Revista: CCCSS Contribuciones a las Ciencias Sociales
ISSN: 1988-7833


DISCUSSÕES SOBRE A RELAÇÃO ENTRE DESASTRES E TURISMO NO BRASIL A PARTIR DA MULTIDISCIPLINARIDADE*

Autores e infomación del artículo

Marcelo Mariano da Rocha**

Valdinho Pellin***

Universidade Regional de Blumenau, Brasil

prof.pellin@tpa.com.br

Resumo

A multidisciplinariedade se constitui em uma ferramenta importante para considerar as relações multidimensionais que surgem das discussões entre turismo e os desastres no território. O presente trabalho tem como objetivo estimular uma reflexão acerca da relação entre desastres e turismo na destinação turística Costa Verde e Mar, em Santa Catarina, sul do Brasil. Ao mesmo tempo em que a destinação atrai milhares de turistas anualmente, em função de seus atrativos, tanto naturais, quanto culturais, ela possui um histórico de desastres que ocorreram ao longo de sua história afetando a atividade turística direta e indiretamente. Metodologicamente o artigo se ancora em pesquisa bibliográfica e documental consubstanciada em literatura nacional e internacional sobre desastres e turismo e em documentos e relatórios de entidades governamentais que atuam na área de desastres. Foi possível concluir, a partir das reflexões provocadas, que turismo e desastres precisam ser entendidos a partir de uma visão multidisciplinar por incorporarem elementos de várias áreas do conhecimento.
Palavras Chaves: Multidisciplinaridade. Turismo. Desastres. Desenvolvimento Regional. Território.
Abstract

Multidisciplinarity is an important tool to consider the multidimensional relationships that arise from discussions between tourism and disasters in the territory. The present work aims to stimulate a reflection on the relationship between disasters and tourism in the Costa Verde and Mar tourist region, in Santa Catarina, southern Brazil. At the same time that the region attracts thousands of tourists annually, it has a history of disasters that occurred throughout its history affecting the tourist activity directly and indirectly. Methodologically, the article is anchored in a bibliographical and documental research based on national and international literature on disasters and tourism and on documents and reports of governmental entities that work in the area of ​​disasters. It was possible to conclude, from the reflections provoked by the research, that tourism and disasters need to be understood from a multidisciplinary view by incorporating elements from several areas of knowledge.

Key-words: Multidisciplinarity. Tourism. Disasters. Regional development. Territory.

Resumen

La multidisciplinariedad se constituye en una herramienta importante para considerar las relaciones multidimensionales que surgen de las discusiones entre turismo y los desastres en el territorio. El presente trabajo tiene como objetivo estimular una reflexión acerca de la relación entre desastres y turismo en la región turística Costa Verde y Mar, en Santa Catarina, sur de Brasil. Al mismo tiempo que la región atrae a miles de turistas anualmente, posee un historial de desastres que ocurrieron a lo largo de su historia afectando la actividad turística directa e indirectamente. Metodológicamente el artículo se ancla en una investigación bibliográfica y documental consubstanciada en literatura nacional e internacional sobre desastres y turismo y en documentos e informes de entidades gubernamentales que actúan en el área de desastres. Es posible concluir, a partir de las reflexiones provocadas por la investigación, que el turismo y los desastres necesitan ser entendidos a partir de una visión multidisciplinaria por incorporar elementos de varias áreas del conocimiento.

Palabras claves: Multidisciplinariedad. Turismo. Desastres. Desarrollo Regional. Territorio.


Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Marcelo Mariano da Rocha y Valdinho Pellin (2017): “Discussões sobre a relação entre desastres e turismo no Brasil a partir da multidisciplinaridade”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, (julio-septiembre 2017). En línea:
http://www.eumed.net/rev/cccss/2017/03/desastres-turismo-brasil.html

http://hdl.handle.net/20.500.11763/cccss1703desastres-turismo-brasil


1. Introdução

A multidisciplinariedade se constitui em ferramenta importante para considerar as relações multidimensionais que surgem das discussões entre turismo e desastres no território.
Pressupõe a consideração da ambivalência que surge entre a necessidade de difundir uma imagem de território positiva para atração do turista e, ao mesmo, tempo os eventuais efeitos negativos provocados pelo impacto dos desastres em um território. A compreensão desta relação sugere a necessidade de tratar estes estudos a partir de diversas disciplinas simultaneamente porque se trata de uma situação complexa, que envolve tanto a consideração de dimensões naturais relacionadas aos desastres, como dimensões sociais relacionadas ao turismo.
O interesse na consideração multidisciplinar da relação entre turismo e desastres resulta da percepção que as “preocupações políticas para o setor só aparecem quando este adquire importância econômica ou quando começa a causar transtornos” (SOLHA, 2006, p.90). Antes disso, o setor se caracteriza pela falta de planejamento e gestão, com pouco ou nenhum controle de seu desenvolvimento por parte dos gestores, obedecendo apenas umas de suas principais características: à lei de mercado.
 Nesse sentido, a multidisciplinaridade pode se tornar importante para a compreensão da relação entre desastres e turismo na medida em que procura envolver várias áreas do conhecimento como, por exemplo, geografia, sociologia, história, meteorologia, hidrologia, entre outras. Desta forma, a multidisciplinaridade pode-se tornar uma ferramenta de auxílio para a elaboração de um plano de gestão e planejamento contra os impactos negativos dos desastres na atividade turística.
A partir deste contexto, o artigo pretende estimular uma reflexão acerca da importância da multidisciplinaridade na abordagem da relação entre os impactos dos desastres sobre o desenvolvimento da atividade turística na destinação turística Costa Verde e Mar, em Santa Catarina, sul do Brasil. Para tanto, possui dois objetivos específicos: (i) caracterizar a multidisciplinaridade e seus desafios enquanto campo de estudo; e (ii) relacionar a atividade turística e desastres enquanto elementos multidisciplinares.
Metodologicamente o artigo se ancora em uma pesquisa bibliográfica e documental de caráter descritiva consubstanciada em literatura nacional e internacional sobre desastres e turismo e em documentos e relatórios oficiais de entidades governamentais que atuam na área de desastres, principalmente na região turística Costa Verde e Mar, em Santa Catarina, sul do Brasil.

2. Os desafios atuais da multidisciplinaridade

O desenvolvimento institucional da ciência sempre se baseou no estabelecimento de estratégias para controlar, estimular e intensificar a criação de novas teorias e descobertas científicas. Desta forma, são constantemente formuladas e estabilizadas um conjunto de regras, ao mesmo tempo, morais e técnicas, que procuram regular e orientar tanto a relação dos cientistas entre si (princípios) como a relação deles com o mundo (método científico). Até hoje essas regras visam inibir anomalias e incrementar novas descobertas pelos possíveis benefícios que a produção regular e sistemática do conhecimento pode proporcionar à sociedade. Na medida em que as descobertas científicas se tornaram a base da inovação tecnológica este processo tornou-se fundamental e essa reflexão foi regularizada em áreas de conhecimento como, por exemplo, a sociologia da ciência e a epistemologia. Assim, se, por um lado, o processo de desenvolvimento científico tende a especialização, a necessidade de aplicação do conhecimento força a necessidade de integração.
Paralelamente nos últimos anos um conjunto novo de fenômenos vem colocando novos desafios ao desenvolvimento científico. Entre os principais pode-se assinalar a questão dos problemas ambientais, a globalização, a família, a violência, o desenvolvimento regional, a biotecnologia, a educação, a democracia e a própria ciência. Algumas iniciativas já são amplamente reconhecidas tanto na comunidade científica como na sociedade: estudos sociais das ciências e da tecnologia, estudos ambientais, estudos culturais e de gênero, bem como as pesquisas sobre desastres e turismo. Estas áreas temáticas envolvem a combinação de diversos tipos de informação, forçando, muitas vezes, as próprias fronteiras entre as ciências naturais e as ciências sociais.
 É neste contexto que surge a importância da interdisciplinaridade, transdisciplinaridade e multidisciplinaridade. Entender suas contribuições nas discussões de novos fenômenos de estudo, bem como seus desafios passa a ser fundamental diante de um novo cenário científico que se apresenta. Até porque, ao que tudo indica, a inovação científica e tecnológica surge sempre nos pontos de intersecção de várias disciplinas.
A partir das discussões em torno do desenvolvimento institucional da ciência, a abordagem multidisciplinar foi se fortalecendo, disseminando e se impondo como estratégia de abordagem. Contudo, não existe ainda consenso sobre qual a melhor estratégia para se conceber uma abordagem multidisciplinar. Segundo Arantes Fazenda (2011), a multidisciplinaridade é a visão menos compartilhada de todas as três visões. Para o autor, um elemento pode ser estudado por disciplinas diferentes ao mesmo tempo, contudo, não ocorrerá uma sobreposição dos seus saberes no estudo do elemento analisado.
Entretanto, para Almeida Filho (1997) a ideia mais correta para esta visão seria a da justaposição das disciplinas cada uma cooperando dentro do seu saber para o estudo do elemento em questão. Cada pesquisador cooperará com o estudo dentro da sua própria ótica; um estudo sob diversos ângulos, mas sem existir um rompimento entre as fronteiras das disciplinas. Como um processo inicial rumo à tentativa de um pensamento horizontalizado entre as disciplinas, a multidisciplinaridade institui o início do fim da especialização do conteúdo.
É possível definir com mais clareza a multidisciplinaridade a partir do conceito de Almeida Filho (1997, p. 11):

[....] conjunto de disciplinas que simultaneamente tratam de uma dada questão, problema ou assunto (digamos, uma temática), sem que os profissionais implicados estabeleçam entre si efetivas relações no campo técnico ou científico. É um sistema que funciona através da justaposição de disciplinas em um único nível, estando ausente uma cooperação sistemática entre os diversos campos disciplinares. A coordenação; quando existente, é de ordem administrativa, na maioria das vezes externa ao campo técnico-científico.

A questão da coordenação é decisiva para a abordagem multidisciplinar e, segundo Kubrusly e Dantas (2012), dentro dos mais respeitados centros de pesquisa científica é possível verificar certo clamor por um comportamento científico multidisciplinar ou mesmo interdisciplinar.
Na verdade, esta estratégia deve ser concebida como um tratado de tolerância que admite diversas vias de concepção e abordagem dos fenômenos. Por isso, atualmente, muitas pesquisas realizadas em diversas áreas da ciência estão sendo desenvolvidas a partir do pressuposto da visão multidisciplinaridade, ou seja, várias áreas do conhecimento vêm trabalhando em conjunto para investigar tal fenômeno e/ou elemento a fim de propor tais soluções e/ou adquirir novos conhecimentos. Segundo Leef (2001) um elemento pode ser estudado por disciplinas diferentes ao mesmo tempo, sem que ocorra necessariamente uma sobreposição dos seus saberes no estudo do elemento analisado.
A grande dificuldade nesta linha de trabalho se encontra na difícil localização da "via de interarticulação" entre as diferentes ciências. Nesse sentido, é importante lembrar que cada uma delas possui uma linguagem própria e conceitos particulares que precisam ser traduzidos entre as linguagens (MORIN, 2000). Esse debate da importância da pesquisa multidisciplinar se tornou essencial para buscar novas formas de análise de um fenômeno e/ou elemento que causa algum tipo de interferência na sociedade.  O saber multidisciplinar tornou-se algo de extrema importância, sendo que a partir desse campo científico se reúne uma diversidade de pesquisadores com proposito de investigar tal elemento.
O estudo multidisciplinar vem abordando diversas áreas de pesquisa como: saúde, educação e meio ambiente. Aliás, segundo Leff (2001 p.61) “foi sobretudo a problemática ambiental que promoveu a transformação dos conhecimentos teóricos e práticos nos quais se funda a racionalidade social e produtiva dominante”. Assim, a área ambiental vem utilizando o saber multidisciplinar para analisar as modificações no meio, tendo à ação antrópica como principal agente de interferência.
Portanto, a multidisciplinariedade se constitui em uma estratégia adequada para considerar as relações multidimensionais que surgem da consideração do turismo e os desastres no território. Em síntese, pode-se dizer que a multidisciplinariedade constitui uma nova resposta para velhos problemas, ou seja, as velhas questões relacionadas à tendência de somente considerar as dimensões positivas na territorialização do turismo.

3. O desenvolvimento do turismo no contexto multidisciplinar

Segundo Rejowski e Solha (2002) foi após a Segunda Guerra Mundial que a atividade turística se consolidou e se expandiu. Ao mesmo tempo, percebeu-se com mais clareza os riscos e oportunidades do seu desenvolvimento. Foi nesse período também que se observou a massificação do turismo possibilitada por fatores políticos, econômicos, educacionais, culturais, sociológicos e trabalhistas.
Diante disso, a atividade turística se tornou uma atividade de massa, inclusive no Brasil. O turismo no Brasil teve seu crescimento e fortalecimento baseado inicialmente na exploração dos recursos naturais, e isso ficou evidenciado nos discursos tanto do poder público, quanto do setor privado.
Desta forma, foi necessário tentar compreender como esse fenômeno se desenvolvia no país para tentar analisar qual seria seu papel na sociedade. Foi a partir deste momento que alguns campos da ciência passaram a perceber o turismo como um campo complexo que envolve várias áreas de conhecimento. Entender como se desenvolve, identificar os impactos positivos e negativos que provoca e entender a relação com outros segmentos da atividade econômica passou a ser fundamental. Em função dessas características, o turismo se tornou um campo científico de diversas áreas do conhecimento, e assim, segundo Dencker (2002, p.28) “o estudo científico do turismo passou a ser um trabalho recente de natureza multidisciplinar e interdisciplinar, tendo em vista que está inserido num ambiente sujeito a influências de diferentes paradigmas”.
Diante disso, o turismo se tornou um campo da ciência totalmente complexo em função da sua dinamicidade de investigação, se tornando um campo científico inter e multidisciplinar em decorrência da necessidade de analisar o turismo por diferentes campos da ciência, para tentar compreende-lo em sua totalidade. Corroborando com a linha de pensamento de Dencker (2002), Mota (2005 p.03) reforça que:

[....] o turismo é objeto de estudo de várias disciplinas e utiliza referenciais teóricos da maioria das ciências sociais, o que caracteriza a multidisciplinaridade. Na psicologia, antropologia e sociologia, o turismo torna-se um objeto quando estudam sobre as motivações, preferências e condutas dos turistas, suas condições sócio-econômico-culturais, que determinam a necessidade de viajar e efeitos que a interação social provoca no comportamento das populações emissoras e receptoras do fluxo turístico.

Um exemplo da necessidade de entender a atividade turística a partir de um olhar multidisciplinar pode ser observado na investigação da atividade na destinação turística Costa Verde e Mar em Santa Catarina, sul do Brasil. O Estado de Santa Catarina é um dos destinos turísticos mais procurados no Brasil, principalmente por seus atrativos naturais e culturais. O Estado é dividido em regiões turísticas que procuram explorar o turismo de forma regional. Uma destas regiões é a Costa Verde e Mar, formada por dez municípios com níveis de desenvolvimento socioeconômicos bastante distintos:  Luís Alves, Balneário Piçarras, Penha, Ilhota, Itajaí, Camboriú, Balneário Camboriú, Itapema, Porto Belo e Bombinhas.

Entretanto, esta região catarinense, além de apresentar grande potencial turístico, também apresenta históricos de desastres naturais. Nos últimos anos, estes desastres se tornaram um elemento negativo para o desenvolvimento da atividade turística. Zucco e Magalhães (2010, p.603) lembram que “o turismo é altamente sensível a crises e elas se agravam quando associadas a desastres. É necessário um sistema de proteção aos turistas e de recuperação das áreas turísticas afetadas”.
Segundo Maditinos e Vassiliadis (2008), os desastres aumentam as preocupações de turistas com segurança e proteção colocando pressão crescente sobre planejadores e gestores envolvidos com o turismo, impelindo-os a analisar o impacto das catástrofes sobre essa indústria e a desenvolver estratégias para lidar com as crises.
Portanto, passa a ser fundamental tentar compreender como se dá essa relação entre a atividade turística e os desastres, na destinação turística Costa Verde e Mar, especialmente sobre quais sãos as dimensões dos impactos provocados pelas intempéries sobre o trade turístico. Para isso, é imprescindível se utilizar de uma abordagem multidisciplinar envolvendo vários campos da ciência como: sociologia, geografia, história, economia e hidrologia, inter-relacionando-os com o turismo. É essa multidisciplinaridade que poderá garantir a sustentabilidade da atividade turística na região a médio e longo prazo.

4. A multidimensionalidade dos desastres

Os desastres naturais associados aos aspectos socioambientais podem ser elementos extremamente prejudiciais e impactar negativamente o desenvolvimento da atividade turística. E, assim como o turismo, os desastres também precisam ser compreendidos a partir de uma abordagem multidisciplinar. Segundo Santos (2007) no Brasil há uma relação umbilical entre o avanço da degradação ambiental e a intensidade de desastres.
  Quando a degradação ambiental é significativa, o suficiente para alterar os padrões naturais de um ecossistema, os efeitos são devastadores para a atividade humana e para algumas atividades econômicas como, por exemplo, para a atividade turística. Os exemplos mais evidentes são a variabilidade climática atual. Práticas ambientais inadequadas, crescimento populacional, urbanização, avanço da pobreza, conflitos econômicos e ambientais e a visão econômica de curto prazo estão gerando sociedades vulneráveis​​.
 Neste contexto, alguns desastres provocam grandes transtornos para a sociedade e para o território atingindo. Um exemplo da incidência de desastres naturais é a ocorrência de tornados em todo território nacional e, particularmente em Santa Catarina. Como exemplo disso, é possível destacar a quantidade de ocorrências de tornados entre o período de 1991 a 2012 no estado de Santa Catarina, como observado no gráfico a seguir:

Os dados do gráfico mostram que o estado de Santa Catarina, vem sofrendo com incidência de tornados, principalmente nos meses de janeiro e outubro. Chama a atenção e preocupa o fato da grande incidência de tornados em janeiro, justamente o mês com maior fluxo de turistas em Santa Catarina, principalmente no litoral.
Ainda sobre os desastres e sua importância no contexto do território, Soriano (2009, p.4) argumenta que:

Os desastres naturais são eventos adversos que se constituem através da ação da força da dinâmica terrestre, quando ocorre em áreas que atinjam áreas habitadas, principalmente no caso de áreas densamente povoadas e em situação vulnerável a estes eventos adversos, quando se observa a ocorrência de vítimas fatais. Trata-se de uma realidade que atinge várias partes do planeta, de formas e intensidades diferenciadas.

Esses impactos causados ao território, muitos deles duradouros, podem se tornar um grande problema no desenvolvimento de diversos setores da economia. Quando ocorrem em regiões turísticas não há dúvidas que o setor sente os impactos negativos imediatamente. A imagem da destinação turística pode ser afetada, e isso pode certamente refletir na relação com os consumidores da destinação turística. É importante lembrar que na atividade turística a imagem do território (ou a paisagem) pode ser o principal produto a ser comercializado no mercado. Quando um destino turístico apresenta ao longo do tempo um histórico de desastres, essa destinação turística pode sofrer queda considerável no fluxo de turistas em função dos impactos negativos provocados por esse fenômeno sobre o território.
Santa Catarina se insere neste contexto. Ao mesmo tempo em que algumas regiões do Estado apresentam paisagens exuberantes que são exploradas (ou que tem potencial para serem exploradas), também apresentam um histórico de desastres que precisa ser considerado. Entre estas localidades estão importantes destinações turísticas do litoral como a Costa Verde e Mar.
O gráfico a seguir apresenta dados sobre a frequência mensal de inundações no Estado de Santa Catarina, no período de 1991 a 2012.

Os dados destacam que Santa Catarina possui uma grande incidência de inundações, principalmente entre os meses de setembro a fevereiro. A maior incidência de chuvas no Estado ocorre, portanto, justamente no período de maior fluxo de turistas (dezembro, janeiro e fevereiro), considerado período de alta temporada para a atividade.
Em função disso, entender esta relação entre desastres e a atividade turística passa a ser fundamental para o desenvolvimento de ações por parte do poder público e trade turístico a fim de mitigar os impactos negativos provocados pelos desastres sobre a atividade turística e com isso, não comprometer o desenvolvimento da região.
É inegável que as relações entre turismo e desastres podem ser muito complexas, porém o primeiro passo é entendê-las a partir de uma visão multidisciplinar. Assim como os impactos positivos (e negativos) do turismo precisam ser entendidos além da mera dimensão econômica, os impactos dos desastres sobre a atividade também precisam ser compreendidos desta forma.
           
5. Considerações finais

            O artigo procurou provocar uma reflexão acerca da necessidade de entender a relação entre desastres e a atividade turística a partir de uma dimensão multidisciplinar. Trata-se de uma discussão relativamente nova no Brasil, mas que precisa ser estimulada e ampliada.
A abordagem multidisciplinar defende que um fenômeno ou elemento de estudo pode ser analisado por diferentes áreas do conhecimento ao mesmo tempo sem, contudo, haver sobreposição entre estas áreas. Esta abordagem permite um entendimento mais amplo do fenômeno estudado à medida que ele seria interpretado a luz de várias áreas do conhecimento.
            Entretanto, utilizar uma abordagem multidisciplinar em pesquisas científicas está longe de ser algo simples de ser implementado. Existem muitos desafios que ainda precisam ser enfrentados e superados. O principal deles está relacionado com a coordenação das atividades de pesquisa. As diversas áreas envolvidas não podem sobrepor-se umas às outras e o desafio é estabelecer uma coordenação eficiente das atividades. É fundamental encontrar a via de “interarticulação” entre as diferentes áreas do conhecimento, já que cada uma delas possui suas especificidades.
            Embora se tenha poucas pesquisas no Brasil dedicadas a entender a relação entre desastres e turismo, a partir de uma abordagem multidisciplinar, se espera que esta discussão se torne mais frequente em razão da importância da atividade turística no Brasil que começa, mesmo que timidamente, a ser entendida além da dimensão econômica.
As discussões que estão ocorrendo na destinação turística Costa Verde e Mar em Santa Catarina, sul do Brasil podem ajudar na disseminação da necessidade de entender estes fenômenos através de uma abordagem multidisciplinar e contribuir para um desenvolvimento territorial.  

 

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* Parte deste artigo foi apresentada no Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, Pesquisa e Extensão – Região Sul, realizado em Florianópolis, Santa Catarina, Brasil.

** Graduado em Turismo (UNIESP). Especialista em Tecnologia de Informação e Comunicação, Educação e Gerenciamento de Recursos Hídricos (UNESP) e Mestre em Desenvolvimento Regional (FURB). E-mail: mmariano.rocha@gmail.com

*** Graduado em Economia (FURB). Mestre e Doutor em Desenvolvimento Regional (PPGDR/FURB). E-mail: prof.pellin@tpa.com.br .


Recibido: 13/07/2017 Aceptado: 25/07/2017 Publicado: Julio de 2017

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