Revista: CCCSS Contribuciones a las Ciencias Sociales
ISSN: 1988-7833


ESPACIALIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA DE POPULAÇÕES TRADICIONAIS: UMA COMPREENSÃO SOBRE A ATIVIDADE PESQUEIRA EM SÃO JOÃO DE PIRABAS E SALINÓPOLIS (PA).

Autores e infomación del artículo

Dioclecio Soares Gomes *

Laís Victória Ferreira de Sousa **

Rafael Costa Miléo ***

Regina Oliveira da Silva ****

Universidade do Estado do Pará, Brasil

diogeofago@gmail.com

Resumo: Este trabalho refere-se à caracterização socioeconômica e espacial das atividades de moradores nos municípios de São João de Pirabas e Salinópolis, no Estado do Pará. Os resultados são oriundos do Projeto “Estudos socioambientais para criação de unidade de conservação de uso sustentável no Salgado Paraense”, parceria entre Museu Paraense Emílio Goeldi e Instituto Chico Mendes da Conservação da Biodiversidade. Tratam-se de comunidades que estão envolvidas no processo de criação de Unidades de Conservação de Uso Sustentável, mais especificamente, Reservas Extrativistas Marinhas. O objetivo deste trabalho é compreender a relação dessas populações tradicionais com o uso da terra e, identificar, espacialmente, o uso dos bens naturais. Além da pesquisa bibliográfica foram realizadas atividades de campo no mês de Novembro e Dezembro de 2016. Na ocasião, visitou-se comunidades aplicando questionários às “pessoas-chave”, aquelas que possuíam maior conhecimento sobre as atividades realizadas que eram indicadas pelos próprios moradores. Foram realizadas atividades em oficinas, e levantamentos de informações de forma participativa. As populações estudadas apresentam atividades ligadas a caça, pesca e extrativismo. As diversas atividades realizadas pelos moradores os caracterizam como pluriativos (no qual não há uma especificidade nas atividades de sustento das famílias, e sim uma diversidade de atividades que compõe o sustento). Compreender essas extensões espaciais que ultrapassam os limites administrativos é essencial para identificar as áreas tradicionalmente utilizadas por esses grupos. As populações apresentam, no histórico de ocupação, uma tradição material e imaterial das ferramentas utilizadas para suas atividades diárias. As comunidades estudadas também se posicionaram a favor da criação das Unidades de Conservação, com a perspectiva de proteger os bens naturais para sua manutenção.

Palavas-Chaves: Populações Tradicionais. Reserva Extrativista. Salgado Paraense. Espaço Geográfico.

Resumen: Este trabajo se refiere a la caracterización socioeconómica y espacial de las actividades de moradores en los municipios de São João de Pirabas y Salinópolis, en el Estado de Pará. Los resultados son oriundos del Proyecto "Estudios socioambientales para la creación de unidad de conservación de uso sostenible en el Salado Paraense ", Asociación entre el Museo Paraense Emilio Goeldi y el Instituto Chico Mendes de la Conservación de la Biodiversidad. Se trata de comunidades que están involucradas en el proceso de creación de Unidades de Conservación de Uso Sostenible, más específicamente, Reservas Extractivistas Marinas. El objetivo de este trabajo es comprender la relación de esas poblaciones tradicionales con el uso de la tierra y, identificar, espacialmente, el uso de los bienes naturales. Además de la investigación bibliográfica se realizaron actividades de campo en el mes de noviembre y diciembre de 2016. En la ocasión, se visitó comunidades aplicando cuestionarios a las "personas clave", aquellas que poseían mayor conocimiento sobre las actividades realizadas que eran indicadas por los propios habitantes. Se realizaron actividades en talleres, y levantamientos de informaciones de forma participativa. Las poblaciones estudiadas presentan actividades ligadas a caza, pesca y extractivismo. Las diversas actividades realizadas por los habitantes los caracterizan como pluriactivos (en el cual no hay una especificidad en las actividades de sustento de las familias, sino una diversidad de actividades que componen el sustento). Comprender estas extensiones espaciales que superan los límites administrativos es esencial para identificar las áreas tradicionalmente utilizadas por estos grupos. Las poblaciones presentan, en el histórico de ocupación, una tradición material e inmaterial de las herramientas utilizadas para sus actividades diarias. Las comunidades estudiadas también se posicionaron a favor de la creación de las Unidades de Conservación, con la perspectiva de proteger los bienes naturales para su mantenimiento.

Palabras Claves: Poblaciones Tradicionales. Reserva Extractiva. Salado paraense. Espacio Geográfico.

Abstract: This work refers to the socioeconomic and spatial characterization of the activities of residents in the municipalities of São João de Pirabas and Salinópolis, in the State of Pará. The results come from the Project "Social-environmental studies for the creation of a conservation unit for sustainable use in Salgado Paraense ", A partnership between the Museu Paraense Emílio Goeldi and the Chico Mendes Institute for Biodiversity Conservation. These are communities that are involved in the process of creating Conservation Units for Sustainable Use, specifically, Marine Extractive Reserves. The objective of this work is to understand the relationship of these traditional populations to land use and to identify, spatially, the use of natural assets. In addition to the bibliographic research, field activities were carried out in November and December 2016. On the occasion, communities were visited by applying questionnaires to the "key people", those who had greater knowledge about the activities carried out that were indicated by the residents themselves. Activities were carried out in workshops, and information surveys in a participatory manner. The studied populations present activities related to hunting, fishing and extractivism. The various activities carried out by the residents characterize them as pluri- tive (in which there is no specificity in the family's livelihood activities, but a diversity of activities that make up the livelihood). Understanding these spatial extensions beyond administrative boundaries is essential to identify the areas traditionally used by these groups. The populations present, in the history of occupation, a material and immaterial tradition of the tools used for their daily activities. The communities studied were also in favor of the creation of Conservation Units, with the perspective of protecting natural assets for their maintenance.

Key-words: Traditional Populations. Extractive Reserve. Salgado Paraense. Geographic space.


Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Dioclecio Soares Gomes, Laís Victória Ferreira de Sousa, Rafael Costa Miléo y Regina Oliveira da Silva (2018): “Espacialização socioeconômica de populações tradicionais: uma compreensão sobre a atividade pesqueira em São João de Pirabas e Salinópolis (PA).”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, (enero-marzo 2018). En línea:
http://www.eumed.net/rev/cccss/2018/01/atividade-pesqueira-brasil.html

http://hdl.handle.net/20.500.11763/cccss1801atividade-pesqueira-brasil


  1. INTRODUÇÃO

A busca pela conservação da natureza, através da delimitação de áreas naturais protegidas, tem sido um dos principais meios para manutenção da biodiversidade (Viana, 2008). Cada país define objetivos e meios próprios para alcançar a proteção ambiental, levando em consideração o tamanho de suas áreas degradadas. O que define os objetivos para a proteção são as especificidades de cada área (Brito, 1995). Sabe-se que dentre as finalidades que são atribuídas às áreas de proteção, tem-se: proteção da biodiversidade; pesquisa científica; manutenção dos serviços ambientais; uso sustentável dos recursos naturais; recreação e turismo; manutenção das características culturais e tradicionais. Em certas áreas o uso sustentável dos recursos naturais é permitido, em outras, busca-se a mínima intervenção humana.
A Lei nº 9.985 de 18 de julho de 2000 estabelece critérios para criação de Unidades de Conservação- UCs e as formas de implementação e gestão dessas áreas, além de instituir o Sistema Nacional de Unidades de Conservação- SNUC. A legislação estabelece como Unidade de Conservação os espaços territoriais e seus recursos naturais, incluindo as águas jurisdicionais (onde o Estado exerce sua soberania). Considerando suas características mais relevantes, as Unidades de Conservação possuem limites definidos com o objetivo da conservação ambiental e também regime especial de administração, que visa a proteção ambiental (Brasil, 2000).
O Instituto Chico Mendes da Conservação da Biodiversidade-ICMBio, é o órgão responsável pela apresentação de normas de gestão das UCs e por propor sua criação, sua regularização fundiária, monitoramento, o uso público e a exploração econômica dos recursos naturais nas unidades.
Unidades de Conservação dividem-se em dois grupos principais: as unidades de proteção integral e aquelas de uso sustentável que seguem as diretrizes do Sistema Nacional de Unidades de Conservação-SNUC (MMA2000). As UCs têm como finalidade garantir a proteção de parcela representativa dos biomas brasileiros, a partir de determinadas práticas de gestão territorial (Coelho et al., 2009).
A ideia de Reserva Extrativista teve sua proposta elaborada em 1985, através do Primeiro Encontro Nacional dos Seringueiros, quando foi criado o Conselho Nacional dos Seringueiros-CNS, atualmente denominado Conselho Nacional das Populações Extrativistas (Allegreti, 2002).
A proposta de criação de Unidades de Conservação é historicamente oriunda da luta dos trabalhadores e trabalhadoras rurais, principalmente do movimento dos seringueiros (De Marco, 2016). Com tensões nacionais e internacionais de ONG’s e movimentos sociais (Guerra & Coelho, 2011), Mendes (2009) avalia que o surgimento de Reservas Extrativistas está ligado diretamente a manutenção do modo de vida de populações tradicionais, fazendo uma relação entre a regularização da ocupação fundiária e a conservação dos recursos naturais.
As populações que utilizam recursos naturais e realizam o agroextrativismo podem ser consideradas como pluriativas, sendo organizadas em seu trabalho familiar, e por seus indivíduos se dedicam ao exercício de um conjunto variado de atividades econômicas e produtivas, não necessariamente ligadas à agricultura ou ao cultivo da terra, mas também ligadas às outras formas de subsistência (pesca, criação de animais, entre outros (Shineider, 2003). As comunidades tradicionais, segundo Diegues (2007) possuem características como: dependência dos ciclos e recursos naturais, importância da unidade familiar e/ou vizinhança, a importância da produção para sua manutenção, e, por fim, a transmissão oral do conhecimento. Os saberes tradicionais estão ligados aos elementos naturais que desempenham papel fundamental para sua perpetuação social e simbólica de seus meios de vida (Diegues, 2007). Esses saberes, quando referentes as localizações dos recursos naturais, a construção de apetrechos, as formas de pescar ou cultivo da terra, são transmitidos oralmente pelas gerações familiares. Segundo Bourdieu (2006) esses saberes são utilizados para exercer ações, nos diversos espaços das práticas sociais produtivas.
As populações tradicionais possuem uma relação espacial com os recursos naturais (espacialização). Os rios, mangues, igarapés e demais áreas de prática do extrativismo são a materialização dos objetos que, segundo Santos (2006), os objetos imóveis também devem ser considerados. Espaços como cidades, uma barragem, uma estrada, um porto, uma floresta, uma montanha, também devem ser considerados objetos. Esses objetos são fundamentais para as dinâmicas das atividades produtivas de populações, como a pesca artesanal, agricultura, “tiração” de caranguejo, extrativismo vegetal, criação de animais, entre outras.
As ações que as populações tradicionais realizam nos objetos (mangue, rios, igarapé, praias, quintais) são um conjunto inseparável, solidário e também paradoxal, de objetos e de ações, não consideradas individualmente, e sim como o quadro único, no qual a história acontece (Santos, 2006).
O objetivo deste trabalho é a caracterização da espacialização socioeconômica de comunidades de dois municípios do Estado do Pará que passaram por estudos para a criação de Unidades de Conservação de uso sustentável da categoria de Reserva Extrativista- Resex.

  1. MATERIAIS E MÉTODOS
  1. Área De Estudo

Os municípios de Salinópolis e São João de Pirabas estão localizados na Microrregião Salgado, integrante da Mesorregião Nordeste Paraense, costa atlântica da Amazônia Brasileira, estão localizados a cerca de 203 km de Belém, capital do Estado do Pará (Figura1).
Salinópolis e São João de Pirabas, assim como grande parte de municípios brasileiros que se encontram ao longo da faixa litorânea, sofreram transformações sócioespaciais significativas, que datam desde o período de colonização, onde surgiram os primeiros núcleos de povoamento formados ao longo da zona costeira (Diegues, 2007).

De acordo com a Classificação Climática de Köppen, a região está incluída no subgrupo climático Tropical de Monções (Am), com pequena estação seca (agosto – dezembro) e influência de monções (Alvares et al., 2013). A região apresenta planícies fluvio marinha (deposição) e de tabuleiros (erosão), região litorânea e vales nos rios principais. Nestes municípios predominam as áreas alteradas representadas pelas vegetações secundárias e área urbana, com destaque para a vegetação secundária de palmeiras. As áreas de vegetação original correspondem aos mangues, dunas e floresta ombrófila densa.
Em São João de Pirabas, as comunidades selecionadas para o estudo foram Laranjal e Caraxió, já em Salinópolis foram as comunidades de São Bento e Derrubada. O Quadro 1 apresenta os dados gerais das localidades selecionadas. Em São João de Pirabas a média de idade dos entrevistados foi de 58 anos, já em Salinópolis a média de idade era de 51 anos.

Além do mais, estão nos municípios em média há mais de 24 anos, o que representa um forte vínculo com a terra (no sentido de território), nos seus aspectos geográficos, culturais, sociais e políticos, e uma baixa mobilidade espacial e temporal. No município de São João de Pirabas o vínculo é maior, pois o tempo de moradia é de 58 anos.
A escolaridade dos mesmos pode ser considerada baixa, 52% possuem o ensino fundamental incompleto, outros 44,% são analfabetos, somente escrevem o nome (alfabetizados), outros possuem o ensino fundamental completo e, por último o ensino médio completo. Quando perguntados se havia a intenção de mudança para outro local, 93% disseram que não, pois no município, mesmo com todas as dificuldades, conseguem sobreviver. Os 7% que apresentaram desejo de mudar-se para outro local alegaram dificuldades em relação à pesca como motivação.

  1.  Metodologia

O trabalho foi realizado em parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMbio); Plano das Nações Unidades Para o Desenvolvimento no Brasil (PNUD); Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação e Comunicações (MCTI) no projeto intitulado: “Estudos socioambientais para criação de unidade de conservação de uso sustentável no Salgado Paraense” (ICMBIO, 2016, ICMBIO, 2017). Primeiramente, buscou-se o embasamento quanto ao assunto através de revisão bibliográfica das literaturas referentes ao tema, desde os recortes espaciais dos lócus de pesquisa e, análise em outras escalas, para da melhor forma de utilizar as teorias como ferramentas para interpretação da realidade (Cruz, 2010). Em campo, ocorreu a aplicação de questionários relacionados às características socioeconômicas dos entrevistados e as diversas opiniões sobre a criação de uma Reserva Extrativista Marinha nos municípios. Ocorreram também conversas informais com os sujeitos das comunidades. Os entrevistados foram pessoas consideradas chave, podendo ser ou não chefe (a) de família. O mapeamento e a espacialização dos recursos naturais em seus objetos foram obtidos por meio de reuniões locais com os moradores. Buscou-se compreender a proposta de criação da Unidade de Conservação e seus benefícios para as comunidades. Posteriormente os dados primários foram tabulados em planilha do Excel, analisados qualitativamente, delimitando e objetivando para a produção desse trabalho. 

  1. Caracterização Socioeconômica

As comunidades em questão possuem perfil agroextrativista, realizam atividades voltadas à agricultura, pesca e tiração de caranguejo. Os entrevistados possuem pequenas propriedades, em sua maioria realizam atividades de subsistência, com exceção daqueles que possuem vínculo com trabalhos nas prefeituras.
Essas comunidades se localizam em áreas próximas de igarapés, mangues, rios, mares. No estado do Pará, a pesca tem sido desenvolvida em diversos municípios, em águas interiores ou costeira, é importante destacar a importância dessa prática para o quadro socioeconômico da região.
Nas comunidades estudadas, a pesca é realizada com embarcações de médio e pequeno porte, confeccionadas na própria comunidade, assim como os apetrechos de pesca, como as redes, malhadeira, puçá e gancho. Nas entrevistas os pescadores discorriam sobre as técnicas de pesca utilizadas. Na ocasião, houve um relato sobre as atividades roça e pesca. Foi exposto que o aprendizado ocorreu por meio de saberes tradicionais, o morador revelou que todas as técnicas que utiliza atualmente, são as mesmas ensinadas por seu pai e, desde a infância já as praticavam. Uma das características desse conhecimento, talvez a mais significativa delas, é sua íntima relação com a natureza, com o local onde é gerado e desenvolvido por décadas e até séculos, informações e práticas sobre o uso desses recursos naturais.
Esta relação entre as comunidades e as atividades realizadas, e também as formas singulares de aprendizado, são os fatores que caracterizam o grupo estudado como população tradicional, afirmando a definição de Diegues (2007).
A “tiração” de caranguejo é uma das atividades mais praticadas nas comunidades estudadas. As comunidades realizam a extração do caranguejo-uçá (Ucides cordatus), espécie comum na área do salgado Paraense. Além do comércio do caranguejo vivo, o beneficiamento de sua carne também representa fonte de renda para uma parcela significativa dos moradores entrevistados. A manutenção desses grupos depende desta atividade. Foi relatada, por um tirador de caranguejo, a dependência com o mangue: "se eu precisar de algo para comer, é só ir ali no mangue”.
As comunidades estudadas, não possuem o costume de vender seus produtos, a comercialização só ocorre quando há excedente da produção, pois o principal objetivo dessas atividades está relacionado com a manutenção dessas populações.

  1. RESULTADOS

3.1. Análise socioespacial

Os mapas, de um modo geral, trazem graficamente muitas informações físicas e de outros aspectos. Para Almeida (1994) mapas tradicionais podem contribuir para os planejadores, pois, apontam os processos reais, o sistema de relações sociais que define a apropriação dos recursos da natureza, dos confrontos. Permitem ainda avaliar a representação espacial dos sujeitos sociais que tem morada habitual e produzem economicamente a região enfocada. De acordo com Sztutman (2006), a importância dos mapas é notória, seja para delimitar um território, indicar os recursos naturais existentes, traçar trilhas, caminhos, estrada, para saber a delimitação, o tamanho de uma área dentre outras. O autor classifica as utilidades de um mapeamento participativo em três grandes classes inter-relacionadas: gestão etnoambiental, educação e instrumento político. Os resultados apresentados a seguir refletem também o conhecimento tradicional sobre a espacialização dos principais recursos utilizados pelas comunidades estudadas.
Comunidade Laranjal
No mapa percebe-se a evidência dos saberes tradicionais e a espacialização das diversas atividades que esses sujeitos praticam. A população de Laranjal possui dinâmicas de cultivo nos roçados, nos quintais, têm criações de pequenos animais (principalmente galinha), praticam a pesca artesanal, principalmente ao longo do Rio Pirabas, igarapé Laranjal, igarapé Pariquis, igarapé de São José, igarapé Moça Grande, igarapé Cajueiro, igarapé Camaleão e igarapé Arrozal (Figura 2).
A pesca artesanal na comunidade é peculiar, visto que há participação das mulheres nesta prática. Fato este identificado na falado entrevistado: “aqui as mulheres tiram o dia para pescar, mas tem vezes que só dá para almoço”, referindo-se a prática cotidiana da pescaria, e que, nem sempre esta atividade é bem sucedida.  
A pesca utilizando espinhel está distribuída na margem esquerda do Rio Pirabas, mais próximo da comunidade. Esse apetrecho consiste em amarrar uma linha entre duas cordas e nela pendurar linhas com anzóis em sua extremidade. As cordas são sustentadas por bóias e chumbadas para ir ao fundo e podem conter até 500 anzóis.

A “tiração” do caranguejo-uçá (Ucidescordatus) está distribuída nos mangues dos igarapés Laranjal, Arrozal, Patauá e Moça Grande. A extração do siri (Callinectessp) ocorre nas margens do Rio Pirabas, em locais arenosos ou de praias. Os espaços dos roçados e da caça estão próximos da comunidade, onde há áreas de florestas secundárias. A extração do mexilhão (Mytilussp), atividade sazonal quando o molusco se fixa no substrato do fundo dos rios, sendo extraídos manualmente. Essa atividade praticada nos igarapés Camaleão e Pariquis e perto da “Laje Ribeiro”.
Comunidade de Caraxió
A comunidade de Caraxió está localizada na porção oeste de São João de Pirabas, e mais próxima de Salinópolis. Os locais da pesca espinhel desses sujeitos estão próximos do mar, na bacia do rio Urindeua (Figura 3). A pescaria com espinhel é realizada em alto-mar nessa comunidade e pode durar de um a sete dias, e quando realizada em alto-mar a quantidade de anzóis pode chegar a 2.000 perdurados na linha do espinhel. A comunidade ao relatar a importância da pesca, destacaram a comercialização. Afirmaram que esta é realizada na própria comunidade e com os moradores, e para alguns marreteiros que levam o peixe para serem vendidos no município de Primavera, na sede do município de Pirabas ou em estradas e outras comunidades. A prática da “tiração” de caranguejo, coletado eventualmente o ano todo, percorre as áreas de mangue do rio Urindeua, principalmente nos mangues situados na margem direita deste.

A pescaria com espinhel é realizada em alto-mar nessa comunidade e pode durar de um a sete dias, e quando realizada em alto-mar a quantidade de anzóis pode chegar a 2.000 perdurados na linha do espinhel. A comunidade, ao relatar a importância da pesca, destacaram a comercialização. Afirmaram ainda, que esta é realizada na própria comunidade e com os moradores, e para alguns marreteiros que levam o peixe para serem vendidos no município de Primavera, na sede do município de Pirabas ou em estradas e outras comunidades. A prática da “tiração” de caranguejo, coletado eventualmente o ano todo, percorre as áreas de mangue do rio Urindeua, principalmente nos mangues situados na margem direita deste.
A extração de ostra (Crassostreasp) é realizada na região da proximidade da divisão territorial dos municípios de São João de Pirabas e Salinópolis, na área de influência dos Igarapés Ararijó e Arapiranga. Estas sendo extraídas de forma manual no período do verão. A caça e a roça são praticadas mais próximas das áreas da comunidade. A extração mexilhão (Mytellasp) é mais desenvolvida na margem esquerda do rio Urindeua, sendo que estes podem ser comercializados nas conchas (sujos) ou somente a massa (pré-cozidos). É dos mangues do rio Urindeua que extraem o turu (Toledo sp), o molusco, que segundo os moradores, ocorre no verão, é comercializado e utilizado para consumo.
Comunidade de São Bento
A espacialização dessas atividades na comunidade de São Bento está concentrada entre o rio Maracanã e o rio Urindeua (Figura 4).
Essa comunidade prática a “tiração” de caranguejo-uçá (Ucidescordatus)nos mangues localizados na curva do rio Maracanã, nos igarapés Preá, Suá, Bonfim e nos rios São Bento e Rapozão, sendo uma atividade produtiva considerada como principal pelos extrativistas. Nessas localidades a tiração de caranguejo-uçá é realizada em grupos de trabalho e a saída para o mangue é chamada de "caminhada". Estas ocorrem em função das marés. Nas águas mortas (marés mais baixas) trabalham de segunda a sexta feiras e nas marés grandes de segunda as quartas feiras.
A pesca artesanal varia de acordo com a sazonalidade e disponibilidade das espécies, pois existe a necessidade de a atividade ser desenvolvida ao longo do ano todo, os sujeitos da comunidade realizam a pesca de rede. Para a pesca de rabadela, os pescadores utilizam 3 anzóis, que ficam presos em uma corda ou fio de pesca, cujo comprimento varia conforme a profundidade e a força da corrente
A extração de ostras (Crassostreasp) está localizada na foz do rio São Bento e Urindeua. Durante a atividade de mapeamento os moradores relataram a existência de conflitos entre outros pescadores que vivem na Resex de Maracanã, segundo eles estão proibidos de irem pescar na área dessa unidade de conservação, mas os pescadores de lá invadem suas áreas.

A extração de ostras (Crassostreasp) está localizada na foz do rio São Bento e Urindeua. Durante a atividade de mapeamento os moradores relataram a existência de conflitos entre outros pescadores que vivem na Resex de Maracanã, segundo eles estão proibidos de irem pescar na área dessa unidade de conservação, mas os pescadores de lá invadem suas áreas.
Comunidade Derrubada
A comunidade Derrubada localizada as margens do rio Maracanã, tem como principais atividades produtivas a pesca e o extrativismo (Figura 5). As atividades estão concentradas ao redor da comunidade. Esses moradores praticam a pesca utilizando os currais, sendo esses uma armadilha fixa, composta por duas fileiras de varas formando o que localmente é chamado de “espia” que serve para "guiar" o deslocamento dos peixes na água.

Usa-se o curral "de beira" e o "curral de enfia" ou "enfiador", sendo o curral de enfia o mais utilizado nesta comunidade. Os locais de currais são especializados as ao longo do rio Maracanã, sobretudo nas croas formadas quando da baixa da maré. A “tiração” de caranguejo-uçá, ocorre nos mangues próximos da comunidade, no igarapé Tapari. A pesca de camarão é desenvolvida nas margens do rio Maracanã, e também na área da ilha grande, segundo os entrevistados é o segundo marisco mais consumido e comercializado em Salinópolis. É capturado com rede malhadeira, tarrafa e puçá, nos rios e no mar. Pode ser comercializado fresco e salgado, o preço varia de acordo com o tamanho e a época da safra e é vendido nas comunidades e na sede de Salinópolis.
A comunidade está ligada nas suas relações com o município vizinho, Maracanã, porque eles dizem que “são abandonados pela prefeitura de Salinópolis”. Porém há algumas restrições com o uso dos recursos quando ultrapassam a área da Resex de maracanã. Extraem ainda palha e frutos de palmeiras em região próxima a comunidade, mas especificamente na floresta secundária, onde há abundancia dessas.
Concordando com Moraes (2011), em que o autor aborda os conhecimentos tradicionais materializados nas relações socioespaciais; onde as atividades produtivas, refletem sua origem por meio das transmissões orais, aprendidas de gerações a gerações. Cabe destacar que estes grupos sociais em sua produção de conhecimento, estão inseridos em uma perspectiva mais holística e livre de categorizações científicas, pois têm origem da própria interpretação de mundo dessas populações.
Nos estudos de Cordovil et al (2014) e Brito et al (2015) realizados nos municípios de São João de Pirabas e Salinópolis, os autores destacam as práticas produtivas da pesca artesanal e da "tiração" de caranguejo-uçá como importantes para obtenção de alimentos, ocupação de mão-de-obra familiar e renda.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A importância da criação de Reserva Extrativista Marinha nos territórios estudados está presente nas afirmações dos moradores. Estes se mostraram favoráveis a implantação destas Unidades de Conservação com a perspectiva de proteger os bens naturais para sua manutenção. No município de São João de Pirabas 85% dos entrevistados se posicionaram favoráveis à criação da reserva, e em Salinópolis 74% dos entrevistados se posicionaram positivamente.
Considerando que as Unidades de Conservação de uso sustentável são ferramentas para garantem a existência dessas populações, como apresentado no Inciso XIII do Art. 4° e o inciso X do Art. 5° do SNUC (2011), cabe ao poder público a manutenção do acesso e proteção dos recursos naturais pelas populações tradicionais. Ás populações beneficiárias desses novos territórios a serem criados terão o papel de gerenciar de forma coletiva e participativa nos processos de gestão dessa nova territorialidade.
Os resultados demonstram que há organização espacial nas comunidades estudadas. Embora não haja divisão marcante nas áreas de uso, pode-se afirmar que há um reconhecimento singular quanto aos limites dos aqui considerados objetos. Evidencia-se ainda, o conhecimento tradicional dos moradores ao ultrapassarem barreiras na identificação dos objetos e dos recursos neles encontrados.
Os mapas de uso elaborados contribuíram ainda para a determinação de territórios a serem protegidos legalmente, com a criação da unidade de conservação de uso sustentável. No contexto da gestão territorial, especificamente para a criação da Reserva Extrativista os moradores sentem-se partícipes do processo de interação entre seu território e os recursos naturais apontados no mapeamento.
As diversas espacializações das atividades praticadas no cotidiano como o cultivo, o manejo dos pequenos animais e confecção dos apetrechos para as práticas sociais revelou os saberes desses moradores.

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*Graduando em Licenciatura em Geografia pela Universidade do Estado do Pará. Bolsista PIBIC do Museu Paraense Emílio Goeldi.
** Mestre em Ciências Ambientais pela Universidade Federal do Pará. Engenheiro Florestal do Instituto de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia-INDESAM.
*** Doutora em Desenvolvimento Sustentável pela UNB. Atualmente é pesquisadora do Museu Paraense Emílio Goeldi.

Recibido: 30/01/2018 Aceptado: 31/01/2018 Publicado: Enero de 2018



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