Wellington Soares de Lima
Juliana de Almeida
Lourdes Aparecida Della Justina
Bárbara Grace Tobaldini de Lima
Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Brasil
professorwsl@gmail.comResumo
No meio urbano há retirada indiscriminada de árvores, principalmente os exemplares de grande porte, devido à rachadura de calçadas, galhos em contato com a fiação elétrica, dentre outros problemas. O objetivo do presente trabalho é apresentar e discutir percepções de estudantes sobre esse tema. Para tanto se desenvolveu um módulo didático com base na abordagem CTS sobre o manejo de árvores no meio urbano. A aplicação ocorreu em uma turma de 7º ano do ensino fundamental de um colégio público da cidade de Cascavel/PR e teve a duração de 7 horas/aula. Os alunos expressaram suas ideias sobre uma possível reforma no calçadão da cidade de Cascavel/PR durante as diversas atividades. Na análise dos diálogos transcritos e nos trabalhos escritos realizados pode-se perceber que os alunos não chegaram a uma posição única. A grande maioria se mostrou favorável à reforma, mas realizaram ressalvas com questionamentos e sugestões para que essa ocorresse de forma a não prejudicar o meio e as relações ecológicas, salientando, assim, a relevância da presença das árvores nesse espaço urbano.
Palavras-chave: Ensino de ciências, CTS, arborização urbana.
A Study of The Methodological Approach of Teaching Aimed At Science,  Technology and Society (STS) In The High School
  Abstract
The Removal of Urban Trees. There is an indiscriminate removal of trees in the urban areas, especially of those ones that grow very high, once they cause cracks in the sidewalks, their branches touch the electrical wiring, among other reasons. The aim of this work is to present and discuss students’ perception concerning this topic. For that, the development of a didactic module framed based on the STS (Science-Technology-Society) approach about the management of urban forestry was designed. The application of the planned activities occurred with a classroom of the 7th school year of a public high school in Cascavel-PR, along 7 hours of classes. The students expressed their ideas about the possible renovation of the promenade of the city during the different activities done along the classes. Once analyzing their speeches, and also the writings done along the classes, one can see that they did not get to just one unique position concerning the topic in discussion. Most of them supported the project of renovation, but also expressed their questions and suggestions concerning the importance of the execution so that the environment could be preserved, as well as the ecological relations, showing in this way the relevance of the presence of the tress in this urban space.
Key words: Teaching of Science; STS (CTS- in Portuguese); urban forestry.
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Wellington Soares de Lima, Juliana de Almeida, Lourdes Aparecida Della Justina y Bárbara Grace Tobaldini de Lima (2016): “Estudo da abordagem CTS (Ciência-Tecnologia-Sociedade) no ensino fundamental: a retirada de árvores no meio urbano” (O presente trabalho foi realizado com apoio da CAPES, entidade do Governo Brasileiro voltada para a formação de recursos humanos.), Revista Atlante: Cuadernos de Educación y Desarrollo (enero 2016). En línea: http://www.eumed.net/rev/atlante/2016/01/cts.html
Introdução
   Não há dúvidas de que  os processos ecológicos realizados por plantas, como o aumento da umidade do ar  e uma melhor sensação térmica (SILVEIRA e PEREIRA, 2011), auxiliam nos mais  diversos aspectos ambientais, favorecendo a qualidade de vida, como enfatizam  Nicodemo e Primavesi (2009). Porém, como tais autores descrevem, a retirada e a  poda de árvores interferem e geram determinados efeitos, em uma comunidade  ecológica, que podem não ser benéficos. Entre estes está o aumento térmico  intenso durante o dia e, consequentemente, com o calor, o aumento da taxa  evapotranspirativa, reduzindo a disponibilidade de água no solo e no ar.
   Devido a estes problemas,  os serviços de retirada e poda devem ser realizados apenas por profissionais  qualificados e responsáveis técnicos. Este serviço, quando realizado de forma  correta, favorece o equilíbrio entre a comunidade arbórea e o espaço físico,  sendo que ambos devem existir de forma simultânea e agradável para a população  (CASCAVEL, 2014).
   Contudo, Seitz (1996)  relembra que a poda não deixa de ser uma agressão, pois o organismo possui seu  metabolismo e seus sistemas de defesa preparados para os inimigos naturais e esses  são alterados assim que a ação do ser humano é realizada. Isso leva o organismo  a ter que readequar-se à alteração e reencaminhar parte do seu sistema e  metabolismo para outras funções que não seriam necessárias caso a poda não  tivesse ocorrido. Monico (2001) afirma que, após uma retirada de árvores, normalmente  serão plantadas outras e, possivelmente, essas serão espécies exóticas, que já existem  em uma quantidade proporcionalmente maior em relação ás quantidade de árvores  nativas nas áreas urbanas. Segundo esta autora, as árvores de grande porte são rejeitadas  pela sociedade devido à cultura já existente e acabam sendo substituídas por  espécies de médio e pequeno porte.
   Quando uma notícia  sobre qualquer desastre ambiental é exposta, relatam Luccas e Silva (2010),  logo se percebe certa preocupação por parte da população, pois, na maioria das  vezes, os desastres ocorreram em função da ação humana, porém a educação  ambiental ainda não conseguiu fazer com que o ser humano possua uma ação  contrária ao desastre, permanecendo sua conduta apenas na manifestação da preocupação.
   Dessa forma cabe realizar  uma discussão e reflexão sobre o assunto, com o intuito de sensibilizar e construir  a ética ambiental, a qual promoverá uma visão crítica das atitudes do ser  humano no meio, com vista à produção de conforto, ao desenvolvimento  tecnológico, à conservação ambiental e às necessidades realmente efetivas, já  que o comportamento humana contemporâneo volta-se ao estabelecimento de  relações entre estes fatores (ROVANI, 2010).
   O ser humano – como  componente no meio –, segundo Fontoura (2013), precisa saber a melhor maneira  de contribuir com o ambiente e conservá-lo, tendo ciência de que esta  preocupação e responsabilidade não são incumbências apenas dos órgãos públicos,  mas, sim, das atitudes da comunidade e da ação do próprio indivíduo.
   Diante da  problematização sobre a ação humana no meio, desenvolveu-se um módulo didático que  manteve seu foco nas interações entre o ser humano e a comunidade arbórea nos  centros urbanos. Para as atividades, fez-se o uso de outros estudos para  enriquecimento das discussões, por meio de conteúdos de ecologia, como:  interações ecológicas, espécies nativas, exóticas e invasoras, relações da  comunidade arbórea com fatores abióticos e reconhecimento de espécies no  ambiente escolar. O objetivo do desenvolvimento do módulo foi instigar o aluno a  desenvolver sua criticidade relacionada a aspectos ambientais que poderiam  passar despercebidos dentro do seu cotidiano. Essa criticidade possibilita  despertar no aluno o interesse pela relação entre preservação, desenvolvimento  e sustentabilidade, formando um cidadão ativo socialmente.
   A realização  do módulo pautou-se na proposta de Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) a qual  está relacionada com as interações interdisciplinares propostas nos Parâmetros  Curriculares Nacionais (1998) e nas Diretrizes Curriculares da Educação Básica  (2008). Para a concretização das aulas, nessa visão de ensino CTS, fez-se uso  de 5 passos que são descritos por Santos e Mortimer (2002) e que foram  utilizados como um modelo de encaminhamento e direcionamento das aulas, sendo  eles:
(1) introdução de um problema social; (2) análise da tecnologia relacionada ao tema social; (3) estudo do conteúdo científico definido em função do tema social e da tecnologia introduzida; (4) estudo da tecnologia correlata em função do conteúdo apresentado e (5) discussão da questão social original (SANTOS; MOTIMER, 2002, p. 12).
Essa proposta oportuniza  a discussão de temas sociais que, de acordo com Santos (2012), remetem a recursos  tecnológicos e direcionam a conceitos científicos que, por sua vez, auxiliarão  na compreensão desses artefatos e da sociedade, fazendo com que o indivíduo  possa relacionar a ciência e a tecnologia à sua vivência. Percebe-se que a  ciência, a tecnologia e a sociedade estão amplamente vinculadas uma as outras  de forma dinâmica e complementar.
   Segundo Santos e  Mortimer (2002), é de fundamental importância a participação dos alunos dentro  dessa proposta, já que ela estará propiciando-lhes uma posição crítica e ativa  na sociedade a qual estão inseridos, ou seja, a investigação científica e  tecnológica estabelece relações com o contexto social, histórico e político dos  alunos.
   Nesse sentido, com esse  trabalho, buscamos apresentar e discutir algumas percepções de estudantes sobre  o tema “arborização urbana”. Tais percepções foram levantadas mediante a  gravação e análise de discussões em sala de aula, em que se incentivou o  confronto de ideias e o estabelecimento e convivência de visões diferentes no  contexto escolar.
Desenvolvimento do módulo didático
O módulo didático foi planejado  dentro do contexto do Programa de Institucional de Bolsas de Iniciação à  Docência/Biologia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná e desenvolvido em  uma turma de 7° ano do Ensino Fundamental da rede pública de ensino na cidade  de Cascavel/PR, no decorrer de 7 horas/aulas. Para seu desenvolvimento fez-se  uso de imagens, vídeos e estudo do meio, além de debates em sala de aula. Ao  todo participaram do desenvolvimento desse módulo 30 alunos, 2 professores  pibidianos (bolsistas do programa PIBID e aplicadores do módulo) e a professora  de Ciências da turma. Para a citação das falas dos participantes, optou-se pela  utilização da letra A (aluno), seguida de um número correspondente ao aluno (ex:  A1-A30). A análise dos enunciados dos alunos tornou-se possível a partir das  gravações em vídeo ocorridas durante as aulas e a produção de uma carta que foi  realizada ao final do desenvolvimento do módulo didático.
  É importante mencionar  que a pesquisa feita possui caráter qualitativo, tendo em vista que a mesma  procurou compreender as diferentes perspectivas de sujeitos inseridos em um  ambiente natural, e buscou-se minimizar as pressuposições adquiridas a priori (GODOY, 1995).
   Na primeira aula mostrou-se  aos alunos uma imagem na qual se via uma árvore com uma placa pregada com o  texto: “corta-se árvore” e um número de telefone logo abaixo. Ao mostrá-la,  pediu-se aos alunos o que eles pensavam sobre aquela imagem e, de um modo geral,  eles concordaram que a placa não deveria estar presente em uma árvore.
   Mostrou-se também um  vídeo onde o IAP (Instituto Ambiental do Paraná) autorizou o corte/retirada de  centenas de árvores para a duplicação de uma rodovia, e o responsável se  comprometia com o plantio em outro local de 10 árvores para cada espécime  retirado. Ao questionar os alunos sobre o que eles pensavam sobre tal fato, os  mesmos apresentaram diferentes opiniões: em contra e a favor; além disso,  colocaram em pauta se realmente haveria o replantio informado.
   Após a discussão foi  entregue aos alunos uma reportagem sobre uma reforma no calçadão da cidade de  Cascavel/PR, de onde seriam retiradas diversas árvores existentes. Realizou-se  a leitura do material em conjunto. Terminada a leitura, questionou-se: Vocês  são contra ou a favor? Por quê? A fauna será afetada? E a flora? Como? E o  homem? O solo, o vento e outros fatores sofrerão alguma mudança? O professor  apenas instigava os alunos por meio das perguntas, de acordo com as respostas,  e as discussões ficavam entre eles mesmos, já que as opiniões começaram a  divergir. 
   Na aula seguinte, relembrou-se  o que havia sido discutido na aula anterior e montou-se no quadro, com a ajuda  dos alunos, uma tabela sobre os pontos positivos e pontos negativos na reforma  do calçadão da cidade. Nessa atividade, os alunos encontraram maior dificuldade  em estabelecer pontos negativos na reforma, portanto, coube ao professor  formular perguntas, instigando o desenvolvimento das respostas.
   Os alunos foram levados  para o ambiente externo da sala de aula, no pátio, para uma discussão sobre as  espécies e árvores presentes no próprio âmbito escolar. A primeira árvore vista  foi um legustre, com as raízes extremamente expostas, chegando a quebrar o piso  bruto em seu entorno. Discutiu-se com os alunos o motivo daquelas raízes tão  expostas e os mesmos apresentaram a hipótese de ser para absorção de água. A  árvore também apresentava diversos organismos em interação, como musgos,  líquens e outras plantas, e questionou-se se aqueles organismos estavam  causando algum ato prejudicial para a árvore.
   Em outra espécie, de  nome popular sibipiruna, as interações ocorridas da árvore com outros  organismos foram também discutidas, questionando se elas poderiam ocorrer da  mesma forma no legustre. Após essa discussão, em outro indivíduo de legustre,  foram percebidas algumas das interações ocorridas no sibipiruna e discutiu-se,  também, a ideia de a raiz, nesse outro indivíduo, praticamente não estar  exposta devido ao fato de, ao seu derredor, não haver qualquer componente que  impedisse a passagem de água para o solo. Na observação à árvore chamada  popularmente de pata-de-vaca, expôs-se aos alunos as associações presentes em  seu caule – as quais seriam liquens – e questionou-os se havia ali algo  prejudicial para alguma das espécies, tanto a árvore quanto o líquen. A  respeito do espécime jacarandá que se observou, questionou-se os alunos sobre  as interações com outros organismos, porém o visto até então não incluía  qualquer ser do reino dos animais. Neste espécime, contudo, um dos alunos  retirou um pedaço de madeira que estava pregado ao caule da árvore, mostrando  várias espécies diferentes de insetos, assim pode-se reforçar o fato da interação  das árvores com os mais variados organismos, sendo elas local de abrigo,  reprodução e vivência de algumas espécies.
   Na terceira aula foram  discutidos alguns conceitos de ecologia, considerados como essenciais para  futuros debates no decorrer do módulo. O primeiro deles foi “espécie exótica”.  Na abordagem a essa concepção se perguntou aos alunos o que eles acreditavam  ser o termo. Por meio das respostas, chegou-se ao conceito, que foi apenas  organizado e descrito no quadro. Da mesma forma questionou-se o que seria  “espécie nativa”. Discutiu-se o conceito e, no momento da estruturação do  conceito, surgiu a dúvida sobre o que seria uma zona de dispersão. Por meio de  perguntas, os alunos foram instigados a encontrar a resposta do que seria o  termo, por meio de suas reflexões e, também, de que forma ela ocorria. O  conceito de “espécie exótica invasora” não foi descrito completamente pelos  alunos, cabendo, então, a mediação e exemplificação dos professores para que os  alunos conseguissem chegar a uma conclusão. O conceito de “relações  interespecíficas” foi trabalhado pelo sentido das palavras separadamente,  questionando os alunos o que seriam “relações”, o que seria “inter” e  “específica”, sendo assim, ao se discutir os fragmentos da expressão, os  próprios alunos já realizaram as associações necessárias para a formulação do  conceito geral. 
   Uma das atividades  solicitadas aos alunos foi a da escolha de um dos espécimes, vistos na visita  ao pátio da escola, para que realizassem uma investigação no laboratório de  informática a partir de um roteiro, como exemplificado no Quadro 1.
Após a pesquisa, os  alunos foram orientados à produção de cartazes sobre o espécime estudado para  apresentação aos outros alunos. Essas ocorreram durante as aulas no ambiente  externo, abaixo da árvore escolhida por cada grupo. Após cada exposição, os  alunos eram questionados sobre as interações do espécime, sua importância e se recomendariam  seu plantio no calçadão da cidade de Cascavel/PR.
   Ao retornar para a sala  de aula, montou-se, com a ajuda dos alunos, uma tabela no quadro-negro sobre os  espécimes apresentados. O quadro que se fez era composto pelos itens: nativa ou  exótica; utilidade industrial/medicinal; interações; recomendação do uso no  calçadão; tipo de raiz. Em seguida, os alunos também foram questionados sobre a  retirada e poda de árvores, se acreditavam ser correto, se ela era realizada da  maneira correta e o destino destas madeiras. Mostrou-se aos alunos um vídeo  (https://www.youtube.com/watch?v=wlwW2YT3wew) no qual se vê árvores inteiras  passando por um triturador e se discutiu com os alunos qual era o destino das  árvores retiradas e dos galhos resultados da poda na cidade de Cascavel.
   Apresentou-se também  aos alunos outro vídeo (https://www.youtube.com/watch?v=8QK29wFc3oo) sobre o replantio de árvores de médio porte, no qual se  apresentava uma determinada máquina que retira a árvore inteira de um local e a  replanta em outro local antes preparado. Juntamente com os alunos discutiu-se a  importância desse replantio e possíveis problemas que poderiam ocorrer ao organismo  que foi replantado.
   Na última aula, foram  distribuídas aos alunos diferentes reportagens sobre distintas situações a  respeito do corte de árvores no meio urbano e, após a leitura individual desses  textos, os alunos puderam explicar do que se tratava cada reportagem. Feitas as  explicações, os alunos foram divididos em dois grupos: um grupo que se  posicionava a favor da reforma no calçadão e outro contra ela. Explicou-se para  os alunos a proposta do debate e foram realizadas discussões sobre três temas:  espécie exótica e invasora, infiltração do solo e relações ecológicas. Os  demais temas (benefícios para comunidade em geral, malefícios para a comunidade  em geral, importância geral, corte de árvores e replantio) não foram  trabalhados em razão do tempo utilizado para a atividade.
   Como última atividade  do módulo didático, solicitou-se aos alunos a produção de uma carta direcionada  ao prefeito da cidade de Cascavel/PR, expondo a opinião construída por eles,  até o momento, sobre a reforma do calçadão, apresentando argumentos que  poderiam ser contra ou favoráveis à retirada das árvores.
Resultados e discussões
Segundo Jófili (2002),  as opiniões dos alunos contribuem para que as ideias sejam confrontadas a todo  instante com contra-argumentos por parte do professor e de outros colegas,  promovendo confrontos intelectuais que instigam a reflexão, gerando um  “desequilíbrio” de pensamento o que favorecerá ao aluno buscar uma forma de reestabelecimento  deste “equilíbrio” cognitivo. Estes confrontos cognitivos individuais puderam  ser observados durante todas as discussões, nas quais os alunos acabavam, que  por vezes, contradizendo-se e analisavam, então, o que eles gostariam de  expressar de fato.
   Durante todas as  discussões percebeu-se a necessidade do professor, a todo instante, questionar  os alunos e instigá-los a debaterem sobre o tema trabalhado. Isso fez-se mesmo  quando o aluno apresentava com convicção sua resposta. Assim, utilizavam-se  argumentos contrários para que o aluno refletisse e compreendesse que, dentro  da Ciência, nunca existirá uma verdade absoluta. Segundo Müller (2002), a prática  educativa de questionar os alunos não é uma tarefa fácil e é classificada como  uma arte, tendo em vista que toda e qualquer arte é aperfeiçoada por meio da  prática. Ainda de acordo com a autora, o professor, durante a prática reflexiva  do aluno, deve-se manter neutro, praticamente sem intervenção de pensamentos,  apenas instigando os alunos e levando-lhes problemas atuais sociais, fazendo  com que eles, por meio de sua “curiosidade natural”, sejam sujeitos de sua  própria reflexão.
   Durante a discussão  sobre a reportagem a respeito da reforma no calçadão, um dos alunos expressou  uma frase significativa: “Estamos lendo sobre o corte de árvores, lendo no  papel que um dia já foi uma árvore.” (A1).
   Percebe-se que a  presença das questões ambientais na sociedade desencadeia diversas preocupações  ambientais e gera um estado de obrigação nos cidadãos em se posicionar frente aos  problemas ambientais, mostrando a importância desse posicionamento e das ações  responsáveis para manter o ambiente saudável (REIS; SEMÊDO; GOMES, 2012). Assim,  percebe-se a importância do reconhecimento de determinados ambientes mediante  estudos do meio, por exemplo, para que o indivíduo valorize-os devido às  relações ecológicas.
   A saída de campo é uma  prática pedagógica em que o aluno e o professor estão sujeitos a qualquer  decorrência do meio, como ocorrido durante a aula, na retirada de um pedaço de  madeira que estava pregado na árvore, expondo uma diversidade de organismos, ou  a presença de um fungo no chão, que havia caído da árvore objeto de estudo.  Apesar disso, como expõe Oliveira (2013), essa deve ser uma prática planejada,  porém o professor deve estar ciente de que poderão existir muitos fatos que se  desviam do esperado, e ele deve estar preparado para mediar o debate que venha  a ocorrer durante o estudo do meio.
   Tal estudo, mesmo que feito  no ambiente escolar, foi de grande valia para a pesquisa que desenvolvemos,  tendo em vista que a maioria dos alunos não reconhecia as espécies arbóreas existentes  no local por onde passavam todos os dias. Além disso, essa atividade contribuiu  para que os alunos tivessem um contato com a natureza, contribuindo para uma  possível sensibilização ambiental e conservação de espécies, mesmo que esta  atividade tenha sido apenas de “reconhecimento” (OLIVEIRA, 2012).
   O debate solicitado pelo  professor pibidiano, no qual a metade da turma seria contra a reforma no  calçadão da cidade e a outra metade seria a favor dela, foi uma atividade muito  produtiva e acrescentou aos alunos um conhecimento mais crítico e reflexivo, pois  as opiniões e divergências foram tratadas e formuladas por eles, conforme  fragmento de diálogo apresentado na sequência.
Grupo a  favor: Por que vocês acham que as árvores nativas e exóticas devem ficar lá  sabendo que elas serão replantadas em outro lugar? 
   Grupo contra:  Porque aquelas árvores podem ser patrimônio histórico. 
   Grupo a  favor: Mas as árvores que serão replantadas vão crescer e também podem se  tornar patrimônio histórico.
   Grupo contra:  O problema não é esse, nós sabemos que serão replantadas em dobro, só que o  problema é que como serão replantadas em dobro terá um processo mais demorado.
Percebeu-se a  facilidade com que os alunos argumentavam e apresentavam suas opiniões. Não  houve necessidade de grandes interferências por parte do professor, pois os  alunos conseguiram expressar suas ideias e seus argumentos também eram  coerentes com o solicitado. Pode-se observar, também, que os alunos  estabeleceram relações com o contexto histórico-cultural, mostrando que todo  argumento é formado a partir da prática social do aluno.
   Nas outras discussões,  referentes a outras perguntas, os alunos ainda estabeleceram relações com a  tecnologia das calçadas ecológicas, com o processo de infiltração e as  implicações que ocorreriam no caso da retirada das árvores, como habitat de  muitos organismos e a ação do vento sem essas “barreiras naturais”.
   Um aspecto interessante  observado no debate foi o fato de que, mesmo os alunos que estavam no grupo  contra ou no grupo a favor, por vezes eles se surpreendiam ao perceberem que  pensavam contrariamente ao seu grupo, mostrando, desse modo, que uma opinião  absoluta não existia.
   A última atividade  designada para os alunos foi a escrita da carta, em cujo conteúdo estariam  desenvolvidos os pensamentos e as ideais dos alunos acerca do tema trabalhado. Os  alunos conseguiram expressar a opinião de serem a favor da reforma do calçadão  de Cascavel:
[...] visto  que observei a necessidade da troca das calçadas, pois estão irregulares para  idosos, cadeirantes e crianças [...] muitas espécies de árvores plantadas são  ou já estão inadequadas. (A5)
   [...] sou  favorável, pois a reforma trará muitos benefícios à população, desde a  diminuição dos casos de alergia até a redução dos acidentes devido à ampliação  das ruas, melhorando o fluxo de veículos [...]. (A6)
   O calçadão  vai melhorar e vai ficar bem bonito com calçadas ecológicas e sem as árvores  com as raízes expostas. (A7)
Cerca de 4 alunos foram totalmente contra a reforma, e esses conseguiram organizar argumentos significativos, como nos fragmentos apresentados na sequência:
O senhor  propôs a retirada das árvores da mesma, para que haja mais espaço para  circulação de pessoas, porém neste mesmo local encontra-se o habitat de várias  espécies de animais. Animais como estes não vão encontrar lugar para morar e  por consequência disto vão acabar perecendo. (A8)
   [...] eu não  sou a favor por causa das árvores que serão cortadas. Eu sei que vão replantar  outras só que tem os animais, a poluição que vai ficar durante a construção, as  pessoas que irão ficar doentes por causa da construção. (A9)
Apesar dos argumentos favoráveis e contrários, muitos dos alunos deixaram recados, recomendações e questionamentos ao prefeito referentes à reforma, mostrando que existia uma preocupação ecológica com o meio a ser alterado:
Gostaria  muito, Sr. Prefeito, que houvesse um grande incentivo por parte do poder  público para a escolha correta de espécies a serem plantadas no calçadão. (A5)
   Sugiro que  permaneça um espaço amplo para calçadas e seja construída uma ciclovia, pensando  nos ciclistas e pedestres. (A6)
   Dizem que  cada árvore que for arrancada serão replantadas, dez a mais da mesma espécie.  Isto é verdade ou só calúnia? (A10)
   [...] E  nessas árvores existem animais que vivem nela. Só quero que o senhor preserve  esses animais. (A11)
Percebeu-se, como um todo – com as análises das cartas –, que os alunos conseguiram estabelecer relações entre prós e contras da reforma no calçadão da cidade. Muito dos alunos focaram em alguns aspectos e grande parte não se mostrava totalmente contra ou a favor da ação.
Considerações finais
A discussão ocorrida  durante todas as aulas foi de fundamental importância para a construção da  opinião do aluno. Com a análise das cartas e observação do debate, verificou-se  que os alunos conseguiram estabelecer relações históricas, culturais,  científicas e tecnológicas, ainda que esta última não foi amplamente citada.
   Pode-se observar que as  discussões em sala de aula contribuíram para uma exposição da diversidade de  pensamentos dentro de um mesmo ambiente, aprimorando atitudes de respeito com relação  a uma opinião que viesse a ser contrária.
   A discussão e o  desenvolvimento de argumentos durante o debate, por parte dos alunos, demonstrou  que estes possuem total coerência em estabelecer relações sociais, científicas  e tecnológicas e a ação do professor nesta perspectiva de ensino foi a de mediador  e instigador.
   Neste ponto, ao se  trabalhar o CTS percebeu-se uma fácil interação dessa proposta com o Ensino por  Investigação (EPI) no qual questões problemas são apresentadas aos alunos e os  mesmos iniciam sua busca pelo conhecimento, construindo um saber a partir de  seus conhecimentos prévios e teóricos por meios de discussões, reflexões,  apresentação de hipóteses e experimentação (AZEVEDO, 2004). Segundo expressa  Azevedo (2004), a investigação cientifica deve partir do aluno com  acompanhamento do professor, o qual instigará o aluno e o levará a compreender  o motivo da investigação do fenômeno que lhe foi proposto. Este fenômeno deve  despertar o interesse do aluno e o professor deve estimular sua participação,  tornando o aluno um indivíduo ativo no seu processo de aprendizagem, assim que  este poderá agir sobre o objeto de estudo e estabelecer relações com o seu  cotidiano.
   O professor, na  perspectiva CTS, é aquele que oferecerá para os alunos todas as informações  necessárias para a construção de um conhecimento que estabelece relações entre  o social (histórico e cultural), o científico (teorias e conceitos) e o  tecnológico (produto). Na execução desse estudo, ao se trabalhar juntamente o  EPI, o professor é consciente de que não expressará, em momento algum, sua  opinião e que o aluno é o autor de seu próprio conhecimento, além de que o  aluno, por meio da investigação, elencará hipóteses, realizará testes e construirá  seus próprios conceitos. O aluno, ao questionar o professor, pode receber como  resposta outra pergunta, fazendo com que reflita ainda sobre seu próprio  questionamento.
   A criticidade dos  alunos deve levá-los a agir diretamente na sociedade, tornando-os um componente  do próprio objeto de estudo, de forma que estes compreendam as ações ocorridas  no meio em relação a eles e as ações cometidas por eles em relação ao meio.
   O principal objetivo do  trabalho foi alcançado, pois, embora tenhamos observado algumas dificuldades  dos alunos em se apresentar contra ou a favor a reforma no calçadão, o aspecto  ecológico foi discutido de forma ampla por todos os alunos e por meio da  escrita das cartas se percebeu a formação de um cidadão crítico e ativo na  sociedade da qual este faz parte, o qual determina sua opinião, mas apresenta  questionamento e dúvidas contrárias a sua opinião.
   A ciência nunca terá  uma verdade absoluta e cabe aos professores, em conjunto com os alunos,  construírem uma sociedade na qual se tenha o conhecimento de que suas relações  são íntimas com a tecnologia e a ciência e que todo e qualquer indivíduo faz  parte deste meio, alterando-o ou sendo alterado por ele.
   Assim, a temática do corte/retirada  de árvores, como uma tecnologia, deve ser amplamente explorada e estudada de  acordo com os conhecimentos científicos. Além disto, as discussões sempre serão  de grande valia para que se possa desenvolver estratégias de manejo que  beneficiem o desenvolvimento sustentável das interações da comunidade arbórea e  a sociedade. Os debates em sala também garantirão o confronto cognitivo de cada  aluno, instigando a reflexão individual e a construção de uma posição crítica. 
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