Revista: CCCSS Contribuciones a las Ciencias Sociales
ISSN: 1988-7833


O “MAESTRO” ENRIQUE DUSSEL:
UMA HOMENAGEM DESDE A AMÉRICA LATINA

Autores e infomación del artículo

César Augusto Costa*

Jandir João Zanotelli**

LIEAS/UFRJ, Brasil

csc193@hotmail.com

Resumo:
O presente artigo visa homenagear os 80 anos do filósofo argentino Enrique Dussel(obra publicada pela editora IFIBE no ano de 2015), a qual foi proposto a partir do II Congresso Brasileiro de Filosofia da Libertação (Historicidade e os sentidos da Libertação hoje), realizado em Porto Alegre (2014) nas dependências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS. Deste evento, surgiu a concepção de lançar uma obra em homenagem a este grande filósofo latino-americano. Assim, este texto retoma em forma de “memória” a passagem do argentino no Brasil, nos idos da década de 80, os quais os autores deste artigo procuraram homenagear pela decorrência do seu aniversário e, sobretudo, por ser um maiores filósofos do pensamento contemporâneo dos quais refletiu o lugar da América Latina na História Universal.

Palavras-chave: América Latina, Enrique Dussel, História Universal, Pensamento contemporâneo. 


Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

César Augusto Costa y Jandir João Zanotelli (2016): “O “Maestro” Enrique Dussel: Uma homenagem desde a América Latina”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, (julio-septiembre 2016). En línea:
http://www.eumed.net/rev/cccss/2016/03/enrique-dussel.html

http://hdl.handle.net/20.500.11763/CCCSS-2016-03-enrique-dussel


1 Premissas introdutórias

Por ocasião da obra Filosofia e Libertação: homenagem aos 80 anos de Enrique Dussel (publicada pela editora IFIBE), a qual somos co-autor, foi proposto a partir do II Congresso Brasileiro de Filosofia da Libertação (Historicidade e os sentidos da Libertação hoje), realizado em Porto Alegre (2014) nas dependências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS a ideia de lançar uma obra em homenagem a este grande filósofo latino-americano. Assim, um coletivo de vários pesquisadores de inúmeras partes do país, que se reuniram em torno deste sonho coletivo, o qual homenageou um dos maiores ícones do pensamento filosófico contemporâneo.
A obra que compreende um panorama criterioso de sua filosofia foi horizonte que serviu de alicerce para os pesquisadores em suas várias visões sobre seu pensamento. Por sua vez, em parceria com o Prof. Dr. Jandir Zanotelli, tradutor do Método para uma filosofia da libertação no Brasil, trazemos à lume, esta homenagem em breves palavras, o qual a nos brindou esta excelente obra coletiva.

2 Dussel: 80 anos de reflexão para a América Latina

Enrique Domingo Dussel Lambozini – 24 de dezembro de 1934. Oitenta anos de vida, de luta, de um pensar incansável, de um cuidar audiente ao clamor dos excluídos.
Nasceu em La Paz, aos pés dos Andes argentinos.  O pai médico e a mãe cristã ensinaram-lhe a ver a pobreza, a exclusão, a miséria de sua aldeia, bem como o apressurado socorro que davam aos mais necessitados. Aprendeu, desde a mais tenra idade o significado e as consequências da colonização europeia sobre a América Latina.
Os oitenta anos deste maior filósofo da América Latina são, para cada um de nós que pretendemos buscar as raízes da realidade e o alicerce de uma esperança, um livro aberto, uma senda pedagógica do aprender.
Em Cuyo estudou com afinco, para além das disciplinas do curso de Filosofia, latim e grego para ler e compreender originariamente o pensamento dos autores perquiridos.  O significado econômico, político, social e cultural de justiça acompanha desde lá sua preocupação. Sua tese de conclusão de curso será “O bem comum entre os gregos”.
E, quando, surpreso consegue uma pequena bolsa para estudar no “centro” do mundo, à medida que se desloca da sua América, de navio, vai descobrindo, Atlântico afora, desde fora, desde longe o que é ser latino-americano: um excluído, um ainda não, um nascido e vivente na periferia do sistema. Sua tese de mestrado em Madri será ainda “o bem comum” entre os pensadores medievais e renascentistas.
Insatisfeito, mochila nas costas, lavando pratos para pagar a passagem de navio, vai a Israel. Em Nazaré, com o padre Gauthier, trabalha como carpinteiro e estuda hebraico. Quer ler tudo no original. Quer descobrir o significado de comunidade cristã que se faz sobre o trabalho, na pobreza, na exclusão como  o Grande Mestre fizera há dois mil anos. Quer descobrir in loco o significado de cristianismo que, mais tarde, se fundirá à estrutura do Império Romano e se fará Estado de Cristandade. Este estágio de dois anos marcará indelevelmente o pensar e o agir de Dussel, como ele mesmo o conta em sua biografia.
De retorno, pára em Atenas. Sente na pele o vento, o sol, o solo que foi berço da Filosofia Grega, cantada por muitos como a origem não só de toda a Filosofia, como também de todo o pensar.
Em Paris, ao mesmo tempo que vasculha os “arquivos das  índias” de Sevilha e outros locais diretores da colonização espanhola, elabora sua grande obra de “História dos Bispos da América Latina de 1504 a 1620”, perguntando, para cada bispo e de cada diocese: quem o indicou (no sistema do Padroado), que posicionamento tinha em relação aos índios, negros e mulheres, e qual sua atitude frente a autoridade reinante.
O foco central, para compreender o projeto de colonização, civilização, evangelização que a Europa expande sobre a América Latina como também sobre a África e Ásia, é o de Estado de Cristandade que se articulou politicamente ao redor de 313 de nossa era cristã.
Para compreender a mudança do cristianismo comunitário para o de Estado de Cristandade nada mais elucidativo que as maravilhosas obras de Dussel: Antropologia Helênica e Antropologia da Cristandade. O helenocentrismo far-se-á eurocentrismo e este pretenderá ser o único sentido da história.
Mesmo quando o Estado de Cristandade for governado por sua cabeça política subordinando a religião como ideologia do Estado na Modernidade (1648), não deixará de ser Estado de Cristandade. E a América Latina e sua história estão emoldurados no interior deste projeto civilizador-evangelizador do Estado de Cristandade europeu.
E Dussel, desde o coração da América Latina, e depois de ler os gregos, os medievais, os renascentistas, os modernos em sua própria língua poderá enfrentar o helenocentrismo e o eurocentrismo, desde o originário comunitarismo das primeiras grandes civilizações e desde a ética que brota da audiência do clamor dos excluídos exigindo a libertação.  Na senda da Teologia da Libertação seu pensamento crítico encaminhará uma Filosofia da Libertação e uma eficaz pedagogia da Libertação, de braços dados com nosso Paulo Freire.
Em 1984, em São Paulo, num encontro do CEHILA (Centro de Estudos de História da Igreja da América Latina) que ele fundara reunindo grupos de estudo em cada país, Dussel e Paulo Freire me deram uma das mais lindas mensagens aos professores das Universidades Católica e  Federal de Pelotas: Freire dizendo que para compreender seu método era preciso ler Dussel e este dizendo que o pragmático de seu pensamento era o método de seu grande amigo Paulo Freire.
Convidei a ambos para irem a Pelotas. A visita de Paulo, para os professores do município do qual eu era secretário, foi inesquecível para firmar a identidade e a esperança no labor de ensinar e aprender.
Dussel veio logo depois. Quatro dias de palestras, encontros, diálogos, sobre os caminhos e descaminhos do estudo da História da Humanidade e do estudo da Filosofia. Ficou em nossa casa, na simplicidade de um irmão que brinca, que incentiva, que convida para uma caminhar maior. A Pré e a Proto-história da América Latina que serviu como apêndice de sua densa obra Método para uma Filosofia da Libertação (DUSSEL, 1986), que eu traduzia em diálogo com ele, foi o fio condutor. Participantes do encontro? Poucos, muito poucos. Talvez chegassem a 50 entre professores e alunos.  A ditadura ainda conseguia gerar muito estrago, muito medo. Especialmente diante de um filósofo argentino que, acusado de comunista tivera sua casa explodida em 1875,  em Cuyo e , por isso fora expulso daquela universidade.
Enquanto ele nos abria os olhos sobre a releitura, ou leitura originária de K. Marx desde os cadernos inéditos e os Grundrisses, enquanto ele nos mostrava o Marx ético do homem como “trabalho vivo”, enquanto ele nos mostrava o significado pós-conciliar de Medellin (1968) e Puebla (1979) que ele assessorara, nós víamos a possibilidade real de uma Filosofia da Libertação. Que Heidegger era importante, mas permanecia metafísico. Que Lévinas era essencial para acordar do sonho metafísico, mas que ainda era europeu. Que precisávamos ver o Outro em seu rosto concreto de excluído que clama por justiça. Era preciso pensar desde a América Latina cujo “pecado” desumano era  a injustiça e a exclusão, como diziam os bispos em Medellim.
 Acompanhamos, depois a rota magistral deste querido e grande Filósofo e Educador, trabalhando sempre com seus livros debaixo do braço, especialmente com sua magnífica Ética e Política da Libertação.

3 Considerações finais: uma filosofia latino-americana à luz da alteridade

Fazer Filosofia na América Latina (e por que não, em toda parte) sem atender à pesquisa, à obra e aos caminhos apontados por Dussel é perder tempo em demasia.
Compreender a Filosofia Grega e o helenocentrismo excludente do comunitarismo das primeiras civilizações, compreender para superar o eurocentrismo, passando pela Metafísica para o pensar da Alteridade e desta para a escuta do clamor dos excluídos na direção da Libertação parece o método. Nossa concepção de mundo se suspende e se desfaz, então, quando o outro irrompe e nos surpreende com seu clamor por justiça. A Ética se fará então Filosofia.
“A proximidade originária é anterior à minha concepção de mundo e torna o Outro o fundamento do mundo, a única realidade concreta e verdadeira”.

Bibliografia
DUSSEL, E. (1986): “Método para uma filosofia da libertação”. Loyola, São Paulo.
DUSSEL, E. (2000): “Ética da libertação: na idade da globalização e da exclusão”. Vozes, Petrópolis.
DUSSEL, E. (1976): “Filosofia da libertação”. UNIMPE/Loyola, São Paulo/Piracicaba.

* Sociólogo. Doutor em Educação Ambiental (FURG), Docente/Pesquisador no Programa de Política Social/UCPEL. Pesquisador do Laboratório de Investigações em Educação, Ambiente e Sociedade (LIEAS/UFRJ). E-mail: csc193@hotmail.com

** Livre-docente e Doutor em Filosofia. Foi Professor na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e na Universidade Católica de Pelotas (UCPel), formado em Ciências Sociais e Jurídicas (UFPel), em Teologia (Fafimc) e Filosofia (Fafimc), traduziu Método para uma Filosofia da Libertação (Loyola) de Enrique Dussel para o Brasil, ex-Reitor da UCPel, autor de inúmeros textos com atuação nas áreas de filosofia da educação, epistemologia, filosofia política e história da filosofia.


Recibido: 09/06/2016 Aceptado: 10/08/2016 Publicado: Agosto de 2016

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