Gilvando Souza Silveira
Sérgio Luiz Cortinhas Ferreira Filho
Universidade Federal do Pará
gilcap20@hotmail.comResumo: As conquistas sociais sempre foram motivo de  grandes lutas e resistências do povo brasileiro, em se tratando das lutas e  resistências dos negros, esta questão ainda é tão latente quanto urgente.  Direitos assegurados pela Constituição Federal, mesmo após mais de 20 anos de  vigência, ainda não contempla todos os povos. Se no passado os quilombos  representam espaços de lutas e resistências dos negros, ainda hoje, onde estão  constituídos territórios onde vivem os remanescentes de povos quilombolas, são  palcos representativos de lutas por diversas conquistas ainda básicas, como  direito a uma escola de qualidade, saúde e lutas por direitos ao território  onde vivem, o que é condição primordial para a manutenção do modo de vida. Refletindo  sobre essas questões a luz de autores que já debruçaram sobre a temática, propomo-nos a partir de um estudo realizado na -  Associação de Remanescentes de Quilombos de Nova Esperança de Concórdia do Pará  (ARQUINEC), discutir sobre avanços e retrocessos no que tange a políticas  públicas destina aos quilombolas, considerando seus elementos culturais,  históricos e socioeconômicos. Esta associação é formada pelas comunidades de  Cravo, Igarapé Dona, Ipanema, Curuperé, Santo Antônio, Campo Verde, KM 35 e  Castalzinho e está localizada a margem direito do Rio Bujaru, zona rural do  Município de Concordia do Pará.
  Palavras-Chaves: Políticas Públicas, Comunidades Quilombolas,  Etnicidade.
PUBLIC  POLICY AND QUILOMBO COMMUNITIES: STUDY ON THE ASSOCIATION OF THE QUILOMBOLAS  REMENESCENTES AT CONCORDIA PARÁ (ARQUINEC)
  Abstract: Social conquers were always a motive to big fights  and people resistance in Brazil. In terms of the afro descendant fight  resistance, this question still is as constant as  urgent. The rights assured for the Federal Constitution still do not reach all  the people, even after twenty years of duration. Just like in the past, the  Quilombos represent the black people fight and resistance. The land where the  Quilombo people (called quilombolas) descendants live is a scenario that  represents the battle for basic rights, such as education quality, health care  and maintenance of their historical land, which are prime conditions for  maintaining their way of life. Under the light of experienced authors we  thought about these issues and propose, from a study made in the Associação de  Remanescentes de Quilombos de Nova Esperança de Concórdia do Pará (ARQUINEC),  to discuss about the advances and setbacks in regard to public policies for the  quilombolas, considering their cultural, historical and socioeconomics  elements. This association is composed by the Cravo, Igarapé Dona, Ipanema,  Curuperé, Santo Antônio, Campo Verde, KM 35 and Castalzinho comunities and is  located on the right bank of the Bujaru River, on the countryside of Concordia  do Pará city.
  Keywords: Public policies; Quilombo communities; Ethnicity. 
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Gilvando Souza Silveira y Sérgio Luiz Cortinhas Ferreira Filho (2015): “Políticas públicas e comunidades quilombolas: estudo sobre a associação dos remenescentes de Quilombolas em Concórdia do Pará (ARQUINEC) (Este Artigo foi apresentado originalmente durante o III Congresso Amazônico de Desenvolvimento Sustentável, realizado em Cuiabá-MT de 19 a 21 de novembro de 2014)”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, n. 29 (julio-septiembre 2015). En línea: http://www.eumed.net/rev/cccss/2015/03/quilombolas.html
No processo histórico de formação da sociedade brasileira, durante  alguns séculos os negros eram tratados como escravos, sujeitos a sua própria  sorte e ao bel-prazer dos seus senhores, para sair dessa  condição em que se encontravam, se refugiar em quilombos seria um marco da luta  contra a dominação colonial e de todas as lutas dos negros que se seguiram após  a quebra desses laços institucionais, quilombo e liberdade são, portanto,  contrafaces de uma mesma realidade histórica (Ilka, 2006). Assim como no  passado, os Quilombos representam os espaços de lutas e resistência dos negros.  Os territórios em que vivem os remanescentes de povos quilombolas são palcos  representativos de lutas por direitos básicos, como qualidade de educação,  saúde e posse do território onde vivem, o que é condição primordial para a  manutenção do modo de vida. A respeito da importância dos quilombos para a conservação  da cultura e lutas e resistências das populações tradicionais Almeida (2004)  diz que:
   Os  quilombos se mantiveram durante séculos através de uma unidade social com base  em estratégias de solidariedade, de produção de valores culturais, através da  combinação de formas de resistência que se consolidaram historicamente e o  advento de uma existência coletiva capaz de se impor às estruturas de poder que  regem a vida social.
   A assinatura da Lei Áurea sancionada em 13  de maio de 1888, extingue a escravidão do Brasil, liberta os negros da condição  de cativos e de certo modo escraviza-os fazendo-os viver a margem da sociedade.  Se por um lado, temos grandes avanços trazidos  pela constituição de 88, especificamente nos artigos 215 e 216 e no Art. 68 do  Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), por outro temos as  dificuldades de acesso dos povos a essas políticas. A esse respeito (FREITAS,  et al 2011) diz que somente em 1988, com a afirmação de seus direitos  territoriais por meio do Art. 68 do ADCT, os quilombos passaram a ser  reconhecidos oficialmente pelo Estado brasileiro. Mediante a isso, as  comunidades despertaram questões tanto do âmbito socioeconômico, espaciais,  jurídicas e culturais. 
   Contudo, vale ressaltar  que não foi de fato em 1988 que as comunidades quilombolas foram inseridas em  todas as políticas públicas, afinal sabe-se que até os dias atuais, esses povos remanescentes  ainda não usufruem de direitos que deveriam ter total acesso, o que constitui  um grande desafio. O acesso aos direitos destinados aos povos remanescentes de  quilombolas se dá somente via ao reconhecimento dos mesmos quanto a quilombola,  ou seja, o registro e titulação da área em que a comunidade vive, como terras  de quilombo.
   Diante do exposto, o  presente trabalho busca definir politicas públicas, suas formulações e  definições, como ela se aplica a realidade dos povos quilombolas e objetiva  discutir os avanços e impasses encontrados por estes povos para alcançar as  políticas públicas já asseguradas na legislação, para isso, teremos como estudo  de caso a ARQUINEC- Associação de Remanescentes de Quilombos de Nova Esperança  de Concórdia do Pará, que tem sede na comunidade quilombola de Santo Antônio,  localizada a margem direita do rio Bujaru, totalizando uma área de 5.802,1703  há.
2.1.  Área de Estudo 
      
   O Município de Concórdia  do Pará, onde está localizada nossa área de estudo, fez parte do Município de  Bujaru até o ano de 1988, quando adquire sua emancipação e torna-se um  município. A ARQUINEC se consolida em dezembro de 2001 com a participação das  seguintes comunidades: Cravo, Igarapé Dona, Ipanema, Curuperé, Santo Antônio,  Campo Verde, KM 35 e Castalzinho. Contudo, a titulação só veio com a declaração  concedida pela portaria do INCRA nº 391 de 02/12/2008, que reconhece como  território de remanescentes de quilombola a referida área, com perímetro de  51.879,51m, fazendo confrontações ao Norte: Colonos da Gleba Bujaru e Sr.  Manoel Rosa, ao Leste: Igarapé Jutaí-Mirim, Colonos da Gleba Bujaru e PA Nova  Santa Maria, ao Sul: Gleba Bujaru e terras da Comunidade Curuperé e ao Oeste:  Igarapé do Cravo e Rio Bujaru.
Para a elaboração deste trabalho, foi realizada uma pesquisa bibliográfica e documental, sobre a temática abordada e trabalho de campo realizado junto a ARQUINEC, nos períodos de abril a setembro de 2014, no qual métodos como a observação participante, bem como o Diagnóstico Rural Participativo (DRP) e a aplicação de entrevistas junto aos moradores
3. BREVE CONSIDERAÇÃO SOBRE A DEFINIÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS.
          Cabe aqui uma  breve definição de Políticas Públicas, bem como ela se desenvolve e se  transforma em ações para a sociedade. No período entre 1960 e 1970, a Política  Pública surge como subcampo importante dentro da disciplina Ciência Política.  Apesar de o tema “Política Pública” ser muito recente na sociedade brasileira,  é certo que através da mesma já houve grandes conquistas tanto em áreas  citadinas como no meio rural. Contudo, não podemos negar o quanto se deve  pensar e repensar sobre o esse temática, afinal existem consideráveis debates  sobre o mesmo. Um dos principais é saber se as Políticas Públicas existem  somente para visar o bem estar da sociedade, ou se estão relacionadas com as  vontades de seus formuladores, ou com o formato do Estado.
            A Política  Pública não possui um conceito único, ou mais viável e correto. Não existe nem  melhor, nem pior definição sobre o termo. O que se tem certeza é que toda  Política Pública jamais deve ter uma decisão isolada, sem um conjunto de  decisões, e que a mesma afeta intensamente a vida dos seres humanos que vivem  na sociedade. Mediante a isso, para comprovar que a definição do termo se da de  acordo com o contexto e com o objetivo de quem a está formulando, veremos  alguns importantes autores com seus respectivos pensamentos sobre a definição  do termo.
            Para  Potyara Pereira (2008), o processo de formação da Política Pública é uma  relação dialeticamente conflitante entre o Estado e a sociedade. É a ação  pública na qual além do Estado, a sociedade se faz presente, ganhando representatividade,  poder de decisão e condições de exercer o controle sobre a sua própria  reprodução e sobre os atos e decisões de governo. Já Dye (1984), define o termo  de uma forma incomum, porém com grande aceitabilidade. Para ele, Política  Pública é o que o governo escolhe fazer ou não fazer, ou seja, o autor  desnaturaliza o “não fazer”, pois muitas dessas omissões podem resultar em  decisões politicas. E vale ressaltar que essas “não ações” não são inócuas pelo  fato de não se realizarem. E Peters (1986) segue a via de que toda Política  Pública é a soma das atividades dos governos, que podem agir de maneira direta  ou indireta (por meio de delegação), influenciando na vida de todos os cidadãos  da sociedade.
            Certamente,  a Política Pública está para garantir o bem-estar social, porém isso varia de  acordo com o contexto e principalmente com o formato do Estado, afinal, ele  determina o que se deve ou não fazer. Por isso, é muito importante levar em  consideração o contexto a qual uma determinada Política Pública foi criada,  pois deixa transparente o nível de eficácia que a mesma possui na prática.  Portanto, observa-se através dessa análise dos pensamentos de diferentes  autores que o termo ”Política Pública” varia de acordo com o objeto a ser  estudado, com o objetivo do autor e o contexto, contudo todas estão para  garantir o “bem estar” social, visam assegurar direitos de cidadania, de forma  difusa ou para determinado seguimento social, cultural, étnico ou econômico.  Sem exceção alguma, é o governo que aprova ou não a execução de uma determinada  Política Pública. 
            O processo  de formulação das Políticas Públicas, se da a maioria das vezes pelos poderes  executivos e/ou legislativo, podendo esses estarem juntos ou separados para  receber as propostas e demandas da sociedade em variados seguimentos. Vale  ressaltar o quanto a participação dos cidadãos é importante nesse processo de  formulação, e isso está comprovado na Lei da Transparência (Lei Complemento nº.  131), onde diz que os poderes públicos em todas as esferas e níveis da  administração pública, são obrigados a assegurarem a participação popular.
            Apesar de  as Políticas Públicas serem novas em nosso país, existem várias que foram  formuladas para “assegurar” os cidadãos. Os exemplos mais comuns são: saúde,  moradia, educação, meio ambiente, a água (como bem de uso comum) e entre  outras. É plausível saber que diversas Políticas Públicas foram formuladas e  colocadas no âmbito social, entretanto é lamentável ver que ultimamente muitas  foram feitas para cuidar das necessidades urgênciais da sociedade, são  utilizadas como ações imediatas, para muitas vezes apenas conseguir conquistar  o eleitor.
                As  Políticas Públicas são constituídas por instrumentos, seja esses de  planejamentos, execução, monitoramento e avaliação, onde se juntam de forma  lógica através de planos – para estabelecer diretrizes, prioridades e objetivos  gerais a serem alcançados a longo prazo – programas – para estabelecer  objetivos gerais e específicos focados em um tema – ações – visa alcançar  determinado objetivo estabelecido pelo programa – e a atividade – para dar  concretude à ação.
            Assim como  qualquer outro programa que é ordenado principalmente pelo Governo, o processo  de formulação das Políticas Públicas também possuem fases, chamados de “Ciclo  das Políticas Públicas”. No total são 5 (cinco) fases, onde cada uma se diferencia  da outra mas ao mesmo tempo se complementam, como podemos observar:
   1º Fase – Formação da agenda: Devido às demandas existentes  na sociedade serem muitas e os recursos necessários para solucionar os mesmos  serem poucos, é impossível que os atores públicos resolvam todos os problemas.  Mediante a isso, é necessário que estabeleçam quais as questões serão inseridas  na lista de principais problemas da sociedade, e isso é chamado de “formação de  agenda”. 
   2º Fase – Formulação de políticas: No momento em que uma  situação se insere na agenda governamental, é necessário definir as linhas de  ação que serão dotadas para solucioná-la. É o momento onde deve ser definido  qual é o objetivo da política, quais serão os programas desenvolvidos e as  metas desejadas, logo, essa escolha deve se preocupar com o posicionamento dos  grupos sociais e deve ser feita ouvindo o corpo técnico da administração  pública, inclusive no que se refere aos recursos. 
   3º Fase – Processo de tomada de decisões: Podemos dizer que  a fase de tomada de decisões é o momento onde se escolhe alternativas de ação e  intervenção em respostas aos problemas definidos na agenda. Por exemplo, é o  momento onde se define os recursos que irão ser utilizados e o prazo temporal  de ação da política, e todas as escolhas realizadas nesse momento, são  expressas em formas de leis, normas, entre outros atos da administração  pública. 
   4º Fase – Implementação: É nessa fase que os planejamentos  e as escolhas são transformadas em atos. O responsável pela execução da política  é o corpo administrativo e é de inteira responsabilidade dele a chamada ação  direta, ou seja, a aplicação, o controle e o monitoramento das medidas  definidas. Podemos dizer que nesse período, dependendo da postura do corpo  administrativo, a política pode sofrer modificações drásticas. Existem dois  modelos de implementação das Políticas Públicas que são apresentados por  estudiosos, o primeiro é o “de cima para baixo” (do governo para a população,  aplicação descendente) e o segundo é “de baixo para cima” (da população para o  governo, aplicação ascendente). O primeiro modelo, de cima para baixo,  representa um modelo centralizado, onde poucos funcionários participam das  decisões, e o segundo modelo, de baixo para cima, é caracterizado pela  descentralização, afinal ele efetiva a participação dos beneficiários/usuários  permitindo que os mesmos possam ter contato direto com o aparato da  administração pública. Algumas deficiências podem aparecer nas implementações  das Políticas Públicas, porque quando se afeta negativamente o grau de  cooperação entre as organizações e a lealdade da burocracia aos formuladores,  as deturpações certamente começam a aparecer.
   5º Fase – Avaliação: Elemento crucial para as Políticas  Públicas, e por esse motivo, a mesma pode ser feita em todas as fases do ciclo  de Políticas Públicas, contribuindo para o sucesso da ação governamental e a  maximização dos resultados obtidos com os recursos destinados. O processo de  avaliação permiti a administração gerar informações úteis para futuras Políticas  Públicas, prestar contas de seus atos, corrigir e prevenir falhas, justificar  as ações e explicar as decisões, responder se os recursos estão produzindo  resultados esperados e da forma mais eficiente possível, identificar as  barreiras que impedem o sucesso de um programa, promover o diálogo entre vários  atores individuais e coletivos envolvidos e fomentar a cooperação entre esses  atores. O processo de avaliação de uma política leva em conta as funções  cumpridas pela mesma e também os impactos, busca determinar sua relevância,  analisar a eficiência e sustentabilidade das ações desenvolvidas. Na literatura  direcionada para Políticas Públicas geralmente encontramos duas divisões de  avaliação: A primeira se refere ao grupo responsável por avalia-la, onde se dividi  entre avaliação interna (conduzida pela equipe responsável pela  operacionalização do programa) e externa (feita por especialistas que não são  participantes do programa); E a segunda é a relativa à finalidade da avaliação,  onde se refere ao objetivo da avaliação, podendo ser formativa (buscando  informações úteis para a equipe na parte inicial do programa) ou somativa  (buscando informações sobre o valor ou mérito do programa a partir de seus  resultados).
             Portanto, a forma ideal para avaliar se a política foi um avanço na  sociedade, devemos analisar se ela cumpriu as seguintes funções: Promoveu e  melhorou os níveis de cooperação entre os atores envolvidos; Se constituiu em  um programa implementável; Reduziu a incerteza sobre as consequências das escolhas  feitas; Evitou o deslocamento da solução de um problema político por meio da  transferência ou adiantamento para outra arena, momento ou grupo e; Ampliou as  opções políticas futuras e não presumiu valores dominantes e interesses  futuros. Enfim, uma boa política deve fechar possíveis alternativas de ação.
Tem-se registro de  igualdade de direitos e igualdades raciais desde a constituição de 1934 no  artigo13, e segundo (TRECCANI, 2006) o mesmo dispositivo legal também era  encontrado na constituição de 1967 e 1969. Porém, a constituição de 1988 além  de prever igualdades de direito e racial, prever a manutenção das culturas e  direitos dos povos e comunidades tradicionais, prediz também em seu artigo 68  dos (ADCT) o direito dos remanescentes de quilombolas a posse definitiva das  terras em que habitam.
   É bem sabido que somente  após a constituição de 1988 e principalmente após o Brasil tornar-se signatário  da Convenção 169 da OIT, que é o instrumento  internacional vinculante mais antigo que trata especificamente dos direitos dos  povos indígenas e tribais no mundo, que surgem outros programas e ações no  âmbito nacional que deram visibilidade aos povos remanescentes de quilombolas.
   Estes dispositivos  jurídico-formais refletem não somente o compromisso o processo de reconhecimento  de domínio e a consequente expedição de título de propriedade definitiva,  principal reivindicação desses grupos, mas também insere estas populações em  uma série de políticas afirmativas que envolvem ações e programas  governamentais transversais (BRASIL, 2009). Concomitante a esses dispositivos  de base legal, vimos nascerem diversos programas e ações a nível nacional, que  buscasse corrigir essa lacuna de quase 500 anos em que o negro viveu a margem a  sociedade. Dentre esses programas e ações podemos destacar os seguintes  extraídos da obra “Guia de Politicas Sociais Quilombolas” (2009):
   Programa  Bolsa Família (PBF).
   Conforme consultamos, o Bolsa  Família, programa de transferência de renda do Ministério do Desenvolvimento  Social e Combate à Fome (MDS), atende a 24.000 famílias remanescentes de  quilombos, em 24 Estados, de acordo com os dados de setembro de 2009. Com a  inclusão no Bolsa Família, a população quilombola, além da renda, tem garantido  o acesso aos serviços de saúde e educação, que são exigências do programa. Criado  em 2003, o programa visa beneficiar famílias em situação de extrema pobreza e  funciona com a transferência de renda do valor que varia de 22 a 200 reais por  família. (Brasil, 2009. P. 15)
   Assistência  social.
   Garantir o atendimento  socioassistencial, de forma igualitária, aos povos e comunidades tradicionais  (povos indígenas, comunidades quilombolas, ribeirinhos, ciganos, entre outros)  constitui um grande desafio para a política pública de assistência social.  Nessa direção, a Secretaria Nacional de Assistência Social (SNAS), órgão do  Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), para atender as demandas  dessas populações, tem focado sua atenção em desenhos e estratégias que  contemplem ações adequadas às peculiaridades e expectativas desses segmentos  populacionais no âmbito do (SUAS) Sistema Único de Assistência Social (Brasil,  2009. P. 21)
   Programa  de Atenção Integral à Família (PAIF)
   Conjunto de ações de caráter  preventivo e protetivo destinadas ao atendimento integral às famílias, com foco  no enfrentamento de situações de dificuldades vivenciadas, prevenção de ocorrência  de violação de direitos e desenvolvimento habilidades. Fundamenta-se no fortalecimento  da cultura do diálogo, no combate a todas as formas de violência, de  preconceito e de discriminação nas relações familiares. As ações do PAIF devem  ser adaptadas para o atendimento das Comunidades Quilombolas. As metodologias  devem fazer referência aos valores, culturas e tradições dos quilombolas. Para  a adequação destas, recomenda-se o auxílio de um profissional de antropologia  que conheça o público a ser atendido. (Brasil, 2009. P. 23)
   Dentro desses programas e  projetos e projetos, vale destacar também as ações da Secretaria de Políticas  de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República Criada pela Medida  Provisória n° 111, de 21 de março de 2003, convertida na Lei 10.678, que tem  por finalidade a formulação, articulação, planejamento e acompanhamento de  políticas e diretrizes para a promoção da igualdade racial.
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
   Distante cerca de 150 km da capital Belém, Concordia tem suas origens com  a extração de madeira na microrregião de Tome-Açu na década de 1960. Atualmente  o referido município tem uma população total estimada em 30.801 habitantes  segundo projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),  conta uma área de 690,947km² gerando uma densidade demográfica de 40,84 hab./km².  Dados levantados pelo IBGE, tomado como base o ano de 2010, podem nos dar uma  visão geral do quadro geral da população de Concórdia. 
   Do total geral da  população autodeclarada preta, 430 famílias também se reconhecem como  remanescentes de quilombola, sendo que 50 famílias são domicilia das em área  urbana e 380 em área rural. A faixa da renda total da família das famílias  declaradas quilombolas que recebem até 1 (um) salário mínimo representa 6,7% e  0,5% o total de quilombolas que recebem entre 1 (um) e 2 (dois) salários  mínimos. 
   A partir de dados  obtidos durante a realização deste trabalho, percebemos que os dados gerais  fornecidos a partir de levantamentos do senso realizado em 2010, não são  dispares da realidade atual nas comunidades rurais negras que integram a  ARQUINEC. Atualmente, das 8 (oito) comunidades que integram a associação, foi  identificado alguns programas importantes sendo desenvolvidos, quando  questionados, os moradores nos relataram com orgulho algumas de suas  conquistas, porém, uma das mais importantes conquistas, relatado pela maioria  dos entrevistados foi a obtenção da titulação coletiva do Território. A  importância da titulação coletiva se dá em primeiramente para a preservação  ambiental da área, como podemos observar neste trecho da obra Nova Cartografia  Social da Amazônia:
   “Queremos a Cartografia para recuperar esse espírito de coletividade,  de usar a terra com equilíbrio. Certo que o grupo aumentou e o grupo quer  garantir seu território e reaver o que era antes. Por isso queremos chamar a  todos para lutar pela titulação do território quilombola... proteger e  recuperar as cabeceiras de nossos igarapés, antes que todos morram. Para evitar  que desmatem e transformem a terra em pastagens. Evitar que os fazendeiros  “fechem os caminhos” como já ocorreu na fazenda do Dr. Jadiel, além do que nós  somos obrigados a passar por meio dos bois. Impedir que nossos parentes,  vizinhos vendam seus lotes para os fazendeiros e percam mais do que ganhem  nesses negócios” (Nova Cartografia  Social, 2006). 
   Percebemos então pelo  exposto, os conflitos existentes na construção do território coletivo, visto  que a inserção do capital na região do nordeste paraense, principalmente pelas  monoculturas do dendê, tem adentrado as fronteiras dos territórios dos povos  quilombolas, o que tem causado grandes problemas, tanto na perca da cultura e  afastamento das famílias das terras, quanto tem causado grandes problemas  ambientais, como apontam diversos estudos de pesquisadores da Universidade  Federal do Pará.
   Estar organizado, ainda  é a forma de acesso mais facilitada à política pública, por isso, houve grande  interesse por parte da coletividade em participar como membro da associação,  pois somente dessa forma, teriam o acesso aos programas voltados aos povos  quilombolas. Visto que uma característica dos programas sociais voltados aos  povos tradicionais, é o atendimento da necessidade coletiva. Neste sentido  observamos a implementação de alguns programas sociais junto às comunidades que  compõe a ARQUINEC.
   O Programa Nacional de  Habitação Rural (PNHR), atendendo até o momento a 170 famílias, que pertencem a  associação de remanescentes de quilombo em Concórdia, o PNHR é um projeto  desenvolvimento pelo programa habitacional “Minha Casa Minha Vida” em parceria  com o Ministério do Desenvolvimento Social, que preveem que as moradias produzidas  ou reformadas no âmbito do PNHR terão soluções de abastecimento de água,  esgotamento sanitário e energia elétrica adotados para a região. Além do PNHR,  a associação também conta com a inclusão das famílias no Cadastro Único, o que  possibilita a inserção das famílias no programa Bolsa Família, que é um  programa de transferência direta de renda com condicionalidades, que atende  famílias pobres (renda mensal por pessoa entre R$ 77,01 e R$ 154). A nível  municipal, de 430 famílias quilombolas, apenas 308 são beneficiárias do PBF. 
   Em contra partida, foi-nos relatado a falta de escolas apropriada  para uma educação de qualidade, 7,5% do total de famílias quilombolas em  Concordia, não são alfabetizadas. A assistência médica as famílias quilombolas  da zona rural, era feito por um programa municipal chamado “médico nas  comunidades”, foi relatado que este tipo de atendimento passou a não existir  mais desde o ano de 2013, foi relatado também a inexistência de um posto de  saúde na comunidade Santo Antônio sede da ARQUINEC, visto que no caso de  urgência, o hospital mais próximo fica a 30 km da sede da associação.
  6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
  É bem sabido que a  dívida histórica do Brasil com para com a população descendentes de escravos  ainda é latente, no contexto atual de aceleração do capitalismo, as lutas dos  povos tradicionais, principalmente na Amazônia Oriental com a abertura das  fronteiras agrícolas, têm se intensificado cada vez mais. Problemas como a  lentidão na certificação do território, têm contribuído para o agravamento  deste quadro. 
   O programa Brasil  Quilombola do governo federal reconhece a existência de 3.524 comunidades no  país. Entretanto apenas 1.342 são certificadas pela Fundação Palmares como  sendo remanescentes de quilombos. De outro lado, muitos especialistas  questionam esses números, afirmando que há no país cerca de 5.000 comunidades  remanescentes de quilombolas (PALHETA, 2014). Sobre esta questão percebemos um  impasse entre a legislação e sua aplicação efetiva, o que vem causando  conflitos agrários, expropriação de terras, fatos estes que não contribuem para  a auto-gestão independe das  associações, mas sim vem causando sua dependência assistencialista e com menos  autonomia. Grandes avanços foram conquistados deste a promulgação da  Constituição de 88, mas também, são perceptíveis diversos entraves para a  consolidação desses direitos fundamentais para a manutenção do modo de vida das  populações remanescentes de quilombolas. 
   Alguns apontamentos nos  permitem chegar a conclusão de que existem diversos programas e politicas  sociais, mas para que essas políticas cheguem as comunidades, é preciso que  haja interesse e conhecimento por parte do gestor municipal, para que se possa  fazer a integração e implementação dessas políticas nas comunidades  tradicionais existentes em cada município. Para isto, a integração dos programas de assistência social, segurança alimentar  e nutricional, transferência de renda e inclusão produtiva, somente podem ser  intensificadas com a integração entre os governos federal, estadual e  municipal. 
  7.  AGRADECIMENTOS 
   Agradecemos as comunidades integrantes da Associação de  Remanescentes de Quilombolas de Nova Esperança de Concórdia do Pará, pela  disponibilidade no desenvolvimento da pesquisa e por todo conhecimento  proporcionado. Agradecemos a PROEX/UFPA pela Bolsa de extensão ofertada ao  primeiro autor e ao apoio da DAIE/PROEX/UFPA ofertado ao segundo autor.
8.  BIBLIOGRAFIA 
   1. ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de.  Os quilombos e as  novas    etnias.   In: Quilombos –  Identidade étnica e territorialidade. Eliane Cantarino O’Dwyer ( Org.). Rio de  Janeiro: Editora FGV e ABA, 2002.
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   4. BRASIL. Guia de Políticas  Públicas para Comunidades Quilombolas. Disponível em: <www.seppir.gov.br/arquivos-pdf/guia-pbq>  Acessado em 01 de novembro de 2014.
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12. PALHETA, Ronaldo. Remanescentes de Quilombos Buscam Reconhecimento de Territórios. Disponível em: < http://radio.ufpa.br/index.php> Acessado em: Em 18/08/2014.
13. PEREIRA, A. P. Discussões conceituais sobre política social como política pública e direito de cidadania. São Paulo, 2008
14. TRECCANI, girolamo Domenico. Terras de Quilombos: caminhos e entraves no processo de titulação. Belém: Secretaria Execultiva de Justiça. Programa Raízes, 2006.
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