BIBLIOTECA VIRTUAL de Derecho, Economía y Ciencias Sociales

A UTOPIA NEGATIVA: LEITURAS DE SOCIOLOGIA DA LITERATURA

Jacob J. Lumier




Esta página muestra parte del texto pero sin formato.

Puede bajarse el libro completo en PDF comprimido ZIP (158 páginas, 763 kb) pulsando aquí

 


L'homme de lettres

Embora tenha orientação sociológica, a análise por T. W. Adorno é ligada a uma reflexão filosófica que toma a separação da ciência e da arte como irreversível.

Quer dizer, esse autor nega que se possa manter uma interpretação da consciência para a qual seja uma só coi-sa intuição e conceito, imagem e signo – seria a utopia da consumação do processus da mediação, utopia pensada pelos filósofos idealistas alemães desde Kant.

Impossibilidade esta inerente à desmitologização que, por sua vez, deve ser compreendida na base do proces-sus da mediação que se desenvolveu na sociedade de mercado.

Vale dizer: a separação da ciência e da arte está em correlação com a coisificação do mundo.

Nada obstante, não se deve hipostasiar a contraposi-ção da ciência e da arte.

Existem conhecimentos que, embora sejam mais do que as meras impressões tratadas em arte, são difíceis de captar com a rede científica. São conhecimentos necessá-rios e constritivos acerca do homem e das conexões soci-ais, cuja objetividade não pode ser reduzida à vaga plausi-bilidade.

Em artigo anterior notou-se que a obra romanesca de Marcel Proust liga-se a esses conhecimentos cuja objeti-vidade T. W. Adorno remarca como componente da expe-riência humana individual, a qual ainda se preserva con-densada na esperança e na desilusão, experiência não-generalizável esta que, ademais, como recordação con-firma ou refuta as observações de Proust.

Admitindo que o artista exerce um modo de proceder experimental, portanto equiparável à ciência, atribui-se a Proust a tentativa de restabelecer como diletantismo tais conhecimentos, próprios ao já desaparecido homme de lettres, ou seja: os conhecimentos de um homem ex-perimentado.

Proust houvera assim ressuscitado o tipo homme de lettres, sendo exatamente a este ressuscitar vinculando Proust ao Iluminismo que T.W. Adorno aplica a qualidade repudiada por Proust do dilettantismo, incluindo aí, em contraposição ao produto massificado da indústria cultu-ral, o conteúdo da cultura passível, suscetível de indivi-duação.

Vale dizer: Proust teria resgatado o que valia nos dias do individualismo burguês, quando a consciência indivi-dual ainda confiava em si mesma e não se estreitava an-tecipadamente sob a censura da organização.

Será, portanto, à luz dessas reflexões sobre os conhe-cimentos de um homem experimentado que se chegará à compreensão da forma do ensaio, na medida em que é nesta, e não no romance, que a atitude experimental en-contra seu lugar. Vale dizer, a forma do ensaio é funda-mentalmente método pautado na intenção tenteadora, notada não só em Montaigne, mas já em Bacon.

Mas não é tudo. Anteriormente foi visto que a supres-são do objeto do romance em face da reportagem implica a posição do narrador que, por diferença do realismo literário do século XIX, não mais possui a experiência do conteúdo a ser narrado - situação essa classificada como crise da objetividade literária ou crise da possibilidade em narrar algo especial e particular.

T. W. Adorno considera que este quadro estivera em correspondência com uma situação já antecipada por Dostoyevski, e chama atenção para o caráter diferencial da psicologia dostoyevskiana, a qual seria equivocado tratar no marco dos homens empíricos que se movem pelo mundo.

Entenda-se: em face do freudismo como análise com disciplina científica, houve uma redução ao nível mais e-lementar da psicologia que passava por empírica em Dos-toyevski, de tal sorte que, se há psicologia em tal obra, trata-se de uma psicologia de caráter inteligível, uma psi-cologia da essência.

O avanço de Dostoyevski está em ter assimilado o sentimento de que o romance estava obrigado a romper com o positivo e apreensível e a assumir a representação da essência como das qualidades humanas. Conclusão essa que não é sem importância para a sociologia crítica da cultura.

No procedimento da Crítica da Cultura, a constatação do avanço de Dostoyevski não poderia ser outro. To-mando por ponto de partida a coisificação das relações entre os indivíduos, a interpretação da crise da objetivi-dade literária que leva à compreensão da posição alterada do narrador no romance contemporâneo, vem a ser de-senvolvida por T W. Adorno com base em uma observa-ção sobre o efeito cultural da preeminência da informação e da ciência.

Vale dizer, sendo ligadas à indústria cultural, a infor-mação e a ciência absorveram todos os conteúdos aos quais se podiam associar o que é positivo e apreensível, incluindo nisso a faticidade do que se experimenta como interno.

A esse efeito observado corresponde o encobrimento do caráter inteligível, o encobrimento da essência. Enco-brimento esse que se descreve como a superfície do pro-cessus vital social, que se vai estruturando mais densa-mente e recobrindo mais hermeticamente o caráter inteli-gível.


Grupo EUMEDNET de la Universidad de Málaga Mensajes cristianos

Venta, Reparación y Liberación de Teléfonos Móviles