Revista: CCCSS Contribuciones a las Ciencias Sociales
ISSN: 1988-7833


DA REDE PARA A SOCIEDADE:
UMA ANÁLISE SOBRE A INFLUÊNCIA DAS REDES SOCIAIS NAS RELAÇÕES SOCIAIS E POLÍTICAS CONTEMPORÂNEAS

Autores e infomación del artículo

Michele de Souza*

César Augusto Costa**

mischahist@hotmail.com

RESUMO: Neste artigo procura-se realizar uma reflexão sobre as Mídias Sociais, trazendo para a discussão as causas e consequências deste fato na sociedade e política contemporâneas, discorrendo sobre este fenômeno e quais são as atitudes estabelecidas em meio à sociedade a partir de seu uso. Para se obter uma resposta a esta reflexão, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, feita em livros, artigos, sites e documentários. Analisando os conceitos explorados no referencial teórico deste artigo, pode-se constatar que são evidentes as interferências das redes na sociedade e no relacionamento entre os indivíduos, culminando em mudanças sociais e políticas relevantes. Espera-se que o resultado desta pesquisa possa contribuir para uma melhor fundamentação das discussões acerca das Mídias Sociais e suas Relações Sociais e Políticas na contemporaneidade.
Palavras-chave: Mídias Sociais, Relações Humanas, Política, Sociologia.

Network for the Society:

An analysis of the influence of social networks in social relations and contemporary political

ABSTRACT: This article seeks to carry out a reflection on the social media, bringing to discuss the causes and consequences of this fact in contemporary society and politics, discussing this phenomenon and what are their attitudes established in the midst of society from its use. To get an answer to this reflection, a literature search is performed, made ​​in books, articles, websites and documentaries. Analyzing the concepts explored in the theoretical framework of this article, it can be seen that are evident interference of networks in society and the relationship between individuals, culminating in social change and relevant policies. It is expected that the results of this research may contribute to a better basis of discussions about social media and their social relations in contemporary times.

Keywords: Social Media. Human  Relations;  Policy.  Sociology.



Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Michele de Souza y César Augusto Costa (2017): “Da Rede para a Sociedade: Uma análise sobre a influência das redes sociais nas relações sociais e políticas contemporâneas”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, (enero-marzo 2017). En línea:
http://www.eumed.net/rev/cccss/2017/01/redes.html

http://hdl.handle.net/20.500.11763/cccss1701redes


1 Introdução

Vivemos em uma sociedade em constante evolução, onde as questões de trato intrapessoal estão ganhando cada vez mais espaço na contemporaneidade. O que causa certo estranhamento na forma como essa questão vem sendo abordada, pois nossa sociedade está se voltando para o individualismo, o indivíduo alimenta a introspecção e o desinteresse na sociedade no âmbito das relações sociais, mas utiliza-se das mesmas mídias que possibilitam essa introspecção para um novo tipo de relacionamento político que pode levar multidões às ruas. Diante deste pensamento, ganham destaque mídias sociais que são um espaço onde grande parte dos indivíduos expõe seu cotidiano, sem, no entanto sair da sua introspecção, mas podendo formar grupos de interesses semelhantes para o uso político.
Em meio a essa realidade se faz importante um estudo sociológico sobre as Mídias Sociais, tendo em vista que se trata de um tema atual e oportuno para a sociedade em que vivemos e pela sua dicotomia diante do aspecto comportamental do usuário.
O presente artigo tem por objetivo realizar uma reflexão, trazer para a discussão as causas e consequências desse fato social, além de discorrer sobre o fenômeno destas mídias e quais as atitudes são estabelecidas em meio à sociedade e política a partir de seu uso. Nas próximas páginas vamos tentar desmistificar este fenômeno, em meio ao conflito de ideias e possibilidades que o tema abrange.
A problematização poderá auxiliar na compreensão da consciência deste novo fato social que vem de forma direta ou indireta interferindo na vida do indivíduo e consequentemente na vida em sociedade. As mídias sociais, com o avanço tecnológico, se tornaram importantes canais para a divulgação de serviços, e como um espaço de relacionamento e compartilhamento entre pessoas dos mais diversos lugares, onde não há fronteiras. Partindo desse fato, o uso das redes e mídias de uma forma positiva ou negativa depende de cada usuário.
Existem diversas Mídias Sociais de relacionamento e compartilhamento, como Facebook, Twitter, o Instagram e YouTube, que são as mais conhecidas, portanto com mais usuários. Mas existem também as redes profissionais, as redes comunitárias (redes sociais em bairro ou cidades), redes políticas, entre outras, que podem partir da intranet, com acesso mais restrito.
As mídias sociais têm uma proporção gigantesca na atualidade, com seus milhões de usuários, e justamente por este motivo houve uma transformação na forma de comunicação entre as pessoas. Devido ao seu poder de alcance mundial as redes têm proporcionado a mobilização e criação de grupos para manifestar insatisfações em diversas esferas, social, politica e econômica, como uma ferramenta de mudança social, compartilhando fotos, opiniões e vídeos.
Há muitas vantagens que as mídias podem proporcionar, como a facilidade de comunicação de uma forma mais dinâmica, onde é possível compartilhar notícias e vídeos que acontecem em qualquer parte do mundo a qualquer momento em segundos, fazer novas amizades, conhecer culturas diferentes, participar de grupos em que pessoas possuem o mesmo interesse e manifestar-se. Existe também uma série de desvantagens para o uso destas ferramentas sociais, e a primeira delas é o excesso de uso, ou o uso de forma inadequada, também há a influência na produtividade do trabalho e como tem virado rotina, ser palco para manifestações de caráter ofensivo, preconceituoso e discriminatório, onde indivíduos cientes da impunidade se utilizam das redes para expressar todo o tipo de agressão contra determinados grupos de crenças diferentes desde religião à política.
As mídias sociais são uma nova forma de expressão, onde as pessoas não precisam encarar uma realidade de frente, onde o respeito é inerente a cada individuo, pois estar atrás de uma tela no conforto de sua casa pode tornar o caráter irracional mais evidente.
Tendo em vista as colocações acima, as preocupações sociais causadas pelo fenômeno já citado e engajamento com tais questões, se constituiu o presente artigo à luz da pesquisa bibliográfica e que tem por título: “Da rede para a sociedade: uma análise sobre a influência das redes sociais nas relações sociais e políticas contemporâneas” o qual está estruturado em quatro tópicos. No primeiro, traz os principais conceitos que situam a problemática das mídias sociais e que justificam o pano de fundo deste artigo. O segundo reitera o referencial teórico que foi embasado este estudo, onde destacamos o aspecto da liquidez das relações contemporâneas promovidas pelas mídias sociais. No terceiro, faremos uma breve análise sobre as redes sociais e o impacto nas relações sociais vigentes. O quarto tópico expõe o papel das mídias sociais no foco da política atual. Por fim, finaliza-se o presente trabalho com as considerações finais do nosso estudo.

2 Conceituando as mídias sociais

A palavra mídia remete aos meios de comunicação tradicionais de mão única, onde não há interação, o espectador ou ouvinte simplesmente assiste sem colaborar com os fatos, como rádio e televisão, mas também serve para designar a imprensa. Já o conceito de mídia social está ligado ao conceito de comunicação social, onde há interação e intercâmbio de conteúdos, há um feedback, uma resposta a um estímulo.
É muito comum confundir os termos Mídias Sociais e Redes Sociais, porém as redes sociais são espaços limitados à conexão pessoal de indivíduos em sites de relacionamento como o facebook, por exemplo. Já as Mídias Sociais englobam as Redes Sociais e também outros tipos de informações, como blogs e micro-blogs, social bookmarking, redes de aprendizado, redes de compartilhamento de vídeos e fotos como o YouTube e Instagram, estes espaços podem ser de comunicação, multimídia, entretenimento ou colaborativos.
Para Charlesworth (2010, p. 10):
A internet proporcionou uma plataforma para vozes individuais serem ouvidas. Essa saída, a mídia social, vem em muitas formas. O termo não se refere só aos meios de comunicação atuais, mas, sobretudo ao seu conteúdo- tudo que está disponível para qualquer um ler, contribuir e se envolver. O outro aspecto fundamental das redes sociais é que elas são um meio de conversação de ‘muitos para muitos’, com uma relação complexa entre o público e o remetente.

A internet vem mudando o rumo das comunicações no mundo, por meio dela muitas vozes, antes ignoradas, tem ganhado ampla divulgação. Dentro do amplo espectro de navegação da internet têm-se as Mídias Sociais que se referem à comunicação e compartilhamento de dados dentro da rede mundial de computadores desde troca de informações ao compartilhamento de vídeos em que todos podem acessar livremente.

3 Mídias sociais: habitus e liquidez das relações contemporâneas

Para Émile Durkheim os fatos sociais possuem um força coercitiva que ocorre pelas sanções legais ou espontâneas a que o indivíduo é submetido, neste caso, os fatos sociais atuariam sobre o indivíduo independente de sua vontade, pois consistem em maneiras de agir, de pensar e de sentir que exercem determinada força sobre os agentes. A mídia social e sua influência é um fato social de amplo espectro e o poder coercitivo destas redes sobre seus participantes, é um fato social a ser analisado, pois as pessoas estão cada dia mais voltadas para dentro de si, para as redes sociais e para os acontecimentos dentro desta. É como se o mundo real não existisse mais, pois dentro do mundo virtual pode-se fazer o que quiser, e dizer o que bem entender, como uma forma de consciências individuais múltiplas, independentes entre si, formando uma sociedade de ausentes.  Esta ação coercitiva do fato sobre a sociedade vem crescente no relacionamento Mídias Sociais e Política, onde as redes sociais veem se tornando novas formas de controle político e social de massas.
 Pierre Bourdieu define o conceito de habitus como “[...] um sistema de disposições duráveis e transponíveis que, integrando todas as experiências passadas, funciona a cada momento como uma matriz de percepções, de apreciações e de ações – e torna possível a realização de tarefas infinitamente diferenciadas, graças às transferências analógicas de esquemas [...]” (BOURDIEU, 1983, p. 65). Essa matriz de percepções nas mídias sociais, considerando a rede social um campo determinante dentro das mídias sociais, acaba levando ao habitus próprio de usuários destas mídias. Onde os indivíduos, preferem ficar em casa, conversando por computadores, a ir a um bar conversar com amigos, lendo noticias online à comprar os antigos jornais, fazendo download de filmes á ir ao cinema. Onde o contato físico é desnecessário, e a franqueza deixa de ser um atributo moral para ser uma arma discriminatória.
É a partir desse contexto que criamos uma consciência coletiva preconceituosa e um habitus discriminatório.  Esta discriminação consiste em considerar que a diferença implica em diferentes direitos, de forma que numa rede social é possível se esconder atrás de um nickname fake e chamar um negro de macaco, ou convocar um grupo de amigos para ir às ruas espancar homossexuais ou pessoas de pensamentos políticos opostos. É a dominação atribuída a uma ação ou até mesmo omissão violadora do direito das pessoas baseados em critérios injustificados como, etnia, sexo, idade, nacionalidade e ideais políticos. Infelizmente a discriminação ocorre em grande parte contra os negros e homossexuais, está se agravando contra as mulheres, idosos, pobres e de etnias diferentes e, diante do atual cenário político nacional trouxe um novo nível de discriminação para as redes, o ódio a alguns ideais políticos.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos em seu artigo I preconiza que: “todos nascem livres e iguais em direitos e dignidade e que sendo dotados de consciência e razão devem agir de forma fraterna em relação aos outros”. No entanto, nas redes sociais tudo é válido, é perceptível que o conceito de preconceito está ainda enraizado na sociedade, e pela ação das redes sociais mostra sua face mais perversa.
Zygmunt Bauman (2015) nos dá uma percepção mais intima deste fato social contemporâneo. Para ele as mídias sociais são a materialização da liquidez nas relações humanas, com menos contato e de menor duração, cultuando o individualismo. Tudo é muito rápido e sem laços, acarretando numa perda de identidade influenciada pelo mercado cultural da globalização.
Os indivíduos estão amparados por uma falsa ideia de companhia nas redes sociais, diante do seu medo da solidão. E essa falsa companhia remete ao descomprometimento das relações afetivas desta época. Para Bauman estas são características do “ser liquido” que ele discorre na sua obra Amor Liquido (2003).
 Bauman (2015) acredita que o conceito de rede é muito importante nesta discussão, e ele diferencia rede de comunidade, onde comunidade é um lugar onde se nasce, se vive, por outro lado a rede é o oposto de comunidade, onde são duas atividades que a mantém viva ; conectar e desconectar. Desta forma o que torna tão atrativas as amizades das redes sociais é a facilidade em desconectar-se delas, evitando os traumas das relações face a face, é simplesmente deletar e não se preocupar com desculpas ou sentimentos.
Cita-se nesse caso, as redes sociais, pois são estas as que mais contribuem para as mudanças de hábitos contemporâneos, seja socialmente, seja politicamente falando.
 
4 As redes sociais e as relações contemporâneas

Segundo De Santi (2015), o Facebook é uma rede social sem precedentes na história, onde se reúnem 1,4 bilhão de pessoas, ele tem mais adeptos do que a religião católica, que tem 1,2 bilhão de fieis. É uma mídia social muito poderosa.  É possível perceber que quando conectadas as pessoas ficam mais impulsivas, mais narcisistas, mais desatentas e menos preocupadas com os sentimentos dos outros. Em 2014 pesquisadores das Universidades de Michigan e de Leuven na Belgica recrutaram usuários do Facebook, fazendo perguntas diárias sobre o humor e sua permanência na rede social, que levaram a uma relação direta do tempo de permanência no Facebook com o aumento da infelicidade. A hipótese mais aceita é a de que pelo fato de as pessoas compartilharem mais momentos bons na rede, acaba gerando uma frustração nas pessoas que se conectam, mas estão no trabalho, por exemplo, enquanto os amigos estão postando fotos das férias.
Pensando num contexto global, os aspectos da vida social estão passando por grandes transformações na contemporaneidade, vivemos tempos de incertezas, de uma grande velocidade de informações, de fragilidade de laços, sentimentos rasos, padrões comportamentais diferenciados onde o indivíduo prefere o recolhimento, o afastamento da vida em sociedade para dedicar seu tempo ao mundo virtual. Criou-se um mundo paralelo ao habitual, um mundo virtual onde as diferenças são de certa forma menos perceptíveis aos olhos de quem deste meio utiliza. Entre tantos recursos tecnológicos existentes em nossa atualidade nos dedicamos a explanar sobre as redes sociais e suas influencias nos relacionamentos sociais. É fato indiscutível a grande agilidade que as mídias sociais nos possibilitaram, mas por outro lado elas tornam-se as grandes vilãs desta “fragilidade de laços” como menciona Bauman (2008) em sua obra Vida para Consumo.
Nas redes sociais o indivíduo pode ser o que quiser, e nos parece que este mundo ilusório agrada muito mais do que a realidade na qual estamos inseridos, há uma necessidade em se estar em evidência. Além disso, há outro fator preocupante, ele refere-se à questão do senso comum que existe de forma acentuada nas redes sociais, ou seja, um indivíduo mentor de algum posicionamento lança-o na rede e em poucos segundos existem milhares de adeptos daquela ideia, disseminando o senso comum e marginalizando o senso crítico. Essa corrente vai se propagando em dimensões incalculáveis, e o fato que chama a atenção é que dificilmente estes posicionamentos são educativos ou críticos de forma positiva.
 Há uma predisposição de propagar conflitos, reivindicações infundadas, preconceitos, entre outras práticas condenáveis nas mídias sociais e estes conflitos estão saindo das redes sociais e fomentando disputas políticas que podem mudar o rumo da história no mundo. O que se vê são muitos casos de pessoas, condenadas erroneamente em redes sociais, linchadas pela população por crimes que não cometeram, é o virtual transformado em uma realidade cruel. Ataques sociais em função de vários aspectos como cor, sexualidade e etnia com extrema naturalidade. Para os agressores, na rede as diferenças não precisam ser respeitadas, pois não se encara o individuo hostilizado de frente, como no caso dos ataques de injúria racial cometidos contra a primeira apresentadora negra da previsão do tempo do Jornal Nacional Maria Júlia Coutinho, e da atriz Taís Araújo em 2015, ambos os casos no Facebook.
Mas as redes também provêm o bem e já é uma forma de seleção de candidatos a empregos, assim como servem de provas para a demissão de funcionários por condutas inapropriadas.  Por meio das redes é possível procurar empregos e manter contatos importantes profissionalmente, reencontrar amigos de infância e parentes distantes, assim como rastrear criminosos em todo o mundo. A partir das noticias instantâneas em massa das mídias sociais, é possível fazer campanhas bem sucedidas para ajudar pessoas necessitadas de várias formas. E nesse caso as redes mostram sua força e influencia mudando o destino de muitas pessoas para bem, levando solidariedade para todos os cantos do mundo.
Os grandes movimentos vêm ganhando força nas redes sociais, desde a sua organização, antes de sair às ruas, até os movimentos dentro da própria rede. Um exemplo disso foram os protestos de junho de 2013, que uniram o Brasil em nome de várias reivindicações e levaram milhares de pessoas às ruas. Mais recentemente temos as manifestações de 12 de abril de 2015, contra a atual presidência, os pedidos de impeachment e outras organizações sociais todas organizadas via mídias sociais, como twitter, facebook, youtube, instagram e whatsapp. Outras manifestações, que não saíram das redes, mas fizeram o caminho inverso foram às manifestações em comemoração a liberação do casamento civil homossexual na Irlanda e nos Estados Unidos, neste último os participantes, com um aplicativo oferecido pela própria rede, poderiam colorir suas fotos do perfil nas cores do arco-íris. Também o luto pelos ataques contra Paris coloriram fotos de perfil no facebook com as cores da bandeira francesa. Sem dúvidas que estas manifestações ganham críticas favoráveis e contrarias, onde as pessoas acabam se exacerbando e que as demonstrações de idiopatia ganharam as redes sociais, rotulando a tudo e a todos.
No atual momento do país as mídias tem exercido um grande poder político sobre seus usuários, onde a opinião pública ganha espaço, mas é facilmente manipulada. Criou-se nos últimos anos uma crise do ódio nas redes sociais, que influencia em vários campos e acaba levando a um extremismo radical dentro da rede, que pode estar influenciando indiretamente atos de violência na sociedade e graves mudanças políticas no Brasil e no Mundo.

5 Análise sobre as mídias sociais e a política contemporânea

As Mídias Sociais tem um grande poder e se tornaram fatos sociais que podem tanto deixar os usuários introspectivos em sua zona de conforto, atrás dos computadores em suas casas, quanto levar milhares de pessoas às ruas em protestos pelo mundo todo, numa falsa sensação de mutualidade, ou solidariedade em atos políticos e movimentos sociais. As Mídias Sociais têm modificado significativamente as formas políticas de expressão, sejam elas partidárias ou movimentos políticos sociais e tem influenciado diretamente nas intervenções da Mídia Tradicional, pois as redes sociais tem maior agilidade na comunicação e chegam ao receptor muito mais rápido e de forma mais clara permitindo certa independência em relação a esses veículos e, de certa forma impedindo manipulações ou ao menos dando uma visão mais realista dos fatos, e possibilitando diferentes interpretações. Mas ainda assim a política nas Mídias Sociais é facilmente manipulável, uma vez lançado na rede é muito difícil de prever as proporções que uma postagem difamatória ira tomar.
As mesmas transformações tecnológicas que amplificaram a globalização possibilitaram o surgimento de movimentos sociais que exigiam mudanças no discurso político em questões socioeconômicas, desigualdade cultural, valorização de identidades e direito a expressão, colocando estas discussões dentro de partidos da esquerda e buscando uma nova democracia antiglobalização, com interesses difusos dentro das redes sociais. Há uma indeterminação frequente nesses movimentos, pois apesar das conquistas políticas da esquerda, e uma mudança no discurso político social, a crise econômica e o sentimento de incerteza e insatisfação não se dissiparam, gerando mais divisões nesses movimentos e uma espetacularização dos movimentos elevados às Mídias Tradicionais.

As novas tecnologias de informação e comunicação, atreladas às novas mídias e às redes sociais virtuais, passaram a ser utilizadas como mecanismos de aglutinação e convocação dos participantes, estabelecendo um caráter diferenciado dos movimentos sociais anteriores e formando um coletivo em rede, conectado no ciberespaço, heterogêneo e múltiplo. (ORTELLADO E RYOKI 2004, P.17 apud GAJANIGO E SOUZA 2013, p.581)

Para Gajanigo e Souza (2013) há um caráter anárquico ligado aos movimentos sociais, relacionado à descrença no velho sistema político partidário representativo tradicional, o que vem causando na política mundial e principalmente na fervilhante política brasileira, uma crise de representatividade política para estes movimentos. As relações com identidade política desses movimentos nas Redes Sociais são bem autônomas e heterogêneas, mas ainda são capazes de gerar personalidades representativas de várias áreas, como o cantor Tico Santa Cruz que em sua página no Facebook discute sociedade e política e tem mais de dois milhões de seguidores e o deputado Jair Messias Bolsonaro, representante do ultraconservadorismo político brasileiro, que pouco se utiliza das redes sociais, mas tem muitos seguidores conhecidos por disseminar suas ideias pela rede e por já receber apoio de movimentos nas redes sociais para sua candidatura à presidência em 2018.
As redes sociais propiciam um ativismo sem causa especifica determinada, mas como forma de identificação entre os indivíduos, como um processo de alteridade e solidariedade, fomentando, ao mesmo tempo, uma individualização e uma interconexão entre eles como explicam Gajanigo e Souza (2013). Como exemplo uma pessoa pode citar, ou divulgar um vídeo de um problema cotidiano e receber milhares de criticas e apoiadores, gerando um sentimento de solidariedade múltipla. O mesmo acontece com os políticos atuais, onde as redes são utilizadas para agregar pessoas com o mesmo pensamento político exibido nas redes sociais. Esse tipo de comportamento gera uma pluralidade imensurável nas redes composta por interconexões identitárias, o que gera os envolvidos nos movimentos políticos que partem das redes sociais para as ruas. Nesse contexto, há uma complexidade sociopolítica, cultural e técnico-comunicacional contemporânea e esses movimentos provocados pelas Mídias Sociais são formas de procurar soluções através da tecnologia, sociedade e democracia. O empoderamento coletivo vindo das redes sociais promove a liberdade e encoraja um engajamento social por mudanças na política e democracia.
Lançando um olhar para um passado recente das Mídias Sociais temos a campanha norte-americana para a presidência de 2008, onde o candidato Barack Obama utilizou-se amplamente do Youtube para divulgação de material, apesar de a internet estar presente na política desde os anos 90, foi o primeiro candidato que efetivamente conseguiu estabelecer um contato com seus eleitores através das mídias sociais, divulgando vídeos virais que em dias já haviam sido acessados por milhares de pessoas, impulsionando sua campanha, obtendo apoio de pessoas no mundo todo e renovando a forma de intervenção da internet na política. Porém, a utilização destas mídias na organização e mediação de manifestações sociais é ainda mais recente e tem um caráter contra hegemônico, não se enquadrando nas formas organizativas experimentadas antes.
Podemos citar a Mídias Sociais como intermediárias de mediações, organização e divulgação de movimentos políticos em algumas mobilizações pelo mundo como a Primavera Árabe em 2011, que levou milhares de pessoas do Oriente Médio e Norte da África às ruas contra a crise política e falta de democracia em seus países. Nesse caso as redes sociais ajudaram a derrubar governantes, na Tunísia, por exemplo, e a promover guerras civis em países como a Líbia, outro exemplo. No Brasil os Protestos de Junho de 2013 foram organizados a partir das redes sociais por vários movimentos, como o Movimento Passe Livre e o grupo Anonymous Brasil. As revindicações eram diversas como a redução das tarifas e isenção de transporte público, o apoio à causa homossexual, o repúdio à Copa do Mundo de Futebol e por fim, o fim da corrupção no país. As Mídias Sociais entraram por diversas vezes em conflito com a Mídia Tradicional, lançando manifestantes às portas de grandes emissoras e denunciando deturpação dos acontecimentos. A organização era feita através das Redes Sociais como o Facebook e Twitter e por meio de vídeos no Youtube, divulgando datas, relacionando reivindicações e mostrando os atos em tempo real.
Em 2015 temos então no Brasil os protestos contra o governo da presidente Dilma Rousseff e contra a corrupção, protestos esses convocados em março e abril através das redes sociais pelos grupos Revoltados Online, Movimento Brasil Livre e Vem pra rua. Apesar de se dizerem apartidários os protestos receberam apoio de vários partidos de oposição ao governo, demonstrando uma apropriação dos protestos por partidos políticos interessados na pauta.  O grupo Revoltados Online é responsável por centenas de postagens nas redes sociais contra o governo e conhecido por despertar o ódio a apoiadores do governo, além de ter como ícone político o, já citado, deputado de extrema direita Jair Messias Bolsonaro.
As manifestações chegaram a 2016, cada vez mais sendo promovidas a partir das Mídias Sociais e com uma crescente polarização política expressada por ódio nas redes sociais que esta sendo levado às ruas. Mas nesse momento pode-se notar que realmente a premissa do apartidarismo entra novamente nos movimentos gerados pelas Redes Sociais, embora haja uma diminuição de pautas pelos participantes.
Para Bauman (2016) a internet não é a causa dos protestos anti-sistema, as mídias sociais são uma espécie de veículo para canalizar o processo do movimento. A causa consiste na crise de confiança na democracia, pois vivemos em um mundo globalizado onde a interdependência é mundial e os Estados Nacionais são incapazes de geri-la. Por isso os governos encontram-se sob dupla pressão, tendo que responder pelas suas promessas políticas aos eleitores e ao mesmo tempo ao mercado mundial, bolsas e outros poderes que impedem que essas promessas sejam mantidas, gerando uma crise de confiança e uma desconfiança da falta de funcionalidade da democracia, mas sem uma solução para substituí-la.
As pessoas compartilham reações emotivas nas redes sociais e às vezes organizam-se, a partir dali, para ir às ruas e protestar. Gritam todos os mesmos slogans, mas na verdade têm interesses diversos e expectativas difusas. Depois, voltam para casa contentes pela fraternidade com os demais que se criou, mas é uma solidariedade falsa. Chamo-a de “solidariedade carnaval”, porque me lembra aqueles eventos nos quais, por quatro ou cinco dias, coloca-se a máscara, canta-se e dança-se junto, fugindo por um tempo limitado da ordem das coisas. Estes protestos permitem a explosão coletiva de problemas diversos, e de demandas individuais, por um lapso breve de tempo, como no carnaval – mas a raiva não se transforma em mudança compartilhada. (BAUMAN 2016)

Ao que tudo indica é que por trás das perspectivas relacionadas às redes sociais e os movimentos gerados por elas, as relações criadas por esta para a política tradicional, são de natureza frágil e não obtém os vínculos fortes necessários a mudanças políticas radicais.

No sentido midiático, a larga bibliografia sobre o caráter alienante da mediação imagética das relações sociais nos indica que a generalização do uso das novas tecnologias de comunicação e das redes sociais virtuais aprofundaria a especularização das relações sociais (e o caráter conservador e passivo desses sujeitos, denunciado por Guy Debord) e, por tanto impediria um uso político eficaz para aqueles que buscam a democratização da sociedade. (GAJANIGO E SOUZA, 2013, p.578).

            Principalmente no Brasil, no momento de convulsão e polarização política é necessário que se tome os devidos cuidados para que os movimentos saídos da rede não tomem proporções desastrosas que levem a conflitos nas ruas e que a crise democrática não obtenha desfechos não mensurados pelos agentes envolvidos. As Mídias Sociais podem convencer as pessoas a ir a rua manifestar-se, mas a incidência sobre o real pode levar a inúmeros desfechos.

6 Considerações finais

É indispensável na Sociologia analisar a relação com o cotidiano, com questões do indivíduo e estruturas sociais, como a politica, gênero, religião, raça e etnia, poder e ambiente. É importante chegar a esses debates de modo a buscar uma crítica desta sociedade em constante movimento, rica em culturas diferentes e paradoxos. Acreditamos que é importante debater sobre esta influencia que as novas Mídias têm nas escolhas e na vida dos indivíduos, pois a Sociologia é uma disciplina de transformação, e por isto teve tantas rupturas e continuidades ao longo de sua história. Ela anda junto com a sociedade, suas mudanças e seus debates, expandindo consciências.
É necessário refletir, e é preciso colocar em prática a consciência social, utilizar-se das redes sociais sim, mas de forma crítica, sem deixar que ela influencie para o senso comum. Não podemos desconsiderar que há vida social fora das redes virtuais e que esta se faz peça fundamental para sociedade não devendo ser menosprezada. É chegado um dado momento em nossa estrutura social onde se torna imprescindível rever conceitos, principalmente os que remetem a relacionamentos humanos independentemente de sua natureza. Utilizar-se das redes sociais para com o intuito de aproximação dos indivíduos, que ela seja caracterizada como um fenômeno social proveitoso e que possibilite sair da zona de fragilidade e incertezas.
As Mídias Sociais vem modificando a sociedade, a política e o relacionamento entre os indivíduos, de uma forma mais pungente, vêm ajudando a traçar o rumo das sociedades contemporâneas. Essas mídias já fazem parte do cotidiano, em casa, no trabalho, nas escolas.
Devemos nos preocupar como uma forma de traçar um caminho de conscientização e politização através das redes, empoderando indivíduos conscientes das demandas sociais e que possam se enxergar como parte do sistema social e político em que vivemos. Deve-se visualizar as mídias sociais como aliadas na pratica social e cidadã, mostrando meios para que estas ferramentas possam ser utilizadas de forma correta, pelos indivíduos certos, como um meio de redemocratização participativa. Procurando dar sentido ao uso das mídias sociais, após um longo período de comportamento apolítico dos jovens brasileiros e de passividade individualizada nas redes sociais, ensinando aos jovens o que fazer do seu futuro e com o uso das redes para a sociedade.
É preciso estar preparados para o resultado do uso das redes sociais na sociedade e na política, conscientes deste processo, observando para que  manifestantes e ativistas não vivam estes momentos apenas como um evento de experiência, mas como um meio de colocar em prática uma nova realidade, pensada, programada para a contestação dos meios hegemônicos. E criar canais interativos de participação para debates públicos, que possam envolver toda a comunidade.
 Concluímos que o uso das Mídias sociais está constituindo um novo perfil de sociedade, mudando as relações sociais, intervindo em assuntos como politica, educação, religião, entre outros, dando voz às pessoas e promovendo manifestações gigantescas. O potencial de participação e mobilização no Brasil é extraordinário e está em ponto de ebulição com atual crise social e política do país. As Redes Sociais são um fenômeno sem volta, em que a sociedade global está imersa e onde acontecem as revoluções modernas, fazendo com que haja no mundo pós-moderno uma estrutura social virtual paralela à estrutura social tradicional a qual conhecemos.  Mas que uma interfere na outra e pode causar mudanças sociais irreversíveis para os cidadãos do futuro.

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* Especialista em Sociologia no Ensino Médio/FURG. Graduada em História pela Faculdade Cenecista de Osório. E-mail: mischahist@hotmail.com

** Sociólogo. Pós-Doutor em Direito e Justiça Social. Professor no Programa de Pós-Graduação em Política Social/UCPEL.


Recibido: 23/10/2016 Aceptado: 02/02/2017 Publicado: Enero de 2017

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