Revista: DELOS Desarrollo Local Sostenible. ISSN: 1988-5245


A ARTICULAÇÃO ENSINO COM PESQUISA NO CENÁRIO AMAZÔNICO: EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA E CHEIA DOS RIOS EM PARINTINS/AM

Autores e infomación del artículo

Taíssa de Paula Brandão
Gracy Kelly Monteiro Dutra Teixeira
Universidade do Estado do Amazonas
gracydutra@hotmail.com


Resumo

O artigo discute sobre a relação ensino e pesquisa em uma universidade amazônica. A Universidade, inserida neste rico ambiente, deve trazer para o bojo das discussões acadêmicas as diversas situações-problemas existentes na região, por isso, a necessidade de incutir no espaço universitário uma educação ambiental crítica que promova reflexões e ações sobre o cotidiaEno amazônico. A fundamentação está alicerçada em Jacobi (2005), Lima (2009), Loureiro (2004; 2012), Carvalho (1995; 2008), entre outros autores de igual importância na discussão da Educação Ambiental. Para refletir sobre a realidade amazônica houve a articulação do material discutido em sala de aula com a pesquisa in loco que projetava os reflexos da Cheia Amazônica no cotidiano urbano da cidade de Parintins/AM, especialmente sobre as crianças, assim, se articulou as bases de uma Educação Ambiental Crítica no universo acadêmico.

Palavras-chave: Ensino, Pesquisa, Universidade, Amazônia.

Resumen

El artículo analiza la relación entre la enseñanza y la investigación en una universidad Amazon. La Universidad, se incluye en este ambiente rico, debe llevar a la protuberancia de las discusiones académicas las diferentes situaciones de los problemas de la región, por lo que la necesidad de inculcar en el espacio universitario una educación ambiental que promueve el pensamiento crítico y la acción sobre lo cotidiano amazónica. El razonamiento se basa en Jacobi (2005), Lima (2009), Loureiro (2004; 2012), Carvalho (1995; 2008), entre otros autores de igual importancia en el debate la educación ambiental. Para reflexionar sobre la realidad amazónica fue la articulación del material discutido en clase para la investigación en el lugar que proyecta los efectos de la plena Amazonas en la vida urbana de la ciudad de Parintins / AM, especialmente en los niños, así articulado la base de una Educación Ambiental crítico en el mundo académico.

Palabras – clave: Educación - Investigación - Universidad - Amazon

Abstract

The article discusses the relationship between teaching and research in a university Amazon. The University, included in this rich environment, should bring to the bulge of academic discussions the different situations-problems in the region, so the need to instill in the university space an environmental education that promotes critical thinking and action on the Amazonian everyday. The reasoning is based on Jacobi (2005), Lima (2009), Loureiro (2004; 2012), Carvalho (1995; 2008), among other authors of equal importance in environmental education discussion. To reflect on the Amazon reality was the articulation of the material discussed in class to research on site which projected the effects of the full Amazon in the urban life of the city of Parintins / AM, especially on children, thus articulated the basis of an Environmental Education Critical in the academic world.

Keywords: Education - Research - University - Amazon


Para citar este artículo puede uitlizar el siguiente formato:

Taíssa de Paula Brandão y Gracy Kelly Monteiro Dutra Teixeira (2015): “A articulação ensino com pesquisa no cenário amazônico: educação ambiental crítica e cheia dos rios em Parintins/AM”, Revista DELOS: Desarrollo Local Sostenible, n. 22 (febrero 2015). En línea: http://www.eumed.net/rev/delos/22/parintins.html


Introdução

Na Amazônia, existem nuances sociais urbanas e rurais, e socialidades dos mais diversos grupos que vivem na cidade, nas margens dos rios e no interior da densa floresta. O espaço amazônico não é somente terra, floresta e água, quem dá sentido a esta variedade são os sujeitos nela inseridos. Assim, compreender o habitante é, de igual modo, nortear a situação presente e os rumos dos recursos ambientais nela envolvidos.
A Universidade, inserida neste rico ambiente, deve trazer para o bojo das discussões acadêmicas as diversas situações-problemas existentes na região, por isso, a necessidade de incutir no espaço universitário uma educação ambiental crítica que promova reflexões e ações sobre o cotidiano amazônico. Infundido nesse ânimo, a disciplina Educação Ambiental, do curso de Pedagogia, do Centro de Estudos Superiores de Parintins, da Universidade do Estado do Amazonas, promoveu a articulação do ensino e pesquisa com uma realidade condicionada pela Cheia Amazônica: a inundação de bairros urbanos da cidade de Parintins. Diante dessa proposta, docente e discente refletiram sobre os reflexos da Cheia no cotidiano de inúmeras famílias, especialmente, sobre o grupo mais vulnerável a essa situação: as crianças.

1 Educação ambiental: Formação e contexto

A Educação Ambiental - EA, como disciplina científica, envolve um aparato de teorias que dinamizam e estruturam a compreensão da relação ser humano e ambiente na atualidade. Pensar em Educação Ambiental, e apreendê-la criticamente, é reportar-se ao passado, visto que este traz consigo vestígios do processo de sua formação, direcionando as ações humanas para a construção de novos pensamentos e posturas para agir no futuro. Lima (2009) discute que quando se aprofunda a consciência humana e, como conseguinte, acontece o discernimento sobre os processos sociohistóricos: as pessoas reconhecem novas alternativas e ampliam as suas possibilidades de escolhas, em contrapondo à vasta e confusa oferta de informações que caracteriza o mundo contemporâneo.
Sobre o contexto de formação da Educação Ambiental, pesquisas apontam para a década de 1960 como fundante na afirmação aparente das discussões ambientais nas rodas científicas. Todavia, alguns autores apontam para após a 2ª Guerra, na qual se verifica de modo acentuado, uma preocupação com o meio ambiente dentro de uma perspectiva global (BARBIERI, 1997; CAVALCANTI, 2012; NASCIMENTO, 2012), devido os reflexos da aceleração do crescimento econômico na tentativa de recuperação dos mercados envolvidos diretamente no conflito.
Para Drummond (2006) a questão ambiental sempre foi presente, visto que os estudos de Paul Sears 1 e Aldo Leopold2 alertavam para as urgências ambientais no início do século 20. Entretanto, foi o lançamento da obra “Primavera Silenciosa” da bióloga Rachel Carson, publicado em 1962, que discutia sobre as consequências diretas e indiretas na sociedade e na natureza, do uso indiscriminado de pesticidas, herbicidas e fungicidas agrícolas, fez com que um grande de número de pessoas ficassem mais atentas à relação “ser humano e ambiente”, principalmente, quando mediada pela economia.
A partir da obra de Carson, outras situações, como: chuvas ácidas, buraco da camada de ozônio, poluição e resíduos sólidos em excesso, geraram discussões mais amplas e ganharam alcance mundial. Tais problemas incutiram uma necessidade de discutir amplamente as possibilidades de proteção ao meio ambiente e a sobrevivência do ser humano. Diante dessa urgência, em 1969, o governo da Suécia propôs à Organização das Nações Unidas (ONU) a realização de uma Conferência Internacional para tratar desses assuntos: a aclamada Conferência de Estocolmo em 1972. Esta ação foi um marco coletivo que conseguiu impactar a sociedade sobre a problemática ambiental e inserir de vez o assunto no meio social.
Com a repercussão de Estocolmo, a UNESCO promove em 1975 o Seminário Internacional sobre Educação Ambiental em Belgrado (Iugoslávia), lançando o Programa Internacional de Educação Ambiental (PIEA) que visa promover a reflexão e ação diante dos problemas ambientais.  Mas, foi em 1977, em Tbilisi – Geórgia, o principal marco para o desenvolvimento deste categoria de educação, com a I Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, na qual foram apontadas pesquisas, objetivos, princípios e estratégias para o seu desenvolvimento nacional e internacional.
Diante dessa trajetória, no Brasil, Carvalho (2008) relata que a Educação Ambiental aparece na legislação em 1973, enquanto atribuição da primeira Secretaria Especial do Meio Ambiente, esta criada em atendimento as recomendações da Conferência de Estocolmo. Assim, a Educação Ambiental - EA passou a ser reconhecida, tornando-se relevante para um trabalho significativo no enfrentamento da crise ambiental internacional. Lima (2009) comenta que a Educação Ambiental se constituiu como um campo complexo, plural e diverso, formado por um conjunto de atores e setores sociais que direta e indiretamente exerceram influências em seus rumos no ambiente brasileiro.
Guerra (2000) enfatiza que a Educação Ambiental no Brasil avançou e refletiu com grande extensão, durante a década de 1980, na constituição da Republica federativa no Brasil de 1988, na qual foi colocada como competência do poder público promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente. Tornando-se assim, um alvo significativo para as políticas públicas. Na década de 1990, muitos projetos de Educação Ambiental começaram ser desenvolvidos no Brasil, assim, a Educação Ambiental ganha seu espaço em meio à sociedade.
Para Pedrini (1998), a EA é indispensável na reflexão sobre as questões ambientais, para que seja dirigida às gerações jovens, seja aos adultos, dando a devida atenção aos setores menos privilegiados da população, a fim de favorecer a formação de uma opinião pública bem informada e uma conduta dos indivíduos, das empresas e das coletividades, inspiradas no sentindo de suas responsabilidades com a proteção e melhoria do meio ambiente, em toda a sua dimensão humana. Guimarães (2013) alerta para a massificação da expressão Educação Ambiental, visto que seu significado ainda é pouco claro entre educadores e, principalmente, entre a população em geral, sendo muitas das vezes confundida com o ensino de Ecologia.
É preciso que as escolas reconheçam o verdadeiro sentido da Educação Ambiental, proporcionando à comunidade a participação, reflexão e visão crítica sobre a relação intrínseca entre o ser humano e o ambiente. A partir disso, estimular soluções que possam contribuir, de maneira significativa, para uma nova forma de ver os recursos ambientais e a importância destes para a vida humana.

2 Educação ambiental crítica: Para além da floresta, terra e água

A Educação Ambiental Crítica, também conhecida como educação ambiental transformadora, emancipatória ou popular, vem se consolidando no campo acadêmico. Loureiro (2004) argumenta que esta característica da EA promove o questionamento às abordagens comportamentalistas, reducionistas e dualistas, no entendimento da relação cultura – natureza, pois, quando se refere ao meio ambiente e seus aspectos físicos, não há somente a descrição de floresta, terra e água, mas, sim de um conjunto de espécies em suas naturalidades, ou seja, ser humano e ambiente. Estes seres são interligados. Os reflexos da ação de um sobre o outro, e vice – versa, são retroalimentadas. A ausência de um reconhecimento deste entrelaçamento faz com que haja os problemas ambientais.
O ser humano, em sua inconformidade, transformou, e transforma o meio em que vive, muitas das vezes, minimizando o existente. Essas ações são visíveis no ambiente em que se habita, conforme esclarece Guimarães (2007) ao argumentar que a crise do modelo capitalista de produção potencializa, dentro de sua lógica, valores individualistas, consumistas, antropocêntricos, e ainda há o componente das relações de poder, que provocam a dominação e a exclusão, não só nas relações sociais, como também nas relações sociedade e natureza.
Para a apreensão de uma postura mais crítica sobre o envolvimento pessoa e ambiente, é preciso uma atitude reflexiva e compreensiva das verdadeiras raízes dos problemas ambientais sob uma perspectiva de transformação da sociedade. Postura essa que só é possível com a Educação Ambiental Crítica, que segundo Guimarães (2004), se propõe a desvelar a realidade, para, inserindo o processo educativo nela, contribuir na transformação da sociedade atual, assumindo de forma inalienável a sua dimensão política.
Assim, utilizando-se da Educação Ambiental Crítica, pode-se manter diante da realidade amazônica, um enfrentamento mais coeso e político sobre os rumos dos recursos ambientais na retórica capitalista. É preciso conhecer e ir além do que rege o aparente da Região Amazônica - terra, água e floresta. É necessário, a partir de situações locais, refletir sobre as populações inseridas neste espaço tão amplo, que diante de determinados condicionantes, sofrem com as alterações climáticas. A Universidade, incrustada dentro de Floresta, deve trazer para sua dinâmica de discussão, aquilo que está ao seu redor.
Numa realidade particular, a cidade de Parintins, interior do Estado do Amazonas, é palco de diversas possibilidades de reflexão sobre a relação ser humano e natureza. Aqui a Educação Ambiental Crítica torna-se elemento primordial para o desvelamento de problemáticas socioambientais, por isso, que a articulação teoria e prática é imprescindível para a eficácia dos saberes científicos produzidos no âmbito acadêmico, uma vez que, a aproximação do vínculo entre os processos educativos e a realidade cotidiana dos estudantes, representa a melhor oportunidade tanto do enfrentamento dos problemas ambientais, como da compreensão da complexa interação dos aspectos ecológicos com os políticos - econômicos e socioculturais da questão ambiental (LAYRARGUES, 2008).

3 As possibilidades de um novo olhar para a amazônia através de uma educação ambiental crítica

Frente a uma realidade tão próxima, inferir sofre os fatos do cotidiano torna a vivência universitária mais completa e o debate intelectual mais rico, assim, há a desfamiliarização de conceitos preestabelecidos. Bauman e May (2010) expõem que a naturalização dos fenômenos precisa ser rompida, por isso, que a desfamiliarização do olhar permite aos sujeitos abrir novas e insuspeitadas possibilidades de conviver com mais consciência de si e mais compreensão do que cerca as pessoas. Assim, ir a campo reconstrói conceitos e insere o sujeito dentro de uma problemática. Observar a realidade é fundamental para descobrir as situações recorrentes do dia a dia. Assim, o senso comum fornece a matéria-prima da investigação científica (BAUMAN; MAY, 2010) e, o olhar desnaturalizado procura compreender o que se apresenta.
O ensino e a pesquisa desenvolvem-se a partir da ação humana, integrando-se ao sentindo de emancipação na compreensão da realidade. As possibilidades de um novo olhar para a Amazônia se desenvolveu por meio de uma dimensão qualitativa por permitir e analisar as práticas humanas, diante de percepções e subjetividades. Aqui faz-se referência a Sandín (2010), o qual enfatiza que a pesquisa qualitativa é uma atividade sistemática dirigida à compreensão em profundidade de fenômenos educativos e sociais às transformações de práticas e cenários socioeducativos.
O Centro de Estudos Superiores de Parintins, da Universidade do Estado do Amazonas, está dentro do cenário amazônico, por isso, é preciso, a partir dessa realidade, investigar aquilo que inquieta e aflige o morador amazônico. A disciplina Educação Ambiental, do curso de Pedagogia, promoveu, no Primeiro Semestre de 2014, uma pesquisa que envolveu 43 acadêmicos do Quinto Semestre, os quais investigaram os reflexos da Cheia Amazônica no cotidiano de crianças que habitam regiões vulneráveis a essa intempérie.
A pesquisa aqui é retratada foi de natureza qualitativa, descritiva e exploratória. A pesquisa qualitativa, segundo Goldenberg (2009), considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. O processo e seu significado são os focos principais da pesquisa qualitativa. A pesquisa torna-se exploratória por ser realizada em área na qual há pouco conhecimento acumulado e sistematizado. Por sua natureza de sondagem, não comporta hipóteses que, todavia, poderão surgir durante ou ao final da pesquisa. É descritiva por expor características de determinada população ou de determinado fenômeno (MORESI, 2003).
As técnicas e instrumentos utilizados foram observação e a entrevista não - diretiva. A observação é importante porque se utiliza os sentidos na obtenção de dados de determinados aspectos da realidade. A observação do problema foi feita em equipe. Cada grupo foi para bairros distintos, buscando reconhecer o fenômeno. Aliado à observação, teve-se contato com os sujeitos envolvidos a fim de clarificar a pergunta de partida. Goldenberg (2009) enfatiza que na entrevista, o observador deve ter em mente que cada questão precisa estar relacionada aos objetivos do estudo, por isso, que a entrevista não - diretiva não pode ser feita na base da intuição, nem do bom senso, do tato ou da típica ingenuidade das entrevistas comuns (THIOLLENT, 1987). Além do preenchimento de diários de campo e registros fotográficos, resguardando as imagens faciais dos sujeitos.
Diante desse percurso metodológico, a pesquisa procurou destacar as vivências das crianças moradoras nos bairros vulneráveis da cidade de Parintins/AM, como estas se relacionam com o espaço urbano inundado pela cheia dos rios, brincando e vivendo numa realidade, temporariamente, frágil e insalubre. Para que, diante deste intento científico, fosse possível reconhecer se estes sujeitos percebem a qualidade ecológica do rio circundante e os reflexos, em sua saúde, do contato primário com as águas. Assim, ao longo da pesquisa buscou-se compreender e refletir todo o contexto que abrange as questões ambientais fazendo referência e uso da Educação Ambiental Crítica, contribuindo assim com uma prática pedagógica crítica e emancipatória, projetando a divulgação do fazer ciência na Amazônia e as possibilidades que estas asseveram à realidade da Região.

4 Pensar sobre um novo fazer pedagógico reconhecendo os reflexos do ambiente sobre os sujeitos

A articulação entre ensino e pesquisa na Universidade do Estado do Amazonas é vital para o amadurecimento intelectual do corpo docente e discente desta instituição de ensino inserida na Floresta Amazônica. Ademais, que Parintins, local do Centro de Estudos Superiores de Parintins (CESP / UEA), é uma ilha em constante processo de ampliação urbana.
Ir a campo desperta o interesse e envolvimento dos acadêmicos com a temática desenvolvida. Convém evidenciar que o ensino com pesquisa estimula uma autonomia intelectual, buscando assim politizar, explorar os aspectos político-sociais e outras questões do ambiente vivido, não se restringindo somente à questão ambiental e/ou esfera comportamental. Carvalho (1995) aduz que se a educação quer realmente transformar a realidade não basta intervir na mudança dos comportamentos sem intervir nas condições do mundo em que as pessoas habitam. Neste sentindo, se pode redefinir a prática educativa como aquela que, juntamente com outras práticas sociais, está implicada no fazer histórico, isto é, na produção de saberes e valores e, por excelência, constitutiva da esfera pública e da politica, onde se exerce a ação humana.
Pensar sobre um novo fazer pedagógico é se utilizar da Educação Ambiental Crítica e ir além da academia. As Universidades precisam conhecer seu ambiente externo, refletir e atuar sobre ele, a partir de pesquisas que se tornem relevantes, para que haja uma alteração da realidade vivenciada. Lima (2009) assenta que a EA crítica alimenta o desejo de uma renovação profunda de todo ambiente educativo a partir de seu sistema de ensino-aprendizagem, seus métodos, princípios epistemológicos e paradigmáticos.
Em Parintins, no primeiro semestre de cada ano, espaços urbanos são inundados pela Cheia Amazônica. Diante desse fenômeno, pessoas que nele vivem, se relacionam e se adaptam a essa realidade provisória. A criança que vive nesse espaço se entrelaça a ele, não percebendo a complexidade e vulnerabilidade de inúmeras questões do ambiente. Isso acontece, porque, infelizmente, os ambientes verdes localizados dentro da área urbana e os cursos d’água são agredidos continuamente pela ação antrópica, utilizados muitas vezes para o despejo de dejetos das residências do entorno. A situação se agrava na época da enchente, quando o curso d’água transborda para a malha da cidade, inundando as residências. Discutir isso, sair do espaço confortável da Universidade foi um desafio para os acadêmicos matriculados na disciplina Educação Ambiental, principalmente, em virtude nesse período em que grande parte da cidade estava submersa pelas águas que emanam do rio Amazonas, que entrecorta as vias urbanas da cidade – ilha.
Historicamente, a relação pessoa e ambiente é marcada por fatores culturais, políticos e econômicos que incluem o acesso ou não à alimentação, à moradia, à saúde e à educação. Esses fatores contribuem para que a relação pessoa e ambiente seja caracterizada por uma ruptura entre o humano e o natural. Na ausência de um reconhecimento que une o ser à natureza, em época de Cheia, percebe-se a precariedade que os moradores vivenciam. Com o despejo inadequado dos resíduos sólidos em vias públicas, há o transbordamento dos restos domiciliares, seja orgânico ou inorgânico, e isso, é percebido com a subida das águas.
Situação lamentável discutida por Loureiro (2012), o qual ressalta que a degradação ambiental não emerge apenas de fatores conjunturais ou de instinto perverso da humanidade, ou, somente do uso indevido dos recursos ambientais, outrossim, de um conjunto de variáveis interconexas derivadas das relações sociais e de produção. Assim, Guimarães (2013) enfatiza que com passar do tempo, a humanidade vai afirmando uma consciência individual. Paralelamente, cada vez mais vai deixando de se sentir integrada como o todo e assumindo a noção de parte da natureza. Diante disso não percebe que sua ação perante a natureza vai refletir em algum momento sobre si próprio.
O público mais vulnerável a isso são as crianças, como estão na fase do brincar, a realidade em que se encontram não impedem de usar sua imaginação, assim, se apropriam de espaços inundados sem compreender os riscos que o lugar pode trazer para sua saúde. Loureiro et al. (2011) argumenta que a criança como protagonista de sua própria história, se vê diante de ambientes inadequados para um bom desenvolvimento e busca alternativas dentro do próprio espaço que reside. O ambiente em estado de degradação é o palco provisório das ações infantis.
Ao trabalhar a disciplina Educação Ambiental a partir dessa realidade socioambiental de Parintins, vivenciada pelas crianças, traz para o cotidiano acadêmico algo que está, ao mesmo tempo, longe e perto, que muitas vezes, é naturalizado pelas pessoas. Brincar nas águas transbordadas é estímulo ao contato direto, todavia, a ação antrópica potencializa graus de insalubridade fluvial. Experimentar realidades distintas do convívio diário é fundamental na Educação Ambiental, visto que esta precisa construir um instrumental que promova uma atitude crítica, uma compreensão complexa e a politização da problemática ambiental, diante da participação dos sujeitos, o que explicita uma ênfase em práticas sociais menos rígidas, centradas na cooperação entre os atores e na realidade em que se vive (JACOBI, 2005).
Diante da pesquisa realizada, se pode constatar que as pessoas que se encontram nesse contexto, sofrem em silêncio, naturalizando um palco vulnerável como a única realidade possível. Esse argumento se vislumbra pelo antagonismo das classes sociais, a ideologia imposta pelos grupos majoritários e crescente capitalismo avassalador e excludente. A Educação Ambiental Crítica pode romper com tais aspectos, com a potencialidade de ser um instrumento de análise crítica da realidade social e pedagógica, a qual proporciona um outro olhar acerca da relação pessoa e ambiente, desnaturalizando conceitos conservadores sobre as questões ambientais, elevando o indivíduo à equidade social e autonomia participativa.

Considerações finais

Argumentar a partir de um cotidiano da cidade de Parintins/AM, é trazer para a Universidade uma realidade aparente, mas, naturalizada na Região. O ambiente está em estado de degradação e os sujeitos que se apropriam dele estão vulneráveis aos seus reflexos. Se instituir na academia uma Educação Ambiental Crítica é direcionar as pesquisas acadêmicas para algo concreto e próximo, estimulando os acadêmicos a refletir e agir sobre tais situações, rompendo a barreira de pensar apenas como se comportar diante da crise ambiental que atinge o Planeta Terra – agir assim é paliativo, é preciso enfrentar o problema.
Feitas essas considerações, como futuros profissionais em Pedagogia, a pesquisa realizada pela disciplina Educação Ambiental do Centro de Estudos Superiores de Parintins da Universidade do Estado do Amazonas, proporcionou aos estudantes não apenas conhecer o meio ambiente diante do fenômeno da Cheia na Amazônia, contudo, a refletir sobre os aspectos que envolvem todo um contexto social. Deste modo, compreendendo a Educação Ambiental Crítica como àquela que não fica restrita somente ao meio natural, mas adentra o espaço social. Essa interface ensino e pesquisa é primordial para uma outra prática pedagógica, esta mais autônoma e emancipatória para os sujeitos sociais.

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1 Paul Bigelow Sears (1891-1990), botânico norte-americano. Escreveu Deserts on the march em 1935.

2 Aldo Leopold (1887-1948), engenheiro florestal norte-americano. A coletânea de textos intitulada A Sand County almanac (1949) foi lançada após sua morte.


Recibido: Noviembre 2014 Aceptado: Febrero 2015 Publicado: Febrero 2015


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