Revista: CCCSS Contribuciones a las Ciencias Sociales
ISSN: 1988-7833


ETNICIDADE, FRONTEIRAS E CULTURA RELIGIOSA AFRO-BRASILEIRA

Autores e infomación del artículo

GUIMARÃES, Jarbas da Silva*

Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Brasil

E-mail: jarbasmoreno@hotmail.com


Resumo: Este Trabalho discute a representação cultural religiosa afro-brasileira na fronteira e sua representação simbólica dentro do sistema religioso em Foz do Iguaçu – Paraná. O interesse pela cultura afro-brasileira na fronteira de Foz do Iguaçu manifesta-se pelos muitos estudos nos campo da Sociologia, Antropologia, Etnologia, Música, Linguística, História, entre outros campos de conhecimentos, centrados na expressão e no desenvolvimento histórico desta cultura. Tendo por objetivo analisar o processo de religiosidade enquanto elemento simbólico e político, na construção de territorialidade e identidade coletiva articulada, a movimentos sociais e espaços de poder em ambiente de fronteira. Para a construção deste trabalho de pesquisa bibliográfica e documental, os conceitos do assunto proposto serão embasadores nas discussões sobre cultura, etnicidade e fronteiras. Na coletividade de indivíduos que se diferencia por sua especificidade sociocultural, refletida principalmente na religião fronteiriça e maneiras de se conceber as fronteiras.  A partir dos conceitos de religiosidade afro-brasileira, de etnicidade e fronteira podemos analisar e entender a articulação dos sentidos de fronteiras, a abrangência de concordância dos membros de uma coletividade aos padrões culturais religiosos do seu grupo e seus mecanismos para a construção de uma inclusão, sobre a cultura religiosa e seu processo, que hoje ocupa o espaço público e fronteiriço, juntamente com religiões de outras matrizes.
Palavras-chave: Afro-brasileira, Etnicidade, Fronteiras.

ETHNICITY, BORDERS AND AFRO-BRAZILIAN RELIGIOUS CULTURE

Abstract: This paper discusses the Afro-Brazilian religious cultural representation on the border and its symbolic representation within the religious system in Foz do Iguaçu - Paraná. The interest in Afro-Brazilian culture on the Foz do Iguaçu border is manifested by many studies in the fields of Sociology, Anthropology, Ethnology, Music, Linguistics, History, among other fields of knowledge, centered on the expression and historical development of this culture. Aiming to analyze the process of religiosity as a symbolic and political element, in the construction of territoriality and articulated collective identity, to social movements and spaces of power in a frontier environment. For the construction of this bibliographic and documentary research work, the concepts of the proposed subject will be the basis for discussions on culture, ethnicity and borders. In the collectivity of individuals that differs by its socio-cultural specificity, reflected mainly in the border religion and ways of conceiving the borders. Based on the concepts of Afro-Brazilian religiosity, ethnicity and frontier, we can analyze and understand the articulation of the meanings of frontiers, the extent to which members of a group agree with the religious cultural standards of their group and their mechanisms for building an inclusion , about religious culture and its process, which today occupies public and frontier space, together with religions from other sources.
Keywords: Afro-Brazilian, Ethnicity, Borders.

ETNICIDAD, FRONTERAS Y CULTURA RELIGIOSA AFRO-BRASILEÑA

Resumen: Este artículo discute la representación cultural religiosa afrobrasileña en la frontera y su representación simbólica dentro del sistema religioso en Foz do Iguaçu - Paraná. El interés en la cultura afrobrasileña en la frontera de Foz de Iguazú se manifiesta por muchos estudios en los campos de sociología, antropología, etnología, música, lingüística, historia, entre otros campos del conocimiento, centrados en la expresión y el desarrollo histórico de esta cultura. Con el objetivo de analizar el proceso de religiosidad como elemento simbólico y político, en la construcción de la territorialidad y la identidad colectiva articulada, a los movimientos sociales y espacios de poder en un entorno fronterizo. Para la construcción de este trabajo de investigación bibliográfica y documental, los conceptos del tema propuesto serán la base para las discusiones sobre cultura, etnia y fronteras. En la colectividad de individuos que difiere por su especificidad sociocultural, reflejada principalmente en la religión fronteriza y las formas de concebir las fronteras. Con base en los conceptos de religiosidad, etnia y frontera afrobrasileñas, podemos analizar y comprender la articulación de los significados de las fronteras, la medida en que los miembros de un grupo están de acuerdo con los estándares culturales religiosos de su grupo y sus mecanismos para construir una inclusión. , sobre la cultura religiosa y su proceso, que hoy ocupa el espacio público y fronterizo, junto con religiones de otras fuentes.
Palabras clave: Afrobrasileña, Etnicidad. Fronteras.

Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

GUIMARÃES, Jarbas da Silva (2020): “Etnicidade, fronteiras e cultura religiosa afro-brasileira”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, (abril 2020). En línea:
https://www.eumed.net/rev/cccss/2020/04/etnicidade-fronteiras-cultura.html
http://hdl.handle.net/20.500.11763/cccss2004etnicidade-fronteiras-cultura

1 – INTRODUÇÂO

Devemos considerar a pluralidade religiosa existente em nossas fronteiras, e para falarmos da influência religiosa da cultura afro-brasileira na fronteira em Foz do Iguaçu necessitamos então, abranger uma discussão tendo em vista as diferentes formas de organização social e cultural em contextos de fronteiras, e desenvolver estudos concernentes à temporalidade e espacialidade, à diversidade religiosa cultural, e às reproduções sociais.
Este trabalho tem por objetivo analisar a religiosidade afro-brasileira em nossa sociedade, bem como sua influência na construção coletiva e individual do sujeito, dos grupos sociais, das discussões sobre cultura, etnicidade e fronteiras. Para uma melhor compreensão do mundo e das nossas relações com ele, e da nossa realidade social, desconstruindo fortes preconceitos dentro da nossa realidade social e cultural, como os de etnias, religião, e credo, produzindo uma analogia positiva com as diferentes culturas existente na nossa fronteira.
Para compor este trabalho foi utilizada a pesquisa bibliográfica, com base em autores que desenvolvem e discutem suas investigações sobre a religião, etnicidade e fronteira, e também, a partir de eventos realizados ao tema e estudos já realizados por outros pesquisadores das Universidades da região. Na pesquisa documental, a investigação concentrou-se em dados obtidos a partir da coleta de informações dos órgãos municipais, estaduais, federais e de iniciativas privadas. Com as observações obtidas nos eventos realizados e aos dados coletados constata-se que o indivíduo progride com a relação com os seus iguais, e com a interação social, deste modo, a pesquisa caracteriza-se quanto a sua afinidade, com a realidade do próprio cotidiano e possibilita esclarecer a dificuldade de se construir uma unidade, através da relação social. Ao se analisar as instituições que promoveram seus eventos, notamos que elas têm o seu papel importante como pontes entre os indivíduos, as culturas e a sociedade, fazendo com que se libertem das ideias prontas, desconstruindo os preconceitos étnico-religiosos e possibilitam uma maior compreensão entre as culturas existentes em sua sociedade.

2 – REPRESENTAÇÕES RELIGIOSAS, ETNICIDADE E FRONTEIRA

Este trabalho sobre a Cultura Religiosa Afro-brasileira, Etnicidade e Fronteira, tendo em vista as diferentes formas de organizações sociais e culturais no contexto de espaço fronteiriço, altercará às reproduções sociais, através da interação social e cultural. Esse estudo tem peculiaridades igualitárias, uma vez que fortalece as representações religiosas afro-brasileira na sociedade iguaçuense e seu relacionamento e desenvolvimento na Tríplice Fronteira. A duas principais práticas da religiosidade afro-brasileira são o Candomblé e a Umbanda e na Cidade Foz do Iguaçu existem muitos Centros/Terreiros destas práticas. Há uma compreensão de que o Candomblé é uma religião de origem africana, e a Umbanda é considerada uma religião brasileira e incorpora elementos cristãos, africanos, espíritas, indígenas. Essa integração religiosa entre o Candomblé e a Umbanda incide em um intercambio cultural linguístico e social, havendo um relacionamento entre as casas responsáveis de manter os cultos afro-brasileiros em Foz do Iguaçu.
No entanto, ainda não se pode afirmar se há números oficiais sobre a quantidade de seguidores de religiões afro-brasileiras em Foz do Iguaçu, porém, no último censo, O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), divulgou em 1º de julho de 2019, que a estimativa da população de Foz do Iguaçu era de 258.532 habitantes, a sétima maior população do estado do Paraná. Com estimativa de 3.604 declarantes como Espiritas, e no mesmo censo registrou 211 seguidores da Umbanda e Candomblé, mas, na cidade de Foz do Iguaçu existem muitos indivíduos praticantes e que se encontram espalhadas por todas as comunidades e que quando perguntados sobre sua religião, afirmam serem católicos. Segundo Prandi (2003, p.16), por tudo isto, é muito comum, mesmo atualmente, quando a liberdade de escolha religiosa já faz parte da vida brasileira, muitos seguidores das religiões afro-brasileiras ainda se declararem católicos.
Os adeptos das religiões nominadas de umbanda, candomblé, batuque e outras religiões de origem africana, na maioria das vezes se declaram para o censo do IBGE como Espiritas, crendo ser a forma mais social de se afirmar no campo religioso brasileiro, para o índice estatístico das religiões, e de forma geral no discurso de afirmação política da identidade religiosa formadora da cultura nacional. Essa experiência e sua essência religiosa estariam na fronteira fluida entre as religiões de origem africana. No entanto, as religiões afro-brasileiras aceitam consagrar o seu poder como "povo de santo" e que são consagrados com os seus aspectos ritualísticos. A partir das reflexões de Candau (2012), que discute a memória e identidade, podemos afirmar que estas respostas estão relacionadas aos aspectos fundamentais das relações entre o indivíduo e seu grupo social, pois nesse momento, sua identidade religiosa é redefinida na interação social, já que vivemos numa sociedade com bases católica.
A natureza do funcionamento dos cultos afro-brasileiros têm variações importantes como os sacrifícios de animais, das comidas de santo, dos rituais de sangue, do uso da pólvora, dos defumadores, das bebidas, e fatores esses que classificaram os cultos afro-brasileiros como selvagens/primitivo ou bárbaro/cruel, pela sociedade que a princípio lhe foi antagônica. Para Ortiz (1978), a discussão sobre os cultos afro-brasileiros está enraizada na própria sociedade brasileira a respeito do preconceito e nas mudanças das Leis sociais, que os cultos vêm experimentando.          
O Candomblé é uma religião em que as divindades africanas estariam representadas através do sincretismo de santos católicos e que no seu início sofre sobrepujado pela classe dominante. Apesar da repressão sofrida, o candomblé, embora cultuado pelos negros, uma minoria branca e de mulatos, dependia para sua existência da aceitação da classe dominante. Um processo semelhante, porém, talvez mais complexo, ocorreu em relação à Umbanda. Conforme Ortiz (1978), a Umbanda não é uma religião negra, em contraposição ao Candomblé, este sim tentando manter viva a memória coletiva africana. E que a Umbanda pode ser vista como produto das transformações sociais brasileira. Neste contexto, uma sociedade na qual a ideologia branca é dominante, a Umbanda decodifica a tradição afro-brasileira conforme as conveniências da cultura branca e passa representar uma integração na sociedade e consolidação da nova religião com o embranquecimento da cultura religiosa afro-brasileira. Para Prandi (2003) devemos considerar que vivemos em uma sociedade sem religião e mistérios sobrenaturais e que mesmo assim, ela permite a individualização religiosa ou de grupo;

Essas religiões todas nos mostram infindável capacidade da nossa sociedade de criar espaços e     formas de expressão que parecem retiradas de um passado sobre qual esta mesma sociedade se ergueu. Mostram também como a construção das religiões é um processo constante de empréstimos, substituições de símbolos e práticas e redefinição de sentidos. (PRANDI, 2003, p.33).

A Umbanda é uma religião brasileira surgida em 15 de novembro de1908. Fundada por Zélio Fernandino de Moraes, em Niterói no Rio de Janeiro. Para Bettiol (1963) A Umbanda é uma religião composta pelas mais variadas formas de ser, sentir e se relacionar por que suas crenças misturam elementos do candomblé, da pajelança indígena (rituais indígenas), do espiritismo e do catolicismo, denominando-a afro-brasileira, e que mais tarde agregaria o nome de Umbanda, com base na Fé, na caridade, no amor, na esperança e o respeito ao sagrado. Para Oliveira (2009) o caráter nacionalista atribuído à Umbanda fazia parte de um conjunto de estratégias de um grupo de pertencimento e de legitimação;

A umbanda, entretanto, apresenta uma peculiaridade que a diferencia das demais: enquanto Os adeptos das religiosidades mais africanizadas buscavam legitimar suas práticas exaltando a pureza das tradições nagô, os líderes do “movimento umbandista” fizeram questão de apresentá-la como uma religião brasileira. (OLIVEIRA, 2009, p.60).

Estes aspectos torna o espaço religioso da Umbanda fundamental para um determinado grupo, onde o poder da religião como afirmação identitária e modo de vida social, o poder simbólico e político no setor religioso, a torna em um lugar de desafio para a integração social. Para Candau (2012) estes aspectos são afirmações identitárias, tantos individual, como coletiva, numa reação e interação de pertencimento.
Essas categorias negociadas socialmente direcionadas ao valor político e o pertencimento a elas, depende dos acordos realizados dentro da sociedade. E assim, temos a etnicidade sendo inerente a identidade, como uma característica definida de uma pessoa ou de um grupo. Portanto, as identidades não seriam diferenciadas por critérios intrínsecos ou objetivos, mas resultantes das transações que instituem fronteiras que caracterizam as pessoas. Por isso, Barth (1969) adota o conceito de etnicidade como resultado da negociação das fronteiras étnicas entre os grupos de pessoas no processo de organização social. E para Oliveira (2006, p. 89), “De maneira mais simplificada, o termo etnicidade poderia ainda ser aplicado a modalidades de interação bem menos complexas, como a uma mera forma de interação entre grupos culturais atuando em contextos sociais comuns”. Assim então, o conceito é definido como relações da minoria étnica dentre a coletividade.
Assim, o foco para compreender a etnicidade não seria buscar elementos essenciais ou critérios simples de conteúdo, mas investigar como são construídas as fronteiras que diferenciam um grupo de outro.
Ao se tratar da cultura religiosa afro-brasileira podemos pegar como exemplo o sincretismo realizado durante as consumações dos rituais religiosos, Roger Bastide (1971, p.229) enfatiza que, não nos devem fazer esquecer que os santos católicos foram, primitivamente, simples máscaras brancas colocadas no rosto negro das divindades ancestrais. A resistência dos cultos africanos mesmo utilizando símbolos emprestados de outra religião, ou seja, símbolos religiosos do catolicismo, fez com que permanecesse viva a religiosidade até os dias atuais. A distinção e a criação de fronteiras entre grupos étnicos são alcançadas pelos próprios indivíduos em combinação. A escolha de um símbolo, signo para distinguir um grupo de outros é negociada, através da etnicidade, ou seja, condição ou consciência de pertencer a um grupo étnico, que para Bastide (1971), essa ação foi fatal para a sobrevivência da religião;

A solução não está senão diferenciada, porque se o afro-brasileiro pôde manter traços de sua personalidade africana, foi porque esta personalidade foi moldada por um meio cultural africano; as atitudes afetivas, as formas de mentalidade, as categorias do pensamento são produto da educação. (BASTIDE, 1971, p.231).

Em seu espaço a cultura religiosa afro-brasileira, o candomblé, como exemplo, permanece atuando e venerando seus deuses africanos, através do uso simbólico dos Santos católicos desde o processo de Colonização, classificado como sincretização, então o surgimento de uma fronteira religiosa se apresenta neste espaço, onde seus Orixás são perpetuados e cultuados dentro dos ritos africanos, e ao mesmo tempo aceitos pela elite dominante. A identidade religiosa e a formação desta fronteira foram negociadas através do sincretismo, assim, a caracterização e a concepção de fronteiras entre grupos étnicos são realizadas pelos próprios indivíduos envolvidos nesta relação social. Sobre sincretismo Ferretti (1995) descreve que o Brasil foi formado com a contribuição de diferentes culturas e o sincretismo é um fato evidente, especialmente se tratando das religiões Afro-brasileiras, e se preocupa em defesa da pureza das religiões, pois, o termo faz alusão a uma mistura e não a pura religiosidade. O sincretismo está muito presente na religiosidade popular e nas religiões afro-brasileiras, como forma de relacionar as tradições africanas e católicas.
A etnicidade na cultura religiosa afro-brasileira na região de fronteira está vinculada ao saber religioso transmitido culturalmente pelos africanos escravizados em nosso território e seus descendentes, assim como nos territórios que fazem fronteira. Nesse sentido, a identidade dos indivíduos da cultura religiosa afro é percebida mais como um instrumento considerado na delimitação das fronteiras simbólicas e das identidades que classificam os membros destas comunidades fronteiriças.
Na região fronteiriça da cidade de Foz do Iguaçu - Paraná há inúmeras casas religiosas da cultura afro-brasileira, administradas por migrantes de regiões vizinhas brasileiras e locais. E seus adeptos são de várias etnias, advindos dos países fronteiriços e brasileiros, de acordo com o mapeamento registrado pela Secretaria Extraordinária de Direitos Humanos de Foz do Iguaçu (SEDHFI) (2019), esses dados contribuíram para a realização do “I Seminário de Políticas Públicas e Povos de Terreiro” (2019), onde se discutiu sobre vários assuntos relacionados à presença da cultura religiosa afro-brasileira na fronteira em Foz do Iguaçu – Paraná.
Os estrangeiros que cultuam a religião afro-brasileira, como o Candomblé, a Umbanda, e outras, em sua maioria são oriundos do Paraguai e da Argentina, todavia, há adeptos de outras etnias que se identificam com a religião africana. Para Durkheim (1970) a religião para o ser humano precisa de algo maior do que sua própria experiência, para afiançar sua própria existência e sua integração social.
Ao fazermos uma reflexão sobre as regiões de fronteira politicamente e incluirmos as representações religiosas, notaremos vários motivos que apontam para a importância de se pensar essas fronteiras culturais nas zonas de contato, entre esses motivos podemos citar as diferenças identitárias nacionais e não as identidades religiosas, pois elas neste momento se relacionam fazendo com que essas afirmações identitárias sejam negociáveis. Para Cardin e Albuquerque (2018), essa concepção relacional de fronteira é importante;

As fronteiras foram pensadas pelas ciências sociais predominantemente como frentes de expansão/colonização, zonas de contato/conflito, relações entre identidade e diferença ocorridas em determinadas regiões dos territórios nacionais e com grupos étnicos específicos. (CARDIN; ALBUQUERQUE, 2018, Pag. 117).

Nos espaços de fronteiras entre grupos étnicos podemos perceber como as afinidades e os aspectos de acordos que delineiam as fronteiras distanciam um grupo étnico de outro grupo, e outro conceito, é mais barthiano, apoia a experiência de como o indivíduo se percebe pela comunidade étnica ou como ele é percebido e o fato de compartilhar uma cultura é uma consequência. Para Cardin e Albuquerque (2018) as fronteiras precisam ser observadas e entendidas;

Embora sejam dimensões importantes dessas realidades entre os Estados  que merecem serem estudadas, as fronteiras são mais que isso, podem ser compreendidas também como territórios de oportunidades, de trânsitos, de intercâmbio cultural e de expressões identitárias que permitem construir uma mirada específica e situada dos diversos fenômenos contemporâneos. (CARDIN; ALBUQUERQUE, 2018, Pag. 119).

Neste sentido, observa-se a fluência que os relacionamentos fronteiriços em Foz do Iguaçu causam aos indivíduos envolvidos na cultura religiosa afro-brasileira num fluxo de trânsito, entre as fronteiras, de livres escolhas de pertencimento. Toda religião é um fenômeno social, de origem e de natureza social e representa a intenção de toda sociedade, bem como das pessoas que a integram, (Durkheim, 1970, p.83). As representações religiosas existente numa sociedade estão escondidas ao mesmo tempo no coração das estruturas sociais, na prática social, ou seja, na cultura em si e nos componentes culturais como forma significativa e interativa de conhecimentos singulares e coletivos para dimensionar espacialidades em uma sociedade e nas representações religiosas.

3 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho sobre Cultura Religiosa Afro-brasileira, Etnicidade e Fronteiras na cidade de Foz do Iguaçu, mostra a diversidade da comunidade religiosa em cada contexto de integração social e cultural. Essa interação fronteiriça acaba por colaborar para produção de uma analogia positiva com as diferentes etnias na cultura religiosa afro-brasileira existente na cidade de Foz do Iguaçu, com destaque para suas expressões nas sociedades, da integração social dos países vizinhos e dos indivíduos no sentimento de pertencimento religioso, onde esses sujeitos sociais são o elo da etnicidade, onde possuem identidades as quais são negociadas. Uma sociedade tende a ser estabilizada se cada grupo étnico ocupa diferentes espaços sociais evitando conflitos. E a fronteira se apresenta como forma de afirmação identitária nacional.
Ao analisar como o processo de religiosidade enquanto elemento simbólico e político cooperam para dimensionar o conhecimento para compreensão do mundo, das nossas relações com ele, e da nossa realidade social, e nos norteia desconstruindo preconceitos dentro da nossa realidade social e cultural, como o da religião. Como procedimento, não se pode intensificar a etnografia (cultura dos povos, sua língua, raça, religião) e sim abranger como se aciona organização social.

4 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÀFICAS:

Bastide, Roger (1971). As Religiões Africanas no Brasil: contribuição a uma Sociologia da Interpretação de Civilizações. São Paulo: Pioneira.
Barth. F. (1969). Grupos étnicos e limites: a organização social da diferença cultural. Oslo: Universitetsforlaget.
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Câmara Municipal de Foz do Iguaçu. (2019). I Seminário de Políticas Públicas e Povos de Terreiro. Enfrentamento ao Racismo Religioso: Legislação e Diálogo com o Poder Público.
https://www.solutudo.com.br/pr/foz/prefeitura-esecretarias/secretariaextraordinaria-de-direitos-humanos-1112608
acessado em 19 de dezembro de 2019.

Candau, Joel (2012). Memória e identidade. São Paulo: 1ª ed., Contexto.
Cardin, Eric Gustavo; Albuquerque, J. L. C. (2018). Fronteiras e deslocamentos. Revista Brasileira de Sociologia | Vol. 06, No. 12 | Jan-Abr. http://dx.doi.org/10.20336/rbs.236
Durkheim, E. (1970). As Formas Elementares da Vida Religiosa. São Paulo: Paulus.
Ferretti, Sergio. (1995) Repensando o Sincretismo. São Paulo: EDUSP.
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acessado em 02 de setembro de 2019.

Oliveira, José Henrique Motta de. Entre a Macumba e o Espiritismo: uma análise comparativa das estratégias de legitimação da Umbanda no Estado Novo. Rio de Janeiro, 2007. Dissertação de Mestrado em História Comparada, IFCS/UFRJ. ISSN 1517-6916 CAOS - Revista Eletrônica de Ciências Sociais. Número 14 – Setembro de 2009, Pág. 60 – 85. Acessado em 03 de setembro de 2019.
Oliveira, Roberto Cardoso de. (2006). Caminhos da identidade: Ensaios sobre a etnicidade e multiculturalismo. São Paulo: Editora Unesp; Brasília: Paralelo 15.
Ortiz, Renato. (1978). A morte branca do feiticeiro negro: Umbanda, integração de uma religião numa sociedade de classes. Petrópolis, Vozes.
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Villar, Diego. (2004). “Uma abordagem crítica do conceito de “etnicidade” na obra de Fredrik Barth.” Em Mana, vol.10, no. 1.Rio de Janeiro, 2004. versão impressa ISSN 0104-9313versão On-line ISSN 1678-4944.

*Mestrando do Programa Pós-Graduação Stricto Sensu: Sociedade, Cultura e Fronteira – Centro de Educação, Letras e Saúde – CELS – Universidade do Oeste do Paraná – UNIOESTE – Campus de Foz do Iguaçu; Especialista em Educação: Métodos e Técnicas de Ensino pela UTFPR; Graduado em História pela Universidade União das Américas – UNIAMÉRICA – jarbasmoreno@hotmail.com


Publicado: 23/04/2020

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