Giovani da Silva LUCCHESE*
Felipe Esteves OLIVESKI**
Sandra Beatriz Vicenci FERNANDES***
UNIJUÍ, Brasil
gdslucchese@hotmail.com
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RESUMO
O presente artigo buscou identificar as convergências  entre o projeto de lei que altera o Código Florestal no Brasil e os interesses  da bancada ruralista no Congresso Nacional Brasileiro. Como metodologia,  utilizou-se uma pesquisa descritiva, baseada em uma revisão bibliográfica, além  matérias jornalísticas que referem-se às atualidades sobre o tema entre os anos  2012 e 2016. Constatou-se que, entre as mudanças mais polêmicas e que  interessam a bancada ruralista, se destacam a permissão  para a urbanização de áreas de mangues e restingas; isenção relacionada às leis  que envolvem áreas de preservação permanentes (APPs) e o descumprimento  em novas obrigações de proprietários que adquiriram terras antes do ano de  2008, visto que grande parte dos políticos possuem relação com a produção  agrícola. A grande influência da bancada ruralista nas políticas públicas  interfere não apenas diretamente na biodiversidade brasileira, mas também na  qualidade de vida da população.
Palavras-chave: Bancada  Ruralista, Meio Ambiente, Políticas Públicas, Biodiversidade, Congresso  Nacional Brasileiro.
ABSTRACT
  The present article sought to identify the  convergences between the bill amending the Forest Code in Brazil and the  interests of the rural parliamentary group in the Brazilian National Congress.  As a methodology, a descriptive research, based on a bibliographical review,  was used as well as journalistic articles that refer to the current events on  the subject between the years 2012 and 2016. It was verified that, among the  most polemical changes that interest the rural parliamentary group, the  permission for the urbanization of areas of mangroves and restingas stands out;  exemption related to laws that involve permanent preservation areas (PPPs) and  non-compliance with new obligations of owners who acquired land before 2008,  since most of the politicians are related to agricultural production. The great  influence of the rural parliamentary group on public policies interferes not  only directly with Brazilian biodiversity, but also with the quality of life of  the population. 
  Keywords: Rural Parliamentary Group, Environment, Public Policy, Biodiversity,  Brazilian National Congress. 
RESUMEN
  El presente artículo buscó identificar las  convergencias entre el proyecto de ley que altera el Código Forestal en Brasil  y los intereses de la bancada ruralista en el Congreso Nacional Brasileño. Como  metodología, se utilizó una investigación descriptiva, basada en una revisión  bibliográfica, además de materias periodísticas que se refieren a las  actualidad sobre el tema entre los años 2012 y 2016. Se constató que, entre los  cambios más polémicos y que interesan a la bancada ruralista, se destacan el  permiso para la urbanización de áreas de manglares y restingas; la exención  relativa a las leyes que involucra áreas de preservación permanentes (APPs) y  el incumplimiento en nuevas obligaciones de propietarios que adquirieron  tierras antes del año 2008, ya que gran parte de los políticos tienen relación  con la producción agrícola. La gran influencia de la bancada ruralista en las  políticas públicas interfiere no sólo directamente en la biodiversidad  brasileña, sino también en la calidad de vida de la población. 
  Palabras  clave: Bancada Ruralista, Medio Ambiente, Políticas Públicas,  Biodiversidad, Congreso Nacional Brasileño. 
Palabras claves: Gestión, Indicadores económico-financieros, Análisis vertical, Análisis horizontal.
Para citar este artículo puede uitlizar el siguiente formato: 
Giovani da Silva LUCCHESE, Felipe Esteves OLIVESKI y Sandra Beatriz Vicenci FERNANDES (2018): "A bancada ruralista e a política pública ambiental brasileira", Revista Observatorio de la Economía Latinoamericana, (septiembre 2018). En línea: 
https://www.eumed.net/rev/oel/2018/09/bancada-ruralista-brasil.html
//hdl.handle.net/20.500.11763/oel1809bancada-ruralista-brasil
1 Introdução
Na política  Brasileira há uma frente parlamentar, referida como bancada ruralista, ou bancada do boi, que atua em defesa dos  interesses dos proprietários rurais. Mesmo que esse termo  geralmente envolva, a frente parlamentar do Congresso Nacional do Brasil, muitas vezes ele também é referido a um  setor específico nas Assembleias Legislativas dos estados ou das Câmaras Municipais, ou a conjuntos desses  grupos.
   O número de integrantes e  partidos que integram a bancada ruralista é diverso e incompreensível, no  entanto, sua influência nas decisões políticas é perceptível. Essa dificuldade se  deve ao fato de que nem todos os parlamentares se declara ruralista e defendem  ativamente estes interesses. Eles preferem ser associados a outras questões ou  serem identificados pela profissão ou por seu título universitário. Consta  entre estes, por exemplo, parlamentares com interesses pessoais na agricultura  e na pecuária, ou que são patrocinados por organizações relacionadas a essas  atividades. Ademais, a bancada ruralista brasileira geralmente se associa à bancada  evangélica e à bancada  armamentista, devido a uma ideologia comum conservadora.  Assim, a integração destes três grupos é chamada de "bancada BBB" - bíblia, boi e bala.
   A orientação política dos membros da bancada ruralista têm como  tendência a ideologia de direita e centro-direita. Assim, a  frente parlamentar é vista como diretamente responsável pela aprovação de  benefícios financeiros e perdões, relacionados ao desmatamento, a poderosos  proprietários rurais. Historicamente, também é contra os movimentos favoráveis  a realização de uma reforma agrária no Brasil, como por exemplo, o Movimento  dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
   Ideologicamente favorável aos interesses da bancada  ruralista, formulou-se, em 2012, um projeto de lei que altera o novo Código  Florestal, propondo transformações nas leis ambientais no Brasil. Entre elas, a  ampliação das Áreas de Preservação Permanente (APPs), as alterações no âmbito  da Reserva Legal (RL). Porém, polemicamente, o código prevê a anistia de 41  milhões de hectares de áreas ocupadas com a agropecuária e que deveriam ser  florestais – destes, 36 milhões deveriam ser RL e 4,5 milhões deveriam ser APPs  (Fachin, 2017). Um dos principais fatores que ocasionaria isso seria o perdão  de proprietários que adquiriram terras antes de 2008: eles não precisariam  cumprir com as novas obrigações.
   O  objetivo do presente artigo é analisar convergências entre os interesses da  bancada ruralista e o novo código florestal, formulado em 2012 e, visto que há  uma pressão da frente parlamentar para a sua aprovação. O artigo está dividido  em três etapas: na primeira, um referencial teórico relativo a preocupações e  políticas ambientais, movimentos antiecológicos e a bancada ruralista no  Brasil. A etapa seguinte desenvolve uma análise do código com os interesses da  frente parlamentar, seguida da terceira etapa, em que constam as considerações  finais. 
2 Referencial teórico
As preocupações ambientais, por muito tempo, foram ignoradas nos planos de desenvolvimento dos países. Foi a partir da década de 1970 que se formaram os primeiros eventos e organizações que tinham como objetivo dar relevância a estas questões. Entre os mais significativos, se destacam o Clube de Roma (1968); Conferência sobre Meio Ambiente em Estocolmo (1972); Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento – CMMAD (1983/1987); Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento - CNUMAD (1992, também denominada ECO-92); e a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável de Johanesburgo (2002), conhecida também por RIO+10.
Todos esses grandes eventos de cunho internacional vão repercutir sobre a agenda das políticas públicas brasileiras, transformando o desenvolvimento sustentável numa das principais metas do poder público. Eis que surgem, nesta conjuntura, as chamadas políticas públicas ambientais. (Salheb et al, 2009, p. 12)
As  políticas públicas ambientais objetivam proteger o meio ambiente com o  crescente fomento por desenvolvimento, integrando isso à qualidade de vida da  sociedade. De acordo com Milaré (2007, p. 285) as  políticas públicas ambientais “não podem ser desconexas ou descoordenadas”. A  respeito da formação das políticas públicas, Peccatiello (2011, p. 73) afirma  que é primordial considerar que o Estado cria tais  políticas em resposta às demandas que emergem tanto de seu próprio interior  como da sociedade, englobando também preferências e escolhas privadas.
   Salheb et al. (2009) afirmam que no Brasil,  a economia historicamente  foi predominantemente exploratória  de seus abundantes recursos e riquezas naturais, relacionando  o desenvolvimento econômico, político  e social com a  abundante produção de produtos  primários (agricultura, pecuária, extração de metais preciosos, extração de  madeira e outros). De acordo com Jacobi (2003), o  movimento ambientalista brasileiro passou a ter certa representatividade em  meados dos anos 1970, dividindo-se em vertentes. Little (2003) as agrupa em  três principais: conservacionista (que visa a proteção da biodiversidade),  estatista (voltada ao controle da poluição) e a socioambientalista, mais  recente, com a proposta de efetuar reivindicações políticas e sociais  conjugadas às demandas ambientais e territoriais.
A questão ambiental criou força nas últimas três décadas, o que se reflete nas ações do poder público, das empresas e da sociedade civil (...) no caso específico da política ambiental, apesar de a mesma ter se desenvolvido de forma tardia em relação às outras políticas setoriais brasileiras, é possível observar que por um longo período esteve subjugada quase que exclusivamente aos anseios econômicos, os quais preconizavam a industrialização e o progresso. (Peccatiello, 2011, p. 81)
            O debate ambientalista, segundo Loureiro e Leff (apud Accioly e Sanchez, 2012, p. 100), é  “essencialmente político e expressa a multiplicidade dos interesses e demandas  dos atores envolvidos”. Accioly e Sánchez (2012) pressupõem  da existência de um “movimento antiecológico” - derivado  principalmente da atividade do agronegócio - no interior do Congresso Nacional  que conta com o apoio em parcelas significativas da população e que suas  estratégias têm obtido resultados. Segundo Mendonça (2010), alguns setores do  patronato rural, especialmente os ligados à Sociedade Nacional de Agricultura  (SNA), desde os anos 1970, avançam em novas frentes para a ampliação de seus  espaços e sua influência política: a ecologia, o ensino e a imbricação ao  Estado em sua dimensão regional.
   Accioly  e Sánchez (2012, p. 102) observam que alguns grupos com prática antiecológica  conseguem “vestir de verde” para conseguirem benefícios e manter  o discurso sintonizado com o meio ambiente. Esta análise está de acordo com a  afirmação de Ehrlich (1996, p. 11), de que, movidos  por interesses privados, estes grupos ou indivíduos utilizam  como estratégias a desinformação, a distorção de descobertas científicas e a má  interpretação de dados “para construir uma certa visão do mundo e sustentar  uma agenda política”. Eles “se auto intitulam promotores do  desenvolvimento, geradores de emprego, divisas e produtos” (Layrargues, 1998,  p. 79). Sendo assim, os grupos antiecológicos organizam-se de uma forma para  exercer pressões nas legislações ambientais, visando o atendimento de seus  interesses.
   Simionatto e Costa (2009) afirmam que as bancadas temáticas existentes no  Congresso Nacional brasileiro são organizações que, além de representarem o  interesse de partidos políticos, também buscam atender setores específicos da  sociedade. De acordo com as autoras, a dominação  ruralista “ora deu-se por meio do controle político e ideológico dos  trabalhadores rurais e órgãos de representação, ora foi consumada através de  instrumentos de coação e de cooptação” (Simionatto & Costa, 2009, p. 220).  É através de interesses antiecológicos, trabalhados pela  disseminação de uma imagem negativa das regulamentações  ambientais entre o ramo agronegócio, que surgiu a bancada ruralista no  congresso brasileiro. 
3 Metodologia
O  objetivo da metodologia é buscar o melhor procedimento e a melhor técnica de  pesquisa (Martins & Theóphilo, 2009). A presente pesquisa caracteriza-se  como exploratória e descritiva. Andrade (2002) sintetiza que, entre as  principais finalidades da pesquisa exploratória, estão proporcionar maiores  informações sobre o assunto a ser investigado; facilitar a delimitação do tema  de pesquisa; orientar a fixação dos objetivos e a formulação das hipóteses; ou  descobrir um novo tipo de enfoque sobre o assunto. É uma pesquisa descritiva, por identificar e obter informações sobre as  características de um determinado problema em questão (Collis & Hussey,  2005) ou fenômeno (Gil, 2002).
   A abordagem  dos dados será qualitativa, buscando obter profundidade analítica.  Uma pesquisa qualitativa é caracterizada pela  abertura das perguntas, rejeição de respostas fechadas, e pela busca do  aprofundamento por análise, familiaridade, convivência e comunicação (Demo,  2008).
   O trabalho divide-se em dois aspectos: o primeiro, consiste  em uma pesquisa bibliográfica, com referências de autores extraídas de livros  que abordam assuntos relacionados com o tema do presente artigo; o segundo, uma  coleta de matérias jornalísticas relevantes quanto às atualidades sobre  os assuntos, publicadas entre 2012 e 2016, em veículos brasileiros de  comunicação, sendo estes, mídia impressa e digital. 
   Minayo (2000, p. 23) entende pesquisa como um processo no  qual o pesquisador tem “uma atitude e uma prática teórica de constante busca  que define um processo intrinsecamente inacabado e permanente” - ele realiza  uma atividade de aproximações sucessivas da realidade, sendo que esta apresenta  “uma carga histórica” e reflete posições frente à realidade. Para Cervo,  Bervian e Silva (2007, p. 60), a pesquisa bibliográfica “procura explicar um  problema a partir de referências teóricas publicadas em artigos, livros,  dissertações e teses. Pode ser realizada independentemente ou como parte da  pesquisa descritiva ou experimental”.  
   Em síntese, portanto, a partir da pesquisa bibliográfica e nas  matérias jornalísticas atuais, são expostos os pontos de convergência entre os  interesses da bancada ruralista e a proposta de lei que altera o novo código  florestal – o que serve como base para o presente estudo.
4 A bancada ruralista e o novo código florestal: as convergências
Ao se falar de políticas públicas, deve-se ter  em vista que, por se tratarem de intervenções do Estado, em conjunto ou não com  a sociedade civil (ONG, grupos empresariais, comunidades, entidades  internacionais e etc.), elas devem, necessariamente, contemplar um determinado  fim ou uma área específica da realidade cotidiana (Cunha, 2016). Contudo, por  conta da expansão econômico-industrial internacional e os já constatados  efeitos nocivos da intervenção humana no meio ambiente (aquecimento global, emissão  excessiva de CO2, desertificação, desmatamento, extinção de espécies,  derretimento das calotas polares, contaminação de fontes d’água, chuvas ácidas,  exaurimento de recursos naturais, caça e pesca predatórias, entre outros), tais  políticas por terem papel tão incisivo e decisivo no modo de vida e nos modos  de produção, passam a ter um papel fundamental como instrumentos não só de  desenvolvimento econômico-social, mas também, como forma de garantia de  preservação de recursos às futuras gerações (Salheb et al, 2009).
   As políticas públicas ambientais assumiram  papel primordial de proteger o meio ambiente, integrando sua proteção aos  demais objetivos da vida em sociedade, como forma, inclusive, de proporcionar  qualidade de vida. No que tange às políticas públicas de cunho ambiental no  Brasil, cabe ainda lembrar que, historicamente, o país sempre foi marcado por  uma economia predominantemente exploratória de seus abundantes recursos e  riquezas naturais, pautando todo seu desenvolvimento (econômico, político,  social, etc.) na exaustiva produção de produtos primários (agricultura,  pecuária, extração de metais preciosos, extração de madeira e outros) de modo  agressivo e predatório (Cunha, 2016).
   Esta economia tem início no período  colonial com a monocultura da cana de açúcar, posteriormente com a mineração,  seguida pelo café. Porém, com mais fervor, ficou bastante marcado durante a  ditadura militar, entre os anos 1960 e 1970, em que a política nacional visava  “integrar para não entregar”, numa clara alusão à necessidade urgente de  ocupação dos vazios demográficos da região norte, o que significava, em outras  palavras, ocupar a Amazônia a qualquer custo (Salheb et al, 2009).
   De acordo com Salheb et al (2009), esta  pretensão rendeu uma ampliação sem precedentes nos índices de devastação da  floresta, invadida pela indústria madeireira, agropecuarista, mineradora, entre  outras. Como exemplos nefastos, podemos mencionar o garimpo de Serra Pelada, no  Pará; as minas de ferro de Carajás (também no Pará); a abertura da rodovia  federal transamazônica; derrubada de mata nativa e queima para plantio de pasto  para a ampliação do agronegócio nos estados do Mato Grosso e Goiás; entre  outros.
   Enquanto ocorriam tais “mudanças” no cenário  ainda preservado do território nacional (o termo denomina-se “preservado” pelo  fato de que ainda estava intocado, dado seu difícil acesso e péssima  infraestrutura), o desenvolvimento econômico das regiões sudeste e sul do país;  as “locomotivas” da economia brasileira, dava saltos enormes na  industrialização de bens de consumo, sob um custo elevadíssimo ao meio  ambiente, como a quase total destruição da mata atlântica e seus ecossistemas;  a morte de bacias aquáticas próximas aos grandes centros urbanos (como o Tietê,  em São Paulo); a intensificação da poluição sanitária decorrente da explosão do  movimento de urbanização (êxodo rural); etc. 
   Não obstante, há de se mencionar que, desde as  primeiras décadas do século XX, o país já vinha promulgando leis esparsas como  os já citados Código Florestal, Código de Águas, de Minas, entre outros; mas,  sem exceção, todos relegados, na prática, a segundo plano de importância, um  claro sinal de que o Poder Público sempre priorizou o capital e a economia em  detrimento da proteção ambiental.
   Simionatto e Costa (2009) apontam que a grande marca do  mundo rural brasileiro sempre foi, e continua sendo, além da concentração  fundiária e de renda, a permanência e reprodução de uma mesma classe dominante  no poder. Durante todo o Período Colonial, a política econômica agrária esteve  voltada para os mercados externos, com o predomínio da cultura de açúcar e,  posteriormente, de café, sendo o governo português responsável pela manipulação  das taxas de câmbio e pela compensação dos produtores em situações de crise. A  independência não alterou tal situação; a Lei de Terras de 1850, ao promover a  transformação da terra em mercadoria, sacramentou nossa vocação para o  latifúndio e, inevitavelmente, para a desigualdade. O acesso às estruturas  estatais, garantido pela posição ocupada dentro do bloco dominante, permitiu  aos setores ruralistas a cristalização de seu domínio político-econômico,  afastando qualquer possibilidade de transformação radical da estrutura agrária  brasileira. O surgimento da bancada ruralista no Congresso Nacional é mais uma  demonstração de como os grupos dominantes utilizam-se do espaço do Estado para  perpetuar-se no poder. 
   O surgimento das bancadas suprapartidárias data de um  período democrático da história política brasileira, no período de 1945 a 1964,  principalmente durante o governo de João Goulart. Com o início da Ditadura  Militar no Brasil (1964-1985), os diversos e diferentes segmentos organizados  foram banidos do cenário político nacional, o que acabou por atingir, também,  as organizações congressistas. Pinheiro (2010) destaca que este panorama passa  a ganhar novas configurações com a redemocratização do país, sendo que o  processo da Constituinte, a partir de 1986, mostrou-se propício para a  rearticulação e o retorno desses grupos. 
   Portanto, a bancada ruralista é um dos grupos mais antigos  e organizados do Congresso Nacional, e vem adquirindo sucesso em sua atuação em  prol dos interesses do agronegócio. Seu surgimento é fruto do debate travado  nos anos de 1980 pelo patronato rural brasileiro, em contradição ao tradicionalmundo agrário. A modernização agrícola, com a instituição de novos padrões  de produção no campo e a introdução de avanços tecnológicos, em decorrência do  casamento entre a agricultura e a indústria, foi a base sobre a qual se  edificou este pensamento. 
   O que se pode observar hoje na atuação da bancada ruralista é  a prevalência de um projeto que privilegia os setores mais capitalizados da  sociedade e utiliza o Estado como meio de cooptação, ou seja, do transformismo  e do exercício da pequena política.  A utilização dos aparelhos de Estado fortalece  o poder das classes dominantes de fazer e refazer suas alianças, o que acaba  por debilitar os frágeis elos políticos existentes entre as classes  subalternas, acirrando a dificuldade de inscrever suas demandas, mesmo por meio  de seus institutos coletivos, como o MST. 
   Segundo os críticos da bancada ruralista, ela atua contra o combate  ao trabalho escravo nas fazendas, têm feroz oposição a quaisquer  medidas voltadas à preservação do meio ambiente e à conservação  da natureza e patrocina projetos de lei no Congresso que aumentam os limites  legais para desmatamentos e anistiam fazendeiros que já desmataram  ilegalmente suas propriedades. Ainda, por pressões junto ao Poder Executivo,  ela vem conseguindo sucessivas concessões para o pagamento das dívidas rurais,  com alongamento de prazos, redução ou dispensa de juros e linhas de crédito  favorecidas nos bancos oficiais. 
   Portanto, como é o caso de outras bancadas temáticas que constam no  Congresso Nacional, a bancada ruralista é caracterizada como sendo uma  estrutura de interesse de um setor específico da sociedade, independentemente  de partido político, sendo neste caso a integração de interesses dos grandes  produtores rurais brasileiros. Trata-se de uma estrutura organizada para a  disputa pela hegemonia sobre as políticas do Estado. Sua apropriação é  relevante para a permanência e a reprodução das classes dominantes no poder,  além de representar como grupos engajados em perpetuarem-se no poder e  apropriam-se de suas influências no espaço do Estado.
   As reformulações da política brasileira ao longo do século XX tiveram  grande impacto sobre a composição e a organização de grupos de interesse na  política. A bancada ruralista contemporaneamente presente no Congresso Nacional  tem suas origens mais especificamente na atuação da União Democrática  Ruralista (UDR) durante a Assembleia Nacional Constituinte de 1987, com  vistas a barrar a realização de uma reforma agrária no Brasil  (Comparato, 2001).
   Ao menos um estudo identificou que sua composição inclui membros de doze  partidos com representação na Câmara e seis no Senado. Segundo esse  levantamento, 19% desses parlamentares eram oriundos de partidos de  centro-esquerda, outros 19% eram filiados ao PMDB (portanto aderentes de  ideologias variadas) e 62% deles eram filiados a partidos da direita e  centro-direita. 
   O  jornalista Alceu Castilho, em 2012, lançou o livro “Partido sem Terra”,  resultado de uma pesquisa relacionada aos bens de políticos entre 2006 e 2010.  Segundo Castilho, em uma entrevista ao site Sul 21 sobre seu livro, ao menos 2,03 milhões de hectares de terras no  Brasil pertencem a políticos. Este número pode ser ainda  maior, pois é relacionado apenas ao montante de terras que pode ser comprovado  – o jornalista acredita que pode chegar a 4,4 milhões de hectares. Ele afirma ainda que existe uma “esquerda  latifundiária” no país e demonstra que 31 políticos, juntos, somavam 612 mil  hectares. 
   O Código  Florestal é a legislação federal que rege o uso das propriedades rurais no  Brasil. Ele foi alterado em meio a muita  polêmica em 2012, onde regras sobre desmatamento em algumas áreas foram  flexibilizadas e houve uma anistia a quem desmatou grandes áreas até 2008. Para  ambientalistas, anistia enviou recado de que é possível ficar impune com o  desmatamento, incentivando a derrubada da floresta. Redução de áreas de  preservação em nascentes de rios e áreas ciliares já afeta recursos hídricos na  Amazônia e em outros pontos do país.
   Conforme dizem ambientalistas, a volta do crescimento do desmatamento na  Amazônia –29% em 2016, com perda de 7.989 km², mais de cinco vezes a área da  cidade de São Paulo–, está profundamente relacionada às mudanças no Código  Florestal em 2012. "Os números falam por si. A taxa oficial de  desmatamento do governo mostra uma alta de 75% desde que as mudanças do Código  Florestal foram aprovadas", diz Antônio Fonseca, um dos responsáveis pelo  boletim de desmatamento do Imazon - Instituto do Homem e do Meio Ambiente da  Amazônia (Miranda, 2016). A principal queixa dos especialistas em relação ao  Código Florestal foi a anistia para quem desmatou até 2008 pois essa decisão  passa a mensagem de que desmatar compensa. Porque, assim como houve essa  anistia, provavelmente poderão ocorrer outras.
   Os especialistas em conservação afirmam que também há outros fatores  envolvidos no crescimento da derrubada. Um deles é o chamado desmatamento  especulativo, no qual grandes áreas de floresta são destruídas –em geral  substituídas por pastos– com a única função de sinalizar uma ocupação, visando  algum benefício futuro com aquele terreno. Antônio Fonseca, do Imazon, destaca  também a pressão sobre as unidades de conservação e a demarcação de terras  indígenas. "A criação de novas unidades de conservação estagnou. E chama a  atenção ver como o desmatamento avançou até nessas áreas", afirma.
   O que se  observa é que há uma pressão na questão do  licenciamento ambiental, para criar um licenciamento auto-regularório ou  isentar de licenciamento uma série das chamadas obras de interesse nacional. Além  da perda das questões ambientais, o desmatamento na Amazônia pode comprometer  também os compromissos de redução de emissão de gases estufa do Brasil. A perda  de cobertura florestal é a principal fonte das emissões do país.
   O Brasil está comprometido por lei a reduzir a derrubada da floresta  amazônica em 80% em relação à média do período entre 1996 e 2005. Os números de  desmatamento hoje (7.989 km²) são praticamente o dobro daqueles que o Brasil  precisa ter daqui a quatro anos. Os ambientalistas veem medidas recentes como  um sopro de esperança. Uma delas é a implementação e divulgação pública dos  dados do CAR (Cadastro Ambiental Rural), cuja implementação sofreu uma série de  atrasos.
   O CAR é uma espécie de mapa das propriedades rurais do Brasil, com  informações dos terrenos –áreas de nascente, florestas e pontos desmatados. A  plataforma permitirá que o governo compare o estado das ocupações e eventuais  irregularidades. Estima-se que 99% dos imóveis rurais passíveis de  cadastramento já estejam na base de dados. Na última semana de novembro de 2016,  o Ministério do Meio Ambiente tornou público o acesso aos dados do CAR, o que  permitirá também uma fiscalização da sociedade civil sobre essas áreas.
   O governo atual afirma que a alta do desmatamento é consequência da  crise política. Cabe destacar que todo projeto  de lei é criado pela Câmara dos Deputados e, uma vez aprovado na Câmara, o  projeto chega ao Senado. Após a aceitação dos senadores, o projeto alcança a  Presidência da República, que pode sancionar (aprovar) ou vetar (negar) o  projeto ou partes do projeto. É nesse momento em que ocorrem as maiores tensões  políticas, pois a aprovação dos projetos e a criação de leis obedecem a um  sistema de alianças políticas: os partidos aliados ao governo e os partidos de  oposição travam uma disputa por votos e interesses em particular.
   Após quase uma década de debates, em 2008 uma nova comissão foi  criada para reunir 11 projetos de lei para reformular o Código Florestal, com  total apoio dos ruralistas. O relator do projeto foi o deputado federal Aldo  Rebelo, atualmente Ministro dos Esportes, que pertence ao grupo político aliado  à presidência, e apresentou a proposta final no ano de 2011. No mês de maio  daquele ano, o projeto foi aprovado na Câmara dos Deputados e, no mês dezembro,  pelo Senado, com algumas modificações. Nesse caso, o projeto quando sofre  modificações pelo Senado, ainda que aprovado, deve voltar para a Câmara dos  Deputados, antes de chegar até a Presidência da República. Em maio, a  presidente Dilma Rousseff vetou 12 artigos do código, apresentando 32  alterações. Uma MP foi editada e as discussões foram encaminhadas até o mês de  setembro, quando o Congresso apresentou uma nova formatação para o projeto, que  mais uma vez teve trechos vetados pela presidente. Entre vetos, decretos e  Medidas Provisórias, o novo Código Florestal ainda não conseguiu ser  estabelecido (Silva, 2017).
   Entre as mudanças mais polêmicas  propostas pelo projeto e que foram vetadas pela presidente, destacam-se:
Estas propostas vetadas visam beneficiar principalmente os grandes produtores rurais brasileiros e, por representar um montante financeiro muito grande é conveniente que recebam anistia de dívidas relativas a depredação ambiental com a união, maior liberação de créditos para aplicarem na agricultura, menor comprometimento com a preservação ambiental e principalmente para regularizarem matrículas junto ao cadastro ambiental rural.
5 Considerações finais
            A bancada ruralista brasileira  possui grande influência no processo de tomada de decisões no Congresso, e  estas, influenciam diretamente a qualidade de vida da população brasileira e  também a preservação e conservação de toda a rica biodiversidade que o  território brasileiro possui. As florestas do Brasil,  principalmente a Amazônia, desempenham papel fundamental na vida de todo o  mundo, em função da capacidade de reciclagem do ar atmosférico e formação das  chuvas, principalmente na América Latina. Por isso, as mudanças no código  florestal precisam considerar as florestas como parte integrante dos sistemas  agrícolas. É necessário compreender a importância da manutenção das vegetações  nativas, pois em determinados segmentos relacionados à agricultura, o  pensamento apenas voltado para a questão econômica, relativizando o papel das  florestas, acabam por avaliar o meio ambiente como sendo uma barreira para o  crescimento econômico do país.
   Conforme aponta, Silva (2017), entre  as funções que as florestas exercem, algumas, em especial, são de fundamental  importância para as práticas agrícolas. A floresta responde pela conservação  dos solos, pois a absorção de água realizada pelas raízes das plantam ajuda na  infiltração de água, fixando o solo e aumentando o volume de água de lençóis  subterrâneos. Ao mesmo tempo, esse processo reduz o assoreamento dos cursos  superficiais. 
   A vegetação, pelo processo de  evapotranspiração, colabora para transformar o microclima de uma região, aumentando  a umidade relativa do ar e interferindo no regime de chuvas. Isto significa que  uma redução das áreas florestadas, além de provocar impactos sobre a  biodiversidade, pode comprometer também a produção agrícola, pressionando os  recursos naturais até o seu esgotamento. Também encarece a agricultura,  obrigando os produtores a dispensarem maiores volumes de investimentos em  técnicas agrícolas de correção dos solos e de irrigação, algo muito mais viável  para aqueles produtores que estão envolvidos em grandes escalas de produção e  comercialização, fenômeno conhecido mundialmente como o agronegócio.
   As comunidades de pescadores,  indígenas, ribeirinhas, assim como quilombolas, sem-terra e pequenos  agricultores em diferentes sistemas de produção, devem ser favorecidas nas  políticas públicas que pretendem transformar qualquer tipo de legislação que  envolva atividades agrícolas, por serem os mais sensíveis e sujeitos à exclusão.  Também é necessário considerar que, em uma democracia moderna e responsável, a  governança estabelecida deve sempre consultar a sociedade, que é afetada diretamente  pelas políticas públicas.
Referências bibliográficas
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*Mestrando em Desenvolvimento Regional - UNIJUÍ. E-mail: gdslucchese@hotmail.com