Revista: CCCSS Contribuciones a las Ciencias Sociales
ISSN: 1988-7833


O SURGIMENTO DA INDUSTRIALIZAÇÃO TÊXTIL NA REGIÃO SUL DO BRASIL: UMA ANÁLISE HISTÓRICA DESCRITIVA

Autores e infomación del artículo

Débora Volpato*

Luiz Filipe Mattos Pereira**

Adriana de Carvalho Pinto Vieira ***

Julio Cesar Zilli ****

UNESC, Brasil

deboravolpato@gmail.com

RESUMO
O objetivo deste artigo foi realizar uma análise histórica descritiva do setor têxtil e sua evolução, com enfoque na região sul de Santa Catarina. A pesquisa descreveu a gênese da industrialização brasileira e catarinense; a formação da indústria e do setor têxtil no Brasil e em Santa Catarina; identificação da influência da industrialização no setor têxtil no desenvolvimento regional e uma análise do setor atualmente. Quanto aos procedimentos, a metodologia utilizada baseou-se principalmente em revisão da literatura sobre a história do setor têxtil, partindo do princípio que este setor é como um divisor a nível mundial, pois teve seu surgimento na Revolução Industrial, berço da inovação, bem como do trabalho precário e das lutas de classes por melhores condições de trabalho. Como critérios metodológicos a pesquisa se caracterizou como histórica, com recortes a nível de Brasil, Santa Catarina e Sul de Santa Catarina. Por fim, concluiu-se que a formação da indústria na Revolução Industrial, no Brasil, em Santa Catarina e na região sul do Estado, possui características que as une pelo setor têxtil. Este setor foi e é ainda importante para o desenvolvimento da economia e da sociedade como um todo no contexto em que ela está inserida. Concluiu-se que o setor têxtil e de confecção foram antecessores das atividades industriais em diversos contextos. E ainda nos dias atuais, todo o setor se mostra em constantes adaptações ao meio em que está inserido continuando assim seu principal papel, que é fazer parte do processo social e econômico de cada região.
Palavras-chave: Setor Têxtil - Revolução Industrial - Desenvolvimento Regional - Santa Catarina.

EL SURGIMIENTO DE LA INDUSTRIALIZACIÓN TEXTIL EN LA REGIÓN SUR DEL BRASIL: UN ANÁLISIS HISTÓRICO DESCRIPTIVO

El objetivo de este artículo fue realizar un análisis histórico descriptivo del sector textil y su evolución, con enfoque en la región sur de Santa Catarina. La investigación describió la génesis de la industrialización brasileña y catarinense; la formación de la industria y del sector textil en Brasil y en Santa Catarina; identificación de la influencia de la industrialización en el sector textil en el desarrollo regional y un análisis del sector actualmente. En cuanto a los procedimientos, la metodología utilizada se basó principalmente en la revisión de la literatura sobre la historia del sector textil, partiendo del principio que este sector es como un divisor a nivel mundial, pues tuvo su surgimiento en la Revolución Industrial, cuna de la innovación, así como del trabajo precario y de las luchas de clases por mejores condiciones de trabajo. Como criterios metodológicos la investigación se caracterizó como histórica, con recortes a nivel de Brasil, Santa Catarina y Sur de Santa Catarina. Por último, se concluyó que la formación de la industria en la Revolución Industrial, en Brasil, en Santa Catarina y en la región sur del Estado, posee características que las une por el sector textil. Este sector ha sido y sigue siendo importante para el desarrollo de la economía y la sociedad como un todo en el contexto en que está inserta. Se concluyó que el sector textil y de confección fueron antecesores de las actividades industriales en diversos contextos. Y aún en los días actuales, todo el sector se muestra en constantes adaptaciones al medio en que está inserto continuando así su principal papel, que es formar parte del proceso social y económico de cada región.
Palabras clave: Sector Textil - Revolución Industrial - Desarrollo Regional - Santa Catarina.

THE APPEARANCE OF TEXTILE INDUSTRIALIZATION IN SOUTHERN BRAZIL: A DESCRITIVE HISTORICAL ANALYSIS

ABSTRACT
The objective of this article was to conduct a descriptive historical analysis of the textile sector and its evolution, focusing on the southern region of Santa Catarina. The research described the genesis of Brazilian and Santa Catarina industrialization; the formation of industry and the textile sector in Brazil and Santa Catarina; identification of the influence of industrialization in the textile sector on regional development and an analysis of the sector today. As for the procedures, the methodology used was mainly based on a review of the literature on the history of the textile sector, assuming that this sector is a divisor in the world, as it had its origin in the Industrial Revolution, the cradle of innovation, as well as precarious work and class struggles for better working conditions. As methodological criteria the research was characterized as historical, with cuts in Brazil, Santa Catarina and Southern Santa Catarina. Finally, it was concluded that the formation of industry in the Industrial Revolution, in Brazil, in Santa Catarina and in the southern region of the State, has characteristics that unite them by the textile sector. This sector was and still is important for the development of the economy and society as a whole in the context in which it is inserted. It was concluded that the textile and clothing sector were predecessors of industrial activities in various contexts. And still today, the whole sector shows itself in constant adaptations to the environment in which it is inserted, thus continuing its main role, which is to be part of the social and economic process of each region.
Keywords: Textile Sector - Industrial Revolution - Regional Development - Santa Catarina.

 


Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Débora Volpato, Luiz Filipe Mattos Pereira, Adriana de Carvalho Pinto Vieira y Julio Cesar Zilli (2017): “O surgimento da industrialização têxtil na região sul do Brasil: uma análise histórica descritiva”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, (octubre-diciembre 2017). En línea:
http://www.eumed.net/rev/cccss/2017/04/industrializacao-textil.html

http://hdl.handle.net/20.500.11763/cccss1704industrializacao-textil


1 INTRODUÇÃO

A indústria têxtil surgiu na Primeira Revolução Industrial, durante a fase de capitalismo concorrencial na Inglaterra, entre os séculos XVIII e XIX. As primeiras formas industriais do setor têxtil surgiram a partir dos teares mecânicos, em uma época em que surgiram também as máquinas a vapor e o uso de ferro e do carvão como elementos principais (TIGRE, 2014).
Para que essa indústria pudesse se expandir pelo mundo, e chegar ao Brasil, cabe destacar que diferente dos setores considerados pesados, a produção exigia conhecimento técnico, permitindo dessa forma a cópia por outras empresas, sem altos recursos financeiros ou alto comando. O indivíduo que trabalhou em uma tecelagem inglesa, e depois atravessou o atlântico, pode simplesmente repassar os seus conhecimentos técnicos e industriais e assim formar um sistema fabril de uma forma completa. Por isso a forte relação existente entre os imigrantes e o desenvolvimento da indústria têxtil no Brasil (TIGRE, 2014).      
Em Santa Catarina, tal situação ficou muito evidente, haja vista que a industrialização começou antes, no setor têxtil, no Vale do Itajaí, ainda no século XIX (GOULARTI FILHO, 2016). Cano (1990) complementa que a origem do setor têxtil em Santa Catarina está ligada à vinda de imigrantes que trouxeram consigo habilidades técnicas e capitais.
Diante deste contexto, a questão central da pesquisa foi a realização de uma análise histórica da formação do processo de industrialização e da formação do setor têxtil e do vestuário no Brasil e em Santa Catarina e do início e seus possíveis reflexos no desenvolvimento do Sul de Santa Catarina, bem como uma análise do setor atual.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A interdisciplinaridade surgiu da interação entre duas ou mais disciplinas, como resposta às limitações existentes no caráter disciplinar. Diante desta conjuntura, pode-se identificar que a interdisciplinaridade não vem de fora, mas sim da necessidade de compreender as limitações de cada disciplina e dos desafios que precisam estar sempre sendo superados para entender as adversidades do que ocorre atualmente (PHILIPPI JUNIOR; SILVA NETO, 2011). Por isso é importante ressaltar que a pesquisa identificou-se como interdisciplinar no sentido de conhecer historicamente a necessidade de unir o desenvolvimento econômico e social como influenciador do desenvolvimento de uma região.
A pesquisa possuiu como objetivos descrever a gênese da industrialização brasileira e catarinense; a formação da indústria e do setor têxtil no Brasil e em Santa Catarina; e identificação da influência da industrialização no setor têxtil no desenvolvimento regional na região de Criciúma no Sul de Santa Catarina.
Quanto aos procedimentos, foi realizado um estudo histórico, com o intuito de identificar a formação do processo de industrialização têxtil-confecção nos diversos âmbitos.

 

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3,1 A gênese da industrialização no Brasil e em Santa Catarina
           
Ao se conceber o processo de industrialização, fica evidente a necessidade de comentar sobre a formação da indústria no âmbito global. Nesse caso, a Revolução Industrial é um marco histórico, quando se diz respeito a economia mundial. Pois a partir desse marco histórico, houve um grande e contínuo processo de aceleração de todo o progresso técnico, desenvolvido com a finalidade do aumento da produção. Também houve um crescimento econômico significativo em várias regiões e localidades distintas em todo o mundo, mesmo que de uma forma irregular e inconstante. A partir da Revolução Industrial, também se iniciou um novo processo denominado de globalização. Com isso, fica mais evidente, complexa e maior a divisão do trabalho, gerando também uma acentuada interdependência dos diversos setores da sociedade (HOBSBAWN, 1995).        
A Primeira Revolução Industrial foi impulsionada pelo setor têxtil nos séculos XVIII e XIX, na Inglaterra. Neste âmbito, acabou auxiliando posteriormente a industrialização de muitos países, decorrente da utilização de grande quantidade de mão de obra no setor de produção. No Brasil, apesar da industrialização tardia, com maior ênfase na década de 1950, a indústria têxtil também contribuiu para esse processo. A evolução do setor ocorreu em regiões e períodos diferentes já antes da década de 1950 (TIGRE, 2014).
Apesar de a indústria têxtil ser a percussora efetiva da Revolução Industrial, trazendo significativos progressos técnicos à produção, tal fato fez com que houvesse um desenvolvimento degenerativo. Toda a evolução e o progresso eram pautados em uma única abordagem, a que preza pelos fatores econômicos. Dessa forma, tal ideia de crescimento não tinha um viés construtivo, abarcando o desenvolvimento da sociedade como um todo, mas sim os fatores e valores sociais eram completamente esquecidos em detrimento unicamente da geração de riquezas e do progresso econômico (POLANYI, 2000).
Com isso, houve de certa forma uma abordagem equivocada do que acontecera na Revolução Industrial. Pois a partir dessa conjuntura, em que a única preocupação era os fatores econômicos, é que se julga de uma forma errônea os eventos de origem social.  As condições dos trabalhadores eram precárias, as pessoas viviam no seu dia-a-dia em condições consideradas sub-humanas, situação essa bem comum e recorrente na época. A partir disso, se criou uma questão muito pertinente. Como se pode pensar na existência de um progresso no viés econômico para as pessoas, se por um outro lado, os proletários e suas péssimas condições de vida, devido a tantos fatores, representavam uma situação de quase calamidade social (POLANYI, 2000).   
No âmbito deste marco histórico, havia dois lados: a classe do empresariado, com a preocupação restrita à produtividade alta e produção em massa; do outro lado o proletariado, esquecido no chão das fábricas em condições precárias. Em outros países da Europa (França, Holanda, Itália e Alemanha), as condições dos trabalhadores acabaram tornando-se superiores às da Inglaterra, devido às reivindicações ocorridas na Revolução Industrial (CYSNE, 2013).
Dessa forma, a Revolução Industrial deixou marcas significativas nos anos e séculos subsequentes. Ainda no século XX, tem-se como uma marca do legado da RI, o trabalho ainda em condições precárias. Para o trabalhador proletário sua jornada de vida era a busca pelas mínimas condições de trabalho, o chamado “trabalho decente”. Esse local de trabalho seria aquele que concede ao funcionário estabilidade para o desenvolvimento de um trabalho digno e os benefícios. Porém, infelizmente a estabilidade ainda não foi alcançada, ou seja, não existe qualquer forma de estabilidade ao proletário, causando assim uma enorme e total falta de segurança para o empregado (STANDING, 2014). 
Para o estabelecimento da indústria em qualquer localidade, se faz necessário o investimento de um capital financeiro nessa atividade. Dessa forma, entende-se a percepção de que o uso do capital serve como mola propulsora do processo de industrialização de um país. Historicamente existe certa discussão sobre a origem do capital fabril no Brasil. Tal discussão se pauta no fato histórico notório em que enquadra o surgimento da indústria em detrimento da produção cafeeira (FUJITA; JORENTE, 2015).
O patrocínio cafeeiro realmente pode ter sido o gerador da economia voltada ao sistema fabril, porém a generalização de tal pensamento poder ser equivocada. Isso porque é necessário incluir nessa abordagem o papel desempenhado pelos importadores. Sendo que colocar todas as regiões do país na mesma análise pode trazer uma resposta coerente com os fatos (FUJITA; JORENTE, 2015).
Não se pode esquecer, que além da ligação entre café e indústria, houve mais tarde, uma política de financiamento feita pelo governo, durante os primeiros anos da República. Mesmo sendo na época do encilhamento, o financiamento serviu de amparo para o fortalecimento e surgimento das indústrias. Ou seja, o dinheiro permitiu a mudança de capital do café para o setor nascente até então da manufatura (FUJITA; JORENTE, 2015).
Com reflexos da extensa produção cafeeira, a falta de crescimento financeiro em longo prazo, juntamente, com as crises comerciais com relação à exportação, fez com que o capital do café tivesse uma destinação voltada para a nascente indústria. Assim, cabe destacar o surgimento entre os anos de 1850-1885 das fábricas mais antigas do país nas então províncias da Bahia, Pernambuco, Minhas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo (CANO, 1990).
Outro ponto importante, com relação aos centros econômicos ditos tradicionais do Brasil, foi a presença de produtores de matéria prima para exportação. Com isso se estabeleceu um grande mercado de trabalhadores rurais que estavam carregados dessa produção. Sem contar que tal fato auxiliou no desenvolvimento de outros setores de produção, como o setor secundário e o terciário, também crescente devido as constantes atividades urbanas surgidas em detrimento das atividades de matéria prima (HERING, 1987).
Dessa forma, a existente tese que apenas as regiões centrais do país tenham desenvolvido a industrialização em virtude do café, não contempla o estabelecimento em todo o território nacional, em que pequenos estabelecimentos com funções industriais desenvolveram suas atividades com capitais menores, devido à necessidade de substituir a produção local, não as importações (BOSSLE, 1988).
Mesmo com esse quadro, existia uma escassez significativa de capital para o investimento nas fábricas. Havia muita dificuldade com relação ao maquinário e a prática inexistência de mão de obra especializada no trabalho mecânico. Empresas chegavam a ter slogans enfatizando os problemas e as adversidades, característica bem comum das iniciativas industriais que tentavam manter-se presentes naquela época (CYSNE, 2013).
Tal situação só foi passível de mudança com a modificação da política econômica do Brasil, que só ocorreu a partir de 1930, com o incentivo e apoio a indústria nacional, quando houve a suspensão de tarifas para importação de maquinários, estimulando as tecelagens e fiações de algodão (FUJITA; JORENTE, 2015).
Qualquer ajuda ou incentivo, que ocorreu antes desse período, poderia se enquadrar como um pequeno apoio ou apoio vacilante, mais direcionado para um determinado tipo de indústria, não para todo o setor industrial em si (FUJITA; JORENTE, 2015).
Diante dos pressupostos citados, é possível perceber a forte influência política exercida nos grandes centros do Brasil. Além desse favorecimento pelo governo central, a cultura da produção cafeeira deixou um legado significativo com relação a infraestrutura dos transportes, facilitando o escoamento da produção fabril para os mercados e para o transporte de maquinários que seriam utilizados nessas indústrias, mesmo as que estavam situadas no interior das províncias (FUJITA; JORENTE, 2015).
Deste modo, fica evidente que no modelo brasileiro de industrialização, de forma geral, o que se destaca como aspecto significativo, é que por meio do mercado nacional, que até então era abastecido por importações, foi desencadeado a necessidade pela produção interna proporcionada pela industrialização e pelo aumento significativo do capital oriundo das lavouras de exportação (HERING, 1987).
A partir disso, pode se pautar o desenvolvimento das indústrias de forma mais específica com relação à região e o contexto em que a mesma se desenvolveu. Dando uma maior ênfase a gênese da indústria em Santa Catarina.
Ao se pensar em Santa Catarina, pode se perceber que não existe ligação entre a produção cafeeira e o processo de inicialização das indústrias. Possivelmente, o capital destinado ao setor industrial tem origem na expansão dos colonos que imigraram para o estado e que tiveram um investimento significativo no setor de produção agropecuário (CUNHA, 1992).
Até então, o capital dos catarinenses estaria voltado para o comércio de importação e exportação de produtos e recursos. Havia na verdade, entre os colonos que habitavam o estado, uma forma de permuta ou “escambo”. Os imigrantes investiam seus esforços na produção de produtos considerados agrícolas e em troca, recebiam produtos que eram manufaturados provenientes de outros países (SODRÉ, 1990).
Existiam assim várias funções e personagens dentro dessa relação comercial, como o comerciante, que importava e exportava produtos, o vendeiro que intermediava a negociação e o colono que trocava o produto de origem rural pelo produto industrializado. Mais tarde o próprio vendeiro estabelecia o seu próprio comércio para outras regiões. Surgiram então nesse processo as Casas Comerciais, importantes nessa relação permitindo aos colonos que pudessem adquirir produtos conforme sua necessidade e que mais tarde ajudou na realização do surgimento de um capital que seria destinado a formação da industrialização (BOSSLE, 1988).
Não se pode separar completamente a análise do setor industrial de Santa Catarina dos demais estados do Brasil. Afinal, as condições de promoção do desenvolvimento da indústria brasileira também tiveram reflexos no estado, como as tarifas protecionistas estipuladas pelo governo do País, que foram medidas importantes para o estabelecimento das primeiras indústrias do estado (CUNHA, 1992).
A reforma tarifária além do seu objetivo inicial, que era o aumento da receita do Governo, de uma forma indireta, serviu como um investimento estimulante para a nascente indústria catarinense. Isso fica evidente, quando se percebe que a maior intensificação de investimentos na área de indústrias ocorreu no mesmo período em que foram realizadas as políticas no setor tarifário principalmente entre os anos de 1885 e 1895(BOSSLE, 1988).
Outra condição estabelecida na época foi o câmbio favorável para a importação. Dessa forma, o capital do estado poderia ser usado, para que fosse possível a compra de máquinas vindas de outros países. Sem esses maquinários, pensar o desenvolvimento industrial em Santa Catarina seria inviável (SODRÉ, 1990).
O câmbio desvalorizado produziu efeitos, que de certa forma, se caracterizam por serem investimentos, haja vista que aumenta a possibilidade de compra de matéria-prima e de equipamentos utilizados na indústria. Por outro viés, o efeito do câmbio trouxe a tona o aumento do valor de produtos importados. Dessa forma, se viu a necessidade de valorização do mercado interno, na busca de melhores preços (CUNHA, 1992).
Consequentemente, tal fato, não deixou de ser um incentivo para que a industrialização nacional pudesse aumentar a produção, para haver a satisfação desse mercado interno. Portanto, os períodos de mudanças e oscilações com relação ao câmbio, também foram fatores que podem determinar a atuação prática, tanto em investimentos quanto em produção, de empresários no ramo industrial (HERING, 1987).    
Dessa forma, o desenvolvimento da indústria catarinense passou por políticas governamentais, e aos empresários eram destinadas algumas garantias concedidas pelo governo da província com o intuito de desenvolver a área industrial (HERING, 1987). A soma de todas essas condições fez com que os recursos que até então seriam destinados na compra de produtos e recursos de outros locais, fosse investida internamente para que pudesse haver uma ampliação e formação do capital destinado a indústria (BOSSLE, 1988).
Ao se analisar dessa forma, é importante destacar que o capital industrial de Santa Catarina não teve relação com a indústria do café, como ocorrera em algumas regiões do país. É preciso mencionar que, ao longo do processo do uso de recursos financeiros das transações comercias no estado, surgiram cada vez mais imigrantes alemães e italianos, que emigraram do Rio Grande do sul, para as terras catarinenses trazendo além de experiências industriais europeias, mais recursos que iriam formar toda a base do capital industrial do estado (BOSSLE, 1988).
Tal análise corrobora com alguns estudos apresentados, que abordam a questão de que as indústrias catarinenses tenham iniciado seus trabalhos, em virtude da importante intervenção e participação dos imigrantes, principalmente os de origem alemã. Pois a partir destes é que se percebeu a formação do pioneirismo do empresariado catarinense (BOSSLE, 1988).
Com esse estudo pode-se perceber algumas características comportamentais do setor industrial catarinense a partis dos anos de 1880, como por exemplo Santa Catarina durante o período descrito acompanhou o crescimento industrial a nível nacional, tendo uma fatia de 6,5% do total de estabelecimentos industriais. Nos anos subsequentes de 1900-1909 e 1910-1914 houve uma média de crescimento no número de estabelecimentos de 50% em cada um dos períodos (LINS, 2000).
Esse crescimento industrial pode ter ocorrido em virtude de uma nascente preocupação que surgira em todo o País, a partir do ano de 1903, que foi a criação de infraestrutura adequada para a industrialização, reflexo da política governamental desenvolvimentista do Brasil. As principais mudanças foram nos meios de transportes, como por exemplo, a construção de diversos portos espalhados em várias regiões, a ampliação e construção de ferrovias e obras no processo de urbanização de algumas cidades. Pode se destacar que em Santa Catarina foram construídas hidrelétricas e uma malha ferroviária (BOSSLE, 1988).
Em linhas gerais, ao se vislumbrar a economia nacional, as fábricas e indústrias catarinenses estão mais associadas a um sistema econômico de pequeno porte. Muito diferente do sistema das grandes propriedades monoculturais e de exportação que são referência na maior parte do país. Com isso, apontam-se algumas dificuldades como a falta de matéria prima e a falta de infraestrutura para o desenvolvimento da produção impossibilitando contato dessas fábricas com outros centros econômicos do país (GOULARTI FILHO, 1995).
Além disso, a falta de incentivo do governo, as grandes barreiras alfandegárias e de importação das máquinas eram também fatores impeditivos do desenvolvimento da industrialização. Contudo, na contrapartida desses fatores, existem as características estimulantes desse setor, como a mão de obra e o mercado consumidor local (HERING, 1987).
Além de tudo isso, os imigrantes trouxeram além de suas culturas e modo de vida de outras localidades, a formatação para que houvesse em Santa Catarina o surgimento das primeiras fábricas, iniciando então todo o processo de industrialização do Estado.

3,2 A gênese da Industrialização têxtil no Brasil e em Santa Catarina
       
As várias indústrias, nos diversos setores, mantém certa relação entre si. Na produção têxtil, por exemplo, existe uma interatividade com atividades como as agropecuárias, metal mecânico e químico, haja vista a necessidade de adquirir os insumos e a modernização  necessárias para o desenvolvimento produtivo. Dessa forma, a produção têxtil e de vestuário trazem consigo uma enorme relação com outros setores, interagindo de forma significativa e se inserindo em diversos complexos industriais (LINS, 2000).
Com relação a cadeia produtiva têxtil e de confecção abrange desde o produto acabado, confeccionado, distribuído e comercializado até a produção das fibras têxteis. A produção do vestuário se origina por meio das matérias primas têxteis (fibras naturais; filamentos artificiais; filamentos sintéticos); posteriormente tem-se a fiação; tecelagem e malharia; beneficiamento e a indústria de confecção, que pode ser dividida em vestuário, linha lar e técnicos.  Após o produto finalizado, o mesmo é transportado e armazenado para ser comercializado em comércios varejista ou atacadista (BEZERRA, 2014).
Como pôde ser visto anteriormente, o desenvolvimento da indústria começou surgir em várias regiões do país, sob o mesmo contexto. No Brasil, A Bahia foi o primeiro estado a tornar-se um polo têxtil devido a matéria prima em abundância e a mão de obra escrava. Posteriormente, as fábricas se concentraram nas regiões de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, e por último houve o surgimento deste setor no sul do país e consequentemente em Santa Catarina (FUJITA; JORENTE, 2015).
O mercado é um grande fator que vincula a produção industrial. No caso da Bahia, a presença de produtores de outros produtos como a cana-de-açúcar, um comércio elaborado e por ser uma sede administrativa, era o suficiente para que houvesse a presença de capital oriundo tanto do mercado interno quando de capital estrangeiro. O mesmo teve efeito na região centro-sul (Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro), que na década de 1880 contava com a grande maioria das fábricas têxteis do país, em virtude do crescimento político e econômico da capital do império a partir da década de 1850 (LINS, 2000).
Como descrito anteriormente, além do mercado e da influência política, havia nessa região do centro do país a presença significativa da matéria-prima, nesse caso, o algodão. Os algodoeiros eram produzidos também nesses grandes centros, ocorrendo mais tarde um barateamento do custo da produção, haja vista que a Guerra Civil Norte Americana trouxe reflexos inclusive no Brasil (BOSSLE, 1988).
O Brasil atualmente é o quinto maior produtor têxtil do mundo, com o quarto maior parque produtivo de confecção mundial. A indústria têxtil no Brasil surgiu há duzentos anos (ABIT, 2015).
Ao se analisar especificamente Santa Catarina, não havia nenhum tipo de tradição econômica em que dava destaque para o estado diante dos outros estados e ao que se indicava, o processo de industrialização não tinha muitas chances de ocorrer no estado, devido a situação catarinense ser bem distinta. Inclusive, o presidente da província não buscava iniciar a industrialização, haja vista, que a localidade tinha uma dedicação maior à agricultura (HERING, 1987).
Em Santa Catarina, a gênese da industrialização aconteceu por volta da década de 1880. Tal período é caracterizado por ser de uma política econômica bem favorável no país inteiro, principalmente para o investimento no setor industrial. Isso justifica o fato de que a participação do mercado cafeeiro não teve influência na instalação da produção industrial catarinense. Haja vista que a política do Encilhamento, que é marcada como ponto de investimento de capital industrial na região central do país, ocorrera em período futuro (BOSSLE, 1988).
Dessa forma, como já fora exposto, a região catarinense apesar da existência de uma exploração e comercialização agrícola, não foi a responsável direta pela industrialização, mas sim a existência de um comércio local bem ativo. Mesmo que esse comércio estivesse situado no meio rural, o principal capital industrial catarinense surgiu das poupanças e dos investidores catarinenses que buscavam uma nova forma de investimento, a julgar que o sistema de exploração rural estava prestes a se esgotar (HERING, 1987).
Nesse contexto, houve um desenvolvimento do setor têxtil, principalmente por ser uma indústria altamente flexível, que se adaptou facilmente aos processos produtivos em conformidade com o tipo de produto a ser construído, de acordo com a moda vigente no período. Cabe salientar também que a produção têxtil é bem segmentada, com diversas funções para apenas uma peça de produto. Contudo, o aprendizado de cada função se dá de forma muito rápida, em poucas horas o trabalhador já tem as mesmas condições de que um trabalhador de alguns anos de experiência (GOULARTI FILHO 1995).
Ao se pensar dessa forma, partindo do pressuposto que em cada região existem características peculiares, a gênese do processo de inicialização da indústria catarinense se deu principalmente em virtude das comunidades alemãs e de suas enormes dificuldades e excessivos problemas quando dos primeiros estabelecimentos fabris. Ficou assim evidente que todas as características que são tiradas desse contexto possuem forte relação com as diversas faces, mentalidade e estilo de vida dos povos do local (HERING, 1987).
Os primeiros centros industriais do estado tem forte relação com os núcleos coloniais. Com isso, se percebe a importância do mercado interno que exportava e importava produtos e recursos, movimentando assim, certa economia interna, principalmente nas cidades de Blumenau e Brusque. Essas colônias eram fundamentais no desenvolvimento econômico da região, principalmente no que diz respeito à exportação para outras regiões, mas não de produtos coloniais. O principal produto que era comercializado era a mandioca (GOULARTI FILHO, 2016).
As atividades têxtil-vestuário de Santa Catarina são mescladas com a história da industrialização catarinense, haja visto que as iniciativas de artesãos alemães datados do final do século XIX estão tanto entre os episódios dos movimentos de produção têxtil em escala quanto a industrialização de Santa Catarina (LINS, 2000).
Os fundadores de tal empresa foram os irmãos Hermann e Bruno Hering. Eram imigrantes oriundos da Alemanha do norte, da região da Saxônia, que vieram para o Brasil no fim do século XIX (HERING, 1987).
Ao se pensar no papel e na figura dos fundadores das fábricas pioneiras do Estado, as situadas no vale do Itajaí, percebe-se que nessas indústrias o dinheiro que fora investido para que as mesmas pudessem iniciar a produção vieram da lavoura e do comércio. Como já citado anteriormente, esse tipo de investimento foi uma prática comum para o desenvolvimento industrial em Santa Catarina, incluindo o setor têxtil (HERING, 1987).
O fato de que esse empresariado de origem alemã, foi o precursor do desenvolvimento industrial se deve ao fato de que muitos desses imigrantes antes de chegarem ao Brasil, trabalhavam na Europa como artesãos, mantendo as técnicas e o contato com o maquinário que futuramente serviria como base para a indústria nascente em Santa Catarina (BOSSLE, 1988).
Na Europa, cidades como Vogtland Chemnitz e Leipizig, de certa forma, permitiam que camponeses pudessem obter acesso à propriedade. Porém, artesãos, pressionados pela indústria concorrente inglesa foram obrigados a se desalojarem. Nem mesmo a própria indústria alemã aceitava os artesãos como os produtores de confecções como meias e luvas. Dessa forma, o único destino para essas pessoas era a imigração, que resultaria na formação dos trabalhadores catarinenses (CUNHA, 1992).
Na década de 1920, a imigração de italianos e alemães trouxe experiência técnica e organizacional, além de operários especializados e pequenos empreendedores. Neste contexto, o setor têxtil passou por intenso crescimento, além do desenvolvimento técnico (CUNHA, 1992).
Entre as décadas de 1970 e 1990 houve o maior crescimento do setor do vestuário no sul de Santa Catarina. A indústria do setor originou-se de pequenas empresas, passando de dezesseis empresas registradas empregando cerca de novecentos funcionários em 1978. Já em meado de 1990 esse número aumentou para 450 empresas registradas com cerca de 7500 trabalhadores. Esse salto se deu a abundância de mão-de-obra feminina, permitindo ao setor destaque regional (LINS, 2000).
Ao identificar a industrialização como elemento fundamental do ponto de vista econômico e social de uma localidade, é preciso se compreender também o conceito do desenvolvimento. Tal termo pode ser empregado por meio de dois sentidos dicotômicos: o primeiro refere-se à acumulação do progresso das técnicas, que torna a produção mais rápida e eficaz, elevando a produtividade em meio à evolução de um sistema social; o segundo tem relação com o grau de satisfação das pessoas. Fala-se então da existência da imprecisão neste caso. Entende-se que o desenvolvimento de uma sociedade não pode ser isento de sua estrutura social (FURTADO, 1980).
Por isso, o desenvolvimento de uma região pode ser definido como um processo de várias dimensões. Tanto que, torna-se importante identificar e formular métodos para melhor desenvolvimento. O desenvolvimento regional envolve inovação, gestão social e políticas públicas para estimular e estruturar os agentes sociais. Sob esse aspecto, o desenvolvimento de uma região é o alicerce de uma sociedade mais igualitária para que haja melhor distribuição de recursos econômicos, culturais e naturais (OLIVEIRA, 2014).
Partindo desse pressuposto, pode-se analisar outras regiões, como o sul do estado de Santa Catarina. Com o surgimento da indústria, a região possuía pequenos e inexpressivos estabelecimentos industriais, usando de um pequeno e irrisório capital, considerado praticamente uma atividade artesanal, bem diferente das regiões de colonização alemã, como Joinville Blumenau e Brusque (BOSSLE, 1988).
O que fica evidente é que existe uma diferenciação na diversificação produtiva de várias regiões do estado. As regiões do Vale do Itajaí garantiram o desenvolvimento da indústria têxtil de uma forma bem significativa e marcante. Porém, em Criciúma, assim como outras regiões dependeu muito da produção primitiva de caráter mais extrativista, ou seja, a exploração do carvão mineral como produto principal.  Mesmo assim, tal fator não impediu que a economia Criciumense obtivesse uma diversificação em sua produção (GOULARTI FILHO, 2016).
Durante um longo período, a região Sul de Santa Catarina era reconhecida como a região do carvão, devido à produção do minério de carvão. A região também se destacou como um grande polo cerâmico brasileiro. Porém, no final dos anos 1960, houve o início da fabricação de peças de vestuário, que anteriormente vinham de São Paulo. As peças que começaram a ser fabricadas eram as utilizadas pelos trabalhadores nas indústrias de carvão e cerâmica (GOULARTI FILHO; JENOVEVA NETO, 1997). Essas primeiras confecções surgiram a partir de pequenos alfaiates e comerciantes de atacados, que por vezes passaram de meros revendedores para serem produtores de peças (JENOVEVA NETO, 1995).
Ao se pensar nos motivos que levaram ao surgimento e a expansão do setor têxtil de Criciúma, surgem vários indícios e indicativos que formulam melhor a construção de uma história desse setor. Por exemplo, quando surgiram as primeiras confecções, nos anos 1960, foi exatamente na mesma época do declínio da extração carbonífera, principal atividade econômica até então. Outro setor em crise no mesmo período foi o cerâmico, também forte polo da indústria da cidade. O ramo têxtil nesse caso foi uma alternativa de investimento e renda no município (JENOVEVA NETO, 1995).
Com relação à mão de obra, Criciúma possuía um grande apanhado de mão de obra feminina, que encontrava nas máquinas de costura uma forma de aumentar a renda familiar e aumentar o poder de compra do trabalhador. Outro fator importante foi a abertura e o desenvolvimento de lojas atacadistas e varejistas que poderiam ofertar produtos da própria região sem a necessidade de buscar a produção em outros locais (JENOVEVA NETO, 1995).
Já com relação ao produto, o setor têxtil tem a característica pela produção de diversos itens, não havendo a produção de um tipo só. As fábricas possuem tamanhos diversos, podendo ser de vários portes e quantidades de trabalhadores e maquinário. Dessa forma, toda a região causa uma diversificação na produção atendendo amplamente o mercado (JENOVEVA NETO, 1995).
Já nos anos 1980, houve um crescimento de 12% ao ano na indústria do vestuário na região sul. Uma das principais características foi a grande diversificação de mercados, tornando-se também um polo de vestuário com o decorrer dos anos. Este crescimento se deu, principalmente, por haver mão de obra feminina em abundância. Este cenário apresentado ocorreu devido ao fato de que os setores cerâmico e carbonífero somente empregavam em sua maioria mão de obra masculina. Um dos fatores que também trouxe a indústria do vestuário para o sul de Santa Catarina foi a moda do jeans e malharia nos anos 1960 e 1970. Muitos começaram a fabricar estes produtos, pois era um nicho de mercado diferenciado e quase não havia concorrência. Isso acabou trazendo desenvolvimento para a região (GOULARTI FILHO, 2016).
Dessa forma, a região sul do estado, apesar de ter a gênese empresarial diferente das demais regiões, conseguiu estabelecer a indústria do vestuário como um forte fator no desenvolvimento regional. Sendo então, capaz de alavancar o desenvolvimento social e econômico de Santa Catarina.

3,3 Análise do setor atualmente

Em busca do desenvolvimento de uma empresa, vários fatores são levados em consideração para que esta empresa possa atingir os objetivos que foram estabelecidos, constantemente, para o progresso da firma. Cabe destacar, que além do avanço próprio, a organização tem um papel significativo no processo de desenvolvimento da região no qual todo esse contexto está inserido. Surge então o desenvolvimento.
Ao trazer tal reflexão ao estado de Santa Catarina, pode-se perceber que este possui uma grande diversificação de setores, o que proporciona equilíbrio entre as regiões do estado, fato também que faz com que o estado tenha um diferencial quando comparado a outros estados brasileiros. Mesmo havendo estas disparidades, existem especializações regionais, trazendo competitividade para a indústria, com forte “adensamento das cadeias produtivas”. Na região sul de Santa Catarina destacam-se o setor cerâmico, carvão, vestuário e descartáveis plásticos (FIESC, 2013).
Com relação ao Brasil, o setor têxtil-confecção possui grandes polos regionais. Em São Paulo, têm-se o destaque para o varejo de luxo de algumas lojas nacionais e internacionais. Já no interior do estado, cabe o destaque para a cidade Americana, que representa um alto desenvolvimento tecnológico para o setor. No Rio de Janeiro, ressalta-se a cidade de Nova Friburgo, que se enquadra como o principal polo de lingerie do país. E em Santa Catarina, se destaca Blumenau, que é considerado o principal exportador de artigos de malha e linha lar (COSTA; ROCHA, 2009).
Nota-se dentro do segmento têxtil-confecção, que os produtos do vestuário com maior valor agregado, com mais investimentos em pesquisa e desenvolvimento, novas matérias primas, design e diferenciados, alcançando consumidores com maior poder aquisitivo são fabricados por países desenvolvidos. Porém em contraponto a essa definição, os países em desenvolvimento fabricam produtos em maior quantidade, mínima diferenciação, possibilitando o acesso ao mercado com menor poder aquisitivo (FIESC, 2013).
Para o desenvolvimento do setor, a matéria prima utilizada nos produtos têxtil-confecção passa por constantes pesquisas, com o intuito de desenvolver tecnologias diferenciadas, que possam trazer maiores benefícios para a produção, tais como criação de novas fibras que podem se transformar em novos tecidos; aumento da produtividade e maior vantagem competitiva (FIESC, 2013).
Este segmento utiliza máquinas e equipamentos cada vez mais desenvolvidos tecnologicamente, por intermédio de pesquisas e desenvolvimento – P&D – das empresas envolvidas no processo produtivo com o intuito de trazer mais textualidade, leveza, entre outros requisitos (FIESC, 2013).
Outro degrau da produção têxtil, que cabe destaque, é a confecção, responsável pela ligação final da produção, e que cuida da elaboração do objeto antes do produto chegar ao consumidor. O segmento do vestuário é responsável por uma grande concentração de empresas, principalmente de micro e pequeno porte, gerando muitos empregos na cadeia produtiva têxtil-confecção (FIESC, 2013).
O setor de confecção no sul de Santa Catarina possui como uma de suas características, a diversificação na fabricação de produtos. No Estado, existe a produção de vários tipos de peças como camisetas, ternos e até roupas femininas mais elaboradas. Estes produtos podem ser fabricados por empresas de todos os tamanhos, que pode ser desde uma microempresa até empresas de grande porte.
Neste setor existem empresas de todos os portes. Desde empresas com mais de 2000 funcionários, até microempresas. O setor possui mais de 100.000 firmas, sendo que mais de 85% faz parte do segmento da confecção. Com essa quantidade de empresas espalhadas pelos diversos estados do país, existem também diferentes níveis tecnológicos para cada região e, consequentemente, para cada empresa. Há empresas que utilizam muita tecnologia e pouca mão de obra e existem as empresas que utilizam muita mão de obra, que é o caso da confecção (ABIT, 2015).
Com relação ao setor têxtil-confecção, o Brasil, no setor da produção, possui a maior cadeia produtiva das Américas. Existe no país, desde a produção de fibras até a confecção. Foi constatado em 2014, mais de 1,6 milhão de brasileiros trabalhando neste segmento, e em sua maioria mulheres. Este setor representa hoje 5,7% do total da indústria de transformação (ABIT, 2015).
Dentro do país, com relação aos estados, os dados da ABIT (2015) mostram que Santa Catarina é o segundo maior empregador da área têxtil e de vestuários do Brasil. Porém, como contraponto, existe, de acordo com a SINTEX (2015), na região da AMREC a estimativa de que aproximadamente 30.000 pessoas foram demitidas somente na indústria do vestuário. Quem está em situação mais grave são as pequenas e médias empresas, que tiveram redução de 26,8% no seu faturamento.
Diante de tais dados, é notório que muitas empresas interromperam suas atividades devido ao que as mesmas chamam de “crise”, que vem acometendo o país nos últimos anos. Porém, enquanto algumas fecham suas portas, outras têm crescido em meio a esse ambiente instável, que tem reflexo nos diversos setores do país e consequentemente no sul de Santa Catarina.
Além desses dados, podem-se identificar, dentro da situação da indústria têxtil-confecção em Santa Catarina, que ainda há muitos desafios a serem enfrentados pelo setor, tais como: os elevados custos tributários; a sazonalidade; e os custos elevados; e principalmente pela concorrência que existe com os produtos importados e nacionais (ABIT, 2015). Uma medida para que haja a diminuição dessa concorrência, pode ocorrer com maiores investimentos e melhoria na gestão da inovação para aumento das exportações, fazendo com que a atividade sobrevenha em longo prazo; aumento das defesas comerciais e diminuição de impostos no setor (ABIT, 2015).
Porém, há também oportunidades que podem fazer as organizações construírem novas trajetórias, com o intuito de permanecerem atuantes no mercado, como investimentos em novas tecnologias, inovações, incremento nas exportações, acordos comerciais entre países e principalmente a inovação (FIESC, 2013).
 
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao se conhecer e analisar os processos de industrialização de uma determinada localidade se consegue perceber muitos aspectos importantes que vão pautar todo o desenvolvimento daquela região. Pensando nessa forma, as características presentes em cada região determinam a formação da indústria, o seu tipo, o seu produto, a sua mão de obra, entre outros fatores. Mais que sua formação, a gênese industrial traz a tona muitas abordagens e muitos aspectos, que se modificam e se assemelham de acordo com o contexto que o mesmo está inserido.
Assim, o desenvolvimento socioeconômico passa por dois vieses: o lado econômico e o lado social, de modo que precisam andar juntos para que haja crescimento de uma região. Diante destas considerações, é relevante relacionar a dependência entre os dois para que haja desenvolvimento em uma região.
Quando se observa a formação da indústria na Revolução Industrial, no Brasil, em Santa Catarina e na região sul do Estado pode se perceber que mesmo bem distintas e de contextos bem diversos, a característica que as une se dá pelo setor têxtil. Setor que foi e é ainda tão essencial para o desenvolvimento da economia e da sociedade como um todo no contexto em que ela está inserida.
O setor de confecção no sul de Santa Catarina possui como uma de suas características, a diversificação na fabricação de produtos. No Estado, existe a produção de vários tipos de peças como camisetas, ternos e até roupas femininas mais elaboradas. Estes produtos podem ser fabricados por empresas de todos os tamanhos, desde as microempresas até as empresas de grande porte. Isso advém do setor que vem crescendo ao longo do anos, com destaque para a região.
Conclui-se que o setor têxtil e de confecção mostram-se como um dos precursores das atividades industriais em diversos contextos. E cada vez mais, todo o setor se mostra adaptado ao meio em que está inserido continuando assim seu principal papel, que é fazer parte do processo social e econômico de cada região.       

REFERÊNCIAS

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* Mestranda no Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Socioeconômico na Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC).

** Historiador e Pós Graduando Lato Sensu em Direto Internacional.

*** Doutora em Desenvolvimento Econômico e Docente na Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC). E-mail: dricpvieira@gmail.com

**** Mestre em Desenvolvimento Socioeconômico e Docente na Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC). E-mail: zilli42@hotmail.com


Recibido: 04/09/2017 Aceptado: 19/10/2017 Publicado: Octubre de 2017

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