Contribuciones a las Ciencias Sociales
Noviembre 2012

O PAPEL DOS LAÇOS SOCIAIS NA CONSTITUIÇÃO DO CAPITAL SOCIAL




Rosana da Rosa Portella Tondolo (CV)
rosana.tondolo@unilasalle.edu.br
Centro Universitário La Salle
Roberta Augustin
roberta.augustin@gmail.com
Universidade do Vale do Rio dos Sinos

Resumo
Este artigo tem como objetivo apresentar a importância dos laços sociais na formação de capital social a partir da investigação de Mark Granovetter (1983 e 2005) na qual visa a importância dos laços sociais para a compreensão das diferentes relações que constituem uma sociedade. Tendo como premissa as leituras sociológicas dos teóricos, Émile Durkheim e Georg Simmel. Como principais questionamentos, apresentam-se: a abordagem histórica dos laços socias e sua continuidade; a significância do estudo de Mark Granovetter; e o escopo de análise micro e macro do tema. Ao final, apresentaram-se algumas sugestões de estudos futuros.
Palavras-chave: Laços Sociais, Capital Social, Administração, Sociologia.

THE ROLE OF SOCIAL TIES IN THE CONSTITUTION OF THE CAPITAL


Abstract
This article aims to present the importance of social ties in the formation of social capital from the research of Mark Granovetter (1983 and 2005) which aims the importance of social ties to the understanding of different relationships that constitute a society. We take readings of sociological theorists Emile Durkheim and Georg Simmel as central premises. We have the following questions: historical approach of social ties and its continuity, the significance of the study by Mark Granovetter, and the micro and macro scope of analysis of the theme. At the end, we present some suggestions for future studies.
Keywords: Social Ties, Social Capital; Administration; Sociology.



Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:
Portella Tondolo, R. y Augustin, R.: "O papel dos laços sociais na constituição do capital social", en Contribuciones a las Ciencias Sociales, noviembre 2012, www.eumed.net/rev/cccss/22/

Introdução
O presente trabalho tem como proposta refletir sobre a influência dos laços sociais na constituição do Capital Social na contemporaneidade, observando a constituição da compreensão dos conceitos nas diferentes concepções sociológicas, a partir de reflexões teóricas que teve como intencionalidade analisar as teorias sócio-contemporâneas, enfatizando os fundamentos epistemológicos para a formulação do desenvolvimento do processo de investigação teórica culminando em uma análise crítica dos objetos conceituais aqui expostos.
O interesse em refletir sobre esta temática acontece devido a três fatos: o primeiro, sanar alguns questionamentos sobre o conceito de Laços Sociais, investigando a origem e a consolidação desse conceito nas diferentes abordagens das interpretações sociais contemporâneas, sanando curiosidades acerca das atuais produções acadêmicas desenvolvidas em ambientes institucionais, espaços que consolidam discussões sólidas sobre o assunto.
Pois, o tema laços socias tem sido abordado desde a década de 1980 por Pierre Bourdieu e James Coleman quando os autores analisaram o capital social, os estudos divergiram uma vez que Bourdieu analisou o capital social e as vantagens de pertencer a certas comunidades, enquanto Coleman deteve sua investigação em indivíduos ou pequenos grupos como unidade de análise (PORTES, 2000; ALBAGLI; MACIEL, 2002). Mesmo apresentando significantes variações entre os estudos, ambas os autores abordaram os benefícios resultantes aos indivíduos ou famílias pela virtude de seus laços com terceiros (PORTES, 2000).
Em contrapartida, Schwartz (1996, p. 150) aborda em seu texto relações entre o trabalho e os laços sociais, em sua frase “o trabalho tem valor, porque é produtor ou matriz do laço social” o autor discuti apresentando algumas aproximações que podem ocorrer no ambiente de trabalho entre as diferentes posições, funções ou cargos. O autor ainda enfatiza que o laço social não pode ser visto como uma relação de poder, em que um dos envolvidos é passivo/subordinado ao outro. Assim, colocando em dúvida se os laços sociais poderiam ser construídos no trabalho.
Nessa perspectiva, o trabalho apresenta o segundo fato para a construção dessa análise, a identificação e a compreensão das leituras e produções acadêmicas realizadas por Mark Granovetter, teórico da nova sociologia econômica, tem como tese - enfatizar a influencia das relações sociais e suas consequências na inserção social das ações econômicas. Mapeando os principais investigadores e suas influências nas abordagens sociais, o autor influencia o pensamento contemporâneo por advogar a favor da sociedade e sua constituição para a compreensão da ação econômica visando o individuo como o foco central no desenvolvimento social e econômico, revisitando o método funcionalista de Emile Durkheim e o método compreensivo da sociologia compreensiva de Max Weber. Apresentando em seu estudo as diferentes relações existentes na sociedade e suas interações, para esse objetivo Mark Granovetter diferencia e acentua os lações sociais em dos laços fortes e fracos. Considerando como laços fortes, os indivíduos que possuem relações de parentesco ou possuem um forte vínculo de amizade. Enquanto, os laços fracos se efetuariam em diferentes contextos sociais inexistindo a presença de relações de parentesco.
Nesse ínterim, como item final o escopo teórico desse trabalho é a análise micro e macro dos conceitos teóricos investigados. A abordagem dos laços sociais pode ser observada a partir de dois enfoques, o primeiro como uma micro-estrutura, em que são observadas as posições dos indivíduos nas relações sociais, e o segundo como uma macroestrutura, sendo observados o sistema social e as relações que o permeiam. Para isso, este estudo se baseou em Georg Simmel para a visão micro, e Emile Durkheim e Talcott Parsons para visão macro.

As Bases Sociológicas dos Laços Sociais
Para construção desta síntese, que tem como objetivo historicizar o conceito de laços sociais é inevitável identificar os principais pontos de analise de alguns teóricos, como Emile Durkheim e Georg Simmel, retomando alguns itens crucias de suas obras.
Conhecido como o pai da sociologia, Emile Durkheim é o autor que visa a “questão social”, identificando a sociedade como anterior ao individuo definindo o seu objeto material como fato social e a função social como objeto formal. Assim, seu foco teórico é a investigação do “fato social”, priorizando o rigor metodológico como alicerce da consolidação do pensamento sociológico. Seu propósito é conceituar os fatos sociais e, diferenciá-los dos demais, tese central de sua obra – é a idéia de que a sociedade que explica o comportamento dos indivíduos – evidenciando que o domínio social e essencialmente simbólico. Sendo assim, o fato para ser social, é preciso ser coercitivo (imposição), geral (inexiste a manifestação individual) e exterior (antecede e permanece sem depender o indivíduo).
Para Durkheim, o individuo tem sua ação condicionada pela sociedade, e por isso a intensidade em que os atores sociais interagem é crucial para integração social. Em outras palavras, o autor desenvolve em toda sua obra conceitos que sustentam tal tese: a representação coletiva presente na sociologia da religião “As formas elementares da vida religiosa”; bem como, na “A divisão do trabalho social” encontramos solidariedade mecânica, solidariedade orgânica, consciência coletiva e anomia. Desse modo, o autor articula o quanto o individuo é dependente da sociedade de tal modo que a personalidade individual é absorvida pela coletividade.
A compreensão dos laços sociais é explorada por Durkheim na sua obra “O Suicídio”, o autor defende a tese que uma das forças que determina a ação suicida também é social. Em sua pesquisa ele distinguiu quatro tipos de suicídio: suicídio egoísta, suicídio altruísta, suicídio anômico, suicídio fatalista. Em todos os tipos de suicídio o autor identifica a relação individuo e sociedade como uma problemática a ser analisada. Pois, compreende que em todos os casos o individuo ou sofre excesso ou afrouxamento dos laços sociais entre o individuo e a coletividade. O conceito de anomia é tomado constantemente em sua obra, por que identifica um ponto central de analise. Durkheim defende que a anomia é o maior problema da sociedade moderna, pois, ela não é fruto da falta de articulação das atividades e tarefas do individuo e sim a falta da moralidade disciplinadora das ações individuais. Na visão de Collins (2009) Durkheim pretendia mostrar a força dos laços sociais, uma vez que esses laços não são percebidos nas circunstâncias normais.
Inserindo Georg Simmel nas discussões aqui explorada, é necessário contextualizar sua obra e enfatizar que é o pensador e observador da vida urbana e suas peculiaridades, este autor centraliza seus estudos nas relações sociais, vizando sua compreensão na interação social, a interação com o outro. Neste ponto, a perspectiva simmeliana abrange o olhar da sociedade a partir da interação entre indivíduo e focaliza uma diferenciação entre a forma e conteúdo, o teórico destaca a sociação como forma pela qual os indivíduos desenvolvem uma integração para atenderem seus interesses, sendo a forma e conteúdo indissociáveis. De confirmadade com a sociação, Simmel conceitua a sociabilidade como “a forma lúdica da sociação” (SIMMEL,2006 p.65).
Georg Simmel (1986), a individualidade de ser e de fazer cresce à medida que o círculo social em torno do indivíduo é ampliado. Desta forma, quando um indivíduo se liga ao seu círculo, com muito desenvolvimento ela oferecerá uma proporção dos mais diversos setores, podendo estes serem temporais e objetivos da realidade social. O autor, parte da premissa que o conflito produz ou modifica grupos de interesse, uniões, organizações, considerando uma forma de sociação (ALCÂNTARA Jr., 2005). Defendendo que os laços de associação são realizados para a composição desta sociação, assim a sociedade seria um envoltório e a sociação se constituiria nas interações, ou seja, nos movimentos das diferentes relações sociais (FRANÇA, 2007).
Mas, quando o conflito é considerado como uma forma social, este pode possibilitar construções e destruições sejam estas nas instituições, estruturas, arranjos, processos, relações e interações sociais (ALCÂNTARA Jr., 2005). Vale ressaltar que para Simmel, o conflito não é visto de forma negativa, mas como um fenômeno que precisa ocorrer para estabelecimento da ordem.
Cohn (1998) em seu artigo entitulado “As diferenças finas: De Simmel a Luhmann” apresenta uma paralelo entre as abordagens e enfoques dados pelos autores. Enquanto, Simmel defende a diferenciação social, as relações que aproximam os homens, mas também os separam na medida em que se multiplicam, Durkheim está mais centrado na solidariedade social e na divisão do trabalho. Para Cohn (1998) a reciprocidade seria o centro de discussão, uma vez que a partir da multiplicação de relações às quais colocam os homens em contatos mais frequentes, são introduzidas novas fontes de assimetria, as quais dificultam gestos e sentimentos recíprocos. Desta forma, a expansão das obrigações legalmente instituídas é imposta sem ter que passar pelo interior dos homens. Estas ações corrigem as insuficiências da reciprocidade espontânea, no entanto não são suficientes para a criação de laços que transcendam a obrigação pontual.
Parsons se difere de Simmel por defender que o problema da persistência das relações é uma solução normativa, inicialmente externa aos agentes, se internalizando neles depois. Além disso, o problema Parsoniano básico está na dupla contingência, que está na origem de todas as interações, e que para Parsons, esta só pode ser reduzida pelo estabelecimento de normas. Neste sentido, Simmel se apresenta indiferente ao problema da contingência da vida social, e está mais focado em entender como as formas sociais persistentes e seus conteúdos psíquicos se juntam sem jamais se fundirem (COHN, 1998).
Simmel (1986) ainda retrata que as relações de interesse conduzirão às relações afetivas entre os elementos dos muitos grupos que se assemelham. Assim, indo ao encontro da solidariedade orgânica de Durkheim, em que a convergência de interesses complementares cria um laço social, sendo outro tipo de princípio de solidariedade, com moral própria e que dá origem a uma nova organização social (DURKHEIM, 1999; QUARESMA, 2005). Para Durkheim (1999) a solidariedade orgânica é gerada a partir da complementação das partes diversificadas e não mais baseada na semelhança dos componentes, como era o caso da solidariedade mecânica.
Berger e Luckmann (2001) abordam a interação social na vida cotidiana. Para os autores, a mais importante experiência ocorre na situação de estar face a face com o outro, a mais específica das interações sociais. Neste sentido, todos os demais casos derivam da interação social, sendo que suas tipificações tornam-se progressivamente anônimas à medida que se afastam da situação face a face.
Os laços sociais também podem ser observados, a partir da visão macro pela teoria dos sistemas, uma vez que a sociedade é um sistema integrado de estruturas e funções sociais (PARSONS, 1991). De acordo com Parsons (1991), o sistema social consiste na pluralidade de atores individuais que interagem entre si, assim aproximando-se da visão de pluralidade de Merton.
Desta forma, os laços sociais fazem parte do sistema social, uma vez que conecta os atores individuais propiciando os processos de interação entre estes. No entanto, o sistema social não é apenas um aspecto da interação, tampouco apenas a constituição pelo ator. Assim, o sistema social pode ser considerado com uma estrutura de status o qual tem o ator inserido nas relações neste sistema como um todo (PARSONS, 1991).

O Impacto dos Laços Sobre os Indivíduos
O impacto dos laços sobre os indivíduos é oriundo dos estudos que envolvem a evolução dos sistemas sociais, onde a partir da divisão do trabalho e aumento da especialização de tarefas, os indivíduos passaram a conhecer somente pequenas partes do que se era produzido e assim conhecendo tão pouco os outros indivíduos que faziam parte deste contexto (SIMMEL, 1986).
Para Durkheim a extensa variedade de diferentes pontos de vistas e atividades são pré-requisitos essenciais para a construção do individualismo. Rose Coser em seu artigo intitulado “The Complexity of Roles as Seedbed of Individual Autonomy" em 1975 realizou um comparativo entre a visão de Robert Merton, o qual aborda a pluralidade do indivíduo, que possui relações com diferentes indivíduos. Com a visão de Simmel, o qual aborda a individualidade, ou seja, que um índividuo até pode conviver e viver as diferentes expectativas de outros indivíduos, mas que sempre preservará o seu núcleo interno (GRANOVETTER, 1983).
Nesse sentido, a sociedade para Simmel (1986) existi no momento em que vários índivíduos entram em ação recíproca, ou seja, no momento em que existe o estabelecimento de laços entre os índivíduos. Desta forma, o autor enfatiza a ideia de que o conflito social serve como unificador no reestabelecimento da relação social, e não apresenta uma visão separatista nas relações sociais.
Schwartz (1996, p. 150) aborda em seu texto relações entre o trabalho e os laços sociais, assim o autor apresenta a frase “o trabalho tem valor, porque é produtor ou matriz do laço social”. Neste fragmento, o autor busca discutir a forte afirmação, apresentando algumas aproximações ou sinergias que podem ocorrer no ambiente de trabalho entre as diferentes posições, funções ou cargos. O autor ainda enfatiza que o laço social não pode ser visto como uma relação de poder, em que um dos envolvidos é passivo/subordinado ao outro. Assim, colocando em dúvida se os laços sociais poderiam ser construídos no trabalho.
Já, Menezes (1998) apresenta os laços sociais como bases da organização social nos alojamentos de trabalhadores migrantes instalados nas usinas. A autora examinou as interações sociais neste tipo de alojamento nos “canaveriais” de Pernambuco. A autora verificou que a “irmandade” é construída pelos laços de parentesco e de amizade, os quais remontam ao local de origem. Essa “irmandade” cria um senso de comunidade, assim diferenciando os migrantes dos locais. Dessa forma, as interações sociais as quais baseam-se em parentesco e amizade não se orientam apenas por expressões de solidariedade, mas por fricções que interferem na composição e funcionamento das redes sociais (MENEZES, 1998).
Menezes (1998) entende que as formas de controle e dominação do trabalho não são vistas como uma imposição dos dominadores sobre os subordinados, mas como uma interação social. Assim como nos termos definidos por Simmel, onde ‘toda relação de dominação é um caso de interação e ao dominante não interessaria ver sua influência anular a vontade do outro’(SIMMEL, 1983, p. 107-108).
Fazito (2010) também aborda a questão dos laços na migração, mas o autor foca sua análise na migração internacional, de Brasileiros para os Estados Unidos. O autor enfatiza que os retornados potencializam os fluxos em especial de ilegais, associando-se à intermediação de agentes, falsificadores e agências de turismo. Estas ações são potencializadas pela rede de conexões com os membros familiares nas comunidades de origem e destino, ou seja, os retornados utilizam seus laços fortes nas redes pessoais para recrutamento, agenciamento e suporte de imigrantes. Além do caso americano, o autor também enfatiza a presença dos laços fortes na mobilização de contatos pessoais na origem e no destino, o qual foi além das próprias famílias, assim empreendendo uma atividade especializada de intermediação e suporte dos brasileiros residentes no Japão.

A Abordagem dos Laços Fracos
Granovetter em seu livro entitulado “Sociological Theory” apresenta a força dos laços fracos, ou seja, de acordo com sua tese as redes de relações são mantidas e podem ser consideradas fortes a partir dos laços fracos. O autor também diferencia o que seria um laço forte, aquele laço que se tem com familiares e amigos, os quais conhecemos muito bem; dos laços fracos que são os laços que temos com pessoas que não conhecemos tão bem, os chamados conhecidos ou colegas.
O autor utiliza o argumento de que a conecção dos laços fracos tem um valor especial para os indivíduos, e que a significância dos laços fracos é que eles são mais distantes, assim fazendo conecções mais longas do que as realizadas com os laços fortes. As conecções longas promovem o fluxo de novas informações. Assim, pode-se considerar que as conecções longas (distantes), as quais são obtidas por meio dos laços fracos, é uma das forças deste tipo de laço, uma vez que promovem o fluxo de novas informações (GRANOVETTER, 1983).
O fluxo de novas informações é mais acentuado nos círculos de laços fracos do que no círculo de laços fortes, uma vez que no círculo de laços fracos as fontes de informações são novas e diversas, enquanto que no círculo de laços fortes as fontes de informações são as mesmas (GRANOVETTER, 2005).
Para o autor as pessoas que não possuem uma boa rede de laços fracos, são desprovidas da informação de partes distantes do sistema social, e ficam confinadas as notícias e visões provincianas de seus familiares e amigos mais íntimos. Granovetter (1983) retrata que esta privação não afeta somente o conhecimento do que ocorre no sistema social, mas acaba acarretando no engajamento deste indivíduo no mercado de trabalho, assim reduzindo as oportunidades de empregabilidade no tempo certo.
A pesquisa realizada por Ericksen e Yancey retrata que os respondentes com níveis menores de educação foram os que mais utilizaram os laços fortes para a obtenção de um trabalho. Também é relatado pelos autores que a taxa de quedas entre os respondentes que participaram da faculdade é compensado por um aumento proporcionalmente grande na probabilidade de uso de laços fracos e um ligeiro aumento na utilização de procedimentos burocráticos. Os autores concluiram em sua pesquisa que o uso de laços fortes não teve um impacto consistente, pelo laços fracos, o efeito global sobre a renda é significativa e negativa, oposta as hipóteses traçadas pelo estudo. No entanto, há uma interação significativa dos laços fracos com o nível educacional (GRANOVETTER, 1983).

Os Laços e a Formação de Capital Social
Para Albagli e Maciel (2002) o uso do termo capital social foi introduzido no início da década de 1980, quando Pierre Bourdieu se referia às vantagens e oportunidades de pertencer a certas comunidades. Nesse sentido, Bourdieu (1980) defende que o capital social pode ser considerado como um agregado de recursos reais ou potenciais, que se conectam a participação em uma rede durável de relações mais ou menos institucionalizadas de mútua familiaridade e reconhecimento, assim provendo para cada membro o suporte do capital de propriedade coletiva. Ou seja, para Bourdieu o capital social emerge da formação de laços em redes, sendo estas familiares e/ou reconhecidas.
No entanto, para Coleman (1988), o capital social é definido como uma função, caracterizada por não ser uma entidade única, e sim a variedade de entidades, possuindo dois elementos em comum, os quais consistem em alguns aspectos da estrutura social e facilitam as ações dos atores, esses atores podendo ser pessoas ou atores corporativos e estarem atrelados a essa estrutura. Bourdieu (2003) defende que o capital social é diferente das outras formas de capital, pois aumenta com o uso. A manutenção e crescimento do capital social ocorrem devido à interação existente entre os atores que compõem essa rede.
Conforme Nahapiet e Ghoshal (1998) a dimensão relacional do capital social, a qual mede confiança, normas, obrigações e identificação social, crescem nas redes em várias direções, com a presença de elos fortes e recíprocos. Nesse contexto, Putnam (1995) evidencia as relações sociais e a presença de confiança e de cooperação, ocasionando mútuos benefícios.
No entanto, Coleman (1988) entende o capital social como sendo semelhante ao capital humano e ao capital físico, pois o capital social não é completamente fungível, podendo ser especifico para certas atividades. Assim como uma dada forma de capital social pode ser valiosa e facilitar certas ações, pode também ser desnecessária e compensar prejuízos de outras ações (COLEMAN, 1988).
Enquanto Coleman busca explicar as conseqüências das relações sociais, Putnam preocupa-se em buscar formas de melhorar a saúde política da sociedade, mas ambos dão prioridade ao desempenho das normas e possuem um forte compromisso com valores coletivos. Ambos os autores questionam o valor do capital humano quando dissociado de relações sociais amplas, discordando de abordagens mais ortodoxas as quais defendem o individualismo e a racionalidade (ALBAGLI; MACIEL, 2002).
De acordo com Albagli e Maciel (2002) dois dos pressupostos utilizados por Putnam em sua definição de capital social (redes, normas e confiança) são implícitos em sua conceituação. Isso se deve ao fato de que as redes e normas estão empiricamente associadas e têm efeitos econômicos significativos para a comunidade, surgindo uma função instrumental para o capital social. Já a confiança é alcançada quando há conhecimento mútuo entre os membros de uma comunidade e uma forte tradição de ação comunitária.
Segundo Sarate e Macke (2007) o capital social possui fontes inesgotáveis desde que sejam utilizadas, mas podem diminuir e se tornarem escassas se não forem utilizadas. Esses autores defendem que o capital social reside nas relações, não sendo propriedade exclusiva de indivíduos. Por esse motivo, o desenvolvimento do capital social é afetado significativamente por fatores que estruturam a evolução das relações sociais.
Outro importante estudo foi realizado por Nahapiet e Ghoshal (1998). Neste estudo os autores definem três dimensões para o capital social: estrutural, relacional e cognitiva. A dimensão estrutural está relacionada ao sistema de relações e aos links existentes entre pessoas ou unidades, enquanto que a dimensão cognitiva se refere aos recursos que são providos por representações, interpretações e sistemas de significado, os quais são associado as partes, e por fim a dimensão relacional descreve a espécie de relações individuais desenvolvidas entre os indivíduos (NAHAPIET; GHOSHAL, 1998). Nesse contexto, Sarate e Macke (2007) buscaram apresentar as dimensões e os elementos do capital social, os quais foram abordados por Nahapiet e Ghoshal (1998).


Para a realização deste estudo, e almejando identificar elos existentes entre as abordagens sobre competências coletivas e capital social, utilizaremos a dimensão relacional do capital social, a qual se concentra em temas como confiança, normas, obrigações e identificação social, uma vez que essa dimensão apresenta-se de forma compatível aos objetivos da pesquisa.
No entanto, o capital social pode ser originado a partir de três fontes distintas. A primeira apresenta o capital social a partir do controle social; a segunda, a partir dos benefícios mediados pela família; e a terceira a partir dos recursos mediados por redes constituídas por não familiares (PORTES, 1998).
Nesse sentido, é possível identificar que o uso do termo capital social foi introduzido no inicio da década de 1980, quando Pierre Bourdieu se referia às vantagens e oportunidades de pertencer a certas comunidades (PORTES, 2000; ALBAGLI; MACIEL, 2002). E seguido por James Coleman que, centrou sua investigação em indivíduos ou pequenos grupos como unidade de análise. Mesmo apresentando significantes variações entre os estudos ambos os autores abordaram os benefícios resultantes aos indivíduos ou famílias pela virtude de seus laços com terceiros (PORTES, 2000).
A partir dos estudos de Bourdieu (1980) e Coleman (1988) muitos outros estudos foram realizados enfocando o capital social em diferentes áreas, assim deixando de ser um tema específico da área de Sociologia e penetrando em diversas áreas (PORTES, 1998; 2000). Essa pulverização de estudos originou diversas associações do capital social, assim gerando a diversidade de conceituações e definições relacionadas ao tema. A seguir é apresentada a Figura 2, a qual aborda as principais definições abordadas pelos autores.


Conceitos

Autores

Capital social é o agregado do atual ou potencial recurso que são reunidos para possesão de uma durável rede de relações mais ou menos institucionalizadas de mútuo conhecimento ou identificação.

Bourdieu (1985)

Capital social é uma variedade de entidades com dois elementos em comum, os quais consistem de algum aspecto de estruturas sociais, e facilitam evidentes ações de atores (pessoas ou corporações) com a estrutura.

Coleman (1988)

Capital social é um recurso que deriva de atores de especificas estruturas sociais, sendo usado para perseguir seus interesses, é criado pelas trocas nas relações entre atores.

Baker (1990)

Capital social é o conjunto de elementos das estruturas sociais que afetam as relações entre pessoas e são inputs ou argumentos da produção e/ou utilidade funcional.

Schiff (1992)

Capital Social é como amigos, colegas e de forma mais geral contatos diretos de quem você recebe oportunidades para usar seu capital humano e financeiro.

Burt (1992)

Capital Social são traços da vida social – redes de contatos, normas e confiança - que possibilitam aos participantes agirem juntos mais efetivamente para perseguir objetivos em comum.

Putnam (1995)

Figura 1: Conceitos e origens do capital social
Fonte: Adaptado de Portes (1998); Walker (2008).
Conforme Walker (2008), Putnam surge com um estudo sucessor à Coleman, uma vez que ambos apresentam uma visão conceitual muito próxima. Contudo, é importante ressaltar que enquanto, Coleman busca explicar as conseqüências das relações sociais, Putnam preocupa-se em buscar formas de melhorar a saúde política da sociedade. Mas ambos dão prioridade ao desempenho das normas e possuem um forte compromisso com valores coletivos, assim questionando o valor do capital humano quando dissociado de relações sociais amplas, discordando de abordagens mais ortodoxas as quais defendem o individualismo e a racionalidade (ALBAGLI; MACIEL, 2002).
Putnam (1995) evidencia em seu estudo, as relações sociais e a presença de confiança e de cooperação, como fontes de mútuos benefícios. Consoante a isso, Nahapiet e Ghoshal (1998) defendem a existência de três dimensões no capital social (estrutural, cognitiva e relacional), e que a dimensão relacional, a qual mede confiança, normas, obrigações e identificação social, cresce nas redes em várias direções, com a presença de elos fortes e recíprocos.

Considerações Finais
A partir da análise realizada constatou-se que o tema laços sociais tem sido abordado desde o século XIX. Tendo início com a obra divisão do trabalho social de Durkheim, em 1893. E quando Simmel retrata em seu livro Sociologia, os estudos sobre as formas de socialização, em 1896. Ambos os autores são considerados modernos, e verificou-se que autores pós-modernos continuam utilizando o tema laços sociais e os estudos realizados por Durkheim e Simmel como base para suas análises e críticas.
Neste sentido, pode-se observar que o estudo “a força dos laços fracos” de Granovetter (1983) foi significativo uma vez que apresentou suas contribuições quanto à existência de laços fracos e fortes, e que os laços fracos também apresentam suas forças. No entanto, no que tange o tema específico laços sociais o autor não apresentou contribuições significativas.
Este estudo teve como objetivo apresentar um comparativo sobre as diferentes visões e abordagens dos teóricos que tratam o tema laços sociais. Desta forma, foi possível verificar que o tema laços sociais possui duas formas de análise, a partir de uma visão micro tendo a análise do indivíduo como foco, ou a partir de uma visão macro tendo a análise da sociedade e das relações sociais estabelecidas entre os indivíduos, os quais interagem entre si.
Por fim, destacam-se as limitações deste estudo no que se refere a sua capacidade de generalização, visto que foi explorada apenas a visão de determinados autores. Sugere-se a realização de estudos teóricos complementares que contribuam com o avanço do tema laços sociais, assim como estudos específicos abordando a força dos laços fracos. E, finalizando, estudos que enfoquem pesquisas empíricas e estudos comparativos, a fim de identificar as percepções dos indivíduos inseridos em contextos específicos.

Referências:
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