Revista: CCCSS Contribuciones a las Ciencias Sociales
ISSN: 1988-7833


UMA DISCUSSÃO INICIAL DA METODOLOGIA DOS MICRO-CENSOS PARA A ÁREA FINANCEIRA E ECONÔMICA

Autores e infomación del artículo

Shyu Fiaba Lee *

Francisco Ivander Amado Borges Alves **

Universidade Federal do Ceará (UFC) Brasil

Email: ivandborges@alu.ufc.br


RESUMO

A metodologia dos micro-censos é de valiosa contribuição para as pesquisas científicas. Para superar a dicotomia amostra X censo, principalmente quando os estudos necessitam analisar todos os elementos, mas de uma população específica. Isto é, amostra é uma parcela de um universo, podendo ser ou não representativa desse universo; por sua vez, censo seria uma pesquisa em que são pesquisados todos os elementos da população e, micro-censo (também denominado de censo especial) se refere a um censo de um universo mais específico. Dessa forma, essa investigação se propõe a analisar a aplicabilidade dos micro-censos a partir da literatura já existente que se utiliza desse tipo de metodologia. Metodologicamente, esse estudo é do tipo exploratório-descritivo, qualitativo e documental, recorrendo à aplicação da revisão sistemática. Os achados da pesquisa proporcionaram diferenciar amostra de censo e de micro-censo, também a caracterizá-los (se tratam de pesquisas em que a amostra corresponde a todos os elementos de um universo específico, por isso que todo micro-censo é do tipo intencional), bem como a apresentar algumas das variadas aplicabilidades desse tipo de metodologia nas diversas áreas de pesquisa, em especial nas áreas da Saúde, Economia e Finanças. Censos especiais são bastante usados e evidenciados na metodologia de artigos da área da Saúde, contudo, mesmo tendo alta aplicabilidade, ainda não são tão utilizados e evidenciados nas áreas de Economia e Finanças, mesmo sendo identificados artigos que se valeram de micro-censos.
Palavras-chave: Micro-censos; Finanças; Economia; Censo especial.

AN INITIAL DISCUSSION OF THE MICRO-CENSUS METHODOLOGY FOR THE FINANCIAL AND ECONOMIC AREA

ABSTRACT

The methodology of micro-censuses is a valuable contribution to scientific research. To overcome the dichotomy sample X census, especially when the studies need to analyze all the elements, but of a specific population. That is, sample is a portion of a universe, whether or not it is representative of that universe; in turn, a census would be a survey in which all elements of the population are surveyed, and micro-census (also called a special census) refers to a census of a more specific universe. Thus, this research proposes to analyze the applicability of micro-censuses from the existing literature that uses this type of methodology. Methodologically, this study is of the exploratory-descriptive, qualitative and documentary type, resorting to the application of the systematic review. The findings of the research made it possible to differentiate census and micro-census samples, as well as to characterize them (they are researches in which the sample corresponds to all the elements of a specific universe, so that every micro-census is of the intentional type ), as well as to present some of the varied applicability of this type of methodology in the different areas of research, especially in the areas of Health, Economy and Finance. Special censuses are widely used and evidenced in the methodology of articles in the area of Health, however, even though they have a high applicability, they are not yet so widely used and evidenced in the areas of Economics and Finance, even though articles were identified that used micro-censuses.
Keywords: Micro-censuses; Finance; Economy; Special census.

UNA DISCUSIÓN INICIAL DE LA METODOLOGÍA DE LOS MICRO-CENSOS PARA EL ÁREA FINANCIERA Y ECONÓMICA

RESUMEN

La metodología de los micro-censos es de valiosa contribución a las investigaciones científicas. Para superar la dicotomía muestra X censo, principalmente cuando los estudios necesitan analizar todos los elementos, pero de una población específica. Es decir, muestra es una parte de un universo, pudiendo ser o no representativa de ese universo; a su vez, censo sería una investigación en la que se investigan todos los elementos de la población y, el micro-censo (también denominado censo especial) se refiere a un censo de un universo más específico. De esta forma, esta investigación se propone analizar la aplicabilidad de los micro-censos a partir de la literatura ya existente que se utiliza de ese tipo de metodología. Metodológicamente, este estudio es del tipo exploratorio-descriptivo, cualitativo y documental, recurriendo a la aplicación de la revisión sistemática. Los hallazgos de la investigación proporcionaron diferenciar la muestra de censo y de micro-censo, también a caracterizarlos (se trata de investigaciones en que la muestra corresponde a todos los elementos de un universo específico, por lo que todo micro-censo es del tipo intencional ), así como a presentar algunas de las variadas aplicabilidades de este tipo de metodología en las diversas áreas de investigación, en especial en las áreas de Salud, Economía y Finanzas. Los censos especiales son bastante usados y evidenciados en la metodología de artículos del área de la Salud, sin embargo, aun teniendo alta aplicabilidad, todavía no son tan utilizados y evidenciados en las áreas de Economía y Finanzas, aunque se identifiquen artículos que se han valido de micro-censos.
Palabras clave: Micro-censo; Finanzas; Economía; Censo especial.


Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:
Shyu Fiaba Lee y Francisco Ivander Amado Borges Alves (2019): “Uma discussão inicial da metodologia dos micro-censos para a área financeira e econômica”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, (agosto 2019). En línea:
https://www.eumed.net/rev/cccss/2019/08/area-financeira-economica.html

//hdl.handle.net/20.500.11763/cccss1908area-financeira-economica

1 INTRODUÇÃO

Da inquietação do cientista acerca dos fenômenos que o rodeiam ou de indagações mais gerais sobre existência, localização e dos ‘porquês’ surgem as pesquisas acadêmicas. O pesquisador, a partir de um questionamento sobre algum fenômeno ou objeto de interesse, desenvolve uma pesquisa científica no intuito de conseguir responder sua questão problema através do alcance do objetivo proposto em sua investigação.
Mas quando do desenvolvimento dessa pesquisa, o estudioso pode se deparar com problema relacionado ao tamanho do universo (ou população) de objetos com aquela característica de interesse do pesquisador. Então o pesquisador pode investigar todo o universo de indivíduos ou retirar uma amostra desse total. Ressalta-se que nem sempre o investigador pode analisar todo o universo, uma vez que esse tipo de análise tem duas principais barreiras que se pode esbarrar, relacionadas à questão da eficácia e necessidade de fazer um censo de todos os elementos do universo populacional, bem como do alto custo de se fazer uma pesquisa com toda a população de elementos (Sass, 2012).
Se o estudo optar por investigar uma parte da população, então ele teria de realizar um processo de amostragem para identificar o tipo de amostra do seu estudo. Devendo também realizar os cálculos de tamanho da amostra e preservação da aleatoriedade dos dados para justificar se sua amostra é ou não representativa do universo em análise. Todavia, se a pesquisa investigar todo o universo, então ela é do tipo censo. Quando o censo se refere a dados populacionais de países e territórios, então esse censo é denominado de ‘recenseamento geral’.
Porém, pode ocorrer do censo em análise se tratar de um universo mais específico, como o total de empresas atuantes em um determinado setor econômico ou empresas listadas em uma determinada bolsa de valores ou determinada parcela da população economicamente ativa, entre outros. Nesse tipo de situação, esse tipo de censo para populações mais específicas é um micro-censo (também conhecidos como censos especiais).
Diante dessa contextualização, essa pesquisa foi desenvolvida no intuito de responder à seguinte questão problema: Qual a aplicabilidade dos micro-censos para a área financeira e econômica? Para tanto, o estudo objetiva analisar a aplicabilidade dos micro-censos a partir da literatura já existente que se utiliza desse tipo de metodologia.
Essa pesquisa está estruturada em quatro seções. A primeira delas, essa introdução, é dedica à contextualização do tema, apresenta-se também a questão de problema e o objetivo da pesquisa. Por sua vez, a segunda seção é dedicada à discussão sobre micro-censos, primeiramente se fala sobre amostragem e suas tipologias, em seguida se adentra na questão dos censos, inclusive se dá nota dos recenseamentos populacionais, posteriormente apresenta-se o que seriam os micro-censos, seu caráter intencional e fecha-se a seção com elenco de estudos que fizeram uso de micro-censos, no intuito de se evidenciar a alta aplicabilidade desse tipo de metodologia, em especial na área da Saúde, de Finanças e de Economia. A próxima seção é dedica à apresentação dos aspectos metodológicos empregados na pesquisa. Por fim, a última seção foi delimitada para apresentação das principais conclusões da pesquisa e de indicação de sugestões para futuras pesquisas.

2 MICRO-CENSO

Quando da definição da amostra de interesse, os estudos científicos podem se utilizar as mais variadas tipologias de amostragem. Os tipos de amostragem são classificados em probabilística e não probabilística (Gil, 2014). Na Figura 1 resume-se os tipos de amostragem.

Em essência, os tipos de amostragem são as probabilísticas e as não probabilísticas, a grande diferença entre esses tipos está na aderência delas a critérios cientificamente mais rigorosos, em especial, à aleatoriedade ou à definição da amostra em critérios estabelecidos pelo pesquisador. Amostragens probabilísticas buscam preservar a aleatoriedade dos elementos, por sua vez, as não probabilísticas são baseadas em critérios definidos pelo cientista. Porém, amostras que não preservam a exigência de aleatoriedade e não possuem a quantidade de elementos mínimos definidos em cálculos de tamanho de amostra, não são amostras que podem ser consideradas como representativas do universo, portanto, os resultados encontrados para essas amostras não podem ser generalizados para a população, ficando seus achados restritos apenas para o grupo de elementos amostrais daquela pesquisa (Fontanella, Ricas, & Turato, 2008; Gil, 2014; Minayo, 2017; Vinuto, 2014).
Cada um dos tipos de amostragem possui suas características particulares, o que indica que o pesquisador deve ser cuidadoso ao utilizar um ou outro tipo de amostragem, considerando em especial o seu objetivo de pesquisa, as características e disponibilidade de uma possível amostra para seu estudo. Todavia, pode ocorrer do estudo não precisar realizar o recorte de uma parte da população e sim, de realizar um estudo que necessita de que todo o universo seja coletado. Esse tipo de estudo em que todos os elementos da população são consultados é denominado de censo.
De forma mais detalhada Sass (2012) indica que censo corresponde à aferição de características específicas de uma população de objetos físicos e sociais, de forma que sejam verificadas todas as unidades ou elementos constituintes desse universo. Quando o censo se refere à população de um país ou território, então se fala em recenseamento geral (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2010; Sass, 2012).
Historicamente, os dados relativos ao que é tido como o primeiro recenseamento da população pode ser visto no caso chinês. Em 2238 a.C., o imperador Yao mandou realizar um censo da população e das lavouras cultivadas. Em outros locais do mundo antigo há também históricos de censos, como os realizados no tempo de Moisés (1700 a.C.), com os egípcios (que realizavam recenseamentos anuais desde o século XVI a.C.), com os romanos e gregos (realizavam censos da população entre os séculos VIII ao IV a.C.). A prática é realizada até hoje, tendo o objetivo de levantar as características sociais, econômicas, educacionais, religiosas e estruturais dos habitantes dos países (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2007).
Ressalta-se que a realização de censos esbarra em dificuldades, notadamente quanto a questão do alto custo desse tipo de procedimento ou à questão da eficácia e necessidade de fazer um censo de todos os elementos do universo populacional (Sass, 2012). Por isso que os censos não são realizados com alta frequência, por exemplo, o recenseamento brasileiro é realizado a cada dez anos em uma data definida, normalmente correspondente ao período anual de menor movimento de brasileiros (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2010).
No entanto, pode ocorrer de que o universo de análise seja mais específico, não englobando todos os indivíduos da população. A exemplo de que se ao invés da pesquisa realizar uma análise com todas as empresas norte-americanas, na verdade o estudo se concentre em todas as empresas listadas na New York Stock Exchange (NYSE, bolsa de valores de Nova York). Dessa forma, mesmo que o investigador tenha realizado um censo de todas as empresas listadas nessa bolsa de valores, essa amostra não corresponde à totalidade de empresas americanas. Outro exemplo, estudos que investigam todas as empresas atuantes no setor de Materiais Básicos da B3 (Bolsa de valores brasileira), ocorre a mesma situação, pois nem todas as empresas que atuam nesse setor estariam listadas nessa bolsa de valores, tendendo a amostra a se restringir apenas às grandes empresas (que são as que abrem capital em bolsa de valores no Brasil). Esse tipo de estudo, no qual é realizado censo para uma população mais específica, é denominado de micro-censo ou censo especial (Sadr-Azodi, DeRoeck, & Senouci, 2018).

Todo micro-censo é do tipo intencional, pois o pesquisador necessita definir o critério da população de interesse. Esse tipo de estudo é muito recorrente na área da Saúde e de Finanças, uma vez que se é preciso definir grupos de interesses. Na área da Saúde, por exemplo, eles podem definir grupos prioritários para tomar uma determinada vacina e ficar acompanhando quanto desse grupo já foi vacinado. Na área financeira é comum definir empresas por setor de atuação.
Na área da Saúde, cita-se o trabalho de Sadr-Azodi, DeRoeck, e Senouci (2018) sobre integração de estratégias subutilizadas de cobertura de imunização via vacinação na região do Oriente Médio e Norte da África. Os achados da revisão de experiências indicam três estratégias, em essência, subutilizadas na região de análise: (i) identificar e explicar as populações deslocadas, móveis e negligenciadas; (ii) avaliar e abordar as oportunidades perdidas de vacinação, incluindo a expansão da imunização no segundo ano de vida; e (iii) engajamento efetivo com os provedores de saúde privados/não-governamentais na coordenação, provisão e notificação de serviços de imunização. Essa menor eficácia da política de vacinação tem entre seus fatores determinantes questões atreladas à turbulências políticas e econômicas. O micro-censo investigado pelos pesquisadores é composto principalmente por três grupos: (1) refugiados e pessoas deslocadas internamente (IDPs) que fogem de conflitos ou distúrbios políticos; (2) moradores de favelas urbanas; e (3) nômades e outros grupos transitórios em locais remotos.
No campo educacional, cita-se o trabalho de Konietzka e Kreyenfeld (2010) que utilizando-se de micro-censos alemãs, referentes ao período de 1976 a 2004, se debruçaram sobre a desigualdade educacional no emprego exercido por mães. Os achados da pesquisa indicaram que as taxas de emprego a tempo parcial e marginal das mães aumentaram, enquanto as taxas de emprego a tempo inteiro diminuíram. As reduções no emprego em tempo integral são mais pronunciadas entre as mães menos instruídas.
No campo social, Schönpflug, Klapeer, Hofmann e Müllbacher (2018) alertam para a representatividade do público LGB(TI)Q quando do desenvolvimento de censos e micro-censos. Segundo os autores, esse tipo de público tende a ser submetido nas contagens populacionais, além disso, os estudiosos defendem que as pesquisas populacionais também devem se dedicar a estimar a ‘invisibilidade’ desses indivíduos nos censos e micro-censos.
Os micro-censos também têm aplicabilidade nos estudos dsa áreas de Economia e de Finanças. Desde os trabalhos sobre estudos laborais (em especial sobre salários), sobre emprego e desemprego, reformas de seguridade (como aumento de idade para aposentadoria), estudos sobre determinantes financeiros em empresas por setor econômico de atuação, pesquisas sobre aspectos financeiros para empresas listadas em determinadas bolsas de valores, indicadores específicos ou premiações, entre outros tipos de estudos.
Em se tratando de estudo econômico laboral, Hofer, Titelbach, Winter‐Ebmer e Ahammer (2017) analisaram a discriminação salarial contra os imigrantes na Áustria usando informações combinadas dos inquéritos às forças de trabalho e dados administrativos da segurança social. O micro-censo seria referente aos dados do grupo de imigrantes austríacos frente aos não imigrantes do país. Os resultados, após o emprego métodos de decomposição usando regressões quantílicas, possibilitaram identificar uma maior discriminação salarial, sobretudo sobre os imigrantes que sofrem uma penalização salarial de 15 pontos percentuais em comparação com os nativos.
Sobre estudos relacionados à questão de políticas de seguridade, cita-se o trabalho de Geyer, Haan, Hammerschmid e Peters (2018). Nesse estudo, os pesquisadores avaliaram o mercado de trabalho e os efeitos distributivos de um aumento na idade de aposentadoria precoce (ERA) de 60 para 63 anos para mulheres. A pesquisa faz uso de dados referente a um micro-censo alemão que inclui cerca de 370.000 famílias por ano considerando as mulheres nascidas no período de 1951 e 1952. Atraves do emprego de modelo de descontinuidade de regressão, os pesquisadores puderam obter resultados para a pesquisa. Entre os principais achados estão a identificação de efeitos não significativos sobre a renda feminina ou familiar, mesmo para os grupos mais vulneráveis, como mulheres solteiras, mulheres sem nível superior ou baixa renda de parceiros, não encontramos reduções significativas na renda.
Na área de Finanças, é comum que os estudos investiguem empresas em determinados setores de atuação através de emprego de micro-censos, mesmo que os estudos não citem que se utilizaram desse tipo de método. A exemplo desse tipo de estudo, cita-se Vasconcelos, Alves e Oliveira (2018) que investigaram os fatores determinantes dos honorários da auditoria independente para as empresas brasileiras atuantes no setor de Materiais Básicos através do emprego da regressão linear múltipla estimado por Mínimos Quadrados Ordinários. O micro-censo, apesar de não estar explicitamente indicado, corresponde às 31 empresas brasileiras que estavam listadas no setor. Os resultados dessa pesquisa forma no sentido que as maiores empresas e as mais complexas são as pagam maiores honorários de auditoria externa.
Outro trabalho que utiliza de micro-censos foi o de Morais e Martins (2016). Nesse estudo, os pesquisadores analisaram as escolhas contábeis na evidenciação da demonstração dos fluxos de caixa (DFC) de empresas brasileiras atuantes no setor de Energia Elétrica da BM&FBOVESPA (antigo nome da bolsa de valores brasileiras). Após analisarem os demonstrativos de 62 empresas atuantes nesse setor, os autores puderam identificar que não houve mudança significativa na evidenciação dos itens de um ano para o outro. No caso dos juros pagos, bem como quanto aos dividendos e juros sobre o capital próprio pagos, a maioria das empresas optou pela evidenciação nos fluxos de caixa das atividades de financiamento conforme as recomendações do CPC 03 R2 (2010).
Outros trabalhos recentes das áreas Financeira e Econômica também utilizam dos micro-censos. Contudo, persiste o comportamento de não se evidenciar se se trata, de fato, de um micro-censo. Essa falta de evidenciação do tipo de amostra que está sendo utilizada é comum nas pesquisas, principalmente nas pesquisas brasileiras. Resultado diferente para as pesquisas internacionais, em especial as pesquisas na área da Saúde.
De toda forma, quer seja evidenciado ou não, os micro-censos são importantes para as pesquisas nas áreas Financeira e Econômica. Principalmente no tocante à justificação do pesquisador quando tem de citar qual tipo de amostra está trabalhando em seu estudo. Se o cientista utilizar de uma amostra correspondente a uma parcela da população, ele precisa citar o tipo de amostragem que utilizou para delimitar àquela amostra. Todavia, como o pesquisador pode explicar que a amostra utilizada se refere à própria população de indivíduos quando esse universo é mais restrito? Justamente por isso que à identificação de micro-censos é importante. Por exemplo, estudos sobre todas as empresas americanas listadas na NYSE que atuam no setor bancário, as quais não correspondem à totalidade de empresas americanas que atuam nesse setor, contudo também não se trata de uma amostragem porque o pesquisador investigou todas as empresas que respondiam por esse critério. Dessa forma, o pesquisador realizou um micro-censo.
A metodologia dos micro-censos não são novidades nos estudos científicos, mas os estudos não evidenciam que fazem uso desse tipo de metodologia. Esse estudo abre uma discussão inicial quanto à larga aplicabilidade desse tipo de metodologia, que parece não ser utilizado nos estudo, mas na verdade são muito utilizados, contudo não há correspondente divulgação do nome ‘micro-censo’ ou ‘censo-especial’ nas metodologias dos artigos.

3 METODOLOGIA

Quanto à classificação dessa pesquisa, esse estudo é do tipo exploratório-descritivo, qualitativo e bibliográfico. O estudo é exploratório-descritivo quanto ao objetivo, por se aprofundar sobre a temática dos micro-censos, o qual ainda não se há muitos artigos teóricos sobre suas características e aplicabilidade, ao mesmo passo em que se inicia uma aprofundamento da análise quando se apresentam descrições de estudos que utilizaram dessa metodologia dos censos especiais (Gil, 2014).
O aspecto qualitativo do estudo, quanto ao problema, porque as análises serão realizadas sem o emprego de procedimentos estatísticos (Prodanov & Freitas, 2013). Na verdade, o estudo realizará uma investigação teórica, de caráter de revisão, sobre a aplicabilidade do censos especiais para o campo científico.
Quanto aos delineamentos, o estudo é bibliográfico (Gil, 2014; Marconi & Lakatos, 2010; Richardson, 2008). A bibliografia será utilizada através do emprego da revisão sistemática (Barale & Santos, 2017; Botelho, Cunha, & Macedo, 2011; Sampaio & Mancini, 2007). A revisão sistemática da literatura anterior foi realizada inicialmente através da diferenciação entre amostra e censo, depois adentrou-se na explicação e apresentação das características dos micro-censos e por fim, elencou-se estudos em diversas áreas do conhecimento que utilizaram dos censos especiais.
Por se tratar de um artigo teórico de revisão sistemática, não há universo ou amostra de interesse. Uma vez que o artigo se concentra em esclarecer as características, diferenciações e aplicabilidade dos micro-censos.
Dessa forma, a análise é desenvolvida a partir da organização da literatura prévia de forma a se concentrar trabalhos anteriores que fundamentem e exemplifiquem a questão dos censos especiais para cada tópico apresentado na fundamentação teórica da segunda seção desse artigo.

4 CONCLUSÃO

Esse estudo objetivou analisar a aplicabilidade dos micro-censos a partir da literatura já existente que se utiliza desse tipo de metodologia. Dessa forma, realizou-se uma revisão sistemática da literatura anterior, organizando os estudos e utilizando-os para fundamentar cada um dos tópicos apresentados na segunda seção do artigo.
Inicialmente, diferenciou-se amostra (que necessariamente é obtida através de alguma tipologia de amostragem) de censo (que se refere coleta de todo os elementos do universo de interesse). Citou-se um tipo especial de censo, relacionado a levantamentos de toda a população de um país ou território, o recenseamento geral. Além disso, indicou-se algumas dificuldades que impossibilitam desse tipo de levantamento ser realizado com maior frequência, notadamente o alto custo e ao questionamento de se seria realmente útil e eficaz ter censos com maior periodicidade. Inclusive, apresentou-se o caso brasileiro, no qual o recenseamento geral é realizado a decenalmente.
Todavia, os estudos podem realizar micro-censos, o qual se refere ao levantamento de toda a população específica definida pelo pesquisador. Por isso que se fala que todo micro-censo é de caráter intencional, pois o estudioso tem de indicar essa característica específica que individualiza seu universo de análise.
Censos especiais são empregados em pesquisas das mais variadas áreas do conhecimento. Em estudos da área de saúde é comum a sua aplicabilidade em pesquisas sobre vacinação (onde nem toda a população de um país estaria em um grupo prioritário de vacinação, por isso de se definir um micro-censo considerando apenas esses grupos prioritários) ou estudos sociais com pesquisas sobre comportamentos de setores específicos da sociedade (como mães solteiras, famílias sub-alfabetizadas, populações de áreas periféricas, entre outras).
Além disso, o trabalho indicou que os micro-censos também podem ser aplicados nas áreas de Finanças e de Economia. Por exemplo, em estudos sobre empresas atuantes em determinado setor, listadas em determinada bolsa de valores, laureada com determinada premiação de reconhecimento, adotante de determinadas práticas ou com grupos populacionais com características específicas, como desemprego e emprego, população a ser impactada por reformas nos regimes de previdências nacionais, grupos a sofrerem impactos por reajustes em políticas tributárias e monetárias, entre outros.
Apesar dessa alta aplicabilidade e de ser identificado que, de fato, alguns estudos campo da Economia e das Finanças já se utilizam dessa metodologia, observou-se que os estudos não evidenciam que estão realizando um micro-censo, sobretudo nos estudos realizados no Brasil. O que é diferente da larga experiência internacional, em especial na área da saúde, que tende a indicar mais que estão realizando um micro-censo.
Como sugestão para futuros estudos, indica-se a realização de um mapeamento de pesquisas por áreas do conhecimento científico, por países e por ano de publicação que utilizaram a metodologia dos micro-censos. Pesquisas também podem identificar a trajetória de evolução metodológica dos micro-censos empregados nos trabalhos. Além disso, levantamentos bibliográficos podem indicar, em termos percentuais, o volume de trabalhos que utilizam de censos especiais e quais evidenciam em suas metodologias que estão usando esse tipo de censo.

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*Doctor of Management for University of Malaya. General Scientific Director em el Center for Studies in Finance and Management Brazil-Japan. ORCID iD: https://orcid.org/0000-0001-8708-4048.
** Bachelor of Science in Accounting (2018) from the Federal University of Ceará (UFC), with the completion of his academic training (Magna Cum Laude, 2019). E-mail: ivandborges@gmail.com. ORCID iD: https://orcid.org/0000-0001-7633-2966.

Recibido: 29/04/2019 Aceptado: 09/08/2019 Publicado: Agosto de 2019

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