. No entanto, desde cedo já  existiam práticas que foram a origem desta atividade, uma vez que na Idade  Média e depois, no Renascimento “eram sobretudo os comerciantes e os peregrinos  que se deslocavam por milhares de quilómetros, em míticas viagens que duravam  anos, à procura de novos mercados, da espiritualidade e da saúde, à descoberta  de novos mundos” (BIETOLINI, 2007: p. 7).
                O pedestrianismo integra-se  numa sociedade atual que está muito marcada pelo lazer e desporto, enquanto  práticas importantes no dia-a-dia das pessoas. Com isto, define-se como “uma  atividade de percorrer distâncias a pé, de forma a desfrutar de tudo o que  rodeia, a um ritmo tranquilo” (Santos & Cabral, 2005: p.103). 
                Em Alencoão et al. (2010), Gonçalves (2002) e Tovar  (2010) constata-se que o pedestrianismo pode ser praticado por amplas camadas  da população, em grupos e/ou famílias, por não requerer equipamentos e  conhecimentos sofisticados, tal como não ser uma atividade tendencialmente  perigosa. 
                Gabriel (2005) refere que os  percursos pedestres/rotas ao serem caminhos-suporte da passagem humana, podem  ter certas comodidades que potencializam o exercício físico e a interação  social, sendo elas, pontos de beber água, parqueamentos, condições de segurança  como a sinalização dos percursos. Tovar (2010: p.22) acrescenta que esta “é uma  atividade de baixo custo para o praticante, pouco exigente em termos de forma  física, sendo praticado por mulheres, crianças e pessoas pertencentes às faixas  etárias mais elevadas”. 
                Para Raimundo (2007) o  pedestrianismo pode ser feito com ou sem monitor da caminhada, o qual pode  orientar e caraterizar o percurso, a sua história, suas atrações, atributos,  especificidades, entre outros aspetos. O monitor assume um papel importante  aqui, pois para (Alencoão et al., 2011: p.77) esta “é uma atividade que comporta riscos”, daí ser necessária a  consciencialização dos praticantes para os mesmos. É o monitor aquele que,  normalmente é melhor instruído para situações anómalas. 
                Outra ideia importante é que  “o clima e as condições atmosféricas influenciam a atividade do pedestrianismo”  (Alencoão et al., 2010: p.27). Estes  podem potencializar ou inibir a prática por períodos irregulares. Podendo  também condicionar a duração dos percursos, por questões de pavimento, de  visibilidade, entre outras. 
                Não obstante, Raimundo  (2007: p.127) refere que “os percursos pedestres não se resumem somente às  marchas de meio-dia ou de um dia”. Isto porque tendem a poder ser feitos ao longo  do ano.
                O  Turismo de Passeio Pedestre é uma das tantas modalidades de Turismo de  Natureza, também denominado para Granet  (2012) de ‘Turismo de Itinerário/itinerante’, esta prática integra-se na denominada “Natureza Soft”, da  Organização Mundial do Turismo (OMT), porque segundo THR (2006: p.9) a  motivação principal dos praticantes de “Natureza Soft” reside em “viver  experiências de grande valor simbólico, interagir e usufruir da natureza”. 
                Tendo em conta a extensão  geográfica, o pedestrianismo, de acordo com as normas europeias, pode ser  praticado em duas tipologias de percursos pedestres – as pequenas rotas (PR até  30 quilómetros) e as grandes rotas (GR mais de 30 quilómetros). Em relação aos  graus de dificuldade dos percursos, são três sendo eles os graus fácil,  moderado e difícil, cabendo as entidades competentes como são as Câmaras  Municipais e a FCMP ditarem o grau (Braga, 2007). 
                Evidentemente, o pedestrianismo acontece em meio urbano e no meio  rural. Tanto nas áreas urbanas como nas rurais, há a sinalização dos percursos  com vista a informar os praticantes das direções, as distâncias, o tempo e  outras questões (Tovar, 2010).
                Este tipo de turismo tem  crescido bastante ao longo dos anos, tal como há um forte aumento das práticas  de merchandising de equipamentos e  serviços deste desporto de natureza, assim como o BTT (Calmé, 2011; Granet, 2012). 
                Por outro lado, em Barbosa  (2000: p. 14) encontra-se uma série exaustiva de conselhos práticos para fazer  uma boa caminhada. Entre os tantos conselhos, sobressaem os seguintes:
“leve sempre consigo uma mochila com uma muda de roupa, primeiros socorros, um saco para lixo, um apito de emergência, uma lanterna, um farnel energético e água potável. (…) Não beba água dos poços, fontes ou chafarizes sem se informar previamente sobre a sua qualidade. Se lhe disserem que é a água que costumam beber, tenha em atenção que as suas defesas podem não ser similares às das pessoas que se habituaram ao seu consumo desde sempre. Use calçado resistente e vestuário desportivo, adequado à estação do ano. No inverno, não se esqueça do impermeável e, no verão, do chapéu, protetor solar e óculos de sol. Evite caminhar ou pedalar nas horas de maior calor. Embora em passeios com as caraterísticas destes a bússola possa não ser necessária, não a dispense, é sempre um excelente ‘tira-teimas’ e, caso se desvie do bom caminho ou tenha algum azar, pode ser a sua salvação. Se tiver telefone móvel leve-o, mas não conte com ele em todos os momentos do percurso. Evite passear sozinho. Se for essa a sua opção, deixe o seu contato e uma cópia do percurso que vai fazer a alguém da sua confiança. Antes de partir leia o descritivo do passeio e organize o seu dia em função do tempo que calcula gastar, de modo a que a hora de regresso seja sempre antes do pôr-do-sol.”
Já Bietolini (2007: p. 23) apresenta-nos um leque de regras que considera fundamentais para o pedestrianista. Destacam-se os seguintes:
1.2. Prática Espacial do Pedestrianismo
Conhecer dados concretos  sobre a prática deste desporto, é muito difícil, porém como marco de dados da  atividade, selecionamos Alencoão et al. (2010: p.113), já que referem que “atualmente mais de 12 milhões de pessoas  praticam percursos pedestres na Europa”.
  É do nosso conhecimento que  há vários países do mundo com maior tradição desta atividade do que Portugal.  Alguns países da Europa destacam-se pela vasta rede de percursos sinalizados,  uma grande diversidade de empresas deste ramo e as formas de divulgação, como a  Áustria, a França, a Alemanha, o Reino Unido, a Suécia e a Suíça.  Por exemplo, TOVAR (2010) mostra-nos que a  Alemanha tem mais de 200.000 quilómetros de percursos sinalizados, Áustria com  44.000 km, Bélgica a rondar os 5000 km e Chipre com mais de 530 Km.
                Já Bietolini (2007: p. 81)  valoriza e bem, diga-se de passagem, a grandiosidade e a extraordinária  variedade de ambientes naturais do mundo que podem ser palco desta atividade  como turismo ou não: 
“do deserto do Sara à floresta amazónica, das ilhas da Polinésia aos glaciares da Patagónia ou do Tibete, guiado pela curiosidade e pela emoção. Os destinos de maior apelo encontram-se, no entanto, na Ásia, na cadeia do Himalaia entre o Nepal, o Butão, o Paquistão, a Índia e a China.”
Séguin (2010) mostra-nos o  exemplo do Québec, país da América do Norte, que tem também boas  potencialidades na modalidade de passeios pedestres, com as virtudes de  educação e interpretação ambiental assentes em recursos naturais de grande  diversidade (florestas, áreas protegidas, rios, lagos, entre outros). Todavia,  este país, atendendo as nossas pesquisas online,  apresenta potencialidades na procura e principalmente na oferta de atividades  aquáticas ligadas ao meio fluvial, principalmente quando inseridos em parques  naturais como o Parc National du Mont –Tremblant.
                Relativamente a França, este  embora seja um dos países mais visitados do mundo principalmente pelos seus  recursos e produtos culturais, em Granet (2012) podemos verificar que o TN,  acontece com algum dinamismo. Esta autora utiliza o estudo feito pelo l´Institut National du Sport de l´Expertise  et de la Performance (ISEP), para validar a importância da França, enquanto  destino com potencialidades de TN (sobretudo Turismo de Passeio Pedestre). Este  instituto conclui que a França é um país que, pelo menos 20 milhões de  indivíduos, praticam pelo menos um desporto de natureza. Este país foi um dos pioneiros na  caminhada organizada e sinalizada da Europa e, talvez por isso mesmo, tenha  milhões de praticantes com idades maioritariamente compreendidas entre os 35 e  os 64 anos e por volta de 180 mil km de trilhas sinalizadas. No caso de estudo da autora, na região dos Alpes de  Haute-Provence, ela concluiu que esta região tem 137 guias de montanha e tem uma procura internacional muito  importante capaz de gerar receitas avultadas nos territórios dessa região, mas  também das regiões envolventes. 
                Em complementaridade, Bietolini  (2007: p. 81), ao referir que a rede de percursos de natureza na Europa é  vastíssima e bem aproveitada, integrados e não só, em grandes e distintos  parques nacionais suecos e noruegueses, à respeito de França, elucida que este  país tem:
“itinerários bem sinalizados e ordenados; cartas-guia atualizadas, precisas e tecnicamente válidas; inúmeras estruturas de acolhimento e coordenação entre as várias associações. Se a isto adicionarmos um território com imensos espaços naturais e uma variedade ambiental extraordinária, a França pode tornar-se num paraíso para o trekker: da Provença, aos Pirenéus, do Maciço Central à Costa Azul, da Picardia à Córsega e, finalmente os Alpes”.
Esta atividade pela importância e contornos que exige, acaba por possuir, um pouco por todo o mundo várias associações, clubes e organizações que trabalham com essa atividade e têm como objetivo principal a promoção desta atividade. Alguns exemplos de organizações são:
1.3. Pedestrianismo e seus benefícios
A prática de passeios pedestres  por via turística ou não, possui vários benefícios tanto para os seus  praticantes como para os territórios detentores de percursos pedestres.  Basicamente são os benefícios económicos, sociais, culturais,  administrativos/políticos, que estão na base desta peculiar atividade. 
                Esta é uma atividade que não  implica grandes gastos e esforços. Já dizia Horeau (2011: p.23), em género de  crítica poética, “pensai o homem que levanta halteres, apenas por razões de  saúde, quando há fontes fervilhantes em prados e paisagens distantes, sem que  ele as explore”. 
                Neste sentido, com a  necessidade e a vontade de ter cada vez mais estilos de vida saudáveis, este  desporto é praticado por vários indivíduos que ambicionam tirar fruto em termos  de imagem e de saúde. Contudo, há outros motivos que levam certas pessoas  praticarem este desporto, como é o caso de conhecerem mais e melhor a variedade  paisagística, a fauna e a flora, as formas e singularidade dos percursos, a  vontade de distrair-se por alguns motivos e passarem em família momentos  diferentes da rotina diária. Assim, “o pedestrianismo revela-se de grande  importância na promoção da saúde, do bem-estar e da qualidade de vida das  pessoas” (Alencoão et al., 2010:  p.7). 
                Todavia, referindo-se aos  benefícios do foro da saúde, os praticantes desta atividade poderão ver  reduzidos “os problemas associados à obesidade, diabetes e osteoporose”  (Alencoão et al., 2010: p.56-57), uma  vez que “as atividades de marcha são frequentemente recomendadas pelos  cardiologistas” (Gonçalves, 2002: p.5). O praticante de pedestrianismo pode  obter uma melhor forma física realizando essa prática. Contudo, Raimundo (2007:  p.78) indica que “é completamente errado pensar que um esforço de algumas horas  (8 a 10 horas) queima as gorduras de reserva”. 
                Todavia, sublinha-se que  pedestrianismo pode ter a função recreativa e/ou a educativa (Alencoão et al., 2010). Com isto, Pires (2010) é  das autoras que complementa esta ideia ao referir que independentemente da  idade, sempre se aprende alguma coisa. Deste modo, os percursos são recreativos  porque estimulam o convívio e o bem-estar, mas também podem ser fruto de alguma  aprendizagem sobre fauna, flora, formas geomorfológicas e a história do povo  recetor. 
                Em contextos urbanos, o  pedestrianismo constitui “uma válvula de escape para o sedentarismo das grandes  cidades e de fuga ao stress quotidiano das sociedades urbanas” (Gonçalves, 2002: p.11). 
                Outro benefício para os  praticantes de pedestrianismo reside no possível convívio social. Convívio  entre famílias e amigos ou até mesmo entre a comunidade recetora, como trocas  culturais/de ideias. Esta questão está bem patente em Pires (2010) e em Tovar  (2010), pois estas autoras o exaltam, aliado ao lazer e a distração. 
                Os praticantes poderão  beneficiar da consolidação mais esclarecida da sua consciência ecológica, pois  terão a oportunidade de conhecerem e valorizarem melhor os processos ecológicos  relacionados com o território (Gabriel, 2001; Gabriel, 2005). 
                Em relação ao território  recetor de praticantes de pedestrianismo e detentor de percursos pedestres,  este pode usufruir de benefícios concretos caso haja uma procura considerável  desta prática. Esta procura pode levar a criação de emprego e riqueza no  território, com os praticantes a comprar determinados produtos/serviços. Esses  mesmos praticantes estrangeiros ou nacionais podem ser fundamentais para  divulgar esses patrimónios e especificidades dos percursos pedestres. Deste  modo, isto pode ser bom para a procura e desenvolvimento local, em termos  económicos e sociais com as pessoas a se sentirem valorizadas pelo seu  património (Alencoão et al., 2011;  Gabriel, 2005; Gonçalves, 2002). 
                Ao propósito, Braga (2007:  p.18) aponta ainda que esta prática de passeios pedestres “poderá ajudar a  rentabilizar a oferta da hotelaria, restauração, alojamento rural, turismo de  habitação, etc.” À título de complementaridade, Gonçalves (2002: p.11) diz que  esta atividade “fomenta a amizade e o intercâmbio cultural, facilita o  conhecimento do nosso país, das suas gentes, costumes e tradições”. 
                Além disso, para Gonçalves  (2002: p.11) o pedestrianismo “permite o conhecimento e a sensibilização  ambiental promovendo a proteção da natureza”. Este pode valorizar a conservação  dos caminhos, calçadas, lugares de interesse, a fauna e a flora, pois depende  dos mesmos para a sua prática. Aqui as entidades governamentais terão um papel  decisivo para instrução e consciencialização.
2. Caso Prático:  
                2.1. Caraterização do território do Funchal 
O Funchal tem cerca de 76 km², com 10 freguesias. Este, enquanto concelho e capital da Região Autónoma da Madeira (RAM – 11 concelhos), apresenta o maior número de habitantes da região com mais de 111 mil pelos censos de 2011, daí o seu grande dinamismo (Figura 2).
É um município onde,  conforme o website da Câmara  Municipal, o desporto e a ocupação dos tempos livres têm ganho uma dinâmica  democratizada, pois pessoas de todas as idades envolvem-se em práticas de lazer  e de desporto em clubes e associações. Estas entidades, segundo a mesma fonte,  movimentam cerca de 8200 atletas. 
                Algumas atividades  promovidas pela autarquia são eventos lineares de percursos pedestres  organizados por monitores e outros desportos como jogos tradicionais, a vela, a  canoagem. Isto com recurso a determinados clubes e associações do município,  onde participal turistas e moradores locais. 
                Não obstante, é uma região  que depende bastante do Turismo, tal como o resto dos concelhos da Ilha da  Madeira, contudo, sendo a capital acaba por possuir mais turistas.O concelho  apresenta várias atrações culturais e naturais que levam a que turistas e  visitantes se façam sentir em número considerável pelo dinamismo económico que  apresenta. Por exemplo, de acordo com o Anuário Estatístico de 2010 da RAM  registaram-se, em 2010, 639 811 hóspedes e 3 361 613 dormidas nos  estabelecimentos hoteleiros do Funchal. 
                Neste sentido, turistas,  visitantes e residentes são importantes para o desenvolvimento económico da  região. O Funchal tem maior número deles da RAM, sendo eles os principais  atores na prática de desportos e/ou lazeres muito díspares.
2.2. As levadas do Funchal
As levadas do Funchal são o  principal produto turístico do Turismo de Passeio Pedestre. Estas são  maioritariamente praticadas por turistas nacionais e estrangeiros, sendo que  também a população local se servem delas atendendo aos mais diversos motivos  (Quintal, 2005; 2010). Não se sabe especificamente um número concreto, porém,  dada a sua especificidade na procura e na oferta de percursos pedestres, esta  “foi pioneira na aprovação de legislação relativa aos percursos pedestres”  (Braga, 2007: p.69). Um exemplo é o Decreto Legislativo Regional nº 7-b/2000/M,  que estabelece os percursos pedonais recomendados desta região e as entidades  regionais de controlo dos espaços como as autarquias. 
  É em Quintal (2010: p.1) que  vemos as levadas como “ricas peças do património cultural da ilha da Madeira e  a expressão viva de como foi possível a intervenção humana sem criar rupturas  significativas no funcionamento dos ecossistemas”. É através delas que é  possível descobrir recantos de beleza indescritível daí a grande potencialidade  da ilha da Madeira no pedestrianismo. 
                Este produto turístico ainda  está ligado à agricultura, pois as levadas são usadas para transportar água  para a rega de certa prática agrícola pelos proprietários de terras. Estas têm  um papel fulcral no desporto, lazer e turismo (Quintal, 2005). Já dizia Quintal  (2010: p. 15) que elas “levam-nos às fantásticas áreas da Laurissilva”. Esta  referência é importante porque as levadas do Funchal e do resto da ilha  confrontam-se com espécies naturais da Floresta Laurissilva (considerada  Património Mundial pela Unesco). 
                O Funchal é detentor de 5  percursos pedestres que são muito utilizados para agricultura, para lazer e  desporto, tal como pelos turistas que querem usufruir da natureza. Aqui  destacam-se os percursos que são recomendados a visita e realização: 
                - Do Monte ao Bom Sucesso;  Do Monte à Camacha; 
                - Levada dos Piornais; 
                - Levada do Curral e  Castelejo; 
                - Caminho da Neve. 
Em relação as levadas mais visitas e praticadas por caminhantes, sobressaem a levada do Curral e Castelejo e a dos Piornais, dado que Duarte Oliveira, técnico superior da Câmara Municipal do Funchal, que respondeu ao questionário, confirmou. Este assegura que o pedestrianismo desenvolve o município, porém deve “ser explorado, enquanto produto/nicho turístico”. A levada dos piornais e a levada do Curral e Castelejo singularizam-se pelas paisagens possíveis de ver, tal como pela presença de formações rochosas “diferentes”. Aqui também podem-se ver espécies vegetais singulares como é o caso da cana viera e da tabaqueira (Figuras 3, 4, 5 e 6).
Nas levadas do município,  algumas vezes ao longo do ano, são organizadas saídas por escolas e por  encontros programados pela autarquia do Funchal. Um pouco por todas essas  levadas, os praticantes de pedestrianismo beneficiam de aspetos consideráveis,  assim como beneficiam o Funchal. Os praticantes podem beneficiar de vários  elementos, entre os quais: 
                - Conhecimento de novas  realidades; 
                - Boas paisagens; 
                - Aprendizagem/visionamento  da Floresta Laurissilva; 
                - Convívio/distração entre  pessoas; 
                - Diminuição do stress associado à quebra da rotina; 
                - Desenvolvimento dos laços  familiares; 
                - Melhorias nas condições de  saúde/aspeto físico aliadas ao ar puro das levadas. 
O Funchal dinamiza-se pela  prática do pedestrianismo com o desenvolvimento de serviços e de produtos  concretos. De acordo com Duarte Oliveira, os praticantes tendem a gastar  algumas quantias no município. Quanto mais não seja, podem gastar em alojamento  e restauração e já reverte para o desenvolvimento local. Outro benefício desta  prática no Funchal ocorre com a criação de emprego em serviços e produtos  associados ao pedestrianismo. Todavia, havendo uma procura considerável destas  levadas, esta é fundamental para divulgar e ao mesmo tempo para promover a  preservação das levadas, uma vez que elas são objeto de “uso” pelos  caminhantes. 
                Os funchalenses valorizam e  sentem-se orgulhosos pelas suas levadas e suas paisagens, porque estas atraem  imensos turistas e/ou praticantes de pedestrianismo. Os próprios munícipes  tendem a praticar pedestrianismo, porém há mais praticantes de indivíduos do  exterior, isto reforça Duarte Oliveira. 
                Além disso, a prática de  pedestrianismo pode ser primária ou secundária. Primária porque as pessoas  deslocam-se para o município com a razão principal de realizarem percursos  pedestres. E secundária porque as pessoas podem realizar algum percurso  pedestre, mas o motivo principal da sua deslocação foi outro, como por exemplo  assistir as festas da ilha, ir as praias, entre outros.
                Relativamente ao perfil de  utilizadores dos percursos pedestres do município, Duarte Oliveira evidencia  que são “normalmente turistas ativos e interessados na nossa biodiversidade e  igualmente grupos de munícipes associados à instituições sociais e  desportivas.” Atendendo às perceções obtidas com trabalho de campo, há muitas  famílias, desde estrangeiras às nacionais, que praticam esta atividade no  Funchal. 
                Os meios de divulgação destes percursos pedestres passam pela via  formal, com recurso a entidades competentes e coordenadas com a Câmara  Municipal do Funchal (a própria autarquia, associações recreativas, Direção  Regional de Turismo) e informal por meio dos praticantes nacionais e  estrangeiros que indicam a realização dos percursos a outras pessoas  (familiares, amigos/conhecidos). 
                Este concelho apresenta uma  variedade alargada de empresas que promovem e exercem a sua atividade no  pedestrianismo. Embora a visitação dos percursos possa ser realizada  gratuitamente, algumas empresas como a Madeira Blue sun a Madeira  Adventure Kingdom e a Madeira Explorers oferecem serviços de  monitorização e de guia-intérprete dos percursos pedestres no Funchal e um  pouco por toda a ilha. Estas não se restringem ao pedestrianismo, pois  valorizam outras áreas desportivas de natureza como o mergulho, asa delta e  outros. 
                Por fim, elucida-se que a  utilização dos percursos pedestres do Funchal deve ser cuidadosa e sustentável,  uma vez que, caso não haja uma prática equilibrada e correta por parte dos  caminhantes, poderão ser afetados o solo, a água, a vegetação, a fauna, e as  formações geológicas.
3. Conclusão  
                Na presente investigação  procurou-se consolidar o conhecimento sobre a temática do pedestrianismo, daí  que foram abordadas as suas caraterísticas e valências, seguindo-se pelo caso  prático em contexto territorial do Funchal. 
                O pedestrianismo é uma  atividade incontornável e uma tendência desportiva e de lazer de grande  importância. Este tem vindo a congregar mais simpatizantes pela sua  singularidade no preço, qualidade, disponibilidade e valor natural/humano. É  uma atividade que pode de facto oferecer benefícios. Esses benefícios irão  depender evidentemente dos praticantes e dos territórios, que por sua vez,  similarmente “trocarão” benefícios entre ambos. 
                Está mais que visto que o  modo como se usa o tempo livre, aquele tempo em que não se tem obrigações  sociais (trabalho, dormir e outros), constituí uma importância incontornável nos  dias que correm. Cada pessoa é livre, na medida do possível, de desenvolver um  estilo de vida adequado às suas aspirações. Por isso, cada vez mais assiste-se  a importância da imagem, do bem-estar e das questões da saúde muito  referenciadas em vários meios de comunicação. 
                A ideia do pedestrianismo  como prática de percursos pedestres cultural, turística, ambiental e física é  importante para entender que esta atividade tem assumido contornos positivos  explanados no artigo. 
                Foram abordados os  benefícios que os praticantes de pedestrianismo no Funchal possuem, tal como o  território obtém com estas práticas. Aqui vê-se que o pedestrianismo, enquanto  desporto de natureza “soft”, acaba por beneficiar praticantes e territórios com  elementos principalmente económicos, sociais e culturais. 
                O poder de atração do  Funchal é fundamental para cativar possíveis praticantes de pedestrianismo. As  levadas inseridas na Floresta Laurissilva constituem um atrativo importante no  concelho. Estas, além de serem usadas para agricultura, são muito realizadas  por praticantes nacionais e estrangeiros, os quais às observam com outros olhos  e expetativas. 
                Este concelho apresenta um  número considerável de população residente e turista em estabelecimentos  hoteleiros. Este número é o maior de toda a RAM e que em certos concelhos de  Portugal Continental, pelo que, assume-se como um destino particular com  potencialidade para a realização dos seus percursos pedestres. 
                Dos 5 percursos pedestres  disponíveis no município, a levada dos Piornais e a levada do Curral e  Castelejo tendem a ser as mais fáceis de realizar, assim como são as mais  conhecidas pela sua singularidade e imponência. Estas podem ser realizadas com  o auxílio de empresas do Funchal especializadas em percursos pedestres. Embora  nem sempre se verifique essa realidade. 
                Finalmente, outras questões  complementares foram elucidadas do caso prático como foram o perfil típico dos  praticantes, as motivações, as empresas especializadas em percursos pedestres,  os meios de divulgação dos percursos. Aqui, viu-se que o perfil dos praticantes  está patente um pouco por várias idades, com especial destaque para as famílias  nacionais e estrangeiras. Estas pessoas têm motivações diferentes e procuram  percursos como motivação primária ou secundária e são muitas vezes responsáveis  pela divulgação dos percursos similarmente com as entidades governamentais  competentes.
Bibliografia e Fontes
. Livros, Artigos, Relatórios e Dissertações:
ALENCOÃO, A., SERÔDIO, A., FARIA, A., GOMES, E., MOREIRA, H., SANTOS,  J., MENDES, L., QUARESMA, L., SOUSA, L., MARQUES, M., GABRIEL, R & LEITE,  S., M. (2010). Pedestrianismo – Uma abordagem multidisciplinar: ambiente,  aptidão física e saúde. Vila Real: Universidade de Trás-os-Montes e Alto  Douro. 
                ALENCOÃO, A., SERÔDIO, A., FARIA, A., GOMES, E., MOREIRA, H., SANTOS,  J., MENDES, L., QUARESMA, L., SOUSA, L., MARQUES, M., GABRIEL, R & LEITE,  S., M. (2011). O valor natural e a promoção da saúde. Vila Real:  Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. 
                BARBOSA, A. (2000) – Guia  Turismo Natureza. Câmara Municipal de Portel, Alentejo.
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Recibido: 23/04/2014
Aceptado: 10/05/2014
Publicado: Junio de 2014
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