Revista: CCCSS Contribuciones a las Ciencias Sociales
ISSN: 1988-7833


RELAÇÕES ZOOMÓRFICAS NO IMAGINÁRIO POPULAR DAS NARRATIVAS NA LITERATURA DE CORDEL

Autores e infomación del artículo

Carlos Alberto Batista Santos*
Universidade do Estado da Bahia, Brasil

Roberto Remígio Florêncio**
IF sertão de Pernambuco, Brasil

cacobatista@yahoo.com.br

RESUMO

Neste estudo, propomos abordar as relações e interações com os animais presentes no imaginário popular, expressões da cultura de um povo transmitidas oralmente e narradas na literatura de cordel. Narrativas, mitos, contos, causos, adivinhas, canções, sagas, rezas, ritos e provérbios, de uma forma geral, essas narrativas abordam o cotidiano das pessoas, somando-se a isso a liberdade criativa e imaginativa de seus contadores, de tal modo que as situações reais e o imaginário são tecidos conjuntamente como resultado de experiências vividas ou inventadas. Nos causos narrados, normalmente, os próprios contadores constituem-se em personagens principais, testemunhas e/ou ouvintes dos episódios narrados. Para análise utilizamos 50 folhetos de cordel, com temáticas que envolvem diretamente os animais, atribuindo-lhes características humanas ou atribuindo aos humanos características animais.

Palavras-Chave: Etnozoologia, Literatura popular, Cultura e Ambiente, Oralidade, Pluralidade Cultural.

ABSTRACT

In this study, we propose to approach the relations and interactions with the animals present in the popular imaginary, expressions of the culture of a people transmitted orally and narrated in cordel literature. Narratives, myths, stories, causations, riddles, songs, sagas, prayers, rites and proverbs, in a general way, these narratives approach the daily life of people, adding to it the creative and imaginative freedom of their accountants, in such a way That real and imaginary situations are woven together as a result of lived or invented experiences. In the narrated cases, the accountants themselves are usually the main characters, witnesses and / or listeners of the narrated episodes. For analysis we use 50 cordel leaflets, with themes that directly involve animals, assigning them human characteristics or assigning human characteristics to animals.

Keywords: Ethnozoology, Popular literature, Culture and Environment, Orality, Cultural Plurality.



Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Carlos Alberto Batista Santos y Roberto Remígio Florêncio (2017): “Relações zoomórficas no imaginário popular das narrativas na literatura de Cordel”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, (abril-junio 2017). En línea:
http://www.eumed.net/rev/cccss/2017/02/cordel.html

http://hdl.handle.net/20.500.11763/cccss1702cordel


1 INTRODUÇÃO

            Contar e ouvir histórias são atividades humanas atávicas, classificadas entre as mais antigas e, curiosamente, contemporâneas, embora seus mecanismos de transmissão oral ou escrita tenham evoluído consideravelmente. Assim, também, o fato de criar/inventar/modificar narrativas pode estar associado à evolução humana em todos os sentidos, não apenas histórico ou lúdico (Infante, 1998).

...a narrativa está presente em todos os tempos, em todos os lugares, em todas as sociedades; a narrativa começa com a própria história da humanidade; não há, nunca houve em lugar nenhum povo algum sem narrativa; todas as classes, todos os grupos humanos têm as suas narrativas, muitas vezes essas narrativas são apreciadas em comum por homens de culturas diferentes, até mesmo opostas: a narrativa zomba da boa e da má literatura: internacional, trans-histórica, transcultural, a narrativa está sempre presente, como a vida (Barthes, 1987, p. 103-104).

Pellegrini (2003) define narrativa como sendo uma sequência de acontecimentos interligados, que são transmitidos em uma estória que reúne alguns atores, aqueles que as narram e aqueles que as ouvem, leem ou assistem. Quem narra, determina quando e como a informação será veiculada.
Neste estudo, propomos abordar o imaginário presente na Literatura de Cordel em relação à fauna silvestre e doméstica, que se constituem em fonte de inspiração para os poetas e prosadores populares, sendo escritos no formato de narrativas, mitos, contos, causos, adivinhas, canções, sagas, rezas, ritos e provérbios, identificando a fauna presente e as características que a estes são atribuídas pelos narradores dessa literatura.

2 A LINGUAGEM ORAL E A LITERATURA DE CORDEL

A linguagem, seja ela verbal ou não-verbal, é o que media a relação do homem com o mundo e a sua percepção da realidade, essa linguagem, para ser compreendida deve ser estudada a partir de um dado sócio histórico, por possuir um caráter integrador entre as pessoas e sua capacidade de transmissão e perpetuação de valores culturais (SILVA et al., 2009).
Nesse contexto, a literatura de cordel é uma linguagem verbal, considerada poesia, narrativa e impressa em folhetos. Trazida ao Brasil pelos portugueses no século XVIII, teve seu estilo assimilado pelas sociedades principalmente na região Nordeste do Brasil (Oliveira; Silva Filho, 2013). 
É para nós impossível desarticular a linguagem do processo de formação cultural, e da literatura oral, pois as narrativas presentes na literatura popular, são responsáveis pela disseminação e permanência de valores e tradições culturais numa determinada sociedade (Silva et al., 2009), é através da contação de histórias, que os grupos humanos foram perpetuando sua própria história, suas trajetórias pessoais, seus conhecimentos, sua cultura e suas visões de mundo.
Os folhetos de cordel nordestino têm seus primeiros registros impressos datados do século XIX, sendo um de seus maiores autores na época o poeta Leandro Gomes de Barros, e no começo do século XX com o editor e poeta João Martins de Athayde (Galvão, 2001).
A literatura de cordel1 compreende narrativas que são elaboradas no cotidiano, a partir da experiência individual de cada contador em sua labuta diária, revestidas de singularidade e não se limitam apenas ao seu valor estético, mas em sua força representativa, o valor sociocultural que as revestem, pois evidenciam uma cultura característica do local do seu autor. Além dessa característica, essas narrativas revelam informações históricas, etnográficas, sociológicas, jurídicas e sociais, uma vez que se constituem em um documento vivo que representa costumes, ideias, mentalidades, decisões e julgamentos (Cascudo, 1984).
O conhecimento da cultura local reforça a valorização bem como o incentivo ao desenvolvimento de uma região (Lóssio; Pereira, 2007), nesse aspecto, Canclini (2003) aponta que a mestiçagem étnica e o hibridismo cultural do continente latino-americano não foram observados em nenhum outro lugar do mundo com a mesma intensidade, diversidade e igual ímpeto.
É nesse ambiente que floresce a Literatura de Cordel, nome utilizado em Portugal para designar folhetos volantes ou folhas soltas, em que eram pendurados por um cordão e expostos nas feiras do país. Na região Nordeste do Brasil, mais especificamente, nas feiras e ruas de mercado popular das grandes e pequenas cidades dos estados da Bahia, Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte, Sergipe e Ceará, essa tradição advinda da oralidade, que remonta ao Trovadorismo (Portugal, Idade Média), se mantém atualizada. São comuns vendedores – na maioria das vezes, seus próprios autores – oferecendo livretos em tons pastéis de amarelo, azul, verde, rosa e branco, escritos e desenhados por xilografia2 .  
A feira, os mercados e as festas tradicionais nordestinas, sempre foram os locais preferidos para a comercialização do cordel, sendo as feiras os locais onde podemos encontrar os folhetos muitas vezes expostos em varais ou cordões (Oliveira; Silva Filho, 2013), no entanto, o cordel deixou as feiras e seguiu para as bancas de jornais revistas, chegando à Internet.
Com o processo de globalização e a explosão das tecnologias de informação, registramos muitas transformações sócio culturais nas sociedades humanas. A partir desses fenômenos é impossível falar em uma cultura pura em si mesma, pois, a interação entre grupos sociais proporciona o surgimento de novas identidades culturais através de processos de assimilação e ressignificação das tradições (MEIHY, 2005; SILVA et al., 2009). Dessa forma a literatura de cordel segue reconstruindo-se e adaptando-se às exigências das sociedades.

3 OS ANIMAIS E SEU SIMBOLISMO NA LITERATURA

Incontestavelmente, os animais apresentam alto valor econômico para as sociedades humana, seja pelo seu uso na alimentação, medicina, ou economia, através da criação doméstica e comercialização (Alves, 2012a), no entanto, não só devido ao valor econômico eles se destacam entre os humanos, mas também por sua importância cultural, fato que pode ser observado na literatura, entre outros aspectos (Sênior, 2009). Em todos os períodos da história humana, os animais têm destaque na literatura para representar, crenças religiosas, sociais e políticas (KLINGENDER, 1971), o que pode ser facilmente observado nas lendas, mitos, contos, causos, adivinhas, canções, sagas, rezas, ritos e provérbios. 
Desde a antiguidade clássica, os animais se destacam na literatura, e exemplos disto estão nos textos de Shakespeare (Inglaterra, 1564 – 1616), que contêm mais de 70 abstrações aparecendo em forma animal e mais de 4.000 alusões são feitas aos animais (Yoder, 1947), como exemplo temos o poema Twelfth Night. Diversos outros escritores citam os animais em suas produções literárias, como Herman Melville (Moby Dick), Emily Dickinson (Could I but ride indefinite), Abraham Lincoln (The bear hunt), George Bernard Shaw (We are the living grave of murdered beasts), William Cowper (The owl critic), William Blake (Auguries of innocence), Wallace Stevens (Thirteen ways of looking at a blackbird), Thomas Hardy (The pig killing scene in jude the obscure) (Allen, 1983). Na moderna literatura brasileira, vamos encontrar exemplos dessa temática nas obras de Monteiro Lobato, Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, João Ubaldo Ribeiro, entre outros.
Ao escrever sobre os animais, estes autores serviram como precursores da utilização antropomórfica, quando os animais passam na literatura a serem abordados com características humanas (Spears et al., 1996), fato verificável na Literatura de Cordel.
A afinidade humana com os animais se manifesta não apenas nas relações diretas entre as pessoas e os animais, mas também através do uso dos animais para representar aspectos da vida (Lawrence, 1997), assim é que a moral é transmitida através dos animais, a exemplo das fábulas de Esopo, da Grécia Antiga, e La Fontaine, na França do século XVII.
Robin (1977) demonstra que os animais foram e são usados ao longo da História para retratar qualidades humanas, a exemplo da sociedade das abelhas, a traição da hiena, a hipocrisia das lágrimas do crocodilo, a astúcia da raposa, a amizade e lealdade do cão, a inconstância do camaleão e a paz da pomba.
Dessa forma, os animais utilizados como símbolos, são definidos culturalmente e pertencem à memória coletiva dos membros da sociedade, constituindo-se numa base de inspiração para novelistas, artistas, dramaturgos, cineastas, publicitários e poetas, que os utilizam conscientemente para obter a atenção dos leitores, à mensagem que desejam transmitir (Rowland, 1973).

ASPECTOS ETNOBIOLÓGICOS E ETNOZOOLÓGICOS DA PESQUISA

Segundo Gaudêncio; Borba (2010), os inscritos rupestres, a oralidade, posteriormente a invenção da imprensa e as mídias eletrônicas são fontes de informação com possibilidades de apoiar as ciências. Nesse contexto, a literatura de cordel possui uma função informativa extremamente importante para diversos grupos sociais (Galvão, 2001), constituindo-se num instrumento de descoberta do imaginário presente no saberes populares.

Procedimentos metodológicos

O estudo foi realizado com base na leitura de 50 livretos de cordéis, adquiridos em diversas cidades do Nordeste, região do semiárido, durante o ano de 2016, sendo selecionados apenas aqueles que utilizam animais no seu escopo. A partir da leitura dos cordéis, foi construída uma tabela com as espécies utilizadas e as característica atribuídas aos animais pelos autores.

Resultados e discussão

Considerando todos os cordéis pesquisados, foi registrado um total de 26 etnoespécies animais utilizados nas narrativas dos cordelistas. Essas espécies se distribuem em 04 táxons, sendo a maioria mamíferos (n=17), seguido das aves (n=05), invertebrados (n=02), e répteis e anfíbios com uma citação cada (Tabela 01).

Estudos etnozoológicos no semiárido do Nordeste brasileiro, registram os mamíferos e as aves como as espécies mais exploradas culturalmente, seja através da caça para captura para ornamentação ou como um dos mais importantes recursos alimentares (Alves et al., 2009a; 2009b; 2012b; Bezerra et al., 2011), sendo também utilizados como personagens nas narrativas, a exemplo dos cães, cavalos, onça e vaca, aos quais foram atribuídas duas ou mais características nos textos analisados (Tabela 01).
Por aparecer reincidentemente, a temática da sexualidade será aqui analisa como ratificadora da condição ainda inferiorizada da mulher na produção literária universal, tendo em vista os espaços excludentes da sociedade patriarcal, onde o sexo feminino ainda aparece como “o outro”, como função passiva e em caráter de objeto.
Entendemos que as diferenças de gênero são construções político-econômicas na esfera social, ainda que, há muito tempo, o tema da diferença sexual seja objeto de estudo das ciências sociais e da antropologia (Araújo, 2005). Na definição de Scott (1995), gênero é um elemento constitutivo das relações sociais fundadas sobre as diferenças percebidas entre os sexos e também um modo primordial de dar significado às relações de poder.
Pesquisa realizada por Dalcastagnè (2012), na Universidade de Brasília, mostra que de todos os romances publicados pelas principais editoras brasileiras, em um período de 15 anos (de 1990 a 2004), 120 em 165 autores eram homens, ou seja, 72,7%. A mesma autora chama a atenção para o fato de que em todos os principais prêmios literários brasileiros (Portugal Telecom, Jabuti, Machado de Assis, São Paulo de Literatura, Passo Fundo Zaffari & Bourbon), entre os anos de 2006 e 2011, foram premiados 29 autores homens e apenas uma mulher.
Nessa historiografia, não houve espaço para a produção das mulheres (Santos, 2006), registramos a publicação de Maristela Barbosa de Mendonça “uma voz feminina no mundo do folheto” de 1938 (Mendonça, 1993). Apesar de fazer parte deste universo, como filha ou esposas dos poetas, as mulheres do sertão nordestino não tiveram visibilidade na sociedade patriarcal, isso justifica a trajetória da literatura de cordel estar centrada no homem, que ia para as feiras e palcos declamar, à mulher não cabia esse acesso à cultura.
No universo machista da literatura de cordel, bem como em todo universo literário dos séculos passados, a sexualidade está entre as características que mais relacionam os animais ao homem, em representações da sexualidade (n=06 citações), através da zoofilia erótica ou zooerastia3 e bestialidade 4 (Tabela 1).
O termo bestialidade é um termo antigo, muito usado para designar a relação sexual com animais por antigos rituais praticados por cultos ancestrais, magias, povos primitivos, povos amorais, cultos satânicos e religiões pagãs (Simião, 2015). Em relação à zooerastia, esta é designada por Moll (1899) como uma perversão do instinto como condição permanente e, uma vez que o sujeito fosse zooerasta, o desejo por atos sexuais com mulheres seria totalmente inibido. Para Moll, a zooerastia só será possível se a heterossexualidade normal for ausente ou muito fraca.
            A segunda característica mais citada e atribuída aos animais nos cordéis analisados é o zoomorfismo, quando os personagens apresentam comportamentos ou semelhanças físicas com animais, conforme esclarece Malard (1976). Podemos visualizar esta característica nos escritos de Graciliano Ramos no clássico da literatura brasileira Vidas Secas, quando o personagem Fabiano é descrito pelo autor, enquanto vivia no sertão nordestino, “cabeça inclinada, espinhaço curvo, cambaio, torto, feio, corcunda, peito cabeludo, duro, lerdo como tatu, jeito de bicho lerdo. Uma única vez está forte e gordo, mas andando como um macaco” (Ramos, 2003).
O antropomorfismo é um conceito filosófico que atribui características, sejam físicas, sentimentos, emoções, pensamentos, ações ou comportamentos humanos aos objetos inanimados ou seres irracionais (Santos, 2013), nos cordéis analisados, assinalamos nas narrativas características atribuídas aos animais, como a esperteza (macacos, coelhos e vacas), avareza (cavalos e vacas), coragem (pintos), força (leões), sabedoria (gatos) e alegria e fidelidade (cães). Também na obra Vidas Secas (Ramos, 2003), o autor descreve a cachorra Baleia como tendo sentimentos, dando a entender que a cadela se sentia parte da família, a ponto de caçar preás para os donos, como se a mesma se sentisse na obrigação de ajudar no sustento das pessoas.
Alguns animais possuem uma relação com a religiosidade popular, a exemplo dos cães e andorinhas, citados nas narrativas dos cordéis analisados. Para Costa Neto (2002), entre as diversas interações que a espécie humana mantém com os animais, a místico-religiosa se destaca, é frequentemente negligenciada por situar-se na dimensão ideológica e por ser considerada como folclore de comunidades e povos tradicionais.
Diversos trabalhos descrevem essas relações, a exemplo dos estudos de Maués (2006), que narra o simbolismo religioso do boto amazônico, encantado ou bicho do fundo, personagem mítico que está associado à pajelança cabocla, presente nas narrativas de várias regiões da Amazônia, sobretudo em cidades, vilas e povoações do interior. No Ceará, temos o registro de gafanhoto, grilo, lagarta e formiga utilizados em atividades místico-religiosas pela população do município de Groaíras (Alves; Freire; Braga, 2015).
Temas em ecologia também se fazem presentes nos cordéis analisados, como o registro de hábitos alimentares dos animais, a exemplo da narrativa do rato e a raposa, ou com enfoque nas relações entre espécies distintas como na narrativa “o cavalo e os macacos” ambas da autoria de José Francisco Borges. Aspectos ecológicos das espécies animais são comuns em estudos etnobiológicos, a exemplo da formiga como boa indicadora de chuva (Folhes; Donald, 2007). Os significados culturais dos animais para os homens estão ricamente ilustrados pelas histórias e na História, sendo a influência destes evidente nas manifestações culturais e artísticas (Santos et al, 2015), dessa forma, fábulas, contos populares, lendas, mitos, entre outras expressões culturais, foram gerados a partir de relações entre o homem e os animais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

            Podemos perceber neste estudo que a literatura construída oralmente ainda é uma forte da expressão cultural do povo e que a produção de cordéis ainda representa um importante veículo das expressões culturais d e uma dada sociedade.
            Fica também visível que a literatura popular, mais especificamente, os cordéis, no Nordeste brasileiro, ao longo de sua trajetória histórica, ratificaram a condição de submissão da mulher por sua exclusão como cordelistas resultante de exclusões sociais mais amplas.
Também registramos a perpetuação de preconceitos e crendices advindas dos misticismos e sincretismos religiosos, presentes na oralidade e impressas nos folhetos, onde os animais são veementemente identificados como agourentos, pestilentos ou atrozes.
É certo que afirmações científicas não estão presentes nas produções analisadas, e os saberes populares, adquirem status de verdades absolutas, sendo corroborado pela tradição oral.  

           
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* Biólogo/Etnobiólogo, Doutor em Etnobiologia e Conservação da Natureza (UFRPE), Atua na área de Zoologia, Conservação da Biodiversidade, Etnozoologia e Etnoecologia. Professor Assistente da Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais. Coordenador do Mestrado em Ecologia Humana e Gestão Socioambiental DTCS/UNEB. Líder do Grupo de Pesquisa em Etnobiologia e Conservação dos Recursos Naturais (UNEB), Membro do Núcleo de Estudos em Comunidades Tradicionais e Ações Sócio-Ambientais (NECTAS-UNEB), e do Grupo de Pesquisa em Etnicidades, Movimentos Sociais e Educação (GPEME-UNEB). Coordenador do Centro de Formação e Pesquisa Indígena do Semiárido da Bahia. Editor da Revista Opará Etinicidades, Movimentos Sociais e Educação.

** Mestrado em Educação, Cultura e Territórios Semiáridos (PPGESA/UNEB); Graduações: Licenciatura Plena em LETRAS (Português-Inglês) (FFPP/UPE) e Licenciatura Plena em PEDAGOGIA (Administração e Coordenação de Projetos Pedagógicos) (UNEB). Especializações: Educação Básica de Jovens e Adultos (UNEB), Língua Portuguesa (UNIVERSO), Língua Portuguesa e Literatura (Montenegro) e Gestão Pública (UNIVASF). Professor de Língua Portuguesa do IF Sertão-PE campus Petrolina Zona Rural. Experiência na área de Educação e Cultura, Produção e Interpretação Textual, Formação de Professores, Língua Portuguesa e Literatura Brasileira. Mestrando em Inovação Pedagógica, pela Universidade da Madeira - UMa (Portugal); Membro do Comitê de Ética do IF Sertão-PE; Pesquisador do Centro de Pesquisas OPARÁ/UNEB; Presidente Comissão PDVAgro IF Sertão-PE.

1 Literatura de Cordel será registrada com letras maiúsculas, pois se compreende aqui não apenas como um gênero textual, mas também enquanto movimento literário regional autêntico e de resistência política e estética.

2  Milenar técnica de origem chinesa em que o desenho e a letra são entalhados na madeira para posteriormente serem reproduzidos no papel (ou cerâmica) com tinta específica; muito popular no Nordeste, a xilogravura é utilizada para ilustração de textos de cordel. Alguns cordelistas são também xilogravadores, como o pernambucano J. Borges (José Francisco Borges – 1935).

3 Categoria de fetiche com os animais (Krafft-Ebing, 1894)

4 Sexo com animais (Simião, 2015)


Recibido: 11/04/2016 Aceptado: 18/04/2017 Publicado: Abril de 2017

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