Revista: CCCSS Contribuciones a las Ciencias Sociales
ISSN: 1988-7833


DANIEL ALVES E #SOMOSTODOSMACACOS: UMA ANÁLISE DE CONJUNTURA SOBRE O CASO E A LUTA CONTRA O RACISMO

Autores e infomación del artículo

Gonçalo Cassins Moreira do Carmo*

Miguel Archanjo de Freitas Jr**

Solange de Moraes Barros***

Universidade Estadual de Ponta Grossa, Brasil

goncalocassins@gmail.com

RESUMO:
O estudo apresenta enquanto problema o Caso Daniel Alves #somostodosmacacos e as relações que se estabelecem com os atores envolvidos a partir da perspectiva da análise de conjuntura. A análise circunscreve-se acerca do acontecimento de abril de 2014, com um recorte de 30 dias após o mesmo, utilizando especialmente as redes sociais enquanto fonte, por se tratar do veículo em que o caso foi noticiado inicialmente. Conclui-se que ação/campanha #somostodosmacacos foi idealizada sem articulação alguma com a já histórica luta pela superação do racismo. Apesar disto, existiram consequências positivas do ato, que foi o recrudescimento das regras e punições para os casos de racismo – seja no futebol europeu, seja nos campeonatos que ocorrem no Brasil.

Palavras-chave: Daniel Alves, #somostodosmacacos, Redes Sociais,Futebol, Racismo.

ABSTRACT:
The study presents the problem as if Daniel Alves #somostodosmacacos and the relationships established with the stakeholders from the perspective of the situation analysis. The analysis is limited to about April 2014 event, with the period 30 days after it, especially using social networks as a source, because it is the vehicle in which the case was initially reported. It follows that action / #somostodosmacacos campaign was designed without any coordination with the already historic struggle to overcome racism. Despite this, there were positive consequences of the act, which was the resurgence of rules and punishments for cases of racism - is in European football is in the championships that take place in Brazil.

Key-words: Daniel Alves, #somostodosmacacos, Football, Social Networks, Racism.
RESUMEN:
El estudio presenta como problema el Caso Daniel Alves #todossomosmacacos y las relaciones que se establecen con los actores involucrados a través de la perspectiva del análisis de coyuntura. El análisis se circunscribe acerca del acontecimiento de abril de 2014, con una limitación temporal de 30 días después del mismo utilizando especialmente las redes sociales como fuente por tratarse de un vehículo en el cual el caso fue inicialmente publicado. Se concluye que la acción/campaña #todossomosmacacos fue idealizada sin articulación alguna con la histórica lucha por la superación del racismo. A pesar de esto, existieron consecuencias positivas del acto, que fue el recrudecimiento de las reglas y sanciones para los casos de racismo, tanto en el fútbol europeo como en los casos ocurridos en Brasil.

 Palabras clave: Daniel Alves, #todossomosmacacos, Fútbol, Redes Sociales, Racismo.



Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Gonçalo Cassins Moreira do Carmo, Miguel Archanjo de Freitas Jr y Solange de Moraes Barros (2016): “Daniel Alves e #somostodosmacacos: uma análise de conjuntura sobre o caso e a luta contra o racismo”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, (julio-septiembre 2016). En línea:
http://www.eumed.net/rev/cccss/2016/03/somostodosmacacos.html

http://hdl.handle.net/20.500.11763/CCCSS-2016-03-somostodosmacacos


INTRODUÇÃO

O estudo que ora se propõe, trata-se de uma reflexão subsidiada por elementos advindos da análise de conjuntura e circunscreve-se acerca do acontecimento do dia 27 abril de 2014, envolvendo o jogador brasileiro (Daniel Alves), pertencente ao Barcelona Futebol Clube. No jogo em questão a equipe Catalã foi para a Província de Castellón enfrentar a equipe do Villa Real em mais uma das rodadas do campeonato espanhol. Entretanto, aos 30 minutos do segundo tempo, quando o jogador brasileiro foi para linha de fundo para cobrar um escanteio uma banana foi jogada pela torcida local e inusitadamente o atleta responde descascando e comendo a banana.
A partir desta atitude tem início uma série de discussões, principalmente com a utilização das redes sociais, sobretudo o Twitter e blogs que passam a publicar e republicar o acontecimento. Para esta análise o recorte temporal proposto, se estabelece a partir do dia 27 de abril (dia do ocorrido) até aproximadamente trinta dias depois, momento em que o acontecimento deixa de ser comentado nas redes sociais1 . Entende-se que a observação deste período permite averiguar não só a repercussão imediata, como possíveis desdobramentos.
Destarte, cabe salientar que este fora oitavo caso de racismo ocorrido naquela temporada do futebol espanhol (Revista Veja, 07/05/2014). Neste episódio é necessário considerar que o caso aconteceu na Espanha, com um jogador da seleção brasileira de futebol, em um time de expressão mundial e "as vésperas" da realização da Copa do Mundo no Brasil, fatos estes que acabaram auxiliando na maximização deste acontecimento e nos seus desdobramentos em nível global.

Inicialmente, cabe mencionar que fazer uma análise de conjuntura é se debruçar sobre um filete da realidade com o objetivo de - a partir de determinadas categorias como: acontecimentos, cenários e atores, compreendê-lo melhor. Sobre tal modalidade de análise, Betinho destaca que se trata de um misto entre:

[...] conhecimento e descoberta, é uma leitura especial da realidade que se faz em função de alguma necessidade ou interesse. Nesse sentido, não há análise de conjuntura neutra, desinteressada: ela pode ser objetiva mas estará sempre relacionada a uma determinada visão do sentido e do rumo dos acontecimentos (SOUZA, 1986, p. 8).

Quanto à quantificar o que é acontecimento para realizar a análise de conjuntura, podemos dizer que no dia-a-dia, todo fato do cotidiano pode ser interpretado como um fato ou como um acontecimento, de acordo com a perspectiva de seu interlocutor. O fato seria algo corriqueiro que, portanto, não teria maior relevância para a situação. Por sua vez, o acontecimento é um fato que alça maior importância ao alterar e impactar na realidade e como tal, devemos analisar os acontecimentos dos fatos (SOUZA, 1986). Logo, a análise de conjuntura procura selecionar e interpretar acontecimentos que possuam relevância para determinada comunidade, a partir de um recorte da realidade e de tal acontecimento, em uma perspectiva local e/ou global.

A CONSTRUÇÃO DO CENÁRIO DO CASO DANIEL ALVES

Vejamos as palavras usadas por Alves em uma das redes sociais em relação ao ocorrido: “What @DaniAlvesD2 tolerated last night is an outrage. We must fight all forms of discrimination united. Will be zero tolerance at #WorldCup”. O que em tradução livre significa “o que aconteceu na noite passada é um ultraje. Temos de lutar contra todas as formas de discriminação unidos. Será tolerância zero na Copa do Mundo”.

            Ainda sobre o assunto, o jogador afirma:
Não sabia que um ato espontâneo produziria tanta repercussão. Fico feliz em poder contribuir nessa luta, estamos no século XXI e essas coisas não deveriam existir mais. Devemos combater com o nosso jeito brasileiro de ser, fazer com que os racistas se sintam envergonhados de certos tipos de atitudes (REVISTA VEJA, 07/05/2014).

Em declarações após a partida Alves relata que sofre com atos racistas durante toda a sua carreira (11 anos) e que neste momento resolveu revidar como forma de não mais silenciar a situação vivida, dando voz ao combate dos demais preconceitos.
Cabe lembrar que o jogador iniciou sua carreira no Brasil. Sendo natural de Juazeiro (BA), o lateral-direito do Barcelona foi revelado nas categorias de base do Bahia. Apesar da menção do jogador quanto ao fato do mesmo ter sofrido atos racistas durante toda sua carreira, não foi possível identificar qualquer incidente ocorrido no Brasil que tenha envolvido este jogador2 , o que não significa dizer que não exista racismo no Brasil 3.

Em contrapartida, existem evidências de que Daniel Alves tenha sofrido racismo na Espanha. A reportagem do Globo Esporte destaca: Torcedores do Espanyol jogam banana em campo durante clássico. O ato, assim como os barulhos vindos da arquibancada que imitavam o som de macacos, como destaca a matéria, teria sido interpretado pela imprensa espanhola como um ato de racismo contra os jogadores brasileiros Neymar Jr e Daniel Alves (GLOBO ESPORTE, 29/03/2014).

 Outro fato que sustenta a existência de manifestações racistas pode ser encontrada na declaração de Daniel Alves que em janeiro de 2013 (mais de um ano antes do episódio aqui analisado): “Normalmente vivo esta situação em todos os estádios que vou. Infelizmente, é uma guerra perdida até que se tomem medidas mais drásticas. Estou há 10 anos aqui na Espanha, e desde o primeiro ano acontecem estas coisas” (GLOBO ESPORTE, 31/01/2013).

O ato de comer a banana no jogo contra o Villareal repercutiu além da esfera do futebol, sendo um caso amplamente debatido na mídia, já que o jogador nem ofendeu a torcida, tampouco ignorou o acontecimento – vias normalmente escolhidas por jogadores ao presenciarem atos neste sentido. Um exemplo a respeito de como alguns jogadores reagem a atos de racismo, foi o do Ganês Emmanuel Frimpong que desabafou horas depois de ter sido expulso na abertura do campeonato Russo. O jogador do FC Ufa, após ouvir cânticos racistas de um torcedor do Spartak Moscou, que imitava macaco, fez gestos obscenos na direção das arquibancadas, sendo punido com o cartão vermelho (GLOBO ESPORTE, 17/07/2015).

Na mesma noite do acontecido com Daniel Alves, o atleta da sua equipe Neymar Jr. colocou uma foto sua e de seu filho com uma banana, na rede social Instagram. Como hashtag, foi utilizada a frase #somostodosmacacos. Esta frase alcançou repercussão internacional, principalmente devido ao reconhecimento de Neymar Jr como jogador de relevância midiática, vide outras aparições anteriores, devido ao grande número de seguidores em tal rede social e também por postar a frase em quatro idiomas (catalão, espanhol, português e inglês).

De modo geral, ainda que a frase possa ser interpretada por alguns setores como meio de reforçar estereótipos, houve simpatia e consequente adesão de personalidades não apenas do esporte, como das artes, política e anônimos à causa ao postarem fotos e mensagens em diversas situações com a banana – representativa do acontecimento e em apoio à Alves. A Revista Veja aponta (07/05/2014) que “até a última quinta-feira, ou seja, quatro dias após o jogo, a postagem havia recebido quase 580.00 curtidas”.
Os meios de comunicação da Espanha, por exemplo, se ativeram ao acontecimento e suas repercussões. É o caso do jornal ‘Marca’, espanhol, que destaca principalmente as consequências ao torcedor que jogou a banana, ou seja, repercute sua exclusão, com as palavras “o ‘eterno’ excluído”, para designá-lo. O “Mundo Esportivo”, jornal de Barcelona, destaca a campanha como um todo, falando sobre o acontecimento e campanha engajada pelo jogador Daniel Alves.

A campanha alcança status internacional, já que o jogador Neymar, ao lança-la no twitter, se utiliza de português, espanhol, inglês e catalão. Com a ajuda da empresa, o caso se prolifera mais rapidamente, pois a capacidade de viralização de uma hashtag promovida pelo Neymar (com 17,9 milhões de seguidores – abril de 2015), aliado ao caráter internacional da liga de futebol que participa, alcança mais pessoas e de fato vira uma campanha.

Seguindo a euforia do acontecimento, foi lançada pelo apresentador de televisão Luciano Huck uma camiseta com os dizeres ‘somos todos macacos’, esta indumentária foi vendida à R$ 69,00. E é a partir deste momento que o acontecimento é visto com outro olhar, pois emerge na mídia que esta atitude faz parte de uma possível campanha contra o racismo, a qual havia sido encomendada pelo jogador Neymar Jr em parceria com Luciano Huck e a agência de publicidade que cuida de sua imagem. A agência responsável por criar a campanha, bem como a hashtag, foi a Loducca (UOL ESPORTES, 28/04/2014).
      Ambos jogadores, Alves e Neymar Jr. revelaram sofrer preconceito racial e também que Alves sabia da campanha proposta, mas afirmam que o gesto não havia sido previamente combinado. Ou seja, teria Neymar Jr oportunizado o gesto, com uma campanha já elaborada que, por fim, teve um estopim voluntário (MATOS, 2014). Ainda assim, acredita-se que o gesto controverso coloque em xeque a legitimidade da ação, criando no imaginário questionamentos sobre a intenção da campanha e da atitude de Alves, podendo colocar em xeque muitos dos valores que permearam a situação.

REPERCUSSÃO NA MÍDIA

De imediato, tendo apenas conhecimento do ato do jogador brasileiro Daniel Alves, diversos portais de notícias e jornais divulgaram o caso. No Brasil, portais como o Uol, Globo, Veja, Espn, Terra, Bol, R7, Band, Jornais como o Estadão e a Folha de São Paulo.

A Veja, no dia 02/05, coloca “Como Daniel Alves derrotou4 o racismo”. No dia 04/05, no próximo domingo, a Revista eletrônica “Fantástico”, da Rede Globo, mostra entrevista exclusiva com Alves, apresentada no programa com grande destaque. O portal Uol, por exemplo, no dia 27 de abril notícia “Neymar apoia Daniel Alves após lateral comer banana: somos todos macacos”.
 Internacionalmente, vemos BBC, Olé e também jornais da Catalunha como Mundo Esportivo, Sport, O Marca. Podemos destacar como importante a chamada de capa presente no jornal italiano “Gazzeta dello Sport”, que usa a seguinte frase: “Uma banana planetaria pere battere il razzismo” 5. Este jornal utiliza uma foto do ato do Daniel Alves comendo a banana, destacando que a questão do racismo abarcaria mais do que a Espanha, sendo tópico de discussão internacional.

Até aquele momento, a repercussão se dá por uma atitude que incentivaria um combate ao racismo. Vemos um exemplo em como a BBC Brasil trata a manchete: “É hipocrisia negar racismo e criticar #somostodosmacacos”, do dia 30/04/2014. Alguns meios de comunicação levantam a questão de que a frase somos todos macacos, ainda que com boa intenção, poderia reafirmar um estereótipo e, por isso, ser na realidade reafirmadora do mesmo. Como principal voz defensora desta posição, temos o blog do Negro Belchior, da Revista Carta Capital, que noticia, no dia 28/04, “Contra o racismo, nada de bananas, nada de macaco, por favor!”, expondo ainda que não se posiciona contra a atitude de Alves, e sim com o uso da mesma para autoprojeção de Neymar Jr:

Não, querido Neymar. Não somos todos macacos. Ao menos não para efeito de fazer uso dessa expressão ou ideia como ferramenta de combate ao racismo.
Mas é bom separar: Uma coisa é a reação de Daniel Alves ao comer a banana jogada ao campo, num evidente e corriqueiro ato racista por parte da torcida; outra coisa é a campanha de apoio a Daniel e de denúncia ao racismo, promovida por Neymar.

A crítica estabelecida por Negro Belchior é bastante forte, pois critica diretamente a ideia de que a campanha desenvolvida possa se constituir como uma ferramenta de combate ao racismo. Destaca-se, ainda, que os apontamentos do autor são anteriores a divulgação de que a campanha poderia representar uma ação midiática.

Quando vem a tona que a campanha foi arquitetada por uma Agência de Publicidade, a Loducca, as reações passaram a se tornar contrárias ou divididas quanto ao caso. O fato de não ser uma manifestação espontânea e sim fruto de uma ideia criada por outrem descaracteriza e/ou perde força a ação. Entende-se ainda que a necessidade midiática de um jogador foi a necessidade mais premente, neste caso, e não necessariamente o combate ao preconceito:

Neste caso, a simbiose entre futebol, mídia e capitalismo não é mero acidente, mas extensão de um fenômeno maior; qual seja, a visibilidade tornou-se não apenas senha de acesso para a existência, como também moeda de troca e de vigilância de todos sobre todos (SANTOS, 2014).

            No blog Esporte Fino, o jornalista José Antônio Lima – que é vinculado à carta capital -, expõe “Neymar precisa do bom-mocismo fabricado pelas agências?”, contestando a naturalidade do ato. O Blog do Estadão, do jornalista Antero Greco, se posiciona de maneira explícita contra o fato do envolvimento da agência de publicidade, usando a manchete “Como se sentir otário”, no dia 30/04/2014. Ainda que a atitude de Daniel Alves fosse espontânea, perde credibilidade ao Neymar Jr se aproveitar da mesma, inclusive com as vendas de camisetas relacionadas à hashtag, como já mencionado. O jornalista Greco escreve:

A sensação de logro, de tapeação veio com a declaração do agente de mídia. Daí quebrou o encanto. Já que Neymar estava empenhado em combater o aleijão do racismo, por que não detonar logo a campanha, uma vez que o assunto não sai de cena, infelizmente?

            Algo que também se destaca é a encomenda de uma campanha contra racismo ter sido feita logo antes da Copa do Mundo do Brasil, que aconteceria dentro de dois meses. Dito isto, é possível imaginar que tudo se passaria para alavancar a imagem do jogador. Santos (2014) diz que há uma mudança de como foi visto a atitude. “O que muitos consideravam uma reação antirracista espontânea e, por isso, digna de apoio, passou a ser pensada como uma campanha criada por uma agência publicitária para promover o jogador Neymar”.

            O que é possível observar é que previamente nenhum dos atores principais envolvidos na questão – os jogadores Neymar Jr, Daniel Alves e o apresentador Luciano Huck -, estavam engajados em causas do racismo 6. No caso de Neymar Jr. de Daniel Alves, ambos já tinham sido alvos de atitudes racistas (como em outros momentos em que torcedores jogaram bananas7), sem, no entanto, se engajarem necessariamente na causa.

ATORES

Na análise de conjuntura considera-se ator aquele que representa um papel, em determinado cenário, dentro de uma trama repleta por correlações de forças. Partindo deste pressuposto pode-se dizer que o ator pode ser um indivíduo que “[...] representa algo para a sociedade (para o grupo, a classe, o país), encarna uma ideia, uma reivindicação, um projeto, uma promessa, uma denúncia” (SOUZA, 1984, p. 12). Desta maneira, pode-se dizer que o ator é todo aquele que está relacionado a conjuntura considerada na análise, sejam indivíduos, grupos sociais ou instituições (como sindicatos, associações, partidos políticos, entre outros). Para além, os atores também podem ser classificados entre visíveis (aqueles que se apresentam em relação à problemática) e invisíveis, ou seja, que operam de forma indireta para manutenção ou alteração de determinada conjuntura.
Em relação ao acontecimento eleito para esta análise, uma série de atores visíveis podem ser facilmente identificados, sejam eles diretamente relacionados ao ato de Daniel Alves em comer a banana – como por exemplo: o próprio jogador, as Federações Europeia e Internacional de Futebol; ou inter-relacionados por outros fatores, como é o caso do Neymar Jr (companheiro de equipe e amigo), CBF (Confederação Brasileira de Futebol, órgão representativo do esporte em seu país de origem) e outros.
Além dos citados, podemos também elencar àqueles cuja influência/relevância num primeiro momento permaneceu velada, mas que com desdobramento do caso, com o passar dos dias, deixaram de ser invisíveis – este é o caso de Luciano Huck (apresentador de televisão e empresário brasileiro) e Loducca (agência publicitária que é responsável pela imagem de Neymar e pela marca NJr). Além disto, para fins de aprofundamento da análise, acrescentamos a este grupo de atores os movimentos sociais contra o racismo – representados em especial neste texto por Douglas Belchior (também conhecido como Negro Belchior, militante do movimento negro e colunista da Carta Capital).          
Desta forma, o primeiro ator a ser considerado é o protagonista do acontecimento. Daniel Alves da Silva, também conhecido como Dani Alves, é um jogador de futebol brasileiro que atua como profissional desde seus 15 anos. Como lateral direito defende a camisa do time europeu Barcelona, além de ser um dos jogadores que em abril de 2014 estava sendo cotado para compor a Seleção Brasileira de futebol na Copa do Mundo de 2014, promovida pela FIFA no Brasil.
Em relação ao episódio em que descascou e comeu a banana atirada pela torcida em sua direção, declarou se tratar de uma atitude “espontânea” e uma forma “bem-humorada” de lidar com uma situação recorrente.
Com o passar dos dias e o desvelar fatos e táticas que haviam por trás do acontecimento, o mesmo se posicionou de maneira diferente, dizendo conhecer a proposta do amigo Neymar Jr de utilizar as manifestações racistas para iniciar uma nova campanha. Sobre o mesmo assunto, foi além do #somostodosmacacos e afirmou ao Globo.com em 29/04/2014:

No campo de futebol a gente nunca espera que vão atirar uma banana ou outra coisa parecida. Foi uma reação espontânea. Uma reação à ação até de uma forma divertida de ver um pouco a vida, de tomar algumas decisões e repercutiu no mundo todo algo que eu não pensava que ia ter tanta repercussão pelo jeito do brasileiro ser feliz e ser superior a certos tipos de coisa [...] O crescimento de um povo e das pessoas se vê pelas atitudes e não pelas palavras. Eu espero que isso possa gerar muito mais coisas e as pessoas se conscientizem de uma vez que somos todos iguais e temos todos o mesmo objetivo sem tentar causar danos às pessoas até porque somos todos iguais, somos todos humanos (grifo nosso).

Neymar Jr teve sua participação iniciada pouco tempo após o acontecimento, quando postou em seu perfil Instagram uma foto junto ao filho, segurando uma banana, com a seguinte legenda:
É uma vergonha que em 2014 exista o preconceito. Tá na hora de a gente dizer um chega pra isso! A forma de me expressar para ajudar que um dia isso acabe de uma vez por todas é fazer como o @danid2ois (Daniel Alves) fez hoje!! Se você pensa assim também, tire uma foto comendo uma banana e vamos usar o que eles têm contra a gente a nosso favor. #somostodosmacacos #weareallmonkeys #somostodosmonos.

Após a chamada do atacante brasileiro (também companheiro de Daniel Alves no time espanhol), a repercussão do ato se tornou ainda maior. Como mencionado ", diversas foram as pessoas, dentre anônimos e famosos, publicaram fotos com bananas e/ou com a hashtag #somostodosmacacos em apoio ao lateral direito e em prol da (suposta) luta contra o racismo. Foi enaltecida, ainda, a atitude de Dani Alves ao “continuar jogando como se nada tivesse acontecido”.

A Federação Europeia de Futebol (UEFA) já vinha se manifestando contra as atitudes racistas recorrentes (especialmente no futebol espanhol), tendo inclusive publicado nova resolução8 sobre as punições para este tipo de comportamento e encorajado os árbitros a pausarem as partidas em caso de racismo (que deveriam, também, ser denunciadas por jogadores e equipe técnica – “mesmo que isto prejudique o clube”). Antes, inclusive, da FIFA (Federação Internacional de Futebol) se manifestar, a Federação Europeia já havia reconhecido o problema. Gianni Infantini e Michel Platini, seus diretores, declaravam em publicações oficiais e em entrevistas:
Inaceitável para qualquer um ser alvo de insultos racistas ou ser maltratado dentro de estádios, não podemos tolerar isso. Apelamos a todas as federações filiadas e partes interessadas para que apliquem uma política de tolerância 0 contra todas as formas de discriminação (TERRA ESPORTES, 13/05/2014).

            Acredita-se, que o posicionamento tanto da FIFA quanto da Federação Europeia reconhecendo o problema do racismo e, ainda, a proposição de resoluções que preveem punições para aqueles que pratiquem atos de natureza racista, é um importante passo para o enfrentamento da questão.

            O site da editora Abril (Revista Veja) noticiou em 28/04/2014, a manifestação da presidente Dilma, bem como a nota publicada no site oficial da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) em apoio ao também jogador da seleção brasileira, Daniel Alves. A matéria destacava que
A CBF manifestou apoio ao jogador da seleção brasileira, provável titular da equipe de Luiz Felipe Scolari na Copa do Mundo. “Na primeira rodada do Campeonato Brasileiro deste ano, a CBF promoveu o início da campanha ‘Somos Iguais’. Em todos os jogos da abertura da competição, uma faixa foi estendida com o emblema da entidade em preto e branco. Nesta segunda é a vez da CBF se solidarizar com Daniel Alves e ratificar sua posição nesta luta. Cor não faz diferença! Somos iguais!”, diz nota divulgada pela entidade. O presidente da Fifa, Joseph Blatter, também se manifestou na tarde desta segunda condenando as atitudes racistas e prometendo tolerância zero com a discriminação na Copa do Mundo. A presidente Dilma Rousseff já havia defendido, no Twitter, o uso da Copa do Mundo para promover uma campanha de combate ao racismo no futebol.

        
Outro importante brasileiro que se posicionou a respeito cobrando punições mais severas para quem pratica atos de preconceito racial foi o Ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, que declarou que "o racismo fere a alma do Brasil. É crime inafiançável".

            Diante da repercussão do caso e também do posicionamento da UEFA, o presidente da FIFA, Joseph Blater, mudou de posicionamento (até então negando a existência de racismo) afirmando que não deve haver espaço para o racismo no futebol, mas que os diversos incidentes recentes serviram para mostrar que a luta não acabou. Para tanto, "acreditamos que a copa do mundo será uma ocasião perfeita para mandar uma mensagem clara ao mundo: o futebol é para todos e não toleramos qualquer forma de discriminação."
Outro fato relevante foi que, transcorridos alguns dias do acontecimento, foi desvelada a participação da agência de publicidade Lodduca e de Luciano Huck no planejamento de uma campanha contra o racismo cujo ato inicial (comer a banana) deveria ser efetuado por Neymar Jr. Um dos indícios que favoreceram a descoberta foi a retomada das postagens do atacante e do apresentador brasileiro em outra rede social, o Twitter, que mostrava que cerca de nove dias antes de Dani Alves protagonizar o ato, os atores já mencionados se reuniram para discutir negócios e fechar um acordo que viria a ser revelado posteriormente com o lançamento da hashtag #somostodosmacacos.

Luciano Huck, apresentador de televisão e dono da marca pessoal "Use Huck" enxergou na campanha idealizada junto à Loducca e Neymar Jr a possibilidade de promoção. Isto porque, nem bem a hashtag havia sido publicada pelo atacante, já estava a venda um modelo de camiseta com estampa relacionada à campanha e cujo valor seria, supostamente, revertido a instituições/movimentos que lutam pela causa.

Outro ator foi Guga Ketzer, vice-presidente da agência de publicidade Loducca. O mesmo se manifestou dizendo do envolvimento de sua empresa com a campanha encabeçada por Neymar Jr, afirmando que
Nos pareceu (e ainda nos parece) que fazer algo bem-humorado, irônico e que ridicularizasse as atitudes racistas teria maior capacidade de levantar a discussão, seria mais eficiente em tocar o coração das pessoas do que algo que reclamasse, chorasse ou ficasse tentando reforçar um papel de vítima (caminhos que já foram seguidos em momentos diferentes, têm seus méritos, mas que não tiveram a mesma repercussão). Ainda mais para uma pessoa com a personalidade alegre, brilhante e divertida como a do Neymar Jr. Tinha que ser algo como ele.

O que fizemos? Criamos a hashtag “somos todos macacos” e a ideia de “mandar uma banana” para todos os racistas através de uma foto do Neymar comendo uma banana. E também um vídeo onde explicamos a manifestação do Neymar Jr (MEIO E MENSAGEM,30/04/2014).

Em contrapartida, surge Douglas Belchior - professor de história pela PUC-SP, colunista da Carta Capital, há anos militante no movimento negro, problematizando e tensionando à questão levantada pelo acontecimento e seus desdobramentos. O ativista defende em dois artigos publicados em 28 e 29 de abril que a comparação entre negros e macacos é, em sua essência, racista – embora nem todo mundo compreenda a gravidade da utilização desta comparação como ofensa aos negros.

Em seu texto, Belchior sugere que “se é para associar a origens, por que não dizer que Somos Todos Negros?” ou, então, “Somos Todos da África?”. Ele questiona ainda: “por que não lembrar que é da África que viemos, todos e de todas as cores?” O ativista acrescenta a consideração que, na sua opinião, “o racismo, em todas as suas formas, é uma estupidez incompatível com a própria evolução humana” (NEGROBELCHIOR, 28/04/2014).

O blogueiro diferencia a ação de Daniel Alves (comer a banana como forma de enfrentamento ao racismo) e a campanha criada em cima da situação criticando abertamente Neymar Jr. e todos os envolvidos nesta. Aponta que “não somos todos macacos. Ao menos não para efeito de fazer uso dessa expressão ou ideia como ferramenta de combate ao racismo” e que tão pouco o uso da “banana” serve para a luta contra esta forma de preconceito.

Segue, então, fazendo uma análise sobre como o preconceito racial atinge Neymar Jr e Daniel Alves, que tem atualmente uma posição privilegiada (‘o estrelato esportivo, dos ganhos milionários, da vida feita na Europa, da titularidade na seleção brasileira de futebol´), de forma diferente à que milhares de brasileiros enfrentam. Diz que para ambos ignorar e/ou rir é o melhor, quiçá mais confortável. Mas destaca que nem todos tem esta sorte, afinal.

Neste sentido, Belchior afirma que jogadores com altos salários tem pouca chance de ser confundidos com um assaltante, ou mesmo ficarem presos, ficarem desaparecidos, serem arrastados por um carro, ter que correr da polícia ou, ainda, acabarem mortos. Apesar das bananas, dificilmente serão tratados como animais, ao buscarem vida digna.

CENÁRIOS

Na análise de conjuntura os cenários são os espaços onde se desdobram as ações importantes que lidam com a vida social e política. Cada cenário tem elementos específicos que influenciam o curso dos acontecimentos e frequentemente uma mudança de cenário também representa uma mudança no desenvolvimento das próprias ações e os elementos (SOUZA, 1986). Um cenário físico é chamado palco e tem a característica que é fixo. Mas um cenário não físico adquire um caráter dinâmico e pode mudar de acordo com as condições de contexto, bem como atores que estão sendo envolvidos ou relegados. O cenário é uma rede geral aonde os eventos impactam, no entanto cada palco contribui de uma maneira particular para que esse cenário seja construído.

A análise de conjuntura geralmente tem vários cenários simultâneos, onde se desenrolam os acontecimentos, estes cenários podem ser sociais e políticos, e tudo o que acontece neles pode ser de forma paralela e influem em cada momento na configuração geral das situações. O acontecimento tem palcos, de caráter físico, não-físicos onde os atores manifestaram-se em relação à controvérsia sobre o caso. No episódio do palco, o lugar foi o Estádio do Clube de Futebol Villareal. O estádio “El Madrigal” foi inaugurado em 17 de Juno de 1923 y está localizado na Rua de Blasco Ibáñez, 2, Villarreal, na cidade de Castellón, España, tem capacidade para 25 mil assistentes.

No entanto, o grande impacto deste evento é que, além do palco físico, o acontecimento foi no contexto da uma das ligas de futebol com mais espectadores em todo o mundo e também gera grandes recursos econômicos, tornando-se um cenário de grande importância para a análise do caso, e para contextualizá-lo é importante mencionar o impacto do futebol como esporte e as principais características da liga espanhola.

A importância do futebol espanhol está documentada no mais recente "Barômetro Sectorial" feito na Espanha pela consultoria Grayling (GRAYLING 2014), pode-se ver que o futebol é o esporte mais importante da Espanha, 54,3% dos espanhóis afirmam ser interessado neste esporte, mais que o triplo obtido por outros esportes populares, como basquete e motociclismo. 54,9% da população espanhola afirma ter frequentado um estádio de futebol, sendo que este é o segundo maior passatempo nacional superado apenas pelo cinema.

A liga espanhola tem um nome oficial: Liga BBVA, ou seja, é patrocinado por um dos maiores bancos do mundo, Banco Bilbao Vizcaya Argentaria, classificado no ranking mundial como 37º pelo tamanho, está presente em 31 países, tem 51 milhões de clientes, 7.371 escritórios e 108.770 funcionários. (SNL Consultoria em Finanças, 2013).

Em termos econômicos, em 2010, o futebol contribuiu para a economia espanhola com 10.000 milhões de euros no ano, o que representa 1,7% do PIB. Este valor é o dobro do que eles produzem outras atividades produtivas, como a pesca. O orçamento dos 42 clubes da Primeira e Segunda Divisão atingiu 2 bilhões de euros. Esse valor é semelhante ao dinheiro aportado por Espanha para resgatar a economia grega. 14 milhões de espectadores assistiram anualmente nos estádios; O mercado de apostas também é uma parte importante desta indústria para gerar 557 milhões de euros; O Estado espanhol recebe pagamentos tributários decorrentes de atividades de futebol, no montante de 821 milhões de euros; e no que diz respeito aos telespectadores que acompanham o campeonato, o número sobe para 200 milhões de telespectadores em 160 países; A liga gera 85 mil empregos diretos e indiretos; A mobilização de jogadores, famílias, treinadores e árbitros é significativo tendo 1 milhão de jogos por ano por ano em conjunto com todas as ligas.

Outro cenário de importância foram as declarações públicas das autoridades do futebol envolvidas no caso, o corpo da maior hierarquia no futebol é a FIFA, com sede em Genebra, Suíça, emitiram um comunicado em 2014/05/28:
Não deve haver espaço para o racismo no futebol, mas os diversos incidentes recentes mostram que a luta não acabou, indicou a entidade. A FIFA aponta que adota uma atitude de “tolerância-zero” contra o fenômeno e pede que a comunidade do futebol “erradicar o racismo e discriminação do futebol e da sociedade”. A FIFA também pede que as entidades locais estabeleçam regras para punir atos parecidos.

A Copa do Mundo no Brasil será usada para passar uma mensagem de combate ao racismo. Os jogos das quartas de final serão dedicados a esse objetivo. “Acreditamos que a Copa do Mundo será uma ocasião perfeita para mandar uma mensagem clara ao mundo: o futebol é para todos e não toleramos qualquer forma de discriminação (FIFA, 2014).

De acordo com o exposto pela FIFA, durante os jogos da Copa do Mundo de 2014 no Brasil, esteve-se mostrando nas telas dos estádios participantes, vídeos e mensagens contra o racismo antes do início das partidas, durante o intervalo e ao final de cada jogo.

Além disso, a entidade reguladora do futebol europeu, a UEFA, em colaboração com a FARE, uma organização dedicada à luta contra o racismo no esporte, tem implementado desde 2001 uma campanha formal da “tolerância-zero” para qualquer tipo de expressão com propósitos racistas. Esta atividade também incluiu uma revisão dos regulamentos. Na sua última edição, em Maio de 2014 o Regulamento Disciplinar da UEFA prevê penas mais duras para atos racistas e fomenta o respeito à diversidade.

El Comité Ejecutivo de la UEFA ha aprobado estrictas sanciones contra la conducta racista en la última edición del Reglamento Disciplinario de la UEFA, que entrará en vigor el 1 de junio de 2013. El nuevo Reglamento Disciplinario de la UEFA destaca por la inclusión de duras sanciones para combatir eficazmente la conducta racista en los partidos de fútbol, en línea con la política de tolerancia cero que también se ha subrayado con la resolución adoptada por el Consejo Estratégico del Fútbol Profesional (PFSC) el 27 de marzo de 2013 en Sofía (UEFA, 2014).

O clube Villareal, através do seu presidente Fernando Roig disse9 .

O Clube Villareal clausurará a zona do estádio a onde se produzo o incidente de um torcedor com Dani Alves o passado 27 de Abril e com essa ação enviará uma mensagem rotundo em conta do racismo e a xenofobia, ficando muito clara uma vez mas a postura do clube sobre este tipo de acontecimentos.

O Villareal é desde sempre um clube que transmite valores e que desenvolve, como tudo mundo sabe, uma política exemplar onde reúne a jovens de todas nacionalidades e não vamos a permitir que este tipo de polémicas estraguem uma entidade consolidada e acreditada nele futebol internacional (CLUBE VILLAREAL, 2014).

Enquanto isso, o Barcelona também se expressa no fato:
El FC Barcelona quiere recordar la importancia cívica, cultural, social y deportiva de los dos mensajes que la UEFA nos recuerda antes de cada partido: Respeto y No al Racismo.

El FC Barcelona quiere manifestar su total apoyo y solidaridad con el jugador del primer equipo Dani Alves tras los insultos recibidos el pasado domingo en el campo del Villarreal por parte de algunos asistentes al partido entre el equipo anfitrión y nuestro primer equipo.

El FC Barcelona en ningún caso relaciona los agresores con el club local y valora muy positivamente el apoyo del Villarreal a nuestro jugador. Su condena pública e inmediata a las agresiones registradas en el Estadio El Madrigal van en la dirección correcta, en la dirección de convertir los terrenos de juego en espacios donde prevalezca el deporte y donde las deficiencias de comportamiento por parte de determinadas personas queden, primero aisladas, y posteriormente, erradicadas para siempre (CLUBE BARCELONA 2014).
Na sequência destas declarações, dias depois, 18 de maio em uma partida contra o Racing Club de Santander, uma empregada do clube Barcelona foi exposta na mídia fazendo gesticulação associada com o comportamento de macacos, estes gestos foram direcionados para o jogador Africano Mamadou Koné, o que também causou uma forte controvérsia social. A situação tornou-se ainda mais sensível no caso de Daniel Alves e também para o Clube Barcelona por causa do fato de mostrar esse tipo de comportamento agora sendo os próprios empregados do clube que em dias anteriores um de seus jogadores tinha sido vítima de um ataque, mesmo após a polêmica gerada pela campanha #somostodosmacacos.

Isto traz o debate que em momentos de lazer, uma pessoa tem mais liberdade para expressar seus próprios valores, seu "habitus". O conceito de habitus difundido pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu para se referir a esses esquemas sociais geradores, em que um indivíduo ao longo de sua história interioriza sua estrutura social e o campo das relações sociais em que ele se desenvolve. A partir dessas estruturas são produzidas as percepções, pensamentos e ações do sujeito (BOURDIEU, 1972).

O pensamento e os valores não estão necessariamente relacionados a uma questão de classe social. Para assistir um jogo da liga espanhola o valor do ingresso é elevado, isso significa que ele não é um espaço altamente democrático, até o fato da localização geográfica dentro do estádio para conseguir jogar uma banana, isso significa que a pessoa que estava em um lugar próximo ao campo.

Além disso, há também o cenário político, através do uso da rede mundial de computadores e de redes sociais como Facebook e Twitter, estes serviram como o canal para que figuras políticas e públicas manifestaram-se com respeito ao evento. Isto é importante porque, no caso do Brasil, de acordo com dados de um estudo da consultoria Semiocast postada na CNN, ao ano 2012 o Brasil foi o segundo país com mais contas do twitter do mundo, com 33,3 milhões de contas, apenas abaixo EUA que mostrou um total de 107,7 milhões de usuários da rede social.

Destacam-se mensagens enviadas pela presidente Dilma Rousseff via Twitter:
@Dilmabr: “O jogador @DaniAlvesD2 deu uma resposta ousada e forte ao racismo no esporte”
@Dilmabr: “Em seu apoio @Neymarjr lançou a campanha #somostodosmacacos p/ mostrar que todos tememos a mesma origem…”
Além disso, houve manifestações de outras figuras públicas brasileiras, como Michel Teló, Nelson Rodrigues, Rosa Baptista, Claudia Leite, Lucas Leiva, Marco Luque, entre outros.

O RACISMO

Frente ao amplo debate que se estabeleceu, o técnico da seleção espanhola, Vicente Del Bosque procurou minimizar o acontecimento (lançamento da banana), posicionando-se da seguinte forma: “No futebol, não há racismo, em absoluto". A polêmica afirmação, faz com que o tema se coloque no centro do debate.

Ao realizar uma análise histórica Snowden (1995) afirma que já existia preconceito na antiguidade greco-romana embora este não fosse de origem racial. Embora o século XX tenha se mostrado bastante fértil no sentido de apresentar avanços no combate ao preconceito e ao racismo, como por exemplo: a Declaração dos Direitos Humanos (1948) a condenação da UNESCO às classificações raciais (1950) entre outros, o problema ainda permanece atual.
A esse respeito, Lima e Vala (2004, p. 402) afirmam:

[...] apesar da sua relevância enquanto problema social, o preconceito e o racismo quase sempre foram percebidos como sendo um problema do outro e, portanto, distante de cada um de nós. Seja porque nós, enquanto atores sociais e imbuídos dos valores do igualitarismo e da justiça que compõe a nossa formação democrática, analisamos o racismo na maior parte das vezes como um problema do outro ‘xenófobo’. Seja ainda porque as vítimas de preconceito sejam quase sempre outros que não nós mesmos

Faz-se aqui uma mediação necessária, aquela que permite compreender a diferença entre o preconceito e o racismo. As bases que permitem definir as principais perspectivas de análise do preconceito na atualidade, foram originalmente apresentadas por Allport (1954). Nesta direção, o preconceito pode ser definido como: “uma atitude hostil contra um indivíduo, simplesmente porque ele pertence a um grupo desvalorizado socialmente” (ALLPORT apud LIMA E VALA, 2004, p. 402).

Dentre as várias formas possíveis de preconceito, existe uma que se define em função de características físicas ou fenotípicas, chamada por Allport (1954) de preconceito racial, ou de acordo com a literatura que possa ser utilizada, preconceito étnico.

            Já o racismo, constitui-se como afirma Lima e Valia (2004, p. 402):
[...] num processo de hierarquização, exclusão e discriminação contra um indivíduo ou toda uma categoria social que é definida como diferente com base em alguma marca física externa (real ou imaginária), a qual é re-significada em termos de uma marca cultural interna que define padrões de comportamento.

Nesta direção, o racismo apresenta enquanto princípio uma crença naturalizadora de que os grupos são diferentes porque possuem elementos essências que os fazem diferentes, portanto, o racismo carrega não apenas um processo de discriminação, mas também de exclusão social.

Em meio ao embate que se estabelece, Athayde Motta considera positivo o fato de jogadores de futebol responderem publicamente aos racistas que os atacam em campo. Mas acha que o reforço da associação da figura da pessoa negra com o animal macaco é ruim na luta pela igualdade racial.

Sobre o assunto, Motta (2014) aponta:
O perigo é você, querendo fazer o oposto, reforçar o estereótipo de que negros e macacos são, de alguma maneira, similares’. ‘Essa associação não é a melhor. O excesso de humor pode afetar o resultado da campanha, esvaziar a discussão.

O uso do humor, como destacou Motta pode efetivamente esvaziar a questão, ou fazer parecer que no Brasil o racismo não existe. Freyre (1998) tinha convicção da existência do racismo no Brasil, embora pudesse pensar na singularidade do racismo brasileiro e nas formas pacíficas de gradual superação. Outro aspecto relevante, diz respeito ao conceito de raça, pois o mesmo é uma construção social, uma “construção ideológica” como afirmou Hund (1999).

Um outro ponto de vista, é o que apresentou a ativista Camilla Magalhães Gomes (branca), escrevendo em sua rede social: "Não somos todas travecos. Não somos todos macacos. Não somos todos boiolas. Não somos todas vadias. Não posso pretender subverter o uso de um termo que nunca foi usado de forma violenta contra mim."
Dentre as possíveis explicações para o ato racista está o processo de imigração de pessoas oriundas de ex-colônias. Apesar desta hipótese ter sido aventada na ocasião, o estudo desenvolvido por Ramos, Vala e Pereira (2008) que esperava encontrar uma associação positiva entre o número de estrangeiros e o preconceito racial, um resultado que seria suportado quer pela teoria da ameaça grupal (Blumer 1958; Blalock 1956, 1967; Bobo e Klugel 1993; Quillian 1995), sugerem que o preconceito racial é predominantemente determinado por fatores individuais.

Apesar de toda a polêmica gerada, o racismo parece ter voltado ao campo do esquecimento, pois os meios de comunicação, aos atores envolvidos e a campanha #somostodosmacacos saem de cena.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FINAIS

            O que se pode perceber ao realizar a análise de conjuntura é que a ação/campanha #somostodosmacacos faz jus exclusivamente ao modelo de sociedade capitalista em que vivemos, tendo sido idealizada sem articulação alguma com a já histórica luta pela superação do racismo.
            Não foi levada em consideração a opinião (ou ainda, as reflexões sobre o assunto desenvolvidas) dentro dos movimentos sociais que levantam a bandeira causa negra e lutam contra racismo. Caso, por algum momento, o objetivo fosse realmente apoiar uma causa e não se auto-promover e à marca de camisetas, o posicionamento poderia ter sido mais crítico e construtivo.

            Apesar de não ser possível mensurar os sentimentos relacionados ao racismo, é preciso destacar que Daniel Alves e Neymar Jr encontram-se em posição de quem não sofre tanto com as atitudes racistas. A condição social destes faz com que possam se posicionar de forma a “continuar no jogo como se nada tivesse acontecido” enquanto outros milhões de pessoas em todo o mundo infelizmente ainda precisam enfrentar a situação todos os dias.

            Cabe lembrar, que o próprio Neymar Jr declarou em entrevistas não sofrer os efeitos do preconceito racial, em uma entrevista em abril de 2010, quando foi questionado se já havia sido alvo de racismo, o jogador respondeu: “Nunca. Nem dentro e nem fora de campo. Até porque eu não sou preto, né?” (GLOBO ESPORTE, 01/05/2014).

            Curiosamente, mesmo tendo feito este tipo de declaração, o jogador passa a ser um dos principais atores daquilo que se denominou originalmente como uma campanha antirracismo.

            No entanto, também existiram consequências positivas do ato, que foi o recrudescimento das regras e punições para os casos de racismo – seja no futebol europeu, seja nos campeonatos que ocorrem no Brasil (exemplo: caso do jogador Aranha, do Grêmio). Para além disto, também foi realizada campanha durante todos os jogos da Copa do Mundo realizada no Brasil entre junho e julho de 2014 incentivando a convivência pacífica e a igualdade entre todos. Apesar dos esforços foram registrados dois casos de racismo por parte de dois argentinos contra torcedores brasileiros que assistiam a partida entre Argentina e Bósnia no Maracanã, Rio de Janeiro (GLOBO ESPORTE, 16/06/2014).

            Apesar destas iniciativas, acreditamos que a questão do racismo no Brasil e no mundo está longe de ser resolvida. Todavia, ações que busquem colocar a questão em debate, além de necessárias, são fundamentais para que a temática possa ser visitada de forma sistemática e crítica, sobretudo, se considerarem o posicionamento dos diversos segmentos interessados.

REFERÊNCIAS

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* Professor Assistente do Departamento de Educação Física da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Aluno do Programa de Pós- Graduação em Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Estadual de Ponta Grossa – PR, doutorado. E-mail: goncalocassins@gmail.com .Currículo: http://lattes.cnpq.br/1068217292077677.

** Pró-reitor de Graduação da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Estadual de Ponta Grossa e Professor Adjunto do Departamento de Educação Física da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Currículo: http://lattes.cnpq.br/3535289084806834

*** Professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Professora Associada do Departamento de Serviço Social da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Orientadora. Currículo: http://lattes.cnpq.br/1164535714435380

1 Cabe aqui uma mediação importante: a análise de conjuntura trabalha com o acontecimento, pois este é aquilo que impacta a sociedade, a partir do momento que este volta ao cotidiano torna-se novamente um fato.

2 Essa afirmação é feita a partir da consulta a rede mundial de computadores, utilizando os descritores: Daniel Alves, Racismo, Brasil.

3 A este respeito vale a pena conferir o trabalho de FREITAS JUNIOR, M.A. & RIBEIRO, L.C. Vitórias e derrotas de um futebol mestiço: algumas reflexões sobre a questão racial no Brasil. In: Revista Emancipação. Número 12, vol 2, 2012.

4 É importante ter claro que apesar do título da reportagem destacar o termo “venceu o racismo”, a simples atitude não é suficiente para a resolução da questão. Gilberto Freyre, Mário Filho e Nelson Rodrigues já destacavam que existe um desejo na mídia brasileira de vencer o racismo, mas este é um desejo.

5 Tradução: “Uma banana planetária para combater o racismo”.

6 A consulta utilizou como referência o período de um ano antes do acontecimento e utilizou a rede mundial de computadores e as redes sociais.

7 Em 2011 em Londres ocorreu um episódio em que um torcedor lançou uma casca de bananas contra Neymar Jr. logo após este ter feito um gol. Na ocasião, o Brasil venceu a Escócia pelo placar de dois a um. Já Daniel Alves, no ano de 2013, enfrentou cânticos que imitavam macaco vindo dos torcedores do Real Madrid. Na ocasião, o jogador registrou uma queixa formal.

8 A esse respeito ver: es.uefa.org

9 A análise conjuntura é dinâmica, neste momento fazemos referência ao cenário, entretanto, estamos tratando dos atores. Fica evidente, portanto,  que neste tipo de análise destaca-se que  o ator só age dentro de um cenário, logo cenário e atores são interdependentes.


Recibido: 05/07/2016 Aceptado: 27/09/2016 Publicado: Septiembre de 2016

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