Revista: CCCSS Contribuciones a las Ciencias Sociales
ISSN: 1988-7833


BULLYING EM ADOLESCENTES OBESOS E EUTRÓFICOS NO CONTEXTO ESCOLAR

Autores e infomación del artículo

Jeferson Pozza Barros*

Daiane Bolzan Berlese**

Gustavo Roese Sanfelice***

Geraldine Alves dos Santos****

Denise Bolzan Berlese*****

Universidade Feevale, Brasil

daineb@feevale.br


RESUMO
Este estudo objetivou investigar o bullying em adolescentes no contexto escolar. foram investigados 111 adolescentes com idades entre 12 a 14 anos classificados de acordo com o estado nutricional. para determinação estado nutricional utilizou-se imc e para verificar o bullying utilizou-se o questionário kidscape. dos 111 avaliados 94 relataram sofrer bullying e 70,2% dos adolescentes são eutróficos. 84,7% dos adolescentes relatam ter sofrido algum tipo de agressão e 58% relataram sofrer bullying na faixa de idade de 5 anos ou mais. quanto as consequências do bullying para a vida, 29% revelaram que a agressão teve consequências ruins e 62% apontam que a agressão não surtiu efeito sobre eles. referente ao tipo de intimidação, 47% sofreram intimidação verbal, 24% agressão física e 9% agressão emocional. nesse sentido entende-se que o sobrepeso e a obesidade, em nosso estudo, não foi um fator determinante para a ocorrência de bullying entre os adolescentes.

Palavras chaves: Obesidade, bullying, adolescentes

ABSTRACT

This study aimed to investigate bullying in adolescents in the school context. A total of 111 adolescents aged 12 to 14 years classified according to nutritional status were investigated. To determine the nutritional status, BMI was used and the KIDSCAPE questionnaire was used to verify the Bullying. Of the 111 evaluated 94 reported to be bullied and 70.2% of the adolescents are eutrophic. 84.7% of adolescents reported having suffered some type of aggression and 58% reported experiencing bullying in the age range of 5 years or more. As for the consequences of bullying for life, 29% revealed that the aggression had bad consequences and 62% indicated that the aggression had no effect on them. Regarding the type of intimidation, 47% suffered verbal intimidation, 24% physical aggression and 9% emotional aggression. In this sense, it is understood that overweight and obesity in our study was not a determining factor for the occurrence of bullying among adolescents.

Key word: Obesity, bullying, teenagers


Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Jeferson Pozza Barros, Daiane Bolzan Berlese, Gustavo Roese Sanfelice, Geraldine Alves dos Santos y Denise Bolzan Berlese (2018): “Bullying em adolescentes obesos e eutróficos no contexto escolar”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, (abril 2018). En línea:
https://www.eumed.net/rev/cccss/2018/04/bullying-adolescentes-obesos.html

//hdl.handle.net/20.500.11763/cccss1804bullying-adolescentes-obesos

INTRODUAÇÃO

Bullying é uma palavra atual de origem estrangeira que está presente no nosso vocabulário, não só por ser a representação de uma série de atitudes como agressões intencionais e repetitivas e que causam sofrimento ou dor, mas também porque no vocabulário brasileiro não tem uma palavra que represente estes fatos. Sendo assim, a palavra bullying não tem uma exata tradução em português. Com isso, este termo foi adotado por diversas línguas. Para Hirigoyen (2002) o bullying é uma expressão em inglês e vem do verbo to bully que significa tratar de forma grosseira, desumana e bully se refere a uma pessoa grosseira, autoritária que ataca os mais fracos.
Define-se o ato de cometer bullying como agressão física ou psicológica que pode ser cometida por crianças e adolescentes, com grande incidência nas escolas e também nas proximidades, com ou sem a intensão de causar dor ou desconforto repetido ao longo do tempo e com visível desequilíbrio de poder entre o agressor e a vítima (MONTEIRO, 2008).
O âmbito escolar é um lugar onde podemos presenciar atos de bulliyng de todas as formas e em todos os sentidos. Este mal vem emergindo na escola como um palco de constantes acontecimentos. Em pesquisa realizada por Malta et al., (2010) em vinte e seis capitais do Brasil e no Distrito Federal com adolescentes de treze a quinze anos de idade, identificou-se 5,4% dos estudantes relatam ter sofrido bullying sempre ou quase sempre no último período de trinta dias. O resultado demonstrado por esta pesquisa salienta a importância de pesquisas mais aprofundadas nesta área, tendo em vista a proporção de escolas atingidas por este fenômeno, cedendo assim um grande espaço para a reprodução da violência.
As diferentes manifestações de violência têm importância relevante por se caracterizarem como um fato social que abrange grande parte de nossa sociedade. Estas manifestações acabam por atingir o espaço escolar e se expressando através de preconceitos, intolerância e outras formas (LEME, 2009). Nessa perspectiva a escola vem deixando de ser um lugar de construção de conhecimento e se tornado notícia por inúmeros casos de bullying entre alunos, entre alunos e professores e também entre professores e alunos (ABRAMOVAY; RUA, 2003). Segundo Fante (2006) trata-se de um problema mundial presente em várias escolas que vem se disseminado largamente nos últimos anos e que recentemente vem sendo estudado em nosso país.
Compreender como e de eu forma a violência se apresenta no âmbito escolar é um grande desafio para os gestores, para os pais e educadores. Esta compreensão é de extrema importância para que possam enfrentar este grave problema e buscar soluções. Portanto um grande passo seria realizar pesquisas e monitoramento definam sua incidência, as situações violentas mais sofridas, o grupo ou a faixa de alunos que mais sofre e as prováveis causas, para assim seguir na busca de intervenções que possam diminuir e até acabar com o bullying no contexto escolar (PEREIRA, 2002).
No Brasil, a maioria da população desconhece o tema, sua gravidade e abrangência, isto porque muitos estudos são recentes. Sendo assim, salienta-se a necessidade de conhecer e estudar o fenômeno bullying que está presente em nossas escolas, e que pode acarretar diversos traumas emocionais e comportamentais como perda de autoestima, ansiedade, depressão, estresse e até em casos mais isolados, o suicídio (OLIVEIRA; ANTÔNIO, 2006; BOYNTON-JARRETT et al., 2008)
Há mais de vinte anos tem-se descritos relatos de violência interpessoal entre estudantes, caracterizada principalmente em agressões verbais e ameaças. O entorno e o ambiente nos arredores da escola também têm grande influência no comportamento dos estudantes. Quanto mais violentas são as proximidades da escola maior risco dessa apresentar índices elevados de violência. Sendo assim, a escola é um reflexo do momento de nossa sociedade e da comunidade onde se situa (ABRAMOVAY; RUA, 2003).
O constante aumento da violência representa uma ameaça à saúde pública e ao processo educacional. Praticar bullying já é entendido como um ato de praticar violência, seja física ou psicológica, seja com ato intencional, agressivo, negativo ou de ação repetitiva. Sendo assim, a violência não pode ser vista como um fenômeno isolado e alguns fatos colaboram para que esse tipo de manifestação esteja presente em nosso contexto sociocultural, dentre os quais destacam-se: a desigualdade e a exclusão social. As condições precárias de vida, a cultura e até mesmo a crise de identidade da escola associada a alguns conflitos interpessoais parecem favorecer a prática de violência escolar (GALEGO, 2004).
Para Campos (2000) a violência é uma questão complexa, que ocupa o centro de discussões de agentes e acadêmicos a fim de resolverem algumas preocupações com as políticas públicas. O cotidiano de violência escolar compreende, desde situações de humilhação, exclusão, ameaças, atentados contra o corpo físico do indivíduo e até aos direitos de cidadania.
Velho (1996) afirma que é preciso conhecer e compreender a violência social e não apenas julgar o fato a partir da desigualdade. Também é preciso reavaliar a dinâmica da violência gerada pela própria escola. Nessa perspectiva o presente estudo tem como objetivo investigar o bullying em adolescentes sobrepeso/obesos e eutróficos no contexto escolar.

METODO

O presente estudo descritivo transversal de abordagem quantitativa investigou 111 adolescentes de ambos os sexos na faixa de idade de 12 a 14 anos classificados de acordo com o estado nutricional como eutróficos e sobrepesos/obesos de uma escola da região do Vale do Sinos, RS, Brasil. Dos 111 adolescentes investigados 94 relataram sofrer bullying. Nessa perspectiva foram incluídos todos os adolescentes que assinaram termo de consentimento livre e esclarecido e que relataram sofrer bullying e foram excluídos adolescentes que apresentarem comprometimento neurológico (hidrocefalia, hemorragia intracraniana, lesão de plexo braquial, entre outros), malformação congênita (mielomeningocele, agenesias, focomielias, por exemplo), síndromes genéticas, desnutrição, problemas de audição ou visão, alterações sensoriais ou outra intercorrência/alteração que possa comprometer as respostas do instrumento de pesquisa, bem como adolescentes que referiram através da aplicação do questionário KIDSCAPE não sofrer bullying.
Sendo assim, para investigar o bullying, os adolescentes responderam ao KIDSCAPE, utilizado pela instituição inglesa de mesmo nome para identificação de bullying. O questionário KIDESCAPE contempla 8 questões referente a ocorrência ou não de bullying, quantas vezes o sujeito sofreu algum tipo de intimidação, qual o local onde esse tipo de intimidação ocorre, quais as consequências dessa intimidação, como classificam essa intimidação e se o adolescente vitimado já intimidou agrediu ou assediou alguém. Em razão do questionário ser auto aplicado, muitos adolescentes assinalaram mais de uma alternativa para as diferentes questões, com isso as mesmas foram agrupadas de acordo com o registro apontado no questionário.
Para determinação do estado nutricional foram realizadas avaliações antropométricas de peso e estatura, com auxílio de uma balança digital com precisão de 100g, modelo Líder®, um estadiômetro modelo Tonelli®, fixo em parede sem rodapé. Os adolescentes foram conforme a metodologia proposta por Heyward e Stolarczyk (2000). Os dados foram analisados por meio do cálculo do IMC e classificados pelo escore-z, de acordo com as curvas de crescimento da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2007). Foram classificados com sobrepeso as crianças e adolescentes que apresentaram escore-z do IMC > +1 e < +2, com obesidade > +2 e < +3 e obesidade grave o escore-z> +3.
Para análise dos dados foram aplicados procedimentos da estatística descritiva, frequências e percentual com auxílio do software Stata10.0.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O estado nutricional é definido como resultado do equilíbrio entre consumo de nutrientes e gasto energético para suprir as necessidades nutricionais no plano individual e coletivo (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). O monitoramento contínuo do crescimento e do estado nutricional de crianças e adolescentes é uma forma prática e de custo baixo de aferir o estado de saúde da população.
Avaliar o estado nutricional consiste na utilização de procedimentos de diagnóstico que possibilitam precisar a magnitude, o comportamento e os determinantes dos agravos nutricionais. Esse processo de avaliação do estado nutricional nas populações permite a identificação de grupos de risco, o que é fundamental para a identificação dos fatores causais e estudo das associações entre a condição nutricional e a morbimortalidade e, consequentemente, sobre o crescimento e desenvolvimento físico psicossocial de crianças e adolescentes (ARAÚJO e CAMPOS, 2008). Nesse sentido apresenta-se na tabela 1 o perfil nutricional dos adolescentes investigados.

A pesquisa foi realizada com 111 adolescentes, devidamente divididos por seu estado nutricional, ou seja, eutróficos e sobrepeso/obeso e por sexo. Analisando a tabela 1 observamos que 43,2% do sexo masculino e 27% do sexo feminino são eutróficos. A Eutrofia, foi apontada em nosso estudo com o maior percentual de adolescentes em ambos os sexos nessa classificação caracteriza-se pela relação entre peso e estatura ao quadrado (IMC), sendo que de acordo com a faixa de idade e sexo são classificados dentro da curva de crescimento nos percentis 50 a 75 (OMS, 2007).
A eutrofia caracteriza-se quando o peso está adequado a estatura que está adequado a idade (OMS,2008). Os resultados do nosso estudo relacionado ao IMC dos adolescentes corroboram com os resultados de Burgos et al. (2012) realizado com 1.664 escolares do ensino municipal com faixa etária entre 7 e 17 anos, selecionados aleatoriamente e submetidos a análise do estado nutricional pelo IMC, onde foi detectado pelos autores que a maioria (71,3%) dos indivíduos analisados apresentam classificação do estado nutricional normal (eutrófico).
No estudo de Fagundes e Krebs (2005) os meninos apresentaram maiores valores médios de peso em relação às meninas corroborando com nossos achados. De acordo com Gallahue & Ozmun (2005) a variação que ocorre no peso em pré-adolescentes é explicada pela estrutura física. Os meninos tendem a apresentar o peso mais elevado por possuírem mais músculos e massa óssea que as meninas.
Também evidenciou-se que 15,1% dos investigados do sexo masculino e 14,4% do sexo feminino são obesos. A Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica a obesidade de acordo com o Índice de Massa Corporal (IMC), definido pelo cálculo do peso corporal em quilogramas, dividido pelo quadrado da altura, em metros quadrados (IMC = kg/h2(m), e também pelo risco de mortalidade associada. A obesidade se caracterizada quando o IMC se encontra acima do percentil 85 para sobrepeso e 97 para obesidade (TAVARES et al., 2010). Nesse sentido os autores entendem o sobrepeso e a obesidade pelo excesso de tecido adiposo, bem como pelo balanço energético positivo mais pronunciado e sustentado por um período mais longo e pela taxa metabólica basal maior, devido à maior quantidade de massa que necessita ser deslocada.
De acordo com a pesquisa de Farias Júnior e Silva (2008) um em cada dez adolescentes da cidade de João Pessoa - PB apresentou IMC acima dos valores de referência, sendo a prevalência de sobrepeso/obesidade praticamente duas vezes mais elevada nos meninos (13,5%) em relação as meninas (7,4%), valores que se aproximam aos encontrados em nosso estudo.
Para Morais, Campos e Silvestrini (2005), a obesidade é uma doença crônica, complexa, de etiologia multifatorial e resulta de balanço energético positivo, podendo ser definida como o excesso de gordura corpórea em relação à massa magra, decorrente do distúrbio de metabolismo energético.
Para Guimarães et al. (2012) o sobrepeso e a obesidade são caracterizados pelo acúmulo de gordura corporal que representa risco para a saúde. A prevalência da obesidade é um problema de saúde pública com caráter epidêmico, sendo, por vezes, classificada como pandemia, devido ao crescimento nas últimas décadas, principalmente, na população infantil e nos países em desenvolvimento.
O peso elevado era considerado problema somente em países de alta renda, no entanto, o sobrepeso e a obesidade estão em ascensão nos países de baixa e média renda. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (2008), em 2005, 53,5% da população feminina e 47,4% da população masculina no Brasil estavam com sobrepeso e 18,3% e 8,7% apresentavam obesidade, respectivamente. A projeção para 2020 é de que 73,6% da população feminina e 67,2% da população masculina estejam com sobrepeso e 39,7% e 21,6% apresentem obesidade (TAVARES et al., 2010).
Para Tavares e Brasileiro (2003), “a mídia estipula modelos de beleza que são absorvidos pela sociedade como um “padrão a ser imitado”. Neste sentido tudo o que foge dos “padrões” é discriminado e ridicularizado. Estar acima do peso para em uma sociedade que cultua o corpo perfeito, a gordura virou sinônimo de feiúra, gerando exclusão social.
Wolf (1992) faz menção aos padrões estéticos historicamente valorizados. Cita que na idade média e no renascentismo, formas femininas arredondadas eram valorizadas e tidas como sensuais. A partir dos anos sessenta, começa a haver a busca por um corpo magro, atlético, com formas definidas, chegando a anorexias fatais. Com isso a sociedade ocidental passa a valorizar a “magreza” e de padrões esculturais de beleza.
Nesta perspectiva estar fora dos padrões corporais estipulados socialmente como belos parece inevitável não abordar o bullying e sua relação com o sobrepeso e a obesidade. Para Levandoski (2009) as crianças e adolescentes com o índice maior de exclusão são as que estão acima do peso o que acaba gerando experiências de angústia e sofrimento, podendo no futuro desencadear alguns bloqueios psicológicos.
O estudo de Chapell et al. (2006) aponta que o fenômeno de bullying está presente no âmbito escolar, consistindo em um dos principais fatores intervenientes para a violência nas escolas. Esse tema tem sido discutido com frequência em diversos estudos (BARDICK E BERNES, 2008; CULLEY et al., 2006), sobretudo a partir dos anos 90, quando alguns episódios de atentados violentos em escolas ganharam grande repercussão internacional, como o massacre na escola Columbine, no estado americano do Colorado. Sobre o exposto até o momento na tabela 2 apresenta-se a ocorrência de bullying nos adolescentes investigados.

Levandoski (2009) ao investigar a ocorrência de bulliying, observou que na sociedade o aumento de peso é fator fundamental para que haja a exclusão social. Nossos achados apontam que 84,7% dos investigados relatam já ter sofrido algum tipo de agressão (bullying) sendo 26,1% dos investigados apresentaram sobrepeso e obesidade e 58,6% são eutróficos. Com isso observa-se que que as ocorrências de bullying não são exclusividades dos adolescentes acima do peso, uma vez que nosso estudo demonstrou um percentual expressivo de eutróficos também sofrem bullying.
Estudos realizados com 3.918 estudantes em 115 escolas da Austrália apresentaram que 23,7% dos alunos já haviam praticado bullying contra colegas, 12,7% foram exclusivamente vitimados e 21,5% foram vítimas e autores em uma ou mais ocasiões no trimestre anterior (FORERO et al., 1999).
Rigby (2004) afirma que, na Austrália, no mínimo um em cada seis alunos é vítima de bullying. Em 2002, um estudo realizado pela Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e a Adolescência (ABRAPIA), com onze escolas do Rio de Janeiro e que contou com uma amostra de 5.875 estudantes, revelou que 40,5% dos alunos se envolveram diretamente em bullying naquele ano, 16,9% foram vítimas e 12,7% como autores (LOPES NETO E SAAVEDRA, 2003).
Na pesquisa realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE, 2009) em convênio com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP/MEC) sobre preconceito e discriminação em contexto escolar abrangeu 18.599 respondentes em 501 escolas de 27 Estados, incluindo estudantes, professores, diretores, demais profissionais de educação e pais ou responsáveis. Como resultado encontrou-se que o preconceito e a discriminação latentes nas escolas resultam muitas vezes em situações em que pessoas são humilhadas, agredidas ou acusadas de forma injusta simplesmente pelo fato de fazerem parte de algum grupo social específico.

Quando questionados sobre a idade em que sofreram bullying, observou-se dentre os investigados que 58% relataram sofrer bullying na faixa de idade de 5 anos ou mais. O comportamento bullying pode ser identificado em qualquer faixa etária e nível de escolaridade (FANTE E PEDRA, 2008, p.45). Estudo realizado por Rodrigues et al. (2005) com adolescentes espanhois revelou que a frequência de bullying nos últimos dois meses foi maior entre estudantes mais novos, 29% entre 11 e 12 anos, 30% entre 13 e 14 anos, caindo para 27% entre 15 e 16 anos. No estudo da OMS (2008), foi descrito que o bullying é menos frequente entre adolescentes com 15 anos (10%) e é mais frequente entre pré-adolescentes de 11 anos (15%). Já Guimarães e Pasian (2006) encontrou maior frequência de bullying entre adolescentes na faixa de 11 a 15 anos de idade e alocados no 6° ano do ensino fundamental.
Em relação à idade em que o bullying ocorre, alguns estudos verificaram que esse fenômeno parece atingir seu pico na faixa etária entre 9 e 15 anos (FRISÉN et al., 2007). Em estudos com 2.776 crianças e adolescentes holandeses, 16% relatam ser vítimas de bullying na faixa deidade entre 9 e 11 anos (FEKKES et al., 2005). Para Eslea e Rees (2001) as vítimas apresentam características que a fragilizam perante o agressor, deste modo crianças mais novas tendem a tornar-se alvo de outras crianças mais velhas, corroborando com nossos achados em relação a idade de 5 anos ou mais.
Segundo Phillips (2003) que traz um dos maiores estudos sobre o tema no Reino Unido, com cerca de 7.000 alunos em Sheffield revelou-se que ¼ destes alunos sofrem bulliyng ao menos uma vez a cada 3 meses. Nossos achados apontam que 40% dos investigados relataram já ter sofrido algum tipo de agressão relacionada ao bullying por diversas vezes e 35% dos investigados relataram ter sofrido bullying ao menos uma vez. Wolke (2001) desenvolveu uma pesquisa no norte de Londres em escolas primárias, encontrou uma vitimização de aproximadamente 30% nos últimos 6 meses.
Quando questionados sobre quem os intimidou, se meninos ou meninas, o grupo de eutróficos apontou 100% das agressões advém dos meninos. Os meninos também foram os principais responsáveis pelas agressões no grupo de sobrepeso/obesidade, cerca de 72%. Enquanto a maioria dos meninos utiliza, comumente, os maus-tratos físicos e verbais, as meninas valem-se mais de maledicência, fofoca, difamação, exclusão e manipulação para provocar sofrimento psicológico nas vítimas (FANTE e PEDRA, 2008, p.64).
Malta et al. (2010) realizou uma pesquisa com 34 adolescentes e os mesmos relatam que 76% dos maus tratos são praticados pelos meninos, 14% por ambos e apenas 8% pelas meninas. O que nos remete a balizar com nossos achados que apontaram os meninos como os maiores agressores, em 76% dos casos, 18% das agressões foi feita por ambos e apenas 4% pelas meninas.
Quando questionados sobre quando sofreram a última intimidação, ambos os grupos analisados totalizando 51% dos investigados apontaram que sofreram algum tipo de intimidação a um ano ou mais, logo em seguida 28% dos adolescentes relataram ter sofrido alguma intimidação nos últimos 30 dias e 14% adolescentes apontam ter sofrido alguma agressão ou intimidação nos últimos 6 meses.
A Organização Mundial da Saúde realizou inquéritos transversais com a população escolar, como o Health Behaviour in School-aged Children (HBSC), em mais de quarenta países, pesquisando situações sobre a saúde dos adolescentes e incluindo temas como a violência. Entre adolescentes de 13 anos, 14% referiram já ter sofrido bullying nos últimos dois meses (OMS,2008).
Malta et al. (2010) publicaram os resultados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar realizada nas 26 capitais brasileiras e no DF abrangendo 60.873 adolescentes do 9° ano de escolas públicas e particulares. Dos investigados 5,4% dos relatam ser vítimas de bullying e ter sofrido agressões ou assédios nos últimos 30 dias, sendo que Belo Horizonte (MG) teve o maior índice de prevalência de vítimas, 6,9%.
Cheffer, Gallo (2009) ao investigar a ocorrência de bullying em uma escola pública da cidade de Maringá, PR, bem como caracterizaram a ocorrência desse tipo específico de violência de 180 alunos observaram que esse fenômeno é mais comum do que a escola tem conhecimento, replicando estudos internacionais. Os participantes não assumiam um único papel, intercalando-se entre vítimas, agressores e testemunhas; a maioria afirmou que o fenômeno ocorria mais de uma vez por semana. Dentre os comportamentos que podem ser considerados bullying, os alunos responderam 139 ocorrências para “apelidar”, 116 para “tirar sarro”, 81 para “humilhar”, 70 para “chutar” e 60 para “isolar os demais”. As testemunhas tenderam a sentir pena da vítima. Dentre as características da vítima, a maioria foi relacionada a deficiências, seguido por questões raciais. Poucos alunos procuraram ajuda da escola para resolver o problema, o que pode indicar falta de preparo dos profissionais em relação ao fenômeno do bullying.
Nossos estudos apontam que 76% dos investigados sofreram bullying de meninos, 4% das agressões partiram das meninas sendo que as vítimas foram somente sobrepeso/obeso e 18% relatam ter sido agredidos por ambos os sexos, outros 2% não responderam. Francisco e Libório (2009) apontam em seu estudo que ao analisar as variáveis de gênero dos agressores entre estudantes de 5° e 8° ano, 76% dos investigados relatam ser agredidos apenas por meninos, 16% por meninas e 8% por ambos os sexos.
Gomes et al. (2007) ao realizarem uma análise da literatura sobre bullying, concluíram que os meninos costumam ser mais agredidos por meninos, enquanto que as meninas são agredidas tanto por meninas quanto por meninos. Os meninos tendem a envolver-se mais em situações de bullying, tanto como autores quanto como alvos (LOPES NETO, 2005).
Segundo Hunter et al. (2004) os indivíduos do sexo masculino apresentaram maior probabilidade de serem perpetuadores de condutas agressivas. Contudo, não se pode deixar de refletir que as meninas podem apresentar formas mais sutis de expressar a violência, e que muitas vezes os meninos são movidos por processos culturais e de socialização que os encorajam a assumir posições violentas rotineiramente naturalizadas pela sociedade. Para Lopes Neto (2005) entre as meninas, o bullying também ocorre, embora com menor frequência, principalmente sob a forma de agressão indireta, que envolve exclusão social e difamação dos pares. Uma hipótese possível para essa diferença entre os sexos é que os meninos da faixa etária observada encontram-se em uma fase na qual a competição por status e a busca por prestígio das meninas aumenta consideravelmente, e isso os faz assumirem comportamentos de risco (BAKER e MANER, 2008).
Na escola são mantidas relações sociais entre aluno e aluno, professor e alunos. Para Abramovay e Rua (2003) a escola é o ambiente que representa fatores tanto endógenos como exógenos, que são contingentes ao comportamento dentro da escola. Endógenos se referem a problemas que são oriundos à própria escola, e exógenos, os exteriores, tais como a cultura e a sociedade, os quais também são representados na escola, não podendo distanciar a instituição desses fatores humanos (CAMACHO, 2001).
As mais preocupantes atitudes do bullying são identificadas nas escolas. É normal que em toda escola ocorram brigas, inimizades, desavenças, etc. Porém, a repetição destes atos aponta a eleição de uma vítima que poderá sofrer consequências emocionais de sua vida escolar (LOPES NETO, 2005).
Fante e Fante (2006) e Lopes Neto (2005) constataram que as condutas de bullying foram praticadas com maior intensidade nas salas de aula. Entretanto, Pereira (2002) debruçou suas atenções para os momentos de recreio, visto a alta intensidade com que o bullying se manifestava nestes lugares nas escolas portuguesas. Vale ainda apontar que Pizarro e Jiménez (2007) identificaram o próprio bairro como local de maior incidência, seguido por ambientes do espaço escolar.

Os dados alarmantes trazidos pelo IBGE também corroboram a ideia de que o bullying atinge todas as escolas, independentemente de sua natureza administrativa, pois verificou-se maior proporção deste problema entre os escolares de escolas privadas (35,9%) do que entre os de escolas públicas (29,5%).
Segundo Francisco e Libório (2009) os lugares de maior ocorrência do bullying são nos pátios dos colégios e, especificamente, nos horários de recreio, nos quais não se costuma encontrar supervisão de adultos. Também é frequente o bullying diretamente nas salas de aula, inclusive com a presença de professores, situação que demonstra ser ainda comum a omissão desses profissionais no que se refere ao combate de tais formas de violência.
Francisco e Libório (2009) nos mostram que 28,6% dos investigados relata sofre bullying no recreio, seguido pela sala de aula com um percentual de 27,9%. Salientando que nas salas de aula e nos recreios por mais que haja funcionários e professores, o bullying acontece em muitos casos de forma camuflada dificultando intervenções.
Os resultados obtidos em nosso estudo, apontam que 36% dos casos de bullying acontecem dentro da sala de aula, seguido de 24% das ocorrências no pátio da escola e 21% no refeitório. Em desacordo portanto com os resultados da pesquisa citada acima. Apesar dos alunos considerarem a sala de aula um ambiente melhor que o restante da escola, cerca de 52,7% dos fatos de bullying ocorrem neste espaço menor (FORERO et al.,1999).
Segundo Fante e Pedra (2008) no Brasil, o local preferido para os ataques são as salas de aulas. A partir do momento em que a criança vai para a escola, torna-se mais propícia a sofrer com esse tipo de violência, bem como se tornar autora dessa prática. Souza et al. (2011) em estudos realizado em São Cristóvão, verificaram que 41% dos escolares afirmam sofrer bullying na escola.
Ao observar crianças e adolescentes nos horários de recreio e nas salas de aula, Craig et al. (1999) relataram acontecer 4,5 episódios agressivos por hora no intervalo e 2,4 episódios por hora na sala de aula. No estudo de Malta et al. (2010) com 34 adolescentes, 45% relataram que os casos acontecem em salas de aula.
No que se refere às vítimas algumas das possíveis consequências são: a deterioração da sua autoestima e do conceito que tem de si, podendo adquirir uma depressão e baixa qualidade nas relações interpessoais. Por outro lado, os autores também precisam de intervenção profissional, visto que não sabem o que é uma educação onde haja uma imposição de regras e limites e, podem sofrer grave deterioração de sua escala de valores (FRANCISCO & LIBÓRIO, 2009).
Por terem dificuldades na manutenção de relações positivas, os agressores consequentemente são mais propensão ao envolvimento em comportamentos de risco como abuso de drogas, reproduzindo as atitudes agressivas na família e no ambiente de trabalho na vida adulta. As testemunhas também sofrem prejuízos em sua vida emocional, no lado afetivo e psicológico, pois vivem com medo e ansiedade, podendo se tornar adultos inseguros (MATOS & GONÇALVES, 2009).

Os episódios de agressão relacionados ao bullying não acontecem de maneira uniforme, analisando também que as consequências dependem de cada indivíduo e de suas experiências (DUE et al.,2005)
Nossos achados mostram que em relação as consequências, 29% dos investigados revelam que a agressão teve algumas consequências ruins e 62% descrevem que a agressão não surtiu efeito sobre eles. Entretanto, para Carlye e Steinman (2007) apontam que as consequências do bullying para suas vítimas, como sintomas depressivos e abuso de substâncias, eram mais presentes em indivíduos do sexo feminino do que do sexo masculino e uma das possíveis explicações para esta diferença é que, embora as vítimas do sexo masculino sejam mais frequentes, as meninas tendem a utilizar formas psicológicas de agressão. O bullying indireto, produz efeitos mais prejudiciais ao indivíduo do que as formas de violência direta, como em situações de agressões físicas.
Para Fante e Fante (2006) os escolares vitimados pelo bullying podem ainda desenvolver traumas ao longo da vida, “Sindrome de Maus Tratos Repetitivos” é conhecida como a síndrome onde a vítima reproduz a agressão sofrida ou a reprime, podendo também se tornar uma agressora.
Quando questionados em relação ao culpado pelo fato de se sofrer bullying, 42 adolescentes descreveram que a culpa é do próprio agressor. 21 entrevistados relatam que a culpa é de quem assiste e não faz nada. Lopes-Neto; Saavedra (2003) em um grande levantamento envolvendo 5.428 escolares do ensino fundamental do Rio de Janeiro, apontou que 57,5% dos entrevistados eram testemunhas das agressões. Podemos ressaltar analisando estes números que temos em cada duas agressões uma testemunha, por isso a segunda alternativa mais citada foi de que a culpa é de quem assiste e não faz nada. Lopes Neto (2005) relata que o ato de chamar algum adulto para cessar as agressões não é muito comum, mas é uma ação efetiva.
O fenômeno é um ato solitário, silencioso. Em mais de 50% dos casos investigados os professores não tinham conhecimento do que seus alunos estavam enfrentando na escola. Cabe ressaltar que foi observada a tentativa de intervenção dos professores nas situações bullying quando estas chegam a seu conhecimento. Cerca de 8% dos alunos referem que os professores sabiam e nada fizeram para cessar a violência. (CARLYE E STEINMAN, 2007).
As atitudes protagonizadas pelos agressores no bullying envolvem abuso de poder e ocorrem sem motivação aparente, ou seja, sem motivo legítimo. Também não são provocadas pelas vítimas, por isso não devem ser confundidas com episódios de agressão reativa (CRICK e DODGE, 2000).
Fante e Pedra (2008) nos falam que o bullying compreende várias formas de ataques os quais normalmente são combinados a fim de gerar a exclusão social. Os ataques podem ser físicos (bater, chutar, beliscar), verbal (apelidar, xingar, zoar), moral (difamar, caluniar, discriminar), sexual (abusar, assediar, insinuar), psicológico (intimidar, ameaçar, perseguir), material (furtar, roubar, destroçar pertences), virtual (zoar, discriminar, difamar, por meio da internet e celular).
O bullying pode ser denominado relacional, quando a agressividade se manifesta a partir de ameaças, acusações injustas e indiretas, roubo de dinheiro e pertences, difamações sutis, degradação de imagem social que podem resultar na discriminação ou exclusão de um ou mais jovens do grupo (SMITH et al., 2004).
Para Antunes e Zuin (2008), o bullying pode ser classificado em: diretos e físicos: agredir fisicamente, roubar ou estragar objetos dos colegas, extorquir dinheiro, forçar comportamentos sexuais, obrigar ou ameaçar a realização de atividades servis; diretos e verbais: que incluem, insultar, apelidar, fazer comentários racistas ou que digam respeito a qualquer diferença no outro e por fim, os indiretos: que incluem excluir o indivíduo, realizar fofocas e boatos, ameaçar de exclusão do grupo com o objetivo de obter algum favorecimento, ou, de forma geral, manipular a vida social do colega. Há também o cyberbullying, o qual se utiliza de tecnologias de informação e comunicação para ridicularizar a vítima, assim, a agressão virtual ocorre por meio de mensagens de celular ou de computador através de e-mails e redes sociais.
Nossos achados apontam que 47% dos investigados sofrem bullying de forma verbal. No Rio Grande do Sul foram realizados quatro estudos sobre a ocorrência de bullying entre estudantes. Na cidade de Pelotas foram entrevistados 1.075 estudantes de 09 a 18 anos de ambos os sexos. Os resultados apontam que 17,6% dos entrevistados sofreram bullying, observando também que as agressões mais presentes foram as de forma verbal, seguida pela física, emocional e sexual respectivamente (MOURA et al.,2011).
Apontamos também que 24% dos investigados relataram ter sofrido o bullying de forma física, ou seja, em forma de agressão e que 3% relataram algum tipo de assédio sexual.
Em estudo realizado com 1.075 estudantes de 1ª a 8ª séries de duas escolas públicas de ensino fundamental do bairro Fragata de Pelotas (RS), a prevalência de estudantes que sofreram bullying foi de 17,6%, sendo que, 47,1% dos alvos revelaram já ter provocado bullying na escola. Quanto ao tipo de intimidação, 75,1% foram verbais, 62,4% físicas, 23,8% emocionais, 6,3% racistas e, 1,1% sexuais (MOURA et al., 2011).
Considerando os dados do estudo acima e comprando os mesmos com os dados da tabela 5, podemos analisar que os resultados são semelhantes ao encontrados em nosso estudo. A tabela 5 nos remete a observação de que, dos 94 investigados que relatam ter sofrido algum tipo de intimidação relacionada ao bullying, 47% apontam ter sofrido intimidação verbal, 24% apontam agressão de forma física e 9% agressão emocional.
Francisco e Libório (2009) identificaram uma diferença no tipo de comportamento de bullying em relação à idade e à escolaridade dos entrevistados: em alunos de 5ª série, as formas de violência se manifestaram mais por meio de ameaças físicas. Por sua vez, em discentes da 8ª série destacaram-se os insultos e as provocações.
Segundo Fante e Pedra (2008) um dado pertinente que chama a atenção é que dos investigados, 3 adolescentes do grupo dos eutróficos relatam ter sofrido agressão ou intimidação sexual. O bullying sexual também é muito frequente contra homossexuais, sendo definido como bullying homofóbico. Para os autores essa não é uma prerrogativa apenas da escola, a globalização e o apelo consumista são fatores ligados diretamente ao aumento da violência e da agressividade infanto-juvenis.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após investigar a ocorrência de bullying em adolescentes obesos e eutróficos de uma cidade da região do Vale do Sinos, RS, Brasil, observou-se a maioria dos adolescentes estão classificados como eutróficos.
Em relação ao fato dos adolescentes sofrerem algum tipo de agressão, intimidação ou assédios observou-se que tanto eutróficos quanto sobrepeso/obesos sofrem com esse tipo de agressão. Nesse sentido entende-se que a obesidade, em nosso estudo não foi um fator determinante para a ocorrência de bullying entre os adolescentes. Sendo assim, foi possível identificar que estado nutricional não parece implicar na ocorrência de bullying em adolescentes, uma vez que tanto adolescentes eutróficos quanto adolescentes com sobrepeso e obesidade sofrem com o bullying.
Quanto a frequência com que sofrem bullying, podemos destacar que tanto eutróficos quanto sobrepeso/obeso relataram sofrer agressões diversas vezes, sendo a idade de maior ocorrência entre os 5 anos ou mais. Com isso evidencia-se que as crianças, pelo fato de estarem em desenvolvimento social e cognitivo ainda não apresentam maturidade para compreender o diferente, apontando e verbalizando as diferenças.Com isso, cabe ressaltar a importância da família em intervir quando a criança apresentar algum comportamento abusivo frente a diferença do outro.
Referente ao local de maior ocorrência de bullying evidenciou-se que a sala de aula é o lugar com mais incidência de casos. Nesse local há relatos de agressão e assédios. Outro local referido para a prática de bullying foi o pátio da escola. A escola é um espaço onde a criança e o adolescente estabelecem as primeiras relações extrafamiliares. Nesse sentido pode-se inferir que a criança, nesse novo contexto acaba expondo suas fragilidades e limitações permitindo que os agressores as intimidem de diversas formas. A escola é um espaço de ensino/aprendizagem/socialização onde as agressões não deveriam ser recorrentes, uma vez que nesses espaços deveria haver a presença de um professor ou monitor responsável. Com isso, parece haver negligência por parte dos profissionais responsáveis em fiscalizar e minimizar a ocorrência de bullying nesse local.
Em relação ao tipo de agressão nosso estudo apontou que a agressão verbal foi a mais referida, seguida pela agressão física. Encontramos também entre os eutróficos 3 casos de violência sexual, com certeza os casos mais graves. Sobre os resultados encontrados é possível perceber o quanto devemos estar atentos as diferentes formas de manifestação do bullying, uma vez que todos essas agressões são por legisladas como crimes. Uma criança que sofre violência na infância pode apresentar distúrbios psicológicos e sociais graves que poderão influenciar nas suas escolhas e nas relações sócio- afetivas em idades posteriores.
Referente a como os adolescentes se sentem em relação ao tipo de agressão, a maioria dos eutróficos, sobrepesos/obesos referiram sentir-se mal, entretanto apontaram que não houve consequência do bullying em suas vidas. Nesse sentido é possível compreender que com a maturidade, os adolescentes aprendem a conviver com as diferenças e atenuar o sentido atribuído as agressões.

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* Licenciado em Educação Física pela Universidade Feevale
** Dra em Bioquímica Toxicológica- Universidade Federal de Santa Maria. Professora de Bioquímica na Universidade Feevale. Campus II. ERS 239, 2755. Novo Hamburgo, RS. CEP: 93525-075. Fone (51) 35868800 ramal:9019. Brasil. daineb@feevale.br
*** Dr em ciências da Comunicação- Universidade do Vale do Sinos/ UNISINOS. Professor do Curso de Educação Física da Universidade Feevale. Campus II. ERS 239, 2755. Novo Hamburgo, RS. CEP: 93525-075. Fone (51) 35868800 ramal:9019. Brasil. Sanfeliceg@feevale.br
****Pós Doutora na Faculdade de Serviço Social –PUCRS. Professora titular do Curso de psicologia da Universidade Feevale. Campus II. ERS 239, 2755. Novo Hamburgo, RS. CEP: 93525-075. Fone (51) 35868800, ge
***** Dra em Diversidade Cultural e Inclusão social- Universidade Feevale. Professora do Curso de Educação Física da Universidade Feevale. Campus II. ERS 239, 2755. Novo Hamburgo, RS. CEP: 93525-075. Fone (51) 35868800 ramal:9019. Brasil, deniseberlese@feevale.br

Recibido: 26/03/2018 Aceptado: 30/04/2018 Publicado: Abril de 2018

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