CARACTERIZAÇÃO DAS TERRAS AGRÍCOLAS PARAIBANAS
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ANÁLISE DE DESEMPENHO DAS CULTURAS AGRÍCOLAS DA PARAÍBA
 

Luiz Gonzaga de Sousa

 

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CAPÍTULO III. CARACTERIZAÇÃO DAS TERRAS AGRÍCOLAS PARAIBANAS

Para compreender melhor o espaço paraibano, faz-se necessária uma descrição das diversas localizações em termos de área e de volume de produção, considerando as culturas permanentes e temporárias, no estado da Paraíba. Para tanto, é fundamental entender o processo de configuração de suas microrregiões que é como o Estado está dividido internamente, de acordo com a situação política e de dominação desde seus primórdios de ocupação. Neste sentido, apresentam-se, na faixa oriental, três microrregiões principais, quais sejam: o Litoral Paraibano, o Piemonte da Borborema e o Agro-Pastoril do Baixo Paraíba, que melhor caracterizam o estado paraibano como um todo, dadas as suas peculiaridades de clima, solo e queda pluviométrica, bem como o seu nível comercial e de vida da população que habita estes díspares torrões produtivos.

Com respeito à microrregião do Litoral Paraibano, que compreende a faixa litorânea, predomina o baixo planalto sedimentar terciário, sendo cortado pelos rios Paraíba, do Meio e Mamanguape. No leito destes rios estão esculpidas amplas várzeas com depósitos argilosos e ricos materiais orgânicos, onde se iniciou a plantação do açúcar. Em João Pessoa está o pólo de desenvolvimento não só da região como de todo o litoral, estendendo por isto ao restante do Estado, com a função político-administrativa. O clima é temperado com máxima de 32º e mínima de 18º de acordo com a Enciclopédia dos Municípios Paraibanos. Com queda pluviométrica (inverno) de março a julho normalmente em cada ano. No que respeita à composição citadina dessa Microrregião, ela está integrada pelos municípios de Alhandra, Baía da Traição, Bayeux, Caaporã, Cabedelo, Conde, Cruz do Espírito Santo, Itapororoca, Jacaraú, João Pessoa, Lucena, Mamanguape, Mataraca, Pedras de Fogo, Pitimbu, Rio Tinto e Santa Rita.

Para se ter uma idéia mais aprimorada sobre as condições em que vive o litoral, nada melhor do que os comentários de FILHO (1980; pp. 184-185)[1], quando mostrou em seu trabalho sobre o Nordeste, que os suportes econômicos básicos desta zona são a cana-de-açúcar e o cacau, muito embora aí sejam exploradas outras culturas, menos expressivas do ponto de vista regional. A cana e o cacau ocupam grande parte da mão-de-obra na região e são as mais capitalizadas das explorações agrícolas do Nordeste. Apesar dos baixos níveis salariais aí prevalecentes, a zona se constitui grande mercado para produtos alimentícios, sendo abastecida sobretudo pela zona do Agreste, área de policultura.

Esta citação feita para mostrar uma situação nordestina pode ser trazida para explicar algumas características do Litoral e Agreste paraibanos, cuja indicação de seus sintomas tem as mesmas configurações de produção e comercialização de seus produtos.

Por sua localização geográfica, a zona da Mata teve e ainda tem sua posição de fundamental importância na produção agrícola, como complementa FILHO (1980; pp. 184-185)[2] ao explicar que, por força de sua formação histórica, na Zona da Mata predomina a grande propriedade monocultora e concentradora de renda. Na primeira fase da exploração colonial, algumas áreas eram utilizadas pela mão-de-obra escrava na exploração de culturas alimentícias, que se destinavam tanto ao autoconsumo quanto ao abastecimento dos engenhos de açúcar. Com o advento das usinas e a conseqüente necessidade de matérias-primas em mais larga escala, houve maior expansão de área ocupada com a cana nessa zona, provocando a ampliação da área com culturas alimentares na Zona do Agreste. A concentração do fator terra, aliada à baixa remuneração da mão-de-obra provoca cada vez mais a concentração de renda, que o crescimento vegetativo da população e os fluxos migratórios temporários tendem a agravar. A densidade populacional da área é uma das mais altas da região (130 hab/), pressionando mais e mais os níveis salariais, pela falta de novas oportunidades de emprego. Daí derivam duas graves conseqüências: impossibilidade de ampliação do mercado interno e desestimulo à modernização da exploração.

O que se observa na atualidade, é que o processo de relacionamento entre o dono das fazendas e o trabalhador do campo não tem mudado muito ao longo da história, só que o empresariamento rural como colocado nesta citação, está muito longe de obedecer àquele que dinamiza a economia, mesmo a do campo.

Com relação à microrregião do Piemonte da Borborema, ela se apresenta como uma área de depressão entre os tabuleiros terciários a leste e a escarpa da Borborema a oeste, na linguagem dos técnicos da geografia física. A atividade pastoril, ou de pastagem é expressiva ao norte desta área geo-econômica. A sua situação climática é de temperatura (clima) quente e seco, com máximo de 32º e mínima de 20º, de acordo com a fonte já citada anteriormente. Já quanto ao inverno, ele começa em abril e vai até agosto de cada ano. Os municípios que integram tal Microrregião são: Alagoa Grande, Alagoinha, Araçagi, Belém, Caiçara, Cuitegi, Duas Estradas, Guarabira, Gurinhém, Ingá, Itatuba, Juarez Távora, Lagoa de Dentro, Mulungu, Pilhõezinhos, Serra da Raíz e Serra Redonda, todos com sua economia estritamente rural. Dado o objetivo deste trabalho, aqui não se trabalha a questão que diz respeito à pecuária, conseqüentemente pastagem, tendo em vista que se almeja investigar a problemática referente à agricultura trabalhada nesta localidade.

Para a microrregião Agro-Pastoril do Baixo Paraíba, que está situado na parte sul da área da depressão, surge como zona agrícola, onde tem se destacado sob a forma de grande exploração, da cultura do abacaxi. Os municípios componentes devido sua proximidade e tipo de terra são: Caldas Brandão, Itabaiana, Juripiranga, Mari, Mogeiro, Pilar, Salgado de São Felix, São Miguel de Itaipu e Sapé. Pois, quanto à sua situação climática, tem-se um clima ameno, com máximo de 32º e mínima de 24º, como explica a Enciclopédia dos Municípios. No entanto, o inverno é no período de março a julho, isso acontecendo regularmente ano a ano. Mesmo esta Microrregião sendo caracterizada pela produção de abacaxi e algumas outras culturas de grande valor comercial para o Estado e de exportação ao exterior, não se tem clareza como vem desempenhando essas culturas para a dinamização econômica do Estado.

Neste sentido, CUNHA (1982; p. 105)[3] diz ao comentar o estado de subdesenvolvimento em que se encontra a agricultura neste tipo de localidade e que não tem perspectiva para melhoramento da situação do homem do campo, ao colocar que ali está, em torno, a caatinga, o seu celeiro agreste. Esquadrinha-o. Talha em pedaços os mandacarus que desalteram, ou as ramas verdoengas dos juazeiros que alimentam os magros bois famintos; derruba os estípites dos ouricuris e rala-os, amassa-os, cozinha-os, fazendo um pão sinistro, o bró, que incha os ventres num enfarte ilusório, empanzinando o faminto; atesta os jiraus de coquilhos; arranca as raízes túmidas dos umbuzeiros, que lhe dessedentam os filhos, reservando para si o sumo adstringente dos cladódios do “xiquexique”, que enrouquece ou extingue a voz de quem o bebe, e demasia-se em trabalhos, apelando infadigável para todos os recursos, - forte e carinhoso – defendendo-se e estendendo à prole abatida e aos rebanhos confiados a energia sobre-humana.

Com isto, caracteriza-se a pobreza no campo, cujas autoridades governamentais não tentam minorar tal situação em que vive a população dessa microrregião do estado, além do sofrimento dos instantes de falta de chuva, ainda existe o obstáculo das tecnologias tradicionais e fracas nos trabalhos agrícolas.

Com respeito ao agreste, a sua estrutura contém duas Microrregiões, quais sejam: Agreste da Borborema e Brejo Paraibano. Para a primeira, isto significa dizer que a microrregião do Agreste da Borborema começa a se impor como unidade geográfica, no início da subida da escarpa da Borborema. A sua caracterização é a transição entre o litoral úmido e o sertão seco. Daí, ter-se o binômio gado-algodão e no agave, seus cultivos básicos, apesar de apresentar uma atividade agrícola pobremente diversificada, como sempre tem ocorrido. A cidade de Campina Grande comanda todo o Agreste Paraibano e sua ação polarizadora é estendida para outras áreas nordestinas, fundamentalmente através de sua importância comercial, como pólo central, ou de passagem para os outros pontos do Nordeste. O seu clima é temperado, com máxima de 28º e mínima de 20º. No entanto, o inverno é de fevereiro a agosto.

Para se ter mais informações, quanto à compreensão da formação dessa microrregião, ou compartimento de região, observa-se em ALMEIDA (1980; p. 102)[4] que, a formação geológica do planalto da Borborema exclui a hipótese da era neozóica: denuncia uma idade mais antiga. É exato que nas camadas mais velhas desse grupo se encontram elementos fortemente agregados e, como conseqüência das erupções que voltaram, apareceram outras rochas metamórficas. Mas, seria preciso admitir a remoção das camadas menores consistentes, que caracterizam os sedimentos dessa idade, pelos fenômenos de desnudamento e erosão... é nessa fase que se acentua, sucessivamente, o movimento de emersão iniciado no fim da era secundária, agravando-se, no sistema ecocênico, a luta entre o elemento continental e o marítimo, atestada pelas formações de água doce e marinhas. ( ...).

É fundamental essa compreensão para poder caracterizar a adaptação de culturas à localidade, consequentemente a qualidade dessas culturas para o autoconsumo, assim como para o processo comercial de exportação para aquisição de recursos para implementar outros tipos de exploração agrícola.

Em implementação a este ponto, quanto às atividades desenvolvidas nesta microrregião, especialmente a relação homem-natureza, verifica-se em FILHO (1980; p. 187)[5], que as culturas desenvolvidas nas pequenas propriedades variam em conformidade com as tradições físico-químicas do solo, assim como de acordo com as variações climáticas. Já as grandes propriedades são utilizadas tanto para o plantio de algodão herbáceo e/ou outras culturas, quanto sobretudo para a criação de gado. A exploração agrícola em geral é feita sob a forma de “parceria”, interessando ao proprietário a participação na renda da terra, os restolhos das culturas anuais, a limpeza do terreno e a implantação da palma forrageira para alimentação animal.

Com isto, tem-se uma fotografia aproximada da maneira como vive o homem do campo nesta porção da terra paraibana e sua forma de trabalho com a terra. Já quanto aos seus municípios agregados, estes são: Areial, Campina Grande, Esperança, Fagundes, Lagoa Seca, Massaranduba, Montadas, Pocinhos, Puxinanã, Queimadas, Remígio e Solânea.

A segunda, isto significa dizer a microrregião do Brejo Paraibano, caracteriza-se pela porção situada sobre os pontos elevados do planalto da Borborema e suas encostas. A cultura canavieira encontra nesta área, a umidade suficiente para o seu desenvolvimento de produção e comercialização propícias. O agave, ou sisal, cultura de encosta, aparece em segundo plano, vindo a seguir, a cultura de subsistência, que é a maioria de sua produção agrícola. A maior densidade demográfica das microrregiões, está nesta área registrada, como sendo de 116,60 hab/. O seu clima é temperado com máxima de 30º e mínima de 28º, segundo a mesma fonte anterior. O inverno acontece no período de março a agosto, em sua normalidade anual.

Em adentramento um pouco mais aprofundado sobre o trabalho com as culturas nesta microrregião, quanto a sua caracterização, observa-se em FILHO (1980; p. 186)[6] que esta zona se caracteriza pela diversificação das atividades rurais predominantemente, tendo como base do sistema exploratório o gado (de corte e leite) e as culturas industriais (algodão, agave e fumo). Ao lado destas são exploradas ainda a mandioca, o milho e o feijão, além de uma grande variedade de frutas regionais. As oscilações no preço do açúcar e as ocorrências de seca fazem convergir da Mata e do Sertão, para o Agreste, grande contingente populacional, que vem exercendo forte pressão sobre a terra, fazendo desta uma área predominante de pequenas propriedades que, na forma de minifúndios, ocupam 85% da área.

Assim está delineada a situação das pessoas que vivem no brejo paraibano. Desta forma, pode-se tomar como explicação para a Paraíba as semelhantes regiões dos outros Estados nordestinos trabalhados por este autor. Os municípios integrantes desta Microrregião são: Alagoa Nova, Arara, Areia, Bananeiras, Borborema, Pilões, Pirpirituba, São Sebastião de Alagoa de Roça (Lagoa de Roça) e Serraria.

Quanto ao Sertão Paraibano, apesar de aparecer como uma unidade definida, está dividido em sete Microrregiões, devido ao maior ou menor grau de umidade que caracteriza suas diversas áreas, tais como: Seridó Paraibano, Depressão do Alto-Piranhas, Sertão de Cajazeiras, Serra do Teixeira, Catolé do Rocha, Curimataú e Cariris Velhos. Pois, ao se fazer um pequeno comentário sobre os sertões paraibanos nada melhor do que as palavras de CUNHA (1982; pp. 34-35)[7], quando trabalha a questão das secas em seu Estado e explica que, o malogro desta tentativa [resolver o problema das secas], entretanto, denuncia menos a desvalia de uma aproximação imposta, rigorosamente por circunstâncias tão notáveis, do que o exclusivismo de atentar-se para uma causa única. Porque a questão, com a complexidade imanentes aos fatos concretos, se atém, de preferência, a razões secundárias, mais próximas e enérgicas, e estas, em modalidades progredindo, contínuas, da natureza do solo à disposição geográfica, só serão definitivamente sistematizadas quando extensa série de observações permitir a definição dos agentes preponderantes do clima sertanejo.

Esta explicação atua como uma espécie de denúncia sobre as condições climáticas em que está submetido o sertão nordestino e porque não dizer da Paraíba que também passa pelas mesmas dificuldades de produção devido às secas.

Para melhor caracterizar estas localidades, inicia-se pela microrregião do Seridó Paraibano, que é uma área seca e de solos em condições piores frente às outras de sua proximidade. O cultivo do algodão e a mineração formam a base de sua economia tradicional e cotidiana. A cidade de Picuí é o centro mais importante da Microrregião. O seu clima é quente e seco, com máxima de 35º e mínima de 18º, divulgado pela Enciclopédia dos Municípios. O seu inverno tem período de março a junho, quando é regular em cada ano. As cidades participantes dela são: Cubati, Frei Martinho, Juazeirinho, Nova Palmeira, Pedra Lavrada, Picuí, e São Vicente do Seridó.

Ao buscar em CUNHA (1982; p. 42)[8] alguns detalhamentos adicionais sobre esta questão, das microrregiões nordestinas e paraibanas, observa-se nesta microrregião que os mulungus rotundos, à borda das cacimbas cheias, estadeiam a púrpura das largas flores vermelhas, sem esperar pelas folhas; as caraíbas e baraúnas altas refrondescem à margem dos ribeirões refertos; ramalham, ressoantes, os marizeiros esgalhados, à passagem das virações suaves; assomam, vivazes, amortecendo as truncaduras das quebradas, as quixabeiras de folhas pequeninas e frutos que lembram contas de ônix; mais virentes, adensam-se os icozeiros pelas várzeas, sob o ondular festivo das copas dos ouricuris: ondeiam, móveis, avivando a paisagem, acamando-se nos plainos, arredondando as encostas, as moitas floridas do alecrim-dos-tabuleiros, de caules finas e flexíveis; as umburanas perfumam os ares, filtrando-os nas frondes enfolhadas, e – dominando a revivescência geral – não já pela altura senão pelo gracioso do porte, os umbuzeiros alevantam dois metros sobre o chão, irradiantes em círculo, os galhos numerosos.

Aí está mais uma paisagem que se pode relembrar sobre os sertões de todo o Nordeste, em especial, paraibanos que não têm desenvolvido técnicas de substituição de plantações arbustres por culturas comerciais que melhorem o bem-estar da gente desta terra.

Todavia, a microrregião da Depressão do Alto-Piranhas, corresponde à parte mais deprimida dessas planuras, ao longo do eixo de drenagem do Rio Piranhas. Dessa forma, domina nesta localidade, o binômio gado-algodão, aparecendo pequenas lavouras comerciais locais e de subsistência. É a área mais povoada do Sertão colocando as cidades de Patos, Pombal e Sousa, como principais centros urbanos e comerciais. A sua situação climática é temperada, com máxima de 38º e mínima de 23º. O seu inverno é de janeiro a maio, normalmente, no ano. Seus municípios participantes são: Aguiar, Igaracy (Boqueirão dos Cochos), Cacimba de Areia, Catingueira, Condado, Coremas, Desterro de Malta, Emas, Itaporanga, Junco do Seridó, Lagoa, Lastro, Malta, Nazarezinhos, Nova Olinda, Ôlho d’Água, Passagem, Patos, Paulista, Piancó, Pombal, Quixaba, Salgadinho, Santa Cruz, Santa Luzia, Santana dos Garrotes, Santa Terezinha, São José da Lagoa Tapada, São José de Espinharas, São José do Bonfim, São José do Sabugi, São Mamede, Sousa e Várzea.

A microrregião do Sertão de Cajazeiras corresponde à porção sertaneja mais afastada do litoral paraibano. No entanto, a pluviosidade que ali ocorre, favorece as atividades agrícolas e o maior adensamento populacional da localidade. O algodão arbóreo domina a lavoura, acompanhando-se os cultivos de subsistência de culturas agrícolas. A cidade de Cajazeiras é sua principal comunidade populacional. O seu clima é quente e seco, com máxima de 36º e mínima de 20º. Quanto ao inverno, ele é de fevereiro a maio de cada ano. Os seus municípios integrantes são: Antenor Navarro, Boa Ventura, Bom Jesus, Bonito de Santa Fé, Cachoeira dos Índios, Cajazeiras, Carrapateiras, Conceição, Curral Velho, Diamante, Ibiara, Monte Horebe, Pedra Branca, Santa Helena, Santana de Mangueira, São José de Caiana, São José de Piranhas, Serra Grande, Triunfo e Uiraúna.

Já a microrregião da Serra de Teixeira, cujo ponto mais alto situa-se entre Paraíba e Pernambuco, é uma ‘Serra Seca’, se for comparada com as serras úmidas do interior paraibano. É uma região onde prepondera a produção de farinha de mandioca e da cultura do agave ou sisal. O seu núcleo mais importante é a cidade de Teixeira. O seu clima é temperado, com máxima de 28º e mínima de13º. Portanto, o seu inverno é de março a junho. Os seus municípios agregados são: Água Branca, Desterro, Imaculada, Juru, Mãe d’Água, Manaíra, Princesa Isabel, Tavares e Teixeira.

A microrregião de Catolé do Rocha é o trecho do sertão paraibano que penetra sob a forma de cunha no Rio Grande do Norte, fazendo parte da área deprimida do Sertão de Piranhas. A reprodução do algodão é a principal fonte econômica para a sua população economicamente ativa. O município de Catolé do Rocha é o seu centro urbano mais importante. O seu clima é temperado com máxima de 32º e mínima de 28º. Já o seu inverno é regulamente de março a julho. Quanto aos municípios, têm-se os seguintes participantes: Belém do Brejo do Cruz, Bom Sucesso, Brejo do Cruz, Brejo dos Santos, Catolé do Rocha, Jericó, Riacho dos Cavalos e São Bento.

Num detalhamento mais apurado sobre essa microrregião, para melhor compreender o por que de sua produção, verifica-se em ALMEIDA (1980; p. 141)[9] que, a microrregião de

Catolé do Rocha figura, em segundo lugar, na ordem das elevações pluviométricas, com a média de 986,4. Brejo do Cruz alcança a mesma influência com a média de 892,5. Parece que, conforme indica sua denominação, esse município já foi servido de mananciais, mantidos pelas matas de que só restam vestígios nos sítios mais altos. A derrubada deve ter redundado também na escassez das precipitações.

Com este comentário, fundamenta-se de grande importância esta microrregião, ou mesorregião em culturas próprias àquele tipo de precipitação pluviométrica, mesmo sabendo que este tabuleiro já foi uma terra de altíssima produtividade devido a sua composição geológica, isso não invalida grandes produtividades em algumas outras culturas específicas do ambiente agrário.

Ainda quanto aos sertões paraibanos, o mais importante é verificar a participação forte dos escritos de CUNHA (1982; p. 40)[10] quando explicam que dentre algumas plantações rústicas se têm o mesmo caráter os juazeiros, que raro perdem as folhas de um verde intenso, adrede modeladas às reações vigorosas da luz. Sucedem-se meses e anos ardentes. Empobrece-se inteiramente o solo aspérrimo. Mas, nessas quadras cruéis, em que as soalheiras se agravam, às vezes, com os incêndios espontaneamente acesos pelas ventanias atritando rijamente os galhos secos e estonados – sobre o depauperamento geral da vida, em roda, eles agitam as ramagens virentes, alheios às estações, floridos sempre, salpintando o deserto com as flores cor de ouro, álacres, esbatidas no pardo dos restolhos – à maneira de oásis verdejantes e festivos.

Com esta bela explanação, justifica-se a situação em que vivem os sertanejos, sem muita delonga quanto à pobreza e ao tradicionalismo tecnológico em que estão submetidos naqueles pontos longínquos do país.

Entrementes, a microrregião do Curimataú, situa-se no Vale do Curimataú paraibano, a oeste do Brejo do Estado. Sendo assim, caracteriza-se como uma das áreas mais secas da Paraíba. O seu clima é quente e seco, com máxima de 30º e mínima de 18º. Quanto ao seu inverno, ele se dá entre fevereiro e junho de cada ano. A criação extensiva do gado bovino domina a sua estrutura econômica. Dos centros populacionais da Microrregião, destaca-se a cidade de Cuité. Os municípios que estão ao seu derredor são: Araruna, Barra de Santa Rosa, Cacimba de Dentro, Cuité, Dona Inês, Nova Floresta e Tacima.

Uma melhor configuração desta localidade microrregional pode-se ver em ALMEIDA (1980; p. 94)[11] a seguinte explicação quando comentou que, no Curimataú prevalece o micaxisto, ao lado dos afloramentos graníticos. Lê-se em uma carta do naturalista Brunet, dirigida ao presidente da província, em 1853: ‘O salitre ahi é em efflorescencia cobrindo em camadas mui delgadas a maior parte das cavidades que formam entre si as rochas de micaschito de que a serra da Bezerra é quase inteiramente composta. Essas rochas estão dispostas em innúmeros leitos parallelos, os quase todos se afundam para este noroéste fazendo com os horizontes um ângulo constituição’.

Com este tipo de solo descrito, fica muito difícil o trabalho com culturas que necessitam da terra adubada de forma natural, para o plantio de culturas de subsistência e sobretudo comercial, cuja negociação proporciona recursos para implementar outros tipos de atividade que dinamizem a Microrregião. Mesmo assim, existe produção que assegura a sobrevivência de sua população, mesmo que seja pouca.

Finalmente, a microrregião dos Cariris Velhos, corresponde à zona mais seca do Estado. Na área, estão Cabaceiras e Soledade onde se observam os mais baixos índices pluviométricos do País. O seu clima é temperado, com máxima de 30º e mínima de 20º. O seu inverno é de fevereiro a agosto de forma anual. A pecuária domina as atividades econômicas. A agricultura, apesar do meio natural que lhe é adverso, aparece com o algodão e algumas culturas como milho e feijão, nos baixios e várzeas. É a menor densidade demográfica do Estado 15,51 hab/. Conseqüentemente, seus municípios componentes são: Aroeiras, Barra de São Miguel, Boqueirão, Cabaceiras, Camalaú, Congo, Gurjão, Livramento, Monteiro, Natuba, Olivedos, Ouro Velho, Prata, São João do Cariri, São João do Tigre, São José dos Cordeiros, São Sebastião do Umbuzeiro, Serra Branca, Soledade, Sumé, Taperoá e Umbuzeiro. Quem vive nos Cariris Velhos está cercado pela vegetação típica de uma microrregião fortemente atacada pelas secas, cujos animais sofrem a falta d’água e sobrevivem de plantações típicas da localidade.

Como explica CUNHA (1982; p. 40)[12], em seu livro Os Sertões, caracterizando seus arbustres e contando as máguas dos nordestinos, quando diz que, os mandacarus (Cereus jaramacaru) atingindo notável altura, raro aparecendo em grupos, assomando isolados acima da vegetação caótica, são novidade atraente, a princípio. Atuam pelo contraste. Aprumam-se tesos, triunfalmente, enquanto por toda a banda a flora se deprime. O olhar perturbado pelo acomodar-se à contemplação penosa dos acervos de ramalhos estorcidos, descansa e retifica-se percorrendo os seus caules direitos e corretos. No fim de algum tempo, porém, são uma obsessão acabrunhadora. Gravam em tudo monotonia inaturável, sucedendo-se constantes, uniformes, idênticos todos, todos do mesmo porte, igualmente afastados, distribuídos com uma ordem singular pelo deserto.

Esta descrição revela muito bem a radiografia típica de área que tem chuvas muito reduzidas, dificultando a introdução de culturas permanentes, muito menos temporárias que necessitam de água e implementos agrícolas, que orientem uma produção comercializável.

Ainda mais complementa CUNHA (1982; pp. 40-41)[13] ao analisar a presença dessas culturas talvez nativas, ou plantadas pelos amantes da terra, como os xiquexiques (Cactus peruvianus) são uma variante de proporções inferiores, fracionando-se em ramos fervilhantes de espinhos, recurvos e rasteiros, recamados de flores alvíssimas. Procuram os lugares ásperos e ardentes. São os vegetais clássicos dos areais queimosos. Aprazem-se no leito abrasante das lajes graníticas feridas pelos sóis. Têm como sócios inseparáveis neste habitat, que as próprias orquídeas evitam, os cabeças-de-frade, deselegantes e monstruosos melocactos de forma elipsoidal, acanalada, de gomos espinescentes, convergindo-lhes no vértice superior formado por uma flor única, intensamente rubra. Aparecem, de modo inexplicável, sobre a pedra nua, dando, realmente, no tamanho, na conformação, no modo por que se espalham, a imagem singular de cabeças decepadas jogadas por ali, a esmo, numa desordem trágica. É que estreitíssima frincha lhes permitiu insinuar, através da rocha, a raiz longa e capilar até à longa parte inferior onde acaso existam, livres de evaporação, uns restos de umidade.

Assim, tem-se um retrato claro e fiel da posição dos Cariris Velhos, deprimidos pela falta de chuva e com homem sofredor pela intransigência da terra seca e queimante pelo ataque constante do sol.

Portanto, essa caracterização das microrregiões serve para compreender os tipos de solo existente, a queda pluviométrica dessas localidades, a composição mineral e vegetal e ainda mais os tipos de culturas que podem ser explorados pelo homem do campo que tira a sua sobrevivência das entranhas da terra poucas vezes úmidas e produtivas, outras secas e sem perspectiva de qualquer melhora. Pois, em outra oportunidade, sem as devidas condições de produção, cuja terra já foi depreciada pela humanidade trabalhadora e sem conhecimento de como a utilizá-la produtivamente sem danificá-la. Ao conhecer de perto a potencialidade de produção da terra, com a profundidade do solo e a existência de água, pode-se estabelecer que tipo de cultura é mais propício à microrregião, cujo produto de qualidade, devido a sua seleção natural, poder ser comercializável e trazer um bem-estar a altura das necessidades de sua população que tem uma história de sofrimento e dor ao longo dos anos de seca e falta de recursos para dinamizar a sua economia agrícola.

[1] FILHO, José de Castro M.. Alguns Comentários da Agricultura Nordestina. SUDENE, pp. 184-185.

[2] FILHO, José de Castro M. Alguns Comentários da Agricultura Nordestina. SUDENE, pp. 184-185.

[3] CUNHA, Euclides da. Os Sertões. São Paulo, Victor Civita, 1982, p. 105.

[4] ALMEIDA, José Américo de. A Paraíba e seus Problemas. 1ª ed. 1923, 3ª ed. João Pessoa, A União Cia Editora, 1980. p. 102.

[5] FILHO, José de Castro M. Alguns Comentários da Agricultura Nordestina. Sudene, p. 187.

[6] FILHO, José de Castro M. Alguns Comentários da Agricultura Nordestina. Sudene, p. 186.

[7] CUNHA, Euclides da. Os Sertões. São Paulo, Victor Civita, 1982, pp. 34-35.

[8] CUNHA, Euclides da. Os Sertões. São Paulo, Victor Civita, 1982, p. 42.

[9] ALMEIDA, José Américo de. A Paraíba e seus Problemas. 1ª ed. 1923, 3ª ed. João Pessoa, A União Cia Editora, 1980. p. 141.

[10] CUNHA, Euclides da. Os Sertões. São Paulo, Victor Civita, 1982, p. 40.

[11] ALMEIDA, José Américo de. A Paraíba e seus Problemas. 1ª ed. 1923, 3ª ed. João Pessoa, A União Cia Editora, 1980. p. 94.

[12] CUNHA, Euclides da. Os Sertões. São Paulo, Victor Civita, 1982, p. 40.

[13] CUNHA, Euclides da. Os Sertões. São Paulo, Victor Civita, 1982, pp. 40-41.

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