Revista: CCCSS Contribuciones a las Ciencias Sociales
ISSN: 1988-7833


TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO NA AMAZÔNIA PARAENSE
História oral das relações entre a Igreja Católica e Sindicato dos Trabalhadores Rurais em Moju/PA no tempo presente

Autores e infomación del artículo

Elias Diniz Sacramento*

Fagno da Silva Soares**

Universidade Federal do Pará, Brasil

edsacramento5@yahoo.com.br

Resumo: O presente artigo traz um candente debate acerca da atuação da Teologia da Libertação e a Igreja ‘Progressista’ no município de Moju no Estado do Pará, na Amazônia brasileira, no final de 1970, com a chegada do padre Sérgio Tonetto, que junto com o lavrador Virgílio Serrão Sacramento, formaram uma parceria entre Igreja Católica e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais para conter o avanço do agronegócio na região. A Igreja Católica e Sindicato dos Trabalhadores Rurais trabalharam junto no enfrentamento as práticas excludentes do capitalismo nesta parte da Amazônia. No dia 05 de abril de 1987, ocorre o fatídico assassinato do sindicalista Virgilio Sacramento. Mas o projeto iniciado pelo padre e pelo sindicalista encorajou muitos lavradores permanecessem em suas terras mesmo em faces das muitas dificuldades.

Palavras-chave: Teologia da Libertação, trabalhadores, Amazônia.

Abstract: This article provides a hot debate about the Liberation Theology of action and the Church 'Progressive' in Moju municipality in the state of Pará, in the Brazilian Amazon, in the late 1970s, with the arrival of Sergio Tonetto, who along with farmer Virgil Serrao Sacramento, formed a partnership between the Catholic Church and the Union of Rural Workers to contain the advance of agribusiness in the region. The Catholic Church and the Rural Workers Union worked together in confronting the exclusionary practices of capitalism in this part of the Amazon. On April 5, 1987, is the fateful assassination of union leader Virgilio Sacramento. But the project initiated by the priest and the union encouraged many farmers to remain on their land even in the face of many difficulties.

Keywords: Liberation Theology, workers, Amazon.



Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Elias Diniz Sacramento y Fagno da Silva Soares (2016): “Teologia da libertação na Amazônia paraense. História oral das relações entre a Igreja Católica e Sindicato dos Trabalhadores Rurais em Moju/PA no tempo presente”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, (julio-septiembre 2016). En línea:
http://www.eumed.net/rev/cccss/2016/03/iglesia.html

http://hdl.handle.net/20.500.11763/CCCSS-2016-03-iglesia


Introdução

A Igreja Católica Apostólica Romana está presente no Brasil desde a chegada dos primeiros colonizadores portugueses em 1500. Na Amazônia, não diferente, uma presença mais eficaz se fez notar com a conquista de Belém em 1616. Esse domínio, com atritos em vários momentos, como o do enfrentamento ao todo poderoso Ministro Português Sebastião de Carvalho e Melo o Marquês de Pombal, fez com que os religiosos da missão dos Jesuítas fossem expulsos de Portugal e do Brasil em 1759, mas não toda a igreja Católica, outras ordens religiosas permaneceram.
            Durante todo o tempo de conquista, colonização, e mudanças políticas que se seguiram, como a Independência do Brasil, a Proclamação da República, a Igreja Católica esteve aliada aos interesses portugueses e se bem verdade que com a Constituição de 1889, o Brasil deixava de ser um país de uma única religião Católica para se tornar.

Atribui-se a Antonio Dornelles de Sousa a propriedade das terras, onde foi fundado o primeiro povoado que deu origem a este Município. As crônicas de Palma Muniz e Theodoro Braga são unânimes em afirmar que esse povoado foi conhecido, antigamente, com o nome de Sítio de Antonio Dornelles, antes de ser elevado à categoria de freguesia, por ocasião da visita pastoral que, no mês de julho de 1754, realizou àquele lugar o Bispo do Pará, Frei Miguel de Bulhões. Os mesmos relatos históricos confirmam que, ao passar à freguesia, o Sítio de Antonio Dornelles já havia sido doado à Irmandade do Divino Espírito Santo, razão pela qual recebeu a invocação ao santo da irmandade. 1

A história do Divino Espírito Santo como padroeiro do município se assemelha com a história de outros municípios brasileiros, principalmente os da Amazônia, ou como da de Nossa Senhora de Nazaré, padroeira dos paraenses, quando também um pescador encontrou a imagem da pombinha numa coroa e levou para uma pequena capela onde posteriormente foi construída a Igreja Matriz.

A Igreja Católica em Moju

Durante estes dois séculos e meio, pouca anormalidade ocorreu dentro desta paróquia, onde os religiosos faziam apenas o trabalho de evangelização, como sempre ‘rezou a bíblia’ da Igreja Católica. Quer dizer os párocos que passaram por ali sempre fizeram os trabalhos voltados para a ‘desobriga’. Missas de casamento, de batismo, de primeira Eucaristia, de extrema unção e outros sacramentos.
Porém, no ano de 1977, chegou em Moju um padre que iria revolucionar a igreja tradicional por quase uma década. Tratava-se do então Padre Sergio Tonetto. Recém chegado da Itália, este desembarcou no Pará para atuar como missionário numa região que muito se ouvia falar na Europa, mas que não tinham dimensão da realidade, que era a Amazônia. Nos primeiros meses de estádia, o padre ficou na diocese de Abaetetuba aprendendo a língua portuguesa, para que posteriormente pudesse atuar em alguma paróquia diocesana. 
A chegada do padre Sérgio Tonetto foi de fundamental importância para os movimentos sociais em Moju. No entanto, para que este viesse realmente para o município mojuense seria necessário todo um contexto de integração, uma vez que este estava saindo de seu país de origem, a Itália para adentrar em uma região sem grandes conhecimentos.
Assim, o processo se introdução na região se por Abaetetuba, onde permaneceu por seis meses, aprendendo a língua portuguesa e entendo a cultura da população amazônica, os hábitos, curiosidades, e os problemas sociais que afetavam essa gente. Geralmente, Tonetto ficava horas pela manhã observando a linguagem do caboclo no cais do porto da cidade abaetetubense, e ali fazia anotações para ir se familiarizando com a nova língua. A escolha por Moju se deu em função de um amigo, como podemos ver nestas palavras.

Bom, depois desses sei meses eu fui a Moju, por que eu pedi pra ir a Moju. O motivo pelo qual eu pedi para ir a Moju, foi por que lá trabalhava o colega meu, ele havia se formado junto comigo, o padre Lino, e disse “vou começar um trabalho, vou conversar com o sujeito que eu conheço desde o seio materno”, bom e assim eu fui lá, e em Moju fiquei dez anos, faltava 4,5 meses para completar 10 anos. O período que eu fiquei em Moju foi o terceiro período do qual eu me descolonizei do ponto de vista das concepções que eu tinha de missão de religião, de cultura e assim por adiante e metodologia de trabalho, então, resumindo, foi esse curso lá antes de vir pra cá, foram os sei meses que eu passei lá em Abaetetuba, sem fazer entre aspas absolutamente nada e foi o período em que eu fiquei em Moju, aquilo ali eu sempre digo foi uma conversão2 .

            A lembrança do padre Sérgio ao recordar um pouco sua trajetória até chegar em Moju, de certa forma carregada de emoção, principalmente quando este diz que o “despojar” era algo que este havia feito com orgulho, uma vez que se percebe que o olhar amazônico o encantava pela diversidade cultural, e a variedade e exuberância fascinavam os europeus. Mas muito mais a realidade tornou-se impressionante para este quando viu que os problemas sociais eram imensos, principalmente no município de Moju, onde este fez questão de ficar devido ali já estar um colega seu, o padre Lino.
            Ao chegar ao município de Moju o padre Sérgio Tonetto ficou impressionado com a pobreza e com o tamanho da cidade, pois esta possuía mais de um século de existência e seu desenvolvimento. No entanto, um dos fatores primordiais que fez com que este permanecesse em Moju foi que os conflitos agrários começavam a entrar em ascensão, além da pobreza que era muito grande. Neste sentido, a preocupação estava mais voltada para os lavradores, no sentido de este ao afirmar que já havia foco de conflito de terra em Moju, não causou um temor, um receio com uma vontade de retornar ou ir para outra paróquia, mas sim de permanecer, pois ‘a pobreza’ foi algo que lhe chamou a atenção.
Thompson 3, no clássico Senhores e Caçadores apresenta a figura de um vigário, que ao contrário de sua preocupação apenas com questões mais simples voltadas para sua paróquia, também entra no mérito da observação das leis dos camponeses de sua região. Embora o tema estabelecido por Thompson se passe no inicio do século XVIII (1709), na pequena cidade inglesa de Winkfield, e ali tenha demonstrado uma grande preocupação com a educação dos filhos de alguns proprietários e de pequenos agricultores, bem como investigar a vida religiosa desses moradores para saber como estavam vivendo espiritualmente. Porém, uma das suas maiores preocupações foi à seguinte, “quando chegara a Winkfield, descobrira que “as pessoas não sabiam a que titulo detinham suas propriedades, ou sob que aspectos estavam livres das ou sujeitas leis florestais”.
Outro fator também contribuiu para um trabalho diferente à frente da Igreja Católica. As Conferencias realizadas pela Igreja Católica em Medellín na Colômbia no ano de 1968 e de Puebla no México em 1979, quando foi tomado partido de que lado os missionários católicos deveriam ficar na América latina.

Após duas conferencias de grande importância do Episcopado Latino – Americano (Medellín/Colômbia, 1968 e Puebla/México, 1979) a Igreja Católica começa a definir uma nova trajetória em direção à Teologia da Libertação, anunciada pelo papa João XXIII e confirmada pelo papa João Paulo II, que em Puebla diz: “Sobre toda propriedade pesa uma hipoteca social. A propriedade compatível com aquele direito primordial é, antes de tudo, um poder de gestão e administração, que embora não exclua o de domínio, não o torna absoluto nem ilimitado. Deve ser fonte de liberdade para todos, nunca de dominação nem de privilégios. É um dever e urgente fazê-lo retornar a sua finalidade primeira” (Puebla, 492).4

Frente às injustiças sociais cometidas na América latina, principalmente após a conquista do poder pelos militares em vários países, principalmente na América Central e do Sul, a Igreja resolveu tomar uma posição e decidiu optar pelos carentes e oprimidos, num gesto que fortalecia o novo movimento que estava nascendo dentro da Igreja Católica, ou chamada também de Ala Progressista, pois este movimento ia de encontro com os setores tradicionais e conservadores do clero. Leonardo Boff 5, um dos idealizadores da Teologia da libertação no Brasil, assim definiu esse novo mecanismo, quando do relato sobre seu julgamento perante o Tribunal do Santo Oficio.

E aí então a discussão foi sobre a Teologia da Libertação, não mais sobre mim. A critica do cardeal se baseava sobre no seguinte: “O teu livro é protestante, quem fala assim são os protestantes, eles não são como os católicos”. Eu digo: “Absolutamente, é o lado evangélico do protestantismo, e temos muito o que aprender com Lutero. Então, não aceito que seja o lado protestante, é o lado são da teologia, que percebe o excesso, o abuso de poder da igreja, a soberba, e pertence a teologia ter uma palavra critica sobre isso.  (...) A Teologia da Libertação é um grande esforço de uma parte dos cristãos de fazer do Evangelho e da fé cristã um fator de mobilização social. 

Para o Brasil e para Amazônia diversos religiosos oriundos de outros países e mesmo de nacionalidade brasileira rumaram seus trabalhos nessa nova corrente, principalmente nas regiões onde situações de explorações começavam a ficar mais explicitas, como o caso dos municípios paraenses onde já em fins da década de 1970 e inicio dos anos 1980 a tensão no campo aumentava com a da entrada dos grandes projetos agroindustriais.
Vários religiosos que tomaram partido da ala progressista, onde outra inovação tomava corpo, chamado de Teologia da Libertação, que tinha como ideologia não somente evangelizar, mas também dar consciência política para as classes menos favorecidas, formando consciência de classe, fosse nas comunidades de periferia, fosse nas comunidades do campo sofreram pressões, ora por parte da própria igreja, ora por parte de pessoas que estavam por trás dos projetos desenvolvimentistas.
A Teologia da Libertação foi de grande importância para despertar as Comunidades Eclesiais de Base, um fenômeno em que a tomada de consciência em uma população que sempre estivera habituada a esperar das autoridades de direitos básicos.  Com a criação das Comunidades Eclesiais de Base, estas comunidades passaram a fazer parte de uma rede de solidariedade para irem juntas em busca dos direitos que estas achavam que lhes estava sendo tirado. 
Nas Comunidades Eclesiais de Base começava uma mudança de mentalidade. Esta mudança estava presente nos momentos de celebração das reuniões, das celebrações religiosas, principalmente nesta última, uma vez que o discurso simplesmente religioso abria espaço para o político e social. Não se falava somente mais em Deus, mais também nas ações dos homens. Nos encontros religiosos, cada participante daria a sua opinião, ou ‘contribuição’ do entendimento da leitura da Bíblia, sempre procurando fazer um comparativo com a realidade vivida das sociedades.

A Teologia da Libertação desbloqueou os cristão para o compromisso social radical em nome da fé, mostrando que o maior problema da fé na América Latina não estava em questões dogmáticas, mas em como enfrentar à sua luz a situação de opressão, de exploração das grandes massas populares. Os cristão podiam, portanto, engajar-se no processo de libertação, motivados e iluminados pela fé. Não precisavam temer nenhuma contradição fundamental entre ela e a luta libertadora dos pobres.6

            Para a Igreja Católica de Moju, com o recém padre chegado da Europa, a situação do município começava a ficar difícil, uma vez que os projetos agroindustriais estavam se instalando no município de forma cada vez mais rápida, e os problemas, principalmente no campo começavam a chegar numa situação crucial, sem ter para quem recorrer nos primeiros anos. O Sindicato dos Trabalhadores Rurais já existia desde o ano de 1971, mas era uma instituição apenas assistencialista, como regiam as cartas dos governos militares, impedindo estas instituições de se envolverem em “questões de segurança”.
            Por isso a presença do padre Sergio foi de extrema importância para um início de conscientização das Comunidades Eclesiais de Base, uma reorganização no sentido de perceberem que estas pessoas de dentro dessas comunidades podiam se tornar personagens atuantes. É de comum senso das pessoas que foram lideranças das Comunidades Eclesiais de Base, do período de 1978 em diante até a metade da década de 1980, que este religioso teve uma importância muito grande para a garantia de muitos direitos que esses trabalhadores sonhavam a muito, bem como para a organização de vários movimentos que foram criados no município, como o Movimento de Mulheres Trabalhadoras do Campo e da Cidade, organização do Sindicato dos Professores de Moju, que na época foi chamando de AMOP, e principalmente pela organização da equipe que organizou a oposição sindical para a tomada deste em 1983.
            Em pouco tempo de trabalho a frente da Igreja de Moju, o padre despertou a simpatia das pessoas que faziam parte das Comunidades Eclesiais de Base e a antipatia das famílias tradicionais, que viam no religioso, pessoas que não pregava mais os ensinamentos bíblicos, e que apenas falava de política e Reforma Agrária em seus sermões. Porém, no dia 25 de dezembro de 1981, o padre Sérgio havia organizado o Presépio da Igreja. Mas para chamar a atenção da população este resolveu colocar uma cerca com arame farpado e com alguns dizeres escritos em faixas, próximo do presépio e também na frente da igreja.
            O motivo para este gesto seria a solidariedade por dois padres e treze trabalhadores que haviam sido presos em São Geraldo do Araguaia acusados de terem organizado e incitado os trabalhadores a cometerem um assassinato, e que por isso estavam presos, e correndo o risco de serem deportados para a Europa 7. Também a cerca simbolizava a entrada dos grandes projetos agroindústrias em Moju e a expropriação das terras dos colonos. O incidente ocorreu no dia 25 de dezembro, dia do natal, quando os jovens entraram na igreja após o encerramento da celebração e causaram a destruição do presépio, arrancaram as faixas ainda usaram de violência contra o então padre Sérgio Tonetto. No dia seguinte foi distribuída uma nota a população esclarecendo dos fatos.

DECLARAÇÃO – Ontem à noite (25.12.1981), depois da missa e da apresentação da “Pastorinha”, penetrou na igreja matriz, uma meia dúzia de jovens da cidade, que – forçando a oposição dos padres e com atitudes de desrespeito ao lugar sagrado – desmancharam o presépio, retirando a grade que fechava a gruta do Menino Jesus, posta para lembrar (como estava escrito num cartaz bem à vista) “os 13 lavradores e os 2 padres presos injustamente, os operários da Polônia e todos os irmãos perseguidos pelos poderosos deste mundo”. Eles agiram em nome do povo e acusaram os padres de serem COMUNISTAS e não sacerdotes de Cristo. É verdade que o povo católico de Moju concorda com eles? Neste caso os padres NÃO PODERAO continuar trabalhando na cidade. Se, pelo contrário, esta é a opinião de uma minoria, se faça com que o PRESÉPIO SEJA REFEITO DO JEITO QUE ESTAVA. Até que isso não seja feito, os padres não tomarão parte de qualquer celebração religiosa na cidade do Moju. Nós, membros do Conselho Paroquial, repudiamos os fatos acontecidos ontem e as acusações aos padres e renovamos apoio ao trabalho que a paróquia faz em prol dos oprimidos. Moju, 26.12.1981 – O Conselho Paroquial.8

            Os padres que estavam à frente da paróquia de Moju, Sérgio e Sávio, após o incidente haviam tomado a decisão de não mais celebrarem missa no período, até pelo medo que acontecessem novos incidentes. Para a população mojuense isso seria o caos, uma vez que a cidade estava vivendo o período da tradicional festividade de Nossa Senhora de Nazaré, que todo os anos em Moju era comemorado após o período natalino, terminando sempre no dia 31 do mês de dezembro. Como poderia existir festa se os padres não decidissem fazer as celebrações? Só a parte profana não seria conveniente de ser realizada. A notícia do incidente com os padres saiu na imprensa nos dias seguinte.
            A matéria publicada no jornal O liberal no dia 27, dizia que o incidente ocorrido em Moju não tinha sido tão grave, quando um grupo de doze pessoas , em sua maioria eram funcionários do Prefeito e que estavam embriagados, e invadiram a igreja local para retirar uma grade, que cercava em um presépio, a imagem do menino Jesus. Os padres haviam colocado esta grade, que era feita de alguns pedaços de arame farpado para protestar contra a prisão dos padres franceses Aristides Camio e Francisco Gouriou e de 13 posseiros ocorrida em São Geraldo do Araguaia. Também simbolizava a prisão de vários povos oprimidos, principalmente os cristãos. O jornal informava ainda que o padre Sérgio Tonetto estivesse se negando a permanecer na cidade e trabalhar na paróquia mojuense. Também aproveitaram o veiculo de comunicação para desmentir a informação de que não celebrariam a missa da festividade de Nossa Senhora de Nazaré, e que nas celebrações fazem apenas aquilo que a CNBB orienta, que é fazer com se posicionem em defesa dos posseiros. Havia ainda a denúncia de expulsão com violência de vários posseiros por parte de pistoleiros e jagunços onde a região do Alto Moju e Jambuaçú estavam sendo invadidos por empresas como as do grupo Olho d’água, Ouro Branco, Rima, Reasa e Socôco.

“E nós não podemos ficar de braços cruzados diante de tudo” – declara o padre Sávio acrescentando que tanto o Incra como a Secretaria de Segurança Pública do Estado, já forma colocados a par da situação.O padre Sávio Corinaldes já se encontra no Moju há uns dois anos enquanto que o padre Sérgio Tonetto, trabalha ali mais ou menos três anos e meio, sendo que mesmo antes de chegarem ao local, conta padre Sávio, já existiam na região estes mesmos conflitos, provocados pela ganância do dos grileiros.Concluindo, ele nega que em suas missas e de padre Sérgio, fale-se de política –partidária, ou se propaguem afirmações ofensivas ao Governo Federal. A política que há em suas missas, diz que é de cunho social, em que se reclamam medidas que visem trazer melhorias ao povo e especialmente ao homem do campo, na região, atordoado e atemorizado em meio a conflitos que o padre diz, “não precisa óculos para enxergar”. 9

            Se por um lado o jornal estava tentando mostrar a situação embaraçosa que havia ficado os dois padres da paróquia, por outro lado estes não perderam tempo e utilizaram o espaço para fazerem denuncias de como estava o município de Moju e as autoridades não tomavam nenhuma providência. Nem mesmo as autoridades da capital estavam se importando muito com a entrada dos projetos agroindustriais no município. Sobre o incidente o próprio padre Sérgio também tem sua versão sobre os fatos ocorridos.
            Para ele, aquele havia sido um incidente “brabo”, por que ali tinha ocorrido uma declaração muito clara de que lado o padre estava, que era do lado dos ‘sofridos’.  Para ele, a cerca colocada ao redor do presépio tinha sim o objetivo de chamar a atenção para a situação dos “presos do Araguaia”, mas também de exigir através de uma campanha nacional, que o Congresso Nacional formulasse uma nova constituição e que a Ditadura militar chegasse ao fim. Assim, tinha o presépio com a cerca e agrade entrada do Presépio e uma faixa na fachada da Igreja Matriz com a seguinte frase, “Constituinte sem povo, não dá nada de novo”. E foi neste contexto que o grupo de onze homens entraram na Igreja e criaram a situação conflituosa, como podemos nas palavras do padre Sérgio.

Então essa galera ensopada de pinga, entraram na matriz arrancaram a grade, outros foram lá em cima na frente da matriz, arrancaram a faixa, o povo, obviamente foi um episódio muito assim, como é que posso dizer, que estragou, não sei se essa é a palavra, mas o povo se assustou, inclusive ainda tinha o povão  que tava saindo da igreja, então o impacto foi grande, mas eu acho também, eu na minha burridade, não sei se é uma avaliação que eu faço depois de quinze, vinte anos, mas eu acho também que nesse episódio, eu acho, na minha burridade, olhando um pouco a distancia, foi inclusive um momento  em que uma parte significativa do povo da cidade lá começou a entender o que a gente queria, como o responsável da paróquia e das Comunidades Eclesiais de Base, começaram a simpatizar, então esse foi o episódio.10

            O episódio rendeu discussões no município, pois os rapazes que invadiram a sede da igreja eram todos jovens na época. Posteriormente com o passar dos anos, alguns se tornaram vereador, funcionários públicos, dirigentes sindicais como foi o caso do Udimar Pereira, conhecido por Cuia, que no final da década de 1990 e inicio do século XXI, transformou-se num dos maiores representantes dos professores em Moju.

(...) eu lembro que um era, inclusive depois nós tornamos amigos o filho da elegantíssima dona Maroquita, o Paulo, tinha um que trabalhava na prefeitura, o Shel, o Shel, tinha o Cuia que hoje virou um sindicalista. Agora todo esse povo me entenderam, e sabe que nós tornamos amigos, quando eu andava depois que sai de Moju, andava lá pela cidade e encontrava esse povo, me abraçavam, “ah, na sua época que era bom” , o cuia cansou de me dizer isso, o Paulo, o Shel sempre me cumprimentou bem, acho que também começaram a mudar um pouco o tom de mentalidade, claro que sim.11

            Os padres que estavam recentes no município, principalmente o padre Sérgio ia contra a linha dos padres conservadores que até então haviam passado pelo município. Em uma carta distribuída pelo ex-prefeito de Moju, Tenente Reis, existe um saudosismo quando este se refere ao padre anterior à chegada do padre Sergio. Para ele, os novos religiosos que haviam chegado a Moju, não eram compatíveis com suas funções, onde deveriam se preocupar com a parte religiosa, “ensinando aquilo que Cristo pregou: amor e trabalho honesto e construtivo”.
            A sua critica tinha um endereço certo, o padre Lino e o padre Sérgio, além das freiras Rosa e Adelaide. Esses dois padres não usavam mais a ‘batina’ e ficavam incitando o povo a brigarem com seus vizinhos por causa da terra, pregando apenas a revolta e o ódio. Uma das questões colocadas no documento se referia as festas religiosas do Divino Espírito Santo e de Nossa Senhora de Nazaré, onde nessas datas muitos mojuenses residentes em outras cidades, bem como políticos aproveitavam a ocasião para visitarem o município, e em suas palavras, os religiosos aproveitavam a data para tecerem uma série de críticas, como podemos ver abaixo. 
      
Vejam... As festas do Divino, de Nossa Senhora de Nazaré, são como as festas de N.S. da Conceição em Abaetetuba, e N.S. Santa Ana, no Igarapé Miri. Lá no Abaetetuba e no Miri, vão dezenas de parlamentares federais, estaduais, para compartilharem dos festejos e não vão ouvir desaforo de padres estrangeiros, pois lá, os referidos, já mantém melhor compostura. Aqui, o chamado padre e essas caras sirigaitazinhas, que também se intitulam de irmãs, (matéria também tão ruim que nem cresceram), se aprazem em usar o púlpido, que para o povo humilde que é de Deus, é sagrado, para ensultar aos visitantes... Estão enganados... Esse templo, que o povo humilde chama igreja, que eles estão usando, eles vêem que tem duzentos anos de existências, então eles devem compreender, que somo um povo, tradicionalmente católicos e essas festas, decorremde século e são os dias em que centenas de ou até milhares de mojuenses, residentes em Belém, Rio de Janeiro, São Paulo, ou em outro lugar do Brasil, procuram a terra mãe, para compartilharem da alegria das datas de seus padroeiros. Nós também sabemos, que reverenciar qualquer tipo de imagem, de ouro, de pau, de pedra ou de barro, é idolatria, vedada por Deus verdadeiro, entretanto, temos a certeza, o nosso povo humilde e sinceramente bem intencionado, carrega-os, com uma devoção tremenda, este seu pensamento lhe serve de indulgência perante Deus, que não é injusto, e que ver tudo mundo, inclusive, o que está dentro de nós. 12

Para o Tenente Reis, o que os religiosos estavam querendo era mudar os hábitos de um povo que durante décadas viviam sob um regime, político, econômico e social, que até então não tinham sofrido qualquer abalo nessas estruturas. Uma das suas maiores revoltas se fazia por conta do nascimento do PT (Partido dos Trabalhadores), que estava sendo fundado em todos os município brasileiros, e que em Moju não estava sendo diferente e que contava com uma certa simpatia da ala Progressista da Igreja Católica, no qual. Para o ex-prefeito Tenente Reis, este partido não tardaria a ficar fora da lei no Brasil, pois este partido era formado por pessoas totalmente subversivas, e os religiosos que apoiavam estes partidários e se envolviam nas questões políticas, tirando a paz e a liberdade dos mojuenses, como podemos ver mais uma vez em trecho do documento.

Os subversivos se agarram nas pessoas de pouco saber para servirem de pasto para os seus sabores... Vejam o Eugenio, embora pouco culto, mas sempre honesto, bom companheiro, sempre bem amparado por nós, ele por sua pouca inteligência, trocou há pouco tempo a nossa amizade por esses caras que põem os incautos como esparringue nas lutas de classe e haja incitar para o Eugenio, fazer absurdo com o seu visinho, fora da lei. Resultado... O Eugenio, homem bom, já foi metido no xadrez e eles ficam sorrindo da desgraça do Eugenio e sua família.  O presidente do sindicato, por ser também pouco ilustrado, foi na corda do padre e já foi com toda honra metido no xadrez. Despertem para a realidade, vejam, que nós somos de uma pátria livre, onde se respira até excesso de liberdade tanto é verdade que em outro qualquer país, esses caras não fariam os absurdos que fazem no Brasil. Vocês que  andam com eles, eles insultam o presidente da Republica, governadores, senadores, deputados, ministros de estado, secretários de estado, prefeitos, vereadores e todos os políticos, e principalmente, aqueles que fazem alguma coisa em benefícios do povo, pois, os comunas, tentam crescer, a custa da desmoralização do poder publico, mas isso já está manjado e vamos passar a denunciar, nós somos brasileiros e estamos dentro da nossa pátria, não vamos concentir na nossa desmoralização  por estrangeiros, que devem respeito a pátria alheia.
Devolvemos aqui, a essa baixinha safada e ao barbudo sem escrúpulos, as ofensas que fizeram aos homens de bem, que visitaram Moju, nos dias 8,9 e 10 de junho, quando vieram homenagear o nosso padroeiro.

            Na carta do ex-prefeito, há uma sobrecarga de irritação quanto às atitudes dos missionários que estavam chegando ao município. Para o ex-prefeito seriam esses religiosos que estariam mudando a conduta das ‘pessoas de bem’, as pessoas que realmente ajudavam a população, pois o dever desses religiosos seria apenas de trabalhar na evangelização, cuidando dos carentes, sem se envolverem diretamente com a questão política, algo que deveria ficar na responsabilidade do Executivo e do Legislativo. Segundo o senhor Manoel dos Reis, esses religiosos seriam os responsáveis pelas prisões da família do senhor Eugenio, que ‘era amigo dele’, mas com a chegada dos religiosos, acabaram mudando de lado e por isso, ‘foi metido no xadrez’. ‘O presidente do sindicato por ser também pouco ilustrado, foi na corda do padre, por isso também foi metido no xadrez’.
            Outro que recorre à memória para recordar sobre como era o padre Sérgio Tonetto, enquanto pároco da Igreja do Divino do Espírito Santo de Moju é o senhor Benedito Teixeira, prefeito de Moju no período de 1983 a 1987. Nesse período de sua administração, os movimentos sociais foram incisivos em denúncias contra os projetos agroindustriais, principalmente contra as arbitrariedades que estas cometiam contra os lavradores.
No município mojuense, a organização começou com o agravamento dos conflitos pelos projetos agroindustriais, que levou um grupo de trabalhadores a se mobilizarem no sentido de questionarem os representantes do sindicato, e principalmente com a chegada do padre Sérgio Tonetto, que através das visitas nas comunidades começou a transformá-las em Comunidades Eclesiais de Base, as CEBS, fator que foi de fundamental importância para a conscientização dessas pessoas. Na memória do padre Sérgio, este recorda que antes de sua chegada em Moju, o padre Lino já havia iniciado o trabalho junto as Comunidades Eclesiais de Base. Sua recordação perpassa o fato de que as CEBs 13 em Moju se iniciaram antes de sua chegada. Foi o então padre Lino que introduziu o novo “debate teológico” nas comunidades. A metodologia utilizada neste novo jeito de se fazer celebrações se diferenciava no sentido de que várias “regras” existentes há muito tempo deveriam ser deixadas de lado. Essas regras, que também eram conhecidas como Desobriga e que significava fazer com o que o povo cumprisse os ‘mandamentos Cristãos’ a risca, começariam ser posto de lado. A idéia era fazer realmente com que os moradores das CEBs tomassem consciência de seus direitos, que a miséria em que estes viviam não era simplesmente a vontade de Deus, mas também uma falta cobrarem melhorias de vida. E o povo mojuense era muito pobre, e isso deixou o então padre Sérgio Tonetto com uma grande disposição para atuar junto dessas pessoas. Foi em um encontro realizado em Abaetetuba no ano de1978, denominado de 1º Encontro das Comunidades Eclesiais de Base, e que foi coordenado por Ranulfo Peloso. Neste evento, ainda morando em Abaetetuba, Tonetto sentiu na pele aquilo que seria decisivo para sua atuação em Moju.

(...) eu ainda morava em abaetetuba, tava nesse estagio do “não fazer nada”, houve o Primeiro Congresso das Comunidades Eclesiais de Base, inclusive com assessoria com uma das pessoas mais iluminado deste mundo hipócrita, o Ranufo Peloso, um craque de homem sobretudo em todos os sentidos, e ele assessorou o Primeiro Congresso das Comunidades Eclesiais de Base. Aquilo ali para mim foi como o Sol a meia noite, com todo o respeito pela lua. E aquilo ali depois do 1º Congresso das Comunidades Eclesiais de Base, fez com que se desse ênfase as Comunidades Eclesiais de Base. Foi esse congresso que o Ranufo Peloso usou, que para mim era novidade a expressão conscientização, que significa o sujeito tomar consciência do que está acontecendo ao redor dele, bem debaixo dos pés no sentido bom e no sentido ruim. Então foi com essas duas categorias, Comunidade Eclesial de Base e conscientização que eu comecei a meter a cara no Moju.14

            A organização junto as Comunidades Eclesiais de Base foi de fundamental importância para que em Moju surgissem pessoas dispostas a se envolver nas questões que começavam a tomar amplitude maior. Nesse sentido podemos perceber quanto a presença do religioso citado foi de fundamental importância. No entanto, foi um encontro em Cametá, no Baixo Tocantins que fez com que um grupo de lavradores de Moju começasse de fato a pensar na organização de uma frente de oposição dentro do STR mojuense.
            Este encontro já acontecia na cidade cametaense há alguns anos, mas a direção do STR de Moju não participava por achar desnecessário esse tipo de debate ou discussão, uma vez que essa não era a ‘finalidade’ da instituição, e sim resolver os problemas burocráticos como o encaminhamento das aposentadorias, e o auxilio médico.
            Assim, em 1979, a então Oposição Sindical junto com Sérgio Tonetto, recém chegado a cidade de Moju resolveram participar do encontro. Entre os 17 lavradores que viajaram, estavam o Libório da comunidade do Ateua Grande, Aldenor e Virgilio da Comunidade do Sucuriju, Geraldo do Ateuazinho. Encabeçando o grupo do Ipitinga estavam o senhor Delorizano e Edgar, e outros moradores de outras comunidades. O encontro que esses homens foram participar era o 3º Encontro de Lavradores do Baixo Tocantins.
            Foi principalmente a partir dessa participação em Cametá que os lavradores contrários à direção do STR resolveram partir para organizar as Delegacias Sindicais nas comunidades, e dentro de dois anos já haviam conseguido um resultado muito positivo, tanto que as eleições marcadas para esse ano forma anuladas. Porém, em 1983 a direção deu lugar aos opositores. Tonetto afirma que essa ação de irem a Cametá participar do 3º Encontro de Lavradores do Baixo Tocantins foi de fundamental importância, uma vez que o inicio dos anos 80 culminaram com a explosão dos conflitos agrários. 

Esse episódio aqui dessa época foi uma das mais interessantes, inclusive coincidiu com uma época do estouro dos conflitos agrários do município de Moju, por que começaram a chegar ao longo da PA 252, naquela época ainda chamada PA 150, a Reasa, a Socôco e com a abertura da PA 150 as demais firmas, então isso aqui coincidiu justamente com esse processo de organização sindical que justamente culminou com a vitória, daquela época era de moda defender a chapa 2, e a chapa 2 ganhou e ai a história foi diferente. Agora, esse trabalho de organização sindical com relação justamente a organização em si dos trabalhadores e com essa avalanche do latifúndio no município ela foi sustentadae conseguida, inclusive dentro da organização das Comunidades Eclesiais de Base e eu cansei de andar com o Virgilio esse Alto Moju doido e Cairari, eu fazendo o meu trabalho no âmbito da Comunidade Eclesial de Base e o Virgilio fazendo o trabalho da organização sindical e assim por adiante. Nesse ponto, mesmo indo junto, mas cada qual fazia o seu discurso e eu achava isso muito interessante por que essa é a parceria, você se alia, mas você mantém autonomia. 15

            Para os lavradores de Moju, a organização com uma chapa de oposição começou pra valer após o Primeiro Encontro dos Lavradores do Baixo Tocantins, que foi realizado em Cametá. Pois mesmo já no ano de 1979, o STR continuava nas mãos dos “pelegos”, como o próprio padre citou no depoimento. Antes do final da década de 1970, o senhor Aldenor dos Reis havia participado de uma diretoria, e acreditava que esta pudesse mudar o direcionamento dos trabalhos que fazia.
            Aldenor conta que sua participação nos movimentos sociais de forma mais ativa se deu em função de ter participado de um curso de enfermagem em patrocinado pela Diocese de Abaetetuba. Ali foram discutidos outros assuntos além da parte técnica da enfermagem, principalmente no que dizia respeito a organização sindical, a necessidade do trabalhador rural estar associado a o sindicato de seu município. A fala abaixo ainda é acompanhada de um pouco de revolta por ver como o STR de Moju atuava.

E em 77 eu me associei já com aquela visão de ir lá pra dentro exigir nossos direitos como trabalhador rural que meu pai naquela época era marcado lá dentro, era muito visado por que ele queria um sindicato que defendesse os interesse da categoria, queria que fosse prestado boas contas com a categoria e por causa disso ele recebeu muita marcação e até ameaças dos diretor naquela época. Já entrei no sindicato um pouco revoltado por causa do tipo de visão que era contra meu pai. 16

            Então já no ano de 1979, o senhor Aldenor dos Reis participou da chapa que tinha o senhor Sebastião Ferreira de Souza, que venceu outras duas chapas, uma encabeçada por José Francisco da Silva e outra por Waldemar Paranaense. Foi nesta direção que Aldenor percebeu uma série de irregularidades, principalmente na prestação de contas. A partir de então, Ester passaria a se tornar Oposição dentro do STR mojuense. Porém, foi em 1979, participando do encontro em Cametá. A partir daquela data esses lavradores passaram a ter noções claras do que era realmente um Sindicato dos Trabalhadores Rurais.

Considerações Finais

Sobre conflitos agrários, a direção não fazia nem questão de discutir esse assunto. Para isso o senhor Aldenor especifica o exemplo da terra que o Zé Goiano queria tomar de sua família.

Quanto à questão de conflito de terra nem via falar, ninguém sabia o que era conflito. Foi a partir daquele encontro de Cametá que agente começou a entender o que era conflito de terra, e no entanto a gente nem sabia, foi descobrir que existia que num município como Moju, cheio de conflito, estava envolvido e não sabia o que era conflito. E o conflito da nossa área aqui juntamente com o Goiano aqui começou lá em 75 quando ele comprou a área de terra de um guamaense, comprou 100 hectare e queria ser dono de 600 hectare de terra do Sarapoi até o Caxinguba envolvendo a nossa área, então a gente descobriu que a gente tava envolvido num conflito e não sabia e quando nós começamos a reagir em defesa da nossa terra causou até prisão no dia 08 de dezembro de 80 eu cheguei a ser preso juntamente com meu pai, fui preso juntamente com o Virgilio a mesma prisão por que nós fomos defender a nossa posse de terra quando o Goiano impediu o nosso trabalho que nós vem trabalhando naquela área ali na Gruta, desde de 68, quando foi loteada a colônia  do Pirateua no primeiro mandato do Manoel dos Reis e Silva que é o Tenente Reis conhecido, então todos nós fomos saber o nosso lote a partir do primeiro mandato dele de prefeito.17

            É a partir desse momento que a revolta toma conta do senhor Aldenor. Essa revolta não se dá por conta de este ser um homem ignorante, por não ter uma formação escolar, mas sim por entender que existia um Sindicato que deveria defender sua categoria e estes não o faziam. Não existem registros de que a direçãoaté o ano de 1983 tomasse partido, seus sócios que estavam envolvidos nos conflitos pela terra. Mesmo no caso do senhor Aldenor, com sua posse estando em litígio, não existe a presença do presidente da instituição, o senhor Sebastião Ribeiro. Então isso faz com que a revolta marque a vida deste homem, sendo que a partir de então o9 trabalho de conscientização viesse acontecer para que pudessem mudar a situação. Na tentativa de 82, a já Oposição Sindical não conseguiu êxito, mas em 83, isso seria inevitável.
Para o senhor Aldenor, o descaso que os representantes do STR de Moju tinham em relação aos conflitos agrários eram claros. Como os colonos ficavam sem opção para poderem recorrer a instituição que pudesse lhes dar apoio. É claro também o tom de revolta, quando este cita que ao fazer parte de uma diretoria que assumiu o sindicato em 1979, esta não mudou a postura das direções anteriores, obrigando outros lavradores a formarem um grupo de oposição que viesse vencer as eleições sindicais, realizadas no ano de 1982 e 1983, consolidando a atuação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Moju junto a Igreja Católica, por meio da metodologia da Teologia da Libertação.

Referências

AMIGOS, Caros. BOFF, Leonardo. Entrevista. IN: Revista Caros Amigos. Dezembro de 2000.

DECCA, Edgar de. O silêncio dos vencidos. 5ª edição. São Paulo: Brasiliense, 1999.

LOUREIRO, Violeta Refkalefsky. Estado, Bandidos e Heróis: Utopia e Luta na Amazônia/ Violeta RefkalefskyLoureiro. Belém – PA. Ed. CEJUP, 1997.p.160.

PETIT, Pere. A Esperança Equilibrista, a trajetória do PT no Pará. São Paulo, Boitempo/NAEA, 1996.

SACRAMENTO, Elias Diniz. As Almas da terra: a violência no campo mojuense. Belém: Açaí, 2012.

SADER, Eder. Quando novos personagens entraram em cena: experiências, falas e lutas dostrabalhadores da grande São Paulo, 1970-80. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.

THOMPSON, E. P. Senhores e Caçadores: a origem da Lei Negra. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1987, P.53.

* Doutorando em História Social da Amazônia –UFPA. Professor da Universidade Federal do Pará Campus Cametá/Tocantins. Membro do grupode Pesquisa Cultura, Identidades e Dinâmicas sociais na Amazônia Oriental Brasileira. E-mail: edsacramento5@yahoo.com.br
** Doutorando em Geografia Humana (USP) e em História Social (UFF) mestre e especialista em História do Brasil (UFPI) Professor de história (IFMA/Campus Açailândia). Líder do CLIO & MNEMÓSINE Centro de Estudos e Pesquisa em História Oral e Memória-IFMA. Pesquisador do Grupo Trabalho Escravo Contemporâneo GPTEC/UFRJ e NEHO/USP. Membro do grupo de Pesquisa Cultura, Identidades e Dinâmicas sociais na Amazônia Oriental Brasileira. E-mail: fagno@ifma.edu.br
1 Histórico do município de Moju.  Fonte: www.sepof.pa.gov.br/Moju.

2 TONETTO, Sérgio. Ex-pároco de Moju. Coordenador da CPT da Região Guajarina durante mais de vinte anos. Faleceu em janeiro de 2007. Entrevista realizada em 26/02/2006.

3 THOMPSON, E. P. Senhores e Caçadores: a origem da Lei Negra. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1987, P.53.

4 LOUREIRO, Violeta Refkalefsky, Estado, Bandidos e Heróis: Utopia e Luta na Amazônia/ Violeta Refkalefsky Loureiro. Belém – PA. Ed. CEJUP, 1997.p.160.

5AMIGOS, Caros. BOFF, Leonardo. Entrevista. IN: Revista Caros Amigos. Dezembro de 2000, p. 34.

6 VIVA, História. LIBANIO, João Batista, Uma Teologia a partir das práticas libertadora dos pobres. IN: Revista História Viva, Temas Brasileiros. A Igreja Católica no Brasil. Edição Especial Temática Nº 2,p. 49.

7 Durante o período em que os padres envolvidos no conflito em São Geraldo do Araguaia estiveram presos, foi criado um movimento denominado de Movimento pela Libertação dos Presos do Araguaia (MLPA), que visava não só a libertação dos religiosos e dos lavradores presos, mas a não extradição dos missionários para seus pises de origem, a França.

8 Carta aberta ao publico sobre incidente com padre. Fonte: Paróquia do Divino Espírito Santo de Moju.

9 O LIBERAL, Jornal. 27/12/1981. Padre da igreja do Moju diz que incidente não foi tão sério. Fonte: paróquia do Divino Espírito Santo de Moju.

10 TONETTO, Sérgio. Ex-pároco de Moju. Coordenador da CPT da Região Guajarina. Coordenador da CPT da Região Guajarina durantemais de vinte anos. Faleceu em janeirode 2007. Entrevista realizada em 26/02/2006.

11 Idem.

12 SILVA, Manoel dos Reis e. IN: Carta aberta distribuída ao povo mojuense. Fonte: Paróquia do Divino Espírito Santo de Moju.

13 A discussão sobre a Teologia da Libertação se deu na Conferencia de Medelin, na Colômbia em 1968, quando os Bispos da América Latina tomaram uma posição e se declararam publicamente que ficariam do lado dos povos marginalizados.

14 TONETTO, Sérgio. Ex-pároco de Moju. Coordenador da CPT da Região Guajarina. Coordenador da CPT da Região Guajarina durante mais de vinte anos. Faleceu em janeiro de 2007. Entrevista realizada em 26/02/2006.

15 TONETTO, Sérgio. Ex-pároco de Moju. Coordenador da CPT da Região Guajarina. Coordenador da CPT da Região Guajarina durante mais de vinte anos. Faleceu em janeiro de 2007. Entrevista realizada em 26/02/2006.

16 SILVA, Aldenor dos Reis e. Ex – presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Moju e morador da vila do Sucuriju. Entrevista realizada em 08/01/2006.

17 Idem.


Recibido: 31/05/2016 Aceptado: 26/07/2016 Publicado: Julio de 2016

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