Revista: CCCSS Contribuciones a las Ciencias Sociales
ISSN: 1988-7833


MULHERES DE ATENAS DO TEMPO PRESENTE
Histórias de trabalhadores[as] submetidos[as] a escravidão contemporânea

Autores e infomación del artículo

Fagno da Silva Soares*

FFLCH/USP, Brasil

fagno@ifma.edu.br

Resumo: O presente artigo historiciza fragmentos de memória de esposas e/de trabalhadores submetidos a condição análoga a de escravo na Pré-Amazônia Maranhense, através da metodologia da história oral, enquanto sujeitos históricos capazes de (re)construírem suas histórias e memórias. Acreditamos que esta sucinta análise possa ensejar outras reflexões e aprofundamentos.
Palavras-chave: Mulheres, História oral, Trabalho Escravo, Memória.

 

Mirem-se no exemplo/Daquelas mulheres de Atenas/ Vivem pros seus maridos/Orgulho e raça de Atenas.../As jovens viúvas marcadas/E as gestantes abandonadas/Não fazem cenas/Vestem-se de negro, se encolhem/Se conformam e se recolhem/Às suas novenas/Serenas [...]

Chico Buarque de Holanda e Augusto Boal, 1989, p. 144.



Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Fagno da Silva Soares (2016): “Mulheres de atenas do tempo presente. Histórias de trabalhadores[as] submetidos[as] a escravidão contemporânea”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, (octubre-diciembre 2016). En línea:
http://www.eumed.net/rev/cccss/2016/04/atenas.html

http://hdl.handle.net/20.500.11763/cccss201604atenas


Introdução

O trecho da música ‘Mulheres de Atenas’ do poeta Chico Buarque de Holanda e do dramaturgo Augusto Boal faz alusão à sociedade ateniense durante a Guerra de Tróia, narrado nos épicos Ilíada e Odisseia atribuídos ao também poeta Homero. Temos pois, a bela Penélopone, mulher devotada e fiel ao marido Ulisses, que durante vinte anos esteve longe de casa, crente de que o mesmo não havia morrido. Mantinha-se casta a sua espera e rogava aos deuses pelo seu regresso. Esta referência data de mais de cinco séculos antes de Cristo sob a releitura de pouco mais de três décadas. Vale-nos para representar as mulheres que, abondonadas por seus maridos escravizados pelo carvoejamento, sentem-se angustiadas, porém, obstinadas a sua espera e no cuidado com sua prole. Embora os autores estejam ironizando o comportamento das mulheres atuais e não fazendo apologia à submissão feminina, o nosso interesse aqui, é pelo comportamento de retidão aos seus maridos, descrito por Homero no período clássico da história grega.
Objetivamos historicizar os fragmentos de memória de esposas e/de trabalhadores submetidos a condição análoga a de escravo na Amazônia Maranhense, através da metodologia da história oral, enquanto sujeitos históricos capazes de (re)construírem suas histórias e memórias, indissociando as narrativas e trabalhadores e suas esposas, compreendidos com uno na perspectiva da família trabalhadora.

Mulheres de Atenas na Amazônia Brasileira e História Oral

As Mulheres de Atenas a que temos aludido tem o mesmo significado atribuído por José Carlos Aragão, que assim as denominam “[...] dada a solidão, o abandono e o sofrimento a que estavam sujeitas após a partida de seus maridos” (SILVA, 2009, p. 155), a exemplo da Sra. Maria dos Santos, que em situação sinônima, esteve a espera de seu amado esposo durante anos. Ao falar sobre sua trajetória ela se emociona, com palavras deveras contundentes, esta mulher de Atenas revela que acumulou as atribuições de ser mãe e pai de 4 filhos, árdua tarefa que, quando somada à labuta para o sustento da família, vê-se de que se trata de uma legítima heroína para os seus. Sem opção, acaba pelos desígnios da vida, tendo de trabalhar, quando encontra emprego para não ver sua prole ‘morrer de fome’, como ela mesma diz, ou ainda como dizem os poetas da música “[...] elas não têm gosto ou vontade, nem defeito, nem qualidade, têm medo apenas, não têm sonhos, só têm presságios”. (BUARQUE; BOAL, 1989, p. 144) Exauridas pelo sofrimento e dilaceradas pela dor, estas mulheres fazem-se fortes para continuar vivendo e educando seus filhos para que estes não caiam nas armadilhas do submundo do trabalho. A estas mulheres, ‘viúvas de maridos vivos’,1 a nossa verdadeira admiração, pois com sangue, suor, lágrimas e coragem vencem, dia após dia, a dura batalha de sustentar uma família numerosa sem ao menos, ter o domínio básico da leitura e escrita em uma sociedade dominada pela cultura letrada.
Já aos homens de Esparta, corajosos guerreiros que não temem qualquer batalha, embrutecidos pela dureza do labor a que são submetidos nas carvoarias, com a lassidão dos corpos enegrecidos pelo carvão e os pulmões já antracosiados2 lutam para continuarem vivos e suportarem as fortes dores na coluna, fadiga muscular ou miastenia, cefaleia, fraqueza generalizada motivada pela carência nutricional e vitamínica como a ausência de vitamina C e falta de potássio e magnésio, podendo ocasionar desde uma simples cãibra até levar a óbito. Somam-se a isto, a baixa imunidade, doenças músculo-esqueléticas e cardiovasculares, aumento da pressão arterial e outras descritas por nossos narradores.
Um de nossos entrevistados, por motivos de foro íntimo, optou por não revelar sua identidade, adotando o nome fictício de Carvoeiro, para quem o trabalho na carvoaria é muito “penoso, de sol a chuva passando fome com o corpo fraco só para enriquecer os outros. Não aguentava mais viver daquele jeito, eu ia morrer [...] os gatos procuram trabalhadores jovens sem nenhum preparo, basta ter um bom porte físico e saúde para aguentar o serviço”. (CARVOEIRO, 2012) Este narrador, que ora adjetivamos de homem de Esparta, dar provas da crueza dos dias que passara escravizado em uma carvoaria localizada no entorno de Açailândia, na Pré-Amazônia Maranhense. Em geral os “carvoeiros trabalham 24 horas por dia em condições subumanas, queimando a sola dos pés e cuspindo os pulmões para fora de tanto tossir, vendendo barato e comprando caro”. (LE BRETON, 2002, p. 21)
Em seus exemplos lembrados através de suas memórias, mesmo depois de mortos, suas histórias continuarão vivas como nos disse A. S. Carvoeiro, ao relacionar sua história de dor a de um colega que foi brutalmente assassinado em um latifúndiono Estado do Pará, “lembro-me de um amigo que foi morto,era muito honesto, [...] jamais esquecerei a forma como fui tratado, posso não saber ler e escrever, mais sou um ser humano e mereço respeito”. (CARVOEIRO, 2012) Relatos como este não são raros entre os trabalhadores que entrevistamos, nesta pesquisa.
Nesse contexto, historiador é aquele que, no afã por desvelar histórias, visto que a vida rompe com as barreiras ancoradas no passado, que assim como Durval “está longe de estar morto e acabado, passado que é parte do próprio presente. No rio, como na história, águas passadas movem moinhos e destinos” (ALBUQUERQUE JUNIOR, 2007, p. 33), sobretudo, as soerguidas pelas memórias, que quando problematizadas pela metodologia da história oral traz a lume outras histórias.
Para Verena que “o trabalho com a história oral consiste na gravação de entrevistas de caráter histórico e documental com atores e/ou testemunhas de acontecimentos, conjunturas, movimentos instituições e modos de vida da história contemporânea” (ALBERTI, 2004, p.77) que de outro modo, não seria possível. Assim sendo, a história oral “[...] permite o resgistro de testemunhos e o acesso a histórias dentro da história” (ALBERTI, 2005, p. 155), atestando sua riqueza e alcance metodológico, ao que parece está em franco crescimento.
Sabemos, pois, que atualmente a história oral atingiu status quo e consagração entre os historiadores que dedicam suas análises ao tempo presente. A gênese da história oral nas terras tupiniquins data dos anos 70, mas só em meados da década de 90 alargou-se sua utilização enquanto metodologia de pesquisa, onde cada depoente é em certa medida um legítimo guardião de memórias capaz de torná-las coletivas as suas memórias individuais. Como são os griots, antigos contadores de histórias nas comunidades africanas.
Podemos exemplificar a bem sucedida experiência do Programa de História Oral do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil/Fundação Getúlio Vargas CPDOC/FGV criado nos anos 70, inspirado na proposta da Oral History Program da Columbia University de 1948. Arregimentados esforços de estudiosos e pesquisadores das ciências humanas e sociais de diversas partes do Brasil, especialmente do sudeste, puderam criar em 1994 a Associação Brasileira de História Oral - ABHO que realiza sazonalmente encontros regionais e nacionais a cada dois anos. Atualmente, constituem-se em um fórum aglutinador de debates e experiências em história oral realizadas em academias, instituições privadas e comunitárias em todo país.
Concomitantemente a criação da ABHO cresceu exponencialmente o número de programas, pesquisas e publicações que se utilizam da metodologia da história oral, bem como o considerável aumento de participantes nos eventos realizados pelas instituições. São provas cabais da credibilidade que esta metodologia tem auferido junto a profissionais de diversas áreas ao longo dos anos. Destacamos ainda que, apesar do apreço que temos à história oral, assim como outros estudiosos, reconhecemos que a sua denominação é um tanto equivocada, visto que, em vez de relacionar às fontes, adjetiva a história; (FERREIRA; AMADO, 2006, p. xii) por outro lado, foi com os historiadores que ele constituiu uma rede de profissionais, que imbuídos do devir historiográfico, perfazem um todo cada vez mais elaborado de sua metodologia.
De acordo com a literatura estudada, podemos elencar algumas proposições sobre a história oral enquanto metodologia e sua subjetividade que “apesar de seu uso crescer a cada dia, ainda existem muitos preconceitos e árduas críticas contra esse método: o entrevistado pode ter uma falha de memória, pode criar uma trajetória artificial, se auto-celebrar, fantasiar e mentir”.3 Embora consagrada, os praticantes da história oral costumeiramente são convocados a ratificar seus aspectos metodológicos relacionados à memória. Quanto a esta relação, os historiadores, assinalaram uma constatação na confraria da ABHO, sublinhando que, “[...] mas isso faz da história oral uma fonte não fidedigna para o pesquisador?” 4 Deste modo, o “[...] o principal alvo dessas críticas era a memória não ser confiável como fonte histórica, porque era distorcida pela deterioração física e pela nostalgia” (THOMSON; FRISCH; HAMILTON, 2006, p. 66.) do entrevistado que possa fazê-lo idealizar o passado. Porém, essa ‘não confiabilidade da memória’ pode ser encarada como um recurso e não como um problema. Destarte a história oral e o estudo da memória têm demonstrado força teórica na superação destas e de outras críticas.
É de domínio do historiador oral a importância dos ‘apoios de memória’, como fotos, objetos e outras coisas que podem ajudar na reconstituição do passado e que os lapsos de memória são menos preocupantes que as omissões da história ‘oficial’. (BARROS, 2004, p. 23) Outro aspecto bem marcante da oralidade é a sobrecarga de subjetividade que, em tese, deve ser considerada uma potencialidade, pois somos sujeitos e objetos no âmbito da pesquisa. Tal como Durval Albuquerque Junior (2007, p. 32) para quem “[...] se o sujeito produz o objeto, este também define o sujeito” defendemos que na história oral somos sujeitos ao questionar, problematizar objetos, ao ouvir, registrar e ser observado, questionado e interpretado pelo outro. Deve-se, portanto, examiná-la praticando-a criticamente para acesso à história pelo avesso. Desta forma, Mercedes Vilanova (1998, p. 36) aconselha que revisitemos com muitas audições “lãs fuentes orales debemos escucharla sen estéreo como la música, con registros diferentes para cada oído.”.
Visto nestes termos, reverberamos a assertiva de uma das maiores autoridades no assunto, Paul Thompson aponta que as fontes orais não devem ser utilizadas como tapa-burracos ou mero complemento aos documentos escritos, lançando o questionamento, “quão fidedigna é a evidência da história oral? [...] podem de fato transmitir informação ‘fidedigna’, tratá-las simplesmente ‘como um documento a mais’ é ignorar o valor extraordinário que possuem como testemunho subjetivo, falado. (THOMPSON, 1992, p. 138)
Assim, na perspectiva de Paul Thompson a utilização das fontes orais enriquece sobremaneira a história, visto que tomam como objeto de estudo as narrativas orais dos sujeitos históricos que além de testemunharem a história, viveram-na. Existem, entretanto, pesquisadores que ainda acreditam que os documentos escritos são “mais confiáveis” do que as fontes orais. Vale ressaltar que, corriqueiramente, tais documentos não passam de transmissões de relatos orais escritos por homens, sendo, desse modo, susceptível às mesmas ‘falhas’. Seria pretensioso de nossa parte, pensarmos o documento como verdade e a história seu estatuto. Destarte, segundo o historiógrafo inglês Edward Carr, nenhum documento histórico é de “[...] o que ele pensava que havia acontecido queria que os outros pensassem que ele pensava, ou mesmo apenas o que ele próprio pensava pensar. Nada disso significa alguma coisa, até que o historiador trabalhe sobre esse material e decifre-o”. (HUGHES, 2002, p. 121).
Embora muitos estudiosos afirmem que as fontes orais são tendenciosas, colocando-nas em xeque, defendemos que toda fonte carrega em si uma carga de parcialidade. Mesmo os documentos tidos como oficiais pelos positivistas trazem consigo a intencionalidade de seus produtores. Logo, podemos presumir que os documentos escritos legam marcas dos que o produzem e têm os mesmos problemas que as fontes orais, podendo estas serem tão fidedignas quanto qualquer documento escrito. Ainda nestes termos, fazemos uso da reflexão do sociólogo austríaco Michael Pollak para quem a memória é

é socialmente construída, é óbvio que toda documentação também o é [...] não há diferença fundamental entre fonte escrita e fonte oral [...] A crítica da fonte, tal como todo historiador aprende a fazer, deve [...] ser aplicada a fontes de tudo quanto é tipo. Desse ponto de vista, a fonte oral é exatamente comparável à fonte escrita. Nem a fonte escrita pode ser tomada tal e qual ela se apresenta [...] apesar de terem uma forma sui generis. (POLLAK, PP. 207-208)

De qualquer modo, todo documento é passível de críticas. Parafraseando obtusamente o historiador Durval Muniz, os textos escritos chegam até nós, como rins sem néfrons, corpos sem órgãos, falas sem sentimentos, dores sem gritos e voz sem emoções. (ALBUQUERQUE JUNIOR, 2007, p. 232) Logo, um documento nada mais é do que a ponta de um imenso iceberg, onde o mais importante está na parte submersa, por isso somos forçados a mergulhar por entre grutas e blocos de gelo flutuantes que se desprendem do iceberg para entendermos as origens e o contexto do fabrico de um documento. Vejamos a indagação de Bosi acerca dos marcos cronológicos, sobretudo as datas, sob as quais lança o seguinte questionamento:

Mas o que são datas? Datas são pontas de icebergs. O navegador que singra a imensidão do mar bendiz a presença dessas pontas emersas, sólidos geométricos, cubos e cilindros de gelo visíveis a olho nu e a grandes distâncias. Sem essas balizas naturais, que cintilam até sob a luz noturna das estrelas, como evitar que a nau se espedace de encontro às massas submersas que não se vêem? [...] Datas são pontos de luz sem os quais a densidade acumulada dos eventos pelos séculos dos séculos causaria um tal negrume que seria impossível sequer vislumbrar no opaco dos tempos os vultos dos personagens e as órbitas desenhadas pelas suas ações. A memória carece de nomes e de números. A memória carece de numes. (BOSI, 1992, pp. 19-32)
A esse respeito, tomemos o caso do colaborador Sr. Antônio Gomes que não reconhece datas, só lembranças demarcadas por sofrimentos, o tempo para ele refere-se a todos os dias que esteve em cativeiro. Já outro narrador, ao comentar acerca dos primeiros contatos com a escravização contemporânea, Antonio Filho, 37 anos, hoje assessor jurídico e secretário executivo do Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos Carmem Báscaran – CDVDH/CB, 5 nos informou que seu primeiro trabalho no Centro foi exercendo a função de pedreiro, mas quando perguntado sobre a data do ocorrido foi taxativo, “[...] eu sou ruim de datas”. (FILHO, 2012) Diante disso, valhemos nos de Norbert Elias (1998, p.7) para quem “o tempo não se deixa, ver, tocar, ouvir, saborear, nem respirar como um odor” e por esse motivo nossos narradores tomados de sentimentos não conseguem demarcar o seu tempo, o que não alija ou mutila o relevo de um estudo histórico rubricado, graças à  “capacidade da memória de transitar livremente entre os diversos tempos”. (AMADO, 1995, p. 132) Ao comentar acerca dos maus-tratos que sofreu Carvoeiro, com os olhos cheios de esperança, mãos calejadas e unhas enegrecidas pelo carvão narrou fragmentos de sua vida, numa cena quase indescritível, que transcrevemos aqui, ipsis litteris, um pequeno, porém contundente trecho “fui humilhado várias vezes, me senti a pior pessoa do mundo, como um pássaro na gaiola, sem direito a nada, como uma máquina só para o trabalho”. (CARVOEIRO, 2012) Ao final da entrevista, ele nós indicou outros potenciais entrevistados, deste modo, foram às fontes que tracejaram o caminho deste pesquisador a cada entrevista realizada.
Ao realizarmos as entrevistas, buscamos nos pautar da ‘arte de saber ouvir’ e na confiança construída desde os primeiros contatos intermediados pelo Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos Carmem Báscaran – CDVDH/CB, facilitaram para que as entrevistas em tom espontâneo tornassem lócus privilegiado de nossa pesquisa. Nos registros de nosso diário de campo temos anotações que vão desde as interrupções, suspiros sôfregos e coléricos até risos e lágrimas. Pois, acreditamos que não se faz história oral sem projeto, procedimentos e trato com a subjetividade, deste modo munimo-nos da carta de cessão entregue no momento da entrevista e na pós-entrevista [transcrito] e roteiro não-diretivo consentido, informado com tópicos-guia. Durante a transcrição realizamos uma atenta audição e formatamos um quadro tematizado de relatos orais divididos em arquivos por tema, a exemplo, pasta sobre aliciamento, castigos, fugas, saudades da família e etc.
Durante a análise das entrevistas fez-se uma leitura vertical do conjunto sistemático das entrevistas, buscando apreender o global de cada fala, seguida por uma leitura horizontal, alinhavando o côncavo-convexo dos testemunhos, de modo a formatar um quadro de categorias. E por fim, procedeu-se a análise das interpretações com fundamentação em autores por categoria, a revelia dos enquadramentos disciplinares advogados por alguns historiadores. Assim pudemos, apreender na prática, a acuidade com que devem ser tratadas as fontes orais e por isso valemo-nos do que afirmou Janaina Amado para quem

pessoas [...] não são papéis. Conservar com os vivos implica, por parte do historiador, uma parcela muito maior de responsabilidade compromisso, pois tudo aquilo que escrever ou disser, não apenas lançará luz sobre as pessoas e personagens históricos [como acontece como quando o diálogo é com os mortos], mas trará consequências imediatas para as existências dos informantes e seus círculos familiares, sociais e profissionais [...] (AMADO, 1997, p. 146)

Munimo-nos deste zelo para a realização das entrevistas, que como sabemos é um trabalho minucioso que vai dos primeiros contatos até a devolutiva da transição ao colaborador, que em nosso caso não hesitaram quanto à autorização do uso da entrevista, no entanto, o uso das imagens dos colaboradores não foi consensual. Neste sentido, reivindicam outras possibilidades de leitura de suas falas, afinal, não se trata de mortos, tampouco são seres inanimados. Apesar das tensões, todo esse processo construiu-se do modo mais ético possível. Comungamos com a historiadora Verena (2005, p. 29), para quem, historiar memórias “[...] não é simplesmente sair com um gravador em punho, algumas perguntas na cabeça e entrevistar aqueles que cruzam o nosso caminho, dispostos a falar um pouco sobre suas vidas”. Não se faz história oral por osmose. São elementos subjetivos de difícil trato científico, há que se ter um arcabouço teórico e metodológico para fazê-la. Lidar com a oralidade de pessoas que vivenciam e/ou vivenciaram, como sublinha Fenelon (2000, p. 9), é [...] trazer à tona outras histórias e outros olhares sobre o passado”, geralmente traumáticas. Para isso é preciso dispor de vários relatos que permitam cruzá-los como afirma Gwyn Prins, “testis unus, testis nullus”, não para validar ou desqualificar, mas para complementá-los e, assim melhor compreendê-los. Conferindo portanto, maior confiança metodológica aos nossos pares.
Ora, seguir o caminho da história oral neste caso, é bem mais que pertinente, contudo optamos em não corrigir ao pé da escuta, ou seja, ipsis litteris os termos durante o processo de transcrição, respeitando o universo vocabular e léxico dos narradores sem caricaturar ou mudar o sentido pela busca do equilíbrio, apesar de difícil, entre o oral e o escrito, do contrário seria uma forma sub-reptícia de fazer ciência, menoscabando atores, autores e leitores da pesquisa.
Entendemos que a história oral, além de explorar as relações entre história e memória, extrapola seus limites e tem assento na pesquisa de campo, sem a qual não se faz história oral. Neste sentido, em Portelli nos foi possível definir a história oral para além da metodologia, como arte do indivíduo a sua imprescindível relação com o trabalho de campo. O autor nos informa que a história oral

[...] é uma ciência e arte do indivíduo. Embora diga respeito– assim como a sociologia e a antropologia – a padrões culturais,estruturas sociais e processos históricos, visa aprofundá-los, em essência,por meio de conversas com pessoas sobre a experiência e a memória individuais e ainda por meio do impacto que estas tiveram na vida década uma. Portanto, apesar de o trabalho de campo ser importante para todas as ciências sociais, a história oral é, por definição, impossível sem ele. (PORTELLI, 1997, p. 17).

Nesses termos, para Aróstegui (2006, p. 228) a “história oral foi aplicada comumente para a análise das outras histórias, daquelas histórias de que raras vezes se ocupa a historiografia acadêmica”. Ao evocar as lembranças do passado, somos tomados por sentimentos em fervura que no dizer de Paul Thompson (1992, p205) “a maioria das pessoas conserva algumas lembranças que, quando recuperadas, liberam sentimentos poderosos”. Com lembranças perpassadas de fortes sentimentos como as narradas pelo Carvoeiro, jovem, casado, pai de três filhos, dono de uma saúde e vigor físico invejável.
Noutros termos, a ideia de que as suas lembranças são comuns aos demais trabalhadores com quem convivia na época é algo marcante na memória do Sr. Antônio Gomes, vulgo Bola 90 6e enfatizada pela educadora social do Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos Carmem Báscaran – CDVDH/CB, Brígida Rocha.
Ainda sobre a história oral, o pesquisador José Carlos Sebe Bom Meihy (2005, p. 17.) afirma ser uma “prática de apreensão de narrativas [...]” que objetiva “[...] promover análises de processos sociais do presente e facilitar o conhecimento do meio imediato”. A história oral está para o tempo presente assim como o marxismo está para os excluídos, dando voz aos silenciados e evidenciando os esquecidos da história. De modo geral a história oral permiti emergir o cotidiano da vida privada numa perspectiva que solapa a visão positivista da história, por vezes micro-históricas valorando a historicidade local e regional. Deste modo, os autores supracitados nos ajudaram a compreender o modus operandi da história oral.
Destacamos que embora haja uma inegável preponderância das fontes orais em nosso estudo, amealhadas a estas temos as fontes escritas, que detém importante papel neste estudo. Diante disto, valemo-nos da assertiva do historiador Prins quando nos alerta que o diálogo os diferentes tipos de fontes constitui um desafio ao historiador, para não estabelecer uma relação de força entre elas, mas como complementaridades. Assim para o autor, a

questão é que o relacionamento entre as fontes escritas e orais não é aquele da prima-dona e de sua substituta na ópera: quando a estrela não pode cantar, aparece a substituta: quando a escrita falha, a tradição sobe ao palco. Isso está errado. As fontes orais corrigem as outras perspectivas, assim como as outras perspectivas as corrigem. (PRINS, 1992, p. 166)

Deste modo, amealhadas as fontes orais as escritas nos apontou uma ligeira aproximação aos estudos antropológicos, motivado, sobretudo, pela temática aqui em questão. Assim sendo, a história oral e a história social perfazem um belo casamento, celebrando o feeling existente entre elas, nos permitiu perceber como os testemunhos orais tornam-se histórias individuais que retratam na verdade uma história muito maior, a história entretecida por milhares de brasileiros escravizados pela Amazônia afora.

Considerações Finais

Parafraseando Ginzburg, reduzir a escala de observação também é transformar numa dissertação aquilo que poderia ter sido uma simples nota de rodapé de um texto monográfico, é do episódico e conjectural que os historiadores oralistas fazem a história distanciando-se dos perigos de uma história generalizante ou simplista. Assim, a história oral rompe com a ideia de que a redução da escala de observação só é possível, quando fazemos biografias ou estudamos pequenos vilarejos ou comunidades. Isso já foi superado, tais análises hoje podem ser consideradas precipitadas, visto que a história oral se constrói a partir do recorte temático de um evento circunscrito historicamente, como o caso em estudo e da escolha e abordagem das fontes e não da espacialidade em estudo ou menos da entrevista de dois ou três sujeitos históricos, e sim de um conjunto concatenado de ações metodologicamente articuladas que propõe um zoom nas fontes orais, como em uma fotografia, (LEVI, 1992, pp. 133-161), buscando os detalhes que só com uma lupa de detetives podemos enxergar e, por conseguinte, devassá-las esmeradamente.
Portanto, ‘abaixo as explicações generalizantes’, pois acreditamos que a partir de um indício de pequenos fatos podemos responder a questões de ordem e interesses mais gerais, como o que propomos aqui, compreender a escravização contemporânea em na Pré-Amazônia Maranhense a partir do relato de nossos colaboradores. Diante do exposto, vemos nas entrevistas realizadas com José Alves, José Gomes e Carvoeiro a oportunidade de fazê-las numa perspectiva analítica, acreditando assim captar indícios de como esses sujeitos foram sendo inseridos nas práticas de escravização contemporânea na Amazônia, desnudando seus percursos.
Assim, nos termos de Chartier ao tratar sobre a história do tempo presente, preconiza que o profissional da história ao eleger este recorte temporal tende a potencializar sua pesquisa, uma vez que, “compartilhando com aqueles cuja história ele narra, as mesmas categorias essenciais, as mesmas referências fundamentais”, (CHARTIER, 1996, p. 216) o pesquisador passa ser o único “que pode superar a descontinuidade fundamental que costuma existir entre o aparato intelectual, afetivo e psíquico do historiador e dos homens e mulheres cuja história ele escreve”. (CHARTIER, 1996, p. 216) Eis mais um desafio do fazer historiográfico, uma quase tarefa hercúlea e mestra do historiador a de assim como Walter Benjamin “escovar a história a contrapelo” (BENJAMIM, 1994, p.225) e à revelia dos escamoteadores, que do sótão tripudiam em cima dos que jazem ainda no porão da história. Estes homens de Esparta da Amazônia Maranhense não são e nunca foram escravos e escravas, mas escravizados e escravizadas pelo vil sistema capitalista que sobrepuja o ser pelo ter.

 

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* Doutorando em História Social pela UFF, doutorado em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo-FFLCH/USP, mestre e especialista em História do Brasil pela Universidade Federal do Piauí-UFPI, professor de história do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão-IFMA/Campus Açailândia. Líder do CLIO & MNEMÓSINE Centro de Estudos e Pesquisa em História Oral e Memória-IFMA. Pesquisador do Núcleo de Estudos em História Oral NEHO/USP e Grupo Trabalho Escravo Contemporâneo GPTEC/UFRJ.

1Expressão empregada por MORAIS, Maria Dione Carvalho de. Memória de um sertão desencantado: modernização, agrícola, narrativa e atores sociais nos cerrados do sudoeste do piauiense. Campinas, 2000, 481p. Tese [Doutorado em Ciências Sociais] Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade de Campinas, 2000, p. 352. Posteriormente por SILVA, José Carlos Aragão. Ser livre e ser escravo: memórias e identidades de trabalhadores maranhenses na região dos Cocais. 1990-2007. Brasília, 2009. 175p. Tese. [Doutorado em história cultural]. Universidade de Brasília, 2009, p.155.

2 Antracose é doença causada pelo acúmulo de partículas de carvão nos pulmões, geralmente observada em populações de grandes centros urbanos ou de áreas poluídas a exemplo do Piquiá, além de fumantes ou trabalhadores de carvoarias. Caracteriza-se por uma lesão pulmonar, podendo causar fibrose pulmonar e em casos mais graves levar a óbito. O excesso de ferro armazenado no organismo pode gerar graves patologias em outros órgaõs como rins e coração.

3 Ver, VI ENCONTRO NACIONAL DE HISTÓRIA ORAL, São Paulo, Anais eletrônicos. USP, 2002. ABHO: Disponível em:http://www.abho.com.br/anais/anaisusp.html.Acesso em: 19 de ago. 2006.

4 Idem.

5 O Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos Carmem Báscaran, com sede em Açailândia- MA, é uma organização não governamental destinada à defesa dos direitos humanos, fundada na segunda metade da década de 90, tendo como principio norteador ‘a defesa da vida onde for mais ameaçada e os direitos humanos onde forem mais desrespeitados, com atenção privilegiada aos mais pobres e explorados’. Além de grassar no combate pela erradicação do trabalho escravizante no Maranhão Contemporâneo, conta com um vasto campo de atuação, tornando-se uma referência no encaminhamento de denúncias de trabalho escravizante para além da Pré-Amazônia Maranhense, com cursos de promoção de ações culturais, valorização do protagonismo juvenil e na formação de agentes comunitários e culturais. Suas ações demandam a formação de uma rede de parceiros; Manos Unidas, Catholic Relief Services - CRS,Vale, Fundação Vale, SESI, SENAC, SEBRAE, ONG REPÓRTER BRASIL, SECTAM, dentre outros. Para mais informações: www.cdvdhacai.org.br

6 Cognome que lhe foi dado por seus companheiros durante a labuta no roço de juquira, para adjetivá-lo como indivíduo forte e corajoso.


Recibido: 12/09/2016 Aceptado: 12/12/2016 Publicado: Diciembre de 2016

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