Revista: CCCSS Contribuciones a las Ciencias Sociales
ISSN: 1988-7833


ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS DE MANEJADORES DE QUINTAIS AGROFLORESTAIS: O CASO DE UMA COMUNIDADE RURAL NA AMAZÔNIA

Autores e infomación del artículo

Bruna Naiara Rocha Garcia*

Thiago Almeida Vieira**

Francisco de Assis Oliveira***

Universidade Federal do Oeste do Pará, Brasil

thiago.vieira@ufopa.edu.br

RESUMO
O objetivo deste artigo foi identificar e analisar as condições socioeconômicas de manejadores de quintais agroflorestais em uma comunidade rural de Santarém, Pará, Brasil (Amazônia Oriental). O trabalho foi conduzido a partir de entrevistas semiestruturadas, na comunidade “Boa Esperança”, cerca de 20km da Hidroelétrica de Curuá-Una. O nível de escolaridade dos agricultores deste estudo foi considerado baixo; os quintais variam em tamanho de 100 a 10.200 m2; o manejo das áreas é realizado segundo as necessidades familiares; a mulher é o principal responsável pela implantação e manejo desses sistemas. Os quintais agroflorestais que refletem a origem e trajetória das famílias, as condições socioeconômicas e culturais dos manejadores.

Palavras-chave: socioeconomia, agricultura familiar, sistemas agroflorestais.

SOCIOECONOMIC ASPECTS OF AGROFORESTRY HOMEGARDENS MANAGERS: THE CASE OF A RURAL COMMUNITY IN AMAZON

ABSTRACT
This paper aimed to identify and analyze the socioeconomic conditions linked to the wielders of agroforestry homegardens in a rural community of Santarém, Pará, Brazil (Eastern Amazon). The study was conducted from semi-structured interviews, in community "Boa Esperança". The level of education of farmers in this study was considered low; the homegardens size vary form 100 m2 to 10,200 m2; the management of areas is carried out according to family needs; the woman is primarily responsible for the implementation and management of these systems. The homegardens are complex systems and reflect the origin and history of families, as well as the socioeconomic and cultural conditions of those who wield them.

Keywords: socioeconomics, family farming, agroforestry systems.



Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Bruna Naiara Rocha Garcia, Thiago Almeida Vieira y Francisco de Assis Oliveira (2017): “Aspectos socioeconômicos de manejadores de quintais agroflorestais: o caso de uma comunidade rural na Amazônia”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, (enero-marzo 2017). En línea:
http://www.eumed.net/rev/cccss/2017/01/agroflorestais.html

http://hdl.handle.net/20.500.11763/cccss1701agroflorestais


1. Introdução

Em decorrência dos grandes avanços tecnológicos no Brasil, o meio rural tem sofrido com a perda de seu espaço; a urbanização tem avançado juntamente com os monocultivo e áreas rurais de suma importância para a produção de alimentos.
Apesar de suas dificuldades no meio rural Amazônico, agricultores têm se organizado, em geral por meio de associações ou cooperativas, que segundo Moura (2016), esta organização deve se constitui em condição importante para não se permanecer em posição de oprimido.
Os quintais agroflorestais podem contribuir regionalmente para a agricultura familiar, uma vez que se tratam de sistemas de uso da terra manejados de forma tradicional, contribuindo para a geração de diferentes benefícios toda a população envolvida, uma vez que pouco se utiliza de insumos externos, garantindo assim uma alimentação equilibrada e saudável (Rocha Garcia et al., 2015).
Os sistemas agroflorestais são formas produtivas de uso da terra e manejo, por meio da consorciação de espécies arbóreas com outras culturas perenes, são muito utilizados em todas as regiões por comunidades tradicionais, como ribeirinhos, povos indígenas e também por agricultores familiares (Florentino et al., 2007), principalmente no que se refere a conservação florestal e a geração de renda.
Para Sablayrolles (2005), os fatores culturais, socioeconômicos e ecológicos são determinantes para a caracterização dos quintais, onde a mistura de povos mestiços (ribeirinhos e/ou caboclos), quilombolas e colonos migrantes, oriundos, sobretudo, do nordeste e sul do Brasil, são responsáveis por diferentes modelos e funções atribuídos a esse sistema agroflorestal.
Os quintais agroflorestais são espaços ricos em agrobiodiversidade, precisando ser estudados a fim de conhecer a sua importância para a população local, bem como sua contribuição no aspecto ambiental.
Desta forma, o objetivo deste artigo foi identificar e analisar as condições socioeconômicas que envolvem o manejo de quintais agroflorestais, por agricultores familiares de comunidade rural do município de Santarém, Pará, Brasil (Amazônia Oriental).

2. Metodologia
O estudo foi realizado em uma comunidade rural (Boa Esperança), no município de Santarém, localizada a 43 km de sua sede, às margens da PA 370 Rodovia Santarém Curuá-Una, na região Oeste do Pará, situada entre as coordenadas geográficas 02º 25’30”de latitude sul e 54º 42’50” longitude oeste (IDESP, 2013), o município tem uma população de 294.580 habitantes e uma área da unidade territorial 22.886,624 km2 (IBGE, 2010).
Esta comunidade é uma das principais produtoras de farinha de mandioca (Manihot esculenta Crantz.). Na última década, a terra agricultável tem sido ocupada pela cultura da soja (Glycine max (L.) Merr.), mudando a paisagem e as dinâmicas sociais da região.

A seleção dos quintais agroflorestais na comunidade de Boa Esperança se deu primeiramente pela diversidade florística aparente, identificando-se os quintais que por meio da observação visual apresentassem maior diversidade de espécies vegetais, além dos proprietários estarem devidamente associados à Cooperativa dos Produtores da Agricultura Familiar de Boa Esperança (COOPBOA). Optou-se por trabalhar com membros desta cooperativa, pois esta é destinada a agricultores familiares, categoria social alvo deste estudo.
Depois da pré-seleção dos quintais, foi feita a abordagem junto aos agricultores familiares, manejadores dos quintais agroflorestais, a fim de se obter o consentimento, e assim iniciar a pesquisa.
Desta forma, foram investigados 30 quintais agroflorestais, totalizando 25% dos agricultores familiares cadastrados junto à COOPBOA. A técnica de coleta de dados consistiu em entrevista semiestruturada, combinando perguntas abertas e fechadas, que de acordo Boni & Quaresma (2005), o entrevistador executa uma conversa informal e o informante tem a possibilidade de discorrer sobre o assunto proposto.
As entrevistas semiestruturadas foram realizadas com os proprietários das áreas dos quintais, onde responderam questões relacionadas à socioeconomia, de modo a perceber de que forma estas questões influenciam nas técnicas de manejo sobre quintais agroflorestais.
Para análise dos dados, construiu-se um banco de dados com as informações obtidas nas entrevistas. Posteriormente, utilizou-se uma estatística descritiva onde os dados foram sistematizados no programa Excel for Windows®.

3. Aspectos socioeconômicos
A comunidade possui aproximadamente 450 famílias e tem a agricultura como sua principal atividade, mas apenas 120 agricultores são associados à COOPBOA. Em Boa Esperança se concentra uma grande produção de Tapioca, produto derivado da mandioca. A fabricação da tapioca ainda é feita de forma artesanal em casas de farinha (mini fábricas espalhadas pela comunidade), e até semi-mecanizada, após cerca de um ano de cultivo da mandioca.
Nas unidades familiares estudadas foram entrevistados 30 agricultores familiares, sendo 47% do sexo feminino e 53% referente ao sexo masculino. Durante o estudo percebeu-se uma relação quase igualitária entre os gêneros no manejo dos quintais agroflorestais, mostrando dessa forma que os quintais agroflorestais envolvem o trabalho de mulheres e homens.
A idade dos entrevistados variou de 30 a 64 anos, com média de 47 anos, sendo esta uma faixa produtiva para o trabalho. Perfil semelhante foi encontrado por Vieira et al. (2012a); Rosa et al. (2007) e Vieira (2006) em pesquisas no Pará, Brasil.
O número de pessoas vivendo em cada casa variou entre uma e oito pessoas, tendo em média três pessoas por residência. Em geral, observou-se o predomínio dos seguintes agrupamentos familiares: marido, esposa e filho (a); ou mãe e filhos (as).
A ausência da figura masculina (mulheres como chefes de família) foi registrada em apenas 10% dos casos, cujos fatores ocorreram em função de viuvez ou por divórcio. Já, a ausência da figura feminina foi contabilizada em 10%, o principal fator foi o divórcio.
No que diz respeito à escolaridade, apenas 17% dos entrevistados possuem ensino médio completo (aptos a ingressarem no ensino superior) e 3% ensino médio incompleto, os demais têm baixa escolaridade, que variam de não alfabetizados a ensino fundamental incompleto, sendo estes últimos em mais de 50% do perfil dos agricultores (Figura 1).

Em se tratando do grau de instrução, os agricultores que apresentaram baixa escolaridade salientaram que esse grau de instrução se deve por conta da necessidade dos mesmos começarem a trabalhar cedo, nos cultivos agrícolas (roçados) dos pais, para ajudar no sustento da família. A baixa escolaridade também foi encontrada em outros estudos (Amaral & Guarim Neto, 2008; Carniello et al., 2010).
Como se percebe, as informações de escolaridade dos agricultores são ferramentas importantes que podem subsidiar um conjunto de ações a serem realizadas junto a estes atores, sejam elas desenvolvidas por instituições governamentais, ou pelas não governamentais (Silva, 2013).
Além disso, o grau de instrução dos agricultores pode dificultar a obtenção de financiamentos e inovações tecnológicas, em decorrência de não possuir entendimento para compreender os contratos de financiamento e as normas bancárias, e consequentemente de tecnologias (Freitas, 2008). Desta forma, a experiência e o saber empírico desses agricultores, aliado a melhores níveis de escolaridade poderiam se tornar uma forte e potencial oportunidade de desenvolvimento do meio rural nesta região.
Quando indagados sobre o tempo que já vivem na comunidade, 63% relataram viver na comunidade de 11 a 30 anos; outros 30% já vivem entre 31 a 40 anos; uma minoria (3%) reside na comunidade há até 10 anos e 3% a mais de 40 anos. Independente desse fator, os moradores mais antigos na comunidade são considerados como referência de conhecimento das espécies presentes nos quintais agroflorestais.
A pesquisa apontou que a principal fonte de renda familiar é agricultura. Porém, outras fontes secundárias foram citadas, como complementares do orçamento familiar, tais como os programas de transferência condicionada de renda (bolsas), aposentadoria e pensão entre outras (Figura 2). Esses valores mencionados merecem uma atenção especial, pois mais de 50% dos entrevistados afirmaram possuir outras atividades vinculadas, o que pode ser um risco para agricultura familiar, fazendo assim com que deixem de plantar e/ou criar para sobreviverem de auxílios governamentais e outros mencionados.

Com relação à idade dos quintais, 40% deles possuíam entre 14 a 19 anos (Figura 3). Parcela igual (40%) corresponde a quintais com idades entre 22 a 32 anos.
Para Pinto (2012), os dois intervalos de idade dos quintais agroflorestais apresentados nesta comunidade constituem-se como fases de consolidação e constituição respectivamente.

Em tamanho, os quintais analisados variam de 100 m2 a 10.200 m2. Com relação ao tamanho da área ocupada por este sistema de uso da terra, em estudo conduzido com agricultores ribeirinhos em Santarém, Pará, Sablayrolles & Andrade (2009), observaram que os quintais agroflorestais variavam substancialmente em área de 555m2 a 7.890m2, ocupando áreas médias de 3.777 m2.
Rondon Neto et al. (2004) associam que as diferenças no tamanho das áreas podem ocorrer em virtude da necessidade da alimentação e das desigualdades de costumes em cultivar os quintais, o que depende muito da origem de cada agricultor.
Em relação ao tamanho das áreas dos quintais, 70% dos entrevistados afirmaram possuir quintais do mesmo tamanho e 17% tiveram seus quintais aumentados e 13% diminuíram dado o fato da necessidade de se construir moradia de algum integrante da família, após a partilha da propriedade.
A manutenção do tamanho dos quintais revela uma a conservação desses espaços, mesmo com tantas dificuldades, intrínsecas às diferentes realidades familiares, pois em estudo realizado com quintais em Santa Catarina, Beretta (2010) observou que 83,3% dos quintais avaliados já foram maiores no passado, sendo esta redução ocasionada por questões ligadas à falta de saúde, à falta de interesse das gerações mais novas e à divisão das terras das propriedades entre os familiares.
O espaço que rodeia a casa onde a família cultiva plantas foi denominado por 80% dos agricultores familiares como quintal, 17% como sítio e 3% como chácara. Os termos mencionados foram semelhantes aos encontrados por Amaral & Guarim Neto (2008) em Mato Grosso, espaços importantes para o autoconsumo da família.
Todos os agricultores familiares envolvidos na pesquisa consideram seus quintais como sendo áreas muito importantes, ao passo que 47% destacaram a produção de frutas como o principal motivo do manejo e 33% para a produção de sombra (33%), por melhorar as condições de microclima nas proximidades da moradia (Figura 4).

A importância do cultivo das espécies frutíferas para os manejadores desses sistemas de produção se dá visando a dieta familiar. Para eles a presença de espécies frutíferas é um “privilégio”, por obterem frutos o ano todo, dada a diversidade florística destas áreas. É importante mencionar também que esses dados revelam a preferência por espécies que proporcionem sombra e isso ajuda a melhorar o microclima, para que assim os quintais sejam lugares de temperaturas mais amenas no verão amazônico.
A variedade de espécies presentes nos quintais agroflorestais pode proporcionar ao agricultor um melhor aproveitamento da área, assim como assegurar uma produção variada de alimentos permitindo que as populações obtenham uma importante complementação alimenta (Rocha Garcia et al., 2015).
Ao se estudar o grau de satisfação dos informantes quanto a seus quintais, a maioria (97%) mostrou níveis médios e altos de satisfação, em que 50% para níveis de satisfação médios e 47% para o nível alto.
No entanto, baixos níveis de satisfação foram observados em 3% dos agricultores, relacionando a questão da saúde frágil e idade avançada, o que tende o a dificultar o cultivo de espécies no quintal. Destaca-se que os agricultores relataram que os jovens deixam de se interessar pela agricultura, havendo um envelhecimento da comunidade.
Essa perda de conhecimento na geração descendente pode estar associado à saída do jovem do campo para estudar, que acaba não voltando mais (Pilla et al., 2006). É a conformação de novos padrões de sociabilidade, onde as gerações mais recentes passam a ter acesso a maior período de estudos que de seus pais e consequentemente o modo de vida e os valores culturais urbanos passam a chegar de forma mais rápida ao mundo rural (Kischener et al., 2015).
Esta realidade precisa ser melhor estudada e dialogada com o desenho de políticas públicas, pois essa não renovação de agricultores compromete a agricultura familiar em si e toda a sociedade que necessita do fruto do trabalho desses produtores.
O trabalho nos quintais é fruto do repasse de informações de outros membros da família (87%), 10% disseram ter aprendido o que sabem sozinho, e apenas 3% mencionaram ter o aprendizado associado a órgãos de capacitação técnica, no caso, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Pará - EMATER.
O objetivo dos agricultores é de transmitir seus conhecimentos a seus filhos, contudo o que eles observam é um certo desinteresse das novas gerações pela atividade agrícola, o que segundo Gomes (2010) pode comprometer a perpetuidade desse tipo de sistema ,uma vez que a idade dos agricultores já é avançada e não há perspectivas do envolvimento das novas gerações.
Para Kischener et al. (2015), ficar no campo não é mais atrativo do ponto de vista de quem deve despender muito esforço físico e não tem as “regalias” da jornada de trabalho de oito horas, como em muitos empregos urbanos. Esta é uma queixa constante de quem ainda vive no campo, ou seja, que as tarefas cotidianas não são limitadas no tempo ou automatizadas, principalmente, se o estabelecimento estiver associado à produção animal.
Das práticas relacionadas ao manejo, a poda está presente em 73% das respostas dos entrevistados, a capina em 87%, o uso de adubo orgânico em 73% e agrotóxico em 10%, este último usado para matar a vegetação espontânea, não sendo muito utilizada pela presença de pequenos animais criados nos quintais.
As atividades de manejo não são regulares, ocorrem dependendo da necessidade, normalmente uma ou duas vezes ao ano, no período de inverno, quando ocorre o crescimento rápido de vegetação espontânea, exigindo dessa forma a intervenção dessas práticas culturais para o bom desenvolvimento das espécies do autoconsumo ou comerciais. Em virtude da não utilização de agrotóxicos, como uma forma de estímulo para a produção das espécies presentes nos quintais, esses agricultores produzem nesses sistemas de produção alimentos livres de agroquímicos, mais saudáveis e refletindo na melhoria da alimentação (Rocha Garcia et al., 2015).
Resultados semelhantes foram encontrados em estudo feito em quintais caseiros em Moçambique, onde Chitsondzo (2011) encontrou um manejo sem intensidade, com limpezas realizadas duas ou três vezes no ano, e com podas também não regulares, sendo a eliminação de indivíduos ou partes de indivíduos doentes realizadas somente em caso de necessidade.
Quando questionados sobre o motivo da implantação dos quintais agroflorestais em suas propriedades, a necessidade de ser manejar uma espécie frutífera no quintal foi mencionada por 50% dos entrevistados, pois lhes garante uma alimentação saudável e segura (Figura 5). Ainda foram citados como motivos a vocação, sombreamento, renda e valorização da propriedade.

A implantação desses sistemas de produção assim se deu como relatam Siviero et al. (2011), em que valores como o fruto, prazer de cultivar, bem-estar proporcionado pela melhoria da ambiência (sombra) proporcionada pelas espécies arbóreas ao quintais, são difíceis de se mensurar pelo fato dessas variáveis estarem muito interligadas a questões subjetivas.
Sabe-se da multifuncionalidade de um quintal, outros usos além da produção frutos para alimentação também são lembrados, como é o caso da manutenção destas áreas para lazer, bem como local de transferência de conhecimento. O lazer foi citado pelos informantes pela possibilidade de se descansar debaixo das árvores do quintal, um local para recepcionar as pessoas e conversar, um simples sentar para comer uma fruta.
Sablayrolles & Andrade (2009) detectaram que além da alimentação para autoconsumo, os quintais são locais para reuniões e encontros, e de lazer para crianças e adultos, além da manutenção e transmissão de saberes.
Pereira et al. (2007) em estudo realizado na reserva de desenvolvimento sustentável Amanã, estado do Amazonas, constataram que o quintal é um verdadeiro banco de germoplasma in situ e é também como espaço, integração e relações sociais nas comunidades.
Foi observado que existe a troca de mudas na comunidade (83%), permanecendo ainda laços de cooperação entre agricultores. Do total de entrevistados, 63% informaram que as mudas dos quintais são produzidas na propriedade, 23% informaram que obtiveram as mudas por meio de familiares e vizinhos, e 13% compraram sementes em casas especializadas para isso.
Em um estudo de Winklerprins e Oliveira (2010) nos quintais agroflorestais na cidade de Santarém (Pará), foi percebida a permuta de material botânico que mantém a conservação da diversidade botânica nesses quintais, além de ser um meio de convívio social entre os agricultores.
Essa troca de sementes e mudas é comum dentro da comunidade e também foi percebido por Pereira et al. (2007), o que gera uma proximidade entre os agricultores, sendo transferidos também conhecimentos, pois é durante essa troca que ocorre uma conversa informal sobre as dúvidas de cultivo de determinadas espécies, havendo assim uma troca de experiência, aumentando relações de reciprocidade.
Além do quintal agroflorestal, as famílias manejam outras áreas de produção (60%), como roçados e arrendamentos onde cultivam principalmente milho (Zea mays), mandioca e pimenta do reino (Piper nigrum). Resultados semelhantes a esses foram encontrados por Beretta (2010), onde frutas, hortaliças e plantas medicinais são eventualmente trocadas e doadas à vizinhança e parentes.
Com relação ao excedente da produção dos quintais, 83% dos doam ou chegam a trocar com familiares e vizinhos, mostrando mais uma relação benéfica desse sistema, e 17% afirmaram não ter essa relação.
No que diz respeito à mão de obra nesses sistemas, a mulher é a principal responsável em cuidar dos quintais com 40%, juntos o homem e mulher obtiveram 27%, só o homem com 17 % e o homem, mulher e filhos totalizam 17% conforme a Figura 6.

Constatou-se a presença das mulheres em quase todas as respostas dos entrevistados, devendo-se a elasterem um grande envolvimento junto aos quintais por considerem estas áreas como uma expansão do trabalho do lar.
A presença feminina como as principais responsáveis também foi observada em quintais urbanos no Mato Grosso (Carniello et al., 2010; Amaral & Guarim Neto, 2008) e no Pará (Rosa et al., 1998; Rosa et al., 2007; Vieira, 2012a; Winklerprins & Oliveira, 2010).
A presença masculina pode ser percebida em quintais maiores e com fins de comercialização enquanto as mulheres são responsáveis por quintais menores e sem fins comerciais (Winklerprins & Oliveira, 2010), porém percebeu-se na comunidade em estudo a figura feminina como principal responsável no cuidado em quintais maiores e com fins de comercialização.
No caso onde somente a mulher é a responsável pela manutenção do quintal, ela realiza trabalhos como de irrigação, limpeza do quintal, colheita e adubação. Algumas atividades ela tende a recorrer ao homem, tais como: poda de árvores e grandes capinas.
Em quintais agroflorestais em assentamento rural em Marabá, Pará, Miranda et al., (2012) registraram que a função da mulher está associada aos afazeres domésticos e as coletas dos frutos no quintal, e o homem com os trabalhos mais pesados como a capina, plantio e comercialização. Essas características descritas são semelhantes a estudo na mesorregião Nordeste do Pará, realizado por Vieira et al. (2008).

5. Conclusão
Os quintais agroflorestais são espaços que refletem às necessidades, a vontade, a origem e trajetória das famílias dos manejadores, bem como de suas condições socioeconômicas e culturais.
Os quintais agroflorestais são espaços de produção alimentos, principalmente de frutas. A condição amenização do microclima ao redor das casas é um motivo também importante para a manutenção deste sistema de produção. A mulher tem importante papel no manejo destas áreas.

6. Agradecimentos
Agradecemos aos agricultores pela cordialidade e simpatia com que nos receberam em suas propriedades; à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela concessão de Bolsa de Mestrado.

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* Mestre pela Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA, Av. Tancredo Neves, s/n, Terra Firme, 66077-830, Belém, PA, Brasil. E-mail: brunanaiara26@hotmail.com

** Doutor. Professor do Magistério Superior da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA). Pró-Reitor da Cultura, Comunidade e Extensão nesta Universidade desde 2014. Professor permanente do curso de Mestrado em Sociedade, Ambiente e Qualidade de Vida da UFOPA. Rua Vera Paz, s/n, Salé, 68035-110, Santarém, PA, Brasil. E-mail: thiago.vieira@ufopa.edu.br

*** Doutor. Professor do Magistério Superior da Universidade Federal Rural da Amazônia. Professor permanente do curso de Mestrado e Doutorado em Ciências Florestais. Av. Tancredo Neves, s/n, Terra Firme, 66077-830, Belém, PA, Brasil. E-mail: francisco.oliveira@ufra.edu.br


Recibido: 02/12/2016 Aceptado: 02/02/2017 Publicado: Febrero de 2017

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