Revista: CCCSS Contribuciones a las Ciencias Sociales
ISSN: 1988-7833


A FORMAÇÃO SOCIO-HISTÓRICO DA CIDADE DE POXORÉU: LUTA DO POVO BORORO E A CHEGADA DOS GARIMPEIROS (1718 - 1950)

Autores e infomación del artículo

David Rodrigues Santana*

Maria Augusta de Castilho**

Universidade Católica Dom Bosco, Brasil

m.a.castilho@terra.com.br

Resumo

Os objetivos deste artigo é analisar a importância e o valor histórico da cidade de Poxoréu, a sudeste do estado de Mato Grosso, demonstrando suas bases socio-históricas, destacando os índios Bororo e a importância dos garimpeiros. Por meios dessa perspectiva, o trabalho sera desenvolvido por meio de pesquisas bibliográficas e de campo. Existem poucos artigos relacionados ao processo sócio-histórico de povoamento de Poxoréu, me estimulando a desenvolver essa pesquisa, visando entender a antropologia dos habitantes da cidade, tendo como base as antigas civilizações e a população garimpeira.

Palavras-chave: Poxoréu, Mato Grosso, Índios Bororo, Garimpeiros.

Abstract

The aim of this paper is to analyze the importance and the historical value of the city of Poxoréu, southeast of the state of Mato Grosso, demonstrating their socio-historical basis, highlighting the Bororo Indians and the importance of the miners. By means of this perspective, the work will be developed through bibliographic research and field. There are few articles related to City Poxoréu, encouraging me to develop this research, in order to understand the anthropology of the city's inhabitants, based on ancient civilizations and the miners.

Keywords: Poxoréu. Mato Grosso. Bororo Indians. Miners.


Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

David Rodrigues Santana y Maria Augusta de Castilho (2017): “A formação socio-histórico da cidade de Poxoréu: luta do povo Bororo e a chegada dos garimpeiros (1718 - 1950)”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, (abril-junio 2017). En línea:
http://www.eumed.net/rev/cccss/2017/02/poxoreu.html

http://hdl.handle.net/20.500.11763/cccss1702poxoreu


Introdução

            A pesquisa versa sobre o processo de formação da cidade de Poxoréu, desde os primeiros habitantes daquela região até a chegada dos primeiros garimpeiros. O estudo possibilitou a descoberta da importância indígena e garimpeira para a construção e desenvolvimento dos valores socioculturais e econômicos da cidade.
            Existem vários artigos científicos referentes a esta região, entretanto o enfoque sempre é voltado a questões administrativas e urbanas. Mas e as temáticas indígenas e garimpeiras, merecem ser estudadas? Sim.
            A cidade está localizada ao sudeste do estado de Mato Grosso, a 219 km da capital Cuiabá, possuindo uma área territorial de 6.909,685 km², com uma população estimada de 16.677 habitantes (IBGE, 2012).
            Após ter se emancipado das localidades de Cuiabá, Poxoréu começou a se desenvolver rapidamente, tendo um papel importante para o surgimento das cidades de Itiquira, Alto Garças, Rondonópolis, Jaciara, Dom Aquino e Primavera do Leste.
            Neste trabalho houve interesse em indagar as bases históricas antigas, para o desenvolvimento do município, sempre buscando respostas através de pesquisas bibliográficas e pesquisas de campo.
No primeiro ponto desse artigo, foi feita uma revisão bibliográfica sobre os primeiros habitantes do território de Poxoréu, os índios Bororo. Em sequência, são discutidos pontos fundamentais sobre as primeiras fundamentações e transformações com a chegada dos garimpeiros nessa região.

1  Primeiros habitantes do território de Poxoréu: índios Bororo

            Os índios bororo já habitavam a base do Morro da Mesa quando os primeiros garimpeiros chegaram naquela região em busca de pedras preciosas.
Segundo Amorim (2001), os bororo partiram de um dos mais altos afluentes do Rio Vermelho, antes da chegada dos bandeirantes ao Rio Coxipó, afluente do Rio Cuiabá, em 1718. Eles já percorriam os vales de: Vermelho, São Lourenço, Itiquira, das Mortes, Prata e Areia.
            Existiam aldeias nas regiões de Toriparu, Rondonópolis, Paraíso do Leste, Jarudore e Poxoréu.
            No distrito de Jarudore, pertencente à cidade de Poxoréu, se encontra 4.706 hectares de terras demarcadas para os indígenas bororo, vivendo naquele local a partir do início do século XIX até 1950. Entretanto, a exuberante região com terras férteis, propícias as plantações, criação de gado, fizeram com que os não indígenas começassem a ocupar e expulsar os indígenas daquele local.

Jarudore de terras férteis, oportunas à cultura do milho, de cujas espigas se extraía uma das bebidas dos bororo: o cauim; Jarudore cortada por águas límpidas (não a do Rio Poguba) e abastadas; por rios que somem no solo e renascem à flor da terra; Jarudore de matas dadivosas, de um povo ímpar, organizado, batalhador e moderno. Mas toda a paisagem de Jarudore, dantes dos bororo, está absolutamente ocupada por pecuaristas e agricultores, gente que se valeu das riquezas do solo para plantar, consumir e até exportar [....] (AMORIM, 2001, p. 102).

Como Poxoréu tem sua origem na etimologia bororo (“Pó”, rio; “Céreu'', águas escuras) que quer dizer rio de águas escuras, Jarudore também possui a sua. Conforme a Enciclopédia Bororo (1976), Jarudore (“Jarudo”, Bagre; “ri”, Morro) significa Morro do Bagre.

1.1 Bororo Orientais e Ocidentais

            Os antigos bororo estavam distribuídos por grandes regiões localizadas entre a Bolívia, a oeste, o rio Araguaia e o rio das Mortes, ao norte, e o rio Taquari, ao sul. Propõem-se uma divisão geográfica para a nação bororo em dois grandes grupos: os ocidentais e os orientais.
            Os ocidentais estão divididos em dois grupos, da Campanha (Alto Paraguai e fronteira com a Bolívia) e os Bororo Cabaçais, que habitavam nas regiões do rio Jauru e Cabaçal.
            Os Bororo de Campanha habitavam as margens do rio Paraguai (Bólivia, Cuiabá). A região que ocupavam faz parte do pantanal onde o solo não era propício para a agricultura, desenvolvendo a pecuária e extração da poaia1 pelos não indígenas.
Viertler (1990) ressalta a utilização da mão de obra indígena bororo em fazendas, sendo que alguns índios serviam de vaqueiros mediante a um salário muito pequeno.
Não há 10 anos atrás eram esses Bororó ainda mais selvagens, pois não tinham relações alguma com brasileiros. Fazia muito dano ao Tenente-coronel, matando-lhe escravos e devastando as plantações. Não podendo mais suportar tais hostilidades, e tendo já em várias épocas perdido 11 escravos mortos por eles, pediu a João Pereira Leite a D. João Vl permissão para repeli-los à força. O imperador deu a autorização e o Coronel fez-lhe uma guerra que durou seis anos, durante a qual sua gente matou 450 Bororós e agarrou 50 prisioneiros que mais ou menos se sujeitaram aos trabalhos da fazenda, principalmente costeio do gado (FLORENCE, 1977, p. 197).

No século XIX, a região de Mato Grosso apresentava uma correlação no cenário socioeconômico entre a sociedade não indígena e a sociedade indígena, baseada na busca de terras e mão de obra assalariada, havendo circulação de mercadorias e questões socioculturais. Nessa vertente, pode-se dividir o século XIX em dois períodos, sendo o primeiro marcado pelas expedições de extermínio e confronto direto, e o segundo retratando a integração do índio, sendo inadmissível a prática do extermínio e o uso de armas, tornado o processo de pacificação pertencente a esse segundo momento.

1.2 Processo de pacificação e confinamentos

            Nesse processo de pacificação, os Bororo foram confinados em reservas que possuíam pequenas porções de seu antigo território.
A antropóloga Maria Fátima R. Machado (1984, p. 19) afirma que ''esses aldeamentos eram importantes no sentido de disciplinar os índios e “limpar” o território, liberando a sua ocupação.''
Podemos destacar a coragem e força dos povos bororo, pois possuindo uma forma diferente de produção, conseguiram resistir a ocidentalização, entretanto, as trocas de valores socioculturais com os povos não indígenas, incorporou novos elementos em sua cultura.
Esse processo de “limpagem” foi empregado em todo o território brasileiro, sendo o fator econômico coligado ao poder dos grandes latifundiários e fazendeiros, o grande fator desses confinamentos. A resistência indígena significa valores de retrocesso econômico, a partir da visão do capital, ao mesmo tempo em que vários índios estão lutando fortemente, buscando reaver suas terras, sendo violentamento perseguidos.

As conseqüências decorrentes do processo de confinamento e o correspondente adentramento no território indígena de novos e diversos contingentes populacionais não-indígenas, ocupando crescentes parcelas desse território, traduzem-se em um aumento das doenças, ao mesmo tempo em que se reduzem as alternativas de alimentação para os indígenas. Compromete-se, progressivamente, a sua economia, apoiada em uma agricultura itinerante, na coleta, na caça e na pesca. […] No entanto, junto com as profundas transformações na economia, verificamos, também, impactos sobre a organização social dos Kaiowá e Guarani, obrigando grupos macrofamiliares distintos a conviver em espaços cada vez mais reduzidos, gerando crescente mal-estar (BRAND, 2008, p. 25).

Conforme a nova política indigenista sendo empregada no Brasil, o indígena passou a ter mais respeito, contudo, ele ainda era visto como primitivo em relação ao restante da sociedade. Em consequência a esta nova política, o estado de Mato Grosso, em 1880, adotou uma nova atitude em relação aos índios, caracterizando a pacificação dos Bororo naquela região. Observam-se as novas estratégias em relação aos indígenas, através do relatório apresentado ao Presidente da província de Mato Grosso (Exmº. Sr. Dr. Galdino Pimentel) pelo chefe da Província, o Dr. José Azevedo Silva:

[…] o extermínio dos selvagens é um crime […] indigna de um povo civilizado. […] é, pois pelos meios brandos, que se conseguirá a paz com os selvagens e sua redução ao estado civilizado; só assim, tranquilizar-se-á a lavoura a calma de que precisarão, para se dedicarem com […] aos seus trabalhos, só por este modo, abrir-se-á ao comercio e a indústria, novas fontes de riquezas pela facilidade de navegação dos rios que cortam os sertões e explorações das matas. Cheias de produtos naturais de grande valor comercial, guardados pelos índios com a mesma vigilância com que o usuário guarda o seu tesouro, porque são os últimos redutos de que dispõe; para a habitação e manutenção da vida; só por essa forma, é que se pode conseguir que tantos braços inúteis, apliquem-se ao trabalho das artes e das indústrias da Província, […] (APEMT, 1886).

            Conforme o relatório apresentado pela Assembleia Legislativa Provincial de Mato Grosso (1886), relata que nesta nova política de pacificação, os militares regionais buscavam ter uma relação direta com os indígenas, saindo de Cuiabá uma expedição militar, com destino as aldeias indígenas bororo Coroados, levando além de brindes, seis índias e um indígena daquela tribo, que tinham sidos aprisionados e viviam na sociedade não indígena. Essa estratégia utilizando índios da mesma nação, que eram aprisionados, para a pacificação, sempre era utilizada pelos militares.

A V. Exma, não é estranho que há anos, há muitos anos os nossos lavradores e fazendeiros eram vitimas das correrias dos índios Coroados, contra os quais expediam-se forças armadas para afugentá-los das imediações dos povoados, e essas forças conseguirão apreender algumas índia e crianças. [...] Em 1881, quando se recolherão as forças expedidas pelo então presidente Visconde de Maracajú, trouxeram algumas prisioneiras das quais tomei uma índia que fiz batizar com o nome de Rosa, e depois de quase cinco anos em meu poder e preparada completamente para o fim que tinha em vista, fiz seguir acompanhada de algumas outras para o sertão, como intérprete, para aliciarem os índios bravios da sua tribo e trazendo e, resultado a submissão total dessa numerosa nação. [...] Adaptando-se o mesmo sistema, entendo que convém recomendar-se ao Comandante do Distrito Militar de Mato Grosso [...] e acrescenta que embora lento, porém o único eficaz para levar-se a efeito aquela catequese (APEMT, 1886).

            Com a expansão e desenvolvimento das forças capitalistas tentando submeter os Bororo a pequenas áreas, foi criada as colônias Militares de Thereza Crhistina e Princeza Izabel. Entretanto, segundo Steinen (1940, p. 579):

[…] esta tribo já se encontrava profundamente transformada pela dominação dos civilizados, tal qual lhe foi dado observar durante sua vida à colônia militar Tereza Cristhina em 1888. Impressionado com a condição reinante na colônia, uma comunidade de duzentos índios bororo, convivendo com mais de cinquenta brasileiros, soldados e um punhado de militares, que administravam por meio da distribuição gratuita aos índios de roupa, cachaça, quinquilharias, em meio a grande corrupção.

            Machado (1987) afirma que o objetivo central da política indigenista é transformar os índios em elementos úteis para a política econômica, utilizando a sua mão de obra e ocupando seu território.

2  Influência dos Salesianos e os Bororo

            No final do século XIX, o Brasil se encontrava no regime Republicano (1889), onde a política indigenista cedia ao Estado poderes e estratégias para adaptar as populações indígenas na sociedade brasileira, onde diversas regiões utilizaram missionários, como estratégia para a pacificação.
            Em meio às missões que vieram para o Brasil, os Salesianos se estabeleceram em algumas regiões de Mato Grosso.
            A missão salesiana conviveu com os indígenas na colônia Thereza Cristina, entretanto, desentendimentos entre os missionários e o Governo/índios, acarretaram na expulsão deles da colônia. Eles se estabeleceram então na região do rio Araguaia e rio das Garças, onde até hoje convivem com os bororo na aldeia Meruri e Sangradouro. As resultantes mudanças desse envolvimento foram notórias.
            A instalação dos salesianos na aldeia Meruri, com o objetivo de civilizá-los, introduziu mudanças na arquitetura indígena da aldeia, a forma de seus funerais, inserindo uma moral social cristã, com a pretensão de por fim as práticas religiosas dos bororo.
            As mudanças arquitetônicas retratam o rompimento da própria organização sociocultural dos índios. Construção de edifícios missionários ao lado das casas dos indígenas, escolas, igrejas, dormitórios, com uma cruz bem no meio da aldeia (o local mais visível do lugar), estabelecendo ali um espaço religioso cristão.
            Para impor sua religião, a missão salesiana teve que trabalhar bastante, pois os índios foram resistentes, conservando suas crenças através de sua força espiritual. Uma das estratégias em transformar os índios em “civilizados” foi o uso do batismo cristão.
            A inserção do índio ao trabalho remunerado tinha como objetivo retratar a noção de propriedade e de trabalho em sua sociedade, sendo um dos objetivos da ação salesiana para torná-los “cidadãos”.
            A decisão de confinar os indígenas em territórios restritos e significamente pequenos se tornava bem vantajoso aos missionários para a aplicação do sedentarismo e introdução das práticas agrícolas na cultura do índio bororo, que não fazia faziam parte de seus valores socioculturais até então. Essas atitudes eram de total importância para inseri-los na sociedade não indígena, como mão de obra barata. Por outro lado, os índios se tornavam resistentes a essas mudanças, dando continuidade as suas atividades tradicionais.

Entende-se por confinamento, portanto, esse processo histórico que se seguiu à demarcação das reservas [...] e de ocupação do território por frentes não-indígenas, forçando a transferência dessa população para dentro dos espaços definidos pelo Estado para a posse indígena. Indica, portanto, o processo de progressiva passagem de um território indígena amplo, fundamental para a viabilização da sua organização social [...] como perspectiva a integração dessa população, prevendo-se sua progressiva transformação em pequenos produtores ou assalariados a serviço dos empreendimentos econômicos regionais (BRAND, 2008, p. 25).

            Esse conflito de ideias desde a chegada dos salesianos ao convívio dos Bororo se encontra até os dias atuais, com criação de estratégias, por parte dos indígenas, para garantir a sobrevivência de suas culturas.

2.1 A atual realidade dos índios Bororo na cidade de Poxoréu - MT

            Atualmente, não se encontra uma única família bororo vivendo completamente a sua cultura, entretanto, ainda vive a esperança do retorno dos bororo as suas terras em Jarudore - MT, para viverem de forma pura e simples, entrelaçado a seus valores socioculturais.

3 A chegada dos garimpeiros e formação de Poxoréu
 
            Segundo Xavier (1999) em 1985, João de Moraes, o Cajango, chegou as nascentes do rio Araguaia, sendo acompanhado de seu patrão na época, que posteriormente se tornou seu sogro, estabelecendo a primeira fazenda na região.
            Cajango nunca pensou que encontraria pedras preciosas naquela localidade, sempre foi um homem ligado a questões agropecuárias, entretanto, nunca deixou de observar o solo.
Após a chegada de Cajango naquela região, várias outras famílias cruzaram o rio Araguaia a procura de terras. Mesmo ele não possuindo experiência nas questões de garimpagem de pedras preciosas, sempre sonhou com as possibilidades de encontrar diamantes. Sempre recebia orientações de quem já tinha experiência nas atividades de garimpo.       

João José Moraes Cajango é considerado a primeira pessoa a se instalar no leste de Mato Grosso. Cajango mudou de sua terra natal Minas Gerais para o sudoeste de Goiás em 1981, “procurando abrir uma fazenda no sertão bruto” e logo após cruzou o Araguaia no Mato Grosso. “Naquelle tempo nenhum christão andava nesta paragem mato-grossence, do lado esquerdo do Rio Araguaia, que era bem um mundo que Deus esqueceu”. Por presentear ocasionalmente os Boróros, Cajango conseguiu conviver em paz com os mesmo [...]. (BAXTER, 1988, p. 65)

            Com a chegada de Vicente Ruiz Rodrigues em sua fazenda, uma pessoa treinada nas atividades de garimpagem, Cajango começou a confeccionar bateias atrás dos primeiros diamantes, porém, não encontrou nada. Posteriormente, um indígena lhe informou sobre a existência de diamantes na foz do rio Caçununga.       Essa informação Cajango passou a um de seus amigos, Feliciano Cezilo dos Santos. Feliciano, prestando seus serviços na cidade de Coxim, ouve dos peões notícias de que índios da aldeia do Jurigue, na região do vale do São Lourenço, recolhiam nos cascalhos retirados do fundo do rio, pedras brilhantes. Após ouvir essa informação, ele vai até a tribo dos Jurigue com um amigo que conhecia a linguagem bororo, procurar as possibilidades de se encontrar e apanhar diamantes naquela região, entretanto os indígenas disseram que não queriam estranhos em suas terras.
            Baxter (1988) assinala que após esse fracasso, Feliciano vai com alguns companheiros para a fazenda de Cajango, com o objetivo de encontrar pedras preciosas. Cajango os recebe bem, entretanto, com medo deles lhes trazerem problemas, roubarem seu gado, resolve criar um plano para de exploração, os convencendo a irem até a foz do rio Garças, para obterem a certeza se o indígena estava falando a verdade sobre os diamantes no rio Caçununga com o rio Garças. Em 1908 o grupo começou a povoar essa região, montando os primeiros barracos.
            Segundo Xavier (1999), o primeiro diamante encontrado na região ocorreu quando a mulher de um dos garimpeiros estava lavando pratos nas águas do Caçanunga.
            Este primeiro achado foi de grande importância para o início da formação da cidade de Poxoréu.
[…] Joana Francisca de Jesus, esposa de Cezilos, lavava pratos esmaltados acocorada à beira do córrego Cassununga, utilizando de um deles, feria o cascalho que transparecia na água clara do riacho. Comos dedos separavam as pedrinhas, procurando as mais bonitas e diferentes. De repente, assustada-se com a presença de uma pedra losangular, diferente de todas as estrelas do céu. Não tinha mais o porque duvidar, era a “toricuiêje” dos bororo, o diamante! (XAVIER, 1999, p. 33).

Os primeiros diamantes achados foram trocados por vestuários e mantimentos com Cajango. Após um ano, Cajango vai até a capital, Cuiabá, comercializar os primeiros diamantes encontrados pelos garimpeiros no rio Caçununga. Alguns anos depois, a garimpagem já era muito intensa.
            Ao final do século XIX, os sertanistas começaram a se aproximar aos poucos dessas localidades, que mais tarde seria nomeado com o nome de Poxoréu.
            Várias expedições ocorreram por volta de 1897, percorrendo os vales dos rios Itiquira e Garças. As expedições sertanistas percorreram essas regiões em busca de diamantes e boas terras para a implantação de fazendas.
            Em 1926, com a descoberta de pedras preciosas no sopé do Morro da Mesa, houve o aumento da mão de obra garimpeira nessa localidade; os ranchos começaram a se espalhar, garimpeiros de diversas regiões do Brasil começaram a se mudar para essa região, formando pequenas currutelas, que ao passar do tempo foi sendo à base da formação do município de Poxoréu.
            O desenvolvimento de Poxoréu só ocorreu após a segunda década do século XX, com a chegada dos garimpeiros e os aventureiros que enfrentaram enormes perigos e longas caminhadas. Baxter (1988) destaca que mesmo com o descobrimento de diamantes, que posteriormente iria acarretar e possibilitar a chegada de migrantes, atraídas pela riqueza, não era o único fator que estimulava a ida das pessoas para o leste de Mato Grosso. Pois, outro favor era porque o Nordeste passava por uma de suas piores secas, sendo que muitos fugiam da fome e da sede em busca de sua sobrevivência.
                       

3.1  Dinheiro, violência e mortes nos garimpos
           
            Os garimpeiros sempre em busca de aventuras e de encontrarem pedras preciosas, se locomoveram em direção de novos garimpos: São Pedro, São Paulo e Sete, todos garimpos próximos.
            As regiões perto do rio Caçununga, dentre elas São Pedro, tornaram-se uma população de homens e famílias, surgindo bem rapidamente as currutelas. Em pouco tempo, já havia milhares de homens trabalhando no garimpo de São Pedro.
            O ambiente do garimpo São Pedro não era de tranquilidade. Os principais fatores causadores de violência e medo naquele garimpo eram: o desentendimento entre maranhenses e baianos, acarretando a morte de 18 maranhenses naquele garimpo. Além disso, existiam os conflitos entre José Morbeck (chefe político e líder dos garimpeiros) que lutou e defendeu a classe garimpeira das exuberantes cobranças de impostos abusivos do governo Mato Grosso; a Coluna Prestes, que estava percorrendo o estado de Mato Grosso e combatendo as tropas do Governo.
            Todos esses fatores influenciaram na vida dos garimpeiros de São Pedro. Como boa parte não possuía experiências de combate e nem sequer sabiam empunhar uma arma, muitos decidiram fugir.
            Segundo Xavier (1999), os baianos causaram muito medo nos garimpos. Violências, brigas, luxúria, prostituição faziam parte do ambiente das currutelas. A violência é uma das características das cidades formadas por garimpeiros.
            De acordo com Amorim (2001) todas as cidades que nasceram dos garimpos foram totalmente violentas durante o período em que as atividades garimpeiras estavam no seu auge, como por exemplo, as cidades: Alto Paraguai (MT), Alta Floresta (MT), Peixoto de Azevedo (MT), Poxoréu (MT) e em outros Estados, por exemplo: Serra Pelada (PA) e Andaraí (BA)
            Xavier (1999) destaca que as principais causas da violência nos garimpos foram por conta do:
            – uso excessivo de bebidas alcoólicas;
            – jogos de carta de baralho;
            – prostitutas;
            – enriquecimento fácil e rápido (aliado ao empobrecimento rápido);
            – livre uso de armas;
            – ausência da polícia
            De um modo geral, Amorim (2001) enfatiza que as condições apresentadas por Xavier, existem o fato de que essas regiões de garimpo não atraem só a mão de obra garimpeira, mas também as piores espécies humanas.
           
3.2  Garimpo e suas atividades nos dias atuais
           
Atualmente os garimpos com dragas estão desativados, sendo proibido pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente – (SEMA), entretanto, ainda existem poucos garimpos manuais.
            Encontram-se pedreiras que exploram os rejeitos, sendo que ao retirar as pedras, acabam garimpando também diamantes.
            Existe a presença de outras gemas de valor, como granada, e metais preciosos como ouro em pepita (pequena quantidade), mas se for observar como fonte de economia, pode ser considerada como extinta.
            A maioria dos diamantes está em alta profundidade, e ainda existem muitos, conforme informações do Departamento Nacional de Produção Mineral - DNPM.
            Boa parte dos garimpeiros não garimpa mais e buscaram outras formas de sobrevivência, mas seus valores socioculturais sempre serão retratados e lembrados.

Considerações Finais

            Este trabalho possibilitou a análise e compreensão dos fatores históricos dos povos que contribuíram para a formação do município de Poxoréu - MT, destacando a importância dos índios bororo, correlacionados a chegada dos garimpeiros, que através da construção de garimpos naquela região, proporcionaram as primeiras formas de povoamento.
            Os resultados obtidos nessa pesquisa retratam a realidade da luta de dois povos aventureiros buscando formas de sobrevivência.
            A luta dos índios por suas terras continua sendo um problema explícito na sociedade brasileira. O povo Bororo, torturado, confinado, violentado, castigado e expulso de seu território, ainda possui esperança de retornar a suas terras em Jarudoré, podendo viver livremente suas culturas.
            Os garimpeiros fugindo das secas do nordeste e da fome em outras regiões brasileiras, na busca de melhores condições de vida, se tornaram fortes, possuindo um papel fundamental para a fundação da cidade hoje denominada Poxoréu.
            A análise bibliográfica contribuiu para compreender as diferentes observações históricas, através de uma leitura crítica-reflexiva, se desapegando de um conceito já estabelecido e proporcionando uma visão difusa e complementar.
            Foram de grande importância bibliográfica as literaturas regionais, fornecendo fontes e desenvolvendo indagações de suas histórias locais.
            Diante do exposto, se compreende que a história do povo poxorense foi marcada por lutas e conquistas, sendo escrita com sangue e suor da nação Bororo, entrelaçado a população garimpeira.

Referências

AMORIM, Gaudêncio Filho Rosa de. Linhas históricas de Poxoréu: uma contribuição às escolas e a sociedade. Cuiabá: Defanti, 2001.
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BRAND, Antonio. Educação escolar e sustentabilidade indígena: possibilidades e desafios. São Paulo: Ciência e Cultura, 2008.
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STEINEN, Karl Von Den. Entre os Borôros. Rio de Janeiro: R.IHGB, 1915.
VIERTLER, Renato Brigitte. As duras penas: um histórico das relações entre índios Bororo e “civilizados” no Mato Grosso. São Paulo: USP/ FFCCH, 1990.
XAVIER, Jurandir da Cruz. Poxoréo e o Graças. Cuiabá, 1999.

* Acadêmico do Curso de Graduação em História - Universidade Católica Dom Bosco. Email: david_santana10@hotimail.com

** Docente do Curso de Graduação em História e do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Local da Universidade Católica Dom Bosco. Email: m.a.castilho@terra.com.br.

1 A poaia (ou poalha, ipeca, ipecacauanha, ou Cephaelis Ipecacuanha) é um arbusto nativo da mata atlântica, do cerrado e da amazônia, que já foi um dos pilares da economia dos seringais.


Recibido: 23/01/2016 Aceptado: 27/04/2017 Publicado: Abril de 2017

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