Revista: CCCSS Contribuciones a las Ciencias Sociales
ISSN: 1988-7833


CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE ATRAVÉS DA IMPRENSA: A PERDA DA AUTENTICIDADE INDÍGENA?

Autores e infomación del artículo

Liz Carolina Yegros Cuevas

Fabiana Cristiane Lagasse

Denise Rosana da Silva Moraes

Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Brasil

liz.yeg@gmail.com

Resumo: O objetivo do trabalho é estudar os “indígenas” e como estes indivíduos são vistos na nossa sociedade.  Assim, o estudo oferece uma discussão interessante sobre os indígenas e como as imprensas influenciam na forma de como eles são representados. O momento em que eles se encontram é diante uma identidade imposta pelos próprios meios mediáticos. Para tal, levaremos em conta a análise de como é o tratamento dos indígenas no jornal paraguaio ABC Color, a revista brasileira Veja e o jornal brasileiro Folha de São Paulo. Como resultado se quer compreender como a nossa construção da realidade é fortemente influenciada pela mídia. Percebe-se que com o tempo estes grupos nativos vão sofrendo mudanças culturais. Tomaremos como marco teórico os Estudos Culturais que podem contribuir para a compreensão dos acontecimentos. Pretende-se desse modo responder a questão de se há uma perda de autenticidade indígena?

Palavras chaves: Indígena, Mídia, Jornal ABC Color, Revista Veja, Folha de São Paulo.



Para citar este artículo puede uitlizar el siguiente formato:

Liz Carolina Yegros Cuevas, Fabiana Cristiane Lagasse y Denise Rosana da Silva Moraes (2016): “Construção da identidade através da imprensa: a perda da autenticidade indígena?”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, (abril-junio 2016). En línea: http://www.eumed.net/rev/cccss/2016/02/autenticidade.html

http://hdl.handle.net/20.500.11763/CCCSS-2016-02-autenticidade


Introdução

            O artigo pretende traçar a discussão sobre o protagonismo indígena na imprensa. A primeira fase dedica-se a uma aproximação de quem são os grupos nativos, muitas vezes considerados utópico-imaginários, já que objetivo dos jornais, em sua grande maioria, tem sido passar uma imagem distorcida dos indígenas. Por isso a importância de trazer ao estudo os indígenas deve-se a necessidade de repensar o mundo indígena em que ponto a sua representação como indivíduo é prejudicada e discriminada. Na escola mesmo, trata-se o “índio” como um problema que corresponde ao passado, preocupando-se mais pelos problemas dos mestiços e deixando de lado a questão indígena.
Mas quem são os indígenas? Atualmente existe um conceito objetivo e inclusivo; descrevendo como aqueles que têm laços com seus territórios e recursos naturais e o mais importante são consideradas comunidades nativas que preservam a sua língua, cultura e crenças distintas. Toma-se o Diário ABC Color do Paraguai, já que a mesma tem um discurso bastante elitista e preconceituoso diante das comunidades indígenas. Conotá-los como um ser diferente que ameaça e possibilita a instabilidade da sociedade em si. Nos jornais fica visível o uso pejorativo do conceito “indígena”. Deste modo tomaremos a mídia impressa como fonte principal.
Nesta perspectiva apresenta-se também, a revista brasileira Veja veiculada na data de sete de novembro de 2012, tendo como foco a reportagem “A Ilusão de um paraíso”, escrita por Leonardo Coutinho e Kalleo Coura. Reportagem que teve ampla repercussão na época por se remeter de modo preconceituoso e negativo tanto a comunidade indígena Guarani Kaiowá, como não indígena (antropólogos, Conselho Indigenista Missionário - CIMI, Funai, Ongs), pessoas que estão ligadas a este povo.
Por fim, o jornal brasileiro Folha de São Paulo, mais especificamente a coluna de Luiz Felipe Pondé, veiculada no dia dezenove de novembro de 2012, com o seguinte título “Guarani Kaiowa de boutique”, onde criticam veementemente internautas que usaram em seus perfis do facebook o nome Guarani Kaiowa como sobrenome em forma de apoio a comunidade indígena, além de, assim como as demais mídias apresentadas, julgar o índio como um mero coadjuvante da história do Brasil ao qual não se deve nada, pelo contrário tem que aprender a sobreviver sozinho sem depender do Estado.
Em suma todas as mídias aqui apresentadas sejam elas impressas ou veiculadas na internet abordam de maneira totalmente explicita suas posições e pensamentos no que tange a representação que fazem sobre os indígenas e suas comunidades. Diante disso essa mídia será a fonte principal deste artigo.

2. OS INDÍGENAS: FOCO DE DISCUSSÃO

Pensar neste grupo social nos faz repensar o passado, não podemos negar que os indígenas são a principal referência de nossos valores culturais, de nossas tradições. Eles foram e seguem sendo a principal base de uma sociedade. Já que para compreender a história do Brasil colonial há que olhar para os indígenas pela importância que eles tiveram no processo colonial. Segundo Ronaldo Vainfas (2000) as comunidades primitivas ajudaram a vencer os espanhóis e portugueses, sem eles seria difícil conseguir a vitória.
A questão indígena vai tendo importância nos meios de comunicação, sendo eles tratados como “diferente” motivo que permite posicioná-los em uma condição desigual. Desigual no sentido que são menos favorecido e subjugado pela aparência e pelo próprio preconceito.
Há uma cultura veiculada pela mídia cujas imagens, sons e espetáculos ajudam a urdir o tecido da vida cotidiana (...). A cultura da mídia também fornece o material com que muitas pessoas constroem o seu senso de classe, de etnia e raça (...). Ajuda a modelar a visão prevalecente do mundo e os valores mais profundos (...) (KELNER, 2001, p. 9).

            Desta maneira atribui-se a cultura indígena como inferior; descrevendo-a sem elementos positivos e pouco atrativos. Resulta que a “cultura indígena” não é o ideal para uma sociedade. O indígena só será valorizado no momento em que eles renunciarem de “ser indígenas”.
El estilo de vida occidental, implicado con la “civilización”, en cambio es considerado mejor y en las propias palabras de ABC Color “más alto”, lo cual se ajusta como indicador de la subvariable consideración de la superioridad o no de la organización sociopolítica occidental (BENITEZ, 2013, p. 216).

            Com isso torna-se essa sociedade indígena inferior à sociedade branca, só contribuiriam na transmissão de conhecimentos de floresta e vocabulários. Uma vez que a mídia representa os índios influencia na forma como eles são vistos pela sociedade, discursos que vão silenciando-os. “Infelizmente, na maioria dos casos a representação social do índio apresentada pela mídia distorce fatos, excluindo testemunhas indígenas para privilegiar interesses políticos” (MINARDI, s/d, p.5).
Hoje em dia os indígenas vão ocupando espaço no mundo acadêmico e na sociedade internacional. Mesmo que na mídia estejam sendo denegridos e permitindo-lhe a própria perda da identidade segundo alguns atores. Isto nos leva a analisar os caminhos que os indígenas vão enfrentando. Assim nos deparamos com os jornais, meios que expressamente descrevem os grupos nativos. Observa-se a continuação;

3. ATRIBUIÇÕES DA IMPRENSA DADAS AOS GRUPOS NATIVOS

Jornais; como ABC de Paraguai falam de como na sociedade atual vai sendo despertado interesse pelos nativos fazendo assim que eles sejam urbanos. Zanardini em ABC Color (2012)1 faz uma explicação antropológica.  Sua postura é que já existe uma identidade indígena urbana, já não são como moravam na selva, mas seguem sendo indígenas, por mais que utilizem celulares; se fosse assim nós também deixaríamos de ser quem somos porque também usamos celular. Conforme Canclini, “nos vamos alejando de la época en que las identidades se definían por esencias ahistóricas: ahora más bien se configuran por el consumo, depende de lo que uno posee o es capaz de llegar a apropiarse2 .
O autor Canclini em seu texto intitulado consumidores e ciudadanos (1991) explica de como a sociedade atual é desenhada- argumenta a existência de transformações através das tecnologias que vem gerando o desejo de aquisição. No entanto, isto vem ocasionando identidades instáveis que tendem a se inovar. Então as posições do sujeito na atualidade são contraditórias, frágeis e sujeitas à rápida reconstrução. Nas palavras de Kellner (2001, p. 24) “a identidade é construída e não dada (...) sendo considerada uma questão de escolha, estilo e comportamento e não uma qualidade moral ou psicológica”. Então quando falamos de uma perda da identidade indígena estaríamos errados, já que a identidade na atualidade é a representação. Assim qualquer coisa que os indígenas adotem vai chamar a atenção das mídias em geral. Em efeito quando os indígenas decidem comprar e utilizar tecnologias só estariam optando por seu bem-estar.
Segundo o autor Paraguaio Gustavo Portillo (2013), o Diário ABC tem representado os indígenas como preguiçosos que detém grande quantidade de terras do Paraguai, mas que não conseguem trabalhá-las e desse modo não conseguem sair de sua condição de pobreza. Conforme Portillo o diário vai tendo uma visão euro-centrista devido a que considera que os indígenas precisam é uma educação no marco da cultura europeia onde o problema indígena só acabaria com a civilização dos selvagens. Então o que eles precisam é uma educação?
A autora Martha Patiño no seu texto intitulado Educação Indígena en México. Uma revisión histórica (1975), fala que a educação indígena não tem dinâmica própria, o que eles passam é por uma educação imposta: com seus próprios horários, seus calendários e com certa restrição de expressar sua habilidade criativa e sua maneira de ver o mundo. Martha Patiño em sua análise explica que a solução indígena não está em frequentar à educação, mas sim encontrar nela o necessário. Esta contribuição nos ajuda a razoar e tomar consciência que no processo colonial o propósito missionário foi evangelizar os grupos nativos; pelas memórias: escritas e orais se pode supor que esta foi uma imposição externa que não trouxe uma sociedade igualitária e sem problema.
Assim a autora afirma que a educação que os indígenas têm acesso, vai destruindo seus valores, muitas vezes tendo como objetivo a transformação do índio. Isso não quer dizer que eles deixaram de ser indígenas (...). Mas, que vão sendo privados de algumas tradições culturais (PATIÑO, 1997, p. 394). Já o diário ABC Color vê a preservação dos valores tradicionais indígenas como um atraso para a sociedade. No sentido de que os grupos nativos estariam atuando livremente, sem nenhum tipo de imposição. “Lo que ABC Color plantea es que mientras se piensa en mantener las culturas de los pueblos indígenas, los asuncenos sufren las ocupaciones de sus plazas, a lo cual también define como un “error” que “grava injustamente a todo el país” (PORTILLO, 2013, p. 218).
Em 2011, os indígenas Guaranis se manifestaram publicamente na Praça Uruguaia localizada na capital do Paraguai, a cidade de Assunção. De acordo com Bartolomeu Melia, foi demonstrada certa atitude de desprezo e vergonha para os Guaranis. Afirma  na citação que:

A algunos les llamaba incluso la atención que “todavía “hubiera indios y tuvieran la osadía de venir amostrarse en la ciudad. La permanencia durante largo tiempo de esos grupos indígenas en una plaza céntrica se hacía insoportable; y había que encontrar una solución, la que fuera, en realidad más para alejarlos de nosotros que para beneficiarlos a ellos. Lo que aparecía claro es que para los paraguayos los guaraníes no son paraguayos –aunque muchos se escandalicen e irriten frente a esta afirmación– (BARTOLOMEU, 2012, p. 5).

Esta reflexão ajuda a voltar ao passado de como este é um problema histórico que vem desde o processo de colonização. É sabido como os Guaranis, ainda hoje são considerados diferentes dos outros, “diferente” de uma forma negativa. Assim, é necessária uma consciência crítica que visa garantir o direito das comunidades indígenas. Os Guaranis em 2011 na praça uruguaia de Assunção tinham, “a intenção de comprar a fazenda: pecuária empresa agra São Pablo do Sr. Eliodoro Cohene no distrito de União, uma área de cerca de 7.800 hectares” (BARTOLOMEU, 2012, p. 5).
Assim por diante se observa uma imagem da família guarani. Os Guaranis são grupos ainda muito discriminados pela própria sociedade paraguaia. A seguinte frase evidência o nível de ignorância e consciência ingênua que ainda persistem. Bartolomeu (2012) apresenta o ponto de vista dos propios Paraguaios; quando ele descreve a seguinte frase “A algunos les llamaba incluso la atención que “todavía “hubiera indios y tuvieran la osadía de venir amostrarse en la ciudad”. Assim vêem os índios como um estorvo para seu bem-estar.

3.1. Família Indígena Guarani

4. SE OS ÍNDIOS NÃO SÃO PESSOAS, QUE SÃO?

            No dia 30 de agosto de 2013 o Jornal do Paraguai ABC Color 3 publica a preocupação que se tem pelas comunidades indígenas, já que nesse momento o Paraguai estava passando por clima de frio e assim muitos indígenas se encontravam em condições lamentáveis, ou seja, desabrigados. No entanto, esta causa solidária não é vista positivamente pelo simples motivo da conotação utilizada no jornal. Observa-se a seguir.

4.1 Tratamentos Indígenas.

            A frase “si ven algun Indígena o persona” evidência de como os indígenas são separados do conceito de pessoa. Na medida em que reflexionamos esta frase; nos perguntamos: o que  nos faz pessoa? Compreendemos que “persona” se diferencia do animal porque fala. Por isso fica claro que ainda permanece forte a discriminação contra grupos étnicos, resulta que nossa sociedade ainda tem um pensamento colonialista, quando decide qualificar os indígenas como inferiores o neste contexto nem são tratados como “persona”. O problema ainda resulta mais grave.
Sin ánimo de desmeritar la intención de las personas de ayudar, fueron unos pocos usuarios de las redes sociales que protestaron por el vocabulario discriminador que se empleaba, a lo mejor hasta de manera inconsciente, separando a los nativos de “las personas4
Estamos conscientes de que a sociedade contemporânea, em si não tem valorização pelos saberes ancestrais, nem mesmo o interesse de conhecer suas tradições, culturas e crenças. E muitas vezes as nominações atribuídas aos nativos nem chegam a perceber se os incomodam.
            Já em 22 de setembro de 2014 o ABC COLOR5 apresenta um texto que assinala que os indígenas não têm apoio por parte do Estado. Consequências que os levam a migrarem em condição de pobreza.  No Paraguai vivem 112.000 índios, dos quais 75% por cento se encontra em extrema situação de pobreza.

4.2 Indígenas que decidem migrar para as Cidades são duplamente discriminados.

Desta maneira Raquel Peralta no jornal ABC Color (2014), afirma que: a metade dos nativos que vivem em Paraguai não tem acesso às terras, então decidem migrar para a cidade, e se encontram com outra dificuldade, onde as pessoas não os aceitam.  Assim ao expor o conteúdo do Jornal Paraguaio, percebe-se como o “ABC Color” num primeiro momento tem um discurso discriminativo e outras vezes só demonstra o ponto de vista das organizações indígenas. Às vezes falam que vem dos nativos outras vezes não. Por isso o grande desafio da sociedade em geral é formar uma consciência crítica, começando pela maneira como cada indivíduo observa os indígenas. Não se nega o poder de persuasão da mídia. Mas também não podemos vitimar as pessoas, porque cada um é ciente do que é bom ou ruim.
Já no Brasil, a revista Veja, também é exemplo de racismo e preconceito. A reportagem apresentada neste artigo diz respeito, a questão sociopolítica e territorial no Mato Grosso do Sul, onde os autores desta reportagem defendem os latifundiários, não reconhecem a organização política dos grupos indígenas, distorcem a atuação dos órgãos da região, além de incitar o ódio e o racismo para com os índios.
A comunidade Guarani Kaiowa da qual se trata esta reportagem é o segundo maior grupo indígena do Brasil segundo o IBGE, há 43400 membros desta etnia no país, outros 41000 residem no Paraguai. Porém, apesar deste número extremamente significativo, a revista Veja trata os Guarani Kaiowa como seres não pensantes quando afirma que:

Em sua percepção medieval do mundo, os religiosos do Cimi (Conselho Indigenista Missionário) alimentam a cabeça dos índios da região com a ideia de que o objetivo deles é unir-se contra os brancos em uma grande “nação guarani”. Ocorre que o território dessa nação coincide com a zona mais produtiva do agronegócio em Mato Grosso do Sul. O Cimi e algumas ONGs orientam os índios a invadir propriedades. A Funai também apóia o expansionismo selvagem. (Veja, 2012, p. 84)

Ou seja, não reconhecem que a comunidade indígena tem voz própria, mas alimentam a ideia de que os índios são manipuláveis pelas organizações públicas, assim como por religiosos, antropólogos e ONGs. Não bastando, ainda apresentam uma imagem estigmatizada dos indígenas:

“São comuns ali casos de depressão, uso de crack e abuso de álcool. A reserva Boqueirão, próxima a Dourados, abriga caiovás submetidos ao mesmo estado desesperador. Levantamento feito por agentes de saúde locais revelou que 70% das famílias indígenas têm um ou mais membros viciados em crack” (Veja, 2012, p. 84).

Essa imagem estimula o racismo, o ódio e o preconceito contra indígenas, problema histórico no Brasil e que pode intensificar a tensão e violência já sofrida por estes povos. É importante salientar aqui que a imagem indígena criada por esta reportagem visa vitimar ainda mais este povo, quando não valoriza sua cultura e seus direitos, mas defende os interesses dos grandes latifundiários daquela região, que por muitas vezes também mandam e desmandam nos meios de comunicação.
Sendo assim, as mídias influenciam na identidade indígena porque através dela os mesmos são difamados e inferiorizados porque são instrumentos que proporcionam olhares dominantes e possibilitam a prática do preconceito. Muitas crianças, jovens e até adultos tratam os indígenas como indivíduos que não deveriam ter importância e que nem deveriam ocupar espaço nas mídias. Dentro de uma perspectiva sociológica Hall (2005, p. 11) afirma que:

A identidade é formada na interação entre o eu e a sociedade. O sujeito ainda tem um núcleo ou essência interior que é o “eu real”, mas este é formado e modificado num diálogo contínuo com os mundos culturais “exteriores” e as identidades que esses mundos oferecem.

Ainda na reportagem da revista Veja (2012) os autores aconselham seus leitores a rezarem para que os antropólogos não tenham planos de levar os Kaiowa para outros estados, pois em pouco tempo todo o território brasileiro poderá ser reclamado pelos tutores dos índios. Não bastando incitar o ódio e o preconceito aos indígenas, acrescenta-se a repressão aos que levantam bandeiras a favor deste povo. Este tipo de reportagem comprova a visão do norte americano Douglas Kellner (2001) quando diz que o produto da cultura da mídia não tem entretenimento inocente, mas tem cunho perfeitamente ideológico e vinculam-se a retórica, lutas, programas e ações políticas. Ainda segundo Kellner (2001, p. 12):

No entanto, o público pode resistir aos significados e mensagens dominantes, criar sua própria leitura e seu próprio modo de apropriar-se da cultura de massa, usando a sua cultura como recurso para fortalecer-se e inventar significados, identidade e forma de vida própria. Além disso, a própria mídia dá recursos que os indivíduos podem acatar ou rejeitar na formação de sua identidade em oposição aos modelos dominantes. Assim a cultura veiculada pela mídia induz os indivíduos a conformar-se à organização vigente da sociedade, mas também lhes oferece recursos que podem fortalecê-los na oposição a essa mesma sociedade.

            Luiz Pondé em seu artigo veiculado na Folha de São Paulo intitulado Guarani Kaiwoa de boutique (2012), na folha de São Paulo, também trata de como as etnias utilizam está condição para obter benefício por parte dos Estados, de organizações, entre outros. O autor fala que os povos da floresta demandam desconto por parte do Estado para comprar Macintosh. Assim ironicamente Pondé afirma que quem financia e paga somos nós. Seu artigo demonstra que estes povos são como nós e que não precisam de nossa compaixão. A escrita do autor em si é preconceituosa quando ele fala que deveríamos “doar nossos phones para o pessoal da floresta, e também o que eles desejam é ter vida boa (fazendo compras no shopping Center)”. A continuação nas próprias palavras de Pondé.

Desejo que eles arrumem trabalho, paguem impostos como nós e deixem de ser dependentes do Estado. Sou contra parques temáticos culturais (reservas) que incentivam dependência estatal e vícios típicos de quem só tem direito e nenhum dever. Adultos condenados à infância moral seguramente viram pessoas de mau-caráter com o tempo6 .

Quando trazemos os indígenas como base de nossa discussão, o que procuramos é pensar como estes grupos nativos sofrem mudanças culturais, alguns intelectuais expressam como mudanças drásticas outros vêm como uma boa eleição porque assim eles deixaram de serem indivíduos “incultos”.
            De acordo com Sanne Derks (2006) “La cultura es siempre dinámica y sujeta a cambio”, não poderemos esperar que os indígenas permaneçam sempre iguais sem alterar a sua forma de viver, quando eles decidem utilizar o aparato celular não quer dizer que eles deixaram de lados seus saberes ancestrais: as culturas deles desapareceram. Está interpretação vem sendo tratada de maneira equivocada.
            Os indígenas até a atualidade são tratados como seres inferiores nos próprios jornais que tomamos como ferramenta essencial para compreensão, foi explicita a forma que representam/resignificam e os termos que chamam a atenção, quando o descrevem como “Invasores de terras e indivíduos que colocam a sociedade numa desordem”. Em que medida estes meios de comunicação é persuasiva, na medida em que vem a ser uma estratégia para distorcer a própria realidade que os indígenas vivem. Tudo na imprensa vem a ser estratégico, desse modo terão mais leitores e facilitarão o acesso aos jornais, o que eles buscam é chamar atenção provocar as pessoas que estão lendo e assim gerar comentários que faz parte do próprio trabalho da imprensa.
            Walter Benjamin analisa a questão de autenticidade (2012, p. 181), o autor expressa que mesmo na reprodução mais perfeita, a autenticidade se preserva. Caminha-se para uma técnica de reprodução: na medida em que uma obra se multiplica e vai substituindo a existência de uma única obra. Neste sentido só seria reproduzi-las, mas não acabaria com a original.  Faz-se necessário o uso do termo “autentica” para compreender a própria realidade indígena na atualidade. Vamos pensar autentico no sentido (original único e sem ter que omitir ou renunciar a sua própria cultura).
 Quando mencionamos o tipo de educação que os indígenas deveriam ter; percebemos que até o momento seus direitos, ou seja, seus valores individuais estão muito longe de serem prioridades. Os jornais mesmo demonstram que o “problema indígena” só teria seu fim se eles deixassem de ser indígenas. Portanto o caminho que eles devem percorrer é renunciar a sua identidade, a sua autenticidade?
Canclini (2007) colabora com conceito de autenticidade, supondo que a mesma já foi desconstruída, extinta, devido a que se vai deixando de lado o valor de si mesmo, ou seja, a “fidelidade” de manter seus valores tradicionais. Isto quer dizer que quando os indígenas começam a inserir-se nos padrões da moda vão perdendo respeito, porque a moda não lhes pertence. Assim qualquer indígena que tenta incorporar-se na sociedade atual, através da utilização de equipamentos eletrônicos (de celulares, etc.) faz com que  sejam vistos de maneira estranha. Fica explicito que se eles decidem escapar desse estilo de vida primitiva, seriam de alguma maneira, acusados de haver deixado suas raízes.

Conclusão

            Este estudo teve o propósito de evidenciar uma postura crítica, onde o foco é a percepção sobre as representações atribuídas aos indígenas. O Jornal do Paraguai ABC, Revista Veja e Folha de São Paulo do Brasil, espelham os “Índios” como selvagens, preguiçosos que só querem ter vida boa valendo-se de sua condição de indígena para lograr benefícios. É bastante distorcida a própria realidade destes nativos, como sabemos entre os próprios indígenas existem diferenças ideológicas, assim também grupos que se mantém afastados da sociedade em uma condição de isolamento (por decisão própria), mas também existem certos grupos que vão se inserindo nos padrões atuais que querem experimentar coisas que não correspondem a essa cosmovisão de mundo tradicional, mas conhecer e utilizar mecanismos que proporcionam distração e diversão.
Por isso existem autores que afirmam que há indígenas que compram celulares e que gostam de fazer compras. Isto muitas vezes é concebido como a perda da autenticidade, ainda se tem essa visão ingênua que os indígenas só deveriam ter sua paixão pela natureza, a defesa da língua e a cultura. Portanto ao aceitar a cultura moderna ou aderir ao consumo, por exemplo, a compra de celulares, entre outras coisas que não corresponde à sua necessidade básica é interpretada por alguns intelectuais como a perda de seus valores tradicionais da sua autenticidade. A autenticidade como essência, ou seja, como valor que faz parte de nossa originalidade.
Assim compreendemos que a cultura moderna vem a ser uma maneira de adaptação e sobrevivência. Por isso resulta que os indígenas não estão renunciando a sua identidade, mas estão se adaptando a uma nova forma de espaço a uma nova sociedade onde utilizar o “celular, navegar nas redes sociais, ter notebook” é estar na moda.
A interpretação feita dos indígenas enquadra-se nas memórias históricas que são transmitidas. Trazer a Bartolomeu foi primordial, porque ele discute como os Paraguaios que vivem em Assunção veem os “guaranis”.  Em função da qual são caracterizados por adjetivos negativos. O desrespeito por estes grupos ainda é muito grande, principalmente quando os indígenas decidem lutar pelas terras. Portanto se faz necessário apoiá-los e respeitá-los. Ao investigar, por meio de uma pesquisa científica, e trazer à luz essas discussões e problemáticas que envolvem os índios, é de fato dar visibilidade a tão importante discussão, que precisa passar por novas políticas de acolhimento do outro.
Por fim, é possível compreender que cada sociedade indígena tem sua peculiaridade, pois cada sociedade tem um ritmo diferente de vida e assim cada indivíduo tem sua própria identidade. O preconceito é uma doença que precisa ser extirpada e deve partir de uma conscientização por parte de toda a sociedade, reconhecendo os indígenas como seres diferentes e autênticos. Neste sentido é preciso uma Educação Intercultural que propicie o respeito e valorização do “outro”. Porém, o conceito atribuído aos indígenas encerra uma serie de definições que mostram os jogos de identidades que se desenvolvem. Finalmente concluímos assim que “os indígenas antes de serem indígenas são seres humanos”.
                                                                                              
Referências

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1 Hablarán de los 3.500 nativos urbanos. ABC Color.  Disponible: < http://www.abc.com.py/edicion-impresa/locales/hablaran-de-los-3500-nativos-urbanos-471591.html>. 31/10/2012.

2 CANCLINI, Néstor. Consumidores y Ciudadanos. Revista diálogos de la comunicación, núm. 30, Lima, 1991, p. 1.

3“Si ven algún indígena o personas…” ABC Color. 30/08/2013.  Disponível em: http://www.abc.com.py/especiales/fin-de-semana/si-ven-algun-indigena-o-personas-612224.html. Acesso em: 10 de setembro de 2015.

4 “Si ven algún indígena o personas…” ABC Color. 30/08/2013. Disponível em: http://www.abc.com.py/especiales/fin-de-semana/si-ven-algun-indigena-o-personas-612224.html. Acesso em: 10 de setembro de 2015.

5 Pobreza y racismo. Estigma de Indígenas. ABC Color. 22/09/2014. Disponível em: http://www.abc.com.py/nacionales/pobreza-y-racismo-estigma-de-indigenas-1288486.html. Acesso: 20 de setembro de 2015.

6 Guarani- Kaiwoa de boutique por Luiz Felipe Pondé. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/feira-livre/guarani-kaiowa-de-boutique-por-luiz-felipe-ponde/>. 21/11/2012.


Recibido: 17/03/2016 Aceptado: 10/05/2016 Publicado: Mayo de 2016

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