João André Tavares Fernandes (CV)
 jfernandes@edu.unicid.br
Universidade Cidade de São Paulo  
                  
                                 
		      
			
			
			
RESUMO
Este estudo teve por objetivo verificar a associação entre diversidade  cultural e universidade, buscando identificar os aspectos mais explícitos da  diversidade,  bem como a formação profissional, interação e integração  dos grupos na universidade, que é um ambiente em constante processo de mudanças organizacionais existindo  uma pressão evidente em relação à sua adequação a um mercado competitivo. 
              Fundamentado em pesquisas  bibliográficas e estudos de casos, este estudo buscou contribuir para a  compreensão do modo como se expressa a diversidade cultural no contexto universitário,  bem como para uma reflexão acerca do papel da docência para numa educação na e  para a diversidade.
Palavras-chave: Diversidade Cultural,  Universidade, Cultura, Aluno, Professor, Aprendizagem. 
              
              
              ABSTRACT
  
              This study aimed to investigate the association between cultural  diversity and the university, seeking  to identify the more explicit aspects  of diversity, as well as vocational  training, interaction and integration  of groups at the university,  which is an environment in constant  process of organizational change there  is a pressure evident in relation to their suitability for a competitive market.
              Based on literature searches and case studies, this study sought to contribute to the understanding of how cultural diversity is expressed in the university context, as well as a  reflection on the role of teaching to an education in and for diversity.
  
              Keywords: Cultural Diversity,  University, Culture, Student, Teacher, Learning.
INTRODUÇÃO
A  abordagem do termo diversidade cultural torna-se uma necessidade atual e sua  relevância se explica a partir do momento em que a universidade desenvolve um  ensino que procura atender a diversidade cultural de sua clientela. 
    Historicamente  falando, a universidade tem dificuldades para lidar com a diversidade. As  diferenças tornam-se problemas ao invés de oportunidades para produzir saberes  em diferentes níveis de aprendizagem. Ela é, sem dúvida, o lugar em que todos os  alunos devem ter as mesmas oportunidades, mas com estratégias de aprendizagens  diferentes.
    A  aprendizagem não depende apenas da estrutura biológica, mas também do meio, da  qualidade dos estímulos recebidos desde a infância. Portanto, cada pessoa tem  uma história particular e única, formada por sua estrutura biológica, social e  cultural.
    Garvin (1993) define que, “uma organização  de aprendizagem é aquela que tem a habilidade de criar, adquirir e transferir  conhecimento e de modificar seu comportamento para refletir sobre novos  conhecimentos”.
    A  universidade é um local formado por uma população com diversos grupos étnicos,  com seus costumes e suas crenças. Segundo Morin: 
“a cultura é constituída pelo conjunto dos saberes, fazeres, regras, normas, proibições, estratégias, crenças, idéias, valores, mitos, que se transmite de geração em geração, se reproduz em cada indivíduo, controla a existência da sociedade e mantém a complexidade psicológica e social. Não sociedade humana, arcaica ou moderna, desprovida de cultura, mas cada cultura é singular. Assim, sempre existe a cultura nas culturas, mas a cultura existe apenas por meio das culturas”. (idem, 2001, p. 56)
Perrenoud  (2000) aborda que enfrentar o desafio de propor um ensino que respeite a  cultura da comunidade significa constatar cada realidade social e cultural com  a preocupação de traçar um projeto pedagógico para atender a todos sem exceção.
    O Brasil é um país rico em diversidade cultural, devido  cada região possuir a sua própria cultura, costumes, crenças, religiões.  Trabalhar a diversidade brasileira é adentrar em um universo muito rico,  aprender a maneira de ser, de viver, ser capaz de respeitar e ao mesmo tempo  integrar a cultura popular.
    Neste novo contexto, faz-se oportuno um olhar no contexto mundial da  perversidade da globalização: a concentração de renda, a desigualdade e a injustiça  social, que ainda permeia grande parte da população dos países pobres.
    O olhar sobre a diversidade cultural, expõe peculiaridades da existência  humana: as diferentes formas que assumem as sociedades ao longo dos tempos e  dos espaços, as relações entre povos, culturas, civilizações, etnias, grupos  sociais e indivíduos. Configura-se o desafio central não só das práticas  pedagógicas, mas das possíveis formas de convivência que se queira construir,  para humanizar-se as relações; na economia, na política e no saber, nos  diferentes quadrantes históricos e geográficos.
    Trabalhar com o tema diversidade cultural remete-nos a explorar um universo  representado por uma população formada por inúmeros grupos étnicos, com seus  costumes, com sua cultura, por meio de trabalhos interdisciplinares, como uma  das melhores formas de expressar os conhecimentos adquiridos ao longo da  vivencia acadêmica.
    Cada universidade é composta de sua  história, cultura, missão, visão e seus valores. Em síntese, são suas  preocupações que a fazem diferente de outras universidades. Os universitários  são formados por diversos grupos étnicos com seus costumes, culturas, crenças e  um conjunto diversificado de valores. 
    Emerge a responsabilidade da universidade e de todos que trabalham no  processo administrativo, em adequar o currículo escolar com o  multiculturalismo, que é a mistura de culturas em uma mesma localidade, abarcando  toda a comunidade acadêmica, para não ocorrer processos de exclusão. Valorizar  a cultura na sala de aula é ter o compromisso de valorizar e melhorar a  convivência com a diversidade cultural, uma das vias dessa conscientização é a  educação em valores.
    Barbosa (2010) define que o papel do professor–gestor diante da diversidade  cultural dentro da universidade, é trabalhar a tolerância, o respeito e  reconhecimento da diversidade, em toda a comunidade acadêmica, quebrar as  barreiras impostas pela sociedade a qual muitas vezes é escassa e excludente, e  não levar em consideração a origem sócio-cultural e econômica do aluno.
    Seguindo e  contextualizando a idéia da autora, o professor do século XXI deve ser  requalificado como profissional e como protagonista. Essa requalificação deve  incluir a modificação racional da formação docente, o substantivo melhoramento  de suas condições de trabalho e a eliminação dos mecanismos de controle  técnico, de modo que fortaleça sua autonomia e valorize sua prática. Isto  significa superar seu papel de transmissor de conhecimento, passivo e  instrumental (GIROUX, 1990).
    Proporcionar assim, um ambiente acadêmico num local de formação de alunos  ativos, criativos, solidários e com consciência critica do real papel do ser  humano no ambiente em que vive. A diversidade  cultural, para alguns alunos, é um tema de difícil compreensão e para  assimilar o processo administrado pelos gestores se torna ainda mais confuso,  pois este tema é muito complexo e precisa ser compartilhado e mostrado de  diversas forma para a comunidade acadêmica, por meio de palestras, seminários  para a sua melhor compreensão.
    Costa  (2009) acredita que: “assim como  os pais, a universidade pode proporcionar o acesso a várias opções diferentes  ao apresentar culturas alternativas aos estudantes, ou pode limitar e dirigir  esse acesso”.
    O  autor se refere propriamente aos professores e, em relação a eles, será também  importante averiguar sobre a sua preparação global para o exercício de funções  docentes numa situação tão particular como a aula, que é um lugar de expressão  da diversidade, com a presença de alunos provenientes de diferentes culturas. Reconhecer  as diferenças é aceitar e respeitar as singularidades culturais e procurar  preservá-las na constituição pedagógica dos sujeitos. 
   
    O educador faz “depósitos” de conteúdos que devem  ser arquivados pelos educandos. Desta maneira a educação se torna um ato de  depositar, em que os educandos são os depositários e o educador o depositante.  O educador será tanto melhor educador quanto mais conseguir “depositar” nos  educandos. Os educandos, por sua vez, serão tanto melhores educados,  quanto mais conseguirem arquivar os depósitos feitos (FREIRE, 1983, p. 66). 
Umas das  maiores lições de Freire (1983) aos educadores é a preocupação com o papel social  da Educação. A busca de alternativas e propostas deve ser constante em nosso  dia a dia, e deve ocorrer no sentido de resgatar o “homem”, o “cidadão” e o  “trabalhador” da alienação de seu “ser” e de fortalecer seu exercício de  cidadania e de sua dignidade. 
    Para Sacristán (1988, p. 16) “é fato  empírico que nós, seres humanos, somos diferentes uns dos outros do ponto de  vista biológico, psicológico, social e cultural. Cada um de nós constitui uma  individualidade única ao lado de outras tão singulares quanto a nossa”.  Portanto, a singularidade individual destaca-se como garantia de privacidade e  de livre pensamento, assim como a liberdade de expressão, de criação e o  exercício da crítica. 
    Como base, os educadores devem tomar como  ponto de partida para o senso comum pedagógico a normalidade da diversidade. 
[...]a diversidade alude à circunstância  dos sujeitos de serem diferentes (algo que em uma sociedade tolerante, liberal  e democrática é digno de respeito). Embora também faça alusão ao fato de que a  diferença (nem sempre neutra) transforma-se, na realidade, em desigualdade, na  medida em que as singularidades dos sujeitos ou dos grupos permitam que  alcancem determinados objetivos nas universidades e fora delas de maneira  desigual. A diferença não é somente uma manifestação do ser único de cada um é;  em muitos casos, é a manifestação do poder ou chegar a ser, de ter  possibilidades de ser e de participar dos bens sociais, econômicos e culturais.  Contrapomos o diverso ao homogêneo o desigual com a equiparação, que é a  aspiração básica da educação, pensada como capacitação para aumentar as  possibilidades. 
    Todas as desigualdades são diversidades,  embora nem toda diversidade pressuponha desigualdade (SACRISTÁN, 1988, p.14). 
Diante da diversidade de culturas dentro de  diversas culturas é de competência de o professor ter claro os objetivos e  resultados que pretende alcançar com uma atividade para que os alunos tenham as  mesmas oportunidades, mas com estratégias diferentes.
    Aceitar que os alunos são diferentes uns  dos outros é fácil. Difícil é tratar educativamente essas diferenças e ajudar  para que elas enriqueçam o processo de ensino-aprendizagem. Não se constitui em  tarefa simples tentar entender as origens sociais, os medos, as diferenças, os  futuros desiguais, os anseios, as perspectivas dos nossos alunos em relação à  sua formação
    Pensando a respeito desta complexidade, as  universidades e os professores, entre outras medidas, podem distribuir suas  atenções em função das possibilidades ou necessidades de cada estudante,  munir-se de recursos para o trabalho independente e criar climas de cooperação  entre os alunos, facilitando a informação, o conhecimento e principalmente o  intercâmbio. 
    Sacristán (1988) define que “as tarefas  acadêmicas tornam-se modos de trabalhar e de aprender”, permitem utilizar  diversos meios, sair ou não fora das salas de aula, criam ambientes de aprendizagem  particulares e definem modelos de comportamento para os quais as  individualidades adaptam-se melhor ou pior. 
    Desse modo, universidades e professores  precisam viabilizar o livre avanço dos mais capazes de forma natural,  alimentando o interesse do estudante, abrindo-lhe caminhos e adotando posturas  mais abertas e criadoras de condições e recursos propondo objetivo profissional  inovador. 
    Zabala (1998, p. 63 ) cita como um dos  objetivos de qualquer bom profissional consiste em ser cada vez mais competente  em seu ofício. Geralmente se consegue esta melhora profissional mediante o  conhecimento e a experiência: o conhecimento das variáveis que intervêm na  prática e a experiência para dominá-las. 
    O autor acredita que podemos extrair do  conhecimento da forma de produção das aprendizagens duas perguntas: a primeira  relacionada com a potencialidade das sequências para favorecer o maior grau de  significância das aprendizagens e a segunda sua capacidade para favorecer que  os professores prestem atenção à diversidade. 
    Os objetivos esperados devem impulsionar as  capacidades nos processos de inclusão social e profissional que, como sabemos,  levam ao desenvolvimento de capacidades de diversos tipos: cognitivas, de  inter-relação, de equilíbrio pessoal e até motoras. 
Em suma, conforme diz Lotan (em Gohen e Lotan, 1997, p.15), precisamos de uma pedagogia da complexidade, referindo-se com esse termo a uma estrutura educacional capaz de ensinar com um alto nível intelectual em classes que são heterogêneas do ponto de vista acadêmico, linguístico, racial, étnico e social, de forma que as tarefas acadêmicas possam ser atraentes e desafiadoras. Seus pontos mais importantes são: riqueza de materiais, incentivo das interações em pequenos grupos, delegação de certas responsabilidades aos estudantes, tarefas que exijam o uso de múltiplos materiais e provoquem a participação de habilidades diversas, estimulação da participação dos estudantes com simultaneidade de tarefas e com múltiplas funções do professor (apud SACRISTÁN, 1998, p.35).
Para Zabala (1998, p. 63) podemos extrair  do conhecimento da forma de produção das aprendizagens duas perguntas: a  primeira relacionada com a potencialidade das sequências para favorecer o maior  grau de significância das aprendizagens e a segunda sua capacidade para  favorecer que os professores prestem atenção à diversidade.
    A educação, e em especial a gestão democrática necessita de reflexões no  que diz respeito à diversidade cultural no contexto escolar. Deve buscar  alternativas de competência das políticas públicas para o atendimento  educacional, na estrutura física, recursos humano adequado para o  desenvolvimento do trabalho pedagógico e administrativo, enfim todas as  modalidades de adaptações de acesso ao currículo de forma a favorecer o processo  educacional relevante à diversidade cultural.
    Zabala (1998, p.13) define que provavelmente a melhoria de nossa atividade  profissional, como todas as demais, passa pela análise do que fazemos, de nossa  prática e do contraste com outras práticas. 
    Dentre as argumentações de ordem  psicológica podemos citar alguns contextos de ensino que, partindo dos níveis  de desenvolvimento dos alunos, lhes apresente situações de aprendizagem. 
    a diversidade como processo de  aprendizagem
    Observando a globalização de uma forma  sistêmica (educação, política e social), entendo que devemos cada vez mais nos  aperfeiçoar, estarmos atentos as mudanças e as grandes transformações da visão  de mundo em que vivemos e que somos inseridos. 
    A idéia de globalização remete a uma visão  de que o conhecimento é global, não segmentado e que sua fragmentação em  disciplinas faz parte de um momento de sua produção. Segundo essa concepção de  globalização, é o professor ou a situação os que reclamam e forçam o  estabelecimento de conexões disciplinares, ou seja, um conjunto de idéias com o  mesmo foco e seguindo a mesma linha de raciocínio cognitivo. 
    O professor deve estar atento para as  necessidades de envolver o aluno com as diferentes atividades educativas  propostas para sua formação, de maneira que todos os alunos percebam com  clareza o porque de se estar realizando cada atividade ou tarefa em sala de  aula/laboratório, por exemplo. 
    Para isso é necessário que o professor  aplique seus conhecimentos prévios, de forma clara e objetiva seguindo uma  metodologia dinâmica e participativa a fim de obter um bom resultado e  principalmente a interação do aluno na sala de aula e sua integração com os  demais (aluno/professor). 
    Atualmente, não é  possível falar em multi ou interculturalismo sem alguma adjetivação ou  explicação: diversas abordagens se abrigam sob tal rótulo, algumas até mesmo  antagônicas.
    Interessa  aqui o enfoque proposto por Candau nos seguintes termos:
  “a  interculturalidade orienta processos que têm por base o reconhecimento do  direito à diversidade e a luta contra todas as formas de discriminação e  desigualdade social. Tenta promover relações dialógicas e igualitárias entre  pessoas e grupos que pertencem a universos culturais diferentes, trabalhando os  conflitos inerentes a essa realidade. Não ignora as relações de poder presentes  nas relações sociais e interpessoais. Reconhece e assume os conflitos,  procurando as estratégias mais adequadas para enfrentá-los”. (idem, 2005, p.32)
Gadotti  (1992) educador brasileiro comprometido com educação popular e comunitária  propõe uma Educação Multicultural,  como estratégia de educação para todos capazes de reduzir os elevados índices  de evasão e de repetência dos segmentos menos favorecidos da sociedade  brasileira, na sua maioria constituída por pobres, negros e mestiços. Considera  ele que, uma das tendências do mundo contemporâneo é o multiculturalismo, que  deve se traduzir no respeito e valorização das diferenças socioculturais.
    Fernandes  (2005) define que no atual mundo de economia globalizada, ao contrário do que  se previa, houve um revigoramento e uma valorização das culturas regionais e a  afirmação de identidades étnico-culturais latentes que, nessa nova “aldeia  global”, encontra espaço para a defesa de seu direito à diferença e  reconhecimento da alteridade.
    A  par de toda valorização às culturas das minorias sociais, muito pouco se fala  das etnias nas universidades brasileira. Só muito recentemente, por pressão dos  movimentos sociais, é que a questão da pluralidade cultural vem encontrando  certa ressonância no ambiente escolar. Segundo Gadotti:
“a diversidade cultural é a riqueza da humanidade. Para cumprir sua tarefa humanista, a escola precisa mostrar aos alunos que existem outras culturas além da sua. Por isso, a escola tem que ser local como ponto de partida, mas tem que ser internacional e intercultural como ponto de chegada. (...) Escola autônoma significa escola curiosa, ousada, buscando dialogar com todas as culturas e concepções de mundo. Pluralismo não significa ecletismo, um conjunto amorfo de retalhos culturais. Significa sobre tudo diálogo com todas as culturas, a partir de uma cultura que se abre às demais” (idem, 1992 p.23)
Gómez (2001) pensa o  ensino “como um espaço ecológico de cruzamento de culturas”. Defende, assim,  que esses espaços têm o papel de oferecer uma “mediação reflexiva” entre a  “cultura crítica” (que inclui o conhecimento científico) e a “cultura  experencial” trazida pelo aluno (senso/conhecimento comum). 
    A UNESCO publica em seu site que as desigualdades sociais no Brasil afetam  diretamente as diversas condições de acesso à educação no país. Quase todos os  indicadores educacionais brasileiros evidenciam este fato. São percebidas desigualdades nas condições de acesso à educação e nos resultados  educacionais das crianças, dos jovens e dos adultos brasileiros,  penalizando especialmente alguns grupos étnicorraciais, a população mais pobre  e do campo, os jovens e adultos que não concluíram a educação compulsória na  idade adequada. Grandes desigualdades  raciais e étnicas continuam existindo na sociedade brasileira  (especialmente com relação a alguns grupos específicos, tais como a população indígena, a população afrodescendente, os quilombolas, a população carcerária e a população  rural). 
    A literatura especializada mostra que há forte correlação  entre a origem étnica e as oportunidades educacionais. Estas coexistem lado a  lado com desigualdades sociais e regionais, contribuindo, assim, para a exclusão educacional de um número  considerável de jovens e adultos.
    A UNESCO pretende apoiar o país na implementação de ações  afirmativas para promover oportunidades iguais de acesso àeducação de  qualidade, incluindo todos os grupos da sociedade brasileira.
DIVERSIDADE: RESPEITO ÀS DIFERENÇAS DE APRENDIZAGEM, CONHECIMENTO E COMPREENSÃO
Estamos  vendo que os campos da formação humana são múltiplos e complexos. O educador  deve ser um colecionador incansável de experiências didáticas bem-sucedidas,  suas e de outros colegas, e de técnicas e dinâmicas de ensino. 
    Deve ser  ainda um profissional especializado na elaboração de recursos de ensino  (textos, roteiros de trabalho, apostilas, exercícios), visando não só a  aquisição de conhecimentos cognitivos, mas também de outros saberes e  competências sociais, políticas, instrumentais, ultimamente denominados de  saber, saber ser e saber fazer. 
    Freire  (1997, p.25) aborda a diferença entre treinar e educar, descrevendo que treinar  é aprender as técnicas e habilidades necessárias para determinado fim, enquanto  que educar é muito mais do que isso, "não é transmitir conhecimento, mas  criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção”. 
    O autor  também aponta a importância do professor respeitar a individualidade do  educando e aproveitar suas vivências e experiências no ato de educar. Assim, é  possível fazer a ponte entre os conhecimentos que o educando adquiriu no  decorrer de sua vida e os conhecimentos técnicos e acadêmicos. 
    A Universidade não pode, pois, orientar-se  pelo paradigma da uniformidade curricular, o que exige alterações profundas ao  nível da organização e gestão curricular e da formação de professores e claro,  de início, um currículo flexível, portanto adaptável. 
Para este processo ser efetivo, é fundamental que a universidade também ‘exercite a flexibilidade com relação às capacidades individuais de cada aluno e coloque suas necessidades e interesses no centro de suas atenções, porque é com base no compromisso de conhecer cada aluno que a universidade se torna, gradualmente, um ambiente de aprendizagem diferenciada. (Portal: UNESCO)
O cenário atual da Educação Superior convida  as universidades a uma transformação de sua capacidade de gerar novos  conhecimentos pedagógico/didáticos a partir de seu próprio contexto. Desta  forma, o profissional “professor” deve buscar o aprimoramento profissional  através de inovação e dinâmicas de mudanças; considerando-se a cultura de cada  instituição educativa.
    Martha (2007, p. 68-70), apresenta em seu  livro o marco conceitual do Ensino para Compreensão (EpC) nos orienta a revisar  antigas questões sobre “o que” e “como” ensinar. Ele os incentiva a continuar  aprendendo sobre sua matéria, enquanto desenvolvem tópicos geradores mais  potentes, e a articular metas de compreensão mais penetrantes. Ele os ajuda a  ouvir seus alunos a fim de aprender como estão entendendo o currículo e  ajudá-los visando a atender seus interesses, pontos fortes e pontos fracos.
   A  autora apresenta que o trabalho com professores durante os anos iniciais do  projeto revelou que aprender a ensinar para a compreensão é por si só, um processo  de desenvolvimento de compreensão. A partir dessa perspectiva, o próprio marco  do EpC oferece uma base para orientar o processo de Compreensão, Planejamento,  Implementação e Integração. 
    A implicação desta linha de trabalho  pedagógico e curricular só é possível com o professor atuando como agente de  mudança com característica pessoal de auto motivação, refletindo a importância  do processo de aprimoramento contínuo de revisão e formação.
    O resultado destas mudanças é o  desdobramento de ações efetivas que colabora com um processo dinâmico e  flexível de sua formação acadêmica propiciando condições e recursos em sua  tomada de decisão.
    Freire (1979) considera essa questão ao  descrever que entre aluno e professor há uma troca mútua de conhecimentos e  questionamentos, onde quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao  aprender. 
“O homem enche de cultura os espaços geográficos e históricos. Cultura é tudo o que é criado pelo homem. Tanto uma poesia como uma frase de saudação. A cultura consiste em recriar e não em repetir. O homem pode fazê-lo porque tem uma consciência capaz captar o mundo e transformá-lo”. (FREIRE, 1979, p. 30-31)
Na organização de aprendizagem o ambiente  favorece a criação de objetivos compartilhados e processos de socialização,  gerando um sentimento de coletividade que permeia a organização e dá coerência  às diferentes atividades, contribuindo para o engajamento e participação das  pessoas. 
    Em suma, conforme diz Gómez: 
Assim, o aspecto mais importante dentro dessa corrente são os processos de socialização do professor/ a, já que se considera que neste longo processo socialização vão se formando lenta, mas decisivamente as crenças pedagógicas, as idéias e teorias implícitas sobre o aluno/ a, o ensino, a aprendizagem e a sociedade. (idem, 1998, p.67).
Em  um mesmo grupo de formação, nem todos os aprendizes vivem a mesma experiência.  As pessoas confrontadas com a situação aparentemente idêntica constroem  experiências subjetivas diferentes, porque invertem na situação seus meios intelectuais,  seu capital cultural, seus interesses, seus projetos e suas atividades, suas  energias, suas estratégias e seus desafios do momento, todos esses recursos se  distinguem.
    Imbernón (2004) nos leva a ampliar nossas  reflexões acerca de “práxis” ressignificando nossa profissão e contribuindo na  perspectiva do coletivo que, de fato, constrói e desenha novos contornos para  uma atuação verdadeiramente transformadora.
    A  universidade precisa trazer à tona o debate sobre a mobilização das  inteligências Múltiplas de Gadner, “que define inteligência como habilidade  para resolver problemas ou criar produtos que sejam significativos em um ou  mais ambientes culturais”.
    Segundo  Gadner, citado por Oliveira:
“O ser humano dispõe de graus variados de cada uma das inteligências e pode combiná-las organizando-as de forma pessoal para criar produtos e resolver problemas. Ele identificou sete tipos de inteligências, embora admitia que possa haver outras. São Elas: A lingüística (inteligência dos poetas e escritores); A lógica – matemática (inteligência dos cientistas e matemáticos); A espacial (inteligência dos artistas plásticos e dos arquitetos; A musical (inteligência dos músicos; A cinestésica inteligência dos atletas e bailarinos; A interpessoal (inteligência dos professores, dos vendedores e dos líderes; A intrapessoal (inteligência de lidar consigo mesmo, com eficácia, exteriorizando-se, através de outras inteligências” (apud OLIVEIRA, 1997, p. 26-28)
A  constante busca de alternativas para trabalhar e respeitar às diferenças  poderia levar a transformação das desigualdades em aprendizagem e em êxito  escolares.
    Conforme  Moreira:
“O  avanço das pesquisas e da experiência, os professores disporão de instrumentos  que lhes permitem delimitar melhor a natureza dos obstáculos à aprendizagem  encontradas em cada aluno e, portanto, saber se requerem uma intervenção  urgente, ou um desvio, ou um tempo de latência, por exemplo, dando à criança  tempo para crescer, amadurecer, superar as crises familiares ou problemas de  individualidade. Os professores precisam encontrar meios de criar espaço para  mutuo engajamento das experiências de multiplicidade de vozes, por um único  discurso dominante. Mas professores e alunos precisam encontrar maneiras de que  um único discurso se transforme em local de certeza e aprovação”.(idem, 2002,  p. 106)
  
    Um  dos grandes desafios da universidade atualmente é o de desenvolver um Projeto  Político Pedagógico que estabeleça uma visão real da práxis pedagógica em  relação à diversidade cultural para a mobilização das competências dos alunos e  participação dos professores. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O  estudo aqui realizado pode contribuir para superação do preconceito de que  existe o aluno ideal para uma real compreensão do fenômeno diversidade cultural  na universidade. Pois não há uma classe homogênea. Podemos citar a “motivação”  como fator do processo/aprendizagem. 
    São  processos que ocorrem no interior do sujeito, estando, entretanto, intimamente  ligados às relações de troca que o mesmo estabelece com o meio, principalmente,  seus professores e colegas. Nas situações escolares, o interesse é  indispensável para que o aluno tenha motivos de ação no sentido de apropriar-se  do conhecimento. A motivação é um fator que deve ser questionado no contexto da  educação tendo grande importância na realização do processo educativo.
    O professor deve descobrir estratégias,  recursos para fazer com que o aluno se disponha a aprender, fornecendo estímulos  para que ele se sinta motivado a aprender. Ao estimular o aluno, o educador o  desafia a aprender. O desejo de realização é a própria motivação, assim o  professor deve fornecer sempre ao aluno o conhecimento de seus avanços,  captando a atenção do aluno. 
    O motivo para desenvolver a compreensão se  torna o desejo de ajudar outras pessoas, de acordo com suas circunstâncias,  considerando quais são os fatores mais decisivos em cada caso. Portanto,  mobilizar competências e despertar compreensão,  significa ter empatia pelo outro e saber se realmente estou sendo  participativo em sala, se minhas aulas estão contribuindo para a  formação/desenvolvimento do meu aluno/ a, se estou passando um feedback  positivo 
    Podemos ter conhecimento das estratégias  didáticas e das atitudes dos professores em relação à diversidade de idéias,  experiências, atitudes, estilos de aprendizagem, ritmos, capacidades,  interesses, etc. Ao analisar o paper  apresentado, um dos desafios da universidade é reverter esse papel, encarando a  diversidade cultural como meio de transformar a universidade e a sala de aula  num ambiente de “aprendizagem significativa”. 
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