ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

Carlos Gomes

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5.3 – MERCADOS E FEIRAS

Mercado designa um local público de compra e venda de bens e serviços, tais como: mercadorias diversas, escravos, bolsas de trabalho ou de fretamento. Duma forma extensiva, o termo mercado define o conjunto de características da produção, das trocas e do consumo, de um espaço, região ou país, ou duma espécie de mercadorias.

A feira é um mercado ou exposição comercial que se efectua em lugar púbico em determinados dias. A realização das feiras obedecia a uma calendarização própria em cada região a fim de evitar datas coincidentes.

A separação dos sectores agrícola e artesanal exigiu uma troca regular entre eles. O pequeno produtor vendia os excedentes pouco avultados ou os artigos que fabricava na sua oficina levando-os aos mercados permanentes ou às feiras. As trocas comerciais internas estavam nas mãos dos vendedores ambulantes e dos próprios produtores. Os vendedores ambulantes circulavam na praça pública com a sua carga que procuravam escoar.

Os mercadores encontravam-se nos mercados e feiras que periodicamente se iam sucedendo ao longo do ano em locais diferentes. Estes encontros eram cuidadosamente organizados e divididos em períodos sucessivos. O mercado constituía a fase final de toda uma organização económica que pressupunha o armazenamento dos víveres, a sua classificação e registo. O seu funcionamento requeria a instalação, a venda dos produtos e os pagamentos.

Os mercados semanais ou mensais e as feiras sazonais, ao realizarem as trocas entre as diferentes comunidades, contribuíram para a integração regional dos vários grupos étnicos existentes numa área regional e desempenharam um importante papel como intermediários entre a cidade e o campo. Em muitas regiões, a instituição económica mais importante era o mercado. Este desempenhava a função de mecanismo essencialmente responsável pelo controlo das trocas comerciais realizadas dentro da região e desta com as restantes. Os mercados locais juntavam vendedores e compradores das localidades e áreas circundantes, enquanto os mercados regionais atraíam negociantes oriundos de regiões por vezes muito distantes, que ofereciam uma maior variedade de produtos.

Os mercados por tipo de produto fixavam-se fora da zona central. O mercado dos produtos alimentares e dos objectos manufacturados estavam nitidamente separados. Os camponeses de cada região tratavam dos seus negócios nos locais que lhes estavam reservados. Os artesãos vendiam parte dos seus produtos no mercado, embora fosse frequente fornecerem directamente os seus produtos aos comerciantes a preços previamente combinados.

Internamente, o mercado expandia-se, não só pelo crescimento das cidades e multiplicação dos mercados urbanos mas também pela maior penetração da economia monetária na estrutura senhorial, o arrendamento da propriedade por aluguer em dinheiro e o crescimento do trabalho assalariado.

Os mercados eram muitas vezes fiscalizados por funcionários administrativos ao serviço do governo local ou central. Fora das cidades esta fiscalização era menos rigorosa. Estes representantes da autoridade mantinham a ordem, o bom andamento das transacções, zelavam pela qualidade dos produtos, a exactidão dos pesos e medidas, a cobrança das taxas devidas e a qualidade das moedas em circulação.

Nas cidades gregas, a praça central era também o lugar do mercado, onde se encontravam as barracas de feira e se erguiam balcões agrupados segundo a natureza das mercadorias oferecidas. Com o crescimento da população outros mercados foram criados que se especializaram no comércio de certos géneros, particularmente alimentares.

No Império Romano, os mercados e as feiras eram também organizados em datas fixas nas povoações rurais permitindo a venda a retalho dos géneros regionais produzidos pelos agricultores. Nos meios urbanos, o mercado central subdividia-se em mercados mais pequenos em que cada um se especializava na venda de determinados produtos.

Na China, os camponeses, vivendo distantes das cidades, preferiram organizar mercados nas encruzilhadas dos caminhos. Estes mercados tornavam-se, por vezes, permanentes e, com o tempo, centros mercantis de dimensões impressionantes. As áreas dos mercados urbanos eram rigorosamente demarcadas.

No Japão, o mercado central era, sem dúvida, o mercado do arroz. Este comércio não se encontrava limitado ao pagamento a pronto, pois também incluía mercadorias a serem pagas posteriormente. As transacções no mercado central não eram feitas em dinheiro, mas antes a crédito, minimizando os efeitos do transporte de dinheiro. Utilizando sinais luminosos, o “preço central” era transmitido usando fumo de cores diferentes. Assistia-se assim a uma flutuação quase paralela de preços em todo o país.

Na Europa Ocidental, nos séculos XV e XVI, as feiras adquirem uma categoria internacional com o descobrimento do caminho marítimo para a América. A evolução das condições sociais e económicas acelerou-se a um tal ponto que originaram a abertura de novos mercados, justificados pela grande quantidade de géneros consumidos e a importação de metais preciosos e novos produtos. O circuito internacional de feiras manteve-se em vigor embora adaptado a novas necessidades. As feiras passaram a transaccionar câmbios entre as diferentes moedas.

Na África Ocidental, as populações dos grandes oásis dominavam os mercados e as feiras, que se realizavam com regularidade e atraíam uma multidão de negociantes, clientes e toda a espécie de curiosos. Eram locais de atracção, de festa, de espaço de cultura popular e de troca de ideias, adquirindo uma característica simultaneamente económica e social. O mercado não era apenas um lugar de comércio, mas um centro de contactos entre grupos que se encontram também para trocarem notícias e conhecer o mundo exterior. Nessas feiras periódicas acorriam as gentes das povoações circunvizinhas a fim de trocarem os seus produtos. No século XVI, os mercados eram grandes centros de troca de vários produtos e realizavam-se em quase todas as regiões, embora distribuídos de forma muito irregular. A inexistência de mercados em algumas regiões não significou a ausência de actividades comerciais, a qual se desenrolava em unidades residenciais, de casa em casa. Uma certa rotatividade fomentava a circulação de mercadorias, a aquisição destas num determinado mercado e a sua posterior venda noutro alguns dias depois. Alguns mercados tinham um cariz internacional ou continental.