Revista: CCCSS Contribuciones a las Ciencias Sociales
ISSN: 1988-7833


A CAPOEIRA COMO MEDIAÇÃO EDUCATIVA EM ESPAÇOS NÃO FORMAIS

Autores e infomación del artículo

Taiana Marques Maciel*

Corina Fátima Costa Vasconcelos**

Jadson Justi***

Universidade Federal do Amazonas, Brasil

E-mail: taianamarques2017@gmail.com


RESUMO

O presente artigo tem como objetivo compreender de que maneira a capoeira pode constituir uma ferramenta de mediação educativa em espaços não formais. Esta pesquisa é caracterizada como uma investigação qualitativa, cujo participante é um instrutor de capoeira que ministra aulas de capoeira em associações de moradores de bairros periféricos do município de Parintins, Amazonas, Brasil. Para a coleta dos dados, utilizaram-se visitas de campo e entrevista semiestruturada. Os resultados evidenciam que a capoeira realizada em espaços não formais se converte em mediação do processo educativo na medida em que faz desse espaço um momento de diálogo, problematizando as condições sociais, políticas e culturais em que estão imersos os participantes. Conclui-se que o reconhecimento da capoeira como mediação educativa contribui não apenas para a promoção da capoeira, mas principalmente para estimular a adoção de políticas públicas de salvaguarda e sustentabilidade desse relevante patrimônio cultural pelos governos e pela sociedade.

Palavras-chave: Capoeira, Mediação educativa, Espaço não formal.

CAPOEIRA COMO MEDIACIÓN EDUCATIVA EN ESPACIOS NO FORMALES

RESUMEN

Este artículo tiene como objetivo comprender cómo la capoeira puede ser una herramienta de mediación educativa en espacios no formales. Esta investigación se caracteriza por ser una investigación cualitativa, cuyo participante es un instructor de capoeira que imparte clases de capoeira en asociaciones de residentes de barrios periféricos de Parintins, Amazonas, Brasil. Para la recolección de datos, se utilizaron visitas de campo y entrevistas semiestructuradas. Los resultados muestran que la capoeira realizada en espacios no formales se convierte en una mediación del proceso educativo, ya que hace de este espacio un momento de diálogo, problematizando las condiciones sociales, políticas y culturales en las que los participantes están inmersos. Se concluye que el reconocimiento de la capoeira como mediación educativa contribuye no solo a la promoción de la capoeira, sino principalmente a estimular la adopción de políticas públicas de salvaguarda y sostenibilidad de este patrimonio cultural relevante por parte de los gobiernos y la sociedad.

Palabras clave: Capoeira, Mediación educativa, Espacio no formal.

CAPOEIRA AS EDUCATIONAL MEDIATION IN NON FORMAL SPACES

ABSTRACT

This article aims to understand how capoeira can be an educational mediation tool in non-formal spaces. This research is characterized as a qualitative investigation, whose research participant is a capoeira instructor who teaches capoeira classes in associations of residents of peripheral neighborhoods of Parintins, Amazonas, Brazil. For data collection, field visits and semi-structured interviews were used. The results show that capoeira performed in non-formal spaces becomes a mediation of the educational process as it makes this space a moment of dialogue, problematizing the social, political and cultural conditions in which the participants are immersed. It is concluded that the recognition of capoeira as educational mediation contributes not only to the promotion of capoeira, but mainly to stimulate the adoption of public policies of safeguard and sustainability of this relevant cultural heritage by governments and society.

Keywords: Capoeira, Educational mediation, Non formal space.


Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Taiana Marques Maciel, Corina Fátima Costa Vasconcelos y Jadson Justi (2020): “A capoeira como mediação educativa em espaços não formais”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, (febrero 2020). En línea:
https://www.eumed.net/rev/cccss/2020/02/capoeira-mediacao-educativa.html
http://hdl.handle.net/20.500.11763/cccss2002capoeira-mediacao-educativa

1 INTRODUÇÃO

A capoeira emerge em meio a uma variedade de mitos e histórias concebidos para sustentar um posicionamento ideológico ou político (Campos, 2001; Cordeiro e Carvalho, 2013; Souza e Varela, 2018). Entretanto, qualquer que seja o “drama” que envolve a gênese da capoeira, é incontestável que ela conquistou os mais diversos espaços da sociedade civil, alcançando os mais variados públicos, crianças, jovens e adultos, independente da condição social, cultural e religiosa (Benjamin, 2010).
A capoeira apresenta um caráter polissêmico quanto à compreensão de seu conceito, pois recebe inúmeras definições, como: luta, esporte, brincadeira, cultura, dança, arte, filosofia de vida, entre outras (Lucena e Trigueiro, 2018; Reis, 1997). Nesse contexto de definições é que a capoeira se configura como espaço de mediação educativa, já que esta proporciona aos seus praticantes um convívio social, no qual relações são construídas e processos formativos são realizados (Amorim e Machado, 2018; Oliveira, 2011; Silva, E., 2008).
A escolha do tema deste manuscrito emergiu de observações em escolas públicas e projetos socias em ambientes não formais do município de Parintins, Amazonas, Brasil, onde se hipotetizou o quanto a capoeira pode contribuir como ferramenta de mediação educativa para crianças, jovens e adultos.
A partir disso, surgiu o interesse em compreender de que maneira a capoeira pode constituir uma ferramenta de mediação educativa em espaços não formais. Assim, definiu-se como objetivos específicos: a) realizar um breve histórico da capoeira, destacando as concepções que fundamentam sua prática e marcam sua origem; b) analisar a capoeira como ferramenta de mediação educativa em espaços não formais, a partir da prática.

1.1  Capoeira: trama histórica e concepções

Historicamente, a narração dos acontecimentos, em grande medida, partiu da compreensão de mundo daqueles que possuíam a hegemonia, resultando na ausência de dados sobre os valores culturais das populações oprimidas, especialmente as indígenas e as negras (Benjamin, 2010). Por conta desse panorama histórico, muitos estudiosos da capoeira objetivaram descrever minuciosamente sua gênese, bem como sua influência ao longo dos tempos (Amaral e Santos, 2015).
A história da capoeira “[...] como ela é contada nas academias, ou mesmo em muitos livros, continua veiculando uma estranha mistura de mitos e semi-verdades [sic] [...]” (Vieira e Assunção, 1998: 82). Tal história foi passada de geração em geração por meio da oralidade e a maior parte dos acontecimentos que verdadeiramente se sucederam foi gradualmente sendo transformada, dissipando-se em determinado momento histórico, cedendo espaço a muitos mitos e lendas. Ressalta-se, ainda, que essas mesmas histórias concebidas ao longo dos tempos se atrelavam a determinados posicionamentos ideológico e/ou político no universo social.
Dentre os mitos narrados pelos capoeiras, encontra-se a antiga história na qual a capoeira foi trazida pelos escravos africanos para as terras brasileiras, sendo realizada de modo disfarçado enquanto dança no interior das senzalas até o momento em que os primeiros negros conseguiram escapar e, desprovidos de armamento necessário, fizeram uso da capoeira como tática de defesa contra o chamado “capitão do mato”, que os perseguiam em sua fuga, matando-os se não retornassem (Benjamin, 2010). Entretanto, não há informações de documentos que possam situar a capoeira no âmbito das senzalas, bem como dos quilombos (Vieira e Assunção, 1998).
Diversas cantigas de capoeira entoadas nas rodas espelham proeminentes realizações de Zumbi (1655-1695), ademais pressupondo de que o grande líder de Palmares tenha sido um habilidoso capoeirista. Tais cantigas evidenciam a estima de determinados mestres de enaltecer a origem escrava e africana da capoeira, no entanto, o processo de origem da capoeira africana permanece desprovida de qualquer indício histórico que a comprove (Benjamin, 2010).
Para inúmeras populações de origem africana, a musicalidade e a dança constituem seu dia a dia. As ações dessas populações, mesmo a mais extraordinária e a mais comum, apresentam música e movimentação do corpo, em um processo cadenciado que as conduz. As pessoas cantam e dançam comemorando o nascimento de um ente querido, assim como de seu falecimento, dentre tantas outras razões que as motivem a agir dessa forma (Vieira e Assunção, 1998).
Ao examinar criticamente as inúmeras histórias sobre a capoeira, necessita-se de muita prudência, pois em grande parte elas não são coerentes com os acontecimentos históricos e, em numerosos momentos, existem lacunas de tempo e espaço entre os períodos notáveis da capoeira.

A história da capoeira, tal qual ela nos é contada, se assemelha àquela velha história econômica do Brasil, onde se passa de um “ciclo” a outro, e de uma região à outra (açúcar no Nordeste, ouro nas Minas Gerais, café no Centro-Oeste) sem jamais se saber o que acontece com uma região antes ou depois do “surto” de um produto. Assim, a história da capoeira invariavelmente começa com os quilombos do interior, entendidos como praticantes da capoeira, no século XVII. Daí segue num salto mortal para a cidade, o Rio de Janeiro dos vice-reis. Afirma-se a existência da mesma capoeira dos quilombolas do Nordeste entre os negros, escravos urbanos, e a sua difusão entre a população livre. Comenta-se a formação das famosas maltas, como os Nagoas e Guaiamuns, terminando com o famigerado chefe de polícia Sampaio Ferraz, que teria “erradicado” a capoeira do Rio de Janeiro, na década de 1890. Segue-se novo salto mortal para a Bahia do século XX, mais precisamente a década de 30, com a criação da “primeira” academia de capoeira pelo mestre Bimba e a consolidação da capoeira Angola pelo mestre Pastinha. (Vieira e Assunção, 1998: 84).

Em meio a uma enorme quantidade de mitos e ambiguidades no desenvolvimento histórico da capoeira, torna-se complexo distinguir a autenticidade dos mitos. Todavia, uma situação é incontestável, a capoeira foi passada de geração em geração e alcançou os dias atuais como patrimônio imaterial da cultura brasileira.
Os praticantes da capoeira no começo do século XIX eram negros, em grande parte escravos, apenas alguns possuíam a liberdade, podendo ser boçais, denominação aos negros nascidos na África, ou crioulos, referentes aos negros provenientes das terras brasileiras. Essa ampla primazia de negros que praticavam a capoeira no começo do seu aparecimento mostra que ela é, efetivamente, uma expressão artística negra de traços africanos, uma vez que foi primeiramente desempenhada pelos africanos e seus herdeiros brasileiros (Soares, 1998).

A capoeira não era uma atividade de ‘boçais’, como se denominavam os africanos recém-chegados, ou um recurso desesperado frente à onipresença da ordem policial. O tipo social ‘capoeira’ que estava sendo forjado neste momento exibia vários sinais de estar enraizado na sociedade escravista urbana, e articulado nas formas de lidar com a lei dos brancos e seus aparatos de poder. (Soares, 1988: 56).

A capoeira pode apresentar inúmeros conceitos; podendo ser considerada uma luta; um esporte; poderia dizer que é uma atividade educativa de caráter informal – lazer, festa, vadiação ou brincadeira (Almeida, Tavares e Soares, 2012; Matos e Menezes, 2012; Silva, P., 2011). Esses significados praticamente salientam determinada característica dessa expressão artística brasileira. Deveras, ela tem uma característica aguerrida resistente e igualmente apresenta qualidades ligadas ao meio esportivo, com preceitos e determinações de comportamento bem estabelecidos para a sua atividade dentro da roda. E, como prática aplicada como brincadeira pelos negros, do mesmo modo, pode ser compreendida como entretenimento.
Para Adorno (1985: 5), “O jogo da Capoeira é a síntese da dança. A sua essência, disfarçada em brinquedo. Vadiação. Distração de quem busca extravasar cada função interior nos gestos exteriores.” O autor ainda aborda outros fatores no que se refere à elaboração de um conceito de capoeira, desconsiderando as características ligadas aos esportes e às lutas, e define o jogo da capoeira como a “síntese da dança”. Ainda na compreensão da literatura em questão, a dança simboliza o corpo em movimentação, no entanto, por apresentar diferenças em relação a qualquer outra forma de movimentação, ele não possui uma praticidade, porém apresenta determinado desejo daquele que dança ao demonstrar suas emoções.
Se um pesquisador pretendesse identificar todos os significados viáveis da capoeira não alcançaria uma conformidade a respeito de qual significado seria o mais adequado sobre o que ela realmente é. Essencialmente, há muitos significados sobre a capoeira no que tange à tentativa de ofertar uma definição. A capoeira transforma-se a cada momento no bojo da roda,

[...] é imensamente constituída de mandingas e maneirismos que se nega a enquadrar-se na definição mesmo daqueles que mais viveram e entenderam a capoeira; é também libertária a ponto de permitir entendimentos distintos dos mesmos acontecimentos. (Silva, G. T., 2007: 9).

Compreende-se que a capoeira não se resume simplesmente à luta ou a técnicas de autodefesa, uma vez que possui componentes relevantes ligados à arte e à música, não se resumindo também à dança, por apresentar particularidades tanto defensivas quanto relacionadas ao meio esportivo (Falcão, 2004). Saindo da dança, é uma posição não formal classificá-la como algo inócuo, relacioná-la a pessoas que não têm o que fazer, uma vez que traz em si mesma um panorama histórico vivenciado pela população negra e seus descendentes (Dias, 2010; Rector, 2008).
De acordo com Benjamin (2010), a classificação da capoeira como atividade de pessoas que não têm o que fazer surge no tempo da Regência (1831-1840), sendo compreendida como um problema social, por causa da forma de como se praticava já que ela era usada não só por diversão para mostrar destrezas e habilidade, mas também por causar perturbações e conflitos, muitas vezes sendo aliciados por políticos, que contratavam líderes capoeiristas considerados os mais valentes dos grupos como guarda-costas, como  objetivo de lhes garantir não só a vida como seus bens, e não só isso, esses valentões tinham que formar o maior grupo de capoeiristas possível para fazer arruaça nos comícios de seus rivais, causando até mortes. Mediante isso, esses acontecimentos deram origem ao primeiro Código Penal da República de 1890, tendo como título Dos Vadios e Capoeiras, o qual proibia qualquer prática em local público, considerando agravante a pessoa pertencer a algum grupo, “bando ou malta”.
Em consequência da repreensão da capoeira pelo Código Penal, muitos foram presos e até mesmo mortos, e, com isso, as pessoas tinham medo de praticar a capoeira em determinados locais, fazendo com que ela sofresse um impacto muito grande, quase desaparecendo em todo o país. Os praticantes de capoeira, por esta ter sua origem na luta de um povo que foi escravizado, mas nunca desistiu de lutar por liberdade, buscaram de várias formas defender suas tradições para que essa cultura de luta e resistência não desaparecesse.

A capoeira entrou em declínio e desapareceu em Belém e no Rio de Janeiro, ao final da primeira década do século XX, restando apenas marcas da influência no passo do frevo do Recife, nas danças do bumba meu boi e na pernada Carioca. Na Bahia, por contingências locais, a Capoeira se manteve viva e se desenvolveu através de um sistema de aprendizado sistemático a academia de Capoeira. A primeira academia teria sido criada em 1932, embora se saiba que havia a prática do seu ensino regular desde o fim do século XIX. [...] há duas vertentes da Capoeira, diferenciadas pelos estilos de luta: a Capoeira-angola e a Capoeira-regional. (Benjamin, 2010: 59).

Após muita luta e resistência, a capoeira foi ganhando espaço novamente, liberada a sua prática pelo então presidente Getúlio Vargas (1882-1954) em uma apresentação do capoeirista conhecido como Bimba, cujo nome era Manoel dos Reis Machado (1899-1974). Por conta disso, Bimba tornou-se um ícone ganhando respeito e admiração por sua atitude e ousadia, e, além de ser incentivador da liberação da capoeira, criou um novo método de ensino ao adaptar a capoeira de Angola a capoeira regional baiana (Mestre Zulu, 1995).
A composição da capoeira regional idealizada por Bimba, no âmbito técnico-estético, busca

[...] imprimir maior eficiência combativa nos susceptíveis confrontos reais; no âmbito didático-pedagógico idealizou a “sequência de ensino” e a “cintura desprezada”; no âmbito ritual o componente mais expressivo talvez tenha sido a cerimônia de formatura; no âmbito filosófico recaiu no campo da ética, onde a disciplina e a hierarquia foram severas; e no âmbito imaginário exclui-se a espontaneidade e o improviso em favor da padronização, do igual e formal. (Mestre Zulu, 1995: 6-7, grifo do autor).

A partir dessas mudanças realizadas por Bimba, a capoeira deixou de ser uma prática de pessoas desocupadas de classes menos favorecidas, para se tornar uma atividade vivenciada por todas as camadas da sociedade (Mestre Zulu, 1995).
Contemporaneamente, a capoeira é vista com um novo significado. A marginalização sofrida pelos seus praticantes deu lugar à educação, ao respeito, à cultura, ao lazer, entre outros, ampliando sua prática para diversos espaços, dentre os quais, espaços não formais como associações de moradores de bairros, disseminando a cultura e interação de igualdade racial e social (Lucena e Trigueiro, 2018). Constitui também uma importante ferramenta educativa, uma vez que possibilita o envolvimento do sujeito em um espaço de diálogo, encontro, regras, construção de valores e outros processos formativos que potencializam a formação integral do sujeito (Gonçalves e Pereira, 2015).

1.2 A capoeira como ferramenta de mediação educativa em espaços não formais

Vista como efetivamente brasileira, a capoeira, em suas múltiplas maneiras de manifestação cultural, abrange o jogo, a luta, a dança, a musicalidade, a arte, o folclore, a religião, ou seja, um modo de encarar a vida, organizada em princípios culturais oriundos de comunidades africanas (Falcão, 2004).
Diante disso, a educação não formal se traduz como processo que abrange uma grande quantidade de ambientes promissores, como as praças públicas; nesses ambientes promissores destacam-se

[...] a aprendizagem política dos direitos dos indivíduos enquanto cidadãos; a capacitação dos indivíduos para o trabalho, por meio da aprendizagem de habilidades e/ou desenvolvimento de potencialidades; aprendizagem e exercício de práticas que capacitam os indivíduos a se organizarem com objetivos comunitários, voltadas para a solução de problemas coletivos cotidianos; a aprendizagem de conteúdos que possibilitem aos indivíduos fazerem uma leitura do mundo do ponto de vista de compreensão do que se passa ao seu redor; a educação desenvolvida na mídia e pela mídia, em especial a eletrônica etc. (Gohn, 2006: 28).

A educação não formal não possui uma sistematização de ensino comparada à educação formal, por anos, faixa etária ou matriz curricular, mas sim a características pessoais e habilidades que cada sujeito possui (Gohn, 2006). Além do mais, essa vertente da educação tem como objetivo desenvolver a formação identitária do agrupamento, contribuindo para o desenvolvimento da comunidade social, bem como para a formação da cidadania e o convívio com a multiplicidade de ideias (Rios Valdes, 2015). O ensino não formal permite o crescimento de sujeitos comprometidos com a ética, colaborativos e conscientes do seu dever social (Stotz; Falcão, 2012).
A capoeira constitui um componente da cultura do Brasil, que se encontra em permanente construção e desenvolvimento, uma vez que assume atividades culturais que remontam aos antepassados do povo brasileiro. No entanto, é um componente de grande relevância daquilo que integra a identidade nacional, embora tenha sofrido com a marginalização em seu processo histórico, lutando contra as ideias pré-concebidas, ela continua existindo, contribuindo com a formação da identidade brasileira (Almeida, Tavares e Soares, 2012).
No campo educacional, a capoeira, como ferramenta educativa, traduz-se em um trabalho lúdico e pedagógico, possuindo aceitação por parte dos estudantes, sendo que estes possuem diversos modos de refletir, de jogar, de brincar, de se expressar oralmente, bem como de escutar e de se movimentar, e, na capoeira, todos esses comportamentos são perceptíveis. Por meio dessas distintas maneiras de comunicação que se refletem na vida diária, no ambiente familiar, social e cultural é que se constitui a identidade dos sujeitos.
O desenvolvimento da capoeira, se pautado em suas origens e valores disseminados, por si mesma, pode ser considerado como uma relevante ferramenta educacional e agregadora de significados, desde que assuma compromisso com as matrizes culturais em defesa da liberdade de todos os homens e mulheres vítimas da marginalização (Accurso et al., 2004).
Tem-se consciência de que a identidade cultural é uma construção social, igualmente configurada e reconfigurada, protegida e assegurada segundo as relações sociais determinadas pela época em que se vive (Bhabha, 1998). Em outras palavras, a identidade cultural não é nem pode ser compreendida como algo espontâneo, porém necessita de uma reflexão como um resultado de um desenvolvimento de relações entre pessoas e grupos sociais (Castiano, 2010; Hall, 2005).
Nessa perspectiva, “[...] a identidade é uma luta simultânea contra a dissolução e a fragmentação, uma intenção de devorar e ao mesmo tempo uma recusa resoluta a ser devorado.” (Bauman, 2005: 84). Dessa forma, ressalta-se que as relações que englobam o processo formativo das identidades ocasionalmente são harmônicas.
Compreende-se que ao desenvolver a capoeira como processo educativo em um ambiente não formal, o sujeito toma conhecimento de uma expressão social que passa a fazer parte de sua vida como ser pensante e capaz de transformar a realidade que o circunda. Sob essa ótica, a capoeira também é vista como manifestação artística, expressão da cultura histórica de um povo: “[...] As artes são produções culturais que precisam ser conhecidas e compreendidas pelos alunos, já que é nas culturas que nos constituímos como sujeitos humanos [...]” (Almeida, 2003: 15). Tal processo interativo, individual e coletivo, proporciona ponderação a respeito de sua atuação no mundo e no convívio com aquele ou aquela que pensa diferente deles. Diante disso, igualmente podem-se valorizar as atividades educacionais, expressões culturais, como a capoeira e percebê-la como uma ferramenta educativa indispensável, por meio da qual

É necessário entender que as culturas não são apenas produtos, mas também instituintes da esfera sociocultural; que sensibilidades artísticas são historicamente construídas e próprias de cada grupo cultural; que as artes são expressões de identidades e culturas e sua compreensão requer conhecimento dos parâmetros que a regem e que transcendem o gosto pessoal (que também é história e socialmente construído). O que podemos aprender ao longo de nossas vidas está diretamente relacionado a nosso repertório de experiências. Portanto, é preciso não privilegiar uma determinada cultura hegemônica, mas criar oportunidades para que os alunos entrem em contato com as mais variadas formas de música, dança, teatro, artes visuais [...] (Almeida, 2003: 16).

As interações sociais possuem ampla relevância e efetividade no desenvolvimento do ser humano, uma vez que, por meio da presença do diferente (outro), a pessoa começa a interagir com o espaço social, tomando para si os componentes simbólicos desse espaço (Vygotsky, 1998). Dessa forma, a educação em ambientes não formais pode ser considerada um aspecto que desperta a curiosidade do sujeito na convivência com o diferente, ao mesmo tempo em que suscita a elaboração do conhecimento.
Há relevância da capoeira referente aos princípios morais que podem ser elaborados e desenvolvidos em sociedade, principalmente como fundamento de uma prática interdisciplinar que muito tem chamado à atenção das escolas; já que a

A Capoeira se expressa em uma manifestação de grande representação da cultura brasileira, imprimi relações histórico-culturais, estas por sua vez tratam de ações que se direcionam na busca de valores da construção do cidadão, juntamente buscando o poder de reflexão e criticidade da realidade que se habita. (Seára, 2014: 4).

É amplamente importante para fundamentar de forma crítica a presente pesquisa, a atenção direcionada à particularidade de cada estudante, levando em consideração seu conhecimento de mundo, suas experiências de vida e possibilidade de aprender mutuamente com o outro. No espaço escolar, o estudante, em determinadas circunstâncias, recebe a denominação de rebelde, transgressor de um determinado padrão de comportamento, e, por conta disso, precisa ser reeducado sob pena de expulsão da instituição de ensino. Além do mais, esse mesmo estudante, conjectura-se, não ter a possibilidade de expressar seus anseios, não lhe sendo permitido o compartilhamento de informações diárias, sendo a escola limitadora dessa permuta.
Logo, pensa-se a capoeira como suporte para o conhecimento de uma educação pautada no respeito e na valorização do ser humano como sujeito em processo de formação contínua. O ensino da capoeira em espaços não formais ultrapassa os muros escolares e abre as portas da ludicidade e da consciência crítica, especialmente quanto aos valores culturais brasileiros. Com a educação não formal são despertadas habilidades artísticas e uma melhor convivência entre os sujeitos, igualmente um amplo relacionamento afetivo e de experiências entre as pessoas, e, diante disso, a capoeira os direciona para a novidade do conhecimento e ocasiona simultaneamente uma significativa liberdade de pensamento e ação.

2  METODOLOGIA

Esta pesquisa investigou de que maneira a capoeira pode constituir uma ferramenta de mediação educativa em espaços não formais. Assumiu uma abordagem qualitativa, pois considera que a relação mundo e sujeito é capaz de prover vieses confiáveis, o que favorece uma discussão ampla a luz da subjetividade.

A abordagem qualitativa parte do fundamento de que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o sujeito e o objeto, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito. O conhecimento não se reduz a um rol de dados isolados, conectados por uma teoria explicativa; o sujeito-observador é parte integrante do processo de conhecimento e interpreta os fenômenos atribuindo-lhes um significado [...] (Chizzotti, 1998: 79).

O participante da pesquisa, aqui identificado como P1, foi um instrutor de capoeira. Ele possui Ensino Médio completo, trabalha como artista plástico durante o dia e, à noite, assume a função de instrutor de capoeira. Realiza trabalhos sociais com a capoeira há mais de vinte anos, envolvendo crianças, jovens e adultos. Nasceu no município de Nhamundá, Amazonas, Brasil, é filho de pescador semianalfabeto e tem dez irmãos. Casado, tem quatro filhos e dedica-se a trabalhos sociais envolvendo a capoeira em espaços não formais.
Os pesquisadores observaram as atividades do capoeirista realizadas em duas associações de moradores de bairros do município de Parintins, Amazonas, caracterizadas brevemente. A primeira está localizada em um bairro periférico e foi fundada há mais de dez anos. O terreno, onde foi construída, pertencia à Prefeitura Municipal, que cedeu para os moradores construírem o espaço. A infraestrutura é simples; o prédio não tem divisão de parede por dentro e configura-se em apenas um salão grande com poucas mesas e cadeiras, onde as atividades são realizadas. Ao redor do prédio, existem casas, comércios, área verde, além de um restaurante popular. A segunda Associação de moradores também está localizada em bairro periférico, cujo prédio foi construído pelos próprios moradores e funciona há mais de onze anos. O local apresenta uma boa estrutura, tem um pequeno auditório para apresentação teatral, mesas, cadeiras e alguns materiais de exercícios físicos, como: saco de soco, tatame, peso e outros. É rodeado de casas populares e fica próximo a um campo de futebol.
Para a coleta dos dados, utilizou-se a entrevista semiestruturada direcionada a P1 e cinco visitas de campo realizadas nessas duas associações. As visitas de campo geram ricas “[...] oportunidades para observações diretas sobre comportamentos ou condições ambientais relevantes [...]” (Alvarenga Neto, Barbosa e Cendón, 2006: 71).
A entrevista semiestruturada foi direcionada a P1, que teve por objetivo verificar a prática da capoeira como ferramenta de mediação educativa em espaço não formal a partir da percepção de um capoeirista. A entrevista semiestruturada “[...] permite ao entrevistado desenvolver ideias, reflexões e análises, conforme sua conveniência e ao entrevistador orientar e estimular as respostas do entrevistado.” (Richardson, 2009: 10). A entrevista foi conduzida a partir de um roteiro elaborado pelos pesquisadores que levou em consideração questões iniciais e específicas. Em relação a questões iniciais, têm-se: a) Idade; b) Naturalidade; c) Estado civil; d) Formação acadêmica. Já as questões específicas, tais quais: a) Como foi seu primeiro contato com a capoeira? Descreva. b) O que o levou a realizar trabalhos com a capoeira e em quais locais já trabalhou? c) Como adquiriu os conhecimentos teórico-práticos sobre a capoeira? d) Para você, quais as contribuições da capoeira para o processo educativo das crianças e jovens em espaços não formais? e) Descreva alguns trabalhos com a capoeira que você realizou e as possíveis consequências na vida das pessoas envolvidas.
Menciona-se, ainda, que a análise dos dados foi realizada considerando o referencial teórico adotado, a abordagem qualitativa e os dados empíricos produzidos e coletados nas visitas de campo e entrevista.

3  APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

3.1 A capoeira como expressão de vida e de trabalho

Este tópico objetiva apresentar a configuração de uma escolha de vida baseada no trabalho com a capoeira, cujos conhecimentos foram aprendidos a partir das vivências do sujeito com a prática.
O primeiro contato de P1 com a capoeira deu-se quando este presenciou uma briga de rua e sobre o episódio relata: “[...] fiquei impressionado com os movimentos feitos pelo lutador com seu oponente, depois da briga procurei a pessoa para perguntar que tipo de luta era aquela e ele me disse que se tratava de um golpe de capoeira chamado martelo cruzado [...].” Diante disso,

Todos os movimentos dos capoeiristas têm um objetivo definido, quer seja de atacar, defender ou recuperar o equilíbrio, criando uma situação nova que lhe possibilite aplicar um golpe com precisão. Para que isso aconteça, fatores importantíssimos como a percepção, a noção de distância, a lateralidade, o ritmo, a velocidade, o reflexo e a coragem interagem neste complexo que é o jogo de Capoeira. (Campos, 2001: 29).

A partir de então, dedicou-se a praticar a capoeira e, somente após oito anos de estudos e prática, começou a trabalhar como instrutor e aos vinte e nove anos de dedicação na capoeira tornou-se “mestre” (termo usado entre capoeiristas para designar um grau elevado dentro da capoeira). Para P1, tornar-se mestre foi uma questão de honra em reconhecimento ao trabalho que vem realizando ao longo dos anos.

[...] alcançar o título de mestre é ter um certo reconhecimento da comunidade. Foi necessário muito treinamento, desenvolvimento de habilidades, técnicas, conhecimento teórico e prático, principalmente pela divulgação da arte da capoeira [...]. Antigamente a formação de mestre demorava menos tempo, hoje a condição de mestre é mais complexa, a pessoa tem que mostrar que realmente é capaz de assumir o papel da mais alta responsabilidade na capoeira.

O mestre de capoeira é uma espécie de guardião da memória e da ritualidade da capoeira dentro do grupo. Ele é o responsável por passar os conhecimentos adquiridos aos iniciantes ao longo dos tempos, como: técnicas, cantigas ou ladainhas e outros, sempre respeitando a tradição dos mestres mais antigos e tradicionais, ou seja, o mestre é o mais experiente do grupo, tendo seu reconhecimento por dedicação e participação na capoeiragem (Abib, 2006).
Atualmente, P1 realiza trabalhos sociais com a capoeira, em associações de moradores em bairros periféricos do município de Parintins, Amazonas. Seu interesse por esse trabalho iniciou-se a partir de uma apresentação no festival folclórico de Parintins em 1998, na qual tratava da cultura do negro, apresentada em uma roda de capoeira. Esse momento foi um divisor de águas em sua vida, pois seu trabalho se tornou reconhecido e quisto socialmente.
Após a apresentação com a capoeira na arena do Bumbódromo (local com formato de uma cabeça de boi estilizada, com capacidade para 35 mil espectadores, situada em Parintins, Amazonas), a procura para as aulas de capoeira aumentaram, levando-o a trabalhar com a capoeira em uma academia de jiu-jítsu que lhe cedeu o local sem cobrança de ônus.

[...] como houve uma grande procura de alunos para as aulas de capoeira, o espaço foi se tornando inadequado e pequeno para muita gente, procurei um espaço maior, tinha pouco conhecimento em relação à capoeira, mas a vontade de conhecer, praticar e levar adiante era grande, foi ai que comecei trazer pessoas de fora da cidade que tinham conhecimentos da capoeira, principalmente, mestres para fazerem apresentações com os alunos e daí por diante não parei mais, sempre mudado de local como: praças, quadras de escolas, clubes, eventos e outros e atualmente associações de moradores de bairros porque não temos espaço próprio. Aliás, a capoeira não precisa necessariamente de um espaço grande para se praticar, o que precisamos é da participação e todos. (P1).

Corroborando com a fala de P1,

A implantação é algo muito simples e fácil, haja vista que a capoeira não requer instalações nem aparelhos sofisticados. O espaço físico não é problema, pois poderão ser ministrados em áreas livres, terrenos baldios, campo de futebol, salas de aulas, quadra de esportes [...] (Campos, 2001: 25).

A capoeira ofertada por P1 foi realocada de uma academia para as associações de moradores de bairros, conforme observado durante as visitas de campo. A procura por esse espaço tem aumentado tanto por parte das crianças, como jovens e também adultos. P1 transformou os espaços das associações em academias de capoeira, o que não foi difícil realizar, já que tudo é organizado em uma estrutura hierárquica relacionada ao nível de habilidades dos capoeiristas simbolizados nas diferentes cores de cordas. Isso significa que o espaço é organizado não pela pessoa mais experiente em habilidades, mas pelas que possuíam os conhecimentos encarnados da capoeira. Para P1, seus conhecimentos teórico-práticos sobre a capoeira foram construídos a partir de sua busca incessante por novos aprendizados:

Na realidade para se tornar capoeirista tem que ter um certo conhecimento teórico, não é somente saber jogar as pernas, mas conhecer o processo histórico e filosófico porque a capoeira é um campo de conhecimento muito amplo, não se aprende de um dia pra noite, tem que ter interesse e muita prática. Por isso que sempre estou buscando conhecer apesar de estar nessa área há muito tempo. Quando temos eventos em outras cidades nem sempre é só para se apresentar, mas também para se capacitar e trazer novos conhecimentos aos nossos alunos. É uma forma de mostrar para eles o significado da capoeira, o que é hoje e como era vista antes, por isso, o conhecimento teórico é importante.

Partindo dessa realidade, pode-se inferir que no momento em que crianças, jovens e adultos praticam a capoeira, eles passam a conhecer as técnicas e começam a mover seus corpos no círculo, envolvendo-se nessa atividade que pode ter para cada participante um significado diferente haja vista sua subjetividade social e prazeres ao praticar a capoeira em si. Pode, portanto, representar um jogo, uma luta, uma dança, um ritual, dependendo de sua experiência e suas emoções. Assim, a perspectiva dos sujeitos varia de acordo com a sua experiência como parte do grupo de capoeira. Desse modo, o conhecimento da capoeira vai se ampliando à medida que a aplicação sistemática dos princípios da capoeira vai sendo vivenciada na prática.

3.2 A prática da capoeira como ferramenta de mediação educativa em espaço não formal a partir da percepção de um mestre

A capoeira no espaço não formal está em meio a uma conjuntura de propostas que favorecem o processo educativo de forma coletiva, ampliando as interações entre os sujeitos e levando-os a construírem uma percepção de realidade conforme os momentos vivenciados nos grupos de capoeira nesses espaços.
De acordo com Silva e Damiani (2005), com destaque na centralidade da prática e no trabalho conjunto com os demais parceiros que enxergam na capoeira uma possibilidade didática efetiva, sem desconsiderar a compreensão da realidade total, busca-se ultrapassar metodologias hegemônicas e tradicionais, que seguem um único direcionamento, podendo acolher a horizontalidade, a multiplicidade de ideias e o momento histórico. Nesses espaços não há lugar para formas de ensino determinadas, por meio das quais o aluno vai à instituição de ensino aprender representações, significados e assuntos previamente estabelecidos pelo docente.
Assim, P1 adquiriu seus conhecimentos práticos e teóricos sobre a capoeira mediante a compreensão da prática cultural popular. Ele não se preocupa somente com o desempenho técnico dos movimentos, mas também em problematizar a sistematização das práticas culturais e sua vinculação com as pessoas envolvidas. O entendimento comum de tudo isso ocorre partindo de acontecimentos vivenciados, pesquisas formais e informais, análise crítica, relação dialógica e, especialmente, da aprendizagem de novos modos de ensino. Dessa forma, procedimentos estratégicos do processo passam a ser formulados, orientando oportunidades de transformação. P1 destaca as contribuições da capoeira para o processo educativo de crianças, jovens e adultos em espaços não formais:

[...] as contribuições da capoeira são muitas, principalmente na formação integral do cidadão, porque dentro da capoeira existem regras, hierarquias e valores humanos como respeito e disciplina que nem os mestres podem fugir, há todo um companheirismo envolvido.

A prática da capoeira pode auxiliar na disciplina e no respeito, uma vez que existe hierarquia, que é uma característica das artes marciais (Silva, G. A., 2012). Essas questões foram observadas no grupo de capoeira de P1 ao chamar a atenção de alguns alunos que não cumprimentavam os colegas nem o instrutor ao chegarem à academia. Após o término da aula prática, P1 fez a roda de conversa dialogando com os alunos o que havia observado, sempre argumentando sobre os valores que estes já haviam recebido do instrutor e da família, chamando a atenção para as regras e o respeito que devem ser exercitados diariamente, não somente na capoeira, mas na vida.
Em espaços não formais, o professor desempenha uma função ativa na minimização dos impasses enfrentados, especialmente os culturais, na tentativa de esclarecer questões e comportamentos, conhecendo e solucionando interpretações equivocadas. Isso possibilita aos estudantes, em espaços além dos muros escolares, manifestarem a compreensão de seu próprio aprendizado, ao oportunizar a eles os saberes teórico-práticos, sem, porém, imaginar que suas compreensões particulares precisam sucessivamente encontrar prevalência. De acordo com a resposta de P1, tanto o profissional da educação quanto o estudante, tomados em sua individualidade e coletividade, necessitam compreender a circunstância e, a partir desse ponto, realizar uma análise crítica dos valores de cidadãos, o que demanda um posicionamento aberto, para logo após, em comunhão com os demais membros da sociedade, apresentar mudanças como propostas.
Tais mudanças não implicam ficar no conformismo, muito menos seguir regras de conduta estabelecidas previamente, mas elaborar minuciosamente, reconfigurar, colocar em prática, novos meios didáticos (Silva e Damiani, 2005). As preocupações no que tange ao ensino da capoeira em espaços não formais precisam ser levadas em consideração, uma vez que contribuem para esse debate de forma espontânea, observando os graus de consciência de crianças e jovens envolvidos sem, para tanto, modificar a sua organização estrutural valorativa. Assim, as aulas de capoeira externas à escola não ocorrem imersas na reprodução de modelos padronizados, mas partindo de oportunidades educativas que objetivam disseminar a compreensão de adversidades e possíveis soluções para problemas sociais, culturais, educacionais, entre outros.
P1 descreve alguns trabalhos realizados por meio da capoeira e seus resultados na vida das pessoas envolvidas.

No trabalho em espaços não formais vem pessoas de todas as classes sociais [...] por nós, já passaram e continuam passando pessoas que tem problemas sociais ligado a drogas, alcoolismo e outros, mas, um caso em especial foi de uma pessoa que passou por nós, e tomo como exemplo e conto a história dele sempre que posso para meus alunos. Essa pessoa era viciada em drogas, roubava e havia perdido a credibilidade com a família e sociedade, ninguém acreditava mais em sua recuperação. Quando ele chegou na capoeira, no início foi difícil, mas com jeito e aos poucos ele foi gostando e se envolvendo de uma certa forma que, para onde eu ia lá estava ele e, nas rodas de conversa, falávamos de respeito e dos valores humanos. Aos poucos percebemos o envolvimento dele com o grupo e sua vontade de se libertar das drogas. Nesse momento, percebi a capoeira como um instrumento de libertação. Com o tempo ele foi mudando e se tornou uma pessoa completamente diferente do que era. Hoje ele vive no Japão e lá formou seu próprio grupo de capoeira e conta sua história também. Para mim, contar a história dele é uma questão de orgulho porque a capoeira mudou a sua vida.

Durante o comentário de P1, observou-se o quanto ele ficou emocionado em narrar essa história com tanto carinho. Isso mostra que ele realmente acredita que a capoeira pode educar e mudar a vida das pessoas, principalmente em ambientes não formais, que geralmente atendem uma população de vulnerabilidade e carência social.
O trabalho que P1 faz com a capoeira não é remunerado; ele faz por amor a esse ofício, e lamenta que poderia ser melhor se houvesse mais interesse por parte do poder público:

Pelo trabalho que faço, as pessoas não acreditam que não ganho nada com isso. Hoje não sou tão dedicado como antes, porque preciso trabalhar em outra área para sustentar minha família, mas gostaria de um dia trabalhar somente com a capoeira. Penso que nossos representantes deveriam valorizar mais a capoeira já que ela pode ser trabalhada em várias áreas da educação de forma geral. Se eu for cobrar um determinado valor dos alunos para participarem das aulas, eles somem, mesmo porque muitos não tem condições de pagar nem um real, por isso, meu trabalho é voluntário, é uma forma de colaborar minimamente como ser humano e cidadão para a sociedade. Não paro porque existe sempre uma esperança de que um dia a capoeira vai ser mais aceita, menos descriminada e mais valorizada.

Os comentários de P1 expressam uma certa angústia quando descreve a desvalorização da profissão de capoeirista e relata:

[...] existe algo mais forte que não me deixa parar, primeiro porque gosto do que faço, segundo porque sei que, de alguma forma, posso auxiliar alguém que esteja precisando de uma palavra de conforto, de um lazer, de um esporte, de uma diversão e principalmente de estar sempre divulgando a capoeira.

O Projeto de Lei n. 2.858, de 19 de fevereiro de 2008, que buscou a normatização da capoeira como profissão, é instituído de 12 artigos. Do 1º ao 5º artigo, o autor do texto importa-se unicamente em assegurar a capoeira como profissão (Zarattini, 2008). Mesmo diante de todas essas questões que envolvem a profissionalização dela, P1 continua seu trabalho. Para ele, o momento da roda de conversa é de extrema importância, pois, nesse espaço, os alunos aprendem a ser bons cidadãos, conhecedores de seus direitos e deveres na sociedade, como afirma: “[...] na roda de conversa, falamos da história da capoeira, do cotidiano dos alunos, da cidade, das nossas vidas, mas não se discute todos os assuntos no mesmo dia [...]”.
Para Almeida (2003), as relações dialógicas entre instrutor e aluno ajudam a criar distinções sociais entre seus participantes e, nesse sentido, atividades como a capoeira podem fornecer ferramentas para as pessoas construírem ou confirmarem sua própria identidade. Além disso, esse tipo de atividade é relevante para a manutenção social das tradições, bem como para a mudança de possíveis padrões que resultem em estigmatização.
O conhecimento é transmitido em um processo de imitação social por meio do diálogo e, nessa perspectiva, a relação entre instrutor e aluno é crucial para a capoeira (Seára, 2014). Isso significa que, após certo tempo de prática, as crianças incorporam as experiências geradas em um espaço social específico. Na roda de capoeira, P1 não separa os alunos por idade, todos participam igualmente das atividades, entretanto, são respeitadas suas especificidades e diferenças. P1 menciona que, “[...] a partir dos cinco anos, o aluno já pode praticar capoeira, o bom instrutor não separa os alunos por idade, é uma forma de não haver discriminação, mas são respeitados os graus de conhecimento e habilidades [...]”.
Para Almeida (2003), o instrutor tem a liberdade para ensinar os alunos que gostam de capoeira, especialmente as acrobacias, as artes marciais e a música. Falcão (2004) levanta a questão da musicalidade que detém um sentido ímpar na condução das atividades grupais. Os proponentes deste estudo observaram o quanto é importante o bom desempenho a ser conquistado pelos alunos, quanto mais alegre a melodia, melhor a evolução dos participantes, pois isso foi percebido no momento de exibição na roda. Ficou explícito também o quando a música influenciava as crianças e o resultado disso era uma participação mais efetiva e cheia de entusiasmo, mas, quando a melodia era mais lenta, estas perdiam parte do interesse. Além disso,

A letra depende muito do poder de criação do compositor, pode falar da vida dele, de santo, de orixá, de religião, história da capoeira, história de vida de alguém, a criação é livre, a capoeira é quem mais divulga a língua portuguesa porque em qualquer parte do mundo a música será sempre cantada na língua portuguesa. (P1).

A capoeira diferencia-se de outras lutas (quando entendida como artes marciais) pela musicalidade. Antigamente, a música não existia na capoeira; foi criada para disfarçar a luta como dança por causa da perseguição aos capoeiristas na época da Regência. Portanto, essas músicas não servem somente para animar o grupo, mas a letra traz certas aprendizagens para os alunos (Benjamin, 2010). A partir das observações das crianças e imitações das rodas de rua dos adultos de forma lúdica, a capoeira tornou-se um jogo (quando entendida como uma brincadeira) conhecida em todo o mundo, principalmente por meio da letra musical e seus instrumentos de percussão.
Na capoeira de P1 não havia horário com progressão prescrita. As crianças acompanhavam o instrutor no que tinha que ser feito de maneira mais ou menos espontânea. Assim, como não havia um plano rígido, é provável que fosse mais fácil para elas exercitarem. No entanto, o instrutor ocupava o papel principal e as crianças geralmente não eram questionadas sobre o que fazer, já que estas tinham liberdade de sair e entrar na roda conforme seus interesses. Assim, as crianças participavam da capoeira acompanhando livremente seus pais ou adultos que os influenciavam, como atividade de lazer ou brincadeira, variando de acordo com suas percepções.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A capoeira tem sua origem incerta em uma lógica histórica literária. O que se sabe é que ela surgiu na época da escravidão, pelos escravos africanos, como uma forma de luta e resistência naquele período ao qual esse povo era submetido. Embora a capoeira, ao longo do tempo, tenha adquirido a conotação de pessoas que não tinham o que fazer, com o tempo, seu sentido foi se alargando, passando a ser compreendida como espaço educativo, de lazer, cultura e até mesmo como uma filosofia de vida.
A capoeira possui um rico manancial de conhecimentos e saberes, expressos em múltiplas manifestações culturais, como jogos, lutas, arte, folclore, brincadeiras que traduzem em sua gênese a identidade cultural dos povos africanos que, contemporaneamente, traduzem um espaço de promoção e diálogo das diferenças, acolhendo crianças, jovens e adultos.
O participante deste estudo, nas rodas de capoeira, demonstrou possuir conhecimentos teórico-práticos, construídos das experiências vivenciadas e da prática da capoeira que exerceu como capoeirista ao longo dos anos. Tais conhecimentos permitiram com que ele utilizasse a capoeira como uma atividade de alcance social para atender pessoas de diferentes espaços, idade e classes sociais, a exemplo, em associações de bairros como apresentado neste estudo.
A capoeira realizada em espaços não formais converte-se em mediação do processo educativo na medida em que faz desse espaço um momento de diálogo, problematizando as condições sociais, políticas e culturais em que estão imersos os participantes. A partir desse pressuposto, na percepção do participante desta pesquisa, a capoeira, como processo educativo, contribui para a formação de bons cidadãos, por tratar, na sua dinâmica, do cotidiano dos alunos, seus problemas e conflitos. Permite também discussões sobre a manutenção social das tradições ou de mudanças possíveis dos padrões pré-estabelecidos, além de colocar em pauta questões sobre a afirmação da identidade cultural dos sujeitos.
O reconhecimento da capoeira como mediação educativa contribui não apenas para a promoção da capoeira, mas principalmente para estimular a adoção de políticas públicas de salvaguarda e sustentabilidade desse relevante patrimônio cultural pelos governos e pela sociedade civil organizada. O reconhecimento assegura ampla evidência à capoeira, faz crescer a consciência de sua relevância e propicia relações dialógicas quanto ao respeito à diversidade cultural brasileira.

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*Pesquisadora do Instituto de Ciências Sociais, Educação e Zootecnia da Universidade Federal do Amazonas.
** Professora do Instituto de Ciências Sociais, Educação e Zootecnia da Universidade Federal do Amazonas.
*** Professor do Instituto de Ciências Sociais, Educação e Zootecnia da Universidade Federal do Amazonas.


Publicado: 12/02/2020

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