Christian Caldeira Santos *
Jacinta Sidegum Renner**
Universidade Feevale, Brasil
christiansantos@unipampa.edu.brRESUMO
  A inclusão  escolar de alunos com deficiência na Educação Infantil (creche e pré-escola) é  um desafio brasileiro contemporâneo que possibilita a criança com deficiência  vivenciar situações educacionais semelhantes da criança sem deficiência. Objetivou  descrever uma vertente do processo de inclusão escolar de crianças com  paralisia cerebral em creche, fundamentada na tríade aluno – professor –  família. Foi realizada uma revisão  literária, do tipo analítica e com abrangência temática. Sob a luz desta  tríade, o aluno com paralisia cerebral deve ser entendido como um ser social,  cultural, ou seja, ator social, que necessita interagir com pessoas, ambiente, objetos  e com ele mesmo. Sua condição clínica deve ser melhor compreendidas pelos  professores para um melhor planejamento das aulas. O professor deve centrar-se  no aluno e romper as entranhas do ensino tradicional. A família é o pilar da  inclusão da criança com paralisia cerebral na creche e que também necessita ser  incluída no ambiente escolar. O diálogo entre escola e pais atenua o medo do  processo inclusivo, favorece o bem-estar familiar e escolar, assim como esclarece  dúvidas mútuas. Há um hiato de estudos sobre este tema, embora ter sido constatado  a importância da tríade como alicerce inicial para a inclusão de crianças com  paralisia cerebral em creche.
  Palavras-Chave: Criança com paralisia cerebral, professor,  família, Educação Infantil, inclusão escolar.
  ABSTRACT
  The  school inclusion of students with disabilities in early childhood education  (kindergarten and pre-school) is a contemporary Brazilian challenge that  enables children with disabilities to experience similar educational situations  of children without disabilities. The aim of this study was to describe a part  of the school inclusion process of children with cerebral palsy in day care,  based on the pupil - teacher - family triad. A literary review was carried out,  of an analytical type and with a thematic scope. In the light of this triad,  the student with cerebral palsy must be understood as a social, cultural being,  that is, a social actor, who needs to interact with people, environment, objects  and with himself. Their clinical condition should be better understood by  teachers for better class planning. The teacher should focus on the student and  break the bowels of traditional teaching. The family is the pillar of the  inclusion of the child with cerebral palsy in the day care and who also needs  to be included in the school environment. The dialogue between school and  parents attenuates the fear of the inclusive process, favors the family and  school well-being, as well as clarifies mutual doubts. There is a hiatus of  studies on this topic, although the importance of the triad as an initial  foundation for the inclusion of children with cerebral palsy in day care has  been verified.
  Keywords: Child with cerebral palsy,  teacher, family, early childhood education, school inclusion.
  RESUMÉN 
  La  inclusión escolar de alumnos con discapacidad en la Educación Infantil  (guardería y preescolar) es un desafío brasileño contemporáneo que permite al  niño con discapacidad experimentar situaciones educativas semejantes del niño  sin discapacidad. El objetivo de describir una vertiente del proceso de  inclusión escolar de niños con parálisis cerebral en guardería, fundamentada en  la tríada alumno - profesor - familia. Se realizó una revisión literaria, del  tipo analítico y con alcance temático. A la luz de esta tríada, el alumno con  parálisis cerebral debe ser entendido como un ser social, cultural, o sea,  actor social, que necesita interactuar con personas, ambiente, objetos y con él  mismo. Su condición clínica debe ser mejor comprendida por los profesores para  una mejor planificación de las clases. El profesor debe centrarse en el alumno  y romper las entrañas de la enseñanza tradicional. La familia es el pilar de la  inclusión del niño con parálisis cerebral en la guardería y que también  necesita ser incluida en el ambiente escolar. El diálogo entre escuela y padres  atenúa el miedo al proceso inclusivo, favorece el bienestar familiar y escolar,  así como esclarece dudas mutuas. Hay un hiato de estudios sobre este tema,  aunque se ha constatado la importancia de la tríada como base inicial para la  inclusión de niños con parálisis cerebral en guardería.
  Palabras clave: Niño con  parálisis cerebral, profesor, familia, Educación infantil, inclusión escolar.
Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato: 
 Christian Caldeira Santos y Jacinta Sidegum Renner (2017): “Inclusão de crianças com paralisia cerebral em Creche, etapa da educação infantil brasileira”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, (octubre-diciembre  2017). En línea: 
http://www.eumed.net/rev/cccss/2017/04/inclusao-criancas-paralisia.html
http://hdl.handle.net/20.500.11763/cccss1704inclusao-criancas-paralisia
1) INTRODUÇÃO
  No âmbito da Educação Infantil brasileira, nos  últimos três Censos Escolares (INEP, 2016) houve um aumento de mais de 22% nas  matrículas da Educação Especial (alunos de escolas especiais, classes especiais  e incluídos) junto à Educação Infantil, especificamente na etapa da creche. 
  Embora apresente este aumento percentual nas  matrículas, a inclusão escolar dos alunos com deficiência é um desafio, pois  confronta o sistema escolar homogêneo com uma heterogeneidade inusitada, ou  seja, a diferença dos alunos com condições de aprendizagem muito diversas  (BEYER, 2006). Na concepção de Delou et al. (2016) o verdadeiro desafio da  escola inclusiva está na forma em como administrar a diversidade dos alunos,  sobretudo daqueles que dependem de uma metodologia educacional individualizada,  em um contexto demasiado de explicações diversas.
  Assim destaca-se a seguinte situação:
  Uma criança com paralisia cerebral (PC) [...] foi  matriculada na Educação Infantil com 20 meses de idade, não caminhava e nem  falava. Segundo sua mãe, ele gostava muito de ir à creche e participar de todas  as atividades, do seu jeito. “Para meu filho foi muito importante frequentar  uma instituição educativa cedo, pois aprendeu a falar, a conviver, a viver  frustrações, a conhecer suas possibilidades e a lidar com suas limitações desde  pequeno”, relembra (BIAGGIO, 2007).
  Esta  ação vislumbra a possibilidade da ruptura total com o sistema de ensino  tradicional e enaltece a conquista de uma sociedade solidária que respeite,  valorize e conviva com a diversidade (PADILHA; FREITAS, 2005). Portanto, a inclusão social permeada pela  inclusão escolar pode ser considerada um processo de “via dupla”, ou seja,  tanto a pessoa com deficiência como a sociedade precisam se modificar  (BARTALOTTI, 2010).
  Atualmente  transpor a desinformação sobre crianças com PC e incluí-las na sociedade é um  grande obstáculo para instituições de ensino, educadores, profissionais de  saúde, assistentes sociais e para a própria família que aglutinam forças em  diversas tarefas, as quais oportunizam estímulos ao desenvolvimento integral e  à inclusão social e educacional dessas crianças.
  A partir deste contexto, compreende-se a PC ou  Encefalopatia Crônica Não Progressiva da Infância como um complexo sintomático  ao invés de uma doença propriamente dita, visto que abrange um grupo de  desordens atribuídas ao comprometimento motor (BALANI; CASTRO; MORAES FILHO,  2007). A razão destas desordens é uma lesão cerebral não progressiva, (LEVITT,  2001) que provoca debilidade variável na coordenação da ação muscular, com  resultante incapacidade da criança em manter posturas e realizar movimentos  normais (BOBATH, 1984). O período para seu surgimento se estende do período  gestacional até os dois anos de idade, embora outros autores aceitarem os cinco  anos como idade limite. Associados aos distúrbios motores, outros problemas são  comuns como os de ordem oftalmológicos, gastroenterológicos, pneumológicos,  odontológicos, otorrinolaringológicos, ortopédicos, distúrbios da integração  sensorial, epilepsia e deficiência intelectual. Sua prevalência em  países desenvolvidos varia entre 1,5 a 2,5 por 1.000 nascidos vivos, nos países  em desenvolvimento esse número alcança 7 por 1.000 nascidos vivos. No Brasil  não há números específicos para a PC, mas estima-se que os números cheguem de  30.000 a 40.000 casos novos por ano (BALANI; CASTRO; MORAES FILHO, 2007). 
              Já a Educação Infantil,  é considerada a primeira etapa da Educação Básica no Brasil, a qual apresenta a  finalidade de garantir o desenvolvimento integral da criança de até cinco anos,  em seus aspectos físicos, psicológicos, intelectual e social, complementando a  ação do núcleo familiar e comunitário. Ela é oferecida em creches ou entidades  similares, para crianças de até três anos de idade; e em pré-escolas, para as  crianças de quatro a cinco anos de idade (BRASIL, 2013). Portanto, a creche  caracteriza-se como o portal de entrada das crianças no processo de  escolarização e a base de todo o processo educacional, precedendo e  possibilitando o ingresso e o transcurso efetivo e interativo na pré-escola  (OLIVEIRA; MILANI, 2008).
  Acredita-se  então que a Educação Infantil, proposta nos espaços da creche e pré-escola,  possibilite que a criança com deficiência experimente aquilo que outros bebês e  crianças da mesma idade estão vivenciando: brincadeiras corporais, sensoriais,  músicas, estórias, cores, formas, tempo e espaço e afeto (BERSCH; MACHADO,  2007).
  Esta  inter-relação educacional entre sujeito, ambiente e tarefa foi chancelada no  Art. 40 do Estatuto da Pessoa com Deficiência (BRASIL, 2013) que destaca o  direito fundamental da pessoa com deficiência à educação, a fim de garantir que  a mesma atinja e mantenha o nível adequado de aprendizagem, de acordo com suas  características, interesses, habilidades e necessidades de aprendizagem. Neste instante visualiza o empoderamento da  Educação infantil, onde passa a ser entendida não mais como assistência  e caridade, mas sim, como um espaço educacional e de formação para a cidadania  (LOBO, 2013). Nesta dinâmica, o  processo de inclusão de crianças com deficiência no ambiente escolar contribui  preliminarmente a oferecer condições de participação social e o exercício da  cidadania (SERRA, 2008).
              No entanto, para este  processo ocorrer Serra (2008) cita que é preciso pensar em três elementos  fundamentais: o sujeito incluído (refletir o que ofertar aos alunos); o professor  (construtor dos saberes para o aprendizado e facilitador das potencialidades de  seus alunos); e a família, (elemento indispensável no processo de inclusão de  seus filhos).
  Diante destes pressupostos, este estudo pretende  descrever uma vertente do processo de inclusão escolar de crianças com PC nas  creches da Educação Infantil, fundamentada na tríade criança – professor –  família.
  2) METODOLOGIA
              Este  estudo constitui por ser de revisão literária, do tipo analítica com  abrangência temática, onde o texto construído reuniu e discutiu informações a  partir de uma pesquisa bibliográfica fundamentada nas seguintes palavras chaves;  Criança com paralisia cerebral, professor, família, Inclusão escolar e Educação  Infantil. 
  A partir da consulta de livros, cartilhas e  documentos do Ministério da Educação, artigos científicos e pesquisa na web,  buscou-se  dialogar com pesquisas já existentes sobre o assunto e/ou que pudessem subsidiar  o desenvolvimento do proposto texto. Encontrado o material bibliográfico desejado  seguiu-se as seguintes etapas, conforme sugerido por Moreira (2004): a leitura  inspecional do mesmo; o estabelecimento e aplicação de roteiro de leitura; a  organização das pesquisas relevantes, segundo o critério logico desejado; a  avaliação crítica; e por fim uma conclusão do que representa o texto  selecionado. 
              Ressalta-se que este estudo não  apresentou a pretensão de esgotar as fontes de informações referente ao tema  proposto.
  3) DESENVOLVIMENTO
  3.1 A Educação Infantil  e a assistência educacional especializada.
   “A educação é um complexo e assim deve ser  compreendida e apreendida” (MORAES, 2009).
  Diante deste complexo, a inclusão escolar inicia-se na  Educação Infantil. Nela fomenta-se o desenvolvimento das bases necessárias para  a construção do conhecimento e desenvolvimento infantil global. Nesta etapa, o  lúdico, o acesso às formas diferenciadas de comunicação, a riqueza de estímulos  nos aspectos físicos, emocionais, cognitivos, psicomotores e sociais e a  convivência com as diferenças favorecem as relações interpessoais, o respeito e  a valorização da criança (MEC, 2008).
  Para  Padilha (2013), a Educação Infantil se destaca como um crucial momento para os  processos de aprendizagem e de socialização infantil. As principais teorias do  desenvolvimento e da aprendizagem enfatizam a infância como o período em que o  indivíduo se organiza no mundo.
  Para  a consolidação do projeto de inclusão torna-se indispensável a criação de  serviços de estimulação precoce que objetivam o desenvolvimento integral do  educando nos seus aspectos físicos, psicoafetivos, cognitivos, sociais e  culturais, priorizando o apoio e suporte à família e a inclusão dessas crianças  em creches na comunidade (BRUNO, 2006). Até os três anos, a assistência  educacional especializada se expressa por meio destes serviços (MEC, 2008). Acredita-se  que estes são imprescindíveis para a promoção das potencialidades e aquisição  de habilidades e competências das crianças (BRUNO, 2006).
  Junto  à estimulação precoce já na creche ou pré-escola, Silveira e Kroeff (2012)  apontam a importância da exploração do meio e a vivência das ricas experiências  para o desenvolvimento da linguagem, da fala, da compreensão e por consequência  nas referências da inteligência, desde que se possa favorecer o desenvolvimento  motor como facilitador. Assim, o aprendizado da criança se traduz pelos  resultados da coordenação dos sistemas sensorial, perceptivo e motor.  Destaca-se ainda que estes sistemas são básicos para a estruturação da imagem  cerebral infantil, para a interação com outras crianças e com os estímulos que  são oferecidos pelo meio.
  No  tocante da criança com PC, percebe-se que muitas delas frequentam programa de  intervenção precoce em instituição especializada, embora não se encontram  inscritas em creches ou pré-escola. Sabe-se que esta ação não dispensa sua inclusão,  visto ser um direito garantido constitucionalmente, somado ao fato de estar  incluso em um ambiente escolar facilitador da construção da identidade, da  personalidade e para a formação da auto-imagem dessas crianças, por meio da  convivência com outras crianças em ambientes menos restritivos (BRUNO, 2006). 
  Tal  apontamento é confirmado a partir dos registros  educacionais. Estes demostram que pouquíssimas crianças com necessidades  educacionais especiais frequentam a creche no Brasil. Dos 17.092 alunos da  creche, 56,52% estão no ensino regular e 43,48% no ensino especial (MELETTI; RIBEIRO,  2014). Para Padilha (2013) os baixos índices de matrículas na creche  implicam não somente a falta de oportunidades educacionais para estas crianças,  mas um descompasso entre as políticas de saúde e as de educação brasileira.
  Numa  tentativa de reverter tal situação há necessidade da construção de uma  pedagogia para a Educação Infantil enfatizada no direito de ser criança, no poder  brincar, no viver experiências significativas de forma lúdica, informal e no  direito de ir à escola e aprender de forma mais sistematizada. Este caminho  busca a superação da dicotomia entre tratamento e assistência que ainda vigora  em muitas instituições de ensino especializadas (BRUNO, 2006).
  Para  tanto, a Educação Infantil e os programas de intervenção precoce devem ter como  eixo o processo de aprendizagem das crianças com defasagens importantes no  decorrer de seu desenvolvimento. Traçar objetivos pedagógicos, enfatizar a  construção do conhecimento, desenvolver trabalho coletivo voltados para  aquisição de competências humanas e sociais significa formar e educar para a  vida (BRUNO, 2006).
  3.2 A criança com paralisia cerebral – o aluno  da Educação Infantil
  A criança com PC é classificada em relação aos  seus aspectos anatômicos e clínicos, visto ser mais didático e por enfatizar  mais o sistema motor, que é o elemento principal alterado do seu quadro clínico  geral (ROTTA, 2002). Nesta linearidade, a PC é classificada em piramidal ou  espástica; extrapiramidal ou discinética, coreoatetósica, distônica; atáxica;  hipotônica; e mista. Já sua classificação topográfica se relaciona quanto ao  número de membros do corpo afetados. Portanto, um envolvimento de quatro, três,  dois, um membro ou somente um hemicorpo é classificado como quadriplegia,  triplegia, diplegia, monoplegia e hemiplegia, respectivamente (BALANI; CASTRO;  MORAES FILHO, 2007; LEVITT, 2001; BOBATH, 1984).
  Atualmente,  a escala GMFCS (Gross Motor Function Classification System) determina o nível  de comprometimento motor da criança ou jovem com PC, de acordo com sua idade (0  – 18 anos), independentemente do tipo clínico e topográfico. Seus cinco níveis  permitem classificar a pessoa com PC no patamar exato em relação às habilidades  e limitações de sua função motora grossa. Portanto, cada nível apresenta sua  característica geral: Nível I – andam sem limitações; Nível II – andam com  limitações; Nível III – andam utilizando um dispositivo manual de mobilidade;  Nível IV – auto mobilidade com limitações, pode utilizar mobilidade motorizada;  e Nível V – transportado em uma cadeira de rodas manual (SILVA; PFEIFER; FUNAYAMA,  2007). Diante disso conclui-se que quanto maior o nível da GMFCS atribuída à  pessoa com PC, maior será seu comprometimento motor e sua dependência  funcional.
  Diante  das consequências da PC, a execução de tarefas, o ato de brincar, adquirir  conceitos, ações estas tão trabalhadas na escola infantil, poderão ser  prejudicadas pelas questões motoras (PADILHA, 2013), entretanto, estes aspectos  não devem ser considerados como obstáculos para que a criança esteja inclusa no  contexto escolar.
  Acredita-se  que o comprometimento motor grave possa mascarar a percepção da inteligência  normal da criança com PC e atrapalhar a sua participação no âmbito social,  emocional, esquema corporal, entre outros. (SILVEIRA; KROEFF, 2012). Exemplo  disto é a descrição de Roriz, Amorim e Rossetti-Ferreira (2010) em seu artigo,  em que nele os profissionais da saúde evidenciaram mais as características da  criança e de sua família e limitaram a falar da criança com PC como pessoa.  “Falou-se da PC, do que pode ser feito no tratamento, das dificuldades com a  família, mas praticamente nada se fala da criança”.
  Embora  a criança com PC apresente comprometimento neuromotor, ela como qualquer  criança não é um ser amorfo, passivo ou incapaz, uma tábula rasa que aceita  qualquer impressão ou registro e se deixa moldar como argila ou massa de modelar.  Esse Ser é competente e hábil em muitas coisas, inclusive provoca alterações  profundas nos sentimentos, nos pensamentos, nas rotinas das pessoas que o  circundam (DIDONET, 2001). Nesta tendência Padilha (2013) cita o caso de uma  aluna que “na escola, ela precisa se reconhecer longe da mãe, precisa se fazer  pertencer à escola, interagir, brincar, aprender e apreender”.
              Diante disso, uma vez inserida no contexto escolar, a  criança tem que ser considerada um Sujeito social, histórico e de  direitos que faz parte de uma organização familiar que está contida em uma  sociedade, com uma determinada cultura e valores, em um determinado momento histórico.  Sua família é o seu ponto de referência, embora esteja sendo influenciada por  outras instituições sociais (BRASIL, 1998). Nesta perspectiva entende-se a  criança como ator social, com direitos e capacidade de ação e participação  social (BUSS-SIMÃO; FIAMONCINI, 2013).
  Neste  momento, novamente o caso anterior pode ser citado, pois a aluna apresenta o  cognitivo íntegro, ouve histórias demonstrando compreendê-las, aprecia peças  teatrais e se emociona, atende a solicitações como erguer a cabeça para visualizar  os objetos, favorecendo sua interação com o meio escolar. Assim, tanto Beatriz  vai se acostumando com a escola, como também a escola vai se adaptando às  necessidades de Beatriz (PADILHA, 2013).
              No campo límbico, Maluf (2009) cita  Henri Wallon como o fomentador da dualidade, corpo e emoções. Ele considera a  criança como um ser social a partir do nascimento, visto que ela proclama  processos afetivos através da emoção. Intrinsecamente, visualiza-se a criança  como um todo, carregada de afeto, emoção, movimento, ser desejante e de  vontades. Através das emoções (alegria, raiva, medo, tristeza) a criança se  relaciona com o meio. Sendo assim, fundamentou-se sua tese em três elementos  básicos que se inter-relacionam com a afetividade, são eles: o movimento  (caráter pedagógico pela sua representação), a inteligência (capacidade de  distinção com a realidade externa e a resolução dos problemas) e a formação do  eu como pessoa (dependente do outro para ser referência ou para ser negado).
  Para  Pulino (2001) a educação em creche deve considerar os aspectos do momento  referente ao desenvolvimento físico e psicológico das crianças, orientada por  conhecimentos pediátricos, nutricionais e psicológicos, considerando a  adequação do espaço físico, da rotina de atividades e dos brinquedos  disponíveis, não desmerecendo a especificidade de cada criança, visto que cada  uma apresenta um ritmo próprio de desenvolvimento demonstrada através de suas preferências  e hábitos diários. Já sob um prisma mais delimitado ao aluno com PC, Rezio e  Formiga (2014) afirmam que “quanto mais favorável e melhor estruturado for o  ambiente escolar, maiores serão as possibilidades para crianças com PC  demostrarem suas potencialidades em seu meio escolar”.
  Em  resumo, a inclusão escolar está fundada na dimensão humana e sociocultural que  procura enfatizar formas de interação positivas, possibilidades, apoio às  dificuldades e acolhimento das necessidades dessas pessoas, tendo como ponto de  partida a escuta dos alunos, pais e comunidade escolar (BRUNO, 2006).
  3.3 O ser professor de crianças com paralisia cerebral  na Educação Infantil
  Somente  a espécie humana possui a capacidade de, por intermédio do trabalho, adaptar o  ambiente às suas necessidades. [...]. Os seres humanos rompem e transcendem os  limites de sua espécie e transformam-se, na história, transformando o mundo em  que vivem. No mundo social, a história substitui a evolução biológica como  elemento central do processo de adaptação humana à realidade circundante. Neste  sentido, pode-se pensar a educação como um continuum,  sempre histórico, mediando a abertura de novos campos às ações humanas” (MORAES,  2009).
  Portanto,  ser professor da Educação Infantil é ser polivalente, ou seja, seu trabalho  exige conteúdo de natureza diversa, que inicia desde os cuidados básicos  essenciais a vida até a especificidade de diversas áreas do conhecimento. Sua  ação teórico-prática necessita contemplar constantemente o pensamento reflexivo.  Nesta ação requer metodologias como a observação, o registro, o planejamento e  a avaliação das crianças sob sua regência.
              O educador precisa compreender as  mudanças educacionais que acontecem na sociedade atual, conscientizando que já  não detém sozinho o domínio da difusão do conhecimento, tendo de escolher as  novas formas metodológicas de aprendizagem que já não são unidimensionais e são  muito influenciadas pela tecnologia. A formação do educador é um processo que  nunca tem fim. Não há limites para projetos, pesquisas, reflexões e leituras  (MALUF, 2009).
              O professor, mentor das propostas  pedagógicas, propõem para o ano letivo projetos educativos a serem  desenvolvidos com seus alunos. O seu comprometimento com a prática educacional  é considerado a peça fundamental para a execução destes projetos (BRASIL, 2013).  Ele deverá propiciar a exploração da curiosidade infantil, as formas diferentes  de linguagem, a criatividade, o senso crítico e a progressiva autonomia (MALUF,  2009).
  Segundo  Bruno (2006) a proposta pedagógica, contemplada numa visão construtivista do  conhecimento, tem no aluno e em suas possibilidades, o centro da ação  educativa. Assim, o processo pedagógico é construído a partir das  possibilidades, das potencialidades daquilo que o aluno já dá conta de fazer. É  isso que o motiva a trabalhar, a continuar se envolvendo nas atividades  escolares, garantindo assim o sucesso do aluno e sua aprendizagem.
              A partir daí, para que o processo de  inclusão escolar possa iniciar, há necessidade da existência de uma coerência  entre a maneira de ser e de ensinar do professor, além da sensibilidade à  diversidade da classe e especialmente da crença de que há um potencial a  explorar nos alunos de sua turma (VITTA, DE VITTA e MONTEIRO, 2010).
              É notório que os projetos  pedagógicos construídos para as crianças da Educação Infantil devam reconhecer  que as mesmas se desenvolvem em ritmos diferentes, mas seguindo sempre  determinados padrões evolutivos. Assim mais importante que considerar a idade  cronológica dos alunos frente a tal situação é reconhecer a criança em suas  potencialidades e limitações, adequando-se ao seu ritmo próprio de  desenvolvimento. A evolução infantil é dependente da maturação cerebral e da  aprendizagem. Fatores intrínsecos (biologia e hereditariedade) como os  extrínsecos (ambiente material e social) constituem fonte de estímulos e  oportunidades de experimentação que acarretarão um desenvolvimento infantil  típico ou não, visto que a criança é responsiva a quantidade e qualidade de  estimulação que recebe (BONAMIGO et al., 2001).
  Ao  professor cabe o reconhecimento que os anos iniciais da criança são decisivos  para a formação infantil, pois trata-se de um período em que a criança se  constrói. Portanto, ele deve se ancorar nas teorias do desenvolvimento infantil  para refletir a sua docência na Educação Infantil.  Segundo KAIL (2004) existem várias teorias e  teóricos que tentaram explicar o desenvolvimento infantil. Entre estas apontam  as teóricas com perspectiva biológica, onde se caracterizam por um  desenvolvimento determinado principalmente por forças biológicas. Nestas se  apresentam a Teoria da Maturação (enfatiza o desenvolvimento como um  desdobramento natural de um plano biológico) e a Teoria Etológica (enfatiza a  natureza adaptativa do comportamento e a importância da experiência durante os  períodos críticos do desenvolvimento). As teorias com perspectiva psicodinâmica  caracterizam pelo desenvolvimento determinado principalmente pelo modo como a  criança resolve seus conflitos nas diferentes idades. Nestas se apresentam a  Teoria de Freud (enfatiza o conflito entre forças biológicas primitivas e os  padrões da sociedade para o certo e o errado) e a Teoria de Erikson (enfatiza  os desafios lançados pela formação da confiança, da autonomia, da iniciativa,  da produtividade e da identidade). As teorias com perspectiva aprendizagem  enfatizam que o desenvolvimento é determinado principalmente pelo meio ambiente  da criança. Nestas estão o condicionamento operante de Skinner (enfatiza o  papel do reforço e da punição) e a Teoria Social-Cognitiva de Bandura (enfatiza  os esforços da criança para compreender seu mundo, utilizando o reforço, a  punição e o comportamento dos outros). Para as teorias com perspectivas  cognitivo-desenvolvimental suas características focam o desenvolvimento como  resultado dos esforços da criança para compreender o mundo. Nestas estão a  Teoria de Piaget (enfatiza os diferentes estágios do pensamento, que são o  resultado das mudanças nas teorias das crianças sobre o mundo) e a Teoria do  Processamento da Informação (enfatiza as mudanças no pensamento que refletem  mudanças no hardware e no software mentais). Já as teorias com  perspectivas contextuais descrevem o desenvolvimento influenciado pelos  ambientes imediatos e mais remotos que costumam influenciar uns aos outros.  Nestas estão contidas a Teoria de Vygostsky (enfatiza o papel dos pais e de  outros na transmissão da cultura para a geração seguinte) e a Teoria de  Bronfenbrenner (enfatiza as influências do microssistema, do mesossistema, do  exossitema e do macrossitema na vida da criança).
  Munidos  destes referenciais, Padilha (2013) acrescenta que para o processo de mediação  de aprendizagem e desenvolvimento tanto de uma criança com PC ou não, se faz  necessário planejar diversas intervenções que atenda à diferença entre as  crianças, redimensionando-se as práticas pedagógicas, colocando como centro do  processo a significação das interações nas atividades da Educação  Infantil.
              A organização de cantinhos de atividades  na creche representa exemplos destas intervenções. Para Oliveira e Rossetti-Ferreira  (1993), este ambiente permite a criança interagir com um pequeno número de  “amiguinhos”, o que se expressa de maneira confortável, especialmente para as  crianças menores de três anos, pois elas aparentam ficar alheias diante do  grande número de propostas de ação que tendem a surgir no grupo total de sua  turma. O pequeno grupo oportuniza lhes uma melhor praxia de suas ações e a  criação de um novo enredo comum na brincadeira, aumentando a troca e  aperfeiçoando a linguagem. O sucesso desta estratégia pedagógica está atrelado  à capacidade de o educador observar a maneira como as crianças ocupam e  utilizam os espaços, modificando-os em funções dos interesses das crianças.
  Segundo  relato de alguns professores, na deficiência física os problemas que interferem  no processo de aprendizagem ficam correlacionados diretamente à escassez de  recursos materiais e de organização do espaço físico, nem tanto na deficiência (VITTA;  DE VITTA; MONTEIRO, 2010), entretanto outros professores consideram não ser de  sua responsabilidade e competência educar alunos com PC (GOMES e BARBOSA, 2006)
              Muitos profissionais de Educação Infantil  partem de uma visão assistencialista de atendimento à criança pequena, que  prioriza o dar-lhe cuidado físico mais do que uma estimulação global a seu  desenvolvimento, seja em termos motores, afetivos e cognitivos, ou têm uma  atuação mais próxima de uma visão tradicional do que seria o processo escolar  com crianças mais velhas. Digamos que lhes faltam modelos de prática pedagógica  para orientar seu trabalho de mediar a construção de significações e de  habilidades. O professor que trabalha nos centros de Educação Infantil precisa  ser preparado para mediar esse desenvolvimento, auxiliando a criança a ampliar  as linguagens que usa para representar e exprimir sua forma de compreender o  mundo e a si mesma (OLIVEIRA et al., 2004).
  Neste  caldeirão pedagógico, o afeto não pode ser menosprezado. A qualidade afetiva é  ponto chave no relacionamento entre o adulto (professor) e a criança (aluno).  Acredita-se que o professor na sua função mecânica e desvinculada de afeto, por  mais tecnicamente e didaticamente eficaz, não surtirá efeitos benéficos sobre a  criança durante sua estadia na escola (BONAMIGO et al., 2001).
              Quanto a formação de profissionais  para a Educação Infantil, ela precisa se tornar reflexiva, ou seja, deve  possibilitar ao regente compreender a dimensão educativa do seu trabalho e  construir autonomia intelectual para refletir sobre as práticas  psicopedagógicas que exerce. Assim, essa formação não ocorre instantaneamente,  mas por meio de um caminho longo a ser percorrido e a ser construído, que  precisa de investimento de tempo e de recursos suficientes a esta construção  (SILVA; BALSANELLO, 2002).
  Vitta,  De Vitta e Monteiro (2010) reforçam a ideia que para atuar de forma a favorecer  a inclusão escolar, o maior destaque deve ser dado à formação de professores,  de forma que contemple conteúdos relacionados às deficiências e técnicas de  ensino, que facilitem o processo de aprendizagem das crianças com necessidades  especiais. Carvalho (2012) cita que professores que assimilaram a inclusão como  um valor e como um princípio buscam reconhecer e identificar as necessidades de  todos e de cada dos seus alunos para ajustar sua prática pedagógica centrada na  aprendizagem, em vez do ensino.
  Entretanto,  Gomes e Barbosa (2006) descrevem algo comum entre os professores, o despreparo  profissional e a falta de informação relacionado a PC, visto que, a maior parte  destes sequer conhece ou teve contato com uma criança com PC. Os autores citam pontos  favoráveis e desfavoráveis na percepção de professores quanto ao processo de  inclusão escolar de crianças com PC. Os favoráveis permeiam para a  socialização, diminuição do preconceito, oportunizar novas experiências e  possibilidades, inclusão escolar, desenvolvimento cognitivo e motor. Já os  desfavoráveis condizem com a formação deficitária dos docentes, excesso de  alunos, preconceitos, trabalho diferenciado, instalações inadequadas, ausência  de apoio institucional e falta de recursos.
  Para  minimizar esta situação, Holzschuh e Cancian (2011) relatam que o trabalho  pedagógico na Educação Infantil requer planejamento, organização e envolvimento  de todos os profissionais que atuam na instituição de Educação Infantil,  independente das suas funções, e todos precisam realizar um trabalho coletivo,  buscando atender primordialmente as necessidades e interesses das crianças.  Sendo assim, o respeito aos tempos e espaços das crianças, além de constar no  planejamento pedagógico dos professores, precisa se concretizar não só na  prática destes, mas também na de todos os sujeitos envolvidos no trabalho com a  Educação Infantil. Neste sentido, todos os profissionais, independente da  função que realizam, necessitam ter postura para manifestarem o seu ponto de  vista sobre o que seja o melhor para as crianças e terem abertura para o  diálogo e humildade em ouvir o outro. Se isto acontecer, as relações entre os  sujeitos serão mais agradáveis e certamente será instituído um planejamento e  trabalho pedagógicos que respeitem o tempo e espaço das crianças, ou seja,  voltado para a criança.
  Para  que as crianças com necessidades educacionais especiais possam participar com  sucesso desse programa em creches e pré-escolas há necessidade de professores  empenhados na interação, acolhida e escuta dessas crianças, interessados em  compreender suas necessidades e desejos, e disponíveis para interpretar suas  formas de expressão e comunicação, muitas vezes diferentes daquelas das demais  crianças da mesma faixa etária. E, principalmente, é preciso que os professores  desejem querer ajudar as crianças a crescer e conhecer o mundo (BRUNO, 2006). Infelizmente,  a demanda da inclusão chega às escolas antes da preparação do professor, e a  solução tem sido a capacitação do profissional em serviço, através dos  programas de formação continuada (SERRA, 2008).
  Para  finalizar, não se pode esquecer a função docente de oferecer o diagnóstico  pedagógico da criança aos pais das crianças, mesmo sabendo que este demonstre  um desempenho insatisfatório na aprendizagem e que confirme o atraso em algum  aspecto do desenvolvimento infantil. Concomitante a esta ação, os professores  inseridos na rede institucional de ensino devem compreender as reações dos pais  e apoiá-los emocionalmente e ao mesmo tempo, orientá-los sobre a melhor maneira  de conduzir a aprendizagem da criança, apontando a necessidade de estimulação  em alguma área, os meios mais eficazes de ensiná-lo, os atendimentos  complementares indicados e a rede de apoio existente na comunidade para o seu  caso. (VEIGA, 2008).
  3.4 A família de crianças com paralisia  cerebral como facilitadora da inclusão escolar
  Família!  Família!
  Papai,  mamãe, titia
  Família!  Família! [...]
  (ANTUNES  e BELLOTTO, 1986)
  Araújo  e Lima (2011) afirmam que por mais que se tenha estudos com o tema da inclusão  escolar, há carência quando o mesmo é tensionado sob o ponto de vista familiar.  Tais estudos se justificam segundo Freitas et al. (2005) por serem as  famílias o pilar no processo de inclusão escolar de crianças com PC, juntamente  com a escola e os profissionais da saúde.
  É presumido que familiares saibam da importância de seu filho(a) com PC em  conviver com  outras crianças, possibilitando-os a terem um processo de desenvolvimento e de  aprendizado inerente da educação escolar (ARAÚJO e LIMA, 2011), mas a presença  familiar mais efetiva no processo de inclusão escolar de seu filho(a) talvez  seja algo muito mais inusitado. 
  A  presença dos pais na escola é uma característica da proposta de educação  inclusiva, os quais vão figurar como atores e autores, visto que participam de  reuniões, refletem e expressam seus pensamentos frente a educação inclusiva de  seus filhos (CARVALHO, 2012). Uma vez que estes diálogos ocorram, se deduz que  o processo de inclusão escolar esteja acontecendo, visto já ter havido a inclusão  familiar, que por sua vez, necessitou primariamente de se ter a aceitação da  criança no ambiente escolar (FREITAS et al., 2005).
  Tal aceitação foi referida no estudo de Araújo e Lima (2011) como  aspecto primordial para a escolha de qual escola matricular o ente familiar com  PC. Outros pontos importantes relatados para esta tomada de decisão foram a  escola estar próxima de suas residências e logicamente, apresentar ótimas  referências de outras famílias frente ao processo de inclusão escolar. Quanto  ao tipo de escola (regular ou especial), Santos, et al. (2011) descrevem em seu  estudo que tal característica não foi empecilho para que a família iniciasse o  processo de inclusão escolar. 
  Para  sustentar este processo inclusão, as mães de crianças com PC apontaram a  importância do trabalho em rede entre instituições de reabilitação e  educacionais para o processo de inclusão escolar de seus filhos, e citaram  ainda a necessidade da presença do cuidador e das tecnologias assistivas no  processo de inclusão. A autora enfatizou o desejo das mães de participarem  efetivamente dos processos de reabilitação e educação dos seus filhos. Por fim,  as mães das crianças com PC sugerirem adaptações arquitetônicas e atitudinais  nas escolas, o modelo de trabalho em rede para outras instituições/escolas e  reuniões com pais de alunos de inclusão e professores (CARVALHO, 2017).
  Quanto ao pertencer ao ambiente escolar, familiares afirmam da  importância de seu filho(a) com PC experimentar a convivência com outras  crianças, possibilitando-os a terem um processo de desenvolvimento e de  aprendizado inerente da educação escolar (ARAÚJO; LIMA, 2011). 
  Entretanto, alguns fatores podem influenciar negativamente o processo  inclusivo infantil: bem-estar psicológico da mãe, suporte social, apoio do  cônjuge, condições socioeconômicas, especialmente escolaridade, trabalho e crenças pessoais e  existenciais (FREITAS et al., 2005). Muitos pais de criança com deficiência  são amedrontados com a ideia de matricular seus filhos na creche ou na escola,  por julgarem que eles sejam imaturos para enfrentar essa experiência ou que as  pessoas não estarão preparadas para recebê-los no ambiente escolar, o acaba por  gerar insegurança (VEIGA, 2008; ARAÚJO; LIMA, 2011). 
  A  falta do bem-estar psicológico da mãe gera sofrimento materno com o processo de  inclusão escolar de seus filhos, pois acreditam que eles sejam indefesos e  despreparados para a vida escolar. A ausência da criança no lar ocasionada pelo  momento escolar provoca grande angustia materna (ARAÚJO; LIMA, 2011).
  Uma  estratégia para minimizar este processo, seria a família oferecer informações  referente à criança aos professores e iniciar a construção de um alicerce da  inclusão escolar, visto que possui um papel decisivo neste processo e sucesso  (SERRA, 2008). Já Parolin (2012) destaca que envolver os familiares e todo o grupo  de profissionais da escola nesse levantamento de dados é essencial, visto que  além de contribuir com as informações pertinentes à criança e a família,  aumenta a possibilidade de eficácia nas ações pedagógicas que serão propostas  para a criança, pois compromete todo o grupo que cria um elo de pertencimento e  parceria, além do fator emocional que advêm deste momento de compartilhamento.
  Nesta  vertente, Araújo e Lima (2011) relatam da importância de um espaço onde as  famílias possam dialogar com o profissional de ensino sobre seus temores e  expectativas sobre a inclusão escolar de seu ente. O surgimento de grupos de  famílias pode ser um primeiro passo para facilitar o processo de inclusão da  criança com deficiência na escola comum.
  É  relevante salientar que a entrada da criança com deficiência na escola tem  ocorrido cada vez mais cedo, em razão das próprias necessidades impostas aos  pais pela sociedade contemporânea e também pelo impulso dado pelo advento da  inclusão. Neste momento a família deve ser prudente na escolha desta escola, ou  seja, é importante que seja escolhida a melhor escola para o filho, e que esta  ofereça condições físicas, materiais e humanas adequadas para recebê-lo e que  se cumpra a tarefa de educá-lo compreendendo suas limitações e potencialidades  dele (VEIGA, 2008).
              Na inclusão escolar da criança com  deficiência, os pais passam a ter novas experiências através do contato com  outras famílias e a acreditar nas possibilidades de desenvolvimento e  aprendizagem sistemática de seus filhos. Neste processo o ambiente escolar é o  único espaço social que divide com a família a responsabilidade de educar e  que, de certa forma trabalha a unidade da coletividade (SERRA, 2008). Entretanto,  isso só será possível se a escola e a família estabelecerem uma relação pautada  no diálogo, no respeito e na confiança mútua (VEIGA, 2008).
  4) CONSIDERAÇÕES FINAIS
              Na execução  deste estudo foi notório a escassez de literatura relacionada com a tríade  criança com PC, professor e família no  processo de inclusão escolar em creches na etapa da Educação Infantil. Ao  considerar a PC como uma disfunção neuromotora comum em nosso país e que as  famílias destas crianças apresentam o direito de matricular seus filhos(as) na  Educação Infantil, esta situação pode ser configurada como um hiato científico  a ser explorado em futuras pesquisas relacionadas ao processo de inclusão  escolar de crianças com deficiência. Assim, aponta-se que o processo de  inclusão escolar de crianças com PC está em construção na sociedade  contemporânea brasileira. 
  Para  tanto, o aluno com PC deve ser entendido como um ser social, cultural, ou seja,  ator social, com direitos e deveres. Ele necessita interagir com as pessoas, o  ambiente, os objetos e com ele mesmo. Sua condição clínica deve ser melhor  compreendidas pelos professores para que haja um melhor planejamento de suas  aulas. Já o professor deve-se centrar no aluno, romper com as entranhas do  ensino tradicional e mediar o processo de aprendizagem com o pressuposto que  todos são capazes de aprender e também de ensinar. As práticas metodológicas  para o aprendizado devem potencializar as habilidades intrínsecas de cada  aluno. Esse olhar individualizado seria algo fundamental para a desenvolvimento  global do aluno com PC. Quanto à família, ela é o seu marco referencial, pilar  para o sua introdução e inclusão na Educação Infantil. Ela necessita também ser  incluída no ambiente escolar. O diálogo entre membros da comunidade escolar e  pais atenua o medo do processo inclusivo, favorece o bem-estar familiar e  escolar, assim como esclarece muitas dúvidas mútuas, tanto dos membros da  escola quanto dos pais das crianças com PC. 
              Assim, a tríade aluno – professor –  família tem que ser bem alicerçada e uma sintonia necessita ser construída para  o favorecimento da inclusão escolar de crianças com PC na Educação Infantil.
  Uma educação  para todos não significa criar várias formas de educação, diferenciando-a para  cada tipo de sujeito; e sim, aceitar a existência de uma diversidade humana, em  detrimento da marcação da diferença.
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** Doutora em Engenharia de Produção, com ênfase em Ergonomia, docente da Universidade Feevale, Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul, Brasil. Áreas de atuação: Trabalho e inclusão social, saúde do trabalhador, ergonomia, inclusão de PCD no trabalho, design macroergonômico, qualidade de vida no trabalho. Linha de Pesquisa: Saúde e Inclusão Social. jacinta@feevale.br
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