Revista: CCCSS Contribuciones a las Ciencias Sociales
ISSN: 1988-7833


O PENSAMENTO DE PAULO FREIRE

Autores e infomación del artículo

Jocélia Barbosa Nogueira*

Universidade Federal do Amazonas - UFAM, Brasil

aldairandrade@yahoo.com.br


Resumo: Escrever algo sobre o pensamento de Paulo Freire é lembrar que a sociedade moderna teve como base a cidade e a produção por meio da indústria, fato que implicou na necessidade de expansão do sistema educacional, pois o Estado Moderno passou a exigir a socialização e a aprendizagem das crianças, além do âmbito da família, pois esta, não atendia os novos interesses em jogo relacionados ao convívio na cidade, a participação política e ao preparo para novas funções de trabalho, bem como para o enfrentamento dos avanços tecnológicos e problemas sociais, políticos, econômicos e culturais decorrentes dele. Neste interin é questionar: Por que não se desenvolveu uma concepção de educação de caráter progressista no contexto da realidade brasileira?Teve como objetivo geral refletir sobre a tendência pedagógica, instrumento que a Ciência da Educação oferece para a compreensão da realidade social educacional brasileira, identificando as transformações  culturais, econômicas e políticas que tornaram possível  o surgimento da teoria de Paulo Freire, uma teoria moderna de organização revolucionária  do conhecimento. A pesquisa indicou que conhecer o pensamento de Paulo Freire, estruturado em funçao do periodo de governo militar de 64 a 85,  contribuiu para consolidação da pedagogia libertadora. É tornar presente na memória que no século XX a ação de Freire muito contribuiu para a mudança na concepção de educação no Brasil, porque partiu do princípio que a educação é política já que permite transformar a realidade.  A inovação proposta teve como base o método de alfabetização projetado, em que o alicerce parte das condições concretas da vida dos alunos. Acreditou e criou uma pedagogia que potencializasse aos jovens e adultos, a autonomia, bem como os tornasse sujeitos capazes de reconstruir a realidade em que vivem, em busca da justiça social. 

Palavras - chave: Realidade Vivida. Pedagogia Libertadora. Transformação Social

Resumen: Escribir algo sobre el pensamiento de Paulo Freire es recordar que la sociedad moderna se basó en la ciudad y la producción a través de la industria, un hecho que implicaba la necesidad de expandir el sistema educativo, ya que el Estado moderno comenzó a exigir socialización y aprendizaje de los niños, más allá del alcance de la familia, ya que esto no satisfizo los nuevos intereses en juego relacionados con la vida en la ciudad, la participación política y la preparación para nuevas funciones laborales, así como para enfrentar los avances tecnológicos y los problemas sociales , consecuencias políticas, económicas y culturales de la misma. Mientras tanto, la pregunta es: ¿por qué no se desarrolló una concepción progresiva de la educación en el contexto de la realidad brasileña? Su objetivo general era reflexionar sobre la tendencia pedagógica, un instrumento que ofrece la Ciencia de la Educación para la comprensión de la realidad social educativa brasileña, identificando Las transformaciones culturales, económicas y políticas que hicieron posible el surgimiento de la teoría de Paulo Freire, una teoría moderna de la organización revolucionaria del conocimiento. La investigación indicó que conocer el pensamiento de Paulo Freire, estructurado de acuerdo con el período de gobierno militar del 64 al 85, contribuyó a la consolidación de la pedagogía liberadora. Es para dejar en claro en la memoria que en el siglo XX, la acción de Freire contribuyó en gran medida al cambio en el concepto de educación en Brasil, porque asumió que la educación es política, ya que permite transformar la realidad. La innovación propuesta se basó en el método de alfabetización proyectado, en el que la base se basa en las condiciones concretas de la vida de los estudiantes. Creyó y creó una pedagogía que empoderó a los jóvenes y adultos, la autonomía, y los hizo capaces de reconstruir la realidad en la que viven, en busca de la justicia social.

Palabras clave: realidad vivida. Pedagogía liberadora. Transformación social

Abstract: To write something about Paulo Freire's thinking is to remember that modern society was based on the city and production through industry, a fact that implied the need to expand the educational system, as the Modern State started to demand socialization and children's learning, beyond the scope of the family, as this did not meet the new interests at stake related to living in the city, political participation and preparation for new work functions, as well as to face technological advances and social problems , political, economic and cultural consequences of it. In this interim it is to ask: Why has not a progressive conception of education developed in the context of the Brazilian reality? It had as general objective to reflect on the pedagogical trend, an instrument that the Science of Education offers for the understanding of the Brazilian educational social reality, identifying the cultural, economic and political transformations that made possible the emergence of Paulo Freire's theory, a modern theory of revolutionary knowledge organization. The research indicated that knowing Paulo Freire 's thinking, structured according to the period of military rule from 64 to 85, contributed to the consolidation of the liberating pedagogy. It is to make it clear in the memory that in the 20th century, Freire's action greatly contributed to the change in the concept of education in Brazil, because it assumed that education is political as it allows to transform reality. The proposed innovation was based on the projected literacy method, on which the foundation is based on the concrete conditions of the students' lives. He believed and created a pedagogy that empowered young people and adults, autonomy, as well as making them capable of reconstructing the reality in which they live, in search of social justice.

Keywords: Lived Reality. Liberating Pedagogy. Social Transformation.

Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Jocélia Barbosa Nogueira (2020): “O pensamento de Paulo Freire”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, (junio 2020). En línea:
https://www.eumed.net/rev/cccss/2020/06/pensamiento-paulo-freire.html

//hdl.handle.net/20.500.11763/cccss2006pensamiento-paulo-freire

1 Introdução

Este artigo foi pensado com o intuito de oferecer informações pertinentes ao pensamento de Paulo Freire. Tem como objetivo geral compartilhar o que Freire desenhou no seu imaginário e expressou por meio de suas obras de como deve ser a educação e, consequentemente, a pessoa humana e suas possibilidades para poder compreender a realidade social em que vive, bem como, aquecer o pensamento, com o intuito de locomover-se em direção à transcedência do próprio modo de ser e estar na profissão de professor (a).
Estudar sobre esta temática é importante nos nossos dias, devido à necessidade de verificar os diversos ângulos de nossa realidade cotidiana. Pesquisar, para Paulo Freire, é descobrir os elementos singulares no contexto da realidade de indivíduos e grupos. Fundamentalmente, cremos que uma questão que se coloca é a forma como Freire possibilita compreender a concepção de homem e de mundo, bem como a tendência pedagógica que defende, argumenta e a credita ser a chave para a transformaçãao social.
A metodologia que efetivou o desenvolvimento deste projeto foi a consulta em livros de autoria de Paulo Freire e artigos que se encontram disponíveis na internet. Vale destacar que pesquisar sobre o pensamento de Paulo Freire é contribuir socialmente para a propagação do conhecimento e valorizar uma proposta de educação que não se desgasta, pois, na sua visão, a educação implica uma busca realizada por um sujeito que é o homem. Para tanto, o homem deve se tornar sujeito da sua própria educação. Assim, pensar a educação é considerar o sujeito como agente na construção de sua própria história e de transformação social.
2.1 Contexto histórico do pensamento de Paulo Freire como teórico da educação

Identificar as transformações culturais, econômicas e políticas decorrentes do período  registrado na História do Brasil como governo militar de 1964 a 1985 é muito importante para  entender a consolidação do pensamento de Paulo Freire, expresso na pedagogia libertadora pois, “[...] o golpe civil e militar de abril de 1964 foi fruto de longa conspiração entre políticos da oposição e líderes militares. Interrompeu violentamente a experiência democrática do País com apoio das elites empresariais, dos setores conservadores da Igreja, das camadas médias urbanas e dos grandes produtores rurais”. Vale destacar que “[...] a ditadura militar permaneceu no poder por mais de 20 anos. Foi um regime marcado pela repressão que retirou os direitos políticos e civis dos cidadãos e promoveu práticas como torturas e assassinatos1.” (SILVA, 2013, p. 68).
Foi nesse contexto de coerção que uma das mais modernas e importantes correntes de pensamento sobre educação na atualidade foi proposta pelo intelectual e professor brasileiro Paulo Freire. As obras “Pedagogia do oprimido” e “Pedagogia da autonomia” são duas das mais conhecidas reflexões desse professor pesquisador.
No nosso entendimento o pensamento de Paulo Freire e seus argumentos se inserem na teoria contemporânea sobre educação, devido a contemporaneidade apresentar uma multiplicidade de situações que exigem a compreensão do mundo e do homem  no seu contexto social e que, em decorrência, orientam o processo educativo.
No momento atual vivenciamos inúmeras teorias, conceitos e ideias em educação que vão desde o modelo revolucionário, o modelo fenomenalista até o modelo analítico, levando em conta as inúmeras teorias elaboradas que a educação contempla. O questionamento que vem à mente é: se o processo educativo contemporâneo fundamenta-se em algum modelo específico de homem a ser formado ou se a sua característica permanece em não privilegiar nenhum deles?
A partir dessa premissa e, em função dessa realidade, selecionamos Paulo Freire entre muitos especialistas que se ocuparam em analisar e tecer considerações sobre os sistemas de educação existentes. Esse educador, por excelência, preocupou-se em propor novos rumos para a condução do processo educativo, com base na constatação real de problemas sociais experenciados pela população brasileira. Realidades forjadas pelas situações sociais geradas nas relações de trabalho no interior das fábricas, indústrias, empresas comerciais e outros espaços de exploração da mão de obra trabalhadora.
No livro “Educação e Mudança”, Freire (1979) caracteriza a sociedade brasileira como fechada “[...] onde há conservação do privilégio e por desenvolver todo um sistema educacional para manter este status [...]”, alienada, isto é, “[...] não tem consciência de seu próprio existir [...]” antidemocrática e antidialogal. Uma sociedade dirigida por uma elite desintegrada da sociedade real (FREIRE,1979, p.33)2.  Na visão freiriana essas características impedem a mobilidade social vertical, devido ao alto índice de analfabetismo.
Considerando essa visão, Freire propõe métodos para conduzir o processo educativo brasileiro, onde ninguém seja excluído da educação. Foi inspirado na maiêutica de Sócrates, com isso pretendeu viabilizar uma pedagogia do processo educativo que inicia pelo diálogo, estabelecendo relações humanas capazes de ressurgir uma consciência crítica, ou seja, o indivíduo precisa conhecer acerca da realidade do mundo em que vive3. (CHINAZZO, 2010 p.208).
Desta forma, para superar a visão tradicional e conservadora do processo educativo, que coloca o educador na condição de ser superior em relação ao educando e este na condição de objeto, Paulo Freire vem propor que tanto educador quanto educando sejam colocados na mesma condição de igualdade, ambos como sujeito do processo educativo e que tenha um método que potencialize essa mudança.
Quanto ao método de Paulo Freire, Maciel (1994) em seu artigo traz uma importante contribuição ao sustentar que os princípios do Método parte do saber, do conhecimento trazido pelo educando. Esse é um dos pontos principais do método, o educador deve fazer a mediação desses saberes, demonstrando ao educando que ele conhece muitas coisas, que surgem de sua realidade. Atitude esta que não é concebível ou perceptível em outro modelo educacional, como naquele citado e criticado muitas vezes por Freire, a educação bancária, que objetiva como o próprio nome sugere, depositar conteúdos, conhecimentos, saberes nos “alunos”, do termo latino “sem-luz”, “alunado” e que precisa de uma luz, que é dada pelo professor unicamente por ele4. (MACIEL, 1994).

Contrário à proposta da educação bancária, propõe a educação libertadora, pensada por Freire, através de seu método, na qual propõe que os sujeitos envolvidos no processo educativo percebam na educação a possibilidade de transformação da sociedade, a possibilidade de “ser mais”, de atuação e participação na realidade social, uma vez que a educação tradicional, aquela que pauta-se unicamente na importância do professor como agente e detentor do saber, em que o aluno, não tem papel ativo na sociedade, apenas de obediência, de submissão, e que percebe a realidade como algo dado, pré-determinada e que não pode ser mudada, pelo menos não consegue mudar com as próprias forças5.  (FREIRE, 1974, p.57)

Os pressupostos da pedagogia proposta por Paulo Freire divergem da educação conservadora por ser um meio para domesticação dos alunos, no sentido de adaptá-los ao sistema, fazendo com que entendam sua condição sociohistórica como natural e não como construção humana, como produto da realização do homem em seu estar no mundo. São assim porque se pautam pela transformação do conhecimento, não trabalhando como elementos de cunho mais questionador da ordem social, política, econômica e cultural na qual os alunos serão inseridos.
As leituras nas obras de Paulo Freire indicam que a educação deve possibilitar ao ser humano enxergar a realidade como algo que está sendo, como fruto que é da ação dos próprios humanos e, portanto, só pode ser mudada através da ação dos humanos.

No livro, pedagogia do oprimido, Paulo Freire propõe uma ação pedagógica fundamentada e comprometida com a realidade de cada indivíduo. A partir da relidade que vivencia o educando deverá promover um contínuo processo de reflexão, de retornar os próprios caminhos de libertação. Por isso ele afirma: “Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: Os homens se libertam em comunhão”6. (FREIRE, 1987, p. 52)

Nesse sentido, o processo educativo é uma dinâmica de aprendizado em que educador e educando assumem posturas de sujeito e colocam a realidade como algo que precisa ser conhecido. A educação, segundo Paulo Freire, deve desempenhar papel significativo para que a tarefa de ver o mundo se desenvolva. Neste sentido a educação deve ser entendida como uma possibilidade de produção do conhecimento, isto é, uma situação em que os seres humanos são sujeitos.
O principal conceito de Paulo Freire de educação é que ela é uma forma de conhecimento que se processa por meio da conscientização. Conscientização no pensamento de Freire tem implicações políticas e sociais, porque não basta desvelar a realidade, mas é necessário transformá-la. Contudo, “[...] para transformar é necessária a ação prática sobre a realidade. Nesta visão, a educação deve ser uma práxis social, ou seja, perceber a realidade e agir sobre as estruturas sociais”. É neste sentido que a educação como conscientização é “ação política e social”. Necessitamos de “[...] uma educação para a decisão, para a responsabilidade social e política7”. 7. (FREIRE, 1984, p. 88)
Ao decidir e assumir suas decisões é que o educando vai se transformando de homem objeto, oprimido, para homem sujeito, livre. Nesta ótica, Freire defende que o processo educativo, necessariamente, deve possibilitar ao educando libertar-se. Assim, educação como conscientizaçao é praxis de libertação. “As ações pedagógicas que norteiam o processo educativo devem ser ações de uma “pedagogia do oprimido”8. (FREIRE, 1984, p. 88)
Ao ler o livro Pedagogia do Oprimido percebe-se que Paulo Freire evidencia os mecanismos opressivos da educação capitalista. Inicia pela discussão da constituição histórica da consciência e sua relação dialética com a consciência dominadora. É a obra teórica mais importante de Paulo Freire, até porque escreve tudo o que ele dissera até então a respeito de educação, além de ser mais extensa.
É importante salientar que a “pedagogia do oprimido” se opõe de forma antagônica à pedagogia opressora. Em uma sociedade de estruturas sociais culturais e econômicas opressoras, a pedagogia do dominante nunca vai levar à libertação dos dominados. Por isso, Paulo Freire idealiza a necessidade da pedagia do oprimido.
Segundo Freire (2001) 9, os caminhos da libertação são os do oprimido que se liberta numa relação dialética de perceber-se no mundo do opressor numa condição indigna, desumana e começa a apostar na sua prórpia mudança interior, vendo-se capaz, que tem saberes, conhecimentos o suficiente para se por na sociedade junto com seu semelhante, organizar-se, lutar coletivamente para mudar a sua realidade, tornando-se protagonista de seu processo de mudança. Com isso, altera a si mesmo e o meio em que está inserido, fazendo cultura, segundo Paulo Freire argumenta ao descrever as ideias-força da ação educativa do homem em seu espaço sociocultural, político e econômico. (FREIRE, 1979)10
A reflexão e o pensar de Paulo Freire sobre a educação brasileira reconhece o valor da dignidade da pessoa humana como sujeito e como fim, nunca como meio; sendo inerente ao ser humano a razão da igualdade entre todos os homens e mulheres, por isso aborda-se e dá-se ênfase inicial  ao livro Educação como Prática de Liberdade e a partir do capítulo em que faz a abordagem sobre “a realidade vivenciada pela sociedade brasileira, como uma sociedade em transição, pois entende-se que transição significa mais que mudanças, porque implica na marcha que faz a sociedade procurar novos temas, novas tarefas e sua objetivação”9. (FREIRE, 1979, p. 65).

A “educação como prática de liberdade” só encontrará adequada expressão muma pedagogia em que o oprimido tenha condições de se tornar sujeito de sua história, a partir de sua participação na solução de problemas pertinentes ao mundo em que vive. Por isso, Paulo Freire vê grande perigo na educação tradicional assistencialista, porque exerce a violência do antidiálogo e impõe o mutismo e a passividade, que impedem o educando de desenvolver uma consciência crítica para integrar-se a uma sociedade em trânsito.
Dessa forma, a educação é um processo permanente de libertação. Educador e educando desenvolvem as suas potencialidades, transformando o mundo e a si mesmos. Para Paulo Freire, “[...] ninguém educa ninguém, ningém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”10 (BORGES, 2011). Na Educação, o essencial é o diálogo entre sujeitos que desejam ser  mais e que se tornam capazes de decisões.

2.2 Tendência pedagógica do ensino: segundo o Teórico da Educação, Paulo Freire

A tendência pedagógica de Paulo Freire se insere na tendência progressista da educação e nas determinações da estrutura social sobre educação.
A questão pertinente à estrutura social faz refletir que a escola e o processo educativo não se encontram imunes às determinações presentes nessa estrutura. Ela se constitui no conjunto das partes de um todo que estão encadeadas e que permitem a formação desse todo. Tal encadeamento favorece aos interesses do capital e não das camadas sociais desprestigiadas. O que está determinado pelas estruturas que constituem as instituições é um mecanismo bem organizado, bem tecido, duro de romper.
Nessa direção é que Freire aposta numa prática educativa e que problematiza as temáticas a serem estudadas, a partir da sua materialidade na vida social dos educandos, para que a leitura da palavra seja feita à luz das realidades existentes, contextualizando-se a palavra enquanto tema gerador de discussão, debate, no diálogo travado no interior do espaço escolar, especificamente, na sala de aula.

Os conflitos entre pontos de vista da sociologia fazem com que voltemos o nosso olhar para diversos dilemas teóricos fundamentais. Um modo muito importante, é como a ação humana deve ser relacionada a estrutura social. Será  que somos criadores da sociedade, ou será que somos criados por ele? A escolha entre essas duas alternativas não é tão evidente quanto pode parecer em um primeiro momento e, o verdadeiro problema está na maneira como esses dois aspectos da vida social devem ser relacionados entre. 11,  (GIDENS, 2005, p.54)

Nesse sentido, as estruturas sociais são incorporadas por indivíduos e grupos em seu agir socialmente. A sociologia de Bourdieu vai investigar dialeticamente a questão fundamental que se coloca entre dois elementos fundamentais, exterioridade e interiorização ou internalização, ou seja, de que forma nossas ações refletem o que se encontra presente no contexto da sociedade? Nossos hábitos, maneiras de ver o mundo, nossa visão de homem e de mundo, não incorporaria lementos presentes na sociedade envolvente?
Na teoria de Bourdieu temos estudos que envolvem fundamentalmente a ação e a estrutura social, que no contexto da atualidade se estabelecem como chave analítica para a compreensão dos fenômenos sociais hoje. Sendo assim, entende-se que Bourdieu inova em sua abordagem da relação entre indivíduo e sociedade, considerando aspectos como o sistema de ensino, os processos de reprodução social, a distinção, as determinações que se fazem presentes a partir do poder simbólico e o conceito de hábitus.12  (NERY, 2005, p.98)

              A estrutura e ação se tornam presentes sendo que a ação envolve o agente social e a estrutura envolve fundamentalmente tudo o que se encontra presente no contexto social envolvente.

A educação depende do modo de viver total de uma sociedade. Assim, o tipo de educação difere de acordo com os tipos de sociedade. O modo de produção da sociedade determina além da estratificação social e de educação o modo de pensar e agir dos indivíduos na sociedade. Vale destacar que essa derterminação não é absoluta. A educação dada de dentro de uma sociedade muda com o correr do tempo, á medida que a sociedade muda. Só a partir da consolidação do modo de produção capitalista é que a educação se desenvolveu em complexos sistemas de ensino13, . (OLIVEIRA, 2005, p. 51).

          Oliveira declara que de fato temos uma relação de interdependência entre a estrutura social que existe, a educação e até mesmo no próprio sistema escolar.
Certamente, não há dúvida acerca da significativa contribuição de Paulo Freire à Concepção Dialética da Educação, pois ela constitui, assim, num marco referencial teórico decisivo à compreensão das práticas viabilizadas hoje em nível da alfabetização de crianças, jovens e adultos. Paulo Freire deverá ser comparado a Vygotsky porque esse autor afirma que o desenvolvimento cognitivo não pode ser entendido sem referência ao contexto social, histórico, e cultural em que ocorre, já que os processos mentais superiores (o pensamento, linguagem, conduta volitiva) do indivíduo tem origem nos processos sociais.14 (LUCKESI, 1994, p.54 )
A interação social é o veículo fundamental para a transmissão dinâmica dos conhecimentos sociais, históricos e culturalmente construídos. Essa interação necessita de no mínimo duas pessoas trocando significados e que agem com certo grau de reciprocidade e bidirecional idade. Vale destacar é por meio da apropriação das construções históricas e culturais, via interação social, que o sujeito se desenvolve cognitivamente. Assim, o desenvolvimento das funções mentais superiores passa, então necessariamente, por uma fase externa, embora no desenvolvimento cognitivo do ser humano, toda função aparece primeiro entre pessoas15. (ROBAIMA, 2010, p. 70)

Paulo Freire combate incessantemente a concepção ingênua de Pedagogia que  acreditava ser um empecilho para a transformação social e política, porque essa pedagogia se embasa no dogmatismo ingênuo que confia plenamente nas possibilidades do conhecimento do senso comum e basicamente na pedagogia da ingenuidade, cuja ideia é fazer o estudante refletir sobre a maneira ingênua como a maioria das pessoas entende o conhecimento. “Combate igualmente à concepção oposta, o “pessimismo sócio-pedagógico” que consiste em dizer que a educação reproduz mecanicamente a sociedade. Evitando querelas políticas, ele tenta aprofundar e compreender o pedagógico da ação política, reconhecendo que a educação é, essencialmente, um ato de reconhecimento e de conscientização e que, por si só, não levará a sociedade a se libertar da opressão”.16 (COTRIM, 1993, p. 48).
A pedagogia de Freire nos faz pensar que o conhecimento do mundo pode mudar em face das influências que recebemos e que determinam o nosso olhar. A nossa percepção, bem como a nossa compreensão da natureza, da vida e dos outros, da realidade social em si não é rígida. A sua flexibilidade permite que possamos ser criadores na configuração que damos aos diferentes mundos. Enxergamos o mundo e temos pontos de vista diferentes, devido a nossa cultura e o contexto em que nos situamos, por isso configuramos a nossa experiência de forma diferente. Daí a necessidade de compreender que a Tendência Progressista de Educação foi pensada para promover a transformação social.

Ao nosso ver, as tendências pedagógicas progressistas se constituem nas teorias que terão como objetivo central tentar conceber criticamente a educação e a escola na sociedade capitalista, buscando ainda de que forma essa educação e escola podem ajudar no processo de superação das desigualdades sociais, contribuindo ainda para a construção de uma nova sociedade17 . (MEKSENAS, 2005, p. 86).

           Analisando bem, percebe-se que Freire parte de uma análise crítica da realidade social, sustenta, implicitamente, as finalidades sociopolíticas da educação e é uma tendência que não condiz com as ideias implantadas pelo capitalismo. O surgimento e esta forma de interpretar a educação tiveram como aporte o desenvolvimento e popularização da análise marxista da sociedade
A Tendência Libertadora, também conhecida como a pedagogia do grande Paulo Freire, vincula a educação à luta e organização de classe do oprimido. Onde, para o oprimido o saber mais importante é ter uma consciência da realidade em que vive. Além da busca pela transformação social, a condição de se libertar através da elaboração da consciência crítica passo a passo com sua organização de classe, por isso a proposta é que se desenvolva a partir da sala de aula, discussão de temas sociais e políticos; o professor coordena atividades e atua juntamente com os alunos.
Nesse hiato, a pedagogia do oprimido possibilita desvelar a realidade opressora, tornando o homem e a mulher conscientes da sua situação de exploração em que vivem, primeiro passo para libertar-se da opressão. Trata-se de uma pedagogia que leva à luta pela libertação de opressão na qual o oprimido vive. A pedagogia do oprimido é, ao mesmo tempo, uma pedagogia da esperança e uma pedagogia da luta. Não há esperança na pura espera, sem luta. É uma pedagogia “do” oprimido e não “para” o oprimido, pois se trata de “[...] uma formulação a partir do ponto de vista dos esfarrapados da Terra, a quem ele dedica o livro.” A implicação desta opção é radical, constituindo, no limite, uma verdadeira revolução paradigmática, na medida em que atribui aos dominados uma superioridade científica e epistemológica18.
Esta superioridade é explicitada na passagem em que  Paulo Freire afirma: 'Por isto é que somente os oprimidos, libertando-se, podem libertar os opressores. Estes, enquanto classe que oprime, nem libertam, nem se libertam”. [...]  Estendendo-se este princípio aos demais campos da atividade humana, pode-se concluir que somente os oprimidos  são capazes de desenvolver a humanizaçãoe, portanto, o processo civilizatório”. [...] A pedagogia do oprimido é uma pedagogia forjada por ele. Uma pedagogia que conscientiza e politiza."id.,ib 19, p.7.

"A pedagogia do oprimido, como pedagogia humanista e libertadora, terá dois momentos distintos. O primeiro, em que os oprimidos vão desvelando o mundo da opressão e vão comprometendo-se, na práxis, com a sua transformação; o segundo, em que, transformada a realidade opressora, esta pedagogia deixa de ser do oprimido e passa a ser pedagogia dos homens em processo de permanente libertaçãoid, 20, p.57".Trata-se de uma pedagogia universal (não universalista) pois não só dos oprimidos: de uma pedagogia "do oprimido" para uma pedagogia de todos os seres humanos. Como é uma "introdução à pedagogia do oprimido" e como é uma pedagogia da insurgência, os movimentos de resistência e luta, de insurgência, vão criando outras pedagogias possíveis, revisitando e reinventando sua própria pedagogia, como ele mesmo fez: pedagogia da esperança, pedagogia da pergunta, pedagogia da autonomia id.,IB 21, p 11 .

Na visão de Freire, a forma como educação vinha sendo praticada no Brasil partia do princípio de que o aluno era objeto da educação e o professor o detentor da ação educativa. Nessa relação, ao aluno cabia ouvir e aprender os cohecimentos que seus professores transmitiam. Não existia espaço para discussão, para o debate. Em outras palavras, não havia o diálogo e, a relação do conhecimento era pautada em severa disciplina e exercícios de memorização.
Dessa forma, não havia uma construção do conhecimento conjunta entre professores e alunos, ou seja, não eram realizadas discussões de problemas da sociedade no mundo do conhecimento formal. A abordagem de Paulo Freire trata a prática docente sob a forma de educação bancária e educação problematizadora, também chamada de libertadora, porque se propõe a sensiblizar o educando e o educador sobre a realidade social, na qual estão inseridos.
Entende-se que a educação bancária e problematizadora, se configurando como a que se caracteriza pela prática educacional que tem como pressuposto a estaticidade da realidade. O aprendizado consiste no recebimento e memorização dos conteúdos da realidade. A palavra do educador é portadora de conteúdos petrificados e sem significado, porque é desvinculado da realidade global que os produz. Por isso, torna-se alienada e alienante.
Não há verdadeira comunicação entre educador e educandos. Há tão somente, comunicados estéreis de concretude e sem qualquer força transformadora. O professor faz “depósitos de conteúdos que devem ser arquivados pelos educandos. O educador será tanto a melhor quanto mais conseguir “depositar” nos educandos. Os educandos, por sua vez, serão tanto melhores, quanto conseguirem arquivar os “depósitos feitos”.22  (BOUFLEUR, 1991, p. 75)
Por conseguinte, o professor sabe, pensa, fala, disciplina, opta, prescreve, atua, escolhe e impõe. Assim:
Na visão bancária da educação, o “saber” é uma doação dos que se julgam sábios aos que julgam nada saber. Doação que se funda numa das manifestações da ideologia da opressáo – a absolutização da ignorância, que constitui o que chamamos de alienação d ignorância, segundo a qual esta se encontra sempre no outro. 23      (CORTELLA, 2010, p. 57)

          Entretanto, para contrapor essa corrente, Freire propôs que a ação educativa considerasse os conhecimentos dos quais os estudantes já são portadores. Tais conhecimentos seriam as experiências adquiridas no meio. A dinâmica seria que se passasse a valorizar aquilo que o aluno conhece e sabe e, em conjunto com ele, se ampliasse esse universo de conhecimento por meio dos outros saberes que se fazem necessários para interpretar a realidade.
Dessa forma, o saber e o conhecimento devem levar todos, professores e alunos, diretores e corpo administrativo da escola, a interpretarem e intervirem na realidade.
A educação problematizadora é inovadora. Ocorre entre educador e educandos e não há mais essa relação de verticalidade. Agora a relação é ideológica, sem a tradição educador/educandos, já que ambos são sujeitos do ato cognoscente. As aulas expositivas e a disciplina rígida dão lugar à problematização conjunta que o educador e educandos realizam das relações entre os homens e dos homens com o mundo.
O educador que é sempre educador e educando, não é um sujeio cognoscente num momento e um sujeito narrador em outro. Prepara suas aulas, mas num segundo momento se encontra dialogicamente com os educandos, que também são educadores, e reflete criticamente acerca do objeto cognoscível. Não há modo humano de ser que não seja ser em construção, que não seja ser em Educação é por isso um refazer contínuo na dialética da práxis do homem no e como mundo.24, id,13.
O homem é responsável pela construção de sua história e deve conscientizar-se de que o seu desenvolvimento intelectual e o seu estar no mundo dependem, basicamente, de suas ações e decisões. Isto significa que no ato de estudar cada aluno deve tornar-se sujeito desse ato, não se tornando simplesmente objeto do mesmo. Tornar-se sujeito no ato de estudar é a cada ato libertar-se, realizar-se, autodesenvolver-se como agente histórico, é interferir no mundo e participar no seu processo de transformação25.
Assim, parafraseando Bervian e Cervo (2007) entendemos que para o estudante é importante que ele aprenda a fazer uma leitura exploratória, uma leitura analítica, leitura interpretativa e uma leitura de problematização. Aprender a ler é saber extrair do texto e do contexto, de forma crítica, é criar ou recriar o mundo da palavra – texto – e a leitura do mundo – contexto -, caracterizado pela vivência e experiências do mundo vivido.
Dessa forma, pode-se sintetizar a Pedagogia progressista baseada no pensamento de Paulo Freire26:

  • A educação questiona concretamente a realidade das relações do homem com a natureza e com os outros homens;
  • Há autêntico diálogo entre professores e alunos, ou seja, não há mais a relação de verticalidade. Agora a relação é dialógica, sem a contradição educador/educandos, já que ambos são sujeitos do ato cognoscente;
  • Os conteúdos escolares tradicionais são recusados;
  • Uma nova forma de relação entre os conteúdos escolares e a experiência vivida pelos alunos é estabelecida, caracterizando uma educação crítica das realidades sociais.

No livro Pedagogia do Oprimido, Paulo Freire deixa claro que a educação sozinha não poderá decidir sobre os caminhos da história; entretanto, mostra como uma educação transformadora pode contribuir para mudar o rumo das coisas. Conscientes e organizados, os oprimidos podem libertar-se da opressão. Ele combate a pedagogia fatalista e conservadora. A educação bancária funda-se na teoria da açãoantidialógica, caracterizada pela conquista, pela divisão do povo, pela manipulação e pela invasão cultural e o seu oposto, a educação problematizadora, na teoria da ação dialógica,  caracterizada pela colaboração, pela união, pela organização e pela síntese cultural. 
A educação bancáriacaracteriza-se pelo depósito assistencialista onde não há comunicação, mas apenas comunicados, onde só existem sujeitos narradores que são os professores, e objetos ouvintes, que são os alunos; os primeiros é que sabem e os segundos são considerados ignorantes. Se considerarmos que só há aprendizagem quando o sujeito participa dela, a educação bancária não favorece a aprendizagem; ela não desenvolve a criatividade, a busca e a inovação. O educador bancário deposita conteúdos no educando, anulando, seu potencial criativo. Ele incita à memorização e não ao pensar crítico. Ao contrário, na educação problematizadora, educadores e educandos se educam no diálogo, mediados pelo mundo e ambos tornam-se sujeitos do processo de aprendizagemid,27.
Sem a superação da contradição entre educador-educando, não é possível a relação dialógica. Na educação problematizadora, o educador propõe, não impõe. Ele não expõe ao aluno credos, dogmas, mas junto com ele, mediado pela realidade, busca respostas para os desafios da reflexão e da ação de hoje.
Paulo Freire faz a defesa de uma pedagogia dialógicae emancipatória do oprimido, problematizante e participativa, em oposição à pedagogia da classe dominante, que é bancária e domesticadora. Ele propõe a conscientização como forma do povo passar da consciência ingênua, mágica, para a consciência crítica e científica da realidade.  O diálogo problematizador, para ele, estabelece-se na relação horizontal, baseada na confiança entre os sujeitos.  Este diálogo é a essência mesma da educação como prática da liberdade.ib,28.
Freire não era alguém que apenas falava e escrevia em relação ao diálogo. Ele vivia de forma dialógica, e esse viver de forma dialógica é uma coisa tão impactante que, certa vez, eu li uma frase de que gosto muito e até agreguei isso em alguns pensamentos. Um pensador do século VIII, chamado São Beda, um santo dos católicos, britânico, um grande especialista em métodos de historiografia medieval, tem uma frase de que eu gosto demais: “Há três caminhos para o fracasso: primeiro: não ensinar o que se sabe; segundo: não praticar o que se ensina; e, terceiro: não perguntar o que se ignora”. É preciso inverter: três são os caminhos para o sucesso: a) ensinar o que se sabe, b) praticar o que se ensina e c) perguntar o que se ignora. Paulo Freire tinha essa tríplice capacidade29.
Paulo Freire não é, ainda bem, uma unanimidade. Tem gente que não gosta dele. Aliás, todas as vezes que você faz alguma coisa e todos e todas acham completo, perfeito, concreto, acabado é sinal de que você não atingiu o que desejava. Numa sociedade de classes, numa sociedade de diferenças, numa sociedade de injustiças. Se Paulo Freire fosse uma unanimidade, haveria alguma coisa muito estranha. Porque o seu trabalho é um trabalho compromissado com as vítimas. E não é sempre que se pode supor que, além da vítima, o vitimador também se perceba contemplado na obra de Paulo Freire30.
A pedagogia  libertadora não está preocupada apenas com a cultura individual do aluno, nem  em modelar o seu comporatamento para viver em sociedade capitalista, ao contrário, a proposta da pedagogia libertadora é partir dos problemas enfrentados pelo aluno no seu cotidiano, para que ele possa compreender, criticamente, a sua classe social de origem de modo a ter uma prática trasnadformadora da realidade que o cerca. Em resumo, é aprender a ler nas desigualdades do capitalismo os caminhos que possam levar à alteração dessa mesma sociedade. Nesse sentido, a pedagogia de freire é libertadora, é progressista: coloca como eixo central a relação educação- política31.
As leituras dos livros de Freire indicam que a educação libertadora não nasceu no espaço escolar. Nasceu no contexto dos movimentos sociais em sua luta, nasceu da prática de alfabetização de adultos. Por conseguinte, surgiu no contexto da busca por melhores condições de trabalho da classe trabalhadora. “Nesse contexto, a pedagogia libertadora aparece como a pedagogia do oprimido, pessoas da classe trabalhadora que foram excluídas prematuramente da escola”31, pela necessidade de obter seu sustento, de ajudar a família.
Não é por acaso que a educação libertadora tem sua nascente nos segmentos excluídos dos bancos escolare, em função de uma entrada prematura no mercado do trabalho. No olhar da educação libertadora, a desigualdade social existente no Brasil e as dificuldades financeiras vivenciadas pela família empurram o adolescente para o mercado de trabalho, cada vez mais cedo e o excluem do processo de educação seriada.

2.3 Pensamentos de Paulo Freire presente nas diversas áreas de ensino
         
O pensamento interdisciplinar de Paulo Freire, como um dos teóricos mais trabalhados no meio educacional, sempre se destacou, já que ele sempre encarou a educação como um desafio e o conhecimento interdisciplinar tem se caracterizado como uma ação desafiadora e criadora de conhecimentos, na medida em que parte do disciplinar para o interdisciplinar. Além de que, a construção de um conhecimento interdisciplinar pode ocorrer pela instrumentalização do sujeito a partir do seu cotidiano em sala de aula, encontros e seminários.
Repensar novos caminhos e reformular os pensamentos, a partir do que pensou Freire  sobre a educação, a humanização e a construção do conhecimento é acreditar que um dia poderá ocorrer a transformação social. É poder refletir e acreditar que tudo está interligado e que os percalços dessa era planetária podem ser compreendidos pela proposta de Morin sobre a Teoria da Complexidade, pois necessitam dialogar com a interdisciplinaridade no universo das práticas profissionais e, acima de tudo, buscar por sua aplicabilidade e efetividade no saber prático.
Por defender uma educação libertadora e uma educação política, Freire em sua obra “Pedagogia da autonomia: saberes necessários à política educativa (1997)”, deixa claro a sua preocupação com a formação do homem que precisa ser formado para enfrentar e vencer os desafios que a sociedade brasileira apresenta no atual contexto. Os princípios sobre o ensino cabem, perfeitamente, em qualquer curso das diferentes áreas de ensino.
O primeiro princípio implica que quem aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender; que ensinar inexiste sem aprender e vice-versa (op. Cit. 23). Este incorpora vários outros que podem ser listados, como:
a) Ensinar exige rigorosidade metódica: reforçar no educando a capacidade crítica, a curiosidade, a inssubmissão, trabalhar com ele a rigorosidade metódica com que deve se aproximar dos objetivos cognossíveis; evidenciar-lhe que é tão fundamental conhecer o conhecimento existente quanto estar aberto e apto à produção de conhecimento ainda não existente (op.cit.p.28).
b) Ensinar exige criticidade: na verdade, a curiosidade ingênua que, desarmada, está associada ao saber do senso comum, é a mesma curiosidade que, criticando-se, aproximando-se da forma cada vez mais metodicamente rigorosa do objeto cognoscível, se torna curiosidade epistemológica (op.cit.p.31).
c) Ensinar exige reflexão sobre a prática: na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática; é pensando criticamente sobre a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática (id, p.39).
Ao referir-se à formação docente, Paulo Freire, em outra passagem, reitera a importância da crítica, mas a considera indissociável dos aspectos humanistas:
Nenhuma formação docente verdadeira pode fazer-se alheada, de um lado, do exercício da criticidade que implica a promoção da curiosidade ingênua à curiosidade epistemológica e, de outro, sem o reconhecimento do valor das emoções, da sensibilidade, da efetividade, da intuição ou advinhação (id. p.45).
O segundo princípio geral da pedagogia da autonomia de Paulo Freire é de saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar a possibilidade para sua própria produção ou a sua cosntrução (id. p.47). Na visão de Freire, o educador que ensinando qualquer matéria, castra a curiosidade do educanado em nome da eficácia da memorização mecânica do ensino dos conteúdos, tolhe a liberdade do educando, a sua capacidade de aventurar-se. Não forma, domestica. (id, p.56).
O terceiro princípio geral da Pedagogia freiriana é o de que ensinar é uma especificidade humana, no qual estão subordinados vários outros que serão aqui apenas listados, deixando ao leitor a tarefa, e o prazer de aprender a aprender, com o que Freire diz sobre cada um deles. (op.cit, p.91):
Ensinar exige segurança, competência profissional e generosidade
A segurança com que a autoridade docente se move implica em outra, a que se funda na sua competência profissional. Nenhuma autoridade docente se exerce ausente desta competência. O professor que não leve a sério sua formação, que não estuda, que não se esforça para estar à altura de sua tarefa não tem força moral para coordenar as atividades de sua classe. Isto não significa, porém, que a opção e a prática democrática do professor ou da professora sejam determinadas por sua competência científica. (id. p.47).
Ensinar exige comprometimento
Outro saber que devo trazer comigo e que tem que ver com quase todos os de que tenho falado é o de que não é possível exercer a atividade do magistério como se nada ocorresse conosco. Como impossível seria sairmos na chuva expostos totalmente a ela, sem defesas, e não nos molhar. Não posso ser professor sem me pôr diante dos alunos, sem revelar com facilidade ou relutância minha maneira de ser, de pensar politicamente. Não posso escapar à apreciação dos alunos. A maneira como eles me percebem tem importância capital para o meu desempenho. (Op. cit, p.50)
Daí, então, que uma de minhas preocupações centrais deva ser a de procurar a aproximação cada vez maior entre o que digo e o que faço, entre o que pareço ser e o que realmente estou sendo.
Ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo.
Outro saber de que não posso duvidar um momento sequer na minha prática educativo-crítica é o de que, como experiência especificamente humana, a educação é uma forma de intervenção no mundo em que o sujeito vive.
Intervenção que além do conhecimento dos conteúdos bem ou mal ensinados e/ou aprendidos implica tanto o esforço de reprodução da ideologia dominante quanto o seu desmascaramento. Dialética e contraditória, não poderia ser a educação só uma ou só a outra dessas coisas. Nem apenas reprodutora nem apenas desmascaradora da ideologia dominante (Id. p.51.)
Temos o entendimento de que cabe ao educador a difícil tarefa de oferecer condições para que o estudante possa conquistar a liberdade e a paixão de aprender, de buscar novos instrumentos, para que isto se torne possível e mensurável, quanto aos aspectos que o ato de educar sugere. O eixo do pensamento de Freire consiste em:
Não há docência sem decência. (tirei a numeração para não confundir com os itens e subitens do artigo e negritei)
Devo deixar claro que, embora seja meu interesse central considerar neste texto saberes que me parecem indispensáveis à prática docente de educadoras ou educadores críticos, progressistas, alguns deles são igualmente necessários a educadores conservadores. São saberes demandados pela prática educativa em si mesma, qualquer que seja a opção política do educador ou educadora (op.cit, p.12).
Ensinar não é transferir conhecimento.
Ensinar não é transferir conhecimento. As considerações ou reflexões até agora feitas vêm sendo desdobramentos de um primeiro saber inicialmente apontado como necessário à formação docente, numa perspectiva progressista.
Saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção. Quando entro em uma sala de aula devo estar sendo um ser aberto a indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, a suas inibiç ões; um ser crítico e inquiridor,  inquieto em face da tarefa que tenho – a de ensinar e não a de transferir conhecimento. (op.cit.25)
Ensinar é uma especificidade humana.
Que possibilidades de expressar-se, de crescer, vem tendo a minha curiosidade? Creio que uma das qualidades essenciais que a autoridade docente democrática deve revelar em suas relações com as liberdades dos alunos é a segurança em si mesma. É a segurança que se expressa na firmeza com que atua, com que decide, com que respeita as liberdades, com que discute suas próprias posições, com que aceita rever-se. ( op.cit.p.47)
Afirma Freire (1970, p. 42) que este “[...] este ponto de partida encontra-se nos próprios homens. Mas já que o homen não exitem fora do mundo, fora da relidade, o movimento deve começar com a relação homem–mundo”. Consequentemente, o ponto e partida deve estar sempre nos homens, no seu aqui e no seu agora, os quais constituem a situação de poder atuar como sujeitos da ua própria história, situando eu momento histórico.
A práxis político-pedagógica de Paulo Freire é uma busca constante de viver e construir, em cada situação concreta, uma pedagogia do oprimido. Ou seja, de experimentar uma prática educativa em que se parta da realidade e do interesse daqueles com quem se trabalha, buscando-se, assim, um processo de conhecimento e instrumentação que amplie seu poder de intervenção na realidade sócio-econômico e político cultural [...]. As análises “freireanas” apoiam-se no pensamento dialético, na unidade entre a subjetividade e objetividade, entre passado e o futuro, entre o conhecimento anterior e o novo. Para ele, a sectarização é própria dos reacionários, enquanto que a radicalização é própria do revolucionário autêntico32.

Conclusão

A partir das reflexões realizadas neste estudo, é possível perceber que cada um pode contribuir para fomentar discussões sobre a prática educativa que se dá em qualquer e instância da sociedade. Principalmente, no que se refere à voz dos estudantes, propiciando a formação de sujeitos de acordo com as suas reais necessidades.
Paulo Freire é bastante expressivo. É reconhecido internacionalmente por causa de suas contribuições à prática pedagógica em diversos países, principalmente, nos que são dependentes das grandes economias. Concebe a educação numa perspectiva popular, como sendo um esforço de mobilização, organização e capacitação das classes populares: capacitação técnico-científica.
No conjunto das três pedagogias: Pedagogia do oprimido (1970); Pedagogia da esperança (1994) e Pedagogia da autonomia (1997), Freire compartilha a ideia de que o homem é um ser no mundo, constituído por esse mundo, mas com a possibilidade de construí-lo e reconstruí-lo. É um ser situado num espaço de ação, podendo a partir da leitura de meio em que vive, ampliar e aumentar o seu conhecimento e, assim, produzir cultura, em todas as épocas, fazendo história.
Constata-se que a pedagogia desenvolvida por Paulo Freire é fruto de suas reflexões e questionamentos, adquiriu um significado incisivo no contexto do pensamento revolucionário universal, uma vez que a relação oprimido-opressor por ele brilhantemente abordada dá-se universalmente. Sua teoria, a Pedagogia Libertadora, enriqueceu-se cada vez mais, à medida que participava de novas experiências nas mais diversas partes do mundo.
Ao concluir esta reflexão sobre o pensamento de Paulo Freire não é difícil afirmar que a educação tem uma relação direta com o desenvolvimento social e econômico de um povo, de um País, no nosso caso, o Brasil. Mas, apesar de ser uma contribuição a dar vida à escola, não pode assumir sozinha a função de transformar a realidade.
O ser humano  é um ser complexo e de totalidade, que tem a necessidade de agir de forma ampla, porque somente agindo na totalidade dos fatos e fenômenos é que transforma as realidades cotidianas e históricas. Desse modo, agindo assim, transforma também a si mesmo, fazendo isso, parte de seu desenvolvimento e aprendizado, enquanto ser cognoscente, sujeito ativo, protagonista do processo de construção de saberes necessários à vida.

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*Docente do Departamento de Administração e Planejamento - DAPLAN – Faculdade de Educação, da Universidade Federal do Amazonas – Brasil.

Recibido: 01/07/2020 Aceptado: 08/07/2020 Publicado: Julio de 2020

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