Revista: CCCSS Contribuciones a las Ciencias Sociales
ISSN: 1988-7833


ENCENAÇÃO TEATRAL DA RETIRADA DA LAGUNA NO MUNICÍPIO DE NIOAQUE-MS

Autores e infomación del artículo

Maria Augusta de Castilho*

Thayliny Zardo **

Arlinda Cantero Dorsa ***

Universidade Católica Dom Bosco, Brasil

thay_zardo@hotmail.com

RESUMO

O estudo fundamenta-se nos pressupostos teóricos que embasam os conceitos de patrimônio cultural, memória, território, espaço, territorialidade e capital humano, tendo como vertente primordial a encenação teatral da Retirada da Laguna no contexto da Guerra do Paraguai, que acontece anualmente em Nioaque - MS, desde 2004. As reflexões acerca desse fato histórico permeiam a memória dos habitantes locais rememorados por seus antepassados que enfatizam as relações fronteiriças entre Brasil e Paraguai. O método adotado na pesquisa foi o indutivo com abordagem quali-quantitativa, com ênfase nos fatores qualitativos realizados por meio de observações in loco da referida encenação. Ao lançar mãoda história oral optou-se, principalmente, pelas narrativas das experiências vivenciadas pela comunidade envolvida nas festividades, expondo os valores simbólicos e a identidade local estimulada a participar do evento, deixando desabrochar o sentimento de pertença intrínseco nos habitantes fronteiriços da região.
PALAVRAS-CHAVE: Patrimônio cultural, Teatro, Retirada da Laguna, Guerra do Paraguai, Território.

RESUMEN

El estudio se basa en suposiciones teóricas que subyacen en el patrimonio cultural de los conceptos, la memoria, el territorio, el espacio, la territorialidad y el capital humano, con el lado primario de la puesta en escena teatral de la retirada de Laguna en el contexto de la Guerra del Paraguay, que se celebra anualmente en Nioaque - EM desde 2004. Las reflexiones sobre este hecho histórico impregnan la memoria de los lugareños rememorados por sus antepasados que hacen hincapié en las relaciones fronterizas entre Brasil y Paraguay. El método utilizado en la investigación fue la inductivo con enfoque cualitativo y cuantitativo, con énfasis en factores cualitativos obtenidos a través de las observaciones in situ de ese escenario. Para hacer uso de la historia oral fue elegido principalmente por las narrativas de las experiencias de la comunidad que participan en las festividades, la exposición de los valores simbólicos y la identidad local animó a asistir al evento, dejando en flor sentido de pertenencia intrínseca a los habitantes de la frontera.

PALABRAS CLAVE: patrimonio cultural, Teatro, La retirada de Laguna, la Guerra del Paraguay, Territorio.

Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Maria Augusta de Castilho, Thayliny Zardo y Arlinda Cantero Dorsa (2017): “Encenação teatral da retirada da laguna no Município de Nioaque-ms”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, (julio-septiembre 2017). En línea:
http://www.eumed.net/rev/cccss/2017/03/encenacao-teatral-nioaque.html

http://hdl.handle.net/20.500.11763/cccss1703encenacao-teatral-nioaque


INTRODUÇÃO

           A pesquisa é fruto de um estudo sobre aspectos históricos e culturais da encenação teatral da Retirada da Laguna no contexto da Guerra do Paraguai que acontece anualmente em Nioaque - MS. O estudo foi baseado em teóricos que escreveram sobre o patrimônio cultural, como sendo uma herança de uma sociedade (local ou regional), que no seu conjunto realiza festividades tradicionais ao longo de sua história, fazendo desabrochar o sentimento de pertença de uma comunidade municipal.
            A proposta objetiva demonstrar a relevância do patrimônio cultural enquanto memória na vida dos habitantes locais e regionais e seus aspectos econômicos e de suas trajetórias de vida.
            O estudo também pautou-se na História do Brasil sobre o referido fato histórico, e também no patrimônio cultural, na memória, no território, no espaço, na territorialidade e no capital humano, para dar consistência ao trabalho em tela, analisando o patrimônio cultural enquanto testemunho de processos históricos que elaboraram distintas construções territoriais (espaciais) e históricas.
            Propõe-se desenvolver reflexões acerca da memória e identidade territorial, aspectos da cultura sul-mato-grossense (encenação teatral), bem como da consequente necessidade de gestão e preservação deste patrimônio tão importante para a preservação do acervo local e regional que servirão de referência para as gerações futuras.
            Enfatiza-se que para que a preservação do patrimônio cultural aconteça é necessário que a própria comunidade participe como gestora, identificando e reconhecendo suas deficiências e/ou necessidades e tomando atitudes necessárias para resolvê-las da forma mais prática e adequada, muitas vezes, valendo-se da preservação e divulgação do patrimônio cultural local.

1 ASPECTOS CONCEITUAIS QUE EMBASARAM A PESQUISA

A compreensão da relevância de um fato para uma comunidade vai muito mais além do que apenas delineá-lo historicamente. É preciso assimilar todo um complexo conceitual envolvido em sua história, de modo a fazê-lo reconhecido como herança social por parte da comunidade.

a) Patrimônio cultural
A cultura representa um dos principais aspectos formadores da identidade social, capaz de reunir, em apenas um bem cultural, a essência humana, a consciência de si e o sentido da presença do homem na construção, transformação e significação do mundo à sua volta, por exemplo. Por essa razão, quando se aborda a cultura de um povo, destacam-se seus costumes de vida, suas características, seus valores e crenças, enfim, sua personalidade, tal como entende a UNESCO (2002, p. 2):

[...] a cultura deve ser considerada como o conjunto dos traços distintivos espirituais e materiais, intelectuais e afetivos que caracterizam uma sociedade ou um grupo social e que abrange, além das artes e das letras, os modos de vida, as maneiras de viver juntos, os sistemas de valores, as tradições e as crenças.

Nessa perspectiva, a cultura promove uma diversidade cultural na sociedade, fazendo com que cada grupo social seja único no espaço e no tempo. Prova disso, são as manifestações e patrimônios culturais, responsáveis por determinar e solidificar a identidade cultural da comunidade, por meio da expressão dos seus sentimentos comuns e particularidades (GUIMARÃES, 2004), como vem ocorrendo anualmente na encenação teatral da Retirada da Laguna em Nioaque - MS.
As manifestações culturais são, todavia, dependentes da memória cultural da comunidade, razão pela qual é de suma importância a preservação dessa memória e dos valores culturais inseridos nela. No mesmo sentido é a preservação do patrimônio cultural, seja ele material ou imaterial, composto pelos bens culturais produzidos pela comunidade e, portanto, de propriedade desta, que auxiliam a preservação cultural de uma comunidade.
Importante observar que o patrimônio cultural de um povo transcende à soma de bens culturais. Ele também engloba a cidadania, a ética, a pátria e a própria vida da comunidade, associando-se aos grupos sociais aos quais pertence e que acabam por reconhecê-lo como parte integrante junto aos indivíduos, transmitindo-o de geração em geração. A cada nova geração comunitária, recria-se, em parte, o patrimônio cultural, pois surgem novas interações, significações e influências dos grupos sociais vigentes, conferindo-lhe, então, o sentimento de identidade com a comunidade a que pertence e, por conseguinte, auxiliando na promoção da criatividade humana e diversidade cultural. Assim, a cultura é

[...] transmitida de geração a geração, constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade, contribuindo para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana. É apropriado por indivíduos e grupos sociais como importantes elementos de sua identidade (IPHAN, 2014).

E no mesmo sentido leciona a UNESCO (2002, p. 4) sobre o patrimônio cultural:

DIVERSIDADE CULTURAL E CRIATIVIDADE
Artigo 7 -  O patrimônio cultural, fonte da criatividade
Toda criação tem suas origens nas tradições culturais, porém se desenvolve plenamente em contato com outras. Essa é a razão pela qual o patrimônio, em todas suas formas, deve ser preservado, valorizado e transmitido às gerações futuras como testemunho da experiência e das aspirações humanas, a fim de nutrir a criatividade em toda sua diversidade e estabelecer um verdadeiro diálogo entre as culturas.

Preservar e conservar o patrimônio cultural de um povo, como ocorre no município de Nioaque - MS, na encenação teatral da Retirada da Laguna, não significa apenas proteger seus bens culturais, mas sobretudo consiste na proteção do cotidiano, das vivências e experiências passadas de toda uma comunidade. É o resguardo de valores, crenças e tradições que superaram os obstáculos temporais e contribuem para o crescimento, desenvolvimento e, principalmente, amadurecimento de um grupo social, de uma comunidade, enfim, de uma nação.

b) Memória
Atualmente, a interligação da sociedade em redes provocou uma espécie de aceleração social, em que todos voltam-se apenas para o novo, o moderno, a inovação em detrimento ao antigo, ao passado, à lembrança. A memória ficou à mercê social, de modo que sem ela, a identidade, o sentimento de pertença e os valores de um povo restam prejudicados.
Nora (1993, p. 9) define memória como:
O sentimento vivo, carregado pelos indivíduos como um elo vivido no eterno presente, é mágica e afetiva, se alimenta de lembranças vagas, particulares ou simbólicas, sensível a todas as transformações, guardada no íntimo do indivíduo, porém, a história a liberta, tornando conhecido o fato, é uma reconstrução de algo já não mais existente e incompleto, uma reconstrução do passado, uma operação intelectual.

Memória e história caminham lado a lado, pois é a história quem dá sentido e vida às lembranças. É a história quem concretiza os fatos guardados na memória, tornando-os conhecidos para a comunidade e auxiliando na compreensão do mundo social. Nesse sentido “lembrar não é reviver, mas refazer, reconstruir e repensar as imagens de hoje, com as experiências do passado” (BOSI, 1994, p. 55).
Resgatar a memória, seja ela individual ou coletiva de uma comunidade, vai além da mera descrição de fatos históricos. Recorrer à memória, externalizando-a pela história, é demonstrar as raízes de um povo, é compreender a construção de sua identidade e comportamento, sendo possível reconhecer vivências passadas e reconstruí-las no presente em benefício às comunidades contemporâneas.

c) Território e territorialidade
Território e territorialidade são termos associados à ideia de reinvenção dos espaços ocupados pelo homem, constituindo-os como base física para a instituição das comunidades.
O território esculpe, transfigura e ajusta o espaço social aos indivíduos. A territorialidade, por seu turno, controla, delimita e influencia esses espaços, de modo a tornar evidente a interação espaço-sujeito. Ambos espelham a identidade dos agentes que ocupam determinado local de acordo com os objetivos de controle social trazidos por cada um, sejam pessoas, grupos, Estado ou empresas, por exemplo, todos direcionados a constituição de uma comunidade.
Nessa diapasão Haesbaert (2004, p. 3), ensina que território e territorialização carregam “a multiplicidade de suas manifestações - que é também e, sobretudo, multiplicidade de poderes, neles incorporados através dos múltiplos sujeitos envolvidos”.
Já Raffestin (1993) assinala que a territorialidade liga-se ao território, de modo que o espaço territorial apenas se forma mediante relações de poder que envolve uma multidimensionalidade, sendo exercido em todas as esferas e escalas, de modo que sempre será a chave - em toda relação que circula o poder, mas sim exercendo-o (RAFFESTIN, 1993, p. 1).
O território e territorialidade apresentam particularidades dos grupos sociais com os quais se relacionam, exprimindo suas vivências multidimensionais, de modo que cada espaço territorial é exclusivo no espaço e no tempo. Em suma, território e territorialidade representam a identidade dos agentes que atuam sobre determinado espaço geográfico ou, ao menos, uma parte desses agentes; é o produto da construção histórica e cultural do homem, demonstrando-se a interação entre sujeito e território ocupado.

d) Sentimento de pertença
O sentimento de pertença dos indivíduos a um lugar ou a um grupo é o elo de coesão e manutenção de uma comunidade, de modo que pertencimento, lugar e comunidade estão intimamente ligados. Sobre o tema, Spinelli Júnior (2006, p. 01) assevera que:

A definição de comunidade tem passado, sobretudo pela afirmação de sua dimensão subjetiva: a comunidade se estrutura a partir de um sentimento de comunidade, de um senso de pertencer à determinada coletividade.

Interesses e ideais comuns, princípios e valores semelhantes, visões de mundo compartilhadas, memórias individuais e coletivas similares, quanto ao passado histórico, todos reunidos em um território comum com o qual a coletividade se identifica, são alguns pressupostos do sentimento de pertença dos indivíduos para com o lugar ocupado. Nessa linha aduz Bonnemaison (2002: 91) que “a correspondência entre o homem e o lugar, entre uma sociedade e sua paisagem, está carregada de afetividade e exprime uma relação cultural no sentido amplo da palavra”.
O pertencimento corresponde ao envolvimento e afeto entre os agentes sociais e seu ambiente de vida; são os laços que unem o indivíduo a uma comunidade, seja no modo de ser, seja nos hábitos e comportamentos de vida do grupo, fazendo com que ele se sinta parte plena do convívio comunitário, detentor de todas as funções, valores e regras existentes. Nas palavras de Tuan (1980, p. 5), correlacionando pertencimento a topofilia, consiste no “elo afetivo entre as pessoas e o lugar ou ambiente físico. Difuso como conceito, vívido e concreto como experiência pessoal”. Quanto maior o afeto sujeito-território, mais fortes são os vínculos comunitários, de modo que a comunidade apresenta-se enraizada ao espaço territorial. Para tanto, é fundamental a manutenção das relações emocionais e o apego pelo local, para manter a comunidade íntegra, sólida, até mesmo como forma de viabilização ao desenvolvimento, pois o agente social enraizado nutre o anseio de ver o lugar crescer/progredir social, política, cultural e economicamente.

e) Capital social
A evolução da sociedade permitiu que a concepção de capital social sofresse alterações ao longo dos anos. O termo perdeu o caráter político-econômico para assumir aspectos societários, relacionados ao Desenvolvimento em Escala Humana, o qual centraliza o desabrochamento das habilidades e potencialidades da comunidade na pessoa humana.
O capital social representa a força propulsora de desenvolvimento local comunitário. É a pessoa humana quem instrui as relações sociais a voltarem-se para atividades desenvolvimentistas, de modo que as ações locais emergem da própria coletividade, tal como enfatiza Ávila (2000, p. 69):

[...] a comunidade mesma desabrocha suas capacidades, competências e habilidades de agencia- mento e gestão das próprias condições e qualidade de vida, “metabolizando” comu- nitariamente as participações efetivamente contributivas de quaisquer agentes externos. (sic)

Nesse contexto, o capital social pode ser entendido como as “[...] características de organização social, como confiança, normas e sistemas que contribuem para aumentar a eficiência da sociedade, facilitando as ações coordenadas” (PUTNAM, 1996, p. 177 apud TABOSA et al, 2004, p. 2). Tanto a confiança, solidariedade, reciprocidade, como a cooperação entre os agentes sociais, são condições basilares ao capital social, capazes de engendrar a mobilização coletiva em busca do desenvolvimento comunitário.
A mobilização social funciona como um despertador da consciência humana, em que os agentes sociais se unem para promover a organização da sociedade, incluindo as camadas invisíveis e excluídas da comunidade, todos com o objetivo de mudar certa situação. Os agentes sociais que compartilham dos mesmos sentimentos, objetivos e conhecimentos reúnem-se para a mudança de uma determinada realidade, por meio de soluções e estratégias encontradas pela coletividade. Ocorre, então, a sinergia social, em que a população local se organiza para desenvolver o lugar, ao mesmo tempo em que preserva os valores imateriais, a cultura e história local, de modo sustentável, ou seja, conservando seus recursos naturais.
Dessa forma, o capital social (atores sociais) consiste na essência da sinergia social. Apenas com o envolvimento coletivo e participativo dos agentes locais no planejamento e gestão de atividades comunitária é que se caminhará para a melhoria das condições de qualidade de vida, de modo a atingir o desenvolvimento local pleno e satisfatório.

2 A MARCHA DA RETIRADA DA LAGUNA

            O fato histórico encenado no município está dentro da manobra militar das Guerra do Paraguai denominada Retirada da Laguna. Este termo foi cunhado pela narrativa inserida no livro de Visconde de Taunay “Retirada da Laguna” (TAUNAY, 1995).
            Este autor demonstra como a tropa brasileira encarregada de fazer uma incursão no território paraguaio estava despreparada, tática e estruturalmente para a demanda. O exército vagava por um terreno desconhecido, carecia de suprimentos alimentares e bélicos, ademais o corpo militar era amador, sendo que muitos morreram antes mesmo do primeiro embate. Taunay (1995) destaca que dos três mil soldados reunidos no começo da missão apenas setecentos sobreviveram ao final.
            A principal causa da mortandade foram as doenças (cólera, béri-béri e o tifo) relacionadas com a falta de higiene, com a fome e a carência de suprimento médicos.
            Há de se notar também que a “tropa” de militares eram acompanhados por familiares e agregados que ao longo do caminho iam se juntando aos combatentes.
O trajeto percorrido nesta marcha, Brasil-Paraguai, saíra de Miranda-MS indo até onde se encontra, atualmente o município de Bela Vista-MS, adentrando ao solo paraguaio até a região conhecida como Laguna.
Taunay (1995) ainda assinala que a partir da vila Nioac (antiga denominação da cidade de Nioaque-MS) o exército contou com a ajuda de José Francisco Lopes, um brasileiro que tinha propriedade na região da fronteira e que conhecia muito bem a região.
Ocorre que já em solo paraguaio, e devido as doenças e mortes, sendo vítimas de emboscadas pelos reveses, a tropa liderada pelo Coronel Carlos Morais Camisão resolveu bater em retirada a fim de se reestruturar em solo brasileiro.
No caminho desta fuga passam pela vila de Nioac onde os paraguaios tinham armado outra armadilha.

3 A FESTA DA ENCENAÇÃO TEATRAL DA RETIRADA DA LAGUNA NO CONTEXTO DA GUERRA DO PARAGUAI EM NIOAQUE - MS

            A encenação é dirigida pelos militares do 9º Grupo de Artilharia e Combate Mecanizado (GAC) que está instalado no município de Nioaque-MS e conta com a participação da prefeitura municipal e pessoas da comunidade.
            Todos os atores são amadores, sendo que os ensaios ocorrem no próprio local. Pessoas da comunidade, voluntariamente, são responsáveis por confeccionar os cenários e os figurinos, reforçando o sentimento de pertença que se tem sobre o espetáculo.
            O roteiro da encenação foi baseado na obra de Visconde de Taunay “Retirada da Laguna” e consiste em um episódio de armadilha que os paraguaios armaram para o exército brasileiro.
            É ele: O exército paraguaio se adianta ao nosso e coloca pólvora dentro de uma igreja na, então destruída vila Nioac. Os brasileiros ao chegarem ao local, vendo sua desolação procuram por mantimentos, sendo que alguns soldados entram com pólvora dentro do único edifício que ainda se mantinha em pé, a igreja. Como estava escuro dentro do local um dos soldados acende algo para iluminar o que provoca uma grande explosão e consequente incêndio.
            O ponto de encerramento da encenação é a homenagem aos militares mortos dessa armadilha paraguaia, fixando cruzes que fazem menção a cada um dos mortos que são homenageados.   

4 REFLEXÕES SOBRE O FATO HISTÓRICO E AS NARRATIVAS DOS PARTICIPANTES DA ENCENAÇÃO TEATRAL

Como o evento de encenação teatral da Retirada da Laguna ainda é novo (iniciou em 2004), há um temor de que o mesmo se perca, por isso existem tentativas do exército brasileiro para que a comunidade passe a dirigir o espetáculo. Pode-se ver bem que os participantes e a comunidade em geral têm se apossado deste evento, que antes era somente militar.
Para reforçar, em 2013, a prefeitura municipal criou o Festival Retirada da Laguna, que consiste em eventos festivos no final de semana da encenação, iniciando na sexta-feira anterior ao domingo, que é realizada a encenação. Os eventos festivos são compostos de atrativos musicais, barracas típicas e apresentações de artistas da cidade.
Diante de depoimentos dos participantes e da plateia presente identificou-se que esse sentimento de pertença brota muito forte na comunidade. 

“Foi muito bom fazer, me senti um ator [...] A gente lembra da história, que é tão esquecida [...] Vê como Nioaque érea importante pra época [...]. Vê como tinha (sic) muitos heróis por aqui [...]” (Francisco Gomes, membro da comunidade, ator na encenação).

“Eu nem sabia que tinham explodido a igreja. Esses paraguaios são maus mesmo” (Dona Maria Gazote, expectadora).

“O município carecia de um evento que o projetasse [...]. Com a Retirada da Laguna (evento de encenação) ganha a população uma possibilidade de renda com o turismo e uma recordação da memória da nossa gente, com o fato que aconteceu aqui nesta cidade” (Gerson Garcia, prefeito municipal).
  
Os envolvidos sejam atores, idealizadores ou expectadores, guardam e recordam este fato histórico e pode-se perceber o sentimento de orgulho, aumento da autoestima, com sua localidade. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

            Apesar da encenação teatral da Retirada da Laguna ainda carecer de mais tempo para verificar se a mesma foi, realmente apropriada pela comunidade pode-se destacar muitos pontos positivos em sua realização com relação ao “ganho” para o município.
            Aspectos importantes para o desenvolvimento local como identificação da comunidade como território no qual está inserida, aspectos da memória na formação do patrimônio histórico, sentimento de pertença estão presentes no contexto da encenação da Guerra do Paraguai.

           
Faz-se necessário mais estudos da encenação no decorrer dos anos, mas poderá surgir um fomento de desenvolvimento local da comunidade nioquense.     

REFERÊNCIAS

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TAUNAY, Visconde. A Retirada da Laguna. São Paulo-SP: Martin Claret, 1995.

TUAN, Yi-Fu. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. SãoPaulo: Difel, 1980.

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*Universidade Católica Dom Bosco. m.a.castilho@terra.com.br;

** Universidade Católica Dom Bosco thay_zardo@hotmail.com;

*** Universidade Católica Dom Bosco acdorsa@uol.com.br.


Recibido: 21/04/2017 Aceptado: 03/08/2017 Publicado: Agosto de 2017

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