CAMINHOS DO JEQUITINHONHA: ANÁLISE DO PROJETO DE COMBATE Á POBREZA RURAL

Marcela de Oliveira Pessôa

4.3.1 – O amigo do pescador

Uma das principais reclamações dos beneficiários das comunidades trata da pouca participação do IDENE nas mesmas1 . Segundo os beneficiários, carece de que a instituição conheça mais a realidade local e que haja maior troca de informações entre as comunidades e a instituição; desta forma, é visto que esperam estabelecer uma relação mais sinergética com o IDENE. Esta sinergia corresponde ao que Durston (2001) considera como sendo uma transformação das relações entre população pobre e agentes de desenvolvimento: implica em que os agentes identifiquem-se com a comunidade e sejam movidos por vocação para o trabalho. Simplesmente, na visão dos entrevistados, espera-se que a instituição esteja mais presente na realidade comunitária e que tome-a como sendo sua própria realidade, para que em conjunto alcancem o objetivo de superação das dificuldades socioeconômicas conforme se espera.
Pelo o que fora visto na realidade microrregional do Médio Jequitinhonha, os agentes institucionais do IDENE tem, como já fora mencionado, grande cuidado no trato com as pessoas das comunidades, atuando de forma empática, transparente e responsável conforme os entrevistados apontaram. Neste caso, foi verificado que o que tem impedido uma correlação de forças que atinja o nível de sinergia evocado concerne a dois pontos cruciais: o número de funcionários disponíveis para atuar no nível microrregional e sua rotatividade no IDENE.
Além do pessoal que trabalha no âmbito do escritório, existem, usualmente, apenas três agentes para atuar diretamente nas comunidades do Médio Jequitinhonha, disponibilizados da seguinte forma:
Agente I: Municípios de Araçuaí, José Gonçalves de Minas, Berilo, Jenipapo de Minas e Ponto dos Volantes.
Agente II: Municípios de Comercinho, Medina, Padre Paraíso, Caraí e Chapada do Norte.
Agente III: Municípios de Coronel Murta, Virgem da Lapa, Francisco Badaró, Itinga e Itaobim.
Portanto, seriam designados, cinco Municípios para cada agente institucional de campo 2. Suponhamos que cada Município tenha, no mínimo, dez comunidades rurais 3, o que implicaria que o agente de campo teria de atuar em cinquenta comunidades: como então promover a sinergia em tal situação? Mesmo que não haja projetos em todas as comunidades de todos os Municípios, deve-se considerar que todas devem ter direitos iguais em concorrer aos recursos do PCPR.
Uma relação contígua através, por exemplo, da visitação às comunidades evitaria problemas relacionados ao acesso às informações, fossem ligados a níveis de CMDRS ou de outras “politicagens” locais conforme foram denunciadas nas comunidades. Mesmo com o interesse dos agentes institucionais da microrregião em estabelecer uma relação sinergética com as comunidades, as dificuldades causadas pela baixa disponibilidade de agentes são enormes; pois, além da necessidade de acompanhar as comunidades, existe toda uma série de atribuições que lhes competem nos escritórios regionais dados vários outros programas. Carece-se, portanto, da contratação de mais consultores para que se possa redistribuir os Municípios e que se atue mais enfaticamente no interior das comunidades.
O segundo ponto dado é ainda mais importante. Ao se considerar que relações de confiança, reciprocidade e cooperação se estruturam com o tempo e que são necessários para auxiliar no desenvolvimento, eis que o IDENE acaba fragmentando continuamente estes laços entre os agentes institucionais de campo e as comunidades. Majoritariamente, a rotatividade dos consultores na instituição não se faz no âmbito intrainstitucional, como deveria ser – isto é, apenas mudando o consultor de área de abrangência para evitar a criação de laços personalistas – mas sim, principalmente, em nível de contratação. O tempo de contrato dos consultores varia de seis a doze meses, podendo ser prorrogado por mais um ano. E assim, depois de um relativo tempo de experiência para com as comunidades, quando os consultores já desenvolveram maior aptidão para o trabalho, conhecimentos sobre as realidades e laços de confiança, saem da instituição e tudo começa novamente com o novo contratado. Como, então, assegurar uma relação sinergética com as comunidades? Em que os agentes institucionais tomem para si a responsabilidade de contribuir para o desenvolvimento das comunidades abrangidas pelo IDENE, se eles não são motivados a permanecer na instituição e nos seus postos de trabalho?
Estes dois aspectos são de suma importância, e da correção destas contrariedades dependem também as próximas propostas.


1 Neste caso, segundo os entrevistados, mais presença e interação.

2 Deve-se relevar que no IDENE do Médio Jequitinhonha são, comumente, dois consultores e um técnico e que as demais agências microrregionais funcionam de forma semelhante. Além disto, em certas ocasiões os consultores devem intervir nos Municípios de responsabilidade dos técnicos por estes não terem a formação profissional apropriada.

3 Pressuposição apenas a título de ilustração. O município de Araçuaí, por exemplo, possui aproximadamente 40 comunidades rurais.

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