Revista: CCCSS Contribuciones a las Ciencias Sociales
ISSN: 1988-7833


BIBLIOTECAS PÚBLICAS E AÇÕES CULTURAIS COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO LOCAL

Autores e infomación del artículo

Rosângela Maria Costa Bernardino

Áurea Regina Guimarães Thomazi

Centro Universitário UNA, Brasil

rmcbernardino@yahoo.com.br

RESUMEN
 El artículo aborda el papel fundamental que las bibliotecas públicas ejercen en la sociedad para el perfeccionamiento y el desarrollo de la ciudadanía. Y para que eso ocurra, es necesario que las bibliotecas correspondan a las necesidades de la comunidad donde se ubican para que todos puedan utilizarlas de manera efectiva. La implementación de acciones culturales viene siendo un factor impactante en las bibliotecas públicas frente a la necesidad de inserción de los individuos en ese espacio. Esas acciones las hacen más visibles y pueden contribuir para que los ciudadanos empiecen a sentir que hacen parte de ese lugar. Por medio de una diversidad de acciones culturales, se nota que esos espacios de lectura pueden desarrollar, de manera más efectiva, su papel social en el lugar donde actúan, contribuyendo para un avanzo en la calidad de vida y en el desarrollo local.  
Palabras-clave: Biblioteca pública, Acciones culturales, Desarrollo local, Calidad de vida, Inclusión social, Socialización
ABSTRACT
The article discusses the key role that public libraries play in society for the improvement and the development of citizenship. And for this to happen, it is essential that the public libraries correspond to the community demands where they are inserted so that the services provided by them can be better enjoyed and used by all. The implementation of cultural activities has been an impactful component in public libraries considering the need for inserting people in this space. These actions make the library's importance more apparent to the community where they operate and can contribute in such a way that users begin to feel themselves part of the libraries. Through a variety of cultural activities, it is clear that these reading spaces can develop their social role more effectively and contribute to the improvement of the users’ quality of life, and the development of the surroundings where the public library is located.
Keywords: Public Library, Cultural Activities, Local Development, Quality of Life, Social Inclusion, Socialization

RESUMO
O artigo aborda o papel fundamental que as bibliotecas públicas exercem na sociedade para o aprimoramento e o desenvolvimento da cidadania. E para que isso aconteça, é necessário que elas correspondam às necessidades da comunidade onde estão inseridas para que sejam bem utilizadas por todos. A implantação de ações culturais tem sido um fator impactante nas bibliotecas públicas frente à necessidade de inserção dos indivíduos neste espaço. Estas ações as tornam mais visíveis e podem contribuir para que os cidadãos comecem a se sentir fazendo parte delas. Por meio de uma diversidade de ações culturais percebe-se que esses espaços de leitura podem desenvolver de forma mais efetiva seu papel social no lugar onde atuam, vindo a contribuir para a melhoria na qualidade de vida e no desenvolvimento local.
Palavras-chaves: Biblioteca pública, Ações culturais, Desenvolvimento local, Qualidade de vida, Inclusão social, Socialização



Para citar este artículo puede uitlizar el siguiente formato:

Rosângela Maria Costa Bernardino y Áurea Regina Guimarães Thomazi (2016): “Bibliotecas públicas e ações culturais como fator de desenvolvimento local”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, (abril-junio 2016). En línea: http://www.eumed.net/rev/cccss/2016/02/biblioteca.html

http://hdl.handle.net/20.500.11763/CCCSS-2016-02-biblioteca


1 INTRODUÇÃO

        O advento da Internet no Brasil na década de 1990, quando passou a ser de acesso público, trouxe grandes avanços para a sociedade, pois muito facilitou para uma grande variedade de serviços, ampliando também as formas de comunicação que passaram a ser sem fronteiras, aproximando culturas diferentes e fazendo com que as informações chegassem em tempo real. Mas se por um lado a Internet foi bastante benéfica, por outro, provocou um retrocesso nas relações humanas. O isolamento social aumenta a cada dia, tirando a oportunidade de as pessoas se socializarem em espaços públicos. Os indivíduos estão se afastando de espaços informacionais que promovem o encontro, o debate presencial sobre temas que dizem respeito à comunidade local e que possibilitam novas perspectivas de vida voltadas para a cidadania e o desenvolvimento local. Nesse sentido, as bibliotecas podem ser consideradas um desses espaços, mas grande parte delas não tem caminhado no mesmo ritmo das tecnologias para oferecer acervos atualizados, promovendo atividades de interesse para toda a comunidade e também espaços físicos aconchegantes e atraentes, fazendo com que as pessoas tenham vontade de sair do isolamento social para frequentá-las.
        As pessoas têm se afastado do ato de ler material impresso e de compartilhar espaços de interação sociocultural presenciais; elas estão se afastando umas das outras fisicamente, procurando amigos virtuais por meio de redes sociais, havendo com isso certo abandono da sociabilidade física nas cidades como mostra Cabral (1999, p. 44):
É indiscutível que as novas mídias tiveram consequências na direção da sociedade, ao modificar hábitos e padrões culturais, e influenciar a maneira como vemos a nós mesmos e o mundo que nos cerca. [...] Os maiores riscos se referem ao isolamento de indivíduos e grupos fragmentados que, incapazes de se relacionarem, perdem suas referências culturais e ficam anestesiados diante da realidade, sem se preocuparem em compreendê-la para agir sobre ela.
        Boff (2000, p. 19) fortalece essa opinião ao afirmar que “há um descuido e um abandono crescente da sociabilidade nas cidades. A maioria dos habitantes sentem-se desenraizados culturalmente e alienados socialmente.”
        Essa realidade apontada por Cabral e Boff em 1999 e 2000, respectivamente, ainda persiste nos dias atuais. Isto é muito preocupante, pois as pessoas acabam fechando o círculo de amizades e deixam de lado aquelas pessoas ou grupos etários que não têm acesso a redes sociais, seja por condições financeiras, seja pelo analfabetismo digital ou mesmo por opção, e acabam se isolando socialmente.
        A biblioteca pública poderia ser considerada um espaço público em que diferentes segmentos da sociedade pudessem ser favorecidos, independentemente de raça, religião, idade, sexo, condições sociais; entretanto, muitas vezes, a população e os governos, seja da instância federal, estadual ou municipal, não dão o devido valor ou ignoram sua real importância (FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL, 2000).
        Apesar de as bibliotecas públicas existirem no Brasil desde 1811, observa-se que ainda hoje elas enfrentam inúmeras dificuldades ou obstáculos como a falta de investimentos em acervos atualizados, limites no acesso à informação através das novas tecnologias, na capacitação de seus funcionários, em espaços adequados para que elas sejam ambientes convidativos, aconchegantes e também em ações culturais que possam transformar as pessoas e contribuir com o desenvolvimento local. Isto foi comprovado no primeiro Censo Nacional das Bibliotecas Públicas Municipais realizado no ano de 2010 pela Fundação Getulio Vargas (BRASIL, 2010).
        De acordo com o Censo, a situação das bibliotecas públicas brasileiras ainda é bastante crítica, pois estes espaços se apresentam como ambientes de pequeno porte, com profissionais atuantes na maioria das vezes não qualificados, com grande parte de seus acervos compostos apenas por doações e com a falta de informatização na maioria delas (BRASIL, 2010).
Apesar dos vários avanços e recuos Ferreira (2006) ressalta que a biblioteca tenta  transformar sua estrutura e adequar seus serviços para oferecê-los com qualidade e procurando influenciar no desenvolvimento do município onde atua com o objetivo de democratizar o conhecimento.
        A biblioteca pública deve ser vista como uma instituição que deve prestar serviços a toda a comunidade para poder desempenhar suas funções educacionais, recreacionais, culturais e informacionais e contribuir para a melhoria na qualidade de vida e no desenvolvimento local, proporcionando acesso gratuito de informações para todos.
        Nesse sentido Silveira e Reis (2011, p. 39) alegam que
[...] são elas que, dentre as outras tipologias de bibliotecas, mais se dedicam a sanar as necessidades e anseios dos distintos usuários que compõem a esfera social responsável por viabilizar sua existência. Preocupação que, por sua vez, se faz notar por meio de quatro funções básicas: a cultural, a informacional, a recreativa e a educacional.
        Para que isto aconteça, além do apoio do poder público local, é necessário que a biblioteca estabeleça um vínculo com a população, a fim de conhecer seus interesses e necessidades visando assim, contribuir para o desenvolvimento cultural, social e intelectual dos indivíduos que a frequentam.
       É importante salientar em relação à comunidade, a importância de uma biblioteca pública como prestadora de serviços para a educação, socialização e preservação da cultura.
Na realidade a biblioteca pública deve constituir-se cada vez mais em um centro convergente das aspirações comunitárias, ou seja, deve ter uma identificação muito grande com sua comunidade e contribuir para resolver os problemas que são próprios a mesma comunidade. (SUAIDEN, 1995, p. 20).
        Carbonell (2002) faz menção a algo que mudou para melhor nas escolas da maioria dos países, apesar da carência absoluta de recursos que continua existindo em algumas. Isto também está sendo percebido em bibliotecas públicas de alguns países, assim como nas brasileiras; alguns governantes estão tomando consciência e tentando adaptar estes espaços às novas necessidades da comunidade, como por exemplo o acesso às tecnologias de informação e comunicação (TIC’s) e também ações culturais sugeridas pela comunidade, visto que para eles a informação transformada em conhecimento é um fator importante para se buscar e conquistar a cidadania; sem ela não há como as pessoas reivindicarem ou reconhecerem seus direitos. Reis, Silva e Massensi (2011, p. 22) ressaltam que
a informação e cidadania são termos que se complementam e ambos dizem respeito à possibilidade de exercer sua função de cidadão, na medida em que o sujeito está no gozo de seus direitos civis, políticos e sociais.
        Para Suaiden (2014, p. 9) “ a biblioteca pública poderia se tornar um ponto de acesso mais eficiente, um meio de integrar a sociedade as comunidades que estão à margem dos processos cultural e educacional”. Assim sendo, este espaço informacional poderia  exercer um papel fundamental para a sociedade, pois contribuiria para que todos, e de modo especial aqueles que possuem baixo poder aquisitivo, possam ter acesso à informação e transformá-la em conhecimento, fazendo com que se tornem cidadãos conscientes de seus direitos e deveres.
2 MUDANÇA DE PARADIGMAS NAS BIBLIOTECAS PÚBLICAS E O DESENVOLVIMENTO LOCAL
        Muitas bibliotecas, além de possuírem espaços para leitura, procuram desenvolver outros ambientes voltados para as ações culturais visando despertar a curiosidade e o desejo das pessoas em conhecer estes espaços e se sentirem atraídas da mesma forma pelos livros. Milanesi (2002, p.93) ressalta que “no instante em que o público escasseia, ao invés de paralisar as atividades da biblioteca, deve-se dar motivos às pessoas para ampliarem seus conhecimentos”.
        Assim, as ações culturais podem ser esse ponto de partida para motivar as pessoas a frequentarem bibliotecas e, principalmente, permitir e possibilitar a participação da comunidade na construção e no planejamento dessas ações. As ações culturais ainda segundo Milanesi (2002), compreendem atividades culturais e de lazer que se apoiam em suportes diferentes do convencional, ou seja, do material impresso, mas também colaboram para a formação das pessoas em adquirirem novos conhecimentos, pois elas se desenvolvem coletivamente. Almeida (1987, p.33) esclarece bem as possibilidades da ação cultural ao afirmar que ela
busca a expressão e a criatividade dos indivíduos no grupo e na comunidade. Está ligada à ideia de transformação, de emancipação a partir da expressão. Diz respeito não apenas a produtos culturais acabados, como também às condições que levam à capacidade criativa, à produção cultural. Relaciona-se, por outro lado, ao processo de educação coletiva, no momento em que desenvolve atividades práticas e abre espaço para a troca de informações e a discussão sobre temas de interesse do grupo.
        As ações culturais a serem desenvolvidas em uma biblioteca pública devem ser sugeridas pelas pessoas que dela usufruem e não uma mera imposição, vinda de cima para baixo, pois como ressalta Carbonell (2002, p. 28) “as inovações que vêm de baixo, do próprio coletivo, têm mais possibilidades de êxito e continuidade do que aquelas que emanam de cima”.
        Ao se criarem ações culturais como forma alternativa para promover a informação, deve-se fazer com que as pessoas saiam dessas atividades beneficiadas e com acréscimos de conhecimentos. Dessa forma, pode-se dizer que a biblioteca está contribuindo para o desenvolvimento local. Ela contribui com a melhoria da qualidade de vida da população, despertando nas pessoas o direito à informação, seja ela formal ou informal. Na visão de Arenhardt, Castilho e Le Bourlegat (2009, p. 160)
o desenvolvimento local é entendido como um processo de transformação que envolve o ser humano como o principal beneficiário dessa mudança, numa perspectiva de melhoria da qualidade de vida de uma coletividade ou grupo de pessoas que fazem parte de uma comunidade.
        Anteriormente, o desenvolvimento local era visto mais no âmbito da área econômica e hoje se constata que ele também está sendo discutido no sentido de desenvolvimento humano, baseado no bem-estar e na qualidade de vida das pessoas.
        Algumas bibliotecas públicas estão procurando atrair cada dia mais frequentadores. Está-se tentando criar um novo modelo de biblioteca, mais atrativa, multifuncional e procurando desenvolver várias ações culturais em que todas as classes sociais possam participar e ter acesso à informação e outros serviços, assegurando assim seus direitos de cidadania e melhoria na qualidade de vida. Antes, as ações culturais desenvolvidas nas bibliotecas eram tidas apenas como novos serviços oferecidos por este espaço; não havia uma consciência dos profissionais que trabalhavam nestes espaços, da comunidade e do Estado de que estas ações, quando bem desenvolvidas e sugeridas pela população local, estariam contribuindo para o desenvolvimento local (MACHADO, 2015).
        Coelho Neto (1988, p. 5) enfatiza as ações culturais e sua importância para a sociedade ao dizer que elas são o “desejo de fazer da arte e da cultura instrumentos deliberados de mudança do homem e do mundo, de forma a possibilitar mais interações entre o homem e a sociedade”. Estas ações podem contribuir para a promoção da integração social da comunidade, estimulando a leitura e a pesquisa, podendo ainda ser as grandes responsáveis pela conquista de novos usuários, bem como pela fidelização daqueles que já frequentam a biblioteca.
        Além das ações culturais que promovem a participação da comunidade, torna-se necessário também incluir as bibliotecas na era digital e disponibilizar o acesso virtual, bem como receber um novo público nascido nesta nova era, que muitas vezes não possui computadores em casa, mas gostaria de ter acesso a essas novas tecnologias – as tecnologias de informação e comunicação (TIC’s).
        Embora a Internet tenha o lado de afastar as pessoas umas das outras fisicamente e facilitando em excesso a comunicação virtual, não se pode negar sua importância no século XXI e o fato de que as pessoas que não possuem nenhum acesso a ela acabam também por se sentirem isoladas ou muitas vezes discriminadas e segregadas. Por isso, cabe à biblioteca pública favorecer esse acesso possibilitando uma discussão e reflexão sobre seu uso e até mesmo utilizando-a para a promoção de outros recursos e suportes de leitura e comunicação.
        Vale ressaltar que tanto as ações culturais quanto as TIC’s são de suma importância, pois fazem com que as bibliotecas criem espaços mais dinâmicos e com uma maior participação do público e não fique alheia ao que está acontecendo na sociedade atual e que os indivíduos não saiam passivos de tudo o que eles aprenderam, mas transformados e com uma nova visão de mundo.
        Milanesi (1989, p. 14) ilustra esta situação ao dizer que “um bebê que todos os sábados é transportado num carrinho de compras no supermercado, quando começa a falar já é um consumista, vivendo as regras do sistema.” Se pelo menos uma vez por semana ele puder ter a oportunidade de frequentar uma biblioteca para se familiarizar com os livros e com outras atividades proporcionadas por este espaço certamente se tornará um cidadão mais informado e com mais chances de ser consciente de seus direitos e deveres.
        Portanto, a biblioteca poderá vir a ser mais presente junto à comunidade onde ela atua, bem como poderá se tornar um espaço que possa promover a interação entre a comunidade e atender as necessidades e carências informacionais. Isto poderá gerar impactos positivos a médio e longo prazo na localidade onde está inserida, pois possibilitará melhor qualidade de vida para a população devido à socialização, uma melhoria na autoestima e no rendimento escolar dos estudantes.
        Na América Latina pode-se citar como exemplo a Colômbia que procura investir socialmente em bibliotecas e fazendo com que a população frequente estes espaços informacionais visando à melhoria na qualidade de vida, na autoestima e na socialização e reduzindo a violência. Foram criadas bibliotecas públicas mais dinâmicas, envolvendo várias ações culturais visando minimizar esta situação. São conhecidas como bibliotecas-parques.
        Com a criação destas bibliotecas, houve impactos econômicos, sociais e políticos e a economia melhorou muito na Colômbia; os locais passaram a ser visitados por colombianos de outras localidades e por estrangeiros que nunca pensaram em frequentar os locais onde estas bibliotecas foram instaladas por causa da violência. Houve um grande investimento em segurança e transporte para receber os turistas e a população local também foi privilegiada com estes serviços. O aumento da autoestima dos moradores da região e o sentimento de pertencimento geraram melhores condições de vida, proporcionando assim o aumento da igualdade social e o desenvolvimento local (DOMINGUÉZ, 2009).
        Investir em espaços informacionais aconchegantes, atraentes e multifuncionais envolvendo a população faz com que esta se apodere destes locais e perceba que pode recuperar sua dignidade humana, fortalecer as relações sociais e respeitar as culturas diferentes sem praticar a violência. A população sente o empoderamento ao perceber que pode debater sobre assuntos de interesses locais e ser ouvida pelos governantes.
        Outro país da América Latina que também investiu nas bibliotecas públicas foi o Chile. Ele se preocupou em instalar computadores e internet em todas as bibliotecas públicas do país para oferecer cursos de alfabetização digital nos níveis básico e avançado para capacitar principalmente a população de baixa renda. As bibliotecas passaram a ser vistas como lugares de aprendizagem e inclusão digital pela população que começou a frequentar estes espaços para este fim e acabaram despertando maior interesse pelos livros.
        No Brasil, a partir de 2010, os governos dos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo começaram a seguir o mesmo caminho da Colômbia; começaram a criar bibliotecas-parques em áreas periféricas e centrais das capitais para melhorar o índice de violência, analfabetismo e socialização. No estado do Rio de Janeiro foram desenvolvidos projetos de bibliotecas-parques vinculadas ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Foi o primeiro estado brasileiro a implantar esse novo conceito de bibliotecas que se preocupa com a inclusão social e contribui com o desenvolvimento local.
        A primeira biblioteca criada nesse novo modelo, isto é, promover o desenvolvimento local através de ações culturais foi inaugurada em 2010 no Complexo de Manguinhos, na região Norte da cidade do Rio de Janeiro. É um espaço cultural e de convivência que oferece à população de baixa renda a oportunidade de melhorar a autoestima, a qualidade de vida, a educação local. As ações culturais desenvolvidas têm a finalidade de promover o gosto pela leitura nos mais diversos suportes, além de estimular a produção e difusão das produções artísticas da comunidade.
        Em julho de 2011 foi reinaugurada a biblioteca pública de Niterói que passou a ser também uma biblioteca-parque visando maior proximidade com a população. Está localizada no centro da cidade de Niterói e oferece espaço para a leitura convencional e conta também com espaços para exibições individuais de filmes, exposições, etc. Oferece ações culturais como saraus de poesia, peças teatrais, shows de música e leituras dramatizadas.
        A terceira biblioteca-parque foi inaugurada em julho de 2012 no Complexo da Rocinha, outra região marcada pela violência e pelo tráfico de drogas. Está localizada na região Sul da cidade do Rio de Janeiro.  É um espaço que abriga sala de multiuso para cursos, DVDteca, cineteatro, estúdio de gravação e edição audiovisual para incentivar os talentos locais, além de sala de internet comunitária, cozinha-escola e café literário. Segundo a Superintendente de Leitura e Conhecimento da Secretaria Estadual do Rio de Janeiro, Vera Saboya1 ,
[...] este espaço ocupa um papel muito importante na comunidade. A Rocinha é uma comunidade repleta de artistas, agentes e mediadores culturais. Ela tem vocação cultural muito grande. O modelo de Biblioteca-Parque é um espaço múltiplo que trabalha todas as artes: música, cinema, teatro, literatura, gastronomia, etc.
        Em abril de 2014 foi reinaugurada a Biblioteca Parque Estadual (BPE) e está localizada no centro da capital carioca. É um local que oferece leitura em formato convencional, mas procura oferecer também o entretenimento, o lazer, a aquisição de novos conhecimentos através de vídeo, música, teatro e artes; é um espaço de educação informal.
        No estado de São Paulo, a Biblioteca de São Paulo (BSP) passou a funcionar também como biblioteca-parque. Inaugurada em fevereiro de 2010, funciona no Parque da juventude em Santana, na Zona Norte da cidade, onde funcionava a antiga Casa de Detenção do Carandiru. Procura atender as necessidades culturais, educacionais, recreacionais e informacionais de todas as classes sociais.
        Em dezembro de 2014 foi inaugurada outra biblioteca-parque em São Paulo  na Zona Oeste da capital. Ela encontra-se dentro do Parque Villa Lobos – é a Biblioteca Parque Villa Lobos (BVL). Além de possuir livros com foco na literatura , possui também revistas, jornais, livros eletrônicos, audiolivros, DVDs e CDs. Promove ações culturais como a contação de histórias, mediação de leitura, cursos, apresentações teatrais e musicais, exposições, saraus e encontros com escritores. Ela conta também com salas de criatividade, sala de jogos eletrônicos interativos e de tabuleiro, computadores com acesso à Internet e café bar.
        Ferraz (2014, p. 21) enfatiza que “a biblioteca pública tem hoje um papel fundamental na sociedade, na medida em que se torna um local de interação, debates e manifestações culturais e artísticas, extrapolando seu papel de democratização da cultura letrada”.
        Segundo Dowbor (2008), é preciso deixar para as gerações futuras algo melhor, ou seja, criar uma cultura participativa que permita viver e não apenas se proteger e sobreviver. Assim sendo, a criação de ações culturais em bibliotecas públicas com a participação da comunidade também pode ser uma forma particular de promover a qualidade de vida da população, a socialização, de transformar as pessoas e suas expectativas, de obter informação e conhecimento contribuindo assim com o desenvolvimento local.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
        A partir destas reflexões, pode-se dizer que o acesso à informação colabora para que as pessoas melhorem sua qualidade de vida, fazendo com que elas tomem consciência de seus direitos e deveres podendo exercer plenamente a cidadania. Investir em cultura pode contribuir com o desenvolvimento local e fazer com que haja maior inclusão social, em que uma maior quantidade de indivíduos, independentemente de raça, religião, classe social, escolaridade, possa ter acesso a direitos básicos.
        Investir em melhorias nas bibliotecas públicas, tanto em espaço físico quanto em acervos atualizados, pessoal capacitado e principalmente na criação de ações culturais é um grande desafio para o Estado, pois elas devem servir a toda comunidade onde estão inseridas, sem qualquer forma de discriminação. As bibliotecas devem ser o espaço público do diálogo, da interação entre a comunidade, da promoção da inclusão social. Elas devem oferecer várias ações culturais que possam contribuir para o crescimento das pessoas fazendo com que adquiram novos conhecimentos e possam ser transformados.
        Para que se criem ações culturais duradouras em uma biblioteca pública, é necessário ouvir a comunidade, fazer um diagnóstico participativo entre a população, o poder público local e os profissionais que trabalham nestes espaços para conhecer o que é de interesse para todos; pensar que estas ações devem ser desenvolvidas para e com a população com a finalidade de democratizar o acesso ao conhecimento, fomentar a leitura, promover a interação social e a educação.
        Ao se propor a criação de ações culturais a partir de propostas vindas da comunidade, haverá um maior comprometimento de todos em melhorar a qualidade de vida, a educação, a autoestima  e estas ações serão um elemento facilitador para o desenvolvimento local.
        Por fim, resta-nos saber se realmente o Estado, os profissionais que trabalham em espaços informacionais e a sociedade em geral estão interessados em atuarem de forma conjunta, investindo na inclusão social e contribuindo com o desenvolvimento local.

REFERÊNCIAS

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1                  RIO DE JANEIRO. Secretaria Estadual de Cultura. Disponível em: <http://www.cultura.rj.gov.br/apresentacao-espaco/>. Acesso em: 22 set. 2014.

Recibido: 01/03/2016 Aceptado: 09/05/2016 Publicado: Mayo de 2016

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