Centrando a análise na  aldeia do Piódão (figuras 1 e 2), importa evidenciar, de forma prévia, a  dimensão histórica dos principais problemas estruturais que marcam a evolução  deste micro-território de montanha, nomeadamente o isolamento, a escassez de  recursos, o afastamento e o desinteresse dos poderes públicos, o despovoamento  (entre 1960 e 2001, o Piódão perdeu quase 80% da população residente,  fixando-se em cerca de 60 habitantes), o envelhecimento (44% da população  residente na freguesia do Piódão apresentavam 65 ou mais anos e apenas 10% eram  jovens), o baixo nível de escolaridade e o abandono da paisagem rural (como  consequência do declínio acentuado das actividades económicas tradicionais).
  Contudo, estamos em sintonia  com Moreno (1999: 407), quando refere que o PAH “constituiu uma oportunidade  estratégica de promoção do desenvolvimento e projecção do Piódão, e um eixo  incontornável em matéria de análise explicativa das mudanças que, desde então,  marcam esta aldeia”.
Quadro 2. Investimento financeiro realizado nas Aldeias Históricas de Portugal (1995-2002)
Aldeia  | 
      QCA II (1995-1999)  | 
      QCA III (2000-2002)  | 
      Total  | 
    
Almeida  | 
      5.232.853  | 
      437.789  | 
      5.670.642  | 
    
Castelo Mendo  | 
      1.331.164  | 
      49.561  | 
      1.380.725  | 
    
Castelo Novo  | 
      48.972  | 
      2.140.623  | 
      2.189.595  | 
    
Castelo Rodrigo  | 
      2.606.873  | 
      740.661  | 
      3.347.534  | 
    
Idanha-a-Velha  | 
      1.587.530  | 
      1.723.597  | 
      3.311.127  | 
    
Linhares da Beira  | 
      2.437.803  | 
      5.434.552  | 
      7.872.355  | 
    
Marialva  | 
      2.243.556  | 
      1.122.549  | 
      3.366.105  | 
    
Monsanto  | 
      1.482.858  | 
      255.463  | 
      1.738.321  | 
    
Piódão  | 
      5.314.004  | 
      241.797  | 
      5.555.800  | 
    
Sortelha  | 
      1.793.043  | 
      481.896  | 
      2.274.939  | 
    
Trancoso  | 
      -  | 
      -  | 
      -  | 
    
Belmonte  | 
      -  | 
      -  | 
      -  | 
    
Projectos Transversais  | 
      2.374.815  | 
      272.612  | 
      2.647.427  | 
    
Total  | 
      26.453.471  | 
      12.901.101  | 
      39.354.571  | 
    
                                                                                                                                      
        Fonte: CCRC (2002).
Neste contexto, é relevante  enfatizar o plano de candidatura do Piódão (Plano de Aldeia) ao Programa das  Aldeias Históricas, em particular as linhas de intervenção definidas para o seu  desenvolvimento. A informação publicada pela Comissão de Coordenação da Região  Centro (CCRC) relativa aos Planos de Aldeia, apesar de resumida, permite  compreender o essencial do Programa de Intervenção definido para o Piódão.  Quanto às principais linhas de intervenção, verificamos que a actuação pública  aparece segmentada em cinco grandes domínios: 
  – As  infra-estruturas (com a melhoria das condições de salubridade das redes de  esgotos e de abastecimento de água, o enterramento das redes de electricidade e  de comunicação e a construção de três estações de tratamento de águas  residuais); 
  – Os acessos  viários (com o alargamento e rectificação da estrada de acesso à aldeia, de  traçado muito abrupto e sinuoso); 
  – A  sinalização (através da implantação de sinalização nos acessos e no interior da  aldeia de modo a torná-la mais “visível” e a facilitar a orientação dos  visitantes); 
  – A  aquisição e remodelação de um imóvel destinado a Posto de Turismo; 
  – A  realização de pequenos trabalhos de recuperação e de beneficiação da Igreja  Paroquial sob responsabilidade do (antigo) Instituto Português do Património  Arquitectónico (IPPAR).
Em paralelo, pretendia-se  uma cooperação da autarquia com as populações e organismos locais, prestando  apoio técnico e financeiro em obras de recuperação e de reposição da traça  original dos imóveis (fachadas e telhados). 
  Quanto ao apoio concedido às  economias locais, as acções a desenvolver foram no sentido do melhor  acolhimento do visitante, ou seja, a promoção e o desenvolvimento do potencial  turístico da aldeia. Pretendia-se intervir ao nível do alojamento com a  construção de uma Pousada que respeitasse integralmente as características arquitectónicas  da aldeia (a Estalagem do Piódão), e na dinamização das artes e ofícios  tradicionais com a criação de ateliês de artesanato e lojas de venda de  produtos locais das freguesias vizinhas (trabalhos em madeira, aguardente de  mel, mel, cestaria, doçaria, entre outros). 
Quadro 3. Investimento e  projectos concretizados na aldeia do Piódão (1995-2002)
   
Tipologia de Projectos  | 
      Intervenções (Nº)  | 
      Investimento Elegível  | 
      Comparticipação FEDER  | 
      %  | 
    
Infra-estruturas Básicas  | 
      7  | 
      1.319.158  | 
      981.970  | 
      23,9  | 
    
Valorização do Património  | 
      1  | 
      32.921  | 
      24.690  | 
      0,6  | 
    
Arranjos Urbanísticos  | 
      1  | 
      45.424  | 
      31.797  | 
      0,8  | 
    
Fachadas Recuperadas  | 
      49  | 
      174.111  | 
      130.583  | 
      3,2  | 
    
Equipamentos Turísticos  | 
      2  | 
      3.757.963  | 
      2.818.472  | 
      68,1  | 
    
Casas de Campo  | 
      2  | 
      106.295  | 
      40.777  | 
      1,9  | 
    
Micro Empresas  | 
      -  | 
      -  | 
      -  | 
      -  | 
    
Acções de Animação e Promoção  | 
      7  | 
      31.326  | 
      23.038  | 
      0,6  | 
    
Publicações Editadas  | 
      2  | 
      49.333  | 
      37.000  | 
      0,9  | 
    
Estudos e Apoio Técnico  | 
      -  | 
      -  | 
      -  | 
      -  | 
    
Total  | 
      71  | 
      5.516.532  | 
      4.088.328  | 
      100  | 
    
                                           Fonte: CCRC (2002). 
                                                                                                           Unidade:  Euros. 
                                                                                                                                                                                                                         
  No caso do Piódão, o  investimento total, segundo elementos publicados em 2002, foi de 5,5 milhões de  euros, distribuído por 71 intervenções (quadro 3). Do conjunto de intervenções  realizadas destacamos os equipamentos turísticos (o exemplo mais relevante é a  Estalagem da Fundação INATEL, com 3,8 milhões de euros de investimento); as  infra-estruturas básicas (1,4 milhões de euros) e a recuperação de fachadas e  coberturas (174 mil euros). 
  Como referimos em trabalho  anterior1,  são visíveis os efeitos locais deste programa (e de outros complementares2),  em especial no âmbito das novas actividades (comércio de artesanato; serviços  de cafetaria, restauração e alojamento turístico) e equipamentos culturais  (posto de turismo e museu). 
  Por outro lado, encontramos sinais evidentes dos efeitos positivos das  intervenções de requalificação e revitalização (decorrentes das Aldeias  Históricas) na evolução do número de visitantes em  particular no período de 2001 até 2003, atingindo neste último ano o valor  máximo de visitas (24175 visitantes) – o valor médio para o período em que  existem dados disponíveis, ou seja 1999-2008, é de 16.726 visitantes/ano. 
  Importa recordar que os  eixos vertebradores das intervenções no âmbito das Aldeias Históricas  configuram objectivos económicos, sociais e patrimoniais, no sentido de  melhorar a qualidade de vida dos residentes (designadamente através da  renovação e ampliação da rede de infra-estruturas básicas), criar novas  actividades económicas, em particular as relacionadas com o turismo, fomentar a  oferta local de emprego e fixar população. 
  Na perspectiva da população  residente, tendo como suporte inquéritos por questionário (realizados em meados  de 2008), podemos afirmar que as principais vantagens decorrentes das  intervenções estão relacionadas com a ampliação/reforço das redes de  infra-estruturas básicas (água, energia eléctrica e saneamento), o turismo  (número de turistas, nova imagem da aldeia e sua divulgação), a recuperação do  património construído, a construção da piscina fluvial e o arranjo urbanístico  do Largo Cónego Nogueira, por ordem decrescente de importância, respectivamente  (Carvalho e Correia, 2009). 
  As maiores preocupações  manifestadas pelos residentes no Piódão, no contexto das Aldeias Históricas,  enfatizam o turismo e algumas atitudes e comportamentos dos turistas  (nomeadamente os seus efeitos negativos em termos de estacionamento na Aldeia,  e de privacidade, tranquilidade e segurança dos residentes), o funcionamento da  ETAR (estação de tratamento de águas residuais domésticas) e o desinteresse em  recuperar a piscina e o seu espaço envolvente (destruídos pela acção  tempestuosa das águas, após o incêndio florestal de 2005). As respostas  permitiram, ainda, perceber algumas críticas e incompreensão em relação às  alterações arquitectónicas de alguns imóveis e no que diz respeito ao acesso  (dos privados) aos apoios financeiros para intervenção nas estruturas  edificadas. Prevalece, em geral, a ideia de que o esforço de investimento do  Programa foi orientado no sentido de privilegiar (mais) os visitantes,  relegando para segundo plano os quem vive diariamente na aldeia (Carvalho e  Correia, op. cit.)
  Em relação aos melhoramentos  a concretizar no Piódão, as respostas sublinham a melhoria da assistência  médica e do acesso aos cuidados de saúde, a reconstrução da piscina fluvial e  sua envolvente, a melhoria dos acessos à aldeia e o aumento dos lugares de  estacionamento. A construção de uma casa de convívio, a criação de mais postos  de trabalho e a recuperação de imóveis configuram outras opiniões neste domínio  (Carvalho e Correia, op. cit.). 
  No que diz respeito aos  visitantes, com base em inquéritos por questionário realizados entre Junho e  Setembro de 2008 (envolvendo 550 inquiridos com idade superior a 18 anos que se  deslocaram em viatura própria ao Piódão, ou seja cerca de 3,3% dos  visitantes/ano registados na última década), foi possível apurar um conjunto de  informação que agora destacamos de acordo com os objectivos da presente  reflexão. 
  De forma prévia, é preciso  explicar que a amostra é constituída por 67,5% de excursionistas (371  inquiridos) e 32,5% de turistas (179 inquiridos) e apresenta as seguintes  características principais: 93% dos inquiridos residem em Portugal (repartidos  mais de nove dezenas de municípios – figura 3); 46%  dos visitantes apresentam idades entre os 30 e os 49 anos; 44% dos  turistas apresentam habilitações académicas de nível superior (valor semelhante  tem o 1º ciclo do ensino básico nos excursionistas); a estrutura sócio-profissional  é dominada pelos trabalhadores por conta de outrem (excepto funcionários  públicos), com 31%, reformados (15%), e empresários e trabalhadores por conta  própria (12%).
Em relação à experiência e  dimensão da visita, os inquéritos revelaram que 73% dos turistas pernoitam na  aldeia, preferencialmente, na Estalagem da Fundação Inatel e na Casa da Padaria  (TER), com uma permanência média de 2,3 noites/turista. Os restantes 27% ficam  alojados em outros locais (Arganil, Fornos de Algodres e Covilhã) e utilizam  preferencialmente hotéis e unidades de TER, com uma permanência média de 3,8  noites/turista. Para 77% dos visitantes, o Piódão é o principal destino da  visita e cerca de 55% dos visitantes manifestaram vontade de conhecer, no  próprio dia ou no dia seguinte, outros locais próximos em especial a Fraga da  Pena e a Mata da Margaraça (integrada na Rede Nacional de Áreas Protegidas, na  Rede Natura 2000 e nas Reservas Biogenéticas do  Conselho da Europa), e ainda a Serra da Estrela, a Aldeia das Dez e a Senhora  das Preces. De igual modo é importante assinalar que 65% dos inquiridos ainda  não conheciam o Piódão.
  Quando questionados sobre o  que mais gostaram da aldeia, os visitantes enfatizam o “conjunto” (77%), ou  seja, a unidade arquitectónica da aldeia e a sua integração na paisagem, a  paisagem natural (10%), e os imóveis recuperados (5%). Em sentido oposto, cerca  de 74% dos visitantes referem dificuldades/problemas durante a visita (figura 4),  em particular os acessos viários (36%), as dissonâncias arquitectónicas (12%),  os imóveis arruinados/abandonados (8%) e outros problemas (18%) como a falta de  estacionamento, a abordagem por parte dos comerciantes/apelo à compra de  produtos, e a sujidade de certos recantos da aldeia. 
    
  É este,  também, o alinhamento principal de sugestões dos visitantes para melhorar as  condições de acolhimento do Piódão. Com efeito, as suas respostas manifestam  preocupação com o potencial turístico e cultural da aldeia e a necessidade de  promover alternativas para melhorar a qualidade de vida da população local,  nomeadamente: a melhoria dos acessos viários (52%), iniciativas de  uniformização da aldeia (isto é, a eliminação de todas as dissonâncias  arquitectónicas) e de recuperação dos imóveis que se encontram em estado de  ruína ou abandono (12%), a reconstrução do parque de estacionamento e da praia  fluvial referidas por 8% e 6% dos inquiridos, respectivamente. Como “outras  sugestões” referidas pelos visitantes (11%), destacamos a instalação de um  serviço de multibanco, a construção de um posto de abastecimento de  combustível, a inviabilização de propostas para aumentar o sector comercial da  aldeia, a promoção de uma maior oferta de restauração, a existência de painéis  informativos sobre a aldeia direccionados para o visitante, a maior oferta de  alojamento e o alargamento do horário de funcionamento do posto de turismo.
  Ainda assim, quando questionados sobre a intenção de voltar  ao Piódão, 91% dos inquiridos responderam de forma positiva.
      1 Carvalho e  Correia (2008). 
2 Importa referir as  dinâmicas recentes que decorrem na Aldeia por via de projectos e realizações de  outros programas, em especial no âmbito do desenvolvimento agrícola/rural, em  que se destaca o papel da Associação de Compartes da Freguesia do Piódão. 
               No  que diz respeito ao Programa LEADER não foi possível obter informação sobre a  sua incidência no Piódão, apesar da nossa insistência junto da entidade local  credenciada (ADIBER).
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