Revista: CCCSS Contribuciones a las Ciencias Sociales
ISSN: 1988-7833


O FUTEBOL E A DITADURA MILITAR NO BRASIL
A Copa de 1970 no México e seus desdobramentos políticos-sociais

Autores e infomación del artículo

José Airton de Farias*

Fagno da Silva Soares **

Universidade Federal Fluminense, Brasil

airtondefarias@yahoo.com.br

Resumo: Este artigo perscruta as relações e desdobramentos político-sociais e futebolísticos da Copa do Mundo do México em 1970 e a Ditadura Militar brasileira. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica e empírica para construção de uma narrativa histórica de perspectiva essencialmente didática acerca da história da Copa de 1970 e seus reflexos no auge da Ditadura Militar. Acreditamos ser esta, uma proposição que possa reverberar futuras reflexões mais aprofundadas acerca da temática.

Palavras-chave: História, Futebol, Ditadura Militar.

Abstract: This paper scrutinizes relations and political-social and footballing developments of Mexico World Cup in 1970 and the Brazilian Military Dictatorship. This is a literature and empirical research to build a historical narrative essentially didactic perspective on the 1970 Cup history and its consequences at the height of the military dictatorship. We believe this is a proposition that could reverberate future more in-depth reflections on the theme.

Keywords: History; Soccer; Military dictatorship.



Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

José Airton de Farias y Fagno da Silva Soares (2016): “O futebol e a ditadura militar no Brasil. A Copa de 1970 no México e seus desdobramentos políticos-sociais”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, (abril-junio 2016). En línea: http://www.eumed.net/rev/cccss/2016/02/futebol.html

http://hdl.handle.net/20.500.11763/CCCSS-2016-02-futebol


1. Introdução

O presente artigo perscruta os desdobramentos político-sociais e futebolísticos durante a Ditadura Militar brasileira, tendo como lócus a participação do Brasil na nona edição da  Copa do Mundo da  Fédération Internationale de Football Association - FIFA, realizada no México nas cidades de Guadalajara, Ciudad de México, León, Puebla e Toluca em 1970. Na ocasião, dezesseis seleções participaram do campeonato, sendo nove europeias (Alemanha Ocidental, Bélgica, Bulgária, Inglaterra, Itália, Suécia, Romênia, Tchecoslováquia, e União Soviética), cinco americanas (Brasil, México, El Salvador, Uruguai e Peru), uma africana (Marrocos) e uma asiática (Israel). Não havendo, portanto a participação da Oceania neste campeonato.
A seleção brasileira fez uma exitosa participação, vencendo todos os jogos das eliminatórias e da Copa. Sagrou-se campeã invicta, o que lhe rendeu o título de uma das mais eficientes seleções de todos os tempos com estrelas incontestes a exemplo de Pelé, Carlos Alberto Torres, Clodoaldo, Gérson, Jairzinho, Rivellino, Tostão e Piazza. O título de campeã serviu para promover aos interesses da propaganda política no ápice do Regime Militar brasileiro, associando a imagem da vitoriosa seleção brasileira a já desgastada imagem dos militares. Somadas as conquistas de 1958 e 1962, a seleção brasileira tornou-se a primeira a obter três títulos na história das Copas.
Deste modo, a seguir propomos uma narrativa histórica de perspectiva didática acerca da história da Copa do Mundo de 1970, e seus impactos no auge do Brasil Ditatorial.

1.2 Contexto histórico-futebolístico

Em 1964, os militares, com apoio de segmentos economicamente dominantes, classes médias, imprensa, igrejas, entre outros, deram um golpe de Estado, derrubando o presidente reformista João Goulart. A princípio, a intervenção militar deveria ser ‘passageira’, para combater a ‘corrupção e comunismo’. Grupos militares mais radicais da denominada linha dura, porém, acabaram chegando ao poder depois e a Ditadura Civil-Militar duraria 21 anos (1964-85).
A nova conjuntura política do País ficou muito clara quando, por pressão dos militares, a Confederação Brasileira de Desportos - CBD cancelou um amistoso contra a União Soviética, deixando que a aproximação com os países socialistas, uma orientação da política externa do governo Goulart, estava revogada e que o Brasil agora se comprometia totalmente com o bloco capitalista e a liderança dos Estados Unidos na Guerra Fria. João Havelange, ao contrário de outros dirigentes de entidades e instituições nacionais, permaneceu na presidência da Confederação Brasileira de Desportos, pela sua competência, os resultados exitosos no comando do futebol (os títulos de 1968 e 1962), as estreitas relações que mantinha com os setores dominantes brasileiros e a notável capacidade de mimetismo político, de conviver, se adaptar e manter boas relações com qualquer regime (MAGALHÃES, 2011: 65).
Dois anos após o golpe, o Brasil, então bicampeão mundial, iria tentar o tricampeonato na Copa do Mundo da Inglaterra. Os militares, obviamente, contavam com o triunfo do time, para angariar simpatias populares (igual haviam feito os governos democráticos de JK e Jango) e passar a ideia de ‘normalidade’ política do País após o Golpe Militar de 1964, especialmente porque as oposições começavam a se rearticular ante as medidas arbitrárias praticadas pelo regime militarista. Para a Ditadura, vencer a Copa seria também consolidar interna e externamente a imagem de um país que estava ‘avançando em seu destino de se tornar uma potência’. Existia um grande otimismo quanto à conquista. Pelé e Garrincha estariam em campo e o Brasil era reconhecidamente o possuidor do ‘melhor futebol do mundo’. Era tão grande a ‘certeza’ da vitória que dirigentes brasileiros chegaram a propor que fosse idealizada imediatamente uma nova taça – sugeriu-se o nome de Winston Churchill – uma vez que era dada como certa que a Jules Rimet voltaria com a delegação brasileira para a casa, consumando a posse definitiva do troféu pela Confederação Brasileira de Desportos [o “regulamento da FIFA previa a entrega em definitiva do troféu à seleção que ganhasse a Copa por três vezes]” (AGOSTINO, 2002: 155).
Mas não apenas os militares apresentavam interesse políticos em mais um triunfo no Mundial. Com um eventual tri da seleção canarinho, João Havelange objetivava alcançar pretensões maiores, entenda-se, ser eleito para presidir a FIFA. O êxito na Inglaterra, confirmaria sua competência à frente da gestão esportiva e a eleição ficaria mais fácil. Como candidato, porém, necessitava de apoios e, para tanto, começou a fazer concessões, negociações e nesse turbilhão à seleção sucumbiu.
 A delegação brasileira seria comandada pelo próprio Havelange, pois este havia rompido com Paulo Machado de Carvalho.  O marechal da vitória, inclusive, deixou a Confederação Brasileira de Desportos. Após vários pequenos desentendimentos ao longo dos anos, a ruptura definitiva entre os dois dirigentes teria se dado pela escolha do novo técnico da seleção, pois Feola, campeão de 1958, voltara ao comando do time em 1964, no lugar de Aimoré Moreira, campeão de 62 e favorito de Paulo Machado. Davyd Yallop, porém, afirma que ao assumir o comando da delegação, Havelange desejava capitalizar o máximo o prestígio da seleção brasileira em seu projeto para comandar a FIFA (YALLOP, 1998: 70).
Existia, assim, uma série questões envolvendo a seleção brasileira. Ela deveria se preparar para a Copa, mas ao mesmo tempo servir aos interesses políticos e de propaganda tanto da Confederação Brasileira de Desportos/João Havelange quanto da Ditadura Civil-Militar. Para complicar, havia ainda a pressão dos principais clubes e federações, cada qual querendo indicando o ‘seu futuro tricampeão do Mundo’ para o elenco.
Com seu estilo ‘flexível’, Vicente Feola cedia às pressões atendendo em parte aos dirigentes, convocou vários jogadores, num total de 47, embora, fosse verdade, a seleção necessitasse renovar seu elenco e ‘testar’ novos atletas. O problema é que não havia critérios claros para esses ‘testes’. Havelange impôs o nome de Garrincha (então jogando no Corinthians paulista) como titular, ainda que naquele momento o craque estivesse na descendente em termos de carreira, fora de forma e envolvido em problemas pessoais e com alcoolismo. Atendendo bem mais às pretensões políticas de Havelange que à preparação do time, o Brasil realizou seis amistosos na Europa.
Para satisfazer igualmente aos interesses propagandísticos da Ditadura, foram formadas quatro seleções ao mesmo tempo (a verde, a amarela, a azul e a branca). Cada um desses times tinha uma preparação específica e fazia um itinerário de jogos contra clubes Brasil afora, atuando em cidades tidas como estratégicas politicamente para a Ditadura e seus aliados políticos.
Como diz Carlos Eduardo Sarmento, “[...] administrando interesses políticos vários, a grande trupe do selecionado brasileiro percorreu um intenso circuito pelo interior do país, permanecendo temporadas em cidades como Lambari, Caxambu e Teresópolis. Nessas localidades, os treinamentos eram acompanhados de inúmeras solenidades, jantares, recepções, discursos. Sempre havia interesse, ou popular, ou partidário, de chegar perto dos ídolos. Durante três meses os jogadores e a comissão técnica tiveram que desempenhar muitos papéis, dificultando os ensaios para o grande espetáculo que teriam que encenar na Inglaterra” (SARMENTO, 2006: 1119).
Ou seja, o time não estava definido, não treinou adequadamente, não conseguiu se entrosar, não se condicionou fisicamente. Sem uma equipe estruturada fora e dentro de campo, como se percebe historicamente, as chances do Brasil caiam drasticamente (não passa de um mito achar que apenas o ‘talento individual’ do jogador brasileiro basta). Ou seja, na Copa de 1966, a Confederação Brasileira de Desportos adotou uma postura totalmente oposta ao planejamento e organização que havia dando ao Brasil os títulos de 1958 e 1962. (GUTERMAN, 2009: 154; FRANCO JÚNIOR, 2007: 139; AQUINO, 2002: 86).

2. A Copa do Mundo do México em 1970
A perda da Copa de 1966 frustrou bastante a Ditadura Civil-Militar brasileira. Aliados do governo no Congresso Nacional chegaram até a sugerir a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito - CPI para apontar as razões daquele retumbante fracasso. Pressionado, João Havelange, ainda na presidência da Confederação Brasileira de Desportos, promoveu várias mudanças na estrutura da Seleção Brasileira. Inicialmente, em 1968, anunciou que a seleção seria comandada por um grupo, a Comissão Selecionadora Nacional – COSENA. Oficialmente, esse grupo, composto por figuras ‘notáveis’ do futebol, teria a função de ajudar a renovar a seleção nacional, indicando o treinador/comissão técnica da seleção e avaliando os jogadores selecionados. Na prática, era uma forma dos militares interferirem e imporem sua vontade ao futebol, à CBD e à seleção. Havelange, sem ter alternativas, fragilizado pela perda da copa anterior ou por não ver mal algum em se aproximar do poder político brasileiro (afinal, tinha pretensões ainda de presidir a Federação Internacional de Futebol - FIFA e necessitava de apoio, mesmo que fosse de uma ditadura), acabou aceitando a vontade dos militares. Para presidir a Comissão Selecionadora Nacional, foi chamado Paulo Machado de Carvalho (reconciliado com Havelange), o ‘marechal da vitória’ nas Copas de 1958 e 1962. Com isso, Aymoré Moreira acabou novamente nomeado técnico da seleção e Oswaldo Brandão ficou com o cargo de orientador (SARMENTO, 2006: 123 e seguintes).
Em junho e julho de 1968, uma renovada seleção brasileira fez uma excursão à Europa e América Latina, com resultados medianos1 .  A bola apresentada não agradou aos militares e os clubes e as federações estaduais reclamaram dos prejuízos sofridos pelo desfalque de seus jogadores principais por mais de um mês. A pressão sobre Havelange intensificou-se. Para agradar os times, decidiu-se mandar seleções estaduais (paulistas, mineiros, cariocas, etc.) representar o Brasil em alguns compromissos menos importantes. Isso claramente não contribuía em nada para a formação de um time que necessitava ser entrosado e testado.
A ‘Seleção Brasileira da COSENA’ voltou a jogar em outubro de 1968, fazendo o vexame de perder dois amistosos em casa para o México, à época um time fraco, velho freguês do futebol nacional. A situação de Havelange complicava-se, pressionado pelos militares, e a credibilidade da COSENA ante a imprensa e torcedores, era quase nenhuma mais. Apesar de ter obtido ainda alguns bons placares a seguir, ganhando da Seleção da FIFA e da Alemanha Ocidental, por exemplo, o rendimento do escrete nacional continuava não agradando. No final de 68, Mesmo diante da posição contrária de integrantes do regime militar, Havelange manobrou politicamente para dissolver a Comissão Selecionadora Nacional (aproveitou-se dos maus resultados) e decidiu trazer para o comando técnico da seleção alguém popular, com credibilidade e, óbvio, conhecimento de futebol: o jornalista e radialista João Saldanha2 (SARMENTO, 2006: 125).
A escolha de Saldanha em fevereiro de 1969 foi surpreendente, pois o jornalista era um dos maiores críticos da seleção e da Confederação Brasileira de Desportos - CBD nas páginas do jornal O Globo. Denotava, porém, certo desespero de Havelange e dos militares, afinal o novo técnico havia tido apenas pequena experiência no comando do Botafogo em 1957 (quando fora campeão estadual) e 1958, e era não só um homem de esquerda, mas também membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e crítico contumaz da Ditadura. Afora isso, apresentava um forte temperamento – não por coincidência, chamavam-no de no meio desportivo de ‘João Sem Medo’. Era do tipo ‘que não hesitava em dizer o que pensava’ e que de jeito algum aceitava a interferência de quem fosse em seu trabalho, como havia acontecido com as intromissões de Havelange e Paulo Machado de Carvalho nas seleções da Copa de 58 e 62. Para a Confederação Brasileira de Desportos - CBD e a Ditadura, ter Saldanha na seleção era um ‘tudo ou nada’.
A escolha de João, todavia, não foi unanimidade. Dentro do velhíssimo bairrismo entre os estados, os paulistas reclamaram que a Confederação Brasileira de Desportos tivesse entregue o comando da seleção a um carioca. Os conservadores e a Linha Dura Militar acharam um absurdo entregar o “símbolo da nacionalidade brasileira” a um comunista, ‘subversivo’ e ‘inimigo da Pátria’. Por outro lado, causava grande desconforto entre as esquerdas observar um socialista “servindo” a um governo de direita como o do Brasil, que torturava e eliminava seus inimigos políticos. Havia os que viam a escolha de Saldanha, um dos grandes críticos da campanha recente da seleção, uma artimanha de Havelange, para tirar-lhe dos focos das críticas. Os desafetos do jornalista na imprensa e os técnicos de futebol interessados no comando da seleção criticaram a escolha, insistindo que João Saldanha era bom em comentar futebol no rádio, algo totalmente diferente de dirigir um time, especialmente a seleção nacional – Saldanha, para os técnicos, era ‘um intruso’ que estava ocupando a vaga deles (AGOSTINO, 2002: 156; FRANCO JÚNIOR, 2007: 141; GUTERMAN, 2002: 164).
O Conselho Nacional de Desportos, durante a Ditadura Civil-Militar, passou a ter grandes poderes, para intervenção e normatização do futebol. Em 1968, regulamentou a venda do passe dos jogadores, que fiariam com 15% do valor da negociação. Os clubes de futebol passam a submeter ao governo o nome de qualquer postulante a cargo de dirigente – ou seja, os times estavam sob controle da Ditadura e aqueles diretores que não se alinhavam ao regime estavam excluídos. As federações de futebol eram também dirigidas por aliados do regime, não raro, militares. Igualmente tornou-se comum a presença de militares nos clubes de futebol, fossem com dirigentes ou membros das comissões técnicas (treinadores, preparadores físicos, etc.) 3.
Para os objetivos políticos e ideológicos dos militares, era de extrema importância a ‘unidade e integração’ do País, afinal, existia uma persistente oposição à Ditadura, inclusive com luta armada. “Em abril de 1970, foi inaugurada a Loteria Esportiva. A proposta conciliava sorte e futebol, e abria a possibilidade de mobilidade social para todos, alem de ser uma importante fonte arrecadadora de recursos para o governo. Como incluía jogos de todo o País, fazia com que todos os resultados interessassem a toda a população, contribuindo para uma integração nacional” (MAGALHÃES, 2010: 67).
Um campeonato de futebol seria relevante também para atingir aquele objetivo. Daí por que se criou em 1971 o Campeonato Brasileiro de Futebol, que foi desde o início uma ferramenta de barganhas políticas tanto para o governo como para os clubes, federações e seus dirigentes. Quando da instituição da competição, o presidente da CBD João Havelange, não pode deixar de agradar aos presidentes das federações estaduais. “O coronel José Guilherme, o general Oldenor Maia e Rubem Moreira, presidentes das federações mineira, cearense e pernambucana, respectivamente, tiveram seus pedidos atendidos: desejavam fortalecer seu capital político com a criação do Campeonato Nacional. O Nordeste assim, ganharia mais dois representantes em comparação ao número de participantes do Robertão. [...] A fim de resolver a insatisfação dos gaúchos, que desde o projeto apresentado [pela recém criada revista] Placar mostravam-se contrários à ideia da criação de um campeonato nacional,Havelange prometia o aumento do número de representantes do estado para a segunda edição do Nacional. E, para a felicidade de todas as federações, os campeonatos regionais controlados por elas seriam prioritários no calendário, com suas datas até agosto, deixando o Nacional com pouco mais de três meses de duração” (SANTOS, 2012: 84).
Sendo o Brasil um país com dimensões continentais, o campeonato Nacional com apenas vinte clubes, como fora criado, deixou um considerável número de insatisfeitos, dentre estes, importantes políticos. Assim, não surpreende que ao longo dos anos o número de participantes da disputa tenha sido aumentado conforme as conveniências políticas. Daí porque em meados dos anos 70 ficou famoso o jargãoonde a Arena [partido de apoio à Ditadura] vai mal, um time no nacional; onde vai bem, outro também”(AQUINO, 2002). Para se ter ideia, se 1971, o Brasileirão contou com 20 participantes, em 1979, o número já era de 94 times (MAGALHÃES, 2010).
Ao mesmo tempo, embalado pelos bons frutos do crescimento econômico do “Milagre brasileiro”, a ditadura e governos estaduais edificavam grandes estádios Brasil – entre 1972 e 1975, foram concluídos 30. A Ditadura, afora endossar a unidade nacional em torno do futebol, mostrava igualmente todo o poder do regime, como aconteceu na construção de obras grandes obras do período, a exemplo da Ponte Rio - Niterói e Transamazônica (FRANCO JÚNIOR, 2007: 143).
2.1 As “Feras do Saldanha”
João Saldanha sabia da geração talentosa de futebolistas que tinha em mãos. Compreendia, por outro lado, que não bastava apenas isso para ser campeão do Mundo. Era necessário montar um time quase a partir do zero e abandonar a veneração excessiva aos ganhadores das Copas de 58 e 62. O único bicampeão mundial em condições ideais para 1970 era Pelé, que, inclusive, chegou a ameaçar não ir à Copa de 70 no México, talvez porque apanhara demais no Mundial de 1966 (argumento que usou e público), talvez porque desejava manter o título de ‘rei’ do futebol, preocupação que sempre manteve ao longo de sua carreira e mesmo depois que se aposentou 4.
O que parecia difícil acabou se concretizando. Saldanha definiu logo o time titular no dia que foi nomeado técnico (uma astúcia para desarmar as costumeiras especulações sobre convocações futuras) e alternando os esquemas 4-3-3 e 4-2-4, organizou o escrete verde e amarelo, obtendo ente abril e agosto de 1969 uma série de triunfos em amistosos e nas eliminatórias para a Copa de 70. Nestas, foram seis vitórias em seis jogos, com 23 gols marcados e apenas dois levados (Colômbia 0 x 2 Brasil, Venezuela 0 x 5 Brasil, Paraguai 0 x 3 Brasil, Brasil 6 x 2 Colômbia, Brasil 6 x 0 Venezuela, Brasil 1 x 0 Paraguai). Foi “num lance de efeito publicitário, [o treinador] chamava os jogadores de ‘feras’, visando ‘desafrescalhar’ o epíteto de ‘canarinhos’, que passaram a ser conhecidos como ‘as feras do Saldanha” (WISNIK, 2008: 294). O time passou a ser conhecido como “as feras de Saldanha”. Um otimismo voltou a tomar de conta dos brasileiros – e da Ditadura – quanto às possibilidades reais de ganhar definitivamente a Jules Rimet (a FIFA estabelecera que a seleção que ganhasse três vezes a Copa do Mundo ficaria para si em definitivo com o troféu). Mesmo com a popularidade e bons resultados do trabalho desenvolvido, a presença de Saldanha na seleção incomodava à Ditadura Civil-Militar, que cada vez mais se fechava.
Em 1968, ante os protestos estudantis, articulações políticas de opositores, confrontos de ruas e aprofundamento das ações da esquerda armada, o presidente general Costa e Silva, vinculado à Linha Dura militar, decretara o Ato Institucional nº 5 (AI 5), marcando o começo do que se chamou Anos de Chumbo – na prática, as garantias constitucionais foram suspensas. Até o AI 5 (13 de dezembro de 1968), ainda havia algum resquício de espaço para manifestações. Depois, tornou-se perigoso, mortalmente perigoso, se envolver no questionamento ao regime. O futebol, logicamente não escaparia à sanha de controle dos militares.
A 27 de agosto de 1969, porém, Costa e Silva teve um AVC, entrando em coma e vindo a falecer meses depois. Abriu-se grave crise política no País, pois o vice, o civil Pedro Aleixo, não era homem de confiança dos militares. Para agravar ainda mais a instabilidade da Ditadura, nesse momento grupos de esquerda armada (chamados pelos militares de terroristas e subversivos) sequestraram o embaixador norte-americano no Rio de janeiro, Charles Elbrick. Uma Junta Militar impediu a posse de Pedro Aleixo e assumiu o comando do Brasil, fato que, coincidência ou não, aconteceu a 31 de agosto, exatamente quando a nação estava toda voltada para o Maracanã, onde o escrete canarinho jogava sua última partida nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 1970. Boatos já circulavam no estádio sobre o que teria acontecido com o general. Segundo versões, um militar, o general Elói Menezes, presidente do Conselho Nacional de Desportos (CND), teria sugerido a Saldanha a realização de “um minuto de silêncio para o falecido presidente” (na verdade, Costa e Silva ainda estava em coma), isso como um balão de ensaio para a ditadura analisar a reação popular ante uma notícia que implicava em novos rumos para o País. O técnico, talvez numa implícita ironia contra a Ditadura, afirmara que não era boa ideia e, parafraseando seu amigo Nelson Rodrigues, emendou que no “Maracanã vaia-se até minuto de silêncio” (apud AGOSTINO, 2002: 157). O minuto de silêncio não aconteceu e o Brasil vencer por 1 x 0 ao Paraguai, gol de Pelé, sendo aplaudido de pé pelo público de 183 mil pagantes que superlotava o estádio (SARMENTO, 2006: 126).
A Junta Militar entregaria em 30 de outubro de 1969 a presidência do Brasil a outro linha dura, o general Emilio Garrastazu Médici, um apaixonado por futebol torcedor do Grêmio e do Flamengo – conta-se que chegava a interromper reuniões para saber o placar dos jogos. Com Médici (1969-1974), favorecido por uma onda internacional favorável, o Brasil conheceu grande crescimento econômico. Era o Milagre Brasileiro, o que deu altos níveis de popularidade ao presidente. Para legitimar-se, os militares endossaram campanha ufanista, divulgando músicas de caráter nacionalista e slogans ainda hoje conhecidos, como este é um País que vai para frente e Brasil: Ame-o ou Deixe-o. Passava-se a ideia que o Brasil era finalmente uma potência e que nada poderia deter o País, isso, claro, graça aos governos militares (MAGALHÃES, 2010).
À proporção que a Copa se aproximava, os militares buscavam cada vez mais associar sua imagem ao esporte. Não foi coincidência a festa comemorativa para o milésimo gol de Pelé, em 1969. O evento foi planejado com antecipação e embora não desse para saber exatamente quando o tento sairia, a intenção era que acontecesse no Maracanã – nada mais simbólico que o gol mil do maior jogador do mundo acontecesse no maior estádio de futebol do planeta. A CBD fez uma estatística e cada tento marcado pelo craque se aproximando do feito era repercutido na imprensa desportiva. Num desses jogos de ‘expectativas’ se deu no clássico Paulista Santos contra Corinthians, a 4 de novembro, na mesma data em que a polícia assassinava numa emboscada o guerrilheiro Carlos Marighela, apontado como o ‘inimigo número um do regime’.
Por fim, a 19 de novembro de 1969, no jogo Vasco 1 x 2 Santos pelo Torneio Rio-São Paulo, por coincidência ou não, no Maracanã, como esperavam os militares, Pelé marcou seu milésimo gol, de pênalti, diante de um público de 65 mil pessoas. Na partida, houve todo um protocolo oficial, com hino, hasteamento da bandeira nacional e homenagens ao atleta. Pelé emocionou-se e cercado por uma multidão de repórteres dedicou o gol mil “às crianças pobres do Brasil.”5
No dia 25 de novembro, Pelé desfilou em carro aberto em Brasília e se encontrou com Médici, recebendo as medalhas do mérito nacional e de comendador 6. Numa das partidas seguintes, Pelé recebeu uma coroa de ouro da época da Monarquia e nas semanas posteriores foram confeccionados medalhas, troféus, placas, etc., alusivos ao feito (AGOSTINO, 2002: 159).
O Curioso é que o goleiro vascaíno a sofrer o gol de Pelé, o argentino, Andrada, El Gato, havia jogado na seleção albiceleste e no Rosário Central e seria anos depois, em 2011, acusado de ter torturado e assassinado presos políticos na ditadura militar argentina (1976-83) 7. Em 1995 o jornal Folha de São Paulo fez uma recontagem dos gols de Pelé e constatou que não havia sido computado um tento do genial craque feito nos primeiros anos de carreira, quando o atleta estava no serviço militar e defendia a seleção do Exército – no caso, Brasil e Paraguai, pelo Sul-Americano militar, de 19598 . Assim, o gol mil teria acontecido, também de pênalti, num amistoso do Santos em João Pessoa, na entrega de faixas de campeão ao Botafogo da Paraíba, no modesto Estádio José Américo de Almeida. O Santo ganhou de 3 x 0 e, para se evitar que fosse feito o que se imaginava o milésimo gol, Pelé foi posto para jogar como goleiro no segundo tempo 9!
Independente da polêmica, o certo é que a Ditadura Civil-Militar brasileira explorou e capitalizou politicamente com o atleta e o monitorou de perto. Sabe-se que Pelé foi vigiado por espiões da Ditadura nos anos 70, inclusive tendo ficha no DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), visto que o jogador passou a receber pedidos de amigos e representantes de presos políticos, pois, como “pessoa famosa”, poderia intervir junto à Ditadura para soltar os inimigos do regime. Os militares, com isso, temiam que Pelé, no auge de seu prestígio após a conquista do tri no México, pudesse fazer alguma crítica ao regime autoritário, agastando a imagem do governo interna e externamente 10.
Em dezembro de 2012, a emissora de televisão ESPN levou a público documentário que abordou as relações de Pelé e a Ditadura. A matéria mostrou documento do DOPS de 21 de outubro de 1970, no qual se afirma que teria Pelé visitado o gabinete do diretor geral do órgão e informado que em jogos no México e Colômbia fora ‘assediado por comunistas’ para assinar manifestos contra o governo brasileiro e que não o fez por ser contrario ao comunismo. Pelé teria ainda dito que se prontificava a tornar isso público, se o governo achasse conveniente. A emissora tentou ouvir o ex-jogador, mas a assessoria deste nada respondeu11 .
As relações do rei com os militares teriam sofrido alguns arranhões também pela recusa do craque em ir à Copa do Mundo de 1974, na Alemanha Ocidental – políticos ligados ao regime tentaram, inclusive, persuadi-lo a mudar de ideia12 . A intenção do jogador era não correr o risco de fracassar em 74 e atrapalhar sua imagem de vencedor e de “rei do futebol”. A partir dos anos 1980, com a derrocada da Ditadura Civil-Militar, Pelé passou a dizer que a opção de não ir a um novo mundial também seria uma forma impedir o uso de sua imagem para fazer propagada do regime militar no exterior (AGOSTINO, 2002: 162). Não obstante, em 1971, quando já tinha se despedido da seleção brasileira, suas declarações foram bem diferentes. Não responsabilizou o governo militar por sua saída da seleção (e não teria como, em virtude do autoritarismo vigente) e chegou mesmo a dizer que o Brasil era ‘um país liberal, o país da felicidade’ e indagado sobre a Ditadura, respondeu; “[...] não posso falar sobre algo que não existe. Nós somos livres” 13.
Em 1977, Pelé criou polêmica ao afirmar à imprensa que “o brasileiro não sabe votar”. O líder do MDB (Movimento Democrático Brasileiro), Ulysse Guimarães, que articulava um embrionário movimento para reestabelecer as eleições diretas para presidente, reagiu às declarações, enfatizando que Pelé estava a serviço da Ditadura. Com a repercussão negativa e polêmica criada, Pelé chamou a imprensa para uma coletiva e explicou que a frase fora descontextualizada, querendo dizer apenas que os brasileiros deveriam voltar com “mais seriedade”. A polêmica findou-se e Pelé mais uma vez manteve sua imagem intacta (CASTELLO, 2004: 123).
Apesar da classificação para a Copa, a situação da seleção acabou se deteriorando nos meses seguintes, exatamente quando dos preparativos finais para a viagem ao México. Para começar, ocorreram maus resultados em amistosos – o Brasil perdeu para a Argentina por 2 x 0 e empatou em 1 x 1 com o Bangu-RJ – gerando uma forte pressão sobre Saldanha. Depois, houve polêmicas envolvendo treinadores que ambicionava o comando do selecionado, sobretudo Yustrich, do Flamengo – irritado, Saldanha chegou a procurar o técnico rubro-negro com um revólver em punho para tomar satisfação14 . Também aconteceram atritos com a imprensa, visto que Saldanha reagia forte e com ironia às críticas que recebia. Igualmente explicitaram-se divisões internas no elenco nacional – existiam, por exemplo, problemas de relacionamento entre Saldanha e Pelé:15 o técnico chegou a dizer que o jogador apresentava problemas de visão, o que gerou muita celeuma.
 Na verdade, a presença de João Saldanha no comando técnico incomodava as direitas. Os militares sabiam que o treinador em suas viagens ao exterior levava documentos que denunciava as torturas no Brasil e ajudava a exilados. A Ditadura temia que Saldanha ao ser indagado pela imprensa no exterior sobre “o que estava acontecendo politicamente no Brasil” desandasse a denunciar, bem em seu estilo cáustico, as violações de direitos humanos praticados no governo Médici. Militantes de esquerda, não raros amigos e companheiros do treinador (a exemplo de Marighela, morto pela policia de São Paulo em 1969), estavam sendo perseguidos, torturados e executados nos porões do regime. Diziam até que o treinador teria uma lista com nomes de presos políticos e desaparecidos a ser lida diante da imprensa no México. A Ditadura Militar, sempre preocupada com sua imagem, temia as repercussões de um episódio assim, tanto que mesmo após deixar o comando técnico da seleção, Saldanha continuou “acompanhado de perto” pelos espiões dos órgãos de repressão 16 (AQUINO, 2002: 91).
Foi nessa conjuntura que aconteceu a famosa polêmica acerca do centroavante Dário (depois auto-intitulado Dadá Maravilha) do Atlético Mineiro, pretexto para a saída de João Saldanha do comando técnico da seleção brasileira. O atleta, excêntrico, pouco técnico, mas do tipo oportunista, era admirado pelo presidente Médici, que teria cobrado uma chance para jogador na seleção. Instigado pela imprensa, Saldanha respondeu ao general com uma de suas famosas frases de efeito: ‘nem eu escalo ministério nem o presidente escala time. Então, está vendo que nós nos entendemos muito bem’. Doze dias depois Saldanha deixaria a seleção. Questiona-se hoje se o presidente de fato disse isso ou se estava empenhado na escalação de um jogador em particular – possivelmente tinha outras prioridades e preocupações estando à frente do comando do Brasil – ou se a repercussão do episódio não serviu apenas para agastar a imagem de Saldanha, de alimentar polêmicas e instigar seu temperamento ‘explosivo’, dentro da estratégia de quem o desejava fora da seleção. O sucedido, porém, somado aos recentes maus resultados do escrete, a postura ideológica, a independência e as polêmicas de Saldanha, a repercussão de barrar Pelé para um amistoso (o “rei” não vinha se apresentado bem nas últimas partidas e estava fora de forma) e desentendimentos com outros membros da comissão técnica foram suficiente para a CBD demiti-lo na noite de 17 de março de 1970, a pouco mais de dois meses da Copa. Não por acaso, a torcida e a imprensa começaram a duvidar das possibilidades da seleção nacional no Mundial (AGOSTINO, 2002; GUTERMAN, 2009).
O novo técnico do Brasil passou a ser Mário Jorge Lobo Zagallo, então treinador do Botafogo, embora, a princípio, tivesse sido cogitado o nome de Otto Glória (técnico de Portugal na Copa de 1966). Zagallo encontrava-se a profissão há apenas três anos, fora bicampeão carioca em 1967/68, tinha experiências em Copas do Mundo (como jogador, bicampeão em 58 e 62) e apresentava boas relações com os cartolas do futebol brasileiro e não se opunha à Ditadura. Era uma figura pragmática, de não “comprar brigas inúteis”. Atendendo ou não a Médici, convocou Dário para seleção17 e manteve basicamente o time deixado por Saldanha, embora com uma grande e sensível inovação: enquanto este armara sua equipe num 4-2-4, tendo Edu como ponta-esquerda ofensivo, Zagallo preferia o esquema 4-3-3, com um ponta-esquerda recuado, Paulo César (depois conhecido como Paulo César Caju), que parecia muito com o próprio Zagallo quando jogava, embora bastante questionado por ser ‘indisciplinado’.
Nas palavras de Tostão, “Zagallo era um treinador diferenciado, que teve o mérito de introduzir na seleção brasileiro o treinamento tático e a jogada ensaiada, de levar o estudo para o quadro negro, de arrumar ‘um punhado de opções’ que poderiam ser executadas conforme o andamento da partida, de ‘levar a coisa mais cientificamente’ [...] sem perder a individualidade” (apud WISNIK, 2008: 301) Essa preocupação tática da seleção de 70 não era casual, mas uma reação ao futebol-força apresentando pelos europeus na Copa de 66 e na qual o Brasil fracassara de forma humilhante. O time brasileiro, assim, introduziu novos métodos (científicos) de treinamento – houve grande atenção à parte tática e física – o que, aliado à técnica excepcional daquela geração de jogadores, se revelaria importante para a conquista da Jules Rimet (GIGLIO, 2005: 64).
Zagallo aceitou (e talvez não tivesse como resistir) a militarização da seleção que se verificou a seguir. A presença de militares era evidente (alguns deles, ex-membros da extinta COSENA), deixando mais uma vez clara a importância do time verde e amarelo para a Ditadura. A delegação era chefiada por Jerônimo Bastos, major-brigadeiro de vínculos com a chefia do SNI, que indicou como responsável pela segurança Roberto Guaranys, major, acusado de ser torturador 18 e com a função de controlar e evitar “qualquer desvio” dentro da seleção (era o homem de estrita confiança do regime dentro da seleção); a supervisão estava com Claudio Coutinho, capitão, a equipe de educação física, dirigida por Admildo Chirol e Carlos Alberto Parreira, compunha-se por Kléber Camerino e Benedito José Bonneti, capitães, enquanto o treinamento dos goleiros ficou a cargo de Raul Carlesso, subtenente. Desejavam-se atletas soldados. Jogadores com cabelos cortados “à escovinha”, falando pouco, disciplinados, preparo físico ao estilo da caserna, capazes dos maiores esforços “pela Pátria”. Ironicamente, em campo, o futebol apresentado pela seleção iria contrariar todos essas amarras impostas pelos militares, exaltando a técnica, a habilidade individual, numa das mais belas exibições do chamado futebol-arte na história das Copas do Mundo (AGOSTINO, 2002; FRANCO JÚNIOR, 2007: 142).
O início de Zagallo, porém não foi fácil na seleção. Suas opções táticas foram também questionadas, especialmente por insistir em não colocar Tostão e Pelé juntos, sob a alegação de que tinham “características semelhantes” e atuavam na mesma posição. Apenas às vésperas da Copa, pressionado pela imprensa, torcedores e mesmo jogadores do elenco, Zagallo decidiu escalar os dois – Eduardo Gonçalves, o Tostão, nascera em Minas Gerais e jogava no Cruzeiro e quase não iria à Copa em virtude de um deslocamento de retina provocada por uma bolada, o que o obrigou a uma cirurgia nos Estados Unidos. Os resultados nos amistosos do time nacional foram pífios, a exemplo dos empates em 0 x 0 com o Paraguai e com o time “b” da Bulgária e a vitória magra por 1 x 0 sobre a Áustria sob estridentes vaias no Maracanã. Especulava-se que Otto Glória poderia assumir a direção técnica do time. O fantasma de 1966 assustava o futebol brasileiro: tinha um bom time na teoria, mas na prática o bom futebol não acontecia. Havia um ceticismo geral quanto ao futuro daquela seleção. Não obstante, Zagalo se tornaria o primeiro ex-jogador campeão do Mundo a ser também vencedor da Copa como técnico (GEHRINGER, 2006i).
A Copa de 1970 seria a primeira a ter transmissão ao vivo para o Brasil pelas redes de televisão. Imagem em preto em branco, diga-se, pois apenas em 1972 aconteceria a primeira transmissão em cores no País. As transmissões só eram possível devido à Embratel, Empresa Brasileira de Telecomunicações, gigantesca estatal criada em 1965. A Ditadura Civil-Militar deu grande apoio à expansão das comunicações no Brasil, na intenção de integrar melhor o País e reproduzir/unificar o discurso autoritário então reinante. Uma outra novidade das transmissões pela TV foi o uso do replay instantâneo 19.
Na época houve uma procura desenfreada a aparelhos de televisão, vendidos à vista ou, como era mais comum, a prazo, pois não era um objeto tão barato, embora o governo ofertasse subsídios. A maioria dos brasileiros, não obstante, acompanhou a copa pelo rádio. A Copa na TV se tornou um instrumento a mais de propagada para o governo militar brasileiro (AQUINO, 2002; GEHRINGER, 2006i; MAGALHÃES, 2010). Inclusive, a transmissão dos jogos ao vivo ajuda, em parte, a explicar a grande fama da seleção de 70. “Todos assistiram a se encantaram com o futebol visto ao vivo, fascinados ainda por acompanhar a caminhada da seleção. A mídia, principalmente a televisiva, com um forte mecanismo de apelo popular, foi uma das responsáveis pela construção dessa seleção como a imagem do futebol [arte] brasileiro” (GIGLIO, 2005: 64)
2.3 A Guerra do Futebol

Sessenta e noves países se inscreveram para conseguir uma das 14 vagas das eliminatórias da Copa de 1970, no México (como sempre, os anfitriões e o último campeão já estavam garantidos no Mundial). Na disputa para ser sede do mundial, o México vencera mais uma vez a pretensão da Argentina. A escolha se dera num encontro da FIFA no Tóquio em 1964, durante os Jogos Olímpicos. A Copa foi em pouco mais de dois anos o segundo evento esportivo internacional de grande envergadura para o país, pois em 1968 a cidade do México fora sede dos Jogos Olímpicos. As estruturas deixadas pelas Olimpíadas, inclusive, pesariam para a escolha da sede do Mundial de futebol – o recém-erguido estádio Azteca, por exemplo, tinha capacidade para 114 mil torcedores.
Durante os jogos das eliminatórias, algumas surpresas e decepções. Portugal, a sensação da Copa de 66, não se classificou, perdendo a vaga para o jovem time da Romênia. A França, com um futebol vivendo grave crise técnica, perdeu a vaga para a Suécia. As tradicionais Espanha e Iugoslávia foram eliminadas pela Bélgica. A Argentina perdeu a vaga para a seleção do Peru, cujo técnico era o ex-jogador e craque brasileiro Didi. No geral, os grandes times do futebol mundial se classificaram sem sustos, a exemplo de União Soviética, Alemanha Ocidental, Itália, Uruguai e Brasil. A classificação destas três últimas equipes, todas bicampeões do mundo, criava condições para uma delas ficar em definitivo com a taça Jules Rimet, caso obtivessem o tricampeonato, confirme as regras da FIFA (GEHRINGER, 2006i; RIBAS, 2010; BAGGIO, 2010).
Na África, que finalmente teve direito a uma vaga “exclusiva (mas ainda assim, muito aquém do ideal) e após a disputa entre 11 países no estilo mata-mata” (entre nações vizinhas, para poupar custos), o vencedor acabou sendo o Marrocos, país que havia se libertado do domínio colonial francês em 1956 e que fora o berço de um dos maiores astros da história do futebol da França, Just Fontaine. O Marrocos se tornou, assim, a segunda equipe africana a participar de uma Copa do Mundo (a primeira havia sido o Egito em 1934). O futebol no continente se expandia e era usado pelos novos governos como forma de estimular o nacionalismo e a unidade de países não raros com fronteiras artificiais (uma herança do neocolonialismo europeu do final do século XIX) e divididos em várias etnias. Em 1957 havia surgido a Confederação Africana de Futebol (AGOSTINO, 2002: 207).
Na vaga ofertada à Ásia e o Oceania, o vencedor acabou sendo Israel, que eliminou a Coreia do Sul e a Austrália. Não foi exatamente uma surpresa, pois embora o time judeu apresentasse pouca projeção no futebol mundial, era uma força asiática (fora vice-campeão da Copa Asiática em 1956 e 1960 e campeão em 1964) e chegou às semifinais dos Jogos Olímpicos do México de 1968 (foi eliminado para a Bulgária num cara ou coroa!). Com times bem estruturados, Israel tinha também fortes contatos com o futebol europeu, o que lhe permitia estar a par das inovações táticas e de preparo físico. A presença do selecionado judeu Copa tornou-se um ponto de preocupação a mais para as autoridades mexicanas, que temiam um ataque de grupos árabes fundamentalistas. A preocupação tinha razão de ser, tanto que dois anos depois, nos Jogos Olímpicos de Munique, na Alemanha, o grupo terrorista Setembro Negro sequestrou atletas israelenses, o que deixou a seguir um saldo de 18 mortos (incluindo atletas e sequestradores), numa tentativa fracassada da polícia de libertar os detidos. Curiosamente, a Coreia do Norte, um dos destaques da Copa de 1966 e favorita para a vaga asiática, se recusou a jogar contra Israel na primeira fase da eliminatória, pela proximidade do Estado judeu com os norte-americanos (mais uma vez a Guerra Fria presente) e em solidariedade à causa dos palestinos.
Tragédia, porém aconteceu mesmo foi nas eliminatórias da América Central e do Norte. Embora o futebol tivesse chegado a essa parte do continente no final do século XIX e começo do século XX, a influência política e cultural dos Estados Unidos e de seus esportes seriam esmagadoras. Em 1961, era organizada a Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caribe CONCACAF (MURRAY, 2000: 82). Com o México garantido na Copa por ser a sede (geralmente a seleção mexicana ficava com a vaga nas eliminatórias da região), abriu-se possibilidade para um outro país finalmente chegar à competição. Como o futebol (soccer) dos Estados Unidos continuava em decadência – os jogos da seleção estadunidense tiveram média de 2500 pessoas! – a vaga acabou ficando com El Salvador, que eliminou na última fase o selecionado do Haiti. Antes, porém, nas semifinais, em junho de 1969, El Salvador havias se defrontado com Honduras, em jogos que acabaram servindo de pretexto para um confronto armado entre os dois países.
Existia entre aquelas nações um quadro de hostilidade crescente. Honduras há tempo reclamava que imigrantes salvadorenhos se apossavam de terras em suas fronteiras. Tais imigrantes, uma população muito pobre, estavam sendo expulsos de El Salvador pela truculência do governo, que se recusavam a atender as reivindicações dos camponeses por reforma agrária, os reprimindo brutalmente. Assim, os hondurenhos acusavam os imigrantes salvadorenhos de estarem ‘roubando seus empregos e oportunidades’. Não por acaso, em 1963, uma lei em Honduras estabelecia que as empresas não poderiam contratar mais de dez por cento de estrangeiros, entenda-se, de salvadorenhos.
 Para complicar, Honduras, então sob uma ditadura militar, vivia em delicada situação econômica, e os salvadorenhos foram usados como bode expiatório. A situação desses trabalhadores não era das melhores. “Submetidos à ordem social e econômica imposta por latifundiários, com a imposta pela norte-americana Unites Fruit Company, cerca de 300 mil trabalhadores de El Salvador subsistiam em situação precária no país vizinho” (PIPERNO, 2012: 6).
Os meios de comunicação de massa de cada país aumentavam as já existentes tensões. Perante tantas hostilidades, o futebol acabou exacerbação as relações entre os dois países, levando ao conflito, como aconteceu em vários outros momentos do século XX.
Na primeira partida pelas eliminatórias, Honduras, em casa, ganhou nos acréscimos por 1 x 0. Na noite anterior, a seleção de El Salvador não conseguiu dormir praticamente, pois os hondurenhos ficaram fazendo barulho diante do hotel, com gritos, buzinas e fogos de artifício. Os jogadores salvadorenhos protestaram bastante, alegando que o gol hondurenho ocorrera quando a partida deveria estar terminada. Após o jogo, grupos de torcedores se atacaram. O resultado foi recebido com indignação em El Salvador, inclusive com protestos de rua. Uma jovem de 18 anos, Amélia Bolaños, cometeu suicídio com a arma do pai, o que só aumentou a comoção e o clima nacionalista e revanchista. No jogo de volta, em El Salvador, o time hondurenho igualmente foi hostilizado – ovos podres e ratos mortos foram lançados em direção aos quartos do hotel onde se hospedava O hino de Honduras foi vaiado no estádio e sua bandeira, queimada. Houve distúrbios após o jogo, com destruição de 150 carros, depredações e morte de dois torcedores hondurenhos, fora as dezenas de feridos. Enquanto isso, os salvadorenhos sofriam agressões da mesma forma em Honduras.
 El Salvador ganhou por 3 x 0, o que forçou um jogo desempate num “campo neutro”, na cidade do México, partida feita sob forte tensão e severo esquema de segurança. Os salvadorenhos ganharam por 3 x 2, com um gol na prorrogação, e assim avançaram nas eliminatórias. Com isso, esperava-se que as tensões entre os dois países diminuíssem, o que não aconteceu.
O resultado das eliminatórias apenas serviu para aumentar ainda mais as hostilidades. Milhares de salvadorenhos foram expulsos de Honduras. Os países romperam relações diplomáticas e as acusações mútuas aumentaram. O governo de El Salvador acusou os hondurenhos de genocídio na ONU. Tropas foram mobilizadas nas fronteiras. A 14 de julho de 1969, El Salvador fez um ataque aéreo ao território de Honduras, que retaliou, usando blindados e bombardeios aéreos. Durando apenas quatro dias, a chamada “Guerra do Futebol” também conhecida como a Guerra das 100 horas, cessou por intervenção da Organização dos Estados Americanos - OEA, deixando três mil mortos, seis mil feridos e milhares de pessoas desabrigadas. As repercussões do conflito durariam ainda anos. Apenas em 1980, os dois países assinaram um tratado de Paz, intermediado pela ONU. Na copa de 70, El Salvador teria um desempenho pífio, sendo eliminado na primeira fase (FRANCO JÚNIOR, 2007: 173; AGOSTINO, 2002: 191; CARVALHO, 2012: 6).
2.4 Na Terra Asteca
O Brasil viajou para o México 30 dias antes da Copa. Foi a primeira seleção a chegar, para bem se adaptar à altitude do país. Tendo como sede a cidade de Guadalajara, realizou alguns amistosos e continuou os preparativos. O excelente condicionamento físico da equipe seria bastante elogiado e importante para a conquista do tri – basta perceber o desempenho do time e os gols marcados nos segundos tempos dos jogos. Com a seleção atuando num 4-3-3, atacando e defendendo em bloco, Zagalo finalmente encontrou uma boa formação. “Piazza foi deslocado para a zaga, jogando ao lado de Brito. O ataque acabou sendo Jairzinho, Tostão e Pelé. Rivelino, na esquerda, jogava recuado, formando um tripé com Gérson e Clodoaldo. Nas laterais atuavam Carlos Alberto Torres e Everaldo. No gol, Félix” (AQUINO, 2002: 91).
A Copa de 1970 teria fórmula idêntica a do Mundial de 1966. Quatro grupos de quatro equipes, passando duas para as quartas de final, havendo daí em diante “mata-matas” até se conhecer o campeão. Em caso de empate entre equipes na fase de grupo, se classificaria a que tivesse melhor saldo de gols. Persistindo o empate, uma novidade: a vaga ficaria com a equipe que tivesse assinalado mais tentos (e não mais o goal average). Se times tivessem o mesmo saldo de gols, o desempate se daria por sorteio. A partir das oitavas, em caso de empate, haveria prorrogação e persistindo o placar igual, haveria um sorteio (inclusive, na final!).  O sorteio dos grupos da Copa foi dirigido, o que ajudou muito a seleção anfitriã, que ficou numa chave razoavelmente fácil. Igual ao torneio da Inglaterra, o Mundial do México teve também suas mascote, Juanito, um garotinho vestindo o uniforme da seleção mexicana e um sombrero, um desenho estereotipado que, inclusive, não agradou a muitos mexicanos (RIBAS, 2010: 160).
 O Brasil caiu no Grupo III, um grupo forte (tanto que foi chamado de “o grupo da morte”) estreando contra a Tchecoslováquia a 3 de junho, no Estádio Jalisco, em Guadalajara. Os tchecos abriram o placar aos 12 minutos, com Petras, que após o gol fez o sinal a cruz, em mais uma demonstração de religiosidade de um atleta vindo de um país comunista (no dia seguinte, o jogador e o resto da equipe receberiam uma advertência do comando da delegação tcheca). O Brasil reagiria aos 24 minutos, em um gol de falta cobrado por Rivelino, que, acabou sendo apelidado pelos mexicanos de ‘patada atômica’. No segundo tempo, aos 15 minutos, o Brasil desempatou com Pelé, após sensacionalmente matar a bola no peito fruto de um lançamento de 35 metros de Gérson. Aos 19, em novo lançamento de Gérson, Jairzinho recebeu a bola sozinho, deu um ‘chapéu’ no goleiro Viktor e empurrou a pela para as redes tchecas. Aos 38 minutos, o mesmo Jairzinho daria cifras finais ao marcador, Brasil 4 x 1, num outro lance belíssimo: se livrou de três marcadores da Tchecoslováquia e chutou no canto direito do arqueiro europeu.
Curiosamente, a Copa de 70 ficaria lembrada pelos ‘quase’ gols de Pelé, que sairia da competição sacralizado definitivamente como o ‘rei do futebol’. Nesse jogo contra a Tchecoslováquia, o ‘rei’ foi protagonista de um lance mágico. Aos 29 minutos do tempo inicial, com o placar ainda em 1 x 1, Pelé, ao perceber o goleiro tcheco Viktor adiantado, chutou a bola do circulo do meio de campo e, por pouco, não marcou um gol sensacional. O goleiro voltando correndo desesperado para o arco e a bola ‘tirando tinta’ da trave ajudaram a compor um dos mais fantásticos momentos da História das Copas do Mundo. No outro jogo do grupo III, a Inglaterra bateu a Romênia por 1 x 0.
Com a goleada, as opiniões da crônica desportiva sobre o selecionado nacional começaram a mudar, passando a ser enfatizado que aquele era o ‘verdadeiro futebol brasileiro’, o ‘futebol-arte’, capaz de suplantar os rígidos esquemas táticos, as ‘cinturas grossas’ e a truculência dos europeus (GUTERMAN, 2009: 174).
O segundo jogo do Brasil foi contra os ingleses, então campeões do mundo. Na partida, inclusive, o público local em peso torceu pelo Brasil, pois a Inglaterra se posicionara contra o México sediar a copa e antes da competição descobriu-se que a delegação do English Team havia solicitado levar sua alimentação e água para não ‘serem contaminados com alguma peste mexicana’ (RIBAS, 2010: 160). O escrete verde e amarelo jogaria sem Gérson (o grande destaque do jogo contra os tchecos), substituído por Paulo César, e derrotaria à Inglaterra por 1 x 0, num jogo mais equilibrado. O tento da vitória foi marcado aos15 minutos do segundo tempo, por Jairzinho, que assinalaria gols em todos os jogos do Brasil e ficaria conhecido como o ‘Furação da Copa’. Tostão, na esquerda, deu três dribles curtos em jogadores ingleses, cruzou para dentro da grande área, onde Pelé dominou a bola e tocou na direita para o chute forte de Jairzinho na saída do goleiro inglês Gordon Banks. Um golaço!
 No jogo, mais um lance de Pelé bastante lembrado pelos boleiros: aos 11 minutos, após cruzamento de Jairzinho, Pelé deu uma cabeçada precisa, em direção ao canto direito, e quando a bola ia entrando no arco, o goleiro inglês Gordon Banks fez uma defesa extraordinária, socando a pelota para fora, rente ao travessão. Muitos consideram essa a “maior defesa das Copas”. No outro jogo, a Romênia ganhou de 2 x 1 da Tchecoslováquia.
No último jogo da primeira fase, o Brasil ganhou da Romênia por 3 x 2, talvez a mais fraca apresentação da equipe na Copa, com muitas falhas da defesa – os gols brasileiros foram de Pelé (2) e Jairzinho, com Dumithache e Dembrovski descontando para os romenos. O Brasil, assim, classificou-se em primeiro no grupo, garantindo o direito de manter seus jogos seguintes em Guadalajara, com a calorosa simpatia e torcida da população local. A segunda vaga do grupo ficou com a Inglaterra, que no último jogo ganhara da Tchecoslováquia por 1 x 0.
2.5 Catenaccio
Já no Grupo I, o México finalmente conseguiu passar da primeira fase de uma Copa do Mundo. Presença constante nos Mundiais, o futebol mexicano não conseguiu se aperfeiçoar tecnicamente ao longo dos anos, por apresentar sérias deficiências internas (equipes desestruturadas, campeonatos desorganizados, falta de apoio aos jogadores juvenis, baixos salários, etc.), pela fragilidade dos vizinhos de Confederation of North, Central American and Caribbean Association Football, Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caribe - CONCACAF que não estimulavam maiores rendimentos dos mexicanos e pela falta de mais confrontos e contatos com América do Sul e Europa.
O futebol chegou ao México no final do século XIX, difundido por técnicos e trabalhadores britânicos, espanhóis e franceses que laboravam na exploração de minas e construção de ferrovias, com estudantes que regressavam da Europa, e com os religiosos que tinham na modalidade uma atividade física nos colégios Maristas e Jesuítas. Em pouco surgiram times, como o Pachuca, de 1900, e campeonatos nacionais. A seleção mexicana apareceria apenas em 1923 (em seu primeiro jogo, ganhou da Guatemala por 3 x 2), quando o país conheceu certa estabilidade política – a segunda década do século XX foi marcado pelos confrontos da Revolução Mexicana, liderada por Emiliano Zapata e Pancho Villa. Em 1927, era criada a Federação Mexicana, que se filiaria à FIFA em 1929 (MURRAY, 2000: 83). Em 1928, a primeira aventura do futebol mexicano – 20 dias viajando de navio para disputar a Olimpíada de Amsterdã, onde, o selecionado foi logo eliminado ao perder de 7 x 1 para a Espanha. A Tricolor (como ficou conhecida a seleção mexicana) também participaria da Copa de 193020 .
Em 1970, como em copas anteriores, os anfitriões mexicanos foram acusados de terem sido beneficiados por erros da arbitragem. O outro classificado do grupo I (em primeiro lugar pelo melhor saldo de gols) foi a União Soviética, sendo eliminados Bélgica e El Salvador, país que, como vimos, envolveu-se numa guerra antes da Copa e teria um desempenho ruim na disputa, perdendo os três jogos.
No Grupo II, os favoritos Itália, então campeã europeia de 1968 (seu primeiro título de relevo em 30 anos), e Uruguai foram adiante, deixando para trás Suécia e Israel – a seleção do Estado judeu realizaria sua única campanha em mundiais, sem decepcionar, acumulando dois pontos ao empatar com os italianos (0 x 0) e suecos (1 x 1) e perder para os uruguaios (por 2 x 0). Os dois classificados apresentaram esquemas ultra-defensivos. Este seria o grupo que menos teve gols na competição – seis tentos em seis partidas. A Azurra seria primeiro lugar marcando um único gol, o da vitória na estreia sobre a Suécia por 1 x 0 (depois empatou em 0 x 0 com Uruguai e Israel).
Desde os anos 60, os italianos começaram a praticar uma estratégia altamente defensivista chamada de catenaccio, o ferrolho. Este foi criado pelo técnico argentino Helenio Herrera21 , que levou a Internazionale de Milão a três títulos do Campeonato Italiano, duas Ligas dos Clubes Campeões e uma Copa Intercontinental na década de 1960. O esquema apresenta cinco zagueiros, quatro meio-campistas e apenas um atacante. Com isso, o time adversário encontra menos espaços para iniciar jogadas de ataque e, à medida que seus jogadores tentavam furar o “ferrolho”, acabam deixando a própria retaguarda vulnerável.
O catenaccio apostava no erro do outro time nos contra-ataques: usava lançamentos longos que evitavam o meio de campo e que faziam a bola chegar ao centroavante o mais rapidamente possível 22. Assim, a Azurra chegaria à final, dando mais destaque a esse esquema de jogo que, embora ao longo dos anos tenha sido consideravelmente modificado para se tornar mais ofensivo, influencia o futebol italiano ainda hoje (FOER, 2005: 150). O surgimento do catenaccio refletia o crescimento da mercantilização e do ultra profissionalismo do futebol contemporâneo, no qual “a ansiedade com a derrota havia suplantado a orientação de atacara da velha tática. A enchente de gols do início do pós-guerra foi reduzido a um gotejar. De modo geral, o catenaccio mimetizou a política cultural da Guerra Fria, a guerra falsa por atritos, com blefes e investidas sem ânimo, diante do enorme estoque de defesa” (GIULIANOTTI, 2002: 172).
No Grupo IV, a Alemanha Ocidental logrou qualificar-se ao lado do surpreendente time do Peru, verificando-se a eliminação de Bulgária e Marrocos. O Peru apresentava os velozes atacantes Teófilo Cubilla e Gallardo, tendo como técnico Didi, bicampeão pelo Brasil em 1958 e 1962. A classificação serviria para atenuar um pouco a tragédia sofrida pelo país recentemente, quando um terremoto havia provocado o óbito de 45 mil pessoas (GEHRINGER, 2006I; RIBAS, 2010; MUZZI, 2009; UNZELTE, 2009; BAGGIO, 2010; FONTENELE, 2002; STROUD, 2009; HEIZER, 2001; NAPOLEÃO, 2004; AQUINO, 2002).

2.6  Desafio Peruano
A 14 de julho de 1970, o Brasil realizou seu jogo pelas quartas de final, enfrentando a boa equipe do Peru, no estádio de Jalisco, Guadalajara. O clima antes da partida, porém, não foi dos melhores, pois alguns atletas da Canarinho não gostaram das críticas do técnico peruano Didi acerca do estilo de jogo do Brasil. Foi uma das melhores partidas da Copa, com ambas as equipes investindo no futebol ofensivo (GUTERMAN, 2009: 176).
A frágil defesa do Peru, porém, não resistiu aos craques brasileiros. O primeiro gol saiu aos 11 minutos, quando o zagueiro Campos do país andino matou errado uma bola no peito – a pelota sobrou para Tostão que serviu para Rivelino estufar as redes adversárias com um portentoso chute. Quatro minutos depois, Tostão bateu escanteio curtinho para Rivelino, que lhe devolveu a bola. Tostão avançou pela esquerda/linha de fundo/grande área e quase sem ângulo chutou para fazer o segundo da seleção canarinho. O jogo continuou bom. Aos 28 minutos, Cubillas se aproveitou de mais uma falha da defesa brasileira (o ponto mais frágil da Seleção de 70, compensado, porém, pelo brilhantismo do meio-campo e ataque) e fez o primeiro do Peru num chute cruzado. Os peruanos partiram em busca do empate e deixaram ainda mais brechas na zaga. Aos sete do segundo tempo, Tostão ampliou o marcador para 3 x 1, aproveitando rebatida do goleiro Rubiños, após chute cruzado de Pelé. O Peru não se entregou. Aos 24, o craque Cubillas incendiou novamente o jogo ao assinalar o segundo, numa jogada confusa dentro da grande área brasileira. Aos 31 minutos, todavia, mais um belo gol para fechar o placar: Jairzinho marcou o seu, quase sem ângulo, driblando o goleiro, após lançamento preciso de Rivelino. Brasil 4 x 2 Peru.
O adversário do Brasil nas semifinais saiu da partida entre União Soviética e Uruguai. O time do país socialista esteve melhor em campo, exercendo uma forte pressão desde o início da peleja, enquanto os sul-americanos aguentavam-se na defesa e na atuação esplendorosa do goleiro Ladislao Mazurkiewicz, atleta de ascendência polonesa e tido então como um dos melhores arqueiros do mundo (jogaria no Atlético Mineiro nos anos 1970). No tempo normal, a partida terminou em 0 x 0, levando a realização de uma prorrogação, o que não ensejou muitas mudanças no cenário: os soviéticos no ataque, os uruguaios na defesa. Quando faltavam apenas três minutos para acabar o segundo tempo da prorrogação, a Celeste Olímpica organizou um de seus poucos contra-ataques e Esparrago marcou o gol da vitória de cabeça – o jogador havia acabado de entrar em campo no lugar de Fontes e sequer tinha tocado na bola até então. Os soviéticos reclamaram que antes do cruzamento de Cubilla, a bola havia saído pela linha de fundo. Foi mais um episódio das nem sempre tranquilas relações entre FIFA e os países do bloco socialista, que acusavam a entidade e as arbitragens de serem facciosas com as nações comunistas.
A outra semifinal aconteceria entre Itália e Alemanha Ocidental. No seu jogo pelas quartas, a Itália goleou o México por 4 x 1, com destaque para o atacante Riva, autor de dois tentos. Já os alemães reviveram em terras mexicanas a final da Copa de 1966, enfrentando e eliminado a Inglaterra. Afora as históricas rivalidades políticas entre as duas nações europeias, o jogo parecia uma chance dos germânicos se vingarem do Mundial anterior, quando os ingleses foram campeões com dois gols irregulares.
Este foi um dos maiores jogos da História das Copas do Mundo. A Inglaterra, não obstante, abriu 2 x 0 no marcador, com Mullery, aos 32 do primeiro tempo, e Peters, aos 5 da etapa complementar. Foi então que Beckembauer, que até então se limitava a marcar o craque inglês Bobby Charlton, se lançou ao ataque. Aos 24 minutos marcou o primeiro germânico, num forte chute de fora da área. Os britânicos sentiram o gol e recuaram, A pressão alemã tornou-se avassaladora. A apenas 8 minutos do apito final do juiz, a Alemanha empatou, numa jogada de muitos bate-rebates dentro da área inglesa – Seeler, meio de cabeça, meio de pescoço, tocou a bola após cruzamento de Schnellinger e encobriu o arqueiro Bonneti (o titular Gordon Banks não jogou devido a problemas intestinais, conhecidos no México como “Maldição de Montezuma”). Inglaterra 2 x 2 Alemanha, igual como acontecera em 1966. Na prorrogação, sob o escaldante sol mexicano de 14 horas, a Alemanha se mostrou melhor condicionada fisicamente e aos três minutos do segundo tempo, Muller empurrou a pleota em direção às redes inglesas após seu companheiro Lohr desviá-la para a pequena área. Alemanha 3 x 2 Inglaterra, numa emocionante virada, com gosto de “vingança”. Os então campões do mundo estavam fora da Copa e aquela seria o último jogo de Bobby Charlton com a camisa inglesa (GEHRINGER, 2006i; RIBAS, 2010; MUZZI, 2009; UNZELTE, 2009; BAGGIO, 2010; FONTENELE, 2002; STROUD, 2009; HEIZER, 2001; NAPOLEÃO, 2004; AQUINO, 2002).
2.7 A Jules Rimet é do Brasil
As semifinais da Copa do México reuniram as seleções que haviam ganho sete dos oito Mundiais de futebol (Brasil, Itália e Uruguai tinham duas conquistas e a Alemanha, uma). O jogo entre Brasil e Uruguai, também disputado em Guadalajara (a “casa brasileira no México”) foi visto como a “vingança” de 1950, expressão que já havia sido aplicada inúmeras vezes antes e seria muitas vezes ainda usada depois, o que apenas ratificava o trauma daquela Copa. Após anos com equipes de talento duvidoso, a Celeste Olímpica levou uma boa formação para o México, com uma excelente defesa (daí o esquema excessivamente defensivo adotado), embora com problema no meio campo e ataques (para complicar, o cérebro do time, Pedro Rocha, se contundiu na primeira partida e ficou fora do resto do Mundial). Osdestaques eram o atacante Luis Cubilla e o goleiro Mazurkiewicz. Contra o Brasil, a Celeste Olímpica armou sua retranca, que se tornou maior ainda porque saiu na frente do placar: Cubilla assinalou 1 x 0 aos 18 da etapa inicial, após mais um erro da defesa verde e amarela e numa indecisão do goleiro Félix. Parecia que o “fantasma do Maracanazo” voltaria. Mas não foi o caso. Aos 45 minutos, Clodoaldo tocou na intermediária, pelo lado esquerdo, para Tostão, que lhe devolveu a bola – dentro da grande área, Clodoaldo chutou no canto direito de Mazurkiewicz. Aquele empate foi muito importante para a seleção brasileira, que voltou mais tranquila para o segundo tempo, embora a retranca uruguaia e as dificuldades tenham persistido.
O jogo teve lances de violência, com os uruguaios batendo muito, embora acontecendo o revide igualmente dos brasileiros. Até Pelé deu uma cotovelada no rosto do violento zagueiro Matosas, agressão não vista pelo juiz. Pelé faria também nesta partida dois de seus “não gols” da Copa de 70. Aos 21 minutos do segundo tempo, rebateu de primeira um tiro de metas mal cobrado pelo bom goleiro uruguaio, que agarrou a bola “no susto”. O segundo lance deu-se já no final a partida: após primoroso lançamento de Tostão, com Mazurkiewicz saindo do arco em velocidade, o “rei” deu um drible de corpo no goleiro (o chamado “drible da vaca”), se livrando da falta, deixando a bola passar ao lado do arqueiro para pegá-la depois e chutar mansamente em direção à meta – a pelota caprichosamente não entrou no arco uruguaio. Para os boleiros, aquele foi o “gol mais bonito que Pelé não marcou”.
Aos 31 minutos, o Brasil finalmente virou o placar, com o “furacão” Jairzinho, que recebeu passe profundo de Tostão, venceu o zagueiro Matosa na corrida e chutou na saída de Mazurkiewicz. Atrás no placar, o Uruguai teve que “procurar” jogo – o goleiro Felix realizou importantes defesas, como uma “cabeça à queima-roupa” do atacante Cubilla, talvez a defesa mais importante da Copa para o Brasil. Com a zaga Uruguaia aberta, ficou até fácil para o Brasil marcar o terceiro: aos 45, Pelé avançou pela esquerda e deu um toque suave para Rivelino, na velocidade, chutar de fora da área para as redes da Celeste. Brasil 3 x 1 Uruguai: para não poucos boleiros, era o “fim” do fantasma de 50. O Brasil de forma impressionante atingia a terceira final de Copa do Mundo em quatro mundiais consecutivos.
A partida entre Itália e Alemanha pela outra semifinal é tida por não poucos analistas como a maior partida de futebol com prorrogação já disputada em uma Copa do Mundo (COELHO, 2010). Logo aos 8 minutos da etapa inicial, os italianos abriram o marcador com Roberto Boninsegna, num chute de fora da área. Daí em diante o que se viu foi uma Alemanha ofensiva, e a Itália se defendendo, ainda que buscasse armar alguns contra-ataques.  De tanto persistir, aos 45 do segundo tempo, quando todos esperavam o apito final do árbitro, os germânicos empatam, com o zagueiro Schnellinger se atirando na bola e fazendo o gol de empate, meio de canela, após cruzamento da direita. O detalhe dramático do jogo para os alemães é que aos 25 minutos da etapa complementar o craque Beckembauer havia imobilizado o ombro após deslocá-lo numa trombada com a defesa italiana – como a Alemanha já tinha feito as duas substituições, o jogador, depois conhecido como “kaiser”, teve que continuar em campo no sacrifício. 
A prorrogação foi emoção pura, épica, com uma sequência de gols e alternância do marcador. A Alemanha virou o jogo aos 5 minutos do primeiro tempo, com Gerhard ‘Gerd’ Muller. Os italianos igualam tudo aos 8, com Burgnich. A Itália marcou 3 x 2 em tento assinalado a seguir por Riva aos 13 minutos. No começo da etapa final da prorrogação, aos 5 minutos, Muller faz 3 x 3. No minuto seguinte, a Itália voltou a ficar novamente na frente do placar, com gol de Rivera. Ai a Alemanha sentiu os efeitos da prorrogação do jogo anterior contra a Inglaterra (acontecido há apenas três dias). Faltou pernas para buscar o empate. Itália 4 x 3 Alemanha. O desgaste físico e emocional deste jogo custaria caro para a Itália na final contra o Brasil... Na disputa pelo terceiro lugar, a Alemanha Ocidental ganharia do Uruguai por 1 x 0. Gerald Muller seria o artilheiro da Copa com 10 tentos – faria mais 4 gols no mundial de 1974, se tornando o jogador que mais marcou em Copa do Mundo (feito superado apenas em 2006, pelo brasileiro Ronaldo Nazário/Ronaldinho, com 15 tentos).
A finalíssima da IX Copa do Mundo de futebol entre Brasil e Itália deu-se no Estádio Azteca, na cidade do México, a 21 de junho de 1970, ante um público de mais de 115 mil torcedores. Por Pelé, pelo maravilhoso futebol apresentado pelo Brasil, pela rivalidade entre latino-americanos e europeus e pelo fato da Azurra ter eliminado o México, a torcida em peso torceu pelo Brasil. Em jogo, não só o titulo mundial, mas a posse definitiva da Jules Rimet, visto que os dois selecionados eram bicampões do mundo.
O Brasil reconhecidamente apresentava uma equipe bem melhor que a da Itália, que ainda se recuperava da desgastante semifinal contra a Alemanha. Mesmo assim, havia um clima de ansiedade, por ser uma final de Copa, quando surpresas sempre podem acontecer – que digam o próprio Brasil de 50 e a Hungria de 54. A Itália não abandonou seu jeito de jogar no catenacci. Desde o inicio promoveu cerrada marcação contra Jairzinho e Pelé. Não deu muito certo a tática. Logo aos 19 minutos do primeiro tempo, o “rei” abriu o marcador, de cabeça, após cruzamento na pequena área feito por Rivelino – esse, por sinal, seria o último gol marcado por Pelé com a camisa do Brasil em Copas (BAGGIO, 2010: 96).
O time canarinho, porém, tomou um susto aos 37 minutos ainda da etapa primeira, quando em outra falha da defesa, Clodoaldo “brincou” ao tentar dar um passe de letra e deixou a bola livre para Boninsegna, que partiu em direção ao gol. O zagueiro Brito e o goleiro Félix tentaram tirar a bola, mas Boninsegna desviou dos dois e chutou livre em direção às redes brasileiras. Tudo igual no placar.
O segundo tempo começou no mesmo diapasão, o Brasil à frente e a Itália na retranca, embora, num contra-ataque aos 19 minutos, quase Domenghini assinalava o segundo. Aos 21 minutos, Gérson, o ‘canhotinha de ouro’, desempatou tudo, em chute bem colocado de fora da área no canto esquerdo de Albertosi. O tento abalou a Itália, cujo condicionamento físico já dava mostra de agastamento. Logo em seguida, aos 24, Jairzinho marcaria o terceiro dos brasileiros, aproveitando bola escorada na pequena área por Pelé. Com 3 x 1 no marcador e com os italianos esgotados, poucos duvidavam mais do resultado da peleja. Para completar a festa, o Brasil ainda marcaria o quarto, aos 42, após bela troca de passes entre Clodoaldo, Rivelino, Jairzinho e Pelé, que serviu na direita para Carlos Alberto Torres, livre dentro da grande área italiana, estufar as redes de Albertosi. Brasil 4 x 1 Itália. Brasil tricampeão do mundo de futebol23 (GEHRINGER, 2006i; RIBAS, 2010; MUZZI, 2009; UNZELTE, 2009; BAGGIO, 2010; FONTENELE, 2002; STROUD, 2009; HEIZER, 2001; NAPOLEÃO, 2004; AQUINO, 2002).
As festas pelo tri no México e no Brasil24 seriam apoteóticas. Uma multidão invadiu o gramado do Estádio Azteca para festejar com os ídolos brasileiros. Tostão foi deixado quase nu, Rivelino desmaiou, Gérson chorava copiosamente, Pelé foi carregado nos ombros dos torcedores, que lhe colocaram um sombrero na cabeça (BAGGIO, 2010: 97). Depois, na tribuna de honra do Estádio Azteca, Carlos Alberto Torres repetiu o gesto de Belini em 1958 e Mauro em 1962, erguendo com as mãos sobre a cabeça a Taça Jules Rimet, que agora pertencia aos brasileiros – pelo menos até 1983, quando foi furtada da sede da CBF no Rio de Janeiro e derretida... Estima-se que cerca de 700 milhões de espectadores pelo mundo viram o gesto do capitão do time canarinho pela televisão, uma audiência igual a que se dera em 1969, quando os norte-americanos pisaram na lua (GEHRINGER, 2006i: 42).

2.8 O Tricampeonato a serviço da Ditadura
As vitórias da seleção a cada jogo e a conquista da Jules Rimet geraram enorme ufanismo no Brasil. Óbvio que isso já tinha acontecido nas outras conquista mundiais, mas a Ditadura Civil-Militar estimulou e aproveitou ao máximo o sentimento nacional, visando dividendos políticos e legitimação de seu poder. A vitória do futebol era a vitória da Ditadura, ou seja, a conquista do tri era mais um sinal de que o “Brasil estava no caminho certo” com o comando dos militares e que todos deveriam se unir em torno da pátria e do governo. Nas ruas, multidões cantavam a marchinha ”Pra Frente Brasil”, feita por Miguel Gustavo, então um conhecido compositor de sambas e jingles publicitários.
Ao contrário do que se pensa comumente, a marchinha não foi feita por encomenda da Ditadura Civil-Militar - Miguel Gustavo ganhara um concurso promovido por empresas patrocinadoras da transmissão da Copa pela televisão. O Regime, porém, usou a musica (igual fez com outras, a exemplo da famosa “Eu te Amo”, de Dom e Ravel), pois lhe interessava a emoção e motivação da melodia, os valores de “unidade nacional” (todos juntos, sem diferenças de classe, de raça ou de ideologia, ao contrário do que pregavam os “maus brasileiros de esquerda”, que estavam tentando derrubar o governo), o amor pela pátria, progresso (um “Brasil grande e forte” que se moderniza, que vai para frente) e o otimismo contidos na letra. Não por acaso, a música acabou virando um verdadeiro hino da conquista de 1970 e dos anos de ufanismo do governo Médici: "Noventa milhões em ação / pra frente, Brasil do meu coração / todos juntos, vamos / pra frente, Brasil / Salve a seleção / De repente era aquela corrente pra frente / parece que todo Brasil deu as mãos / todos ligados na mesmo canção / tudo é um só coração / Todos juntos, vamos / Pra frente, Brasil, Brasil / Salve a seleção (apud NEGREIROS, 2009: 311; MAGALHAES, 2010: 104).
A conquista da Copa serviu para endossar o discurso autoritário da Ditadura, segundo a qual com “disciplina” o talento Brasileiro acontecia, afinal, a seleção não fora campeã com uma estrutura organizacional militarizada? Em outras palavras, tendo um governo ditatorial, que estabelecesse a “ordem, disciplina, harmonia e a unidade”, o Brasil entraria nos trilhos e o progresso viria, como já estaria, inclusive, acontecendo, quando se percebia os primeiros dados do crescimento econômico do “Milagre”. Tratava-se logicamente de um reducionismo ingênuo, pois uma sociedade é muito mais complexa que um time de futebol na disputa de um torneio. O Brasil era a pátria de chuteiras e coturnos.
Ao longo dos jogos, Médici apareceu na imprensa dando opiniões sobre a Copa, manifestou palpites acerca dos jogos (inclusive, acertou o placar da final), mandou telegramas e telefonou ao México parabenizando o escrete nacional pelas vitórias sucessivas. A perturbar o presidente, a sempre delicada escolha dos governadores estaduais – a Ditadura aproveitou a Copa para “empurrar” alguns nomes mais alinhados à Linha Dura, contrariando setores da Arena (partido de apoio ao regime) – e a operação de troca de 40 guerrilheiros pelo embaixador alemão Ehenfried Antorn Thedor, sequestrado por uma organização armada de esquerda. Os militantes de esquerda embarcaram num avião em direção à Argélia a 17 de julho, no exato dia que o Brasil derrotava o Uruguai por 3 x 1 nas semifinais. A ditadura ainda explorou o episódio, dizendo que aquele ato “terrorista”, feito por “maus brasileiros”, estava prejudicando o desempenho do Brasil nos gramados mexicanos...
A delegação tricampeã voou direto do México para Brasília, onde foi recepcionada por uma multidão estimada em 200 mil pessoas. O governo decretou feriado nacional para recepcionar os jogadores e não poucos militares e políticos civis fizeram de tudo para bater fotos ao lado dos craques, que realizaram depois o tradicional desfile em carro aberto pelas principais cidades do País25 . O governo bancaria ainda a exibição pública da Jules Rimet, para alegria geral da população. Médici recebeu e homenageou os jogadores no Palácio do Planalto, presenteando-lhes via Caixa Econômica, com um cheque de 25 mil cruzeiros26 (algo em torno de atuais 20 mil reais), numa clara afronta à lei, mas que não época não foi questionada, pelo clima de vitória e porque a Ditadura não permitiria. O prefeito de São Paulo, Paulo Maluf, fez algo parecido, dando um fusca a cada jogador à custa do erário, mas teve que responder a processo depois. Os jogadores, por outro lado, tentaram também se aproveitar da situação e através do capitão Carlos Alberto Torres, teriam solicitado ao presidente da República para “poupá-los” do pagamento de impostos sobre salários e resolvesse alguns “problemas alfandegários”. Curiosamente, a seleção brasileira tetracampeã em 1994 pediria algo parecido. Não se sabe se Médici aquiesceu à solicitação (GUTERMAN, 2009: 174 e seguintes).
O furto da Jules Rimet aconteceu na noite de 19 de dezembro de 1983, numa ação feita por Sérgio Pereira Ayres, o Peralta, José Luiz Vieira da Silva, o Luiz Bigode, e Francisco José Rocha Rivera, o Chico Barbudo. Após render o vigia da sede da CBF, naRua da Alfândega, 70, centro do Rio de Janeiro, os criminosos tiveram acesso ao 9º andar do prédio, onde estava a taça. Esta encontrava-se envolta num vidro blindado, porém emoldurada por madeira – incrivelmente, dentro de um cofre, em vez da original, ficava a réplica do troféu! Bastou um simples pé-de-cabra para resolver o problema (foram levadas mais três taças também).
O troféu, então, foi repassado para o argentino radicado no Rio de Janeiro Juan Carlos Hernandes, proprietário de uma loja de comércio de ouro. Ali a Jules Rimet acabou cortada em pedaços e transformada em barras de ouro, após sete horas de trabalho. Foi um escândalo no País e indignou a opinião pública. Pressionada, a Polícia Federal acabou prendendo Peralta, a 25 de Janeiro de 1984, na zona sul do Rio de Janeiro. O meliante ficou três dias sem comer e beber e sofreu tortura para dizer onde estavam os outros cúmplices, igualmente detidos a seguir, embora, todos tenham ganho o direito de responder ao processo em liberdade. Em 1988, a Justiça pronunciou a sentença dos ladrões: Peralta, como mentor, recebeu cinco anos de cadeia. Barbudo e Bigode, seis anos e Hernandes, o receptor, três anos. A esse momento, não obstante, os criminosos tinham fugido.
Barbudo foi assassinado num bar em Setembro de 1989. Peralta só foi encontrado em 1994, em Cabo Frio (Rio e Janeiro) e cumpriu a pena no presídio de Bangu, sendo liberto em 1998. Bigode foi capturado pela polícia em 1995 e ficou preso igualmente em Bangu. Juan Carlos Hernandes foi reconhecido em São Paulo, cumprindo pena, porém, por tráfico de drogas.
Em 1986, a FIFA fez uma réplica da taça e ofertou ao Brasil. É essa replica que se encontra na sede atualmente na sede da CBF – bem protegida, esclareça-se27 .

2.8 À sombra de 70
Embalados com a conquista do tricampeonato mundial no México e buscando ainda capitalizar politicamente o sucesso do futebol da seleção, a CBD/João Havelange e o governo militar passaram cada vez mais a ter relações de intensa reciprocidade. Em 1972 foi organizada a chamada Taça Independência, em homenagem ao sesquicentenário da independência brasileira. Foi praticamente uma Mini-copa do mundo, contando com 20 seleções, embora os países europeus que mais se destacavam no futebol, Alemanha, Inglaterra, Itália, Holanda, Bélgica, Áustria e Espanha, não tenham participado, o que reduziu o charme da disputa. Tais seleções alegaram oficialmente incompatibilidade de calendários e falta de datas para viajar ao Brasil – na prática, os países europeus de não desejavam associar suas imagens a uma ditadura que violava os direitos humanos e muito menos se vincular à campanha de Havelange para a presidência da FIFA (SANTOS, 2012: 71). Todos os participantes ganharam viagem e estadia gratuita, sendo o evento explorado ao máximo pelo governo Médici para celebrar sua administração.
O torneio claramente fazia parte das estratégias eleitorais de João Havelange na disputa para a presidência da FIFA em 1974 – óbvio que o dirigente brasileiro mantinha contato com os representantes das federações e fazia promessas.  Com grande cobertura da imprensa, as partidas do torneio foram disputadas por várias cidades, denotando a grandeza e a unidades brasileiras. O Brasil, tendo como base o time campeão de 70 (embora sem Pelé, que havia se despedido da seleção em 1971), ganhou invicto a competição, mesmo sem apresentar um bom futebol. Na final, com mais de 100 mil pessoas no Maracanã e com a presença do presidente Médici, o time verde e amarelo bateu Portugal de Eusébio por 1 x 0, gol de Jairzinho. A decisão da Taça não deixou de ser irônicas coincidências, visto que eram as seleções das antigas colônia e metrópole que estava em campo e os dois países vivam sob governos ditatoriais (Portugal ainda se encontrava sob o regime fascista do Salazarismo). O torneio, porém, não empolgou a população como o governo esperava, e ainda deu um enorme prejuízo – na primeira fase, os jogos tiveram públicos fraquíssimos e ingressos foram dados a estudantes 28 (AGOSTINO, 2002: 162).
Já garantido para a Copa do Mundo da Alemanha em 1974, o Brasil realizou em 1973 e 1974, vários amistosos – alguns deles, com o claro propósito de beneficiar a campanha de João Havelange à presidência da FIFA.  As relações do cartola com a Ditadura, porém, já não andavam boas naquele momento. O fiasco financeiro da Taça Independência havia deixado a CBD numa delicada situação financeira. Havelange passou a ser vigiado pelo DOPS, um dos órgãos de repressão da Ditadura29 . Segundo o jornalista Sérgio Augusto, “Geisel, o general que então governava o País, fez vista grossa para um relatório confidencial e secreto sobre os desvios e os prejuízos financeiros (mais de US$ 10 milhões) causados pela Minicopa de 1972 aos cofres da CBD e autorizou a Caixa Econômica Federal a tapar o buraco” 30. Havia também acusações de uma rede de corrupção envolvendo Havelange, que estaria, por exemplo, se beneficiando de irregularidades na obtenção de empréstimos para a compra do prédio-sede da CBD, de que teria informações privilegiadas do mercado imobiliário. Havia também um outro complicador: Havelange tinha ainda vínculos de parentesco e amizade próximas com o ex-presidente Juscelino Kubistchek, então envolvido em articulações políticas contra a Ditadura, o que irritava os mais radicais militares31 .
Tais constatações, somadas à perda da Copa da Alemanha conforme veremos adiante, levaram a Ditadura a não querer mais Havelange no comando da CBD. Falando sobre o assunto, diria o jornalista Juca Kfouri:
Geisel resolveu tirá-lo da CBD, porque as contas da CBD estavam todas manipuladas, emandou o Nei Braga, que então era o Ministro da Educação, avisá-lo que ou ele saía ou o governo iaintervir – coisa que o governo não queria fazer porque achava que ia pegar mal internacionalmente, afinal o Havelange era um brasileiro notório (apud SANTOS, 2012: 110).
A princípio, o dirigente resistiu às tentativas de retirá-lo da presidência da CDD. Pensou que poderia ficar tanto como comando da CBD como da FIFA. Geisel pensava de outra forma. Assim, a 26 de dezembro de 1974, após 16 anos de poder, João Havelange deixou a presidência da CBD e apresentou à imprensa o Almirante Heleno de Barros Nunes, visivelmente constrangido, pois este não era o sucessor desejava. Heleno Nunes, cujo irmão (o também almirante Adalberto Nunes) era um desafeto de Havelange e homem de confiança do regime. Ex- dirigente do Bonsucesso e diretor de futebol do Vasco da Gama, ganhara expressão nacional como deputado e ao presidir o partido do governo, a Arena. Cada vez mais o futebol era centralizado nas mãos da Ditadura. Nunes promoveria deliberadamente uma militarização da CBD – vários dos diretores da entidade passaram a ser militares (SARMENTO, 2006: 139; MAGALHÃES, 2010: 71; YALLOP, 1998: 143; SANTOS, 2012: 111).
A seleção brasileira que disputaria o Mundial de 1974 foi militarizada igual a de 1970. O chefe da delegação era o coronel Tinoco Marques, o secretário, major Kléber Camerino, o assessor, o tenente Osvaldo Costa Lobo, o supervisor, o major Carlos Cavalheiro e os responsáveis pela parte física, o capitão Cláudio Coutinho e o tenente Raul Carlesso (afora o civil Carlos Alberto Parreira) (FRANCO JÚNIOR, 2007: 145). Zagallo continuou como técnico e montou um time, pelo menos na teoria, muito bom. Verdade que não contaria mais com Pelé, Carlos Alberto Torres (lesionado), Gérson (optou por não jogar mais na seleção) e Tostão (problemas no olho esquerdo levaram-no a encerrar a carreira prematuramente32 ), mas havia bons atletas, a exemplo do goleiro Leão, do zagueiro Luis Pereira, o meio de campo Ademir da Guia (filho do famoso zagueiro Domingos da Guia) e o atacante Leivinha, todos vindos de uma das maiores equipes do futebol brasileiro de então, o Palmeiras – era a ‘academia de  futebol’, um time de extrema técnica e elegância, bicampeão brasileiro em 1972 e 1973 e vencedor do campeonato paulista em 1972 e 1974.
A seleção canarinho ainda tinha remanescentes do tri, a exemplo de Rivelino, Paulo César, Jairzinho e Piazza, porém, com desempenhos técnicos inferiores aos de 70. O time não dava confiança à torcida, por mais que a Ditadura e a CBD insistissem que o Brasil “marchava célere” para o tetra. Em 1973, o selecionado realizou uma excursão à Europa e perdeu para a Itália por 2 x 0, encerrando uma invencibilidade de 36 jogos. Havia também uma desorganização: repetindo o mesmo erro de Feola em 1966, Zagallo convocou 40 jogadores, 18 dos quais depois cortados, o que gerou um clima de disputas e intrigas dentro do elenco (FRANCO JÚNIOR, 2007: 145). Teve-se igualmente uma tensa relação coma imprensa – naquela mesma excursão, no jogo contra a Escócia, os jogadores chegaram a realizar uma ‘greve de silêncio’. Zagallo partiu para a Copa sem ter efetivamente um time montado. Jogaria num 4-3-3, ressaltando a filosofia defensivista característica de sua carreira como treinador (GUTERMAN, 2010: 189). 

 

REFERÊNCIAS
 

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* Doutorando em História Social/Contemporânea II pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e mestre em História Social e bacharel em direito pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Autor de mais 20 livros didáticos e paradidáticos de história a exemplo de A Ditadura Militar Brasileira de 2008, Ceará, Nossa História pela editora Moderna em 2011 e Uma História das Copas do Mundo Vol 1 e 2 em 2014. E-mail: airtondefarias@yahoo.com.br

**Doutorando em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo (FFLCH/USP) e em História Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF), mestre e especialista em História do Brasil pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), professor de história do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA/Campus Açailândia). Líder do CLIO & MNEMÓSINE Centro de Estudos e Pesquisa em História Oral e Memória (IFMA). E-mail: fagno@ifma.edu.br

1 A viagem começou com derrota por 2 x 1 para a Alemanha Ocidental em Stuttgart. Depois, vitória por 6 x 3 na Polônia em Varsóvia, derrota para a Tchecoslováquia (2 x 3) em Bratislava, vitória sobre a Iugoslávia (2 x 0) em Belgrado, vitória por 2 x 0 sobre Portugal em Lourenço Marques (atual Maputo, Moçambique), vitória por 2 x 0 e derrota por 1 x 2 contra o México na Cidade do México e vitórias sobre o Peru (4 x 3 e 4 x 0) em Lima. LEAL, Ubiratan - Cosena, a Comissão Selecionadora Nacional -http://balipodo.com.br/?p=1815

2LEAL, Ubiratan - Cosena, a Comissão Selecionadora Nacional -http://balipodo.com.br/?p=1815

3 'Memórias do Chumbo- O Futebol nos Tempos do Condor'. Chamadas: Argentina, Chile, Uruguai e Brasil - http://espn.estadao.com.br/post/294413_memorias-do-chumbo-o-futebol-nos-tempos-do-condor-chamadas-argentina-chile-uruguai-e-brasil

4“Pelé diz que nunca haverá outro jogador como ele” -

http://jovempan.uol.com.br/esportes/futebolnacional/2012/01/pele-diz-que-nunca-havera-outro-jogador-como-ele.html

5 “Um gol para a História”. Correio da Manhã, 20/11/1969, pág. 7.

6 “Presidente e Pelé têm encontro hoje”. Correio da Manhã, 25/11/1969, pág. 7. “Pelé, consagração em Brasília”. Correio da Manhã, 26/11/1969, pág. 9.

7 “Goleiro do gol mil de Pelé declara inocência e nega ter participado de mortes na ditadura”
: http://noticias.bol.uol.com.br/esporte/2012/03/28/goleiro-do-gol-mil-de-pele-declara-inocencia-e-nega-ter-participado-de-mortes-na-ditadura.jhtm“Goleiro que tomou milésimo gol de Pelé pode ser condenado à prisão perpétua por crimes políticos na Argentina” http://espn.estadao.com.br/noticia/240775_GOLEIRO%20QUE%20TOMOU%20MILESIMO%20GOL%20DE%20PELE%20PODE%
20SER%20CONDENADO%20A%20PRISAO%20PERPETUA%20NA%20ARGENTINA

8 “Milésimo gol de Pelé foi celebrado cinco dias após o feito”. http://www1.folha.uol.com.br/esporte/817816-milesimo-gol-de-pele-foi-celebrado-cinco-dias-apos-o-feito.shtml

9 “Milésimo gol de Pelé foi feito contra o Botafogo da PB”.http://www.ararunapb.com.br/?p=noticia_int&id=4711“Pelé e o dilema do Milésimo Gol na Paraíba” http://www.fatospb.com.br/colunista.php?id=11478

“A ditadura atrás de Pelé”.http://colunas.revistaepoca.globo.com/paulomoreiraleite/2011/08/23/a-ditadura-atras-de-pele/

10 “Pelé foi investigado pela ditadura na década de 1970”. http://www1.folha.uol.com.br/poder/963448-pele-foi-investigado-pela-ditadura-na-decada-de-1970.shtml “A espionagem” http://www1.folha.uol.com.br/fsp/esporte/fk0711199902.htm

11 “Memórias de Chumbo” – o futebol nos tempos do Condor - http://espn.estadao.com.br/post/294413_memorias-do-chumbo-o-futebol-nos-tempos-do-condor-chamadas-argentina-chile-uruguai-e-brasil

12 “Confissões de um Rei: Pelé diz que Maradona precisa, primeiro, provar que foi o melhor da Argentina…”http://g1.globo.com/platb/geneton/2010/06/30/confissoes-de-um-rei-em-nova-york-pele-diz-que-maradona-precisa-primeiro-provar-que-foi-o-melhor-da-argentina/

13 Presidentes do rei http://www1.folha.uol.com.br/fsp/esporte/fk0711199904.htm

14 Dorival Knipel, conhecido pelo apelido de Yustrich, após uma série de maus resultados do Brasil, afirmou publicamente que Saldanha não apresentava condições de ser treinador da seleção. Irritado com esse e outros comentários, Saldanha decidiu tomar satisfação com Yustrich e armado com um revolver foi à concentração do Flamengo. Avisado com antecedência, Yustrich retirou-se do local, enquanto Saldanha o procurava, esbravejando, com a arma em punho. “Saldanha x Yustrich” - http://www.memoriafutebol.com.br/blog/saldanha-x-yustrich

15 Apesar de ter lamentado a queda de Saldanha, um mês depois do fato, Pelé disse que Saldanha “nunca entendeu coisa alguma de futebol” e que com Zagallo no comando, a seleção seria muito melhor. O jogador ainda acusou Saldanha de “inventar” quando fazia as escalações e de se “apavorar” quando as mudanças não surtiam o esperado (apud GUTERMAN, 2002: 168). “Todos apoiaram João Saldanha, menos Pelé, conta jornalista” http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI4455326-EI6598,00-Todos+apoiaram+Joao+Saldanha+menos+Pele+conta+jornalista.html

16 “Memórias de Chumbo” – o futebol nos tempos do Condor - http://espn.estadao.com.br/post/294413_memorias-do-chumbo-o-futebol-nos-tempos-do-condor-chamadas-argentina-chile-uruguai-e-brasil

17 Em entrevista a Folha de São Paulo em 1995, Zagallo afirmou que não sofrera pressões dos militares para convocar Dário e que o fez pelos méritos do jogador, um dos artilheiros à época do País. Lembrou ainda que se tivesse sofrido pressões, Dário teria sido titular na Copa, o que não aconteceu. Sobre Saldanha, disse: “Ele saiu pelas cagadas que fez. Essa é a verdade. E eu entrei no lugar dele. E tem muita gente que quer me tirar os méritos. Quiseram dizer que eu peguei o time montado”. “Técnico não pode ter coração, diz Zagallo” – Folha de São Paulo, 16/07/1995, pág. 4 (caderno de esportes).

18 http://contextolivre.blogspot.com.br/2012/09/lista-de-torturadores-4-atualizada-em.html

19 SAVENHAGO, Igor José Siquieri. “Futebol na TV: evolução tecnológica e linguagem de espetáculo”. http://www.univerciencia.org/index.php/record/view/74620

20 “História do Futebol no México”. Guia Lance da Copa de 2010, pág. 25. México, potência de futuro, frustração do passadohttp://emjogo.blogs.sapo.pt/226474.html ; “México, as interrogantes do gigante americano” - http://www.futebolmagazine.com/mexico-o-futuro-do-futebol-americano, “Sombrero” de belo futebol - http://www.planetadofutebol.com/artigos/sombrero-de-belo-futebol; México: Cada vez mais entre os grandes do futebol http://www.lancenet.com.br/minuto/Mexico-futebol_0_755924409.html#ixzz2EwLy7Wxm

21“Helenio Herrera, bem além do Catenaccio” -http://pt.fifa.com/classicfootball/news/newsid=2060854/index.html

22 “A Volta do Ferrolho” - http://pt.m.fifa.com/interactiveworldcup/news/newsid=1413146/index.html

23 “Brasil, a Vitória do Futebol” – Correio da Manhã, 22/06/1970, pág. 15, pag. 15. “Foi assim que o Brasil ganhou o tricampeonato” – Folha de São Paulo, 22/06/1970, pág. 6.

24 “Rio nunca viu festa igual” – Correio da Manhã, 24/06/1970, pág. 1.

25 “Chegaram: às 12h55min a chegada em Brasília. Mais de uma hora até o Palácio do Planalto, onde o presidente Médici já esperava. Depois, os abraços, a quebra do protocolo. E o almoço. A volta ao aeroporto e a chegada ao Rio de Janeiro às 18h50min. Mais uma vez o desfile  em carro aberto. Carnaval em junho.” – Correio da Manhã, 24/06/1970, pág. 9.  “Seleção chega ao Rio às 17h e povo tem feriado para não faltar à recepção” – Jornal do Brasil, 23/06/1970, pág. 1. “Os paulistas saúdam hoje seus jogadores” – Folha de São Paulo, 24/06/1970, pág. 1.

26 “No Palácio, um almoço com o presidente” – Correi da Manhã, 24/06/1970, pág. 14.

27 “Taça Jules Rimet. O roubo no Rio e a maldição dos quatro ladrões”

http://www1.ionline.pt/conteudo/38319-taca-jules-rimet-o-roubo-no-rio-e-maldicao-dos-quatro-ladroes

28 “Na 1ª fase 15 seleções foram divididas em três grupos de cinco: Grupo 1 (Argentina, França. Seleção Africana, Colômbia, Seleção da CONCACAF), Grupo 2 (Portugal, Chile, Irlanda, Equador e Irã) e Grupo 3 (Iugoslávia, Paraguai, Peru, Bolívia, Venezuela). Os campeões de grupo se juntaram às cinco seleções pré selecionadas para jogar a 2ª fase em dois grupos: Grupo A (Brasil, Tchecoslováquia, Iugoslávia e Escócia) e Grupo B (Portugal, Argentina, URSS e Uruguai). A Iugoslávia, segunda colocada no grupo A, venceu a Argentina, segunda do B, na disputa do terceiro lugar. O Brasil, vencedor do grupo A, venceu Portugal, vencedor do B, na disputa do título. Uma situação muito curiosa ocorreu no jogo entre Irã e Irlanda, pelo Grupo 2, quando a semelhança entre os uniformes fez os iranianos jogarem vestidos de Santa Cruz.” “Relembre a Taça Independência de 1972, uma verdadeira Minicopa” http://vejario.abril.com.br/blog/historias-do-futebol-carioca/selecao-brasileira/relembre-a-taca-independencia-de-1972-uma-verdadeira-minicopa

29 No governo do presidente Ernesto Geisel (1974-1979), “quando Pelé estava para se transferir para o time do Cosmos, de Nova York (EUA), discutia-se se valia a pena abrir processo contra ele e Havelange. Os motivos eram a suspeita de que o dirigente desviara fundos da entidade para sua campanha [para a presidência da FIFA] – e que o vinha fazendo desde os anos 60 – e de que o jogador recebera, em empréstimos e doações da CBD, entre 1965 e 1973, cerca de US$ 320 mil atuais. De acordo com um relatório preparado a mando do almirante Nunes, que chegou às mãos de Geisel em janeiro de 1975, o rombo na CBD durante a administração Havelange estava na casa dos US$ 18,5 milhões, considerando-se valores de hoje. Só em 1974, ano das eleições na Fifa, ele chegava a US$ 1,5 milhão, equivalentes a quase US$ 5 milhões atuais. Com isso – e irado pelo fato de, exatamente no dia das eleições na Fifa, em Frankfurt, Havelange ter contrariado determinação dos militares e defendido a entrada da China, que não tinha relações diplomáticas com o Brasil, na entidade – Nunes mostrou-se favorável à tese da abertura de processo contra Havelange. Mas Geisel foi contra [...] Com receio de que as investigações afetassem mais a imagem do governo do que a do dirigente e a de Pelé, usado pelo regime militar para ""vender" o Brasil para o exterior, o presidente optou por uma solução intermediária e decidiu cobrir o déficit da CBD. [...]Para acalmar a ira do almirante, o presidente decidiu ainda pelo afastamento de Havelange da CBD, bem como pela nomeação de Heleno Nunes, também almirante e irmão de Adalberto, para comandar a entidade.” –“A espionagem” http://www1.folha.uol.com.br/fsp/esporte/fk0711199902.htm

30 “O Rei-Sol se põe Adeus, cartola” - http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,o-rei-sol-se-poe-adeus-cartola--,809495,0.htm

31 “Memórias do Chumbo- O Futebol nos Tempos do Condor'. Chamadas: Argentina, Chile, Uruguai e Brasil” - http://espn.estadao.com.br/post/294413_memorias-do-chumbo-o-futebol-nos-tempos-do-condor-chamadas-argentina-chile-uruguai-e-brasil

32 Eduardo Gonçalves, o Tostão, se  consagrou no cruzeiro no final dos anos 1960 e na seleção brasileira tricampeã em 1970. No ano de 1972, transferiu-se para o Vasco da Gama na maior transação do futebol brasileiro até então. Em virtude de um problema na visão, abandonou os gramados em 1973, com apenas 26 anos. Regressou a Belo Horizonte e se formou em medicina, clinicando por anos. Afastou-se do mundo do futebol, sendo raras suas entrevistas na imprensa ou comentários sobre o assunto. Aposentado da Medicina nos anos 1990 se tornou um respeitado jornalista desportivo, um dos mais prestigiados do Brasil no começo do século XXI (MÁXIMO, 2011: 343).


Recibido: 16/04/2016 Aceptado: 24/06/2016 Publicado: Junio de 2016

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