Revista: CCCSS Contribuciones a las Ciencias Sociales
ISSN: 1988-7833


ESTRATÉGIAS DE REVALORIZAÇÃO URBANA NA REGIÃO DO 4º DISTRITO DE PORTO ALEGRE, RS, BRASIL: O CASO VILA FLORES

Autores e infomación del artículo

Cristiano da Cunha Pereira

Fernanda Rech

Mary Sandra Guerra Ashton

Marcos Emílio Santuário

Universidade Feevale, Brasil

cristianocunhadesign@hotmail.com

RESUMO
A sociedade contemporânea apresenta as consequências deixadas pela era industrial. Inúmeras são as modificações nas estruturas sociais e econômicas vividas no contexto atual. Estas modificações impactam o funcionamento das cidades, que tem buscado na criatividade, em atividades voltadas para a economia criativa e na valorização de seu tecido urbano, alternativas para o desenvolvimento e crescimento econômico. Este artigo apresenta as estratégias de revalorização urbana no 4º Distrito de Porto Alegre. Toma-se como exemplo concreto o caso do Vila Flores, com o objetivo de identificar as potencialidades criativas do local, bem como as estratégias de revalorização urbana para a região do 4º Distrito. Este estudo contempla uma pesquisa sobre economia criativa, cidades criativas e estratégias de revalorização urbana. Entre os resultados se observou que esta pesquisa elucida a importância da criatividade e de atividades ligadas à economia criativa para promover uma reestruturação e desenvolvimento no tecido urbano.
Palavras-chave: Economia criativa, Cidades criativas, Criatividade, Revalorização urbana, Vila Flores, Porto Alegre.
URBAN REVALUATION STRATEGIES IN THE 4TH DISTRICT OF PORTO ALEGRE, RS, BRAZIL: A STUDY ABOUT VILA FLORES
ABSTRACT
Contemporary society has faced the industrial age consequences. In the contemporary context is possible to verify a lot of changes, especially in the social and economic structures. These changes have affected cities environment, which have found in creativity, in the creative economy activities and in the cities structures revaluation alternatives to development and economic growth. This article presents the urban revaluation strategies in the 4th District of Porto Alegre. Take as example the Vila Flores case, seeking to identify the creative potential and the urban revaluation strategies for the 4th District. This study includes a research of creative economy, creative cities and urban upgrading strategies. About the results it was possible to verify the creativity and activities connected to the creative economy importance in order to promote de revaluation and development of the urban environment.

Keywords: creative economy, creative cities, creativity, urban revaluation



Para citar este artículo puede uitlizar el siguiente formato:

Cristiano da Cunha Pereira, Fernanda Rech, Mary Sandra Guerra Ashton y Marcos Emílio Santuário (2016): “Estratégias de revalorização urbana na região do 4º Distrito de Porto Alegre, RS, Brasil: o caso Vila Flores”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, (abril-junio 2016). En línea: http://www.eumed.net/rev/cccss/2016/02/criatividade.html

http://hdl.handle.net/20.500.11763/CCCSS-2016-02-criatividade


1. INTRODUÇÃO

Este artigo apresenta um estudo sobre o 4° Distrito de Porto Alegre e as estratégias de revalorização urbana que vem sendo estabelecidas nesta localidade, visando o crescimento e desenvolvimento econômico da região. O objetivo principal deste estudo é identificar as potencialidades criativas do local, bem como as estratégias de revalorização urbana para a região do 4º Distrito. Toma-se como concreto o exemplo do Vila Flores, um centro de cultura, educação e negócios criativos, que está localizado no Bairro Floresta, na parte central do 4º Distrito de Porto Alegre.
Para a realização deste artigo foi realizado um estudo sobre Economia Criativa, bem como sobre a conceituação do termo Cidades Criativas. Em seguida, são abordadas algumas estratégias utilizadas pelas cidades para a revalorização urbana que trazem como consequência o desenvolvimento social e econômico. Uma pesquisa histórica sobre a formação do 4º Distrito de Porto Alegre e sua evolução ao longo do tempo fez-se necessária para contextualizar o objeto de estudo deste trabalho, o Vila Flores. A metodologia utilizada compreende a revisão bibliográfica, bem como um estudo de caso. Para a sustentação teórica foram utilizados autores como Reis (2008;2009;2012;2011), Landry, (2013), Howkins (2013), Vivant (2012), Miranda (2009), entre outros.

2. METODOLOGIA
Para a elaboração deste artigo, optou-se pela pesquisa exploratória bibliográfica. Segundo Manzo (1971, p.32) “a bibliografia pertinente oferece meios para definir, resolver, não somente problemas já conhecidos, como também explorar novas áreas onde os problemas não se cristalizaram suficientemente”.
Além disso, foi realizado um método exploratório de estudo de caso único tendo como objeto de análise o Vila Flores. Conforme Marconi & Lakatos (2002), a pesquisa de campo de caráter exploratória-descritiva, são estudos exploratórios que têm por objetivo descrever completamente determinado fenômeno, como, por exemplo, o estudo de um caso para qual são realizadas análises empíricas e teóricas.  Para o estudo de caso, foi elaborada uma entrevista não estruturada. Marconi & Lakatos (2002), define entrevista não estruturada como um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma conversação de natureza profissional.

3.CIDADES CRIATIVAS: DA CONCEITUAÇÃO ÀS ESTRATÉGIAS DE REVALORIZAÇÃO URBANA
Este referencial teórico está organizado em três partes, que abordam os conceitos a partir das análises, apontamentos e confronto de ideias dos principais autores envolvidos nesta temática.

3.1 Das Indústrias Culturais à Economia Criativa
No século XX, com o acentuado desenvolvimento da produção cultural em diferentes âmbitos, houve uma multiplicidade de bens culturais que passaram a ser produzidos em série e de forma massificada, sendo consumidos pelas diversas classes sociais. Os produtos da indústria cultural têm um objetivo: chegar aos seus consumidores a partir da venda. Para Adorno e Horkheimer (1985), precursores da chamada Escola de Frankfurt, a indústria cultural levou apenas à padronização e a produção em série, sacrificando o que fazia a diferença entre a lógica da obra e a do sistema social.
Segundo Reis (2009) a globalização e as tecnologias digitais aceleraram a massificação da cultura, padronizando e nivelando as culturas locais.  Em contrapartida, a globalização-tecnológica digital trazia a promessa de ser uma solução aos males da exclusão cultural, pois permitiria novas formas de criação, produção, distribuição e consumo, além de uma facilidade sem igual de acesso às culturas do mundo afora.
O acesso a novas formas de produção e consumo culturais de fato colocou várias sociedades em contato, em índices inéditos. O problema, porém, é que o acesso às tecnologias digitais ainda é restrito a regiões específicas. De certa forma, esta troca entre as diferentes culturas foi vista como uma ameaça, na medida em que provocou uma planificação do conhecimento. Por outro lado, existem aqueles que defendem que a identidade sempre se fez por comparação e, sendo assim, o contraste com o outro fortalece a identidade de cada território. Essa percepção é compartilhada por um estudo realizado por García Canclini ao analisar as indústrias culturais na América latina:
A internacionalização foi uma abertura das fronteiras geográficas de cada sociedade para incorporar bens materiais e simbólicos de outras. A globalização supõe uma interação funcional de atividades econômicas e culturais dispersas, bens de serviço gerados por um sistema com muitos centros, no qual é mais importante a velocidade com que se percorre o mundo do que as posições geográficas a partir das quais se está agindo. (CANCLINI, 2005, p. 32).
 
As transformações ocorridas no cenário global no final dos anos 1970 despertaram o interesse para a construção de novas práticas no âmbito cultural e econômico, sendo que a origem embrionária da Economia Criativa parece ter surgido, conforme Reis (2009) na Austrália em 1994, a partir da expressão Creative Nation, nodiscurso do primeiro-ministro do país, Paul Keating. Creative Nation foi o prenúncio da busca de uma convergência de objetivos culturais, econômicos e sociais, em uma espécie de desenho de economia criativa avant la lettre, tingido com matizes de uma preocupação com a sustentabilidade” (REIS, 2009, p. 24).
Em 1997, o então primeiro-ministro britânico Tony Blair organizou uma força-tarefa para analisar as contas nacionais do Reino Unido, as tendências econômicas globais e, como fruto do cruzamento de ambas, as vantagens competitivas nacionais. Como resultado desta análise, foram identificados 13 setores de maior potencial para a economia do país. A eles deu-se o nome de indústrias criativas.
Indústrias que têm sua origem na criatividade, habilidade e talento individuais e que apresentam um potencial para a criação da riqueza e empregos por meio da geração e exploração de propriedade intelectual. (Departamento de Cultura, Mídia e Esportes [DMS] do Reino Unido, 1998 apud REIS, 2009, p. 25).

Entende-se as indústrias criativas como o conjunto de setores que têm como mote principal a criatividade humana. Via de regra, as indústrias criativas abrangem arte, artesanato, indústrias culturais e ainda os setores econômicos que bebem da criatividade e cultura para devolver funcionalidade, a exemplo da moda, design, arquitetura, propaganda, software e mídias digitais. A discussão sobre indústrias criativas evoluiu para a da economia criativa.  Segundo Machado (2009), o termo economia criativa surge para substituir a expressão indústria cultural por duas razões principais: afastar o caráter negativo e crítico da Escola de Frankfurt e pela necessidade de buscar uma nominação que abarcasse atividades não contempladas pelo conceito de indústria cultural, como por exemplo o design, a moda e a arquitetura.
Em essência, a economia criativa reconhece que embora produtos e serviços possam ser copiados, a criatividade não é passível de cópia. Pode-se copiar o que ela cria, mas não sua fonte. De acordo com Howkins (2013), criatividade é a habilidade de criar algo novo.  Nesse contexto, pode-se concluir que a criatividade não é algo necessariamente novo, muito menos a economia, a novidade é encontrada na origem e na extensão da relação entre ambas, e na maneira como elas se adequam criando valor e riqueza. Portanto, a criatividade torna-se fundamental para o desenvolvimento de uma região ou país.
O crescimento da criatividade nos últimos anos gerou novos modelos sociais e econômicos, o que a tornou uma relevante força econômica e aliviou a tensão entre organização e imaginação. Apesar de ainda estar longe de atingir a maturidade, esse novo modelo é uma tentativa de se esquivar das amarras e da conformidade.

3.2 Cidades Criativas
O cenário urbano do início dos anos 1980 vislumbrou novas alternativas para a reestruturação das cidades. Segundo Reis (2009), a Cidade Criativa é aqui entendida como uma cidade capaz de transformar continuamente sua estrutura socioeconômica, com base na criatividade de seus habitantes e em uma aliança entre suas singularidades culturais e suas vocações econômicas. É nessa convergência de objetivos entre agentes e setores que se desenha uma estratégia comum, contínua, voltada a resultados sociais, culturais e econômicos.
Diante disso, seria reducionista dizer que uma cidade criativa é aquela em que a economia criativa é especialmente pujante. Há tantos outros fatores em jogo! Porém, para chegar ao porto da cidade criativa, utilizar a bússola da economia criativa é uma excelente estratégia. Basta pensar que, ao longo dos séculos, sempre houve uma relação íntima entre a configuração urbana e o modelo econômico em vigor – daí nos referimos à cidade industrial, à cidade de serviços, à cidade digital, entre outras (REIS, 2009, p. 17).

A sociedade da informação, onde o conhecimento surge como forma vital para alavancar a economia, propicia uma discussão sobre o conceito Cidades Criativas. Conceito de contornos fluidos, para alguns revela a efervescência do que é produzido criativamente no espaço urbano e seu potencial econômico. Para outros, o enfoque da produção se translada à prevalência de um ambiente capaz de gerar, capacitar, atrair e reter talentos que sustentem essa criatividade e seu valor econômico agregado. Uma terceira (e não derradeira) corrente vê a essência da Cidade Criativa na confluência entre capacidade de geração tecnológica, formação de uma mentalidade aberta e tolerante e na atração de talentos (REIS, 2009, p.239). Para Strickland (2011) a Cidade Criativa representa a cidade do futuro, que se beneficia do seu passado, da sua localização e da sua economia, propiciando trocas de ideias, proximidade de empregos e oportunidades de trabalho.
A teoria da criatividade desenvolvida por Florida (2002), chamada teoria dos 3Ts, que popularizou o conceito da Cidade Criativa centrada em “tolerância, talento e tecnologia”, refere-se essencialmente à classe criativa em meio urbano. Em síntese, os fatores que atraem a classe criativa para o meio urbano são o talento, a tecnologia e a tolerância que estão presentes nas cidades. A classe criativa procura nestes locais atividades e desafios interessantes, cidades dinâmicas com capacidade de proporcionar atmosferas de lazer e, simultaneamente, de trabalho, e procuram ainda ambientes autênticos caracterizados pela diversidade.
Landry (2013), afirma que a criatividade é um conceito bem amplo e aplicado às diversas esferas da vida. Não se trata apenas de domínio de artistas, ou daqueles que trabalham na economia criativa ou de cientistas, embora eles sejam importantes. É perigoso que a noção de criatividade resulte em algo sem fundamento e irreal. A questão central é ter uma mentalidade disposta a reavaliar as coisas abertamente e ser criativo quando necessário, sabendo quais são as qualidades específicas da criatividade artística que poderiam ajudar a construir uma cidade mais criativa. As principais prioridades para a criatividade, segundo Landry (2013), são a criação da quarta revolução industrial limpa, ecológica e enxuta, o entendimento intercultural, a ajuda para reduzir tanto a divisão entre ricos e pobres como a concepção de ambição e significado além do consumismo.
Vivant (2012) questiona a transformação da cidade industrial à criativa. Para atrair investidores e empresas para esta nova concepção de cidade, deve estabelecer novas propostas de políticas públicas, culturais e estratégias urbanas. Melhorar o ambiente no qual se vive, também, torna-se condição necessária para atrair empresas, em particular setores de alto valor agregado.
Partimos então do pressuposto básico de que a criatividade urbana interage com o campo cultural, já que o próprio território é um espaço de significados. Essa criatividade transborda a criação cultural em si e se refere mais ao modo de pensar e criar – inovador, aberto, descompromissado de dogmas – do que à cultura por seu aspecto estético, por mais valoroso que possa ser. Porém, aqui o eixo da discussão não é a estética, mas o reconhecimento de que a transformação urbana é desencadeada pelo processo de criação.
A criatividade impulsiona a busca de novos arranjos de governança entre público, privado e sociedade civil; de formas alternativas de financiamento (mais voltadas ao capital de conhecimento do que às garantias físicas); de inovações na gestão da cidade; de valorização da criatividade; e de busca de modelos colaborativos. Mas é importante enfatizar que transformações econômicas, sociais e das dinâmicas urbanas tornam imprescindível contemplar o território no qual as políticas culturais e de desenvolvimento se localizam. Para Reis (2011) isso já nos lança um desafio: o de que políticas, estratégias, modelos e ações não são copiáveis de uma cidade ou região para outra, uma vez que a singularidade do espaço e das relações que ali se estabelecem, não podem ser transpostas a outro contexto, sem a devida tradução.
Para Lerner (2011) a própria essência da Cidade Criativa depende de sua habilidade para construir um sonho coletivo e mobilizar os esforços de seus cidadãos, para transformar esse sonho em realidade, independente do tamanho da cidade.
O desenvolvimento da cultura criativa ressalta a importância da consciência coletiva sobre memória e pertencimento das cidades, através de ações que visam o bem-estar e a expansão do ser humano, e que também potencializam as riquezas culturais que possuímos, a partir da nossa diversidade cultural e social. A Cidade Criativa opera a partir dos seus valores calcados na diversidade, dignidade, justiça liberdade e compartilhamento, promovendo desta forma o engajamento social que demonstre sua verdade cultural. Exemplos de Bogotá, Bilbao e Barcelona, expressam estes conceitos.
Para Landry (2012) após 200 anos de uma sociedade industrial, chegamos a um estágio em que a criatividade e a capacidade de imaginar são vistas como essenciais. As matérias-primas do novo sistema são cada vez mais a informação, o conhecimento e a criatividade. O conhecimento é um capital essencialmente humano que acentua as diferentes aptidões dos trabalhadores necessárias para o funcionamento da sociedade.  Na sociedade da informação esta relação com o capital intelectual é indispensável, uma vez que o conhecimento surge como forma vital para alavancar a economia.

3.3 Estratégias de Revalorização Urbana
As cidades sofreram um grande processo de transformação que teve início no século XVIII com o advento do período industrial. Para Reis (2009) a saída de uma parte da população do meio rural e sua inserção no espaço urbano e a crescente divisão do trabalho foram algumas questões relevantes para o processo de formação da cidade industrial e antecederam diversos problemas enfrentados pelas mesmas na atualidade, como a falta de moradia e a marginalização.
Ao longo do século XX, a sociedade vista anteriormente como uma estrutura simples, passou a coexistir em territórios complexos com o crescimento e desenvolvimento das metrópoles. A passagem da modernidade para o contexto pós-moderno é caracterizada por transformações nas estruturas sociais, bem como na organização das cidades. Já o início do século XXI é marcado por um contexto de transformações econômicas, sociais e culturais decorrentes do declínio de fronteiras e geografias tradicionais. De acordo com Pardo (2011), a Cidade Criativa surge como novo fenômeno e traz como consequência a transição das atividades econômicas relacionadas à sociedade da informação e do conhecimento. Estas transformações fizeram com que as cidades começassem a refletir sobre seu funcionamento. Segundo Vivant (2012) o advento da era pós-industrial propiciou às cidades uma reflexão sobre suas políticas urbanas:
As cidades pioneiras frequentemente foram aquelas que mais sofreram com a crise industrial: diante do aumento do desemprego, da fuga de capital e da constituição de vastos vazios nas antigas propriedades industriais, elas colocaram em prática ações destinadas a renovar seu tecido econômico urbano. (VIVANT, 2009, p.9).

Revalorizar o espaço urbano foi uma das alternativas encontradas para atrair novos investimentos e sobre passar a crise econômica. Reis (2008) afirma que o desenvolvimento de cidades e espaços criativos se deu a partir de diversas maneiras, como por exemplo, o enfrentamento das desigualdades sociais e atração de talentos para requalificar áreas marginalizadas, o desenvolvimento de clusters 1 criativos, tais como o distrito cultural do vinho na França e os parques criativos de Xangai, a estruturação de cidades em polos criativos conectados com políticas votadas para o turismo e atração de capital intelectual e a reorganização do tecido urbano tendo como ponto de partida as qualidades e características locais, como por exemplo Paraty, com sua Feira Literária Internacional.
Nos últimos anos uma grande parte das cidades buscaram algumas ações visando seu renascimento e reorganização, dentre elas pode-se citar a criação de um bairro cultural, a organização de eventos e o apoio a distintas práticas artísticas. Estas ações colocaram a vida cultural das cidades no seio das operações de urbanismo (VIVANT, 2012, p.19).
Vivant (2012) aponta o conceito de gentrificação como uma das consequências das estratégias de revalorização do tecido urbano: “o processo de gentrificaçãoconstitui a maneira de ser de uma larga camada social de profissionais engajados em trabalhos mais ou menos criativos. ” (VIVANT, 2012, p.25).
O termo gentrificação denota um processo de mudança de habitantes de uma determinada área urbana, normalmente promovendo a saída da população original, em virtude de ocupação da área por um grupo populacional distinto, de classe econômica geralmente mais alta. De acordo com Zachariasen (2006) a palavra gentrificação foi utilizada pela primeira vez nos anos 1970 pela socióloga Ruth Glass, com o intuito de descrever o fenômeno pelo o qual famílias pertencentes à classe média povoaram antigos bairros desvalorizados do centro de Londres.
 De acordo com Vivant (2012) os artistas iniciam um movimento em torno da redescoberta dos bairros e revalorização da paisagem e construções arquitetônicas. Atuando profissionalmente em condições precárias, artistas da cena off, se tornam os pioneiros da reconquista urbana. Apesar de serem percebidos por alguns cidadãos como uma ameaça, sua presença contribui para a reabilitação do bairro através da instalação de galerias, salas de espetáculos e até mesmo cafés. Como exemplos de produção artística off pode-se citar o hip hop, o circo contemporâneo, o teatro de rua, a música eletrônica, o rock alternativo, o mangá, entre outros. Vivencia-se uma revalorização simbólica que por sua vez desencadeia uma revitalização econômica:
O artista está frequentemente na origem do processo de reconquista dos velhos bairros populares ou das zonas industriais desativadas. O artista off pode desempenhar papel motor na revalorização de um bairro, abrindo caminho para um processo de gentrificação. (VIVANT, 2012, p.40).

Zachariens (2006) aponta que o processo de gentrificação pode ser apresentado sob duas óticas distintas: a primeira delas diz respeito a antigas edificações desvalorizadas e reabilitadas sobretudo por iniciativa individual; a outra resulta da promoção imobiliária sobre terrenos em processo de valorização fundiária. (Zachariens, 2006, p.26 e 27). Smith (2003) aponta que independente da maneira como a gentrificação é tratada, ela acarreta, de alguma forma, no deslocamento dos moradores de camadas mais populares.
Analisando o processo sob o ponto de vista da valorização fundiária, tem-se como uma consequência o aumento do valor dos imóveis e a especulação imobiliária, promovendo também a inserção de grupos de outras camadas sociais e o desaparecimento do ambiente original gerador da revalorização daquela cena local:
Uma vez em andamento, o processo de valorização amplia pouco a pouco e geralmente acaba por fazer desaparecer a boêmia original, para produzir espaços urbanos destinados a classes médias altas. A gentrificação coloca em cena e na cidade dois movimentos imbricados um no outro: a reapropriação do valor simbólico do artista e a revalorização do espaço metropolitano. (VIVANT, 2012, p.45).

Percebe-se uma dualidade no processo de gentrificação, que de um ladopromove uma melhoria da imagem urbana, atribuindo um novo valor simbólico às áreas consideradas em estado de declínio e baixo desenvolvimento econômico e social, e por outro lado, esta necessidade de melhoria provoca o deslocamento dos habitantes locais, que acabam por ficar condenados a um estado de marginalização, que, segundo Mendes (2010) possui uma relação direta com a preservação da reprodução social das classes dominantes.  Para Kageyama (2011) uma forma de amenizar as consequências da gentrificação é utilizar os benefícios do desenvolvimento econômico para realizar reinvestimentos na comunidade. Aqueles que se beneficiam com a gentrificação, sem reconhecer as externalidades de seu sucesso, estão intencionalmente ignorando suas responsabilidades cívica e moral de cidadãos urbanos. (Kageyama, 2011, p.59)
Por fim, Pardo (2011, p.93) sinaliza a importância da realização de um planejamento estratégico e urbano através de parâmetros e indicadores que possam fomentar a atividade social, cultural e econômica como uma forma de evitar a polarização social, a estratificação econômica bem como o processo de gentrificação.
4. O 4° DISTRITO DE PORTO ALEGRE
A região do 4º Distrito de Porto Alegre que contempla os Bairros Floresta, São Geraldo, Navegantes, Farrapos e Humaitá (Figura 1) foi um polo de desenvolvimento da capital gaúcha durante o século XIX. Segundo Mattar (2010) a expansão industrial de Porto Alegre no início e na primeira metade do século XX, foi acompanhada por um acelerado processo de desenvolvimento e teve como consequência um grande aumento populacional. O perfil da sociedade daquela época foi sendo moldado a partir das diversas transformações que os avanços tecnológicos propiciaram em distintas áreas como os meios de transporte, a inserção de novo maquinário, a produção seriada, a urbanização e a arquitetura, bem como as vivências sociais.
Na primeira metade do século XX, os Bairros Navegantes, São Geraldo e Floresta receberam um número amplo de trabalhadores para atuar nas fábricas que ali estavam localizadas, sendo a maioria deles imigrantes: inicialmente alemães e posteriormente outras etnias como italianos, poloneses e árabes. Palco de importantes transformações sociais e econômicas de uma sociedade que se industrializava e objetivava modernizar-se, o 4° Distrito de Porto Alegre adquiriu uma identidade própria. Ao longo dos anos e com o declínio da sociedade industrial, esta região da capital sofreu as consequências da desvalorização de seu tecido urbano, enfrentando problemas como a marginalização e falta de desenvolvimento econômico.
A localização geográfica do 4º Distrito, próximo dos cursos de água (Guaíba e Gravataí) e sua inserção no encontro das conexões da cidade, apresentava os requisitos ambientais para o desenvolvimento de um polo industrial, que era potencializado por meio da proximidade com a estrada de ferro. Desde sua instalação até meados da década de 40, a rua Voluntários da Pátria foi o principal canal de passagem entre a região central e o interior na direção norte (MATTAR, 2010). Próximo a rua Ramiro Barcelos encontrava-se uma aglomeração comercial, com armazéns, depósitos e trapiches.  Já em direção à Navegantes estavam localizados os estabelecimentos industriais.
De acordo com Mattar (2010) a partir do ano de 1908 até o início da Primeira Guerra Mundial houve um aumento na quantidade de negócios, tendo como consequência o desenvolvimento de alguns melhoramentos urbanos, como por exemplo, os bondes de tração elétrica. Durante a Segunda Guerra, o 4º Distrito se consolidou como polo industrial e diversas empresas foram instaladas na região, como a Companhia Geral de Indústrias, Fábrica de Cartonagem Linsenmayer, Fábrica de Correias Porto Alegrense, Esmaltaria União, Fiação e Tecidos Kescher & Irmão, Fábrica de Máquinas de Costura Renner, Fábrica Nacional de Tesouras, Fábrica de Latas Renner e Herrmann, Laboratório Eka, Fábrica de Sabonetes Thofern, entre outras. (MATTAR, 2010, p.132).
Com o início do declínio da era industrial na década de 1970, e devido, também, ao medo de operar em uma zona de risco, pois o 4º Distrito sofreu e enfrenta até os dias de hoje problemas com alagamentos, as empresas começaram a migrar para outras zonas da Região Metropolitana de Porto Alegre e o interior do estado. Atualmente existem algumas iniciativas em busca da revitalização desta região, muitas delas voltadas para a área da economia criativa, como é o caso do objeto de análise deste artigo, o Vila Flores.

5. O VILA FLORES

Localizado na rua São Carlos esquina com a rua Hoffmann, no Bairro Floresta, o Vila Flores (Figura 2 e Figura 3) compreende um complexo arquitetônico construído na década de 1920, pelo artista plástico, engenheiro e arquiteto Joseph Franz Seraph Lutzenberger, que teve outras importantes contribuições para a arquitetura de Porto Alegre, como o Palácio do Comércio e o Orfanato Pão dos Pobres. O conjunto arquitetônico da rua Hoffman é formado por três edificações e um pátio interno, em um terreno que possui uma área total de 1.414 m² 2. Em sua origem, as edificações foram construídas para servirem como moradia para trabalhadores e suas famílias, que começaram a habitar o 4º Distrito em razão de sua franca expansão industrial. Conforme mencionado anteriormente com a desindustrialização da região o conjunto passou por uma fase de abandono o que gerou grande degradação estrutural.

Foi realizada entrevista com a gestora cultural do Vila Flores no dia 21 de julho de 2015, com o intuito de compreender o processo de instalação e desenvolvimento do centro cultural, no conjunto arquitetônico projetado por Lutzenberger. A entrevistada possui formação em Publicidade e Propaganda, MBA em Gestão Empresarial e especialização em Economia da Cultura.
Atualmente o imóvel é propriedade privada e pertence à família Chaves Barcelos, que em 2009 iniciou um processo de mobilização para resgatar o conjunto e tinha, já na época, interesse em utilizá-lo em prol de questões que norteassem a cultura e a arte.
Segundo a gestora cultural, as edificações nunca ficaram abandonadas. Até o ano de 2009 moradores habitavam o local, de forma legal e também ilegalmente.  Entre os anos de 2009 e 2010 a família Chaves Barcelos interditou o imóvel para reforma, principalmente para a recuperação dos telhados, que se encontravam em estado de alta degradação.  Conforme afirma a gestora cultural, a ideia sempre foi de manter a estrutura histórica e original da edificação, que mesclava uma área residencial, com uma área comercial (originalmente o imóvel possuía um armazém de secos e molhados, localizado na rua São Carlos).
Relações de troca, conectividade e discussões sobre a importância de práticas artísticas e culturais marcam o contexto do nascimento do Vila Flores. Aos poucos e a partir destas relações a iniciativa foi ganhando forma e sendo procurada por um grande número de pessoas interessadas em participar, bem como instalar seu empreendimento no local. O grande marco foi dezembro de 2013, com a realização do Projeto Simultaneidades, um evento com diversas atrações artísticas que envolveu uma série de profissionais e possibilitou a conexão entre organizadores, artistas e público em geral. Já em 2014 o Vila Flores ganha maior visibilidade, uma vez que foi escolhido para sediar dois espetáculos de teatro do Palco Giratório 3 promovido pelo SESC.
O Vila Flores contempla espaços destinados para a realização de atividades culturais, educativas e sociais, que são administradas pela Associação Cultural Vila Flores e espaços de trabalho, como ateliers e escritórios, gerenciados pela Administração do conjunto arquitetônico, que possui três áreas de atuação: a Associação Cultural, a Administração e Arquitetura, área destinada à reabilitação do local.
Atualmente conta com 20 empreendimentos fixos, chamados de residentes, de distintas áreas, muitas delas da economia criativa, como o projeto Vuelta al mundo, o Estúdio Hybrido, Casca design, o Ato Espelhado Companhia Teatral, Kom bikes, entre outros. Os residentes recebem os espaços com contra piso, parte elétrica e hidráulica em funcionamento e pagam em torno de R$ 25,00 por m². Como não é cobrado valor de condomínio, cada residente é responsável pela manutenção e limpeza de seu espaço. Futuramente, o Vila Flores prevê um espaço de moradias artísticas temporárias.
            Em 2015 a então criada Associação Cultural, formalizada em 2014, começa a atuar de forma mais intensa e caracteriza-se por ser uma entidade sem fins lucrativos que visa organizar a agenda cultural do espaço, bem como discutir junto ao poder público, privado e a comunidade local em favor dos interesses “da comunidade artística e criativa de Porto Alegre, assim como dos moradores e frequentadores do Bairro Floresta”4 . A Associação trabalha em quatro eixos principais: arte e cultura, educação, com a promoção de cursos e oficinas, empreendedorismo, visando o desenvolvimento de negócios criativos e colaborativos e arquitetura e urbanismo.
Sobre a realização de eventos nos espaços, a entrevistada ressalta que o objetivo é promover uma relação de troca e parceira com os profissionais. Há uma preocupação constante que cada evento tenha a interface com os demais eixos propostos pela Associação. Ainda, a Associação dialoga com órgãos públicos como a Secretaria de governança local e o Gabinete de Inovação e Tecnologia da Prefeitura de Porto Alegre (INOVAPOA). Até o momento não foram formalizadas parcerias, porém a conexão com estes poderes públicos tem possibilitado uma maior visibilidade para o Vila Flores. Segundo a gestora cultural “o termo economia criativa e revitalização urbana é a ‘bola da vez’ ”, o que de certa forma facilita a proximidade como o poder público e privado na busca de parcerias.
Sobre a questão da participação efetiva da comunidade local e a realização de atividades que possam valorizar o contexto da região e fortalecer o sentimento de pertencimento dos moradores, a gestora aponta que esta questão tem andando de forma lenta e que poucos moradores frequentam o local. Alguns eventos já foram realizados, como por exemplo, o Conversa de Vizinho, que busca dialogar com os moradores do Bairro Floresta. Além disso, existe um diálogo e a possibilidade de desenvolver projetos com outros estabelecimentos localizados no bairro, como o Hostel Boutique, situado na rua São Carlos e o espaço colaborativo La Casa de Pandora, localizado na rua Comendador Azevedo.
Questionada sobre o processo de gentrificação, a entrevistada salienta que a proposta da Associação é evitar ao máximo a aceleração deste processo, mesmo que inevitável visto a valorização imobiliária do entorno. Para ela, uma forma de desacelerar a gentrificaçãoé através de um processo de revitalização mais lento, que não provocasse a descaracterização do local. Conhecida por ser uma zona de prostituição, a entrevistada afirma que existe um diálogo com estes grupos, que são, segundo ela, bastante organizados. A partir destas conversas o Vila Flores tenta respeitar a diversidade e conviver de forma pacífica com todos os que ali residem. Tem-se pensando em realizar um projeto que possa proporcionar atendimento médico e odontológico para esta comunidade, uma vez sentida a necessidade de auxiliá-los nestas questões.
A respeito da revitalização do imóvel, o espaço possui um projeto (Figura 5) que está orçado em cinco milhões de reais. Para o financiamento deste projeto pretende-se conseguir subsídio através de lei Rouanet. A modificação estrutural deve acontecer na parte interna, preservando a fachada. O projeto visa aliar a origem histórica da edificação com ares mais contemporâneos, apresentando espaços de convívio abertos, áreas para ateliers e escritórios, construção de residências temporárias e espaços para a realização de atividades nos quatro eixos de atuação da Associação Cultural Vila Flores.

6. ANÁLISE
A partir deste estudo é possível conectar a partir de distintas óticas a teoria discutida neste artigo com o exemplo prático proposto a ser analisado, o complexo arquitetônico Vila Flores. Em primeiro lugar, percebe-se que a concepção do Vila Flores se conecta com o que Vivant (2012) propõe para a transformação de uma cidade industrial à criativa. Com o intuito de buscar investimentos e empresas para esta nova concepção de cidade, a Cidade Criativa deve estabelecer novas propostas de políticas públicas, culturais e estratégias urbanas.
É possível observar que a proposta do complexo vai ao encontro das ideias de Miranda (2009) e Lerner (2011) que propõem o desenvolvimento de uma cultura criativa, que auxiliará no desenvolvimento sustentável, através da articulação com o passado, presente e futuro, da solidariedade e da parceria estabelecida entre diversos setores da sociedade conectados e atuando no intuito de desencadear mudanças para transformar o sonho de qualquer cidade, seja ela pequena ou grande. Para Miranda (2009), o desenvolvimento da cultura criativa enfatiza a importância da consciência coletiva sobre memória e o sentimento de pertencimento, através de ações que visam o bem-estar e a expansão do ser humano, e que também potencializam as riquezas culturais provenientes da diversidade cultural e social.
 Conforme apresentado anteriormente a organização de eventos, a criação de um bairro cultural, bem como o apoio às práticas artísticas, se caracterizam como uma das grandes alavancas para a revalorização de espaços em grandes centros urbanos (VIVANT, 2012). Neste ponto pode-se citar eventos organizados pelo complexo como o Projeto Simultaneidades e até mesmo eventos sediados como o Palco Giratório e demais atividades que acontecem no espaço Vila Flores.
Os novos proprietários e profissionais envolvidos com a iniciativa trabalham junto com a comunidade local, artistas e coletivos da cidade para a requalificação de seu uso como um espaço cultural, núcleo de práticas colaborativas relacionadas à economia criativa, com o intuito de contribuir para a revitalização cultural do 4º Distrito. Percebe-se aqui a importância da criatividade e atividades ligadas a ela para impulsionar a economia na sociedade da informação. Sabe-se que a relevância do tema criatividade nos últimos anos tem gerado novos modelos de negócios e, conforme afirma Vivant (2012) e grande parte a força de uma cidade está relacionada a sua capacidade criativa.
Neste ponto é preciso ressaltar a importância de criar ambientes de discussão envolvendo os interesses públicos, privados e da sociedade civil. Reis (2009) aponta a importância da singularidade do território, que é preciso buscar a essência de cada lugar para desenvolver espaços urbanos criativos, pois copiar modelos não constrói laços de colaboração entre o público, o privado e a sociedade civil. Sendo assim é importante que o Vila Flores esteja cada vez mais conectado com a história local, para poder assim difundi-la, buscando resgatar a identidade daquele bairro, que teve uma efervescência econômica, social e cultural no século passado e esta trajetória é de grande valia para a cidade de Porto Alegre. Revalorizar o espaço urbano do 4º Distrito no sentido de promover desenvolvimento para esta região só será possível a partir de um pensamento em longo prazo e que valorize as potencialidades locais.
Conectando com as ideias de Landry (2013) os recursos culturais devem ser contemplados de forma contextualizada, em outras palavras, é preciso conhecer o contexto social e cultural local. Landry (2013) defende a valorização dos recursos culturais, a diversidade, políticas públicas, participação cidadã, incentivos à criatividade que promovam ideias e busca de soluções criativas na sociedade e economia. 
Sobre o possível processo de gentrificação que o espaço possa vir a provocar, faz-se necessário ressaltar algumas questões. É importante ter em conta as consequências para os moradores locais. Como visto, os artistas são sempre os pioneiros na instalação em locais em degradação urbana. Conforme suas ações vão ganhando olhares da sociedade em diversos âmbitos, interesses de outras camadas sociais, geralmente de classe mais alta, começam a voltar-se para a região. Consequência disso é o aumento do valor dos imóveis, o que muitas vezes provoca a saída da população local. Para Vivant (2012) o desafio está em harmonizar dois pontos principais: que a política para valorização das cidades para atrair novos investimentos não iniba o caráter boêmio, criativo e imprevisível criado pelos artistas. Outra questão, anteriormente abordada por Smith (2003) é sobre o deslocamento das camadas populares que acabam marginalizadas. No caso do Vila Flores, que convive diariamente com grupos que estão à margem da sociedade devido a questão da prostituição, é preciso pensar, discutir e elaborar estratégias para que estes grupos não sejam futuramente sufocados pelo processo de gentrificação, bem como a comunidade local em geral. Uma alternativa para amenizar este o processo é o que propõe Pardo (2011), a partir da implementação de um planejamento estratégico e urbano, bem como a realização de reinvestimentos na comunidade local, a partir dos benefícios com o desenvolvimento econômico (Kageyama, 2011). 
Porém para o real funcionamento destas ações faz-se necessário incentivar espaços de discussão entre órgãos públicos, privados e a sociedade civil. A Cidade Criativa deve ser feita e pensada para os cidadãos que nela habitam e este deve ser o caráter imprescindível quanto trata-se de criar ambientes e alternativas para revalorizar o espaço urbano. Além disso, é preciso estimular o monitoramento das ações promovidas, bem como a avaliação dos resultados. A partir da criação e estímulo para espaços de discussão talvez se torne possível organizar a proposta elaborada por Strickland (2011) que sugere a formação de grupos entre empresas, universidades e líderes de instituições sem fins lucrativos para formular ações que devem incluir a diversidade, a igualdade de gêneros, a distribuição econômica, empregos, habitação justa e diversidade étnica. 

7. Considerações finais

Na passagem da era industrial para a sociedade da informação percebe-se uma série de mudanças nas estruturas sociais e econômicas das cidades. É possível compreender esta afirmação a partir do estudo proposto por este artigo que, com o objetivo de identificar as potencialidades criativas, bem como as estratégias de revalorização urbana da região do 4º Distrito de Porto Alegre, buscou um objeto específico de análise, o Vila Flores. Esta pesquisa elucida a importância da criatividade e de atividades ligadas à economia criativa para promover uma reestruturação e desenvolvimento no tecido urbano. Ainda é preciso destacar que a criatividade por si só não é capaz de promover o desenvolvimento. Faz-se necessário uma conexão com as relações entre os indivíduos de cada localidade em todos os âmbitos, bem como promover o diálogo pensando nos cidadãos que habitam o espaço urbano, contribuindo para um resgate cultural e favorecendo o sentimento de pertença da população. Iniciativas como o Vila Flores são de extrema importância para a cidade de Porto Alegre. É preciso incentivar a participação da população em iniciativas como esta, para que a cidade se converta em espaço de integração, troca, respeito à diversidade e desenvolvimento econômico e social.

7. REFERÊNCIAS

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ZACHARIASEN, Catherine Bidou. (org). De volta à cidade. Dos processos de gentrificação às políticas de “revitalização” dos centros urbanos. São Paulo: Annablume, 2006.

1 Segundo Porter (1999, p.211) cluster “é um agrupamento geograficamente concentrado de empresas inter-relacionadas e instituições correlatas numa determinada área vinculada por elementos comuns e complementares. ”

2 Informação retirada do site: https://vilaflores.wordpress.com, acesso em 20/07/2015

3 O Palco Giratório busca caminhos além do eixo sul-sudeste para difundir a cultura onde o teatro puder chegar. Desta forma, vai até novos públicos, perpetuando hoje a tradição mambembe, vinculada a gerações anteriores de atores que já percorriam o Brasil com seus espetáculos por meio de alternativas próprias. Informação retirada do site: http://www.sesc.com.br/portal/site/palcogiratorio, acesso em 22/07/2015

4 Informação retirada do site: https://vilaflores.wordpress.com/associacao-cultural-vila-flores/. Acesso em 20/07/2015.


Recibido: 10/03/2016 Aceptado: 09/05/2016 Publicado: Mayo de 2016

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