Revista: CCCSS Contribuciones a las Ciencias Sociales
ISSN: 1988-7833


DECORAÇÃO DE QUARTOS INFANTIS INSPIRADOS NO MÉTODO MONTESSORI

Autores e infomación del artículo

Carla Mathias Orlando

Heitor Romero Marques


RESUMO: Mediante revisão bibliográfica este estudo tem como objetivo caracterizar a decoração de quartos infantis inspirados no método de Maria Montessori, que dizia que a liberdade é um conjunto de condições favoráveis à vida.  Os princípios do método Montessori visam o desenvolvimento integral da criança a partir de suas próprias experiências e liberdade para construção da autonomia na organização e respeito pelo seu entorno, como base nos erros e acertos. Nesse processo cabe ao adulto oferecer um ambiente favorável e preparado para que a criança possa exercitar suas capacidades naturalmente. Neste sentido, nada melhor do que contar com profissionais de design de interiores e de arquitetura na elaboração de projetos que se alinhem aos seus preceitos. Idealmente, toda a casa pode ser arranjada de acordo com os princípios do método montessoriano, de forma a permitir que a criança explore todos os ambientes e os utilize com autonomia e segurança.
 
PALAVRAS-CHAVE: 1. Quarto montessoriano 2.  Autonomia 3. Organização 4. Design
                           
DECORATION OF CHILDREN'S ROOMS INSPIRED IN THE MONTESSORI METHOD

ABSTRACT: Through a bibliographical review this study aims to characterize the decoration of children's rooms inspired by the method of Maria Montessori, which said that freedom is a set of conditions favorable to life. The principles of the Montessori method aim at the integral development of the child from their own experiences and freedom to build autonomy, organization and respect around them, based on mistakes and successes. In this process the adults have to offer a supportive and prepared environment so that the child can exercise their abilities naturally. In this sense, nothing better than having professionals of interior design and architecture, in the elaboration of projects that align with its precepts. Ideally, the whole house can be arranged according to the principles of the Montessori method, allowing the child to explore all environments and use them autonomously and safely.

KEY WORDS: 1. Montessorian room 2. Autonomy 3. Organization 4. Design


Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Carla Mathias Orlando y Heitor Romero Marques (2020): “Decoração de quartos infantis inspirados no método montessori”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, (enero 2020). En línea:
https://www.eumed.net/rev/cccss/2020/01/decoracao-quartos-infantis.html
http://hdl.handle.net/20.500.11763/cccss2001decoracao-quartos-infantis


1 INTRODUÇÃO

Ao se projetar um dormitório de criança, deve-se pensar na idade, na segurança, criatividade, liberdade e autonomia de escolha, por determinados jogos e brinquedos, objetivando promover a formação de hábitos favoráveis ao seu desenvolvimento, dando à criança a oportunidade de se organizar física e mentalmente. Se o que está em jogo é a liberdade e a estimulação da autonomia e criatividade na criança, cabe aos pais oferecerem ambiente preparado para que ela desenvolva e exercite suas capacidades de explorar tudo que está à sua volta, potencializando suas habilidades. Esta é a ideia do Método Montessori, criado pela médica italiana Maria Montessori (1870 – 1952) que depois se tornou educadora. A ideia do método era que ele se desenvolvia a partir do que as crianças faziam naturalmente por si só, sem a ajuda do professor, com liberdade de escolha e independência.
Depois de conquistar espaço como método de ensino, a partir da premissa de que a educação começa na criança e não no professor, esse método tem influenciado arquitetos e designers na elaboração de projetos de decoração e conquistando a simpatia de pais e mães preocupados com a qualidade da educação. A metodologia empregada para este trabalho consiste em pesquisa bibliográfica, cuja coleta deu-se em livros, revistas e sites.
Este trabalho sobre a decoração de quartos infantis inspirados no Método Montessori, pretende de demonstrar, a partir de estudos e referências bibliográficas com base em Clarice Mancuso (2013), Gibbs (2014), Pollard (1990), Montessori (s/d), entre outros, que é possível fazer uso de tal método na decoração ao se adaptar cores, mobílias, acessórios, brinquedos e materiais de aprendizagem adequados às crianças.

2 COMPREENDENDO O DESIGN DE INTERIORES
2.1 Questão conceitual: o papel do design de interiores

Com a necessidade de espaços cada vez mais detalhados e personalizados, aliados aos avanços tecnológicos e usos destes espaços de acordo com as características de cada cliente, surge o profissional de Design de Interiores, com atuação em área ampla com vários segmentos de conteúdos multidisciplinares de Design, Arquitetura, Artes, entre outras.
Clarice Mancuso (2013, p.61) dá uma breve descrição do significado da expressão Design de Interiores ao afirmar que: “Em primeiro lugar, devemos entender o significado da expressão “design de interiores”. Seria como “modelar” o espaço interior, dar-lhe uma nova leitura, compreender as necessidades daquele espaço, naquele momento, e transformá-lo segundo essas detecções”. O profissional de Design de Interiores está apto a realizar alterações no layout, trabalhar gesso, iluminação, revestimentos, sugerir diferentes cores e texturas, projetar móveis, trocar revestimentos em qualquer ambiente interno, seja ele residencial, comercial, industrial, estandes etc..
Em visa de seus conhecimentos, aliados às necessidades do cliente, o profissional poderá projetar alterações nos espaços de forma inovadora, ou propor ajustes e dar uma nova leitura ao ambiente (DESING E AÇÕES). Gibbs (2014, p.08) afirma que de acordo a Associação Internacional de Design de Interiores, a função de um designer de interiores é definida,

Através de sua formação acadêmica, experiência e especialização, o design de interiores profissional deve estar qualificado para aprimorar a função e a qualidade dos espaços interiores. Com o objetivo de melhorar a qualidade de vida, aumentar a produtividade e proteger a saúde, a segurança e o bem-estar público, o designer de interiores profissional:
- Analisa as necessidades do cliente, seus objetivos e as exigências de segurança e de seu estilo de vida;
- Associa suas conclusões ao seu conhecimento como designer de interiores
- formula conceitos preliminares de designer adequados, funcionais e                                                                                    estéticos;
- desenvolve e expõe recomendações finais de design através de mídias apropriadas para a apresentação;
- elabora o projeto executivo e as especificações de elementos construtivos não estruturais, materiais, acabamentos, layout, mobiliário, instalações e equipamentos;
- colabora com os serviços de outros profissionais qualificados das áreas técnicas de mecânica, elétrica e cálculo estrutural de acordo com as normas para aprovação do projeto nos órgãos competentes;
- organiza e administra orçamentos e contratos como representante do cliente;
- revisa e avalia as soluções de design durante sua implementação até sua finalização.

O papel de um designer é polivalente e envolve a relação com clientes e outros profissionais como arquitetos, engenheiros, eletricistas, marceneiros, gesseiros, pintores e muitos outros parceiros que se inter-relacionam pela própria multidisciplinaridade.

2.2 Breve histórico

Durante o século XVII, os mecenas foram fundamentais para o desenvolvimento do design de interiores e da arquitetura, especialmente na França, sendo os principais da época François Mansart, Louis Le Vau e Charles Le Brun. Os aposentos projetados por Le Vau foram decorados por Le Brun, que os transformou em algo admirável. Pode-se afirmar que Le Brun foi, legitimamente, o primeiro decorador de interiores da história (GIBBS, 2014).
Na Holanda, uma versão mais simplificada do estilo francês foi desenvolvida para atender à emergente classe média. Até o início do século XX, a indústria de móveis não existia no Brasil. O que havia era importado, ou feito, em raríssimos casos, por professores artesãos da corte de D. João VI. Naquela época, ser marceneiro era uma profissão importante, de status. Foi somente no início do século passado, com o desembarque de imigrantes no Rio e em Santos que iniciou a indústria e o comércio de móveis no país (OMB). Para Gibbs (2014, p.14),

A profissão do designer de interiores é relativamente nova, pois, do ponto de vista histórico, as diferenças entre arquitetos, artesãos e decoradores não eram bem definidas.  Quando observamos a interação entre essas diferentes profissões através dos séculos, percebemos um interessante padrão de relações.

Pode-se observar que, com a crescente demanda de fabricação de móveis ao longo da história, artesãos, marceneiros, estofadores e decoradores da época se viram condicionados a superar suas limitações em busca de um mobiliário mais leve e com materiais de qualidade.

2.3 Estilos de design

            A evolução do mobiliário está relacionada com as modificações progressivas das técnicas de fabricação. Com o passar dos anos, os móveis também acompanharam as influências geográficas, históricas e políticas e se adaptaram aos costumes da época.

2.3.1 Antiguidade: a arte e o mobiliário do Egito, da Grécia e de Roma

A organização política e social dos egípcios era voltada para a religião, refletindo por sua vez, na arte. Eles representavam a figura humana sempre de perfil, como característica da pintura egípcia. A segunda característica da pintura egípcia era o uso de afrescos feitos diretamente em muros ou paredes. Quanto ao mobiliário, encontram-se móveis de madeira, camas semelhantes às mortuárias, pernas de animais, formato de corpo de leão, cadeiras e cofres. Segundo Mancuso (2013, p. 172), “a arte egípcia é o primeiro exemplo histórico de arte dirigida pelo Estado, em nome de princípios religiosos, executada e apreciada por uma classe, os sacerdotes – classe dirigente”. Por sua vez a arte grega buscou no sentido de beleza, harmonia, equilíbrio e clareza elevar ao plano divino o intelecto humano.
A arte romana caracterizou-se pelo naturalismo, presa ao concreto e ao acidental, é arte na qual se afirma uma incontida vontade de grandiosidade, necessidade de domínio. O arco passou a ser elemento fundamental na arquitetura (DICAS DE ARQUITETURA). No mobiliário romano, salientou-se o uso de almofadas soltas, pés torneados para móveis, cadeiras pesadas, encosto curvo, suportes feitos por corpo ou patas de animais como leões ou dragões e o material usado era madeira e mármore (MANCUSO, 2013).

2.3.2 Idade Média: a arte gótica e a romana

            A Idade Média compreende o período que vai do século V ao XV.  Sua principal característica foi o feudalismo. Até o século XI, a economia era basicamente agrícola. Já na segunda época feudal, a população se concentrou nas cidades e reiniciou o comércio com a circulação de moedas. Quanto ao mobiliário e à arquitetura, houve a arquitetura bizantina, com a fusão da arte grega e romana com motivos orientais, cuja característica é o mosaico. A madeira utilizada era o carvalho, sem polimento ou verniz e as cadeiras dos senhores feudais eram em forma de trono com dossel, muito larguras e pouca altura. Os móveis eram retilíneos com ricas esculturas, com arco redondo, mesas longas formadas por tábuas e cavaletes e a decoração era rica em pinturas, talhas, tapeçarias e muito dourado (MANCUSO, 2013).

2.3.3 Renascimento

O Renascimento deu-se entre os séculos XIII e XVII, caracterizado pela exuberância nos oridntos. Originou-se na Itália, especialmente em Florença e Roma, difundindo-se em toda a Europa. Como a palavra indica, renascer significa voltar a algo esquecido, baseado na antiguidade clássica, renasce uma arte mais livre. Foi uma época rica em ostentação.
As madeiras usadas eram o castanheiro e o carvalho, geralmente usadas em marchetaria, espécie de incrustação de madeiras diferentes, marfim e ouro, formando desenhos. O mobiliário era caracterizado por apresentar estrutura retilínea e robusta, sem ser grosseiro, mas, com uso de muito entalhe profundo e alto-relevo. Os estofados eram de ouro, veludo e brocados, inspirados nos clássicos da Antiguidade, as cadeiras com pés em forma de tesoura e as camas, em geral, tinham dossel. Já no renascimento francês, havia cadeiras mais práticas, com espaldares mais baixos (MANCUSO, 2013).

2.3.4 Barroco

O Barroco é caracterizado por curvas nos volumes e superfícies, assim como efeitos decorativos e forte movimento das figuras, além dos efeitos contrastantes de luz e sombra. Possuem como descrições as linhas curvas, o excesso de oridntos em relação à estrutura, contornos vigorosos.  O esplendor e a pomba eram mais importantes no desenho de interiores do que o conforto, reforçando o estilo de inspiração religiosa jesuítica.
O Rei Luis XIV (1643 – 1715) representa o Barroco na França, período em que foram erguidos os palácios de Versalhes e Louvre, com forte presença de móveis exageradamente entalhados, representados por cadeiras enormes e pesadas, com estofaria parcial do braço, pés em “x” e “h”, trabalhados em serpentinas. Gibbs (2014, p. 14) salienta que:

Durante o século XVII, os mecenas foram fundamentais para o desenvolvimento do design de interiores e da arquitetura, especialmente na França, onde Henrique IV concedeu proteção real aos artesãos, Luis XIII promoveu um estilo próprio francês, e Luís XIV encomendou as extraordinárias intervenções no Palácio de Versalhes a arquitetos como François Mansart, Louis Le Vau e Charles Le Brun. Os aposentos projetados por Le Vau foram decorados por Le Brun, que os transformou em algo extraordinário. Pode-se afirmar que Le Brun foi, verdadeiramente, o primeiro decorador de interiores da história.

De influência espanhola, o período fez uso da palhinha no assento e encosto. Mesas e consoles com tampo em mármore, esculturas de anjos, leões, águias, conchas, caracterizado pelo excesso de volume, peso e adornos como santos barrocos.
2.3.5 Rococó

O Rococó foi uma tendência de origem francesa, mas, representada no Brasil, na época da Regência (1831 a 1840) e caracterizou-se pelo estilo excessivo em detalhes, sendo reconhecida como estilo de Luiz XV, na França e como de D. João VI, no Brasil. É um desenvolvimento natural do Barroco, representando a expressão da burguesia ascendente e os interesses e os hábitos de uma aristocracia palaciana, ociosa e decadente (MANCUSO, 2013).
As características do Rococó foram a decoração de interiores, com ângulos ovais, o uso de espelhos, elementos florais, pinturas claras e cenas mitológicas que representavam ambientes, de inspiração feminina. Os oridntos principais dessa arte foram às volutas, as asas, a talha dourada e o excesso de folhas, marchetaria e curvas (MANCUSO, 2013).

2.3.6 Neoclássico

O Neoclássico foi um gênero artístico representado na França por Luiz XVI, cuja característica é o excesso no mobiliário, em geral bastante enfeitado, com uso de cadeiras e móveis com pés em mísulas e estípete ou com pernas caneladas. Segundo Gibbs (2014, p.17),

[...] O estilo neoclássico era racional e de uma elegância contida, caracterizado pelo uso de formas geométricas simples, decorações em superfícies planas e lineares, e oridntos com motivos gregos e romanos. Desenvolveu-se na Europa a partir da década de 1750, como uma reação aos excessos do estilo Rococó e difundiu-se na França para Espanha, Holanda, Alemanha e Escandinávia.

Devido ao uso das formas geométricas, a característica principal foi o rompimento do triângulo, dando espaço para o círculo, semicírculo e oval nas estruturas dos baldaquins que eram presos no teto por fios de sedas às camas.

2.3.7 Século XIX: o estilo vitoriano e o estilo império

Houve dois estilos de design, no século XIX. Na Inglaterra, foi representado pela Regência e estilo "vitoriano", muito pesado, com muita tendência visual e pouco conforto. O mobiliário excessivamente grande com curvas, talhados, e oridntados em simetria e uso excessivo do veludo capitonê. Em França, o estilo "império" foi mais elaborado na corte de Napoleão. Estilo exótico, frio, austero e masculino. O elemento decorativo marcante foi a inicial "N" de Napoleão. Uso excessivo da marchetaria1 (MANCUSO, 2013).

2.3.8 Século XX e Contemporaneidade

Com o surgimento das indústrias, substitui-se o móvel artesanal pelo industrializado, na busca do conforto aliado à beleza que, fomentando novas formas e materiais ligados às tecnologias e criatividade que estimularam o surgimento de diversos estilos (MANCUSO, 2013), os quais estão mencionados a seguir.

2.3.8.1 Art Nouveau (1870 a 1910)

O art nouveau ou arte nova foi um estilo de arquitetura e artes que se originou numa época em que as moradias se modernizaram e passaram a ter o conforto da água e do gás.  Esse estilo de linhas onduladas e sem simetria, baseava-se em formatos vegetais e adornos com motivos florais. Foi um movimento que teve dois momentos estilísticos. O primeiro foi de liberdade, em que formas flexíveis, contorcidas, imitavam vegetais numa oridntação irregular, assimétrica. Neste mesmo momento, o expoente era o espanhol Antonio Gaudi. No segundo, o art nouveau voltou-se para a linha reta, dando um passo decisivo nas formas do século XX. A figura máxima neste momento é o escocês Charles Mackintosh, que abriu caminho para a linguagem da Bauhaus, influente escola de design alemã da época, do art decó e todo o design contemporâneo.

2.3.8.2 Art Déco (1925 a 1930)

A art déco está enraizada no art nouveau e salientou as linhas retas ou esféricas, as figuras geométricas e o desenho de natureza abstrata. Noutras palavras, os arquitetos buscaram inovações em que a paixão pelo concreto armado eliminou os oridntos.

A Bauhaus, escola de artes e ofícios criada na Alemanha, é responsável por toda uma geração de artistas disposta a romper com o passado e conseguir que a arte contemporânea encontrasse a sua originalidade e se exprimisse em todos os domínios. Os métodos de ensino de Bauhaus fizeram com que aparecessem tipos de móveis diferentes, tanto na forma como no material [...] (GIBBS, 2014, p.24).

Na art déco a decoração e o mobiliário destacavam a simplicidade, a utilidade e a economia. Os artistas deixaram de projetar para a burguesia e passaram a projetar para a indústria, objetivando a fabricação industrial com qualidade. As linhas são simples e valorizam as formas geométricas.

2.3.8.3 Funcionalismo (1918)

            O Funcionalismo é oriundo de movimentos da arte moderna e iniciou-se pela ação de um grupo de artistas entre 1918 e 1930. Segundo Mancuso (2013), o funcionalismo defendia o uso restrito de cores, oridntos e características arquitetônicas tradicionais. Por esse motivo, era necessário possuir aptidões consideráveis em design para a obtenção de bons resultados. Alguns dos móveis continuam a ser fabricados até hoje como é o caso chaise longue , de Le Corbusier que, na França, cria móveis dentro do estilo at nouveau.
         
2.3.8.4 Organicismo (1930)

O Organicismo surgiu como reação à frieza do móvel funcional e sua falta de intimidade, resultando no aparecimento da madeira moldada. As características do móvel organicista consistem na ausência de linhas retas e superfícies planas, assim como de arestas e ângulos: preferência pelos ocos, utilização à vista de materiais nobres incluindo a madeira, o metal, o vidro, e os tecidos combinados com plástico e grande preocupação com a cor.

2.3.8.5 Design contemporâneo (1950)

            Com o urbanismo crescente houve produção em massa de móveis adaptáveis às dimensões modernas: móveis de sobrepor, justapor, assentos de abrir e fechar, móveis compactos. Novos materiais concorrem com a madeira, por razões estéticas e econômicas.
Surgiu à valorização do designer - o desenhista industrial -, que cria o móvel que será reproduzido em massa.  A partir disso o design deixa de ser somente arte pura e passa a ser utilitária, adaptando-se às necessidades do mercado

2.4 Segmentação do mercado

Tradicionalmente, o design de interiores constitui duas categorias: residencial e comercial. O primeiro desenvolve projetos e especifica materiais e produtos destinados às moradias; enquanto que o segundo envolve o planejamento e o design de edificações de uso público, como escritórios, lojas, restaurantes, museus e hospitais.
De acordo Mancuso (2013), são várias as áreas a serem trabalhadas no interior de uma residência, dentre elas: áreas sociais (hall de entrada, estar social, sala de jantar, escritório, sala de jogos e lavabo); áreas íntimas (dormitórios e banheiro) e áreas domésticas (cozinhas, copas e lavanderia).
Alguns designers de interiores preferem se dedicar de forma especializada a determinados segmentos de atuação, como casas de campo, suítes de casal, cozinhas gourmets ou restaurações históricas. Neste estudo vamos nos ater no design de quartos infantis.

2.4.1 Quartos infantis

            Decorar o quarto infantil é ter a oportunidade de planejar de modo a criar um espaço para proporcionar segurança, conforto, boas condições de sociabilidade, favorecer hábitos de brincadeiras, leituras, higiene, ordem e estímulos para seu desenvolvimento físico e mental.
Já foi provada, por meio de inúmeros estudos, a influência que a arquitetura e o design de interiores exercem sobre a evolução da criança. A partir disso, apresenta-se uma breve análise das diferentes fases de crescimento de uma criança e como isso reflete no modo como elas se relacionam com o seu entorno.

2.4.1.1 Primeira Fase: 1 ano

O aposento infantil deve ter luz abundante e se possível, natural. Um espaço bem iluminado, com janelas e varandas ou com dimer para controle de intensidade de luz, quando há necessidade de luz artificial, têm maiores chances de se tornar o seu espaço favorito:

Durante os primeiros doze meses de vida, a criança relaciona-se com o ambiente através da visão e do tato, embora também sejam capazes de ouvir e interpretar sons. Qualquer brinquedo que se mova dentro do seu campo de visão atrai a atenção da criança, e ainda mais se o brinquedo emitir algum tipo de música ou som agradável (ETCHETTO, 2011, p.22).

O berço ou a cama é o móvel de maior importância. Deve ser disposto de forma que a criança tenha uma visão do conjunto. A cômoda também é de grande valia, pois, além de acomodar as roupinhas, poderá ser utilizada como trocador. Deve haver uma poltrona ou cadeira para a mãe amamentar a criança. A banheira pode estar no dormitório nos primeiros meses, mas, é recomendável adaptá-la ao banheiro, quando a criança começar a movimentar-se bastante, dificultando a limpeza do quarto (LAR MONTESSORI).
Uma observação interessante seria a de se trabalhar com pintura ou lâmpadas de led de embutir no teto, tipo fibra ótica ou drywall, pois, a criança recém-nascida, por passar grande parte do tempo deitada, vê o teto como uma parede e os móbiles, especialmente os musicais, usados acima do berço contribuem para estimular a criança. Os cantos dos móveis deverão ser protegidos e os objetos pesados deverão ser acomodados nas partes mais baixas das prateleiras. A cortina deverá ser curta, para que não pese no ambiente, de tecidos facilmente laváveis e os móveis em geral em cores claras.

2.4.1.2 Segunda Fase: de 1 a 3 anos

Nesta fase, quanto mais espaço livre para a criança brincar, melhor. Pode ter um tapete central de forma a demarcar a área como espaço de brincadeiras. O espaço passa a ser o fator de maior importância. O berço vai sendo deixado de lado, dando lugar para a minicama. Para maior segurança, as janelas deverão ser protegidas com telas ou grades. Os objetos, tecidos e materiais usados na decoração deverão ser laváveis.
Por volta dos quinze meses, a criança começa a levantar-se sozinha, aprende a andar e a experimentar tudo o que está a sua volta. Há a necessidade de um roupeirinho, pois já aparecem as roupas de cabide. Começa-se a introduzir cores menos suaves e mais vibrantes. Dessa forma, a decoração possui a finalidade de despertar a atenção da criança, com motivos que as agradam e estimulam como letras, plantas e flores, números, animais, podendo estes aparecerem em painéis, placas ou no revestimento das paredes. Aos dois anos, a capacidade psicomotora da criança está desenvolvida e ela explora o meio envolvente e começa a entender que uma casa é feita dos espaços que a compõem. Daí a importância das estantes baixas, os cestos e os baús como instrumentos úteis para guardar objetos e brinquedos, bem como as mesinhas com cadeiras em tamanho adequado às crianças para pintar, riscar e modelar. Por fim, de acordo Etchetto (2011), aos 3 anos de idade, as crianças começam a relacionar-se com o ambiente de uma forma mais ‘adulta’. Têm mais consciência das suas necessidades e tentam satisfazê-las, utilizando todos os meios que estão ao seu alcance.
2.4.1.3 Terceira Fase: de 3 a 7 anos

Nesta fase, a cama deixa de ser objeto central da decoração do quarto, podendo até ser encostada junto à parede. Até a criança ter cinco ou seis anos, os critérios dos pais serão decisivos no planejamento e na decoração do espaço. A partir desta idade deverão ser “consultadas” quanto à cor dos móveis, das paredes ou das roupas de cama.
Aos quatro anos a criança desenvolve um uso mais “adulto” dos espaços da casa. Vai continuar a brincar durante muito tempo, a correr e fazer muitas atividades físicas, por este motivo a importância de introduzir no mobiliário brinquedos que a estimulem e exercitem como a bola e os blocos de madeira empilháveis..
Com cinco anos a criança começa a viver a fase a que os pediatras chamam de “primeira infância” e a casa começa a ficar tranquila novamente. Enquanto os meninos preferem brincar com outros coleguinhas, as meninas preferem passar mais tempo entre os adultos e as amiguinhas. Há necessidade de projetar um espaço para os livros, incentivando a criança à leitura.  A música, também passa a integrar o universo da criança, daí a importância de se inserir instrumentos musicais no quarto, podendo ser um chocalho, um tambor, uma flauta doce simples, um violão, ou um pequeno órgão.
A partir dos seis anos a criança relaciona-se com o ambiente de modo “quase adulta” e têm a necessidade de brincar no exterior, no meio envolvente. Começa a ir à escola e torna-se mais “madura” aceitando as regras sociais. Dessa maneira, o móvel principal passa a ser a escrivaninha, a mesa ou bancada, ou seja, local onde serão feitos os deveres escolares. O local deverá ser bem iluminado e espaçoso o suficiente para que possa realizar as atividades manuais.
De acordo Etchetto (2011), o mais normal é que a criança, ao invés de arrumar os brinquedos depois de brincar com eles, prefira empilhá-los dentro de uma caixa de vime ou plástico. Um baú grande ou uma arca será ideal para guardar todos os brinquedos.
2.4.1.4 Quarta Fase: de 7 a 12 anos
            Nesta fase, além do móvel principal ser o local de estudo, é parte integrante dele o computador. Os livros e revistas devem estar próximos e fáceis de serem consultados, para isto, as prateleiras são ótimas opções de resolver esta necessidade de arrumação. Uma cadeira com rodízios irá permitir que a criança se desloque da mesa às prateleiras.
Uma das peças útil nesta fase é um pequeno sofá ou pufes espalhados pelo quarto, pois a criança já recebe os amiguinhos em seu aposento. Quadros ou murais para fotos, lembretes e avisos também são úteis. Uma boa ideia é revestir as peças de cama com cores atraentes como os lençóis, edredons ou cobertores, combinando com almofadas. Tudo antialérgico e de fácil lavagem, facilitando a manutenção.
A partir dos dez anos as crianças começam a entrar no mundo adulto e nessa idade, qualquer alteração em seus quartos deve ser consultada. Como nessa idade a criança irá passar longas horas estudando, precisará de um espaço de trabalho bem maior, praticamente igual ao de um adulto. Há a necessidade de incluir um módulo de gavetas e cadeira ergonômica.
Segundo Etchetto (2011, p.57) “embora seja recomendável consultar uma criança de seis a nove anos em relação a pormenores puramente estéticos do seu quarto, a partir dos onze, é melhor considerar seus gostos no que diz respeito aos detalhes principais: os móveis e a sua disposição no quarto”.         A melhor opção para mobiliar o quarto de um adolescente é escolher mobiliário modular e adaptável, permitindo desta forma, conforme o crescimento e as mudanças de necessidades e hobbies fazer alterações, uma vez que o quarto torna-se um espaço privado. Um aparelho de som e uma televisão serão muito bem-vindos. Ademais, uma boa sugestão é ter um ponto de acesso independente, dando-lhes mais privacidade ao dormitório.

3.  COMPREENDENDO O MÉTODO MONTESSORI
3.1 Maria Montessori: vida e trajetória

Maria Montessori nasceu em 31 de agosto de 1870, em Chiaravalle, Itália. Com cinco anos mudou-se para Roma e aos seis anos entrou na escola. Nos primeiros anos não se destacou entre os alunos. Uma decisão que tomou era que não seria professora. Sua ambição era tornar-se engenheira, decisão esta vedada por seu pai mais tarde.
Maria queria aprender matemática e essa era uma opção tão incomum para meninas que teve que se matricular numa escola secundária para rapazes. Como nas outras escolas aprender significava decorar e repetir em coro as aulas para o professor em “exercícios diários”. A monotonia desse método a influenciou e em 1886, entrou para a escola técnica. Mais tarde, ela tomaria uma decisão que lhe traria desacordo com a família: seria médica.
Após seis anos extenuantes, aos 26 anos foi a primeira mulher da Itália a formar-se em medicina. Em 1896, no mesmo em que se formou, fez sua primeira viagem ao exterior e em Berlim foi convidada para fazer seu primeiro discurso feminista a favor dos direitos trabalhistas das mulheres. Maria tinha naturalmente o dom de falar em público. Suas ideias e opiniões feministas estavam bem à frente de sua época e logo cativou a audiência de plateias no mundo inteiro. Sua carreira progredia e então passou a tratar de doentes mentais. Além disso, desenvolvia seu próprio trabalho de estudo e pesquisa e mantinha seu consultório onde atendia mulheres e crianças. Nunca lhe faltara tempo para seus temas principais: o feminismo e a educação para crianças. Em 1899 foi convidada a assumir a direção de uma nova escola para crianças deficientes mentais em Roma, função que exerceu por dois anos.
Mais tarde, desistiu do cargo de diretora da escola em Roma e retornou à universidade como estudante de pedagogia, higiene e psicologia. Aos poucos se voltava para a carreira na qual dizia não estar interessada: o ensino. Os métodos de ensino eram obtusos, os professores despreparados e as condições precárias levavam as crianças a perder o interesse pelas aulas.
Montessori tinha cada vez mais convicção de que os métodos que usara com as crianças deficientes podiam ser adaptados para as crianças normais. Ela desenvolveu muitas ideias nessa época que hoje são aceitas sem restrições: relacionou a capacidade das crianças de aprender com sua saúde física e a alimentação; foi a primeira a dizer que fazer os alunos aprender à força era errado. As crianças queriam aprender, disse ela, desde que lhes fornecessem os materiais e as experiências adequadas. A pesquisa de Maria provou que as crianças passam por um período mais sensitivo dos dois anos e meio aos 6, e durante essa fase sua mente é receptiva à aprendizagem de forma diferente da de qualquer outra faixa etária. Os materiais que ela desenvolveu e o ambiente que criou davam-lhes uma oportunidade de ganhar independência e capacidade de reflexão [...] (POLLARD 1990, p.25).

Maria Montessori tinha a capacidade de tornar o estudo da educação, que naquela época tinha fama de ser monótono e sem vida, em algo envolvente e encantador. 

3.2 Casa dei Bambini: O “ambiente preparado”

            Em 06 de janeiro de 1907, Montessori abriu sua primeira Casa dei Bambini  frequentada pelas crianças de San Lorenzo, um bairro na periferia de Roma. Eram crianças de cortiço: mal alimentadas, pobres, criadas sem cuidados. Segundo Pollard (1990, p.10):

A abertura da primeira Casa das Crianças em San Lorenzo, [...], foi o início de uma revolução educacional que se expandiu e afetou todos aqueles que foram à escola nos últimos sessenta anos. Iria inclusive mudar a forma de tratamento e a compreensão das crianças pelos adultos e até o tipo de brinquedos que possuíam em casa. Maria Montessori tinta 37 anos em 1907. Era bastante conhecida na Itália como médica, conferencista e participante da luta pelos direitos da mulher, mas o trabalho que iniciou em San Lorenzo tornou-a internacionalmente famosa.

Naquela época, o método de aprendizagem era decorar e repetir em coro as aulas, falar era proibido e nem havia material para escrever. Montessori escolheu o nome Casa dei Bambini com carinho. Não era por acaso que a sala fora mobiliada com mesas de tamanho infantil e não com carteiras escolares. Segundo Pollard (1990, p.9):

Para as crianças de San Lorenzo, ela encomendou o mesmo material didático utilizado com os deficientes mentais. Esse material ficou conhecido como “aparato didático” e foi designado para possibilitar que as crianças se disciplinassem por tentativa e erro. O princípio vital era que elas descobrissem por si mesmas [...] suas próprias atividades e descobriam o que poderia ser feito com aqueles materiais.

Em relatos de experiências as crianças demonstravam estar ansiosas para iniciar as atividades e sabiam o que fazer. Eram as crianças que deveriam decidir o que queriam fazer, com liberdade de escolha. Desse modo, ela desenvolveu um quadro de como as crianças aprendem. Queriam aprender, mas do modo que escolhessem. “[...] à medida que as crianças adquiriam aptidões, mais atividades eram introduzidas. Ajudavam a preparar e a servir o almoço. As flores e as plantas eram regadas, e os objetos quebráveis, guardados na sala. Surgiam bichos de estimação (POLLARD, 1990, p.32).
Em 1909 o trabalho de Montessori deixaria de ser uma série de experiências em educação, para tornar-se um movimento mundial com “Casas” abertas em vários países como Grã Bretanha, Estados Unidos, México, Índia, China, Coréia, Argentina e Havaí. De acordo Pollard (1990, p.47), Montessori descreveu como seria a sala de aula perfeita para as crianças:

Uma Casa das Crianças deve ser uma casa de verdade, [...] vários cômodos com um jardim cuidado pelas crianças. O ideal é que o jardim tenha caramanchões, para que as crianças possam brincar ou dormir a seu abrigo ou levar as mesas para fora trabalhar. Desse modo, poderão ficar quase o tempo todo ao ar livre e protegidas da chuva e do sol. A mobília deve ser leve [...] para que as crianças a mudem de lugar e pintada com tinta brilhante. Além de cadeiras de madeira, deve haver pequenos sofás e poltronas de vime. Um item importante da sala principal é o armário longo e baixo para os materiais de aprendizagem, projetado de forma que a criança pequena tenha acesso fácil a todas as suas partes ao fazer sua escolha. [...] A sala ideal também deve ter [...] lousas baixas para o uso das crianças e ser agradável, adornada com quadros, plantas e flores. No chão, tapetes para as crianças se sentarem.

O método Montessori não era uma simples questão de substituir materiais de aprendizagem e mobiliário. Por meio de seus inúmeros estudos acerca das crianças menores, a infância pode ser aterrorizante. O nascimento é o momento grande mudança. Maria Montessori (s/d, p.35) descreve bem essa passagem:

Ainda persiste nas famílias ricas a preocupação com a magnificência do berço e as rendas preciosas para as roupas do recém-nascido. [...], o luxo para os recém-nascidos demonstra a total ausência de consideração pela criança psíquica. A riqueza da família deveria prover a criança privilegiada do melhor tratamento e não de luxo. O melhor tratamento para ela seria ter um lugar protegido do barulho da cidade, onde exista silêncio suficiente e seja possível moderar e corrigir a iluminação. A temperatura constante de um ambiente aquecido, como já há algum tempo existe nas salas de operações, deveria constituir a preparação para receber a criança nua.

3.3 Descobrindo os sentidos: os materiais adequados às crianças

            O aparato de materiais que Montessori desenvolveu é indispensável para seu método. Os materiais foram baseados em suas observações e experimentações para dar diversidade de uso dos sentidos: o tato, a visão, a audição e o olfato. Montessori (1987, p.99 e 173) descreve:

Os primeiros órgãos que começam a funcionar na criança são os sensoriais. Ora, que são eles senão órgãos de captação, instrumentos através dos quais agarramos as impressões que, no caso da criança, devem ser encarnadas? Quando olhamos, que coisa vemos? Vemos tudo aquilo que há no ambiente; do mesmo modo quando começamos a ouvir escutamos cada som que se produz no ambiente. Podemos dizer que o campo de captação é muito amplo, quase universal e é este o caminho da natureza. Não se absorve som por som, rumor por rumor, objeto por objeto; começamos absorvendo todas as coisas, uma totalidade. [...] Estes são os dois sentidos particularmente ligados ao desenvolvimento: audição e visão. No desenvolvimento da criança ocorre, antes de tudo, a observação daquilo que está ao seu redor, pois deve conhecer o meio ambiente através do qual se movimenta.

Os conjuntos de cartões com letras em diferentes graus de aspereza e suavidade possibilitavam à criança adquirir o conhecimento físico da letra, através de suas formas, curvas e retas, passando a escrever e a formar a letra facilmente. Cilindros de lados retos e diâmetros distintos e uma base na qual deviam ser encaixados. Cubos de madeira de tamanhos variáveis para serem empilháveis, blocos em forma de prisma, xilofones, pedras de contar, quadrados, placas e cartões com superfícies e textura desiguais, vários tipos de materiais como tecidos, madeiras, bases com diferentes formatos geométricos para encaixe, todos esses materiais eram brilhantes, em formas geométricas e a qualidade devia garantir-lhes resistência. Tudo era milimetricamente talhado para as pequenas mãos infantis e depois experimentado inúmeras vezes até se tornar exatamente adequado às crianças.  Esses conjuntos levavam a um conceito distinto, de cálculo, medida ou volume.
Com esses materiais sensórios, mesmo crianças de 4 anos podiam aprender conceitos de matemática e de geometria, com liberdade de escolha de seus próprios materiais e na maioria das vezes aprendiam a usá-los umas com as outras (MONTESSORI, 1987).

4. O MÉTODO MONTESSORI
4.1 Liberdade de escolha

            Foi a partir de observações das crianças que Maria Montessori delineou o que se chamaria Método Montessori. A ideia era a de que ele se desenvolvia a partir dos que as crianças faziam naturalmente. Ela acreditava que as crianças sabiam como deviam ser ensinadas. “E, mesmo em escolas que não seguem todas as concepções de Montessori, a ideia de que a educação começa na criança, não no professor, se tornou uma das pedras fundamentais na educação das crianças menores” (POLLARD 1990, p.29).
Mais tarde, Montessori relatou novas descobertas sobre como as crianças se comportam e aprendem. Para ela as crianças deviam decidir o que queriam fazer, sem a interferência da professora. As crianças deviam ter liberdade de escolha e independência. As crianças ansiavam em poder decidir por si mesmas. Os professores, segundo Montessori, é que deviam “seguir a criança” (POLLARD, 1990). E, essa era a ideia central da filosofia por trás do Método Montessori. Ela abrangia a compreensão do ponto de vista da criança e dedicava-se a estudar as crianças e entender os motivos de suas ações. Como ela sempre dizia, “a criança vem em primeiro lugar”. Dessa forma, eram as crianças que ensinavam o professor. A essência do ensiidnto de Montessori era que a todas as crianças devia ser dada a oportunidade de serem pacíficas, calmas e organizadas entre elas, dando-lhes oportunidade de ficarem em paz consigo mesmas e crescerem como uma geração mais tranquila e amantes da paz no futuro. Segundo Montessori em A Criança (s/d, p.130-1):

[...] é o ambiente que capta as energias, porque oferece os meios necessários ao desenvolvimento da atividade que dela resulta. [...] o adulto também faz parte do ambiente e deve adaptar-se às necessidades da criança, bem como torná-la independente, a fim de não servir-lhe de obstáculo e de não substituí-la nas atividades através das quais se efetua o seu amadurecimento.

4.2 Crianças querem atividades, gostam de aprender e anseiam por ordem e silêncio.

            Para Montessori as crianças estavam ansiosas para começar as atividades e também já sabiam o que fazer. Além de não precisarem da ajuda de um adulto para começar as atividades, elas inclusive já haviam escolhido sozinhas, os objetos e materiais que queriam. Notou que, embora houvesse vários brinquedos na Casa, as crianças preferiam e escolhiam trabalhar com os materiais sensórios.

 [...]    Entre as revelações feitas pela criança, existe uma essencial: o fenômeno da normalização por meio do trabalho. O homem se constrói trabalhando, efetuando trabalhos manuais nos quais a mão é o instrumento da personalidade, o órgão da inteligência e da vontade individual, que edifica a própria existência perante o ambiente. O instinto infantil confirma que o trabalho é uma tendência intrínseca da natureza humana, o instinto característico da espécie. [...] A criança cresce com o exercício; sua atividade construtiva consiste num autêntico trabalho que surge materialmente do ambiente exterior.  A criança se exercita e se movimenta fazendo experiências; assim coordena os próprios movimentos e vai registrando as impressões provenientes do mundo exterior, que lhe plasmando a inteligência, conquista afanosamente sua própria linguagem à custa de milagres de atenção e de esforços iniciais que só a ela são possíveis, e, através de irrefreáveis tentativas, consegue manter-se de pé e correr (MONTESSORI, s/d, p. 228-9).

A repetição dos exercícios dava às crianças da “Casa” ao sentimento de segurança já que saberiam que os objetos, desde que não estivessem sendo utilizados, estariam sempre no mesmo lugar, à disposição para quem os precisasse; além de ensinar-lhes valores importantes como o respeito pelos próprios materiais e pelas outras crianças que os utilizam.

Em seguida, ficou evidente que cada exercício de movimento, no qual cada erro pode ser notado como, neste caso, o barulho em meio ao silêncio, leva as crianças a aperfeiçoá-lo: a repetição do exercício é capaz de levar qualquer um a uma educação exterior das ações tão perfeita que seria impossível consegui-la através de ensiidntos externos (MONTESSORI, s/d, p.146).

Os estudos montessorianos revelaram que as crianças gostam muito de silêncio e se esforçam muito para preservá-lo. Foi através de uma de suas experiências chamada por Montessori de “Jogo do Silêncio”, que pode observar que por meio deste simples exercício, capaz de lhes transmitir um sentimento de tranquilidade, estaria dando a oportunidade das crianças se tornarem calmas, pacíficas e organizadas. Na obra A Criança (s/d, p. 65- 6), a autora descreve sua experiência sobre ordem:

Um dos períodos sensíveis mais importantes e mais misteriosos é o que torna a criança extremamente sensível à ordem. Tal sensibilidade manifesta-se já no primeiro ano de vida e prolonga-se, também, ao segundo. [...].  Já entre um ano e meio e dois anos de idade elas demonstram claramente, embora de forma confusa, sua exigência de ordem no ambiente. A criança não deve viver na desordem porque esta lhe causa um sofrimento que se manifesta através do choro desesperado e até mesmo de uma agitação persistente [...].

Pode-se afirmar que um ambiente adequado à criança, há de se manifestar de maneira positiva à sua sensibilidade, seja por meio de expressões de entusiasmo, alegria ou satisfação já nos primeiros meses de vida.   

5 APLICAÇÃO DO MÉTODO MONTESSORI NO DESIGN DE QUARTOS INFANTIS.
5.1 Como montar um quarto Montessoriano

Com base em Montessori, a primeira observação para a montagem de um quarto montessoriano é a escolha do local do colchão, de modo que a criança tenha a visão da totalidade do entorno, possibilitando o domínio do ambiente, uma vez que o ponto de vista da criança não é só a altura de seus olhos ou o alcance de seus braços, mas também o comprimento de suas pernas. Um quarto muito grande com excesso de móveis e brinquedos é pouco útil; além de comprometer a organização, pois, o ambiente ficaria de tal maneira poluído que  a criança não conseguiria de nenhuma forma ter controle total sobre ele.
Na Pedagogia Montessoriana, o tratamento da criança deve ser considerado como uma questão social, o foco é o desenvolvimento humano, tendo em vista que a criança aprende experimentando. O quarto deve passar por transformação, obedecendo aos requisitos higiênicos com quadros e textura para que a criança fique deitada sobre uma base ligeiramente inclinada, com a finalidade de dominar o conjunto do ambiente sem se ver obrigada a ficar com os olhos presos ao teto.                                                                                 
Os itens que compõem a montagem e a decoração de um dormitório infantil inspirado no Método Montessori e que devem ser observados pelo profissional de design de interiores para que se obtenha êxito na elaboração do projeto são: a cama, a mobília e os estímulos.

5.1.2 A cama

A cama pode ser um colchão em um estrado baixo para proteção da umidade e da temperatura do piso, ou propriamente uma cama, excluindo a necessidade de ser um berço, sem risco à saúde e segurança. Quando o bebê ainda é muito pequeno o ideal é proteger este colchão com almofadas ou rolinhos para que a criança não corra o risco de rolar ou cair.
Durante o dia é importante que a cama fique sem proteção, facilitando o acesso à criança ao subir e descer. Ao lado do colchão, poderá ser colocado um tapete para que a criança não pise no chão frio quando acordar.  Este tapete poderá ser deslocado até o centro do dormitório ou em um dos cantos, tornando-se o local das brincadeiras.

5.1.3 A mobília

            A mobília do quarto infantil deve ser simples e leve para que a criança mude de lugar e deve ser pintada com tinta brilhante. Como as crianças gostam de ‘ser’, mais do que de ‘ter’ e querem se descobrir por meio de suas próprias experiências (erros e acertos); a maior contribuição é proporcionar-lhes a possibilidade de serem pleidnte desenvolvidas.
Os objetos num dormitório montessoriano são: um espelho horizontal baixo e bem preso para que o bebê veja seu corpo e movimentos. Além do espelho, há a prateleira. As estantes devem ser baixas, abertas ou com puxadores a fim de que a criança alcance os brinquedos e outros materiais. Elas são instrumentos de organização e deve ser projetados de forma que a criança tenha acesso fácil a todas as suas partes ao fazer a sua escolha.
Os brinquedos poderão ser acomodados em caixas e identificados com etiquetas, com o cuidado de não exceder na quantidade de opções, pois isso deixaria a criança confusa. Se desejarmos que a criança saiba escolher o que vestir e calçar, devemos deixar algumas de suas peças de roupas e calçados em fácil acesso (DECORA MONTESSORI).
Outro conteúdo importante é uma barra na parede para ajudar a criança a andar, sem depender da ajuda dos pais. Ademais, podem-se pendurar objetos nesta barra, com espaços de intervalo, para que a criança tenha objetivos a atingir quando tentar caminhar. A utilização da barra precisa ser ensinada, passo a passo, ao perceber que o bebê está tentando levantar e dar os primeiros passos. A barra poder ser de ferro ou madeira, e devidamente fixadas a mais ou menos 50 cm do chão, variando conforme a altura da criança (TEMPO JUNTO, 2015).
O espaço é o bem de maior valor no dormitório infantil montessoriano, pois assim a criança tem mais espaço para brincar, aprender, se exercitar e se mover. Outra dica para criar a impressão de amplitude no ambiente, principalmente se o quarto for pequeno é optar por móveis planejados sob medida, pois além de otimizar os espaços, eles acompanham o crescimento das crianças durante alguns anos. A janela também é um item muito importante para que haja luz natural no quarto, sendo sempre a melhor opção.

5.1.4 Os estímulos

Os estímulos de que a criança realmente necessita são os do mundo que a cerca: os brinquedos e os materiais, assim como os livros. Um pequeno cantinho para a leitura será o suficiente e os livros podem ser organizados em caixotes de madeira pintados e fixados nas paredes, em altura acessível às mãos da criança. Os livros podem ser só de leitura e mesmo se a criança ainda for muito pequena, apenas o exercício de abrir, olhar figuras e virar páginas já será interessante e estimulante para a criança.  
A sensação causada pelos materiais assim como a escolha dos móveis adaptados à criança e do uso de cores brilhantes são os fatores de maior impacto em um quarto montessoriano, juntamente com o uso da luz natural e das paredes decoradas com quadros, um pequeno vasinho com planta, para cuidar e regar, assim como tapetes para se sentar.
A madeira sempre será a melhor escolha no quarto Montessori, tanto para os móveis quanto para os brinquedos e materiais de atividades, pois além de oferecer prazer para os sentidos, possui temperatura agradável, refletindo ou absorvendo o calor na medida ideal, proporciona sensação aconchegante pelo visual e por absorver sons.
Uma boa opção para os bebês recém-nascidos são os móbiles de madeira com sons, tomando sempre o cuidado de não colocá-los sobre o colchão ou a cama, pois estes são espaços de dormir. Os móbiles, para que sirvam de estímulo à criança ser colocados em espaços de trabalho e movimento, como diante do espelho ou perto do tapete de atividades.
A música é muito importante para a criança, assim como o movimento. Vale à pena inserir no ambiente da criança, ainda quando recém nascida, um aparelho de rádio para que possa ouvir músicas infantis e de composições clássicas em geral.

6 CONCLUSÃO

Com este estudo percebe-se que há mais de cem anos a filosofia de Maria Montessori vem revolucionando o mundo educativo. Suas teorias e métodos baseiam-se em experimentos e observações que levam a conclusões óbvias porem, que nem sempre se cumprem: a busca da independência e autonomia da criança, oferecendo meio adaptado para que possa desenvolver suas habilidades naturalmente segura, tranquila. Em Mente Absorvente, a autora defende que a criança recém-nascida, antes que comece a se movimentar, já lhe ocorre um desenvolvimento psíquico inconsciente em que ela já preparou o seu ambiente através de impressões sensoriais como os da audição e visão, observando todas as coisas que se encontram ao seu redor e ao iniciar seus primeiros movimentos vai elaborando com suas mãos e tomando consciência tudo aquilo que sua mente absorveu anteriormente através experiência do ambiente, sob a forma de brincadeiras, ela examina as coisas e as impressões que recebeu na sua mente inconsciente e através do trabalho torna-se consciente e constrói o ser humano. 
O desenvolvimento educacional que Montessori defende, o primeiro período é a parte mais importante da vida da criança, que vai desde o nascimento até os seis anos - pois é nesta fase que se forma a inteligência e o complexo das faculdades psíquicas.
A intenção aqui foi a de disseminar o Método Montessori e agregá-lo nos projetos de design de interiores de dormitórios infantis.O ambiente bem projetado, rico em estímulos que motivem a atividade e convide a criança a realizar as suas próprias experiências com segurança, liberdade e independência, é muito mais atrativo do que os projetos de dormitórios tradicionais. O quarto montessoriano vem conquistando cada vez mais a simpatia de pais e mães, além de ser bem menos oneroso. Além disso, ficou mais fácil identificar quais motivos de atividades devem estar presentes no ambiente para proporcionar à criança uma oportunidade de exercício funcional, reconhecendo quais tipos de materiais sensórios desenvolvem mais suas capacidades, o tipo de cama adequada, mobília e os brinquedos apropriados de acordo com cada idade. Aos adultos cabe o papel de facilitadores, propiciando ambiente interessante e estimulante no qual as crianças possam se desenvolver livremente.

REFERÊNCIAS
DECORA MONTESSORI. Monstessori e brinquedos educativos.  Disponível em: <http://www.decoramontessori.com.br/materiais-e-educativos>. Acesso em 15/05/18
DESING E AÇÕES Críticas. Tudo que você precisa saber sobre design de interiores e ambientes. Disponível em: <https://paulooliveira.wordpress.com/2008/06/30/tudo-que-voce-precisa-saber-sobre-design-de-interiores-e-ambientes/>. Acesso em: 21/05/18 .
DICAS DE ARQUITETURA. Sensação causada pelos materiais na decoração. Disponível em: <http://dicasdearquitetura.com.br/sensacao-causada-pelos-materiais-na-decoracao/>. Acesso em: 20/04/18
ETCHETTO, Mariana R. Eguaras. Pequenos quartos para crianças. Trad.Cristian Campos e Deolinda Machado. Espanha: Kolon, 2011. Distribuidora Paisagem.
GIBBS, Jenny. Desingn de interiores: guia útil para estudantes e profissionais. São Paulo: Editorial Gustavo Gilli, 2014.
LAR MONTESSORI. O quarto montessoriano.  Disponível em: <https://larmontessori.com/2012/11/12/o-quarto-montessoriano/>.  Acesso em: 05/05/18.
MANCUSO, Clarice. Arquitetura de interiores e decoração: a arte de viver bem. 9.ed. Porto Alegre: Sulina, 2013.
MONTESSORI, Maria. A criança. Tradução de Luiz Horácio da Matta. 2.ed. Rio de Janeiro: Editorial Nórdica, s.d.
MONTESSORI, Maria. Mente absorvente. Trad. de Wilma Freitas Ronal de Carvalho. Rio de Janeiro: Editorial Nórdica, 1987.
OMB - Organização Montessori do Brasil. Materiais Educativos Smirna. Disponível em: <http://omb.org.br/sem-categoria/materiais-educativos-smirna>. Acesso em: 29/04/18.
POLLARD, Michael. Maria Montessori. São Paulo: Globo,1990 ( Coleção Personagens que mudaram o mundo: Os Grandes Humanistas).

TEMPO JUNTO. O be-a-bá do método Montessori para bebês. Disponível em: <http://www.tempojunto.com/2015/11/08/o-ba-ba-do-metodo-montessori-para-bebes/>.  Acesso em: 20/05/18.
*Universidade Católica Dom Bosco [UCDB] Programa de Mestrado Acadêmico e Doutorado em Desenvolvimento local em contexto de territorialidades [PPGDL]: Fone: +55(067)33123592 Comitê de Ética em Pesquisa [CEP] da UCDB e Prof.no curso de Direito e cursos Pós Lato Sensu. Editor da Revista Multitemas.
1 Em francês marqueter é a arte ou técnica de oridntar as superfícies de móveis, painéis, pisos, tetos, com aplicação de materiais tais como: madeira, metais, madrepérola, pedras, plásticos, marfim e chifres..
Espreguiçadeira ou cadeira de jardim.

Publicado: 31/01/2020

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