Carlos Reinke *
Claudia Schemes **
Universidade Feevale, Brasil
carlosar@feevale.brRESUMO: Este artigo aborda as relações possíveis entre a mídia impressa, direcionada ao público homossexual, e os aspectos relacionados à identidade e consumo dos indivíduos deste grupo. Para tanto, analisa a revista Junior, uma vez que esta publicação se coloca como uma mídia voltada a oferta de conteúdo a este público sem o uso de conteúdo adulto, e se insere dentro de nossa sociedade contemporânea onde as questões sobre a homossexualidade vem adquirindo espaço. Busca, ainda, identificar, nesta mídia, como ela se relaciona com a formação identitária do indivíduo homossexual, tendo o foco direcionado aos aspectos relacionados ao consumo ofertado na Junior.
PALAVRAS-CHAVE: Identidade. Homossexualidade. Revista Junior.
ABSTRACT: This article discusses the relationship between the print media, directed to the homosexual public, the related aspects of identity and consumer behavior of this particular group. Using the Junior magazine as a source of information, as it is aimed to the homosexual public without using adult content, and is inserted within our contemporary society where the questions about homosexuality is gaining more space and attention. Aiming also, through this media, to identify how it relates to the identity shaping of the homosexual individual, with the consuming habits offered by the magazine.
KEYWORDS: Identity. Homosexuality. Junior Magazine.
RESUMEN: Este artículo analiza las posibles relaciones entre los medios de comunicación impresos, dirigida al público homosexual, y los aspectos relacionados con la identidad y el consumo de los individuos en este grupo. Se analiza la revista Junior, ya que esta publicación se presenta a sí misma como un medio de comunicación enfocado a ofrecer contenidos al público sin el uso de contenido para adultos, y cae dentro de nuestra sociedad contemporánea, donde las preguntas acerca de la homosexualidad ha adquirido el espacio. Busca también identificar este medio lo que se refiere a la formación de la identidad de la persona homosexual, con el enfoque dirigido a los aspectos relacionados con el consumo que se ofrece en Junior.
PALABRAS CLAVE: Identidad. homosexualidad. Revista Junior.
Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato: 
Carlos Reinke y Claudia Schemes  (2018): “Identidade homossexual: uma reflexão sobre a sua representação contemporânea na revista Junior”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, (enero-marzo  2018). En línea: 
http://www.eumed.net/rev/cccss/2018/01/identidade-homossexual.html
http://hdl.handle.net/20.500.11763/cccss1801identidade-homossexual
Introdução
Este artigo procura discutir formas possíveis de  representação da identidade homossexual masculina na mídia impressa,  direcionada a este público, através da revista Junior, bem como suas relações  com o comportamento de consumo e a identidade deste grupo.
Estudos que se relacionam às questões de consumo,  mídia e identidade, dentro do universo masculino, feminino ou infantil já são  realizados há muito tempo. No que tange aos aspectos do universo gay, estes  estudos já existem, mas em uma proporção relativamente reduzida quando comparado  aos estudos dos gêneros mencionados. Buscando ater-se na questão de inovação,  elemento difundido dentro do panorama científico atual, optou-se em discorrer  sobre a relação – consumo, identidade e mídia – no que se refere aos aspectos  dos estudos voltados ao público homossexual, em especial o masculino, uma vez  que, na sociedade brasileira, o reconhecimento dos aspectos relativos à  homossexualidade vem se consolidando, mesmo que de forma lenta e recente, se  observarmos em um panorama histórico contemporâneo de outras culturas.
A  amostragem trabalhada compreendeu as edições #45 de Novembro de 2012; #49 de  Março de 2013; #56 de Novembro de 2013; e #59 de Março de 2014. A escolha  destas edições obedeceu ao critério da sazonalidade, que se baseia em classificar  as revistas disponíveis para compra dentro das estações verão e inverno, uma  vez que um dos elementos abordados no estudo se relacionam ao consumo. Sendo  assim, esta forma de segmentação, segundo Len (1993), é uma das três tendências  de comercialização a qual se baseia nas variações ao longo das estações e  também pelo fato de o mercado de moda e estética se inspirarem nesta divisão,  como afirma Lipovetsky (2009). A metodologia utilizada para analisar estas  revistas foi a Análise de Conteúdo (BARDIN, 2011).
A representação do homossexual na revista Junior 
  A revista  Junior chegou ao mercado editorial brasileiro em 2007, sendo um dos produtos  oferecidos pela editora Sapucaia. Mas, em 2009, o grupo MixBrasil assume a  publicação da revista que, atualmente, também oferta a revista “H magazine” que é direcionada ao público  gay.
  Tendo em  vista que a revista Junior é o  resultado do trabalho da editora e que sua trajetória permeia o contexto  histórico dos movimentos homossexuais em nosso país, é importante mencionar que  a editora MixBrasil é um segmento do grupo MixBrasil, que iniciou suas  atividades no ano de 1993 como organizador do Festival Mix Brasil, que tem como  objetivo apresentar curtas e longas metragens que abordem a temática GLS em seu enredo. Já em 1994, o grupo  inovou mais uma vez o universo homossexual nacional, lançando um espaço de  discussão sobre o tema por meio da ferramenta digital BBS (Builletin Board System ou Sistema de Quadro de Avisos) MixBrasil, que durou até 1998. Esta  ferramenta foi anterior à implementação da internet e consistia na troca de  mensagens, dados e programas entre usuários de computadores conectados a um  computador central por linha telefônica e modem (NASCIMENTO, 2011).
  Já em  1995, o grupo inicia as atividades na rede mundial de computadores, a internet. Hoje, sua página obtém mais de  20 milhões de page views por mês  gerados pelos mais de 800 mil visitantes mensais, segundo o site institucional  do grupo. Atualmente, o portal MixBrasil é o maior portal direcionado ao  público gay da América Latina, além de ser um dos pioneiros a ofertar conteúdo  digital focado no universo GLS.
  Apesar de  o grupo atuar desde 1993 no mercado de informação focado no público homossexual,  é em setembro de 2007 que ele se aventura no mercado editorial gay da mídia  impressa, utilizando todo seu know-how na oferta de informações digitais. É lançada a revista Junior, que é apresentada aos seus leitores por André Fischer  (2007, p.11), diretor do grupo MixBrasil, como uma publicação “assumida sem ser  militante, sensual sem ser erótica, cheia de homens lindos, com informação para  fazer pensar e entreter”. Observando este posicioidnto da revista em fazer  “pensar e entreter”, “sem ser erótica” e “assumida” foi possível constatar que  a Junior busca se contrapor ao  erotismo que permeava o mercado editorial gay na época e, de certa forma, traz  de volta uma imprensa informativa e com conteúdo que desde o fim da Sui Generis 1não havia sido resgatado.
  A Junior buscou desde seu começo uma  abrangência nacional, sendo que a sua primeira edição foi lançada com uma  tiragem de aproximadamente 30 mil exemplares. A recepção do público em relação  a revista foi bastante positiva, pois como afirma Fisher (2007, p14), “recebemos  algumas centenas de e-mails com congratulações, críticas e sugestões de todo  tipo”. A grande aceitação do público possibilitou que a revista, antes  programada para ser trimestral, se torne bimestral e, em 2010, passou a ser  mensal, como aponta Fisher (2007).
  Discorrendo  acerca da relação entre leitor homossexual masculino e a publicação, para que  haja um reconhecimento entre as partes, é preciso que a revista traga em seu  conteúdo elementos relevantes para os homossexuais. Outro aspecto é a sua estrutura  de linguagem que abrange um vocabulário capaz de ser reconhecido pelo leitor e  moldar uma identificação entre o leitor e a revista. Esta estrutura discursiva  é uma estratégia que visa evidenciar que a revista conhece e se posiciona  dentro deste universo homossexual, dando a ela credibilidade ao tratar de  questões de tendências e assuntos latentes dentro da comunidade gay.  A partir disto, esta análise buscou trabalhar  com a hipótese de que a revista utiliza-se da sua credibilidade com os leitores  para ditar determinados padrões, sejam eles de identidade, que podem ser  associados às questões estéticas, culturais e de comportamento, bem como de  consumo, por meio das publicidades e dos produtos apresentados na revista.
  No caso do corpus aqui trabalhado, esta  organização deu-se da seguinte forma: as revistas apresentam determinados agrupamentos  de conteúdo, ou seções. Utilizando-se destas segmentações de conteúdo,  realizou-se uma pesquisa quantitativa, na qual foi calculado o percentual de  cada seção – cultura, beleza, fixas, turismo, matérias e moda – dentro do corpus. Ainda, incluiu-se a categoria  publicidade, em que foi quantificado o número de anúncios presentes na edição.
  O objetivo  da obtenção deste percentual era de observar se o posicioidnto que a revista Junior informa ter em relação a  determinados temas do universo da homossexualidade condiz com o conteúdo  publicado. 
Diante dos  resultados obtidos foi possível observar que a revista possui um número de  campanhas publicitárias bastante elevado em relação aos números de itens  apresentados em suas seções, sendo 38% do conteúdo do recorte analisado. Já em  relação às seções da revista, observou-se que o índice “Matérias” (19%), que  aborda conteúdos relativos ao life style do homossexual, representa a maior parcela em relação às demais seções,  acompanhada pela seção “Fixa” (11%), que apresenta conteúdos de apoio e  engajamento ao movimento de defesa dos homossexuais. E, por fim, “Cultura”  (13%), que apresenta matérias relacionadas ao conteúdo de livros, revistas,  filmes e outras manifestações que abordam questões relativas à  homossexualidade.
  Estes  resultados nos mostram que a revista Junior se enquadra como uma revista que busca trabalhar questões de comportamento e  cultura e que se posiciona como mídia de apoio à minoria homossexual, sendo seu  posicioidnto divulgado aos leitores, condizente com seu conteúdo. No entanto,  percebeu-se que o item publicidade se destaca em relação a todos os outros  conteúdos, o que evidenciou uma busca de produtos e serviços que visam atender  esta parcela da sociedade.
  A partir  destas constatações, procuramos verificar como a revista constrói a identidade  do homossexual masculino por meio de suas imagens, ou seja, qual é a imagem  masculina predominante na revista e o que pode ser visto como um modelo de  padrão de beleza ditado pela publicação aos seus leitores, uma vez que esta se  vale de sua credibilidade para ditar tendências e padrões?
  Para  estruturar a análise, foi realizada primeiramente uma avaliação flutuante das  imagens e foram avaliados pontos em comum entre as imagens presentes nas  edições selecionadas da revista e que apresentassem indivíduos do sexo  masculino. Dentro desta pré-análise foi possível identificar quatro índices aos  quais os modelos apresentados nas fotografias podem ser associados segundo suas  características estéticas: os Machos, que possuem uma imagem masculina viril,  em que sua estética compreende a um corpo com certo desenvolvimento muscular e  um abdômen ricamente trabalhado, a presença ou não de pelos faciais e cabelos  com cortes discretos e expressões faciais mais discretas. Os Teen, termo em inglês que significa  adolescente, evidencia um modelo cuja estética se aproxime de um garoto, cuja  estrutura corporal está mais próxima do que se denomina atlética, ou seja, não  apresenta uma grande quantidade de massa muscular, mas sim um corpo esbelto e  delineado, sem pelos faciais e corporais, com uso ou não de penteados ousados. Os  Trans, que englobam os transexuais, travestis e Dragqueens, uma vez que as três qualificações se referem a homens  que se reconfiguram na forma de uma imagem feminina, seja ela satirizada ou  não; e por fim os Ursos, que compreendem a homens com uma estética corporal  muito semelhante ao que se considera como sobrepeso, tendo pelos corporais e  faciais em quantidades que poderão variar e com cabelos sem penteados  extravagantes ou totalmente carecas. 
  Com estas  referências, foi então realizada a verificação da revista no caráter  quantitativo das imagens apresentadas, as quais foram enumeradas com base em  duas regras propostas por Bardin (2011). A primeira é denominada Regra de Presença  (Ausência), que permite verificar qual a imagem masculina predominante dentro  das imagens da revista, assim como indicar uma possível negação à diversidade  existente dentro do universo homossexual por meio da omissão de outros  desdobramentos possíveis da identidade gay. A segunda regra utilizada foi a  Intensidade, na qual são estruturados níveis de presença do elemento que tem o  objetivo de avaliar e são associadas notas diferentes a cada forma de  visualização. Utilizou-se esta regra para avaliar a intensidade da erotização  associada a cada índice estético definido na regra anterior: Machos, Teen, Trans  e Ursos. 
  Definida a  metodologia de avaliação dos itens, realizou-se uma contagem das imagens  presentes nas edições escolhidas da revista. Nesta avaliação foram incluídas  todas as imagens presentes em entrevistas, matérias, artigos, editoriais e  publicidades.
  Concluímos  que os padrões estéticos que se sobressaíram foram respectivamente os Machos,  com 57%; e os Teens, com 28%; seguidos de longe pelos Ursos, com 8%; e as Drags, com 7%. Paralelamente a estes  resultados, observou-se que a intensidade da erotização de cada padrão estético  segue a mesma relação de destaque, cujo padrão Macho vem em primeiro, seguido  por Teens, Ursos e Drags. Uma característica que chama a atenção é que em ambos  os gráficos observou-se uma grande diferença entre a imagem dos Machos em  relação aos demais padrões estéticos.
  Diante dos  resultados obtidos, foi possível constar que a imagem masculina predominante na  revista Junior se estrutura em uma  representação identitária de um homossexual que busca refutar uma possível  associação à homossexualidade, principalmente se o estereótipo associado a este  grupo for do sujeito não viril e afeminado. De certa maneira, é possível ver  que a revista evidencia que os seus leitores não se sentem atraídos,  afetivamente ou sexualmente, e nem possuem admiração por homens que sejam  delicados e frágeis. 
  Sendo  assim, os modelos masculinos presentes no conteúdo das edições estudadas da  revista Junior se enquadram na sua  maioria dentro do índice Machos, caracterizados por uma masculinidade muito  próxima dos padrões socialmente impostos, isto é, aquela que teria como modelo  máximo os homens, com virilidade exacerbada, de setores médios da população,  com corpos musculosos, livres da possibilidade de serem frágeis ou delicados.  Estes homens servem de tendências de estilo de vida e comportamento. Portanto,  no momento em que a revista se apropria desta imagem e a replica de forma  incessante, tende a configurar uma imagem identitária, baseada em um conjunto  de práticas dominantes na construção da subjetividade masculina, que serve como  referência a ser atingida.
  Dando  continuidade ao processo de análise do corpus, avaliamos os índices relativos ao consumo dos homossexuais. Diante disto, é  importante não ter o pensamento ingênuo de que o poder aquisitivo deste grupo  seja reflexo de uma renda per capita elevada. Segundo Nunan (2003) e Fischer,  em entrevista a Venceslau (2007), os gays possuem um estilo de vida e um  conceito familiar diferente dos padrões heterossexuais. Os principais aspectos  de diferenciação entre estas duas sexualidades, no que tange o seu poder  aquisitivo, é o fato de a maior parcela dos homossexuais não possuírem filhos,  dispensando, assim, planos futuros nesse sentido e, também, pelo fato de que a  renda familiar dos homossexuais, solteiros ou não, se destina quase que  integralmente para os seus desejos e anseios de consumo. Galvão (2013) coloca  que este padrão familiar dos homossexuais é denominado Dink, uma abreviação inglesa associada a expressão “double income, no kids”, que em tradução  literal seria “dois salários, sem filhos”. Esta forma de comportamento  possibilitaria aos homossexuais investir na aquisição de produtos e serviços  mais sofisticados, além de um maior investimento em educação e lazer.
  A partir  das colocações destes autores, realizou-se uma leitura flutuante2 ,  a qual possibilitou observar que a revista apresenta campanhas publicitárias  que oferecem diferentes produtos e serviços. Além disto, algumas das matérias  forneceram, não só dicas de moda e beleza, como também indicaram determinados produtos  que possibilitam ao leitor obter o mesmo resultado do que é apresentado na  revista e, junto a isso, é mencionado o preço médio que são comercializados.
  Isto então  possibilitou avaliar, por meio do uso da regra de frequência proposta por  Bardin (1977), quais são os produtos mais ofertados dentro da publicação. Esta  análise englobou não somente as campanhas publicitárias, mas as matérias das  revistas que apresentaram valores médios dos produtos e serviços oferecidos. O  objetivo foi avaliar quais os segmentos com maior presença dentro do universo  homossexual. Os resultados também poderão nos mostrar um perfil de consumo do  leitor da revista, uma vez que uma maior presença de determinado produto  indicará uma maior procura por parte deste público.
  Outro  aspecto avaliado foi a indicação de preços, na qual estruturou-se uma análise  também de presença, que teve como objetivo observar qual a faixa média de valor  em que os produtos oferecidos pela revista se encontram, buscando identificar  se realmente os leitores da revista Junior procuram produtos e serviços mais sofisticados. Nesta pesquisa, abdicou-se de  uma avaliação de faixa salarial, uma vez que, já no começo desta etapa da  análise, informamos que o consumo deste homossexual, leitor da revista, é  reflexo de seu estilo de vida e do padrão de família característico deste  grupo.
  Na  sequência abaixo são apresentados respectivamente os gráficos obtidos da  análise dos produtos e serviços ofertados na revista, e o de análise da faixa  de preços destes materiais ofertados. 
Diante dos  resultados obtidos, observou-se que é apresentado o perfil de um leitor homossexual  masculino com uma grande preocupação estética, uma vez que os produtos  relacionados a Beleza representam 47% e a moda vem em seguida com 17% das  ofertas apresentadas na revista. Isto nos mostra um homossexual com uma maior  sensibilidade estética. De certa maneira, isto reflete uma característica desse  grupo, uma vez que são os gays os responsáveis por grandes transformações no mundo  da estética masculina. Essa característica não se associa somente ao  homossexual delicado, a moda e a estética dos que se definem como “discretos”  também possuem sua importância no que diz respeito à adesão de tendências de  moda emergentes nos segmentos de vestuário, calçados, cabelo e acessórios. Se  hoje a moda masculina perde seu engessamento e sua homogeneidade, é graças a  esta parcela de homossexuais mais ávidos a consumir e absorver as tendências  que depois se disseminam entre os demais homens, sejam eles heterossexuais ou  homossexuais.
  Dando  continuidade ao estudo, é apresentada a seguir a análise referente à média de  valor dos produtos ofertados na revista, do qual apenas os itens moda, beleza,  e cultura/lazer apresentaram valores nos conteúdos a eles associados. O item  turismo apresentou valores em algumas das edições analisadas, sendo assim, o  mesmo não foi incluído nesta análise. Cada índice apresenta o valor mínimo e o  valor máximo dos produtos associados a cada item respectivamente.
Ao  analisar os gráficos, foi possível identificar que são ofertados produtos  dentro de cada segmento, cujos valores possuem uma grande variação dentro de  cada índice. É necessário lembrar, no entanto, que a mídia também é uma  ferramenta mercadológica e, como tal, está sujeita a pressões do mercado  capitalista (lei da oferta e da procura), e que os conteúdos por ela veiculados  visam fins que vão muito além do simples ato de comunicar, interferindo também  no comportamento de consumo do seu leitor. Estas observações se confirmam pelas  colocações de André Fischer em entrevista a Venceslau (2013), diretor da  revista Junior, em que ele afirma que  o poder aquisitivo alto não é uma característica homogênea dentro do grupo  homossexual masculino, que apenas possuem a possibilidade de investir suas  economias de forma diferenciada, podendo adquirir produtos de valores mais  elevados. 
  Outro  aspecto que se julgou necessário evidenciar foi que os índices com produtos de  maior valor são respectivamente Beleza e Moda, o que confirmou que os homossexuais  possuem uma maior preocupação estética. Dentro do índice Beleza, das ofertas  presentes nesta categoria, se destacaram os produtos e serviços associados à  depilação masculina, uma vez que as fotografias apresentadas nos editoriais e  nas publicidades dentro revista evidenciavam modelos com corpos sem pelos.  Outros dois produtos que mais se destacaram foram os suplementos alimentares e  de emagrecimento por meio dos quais há promessas de fornecerem aos usuários um  resultado rápido e eficiente das atividades físicas realizadas. O segundo  produto se refere ao tratamento facial, como cremes, hidratantes e géis, que  prometem um retardamento das marcas da idade.
  Diante dos  aspectos apresentados, observou-se que há um amplo número de variáveis  possíveis de serem analisadas dentro da revista, mas que as selecionadas e  apresentadas possibilitaram uma reflexão a respeito da identidade e do consumo  do público em questão. As análises possibilitaram também reconhecer aspectos  pontuais sobre as áreas e produtos consumidos, assim como a identidade que a  revista constrói por meio da repetição de determinadas imagens dentro da  publicação. 
Considerações  finais
  Em relação à revista Junior e seu posicioidnto de uma mídia impressa de conteúdo ou  erótica, observou-se que ela se enquadra em seu material impresso como uma  mídia focada ao público homossexual e que busca apresentar entrevistas e  reportagens com conteúdo que se relacionem a temas atuais para o seu leitor.  Isso se comprovou durante a realização da análise de conteúdo, na qual foi  possível uma leitura mais meticulosa do conteúdo da revista. Outro aspecto que  observado é que a revista Junior está  associada a uma característica latente no comportamento do homossexual  contemporâneo que é o espírito jovem. Este “espírito” se associa à revista por  ser uma publicação recente dentro do mercado das mídias impressas, além de  possuir uma segmentação direcionada ao público homossexual masculino jovem e,  segundo o site do MixBrasil, cerca de 52% do seu público está na faixa etária  entre 18 e 30 anos. 
  O  posicioidnto jovem da revista se confirma por meio da estruturação de um  discurso que se apropria de uma linguagem coloquial gay, ou seja, faz uso de um  vocabulário específico, como: gírias e expressões que são reconhecidas pelos  sujeitos homossexuais.
  Esta forma de estratégia discursiva é outro aspecto  relevante de ser mencionado em relação à revista Junior, pois observou-se que a publicação utiliza o discurso como  forma de reforçar este processo de identificação entre revista e público. Em  algumas de suas matérias, principalmente as que tratam sobre situações  cotidianas dos indivíduos gays, como preconceito, doenças e “sair do armário”,  a publicação utiliza uma espécie de personagem que apresenta nas reportagens  três elementos básicos: o motivo, o efeito e a superação do problema do tema abordado.
  Porém, a estrutura discursiva utilizada busca  compartilhar as angústias e o sofrimento do personagem de forma que as mesmas  dificuldades possam ser identificadas como comuns entre os leitores. Isso  fortalece a relação de identificação deles com a revista, além de estruturar  uma homogeneidade dentre o grupo homossexual.
  Desta  forma, no que tange aos aspectos da linguagem verbal – matérias, reportagens e  publicidade – presente na revista, é possível observar que esta estratégia  discursiva estrutura uma forma de reconhecimento identitário com o leitor, que  não se restringe somente à capa da publicação, mas permeia todo seu conteúdo.  Esta relação possível entre linguagem midiática e reconhecimento identitário é  um dos conceitos de Orlandi (2010), no qual a autora diz que, ao falar, o  sujeito constitui um sentido e, assim como a si próprio, um processo de formação  da identidade na relação com a língua. Sendo assim, após as análises realizadas,  foi possível observar que tanto quanto defender o movimento homossexual e  buscar os direitos deste grupo, a revista Junior estrutura nos discursos de suas matérias reportagens e publicidades uma forma  de orientação que, de certa maneira, pode ser encarada como uma forma de  fundamentação e fortalecimento da identidade do homossexual leitor da revista.  Estas colocações podem ser relacionadas com as afirmações de Woodward (2008,  p.8), cuja autora menciona que “as identidades adquirem sentido por meio da  linguagem e dos sistemas simbólicos pelos quais elas são representadas.”
  Em relação à estruturação de uma amostragem do corpus a ser trabalhado, foi possível  observar que o uso de um recorte sazonal facilitou um aprofundamento e  reconhecimento de determinados aspectos relacionados ao consumo e estratégias  discursivas que certamente não seriam percebidos caso a análise fosse  estruturada em um número grande de edições.
  No que se relaciona as questões sobre identidade,  consumo e mídia, observou-se que estes itens possuem conceitos únicos e  específicos, porém, ao inserir uma quarta variável a esta relação – o sujeito –  observou-se que as relações entre esses itens podem ser associadas à estrutura  de um átomo, cujo sujeito representa um núcleo e, a identidade, consumo e  mídia, se associam como elétrons que giram em torno do núcleo e que seus  diferentes graus de interações e sentidos irão influenciar na forma como o  sujeito encara e se posiciona dentro do mundo real.
  Por fim,  dentro dos resultados avaliados, no que diz respeito aos aspectos de  identidade, consumo e mídia direcionadas ao público homossexual, observou-se  que dentro da amostragem da revista Junior trabalhada, a identidade do homossexual representada na publicação o  caracteriza como um sujeito com uma excessiva preocupação estética. Isso se  confirma na análise de conteúdo quando se observa que as categorias de produtos  relacionados à beleza apresentam os valores mais altos de produtos oferecidos,  mesmo este índice representando apenas 11% do conteúdo da publicação analisada.  Outro aspecto identitário deste homossexual representado na revista é a sua  sensibilidade e preocupação em estar na moda, o que é confirmado pelo índice  Moda, que possui o mesmo percentual que o índice beleza, 11% do conteúdo das publicações  analisadas. Além disso, os valores dos produtos de moda oferecidos na revista  ficam em segundo lugar entre os mais caros dentro da publicação.
  Outro  aspecto observado dentro das análises foi de que a revista possui certa  consciência militante em favor das causas LGBT, mesmo que de forma mais branda  se comparada aos anos 60 e 70 e, assim, desvincula o homossexual da imagem do  “viado”, ou seja, o gay extremamente afeminado e a substitui por um homossexual  másculo, por meio de uma mimetização dos aspectos patriarcais que evidenciam o  homem como um ser viril, potente e agressivo. Em resumo, evidência as  características de um macho alfa 3,  o que se confirma com a análise de conteúdo, que indica que 43% dos modelos do  gênero masculino representam estes aspectos identitários e suas imagens são as  com maior grau de intensidade de erotização. Desta forma torna-se evidente que  a revista usa de suas imagens ofertadas como uma forma de alocar dentro do  imaginário social dos seus leitores um padrão estético a ser alcançado e  desejado por estes indivíduos e que os produtos nela ofertados poderão servir  de instrumentos para alcançar os padrões representados.
  Ao observar os resultados obtidos na análise de  conteúdo, verificou-se que os resultados obtidos convergem para determinados  aspectos que evidenciam uma relação possível entre a identidade de um grupo e o  seu consumo. Eles evidenciam que há “uma associação entre a identidade da  pessoa e as coisas que uma pessoa usa”, como afirma Woodward (2008, p.10). No  entanto, a análise de conteúdo parece possibilitar uma análise mais dinâmica e  adequada, tanto em relação às questões identitárias, como as de consumo. Além  disso, observou-se outro aspecto, que é o fato de o consumo ofertado por esta  publicação poder sim ser encarado como um reflexo da identidade do homossexual  contemporâneo, uma vez que a publicação também é uma ferramenta mercadológica  e, como tal, está sujeita a pressões do mercado capitalista (lei da oferta e da  procura). Também os produtos nela ofertados vão muito além da necessidade de  subsistência, passando a uma necessidade de desejo e como instrumento para o  alcance de uma satisfação plena dentro do grupo social homossexual.
  Neste sentido, ao buscarmos a questão norteadora  levantada nesta dissertação – como o homossexual masculino contemporâneo é  representado dentro da mídia impressa, direcionada a este segmento, quando se  avalia elementos relacionados ao consumo e a identidade deste grupo? – podem  ser estruturados três apontamentos distintos. O primeiro em relação a  representação do homossexual masculino contemporâneo na mídia, que evidencia um  sujeito com exacerbada virilidade que o aproxima de uma imagem  heteronormatizante. O segundo se refere aos aspectos relacionados à identidade,  que o desenrolar das análises indicaram que o estudo realizado pode fomentar  ainda tantas outras pesquisas sobre a homossexualidade masculina e seus  aspectos identitários dentro universo homossexual. E o terceiro apontamento  evidencia que o consumo assume uma posição basilar na definição identitária e  que concede ao sujeito contemporâneo um reconhecimento e um status entre os indivíduos e a sociedade  na qual está imerso.
  No entanto, não consideramos este estudo como um  ponto final para os conceitos estudados, mas sim, apenas um encerramento  textual para esta dissertação e que abre portas para diferentes desdobramentos.
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*Doutorando e Mestre em Processos e Manifestações Culturais pela Universidade Feevale. Especialista em Modelagem de Vestuário. Tutor de EAD na Universidade Feevale (Novo Hamburgo – RS) E-mail: carlosar@feevale.br