CAMINHOS DO JEQUITINHONHA: ANÁLISE DO PROJETO DE COMBATE Á POBREZA RURAL

Marcela de Oliveira Pessôa

3.1 – Aspectos metodológicos

De acordo com o relatório final do Estudo de Desempenho Físico do PCPR-MG/2010, que foi contratado pelo IDENE, já foram concluídos 1.416 subprojetos até Julho de 2010, divididos entre as três regiões de abrangência. De acordo com dados primários obtidos diretamente do IDENE, 500 destes projetos ocorreram exclusivamente na área de abrangência do Vale do Jequitinhonha, que fora escolhido como campo de estudo para este trabalho. Mas dada a grande extensão territorial do Vale fui obrigada (econômica e fisicamente) a limitar meu recorte de estudo ao médio Jequitinhonha, visto que era onde tinha maior acessibilidade.
Na categorização do IDENE, o médio Jequitinhonha é composto por 15 Municípios: Araçuaí, Berilo, Chapada do Norte, Itaobim, José Gonçalves de Minas, Caraí, Comercinho, Medina, Padre Paraíso, Ponto dos Volantes, Coronel Murta, Francisco Badaró, Itinga, Jenipapo de Minas e Virgem da Lapa. Em todos estes Municípios foram realizados subprojetos da Fase I do PCPR, concluída em 20101 .
Para a realização da pesquisa houve o contato imediato com a secretaria responsável pelo médio Jequitinhonha, sediada na cidade de Araçuaí, que se mostrou solícita para com a pesquisa dando todo o suporte de que podiam dispor. Usualmente existem três técnicos para acompanhar o andamento do PCPR, de modo que cada um se responsabilizaria por cinco Municípios de acordo com a divisão de tarefas estabelecida.
Todos os 15 Municípios de abrangência da instituição têm projetos do PCPR já consolidados, sendo que, diante dos dados oferecidos pelo IDENE, 54 dos projetos são de ordem produtiva, 42 de ordem infraestrutural e 29 sociais. É importante mencionar que, conforme pode ser visto no Anexo VII, há uma certa indiscriminação entre os projetos de infraestrutura e sociais, de modo que algo que pode ser tomado como social (melhoria habitacional, por exemplo) ora também é colocado como subprojeto de infraestrutura. No que tange à atividade produtiva, ela compete principalmente às atividades relacionadas a elaboração de produtos secundários e atividades de suporte, tais como mecanização agrícola.
Optou-se por verificar apenas as atividades produtivas do PCPR como meio de promoção da melhoria da qualidade de vida nas comunidades por três motivos principais: a) pelo fato de terem sido as atividades produtivas as de maior incidência na microrregião; b) porque a proposta inicial desta pesquisa concernia em verificar quais atividades estariam mais articuladas a efeitos socioeconômicos; c) porque os benefícios oriundos de uma melhoria na renda das populações podem ser diretamente investidos em melhorias de ordem infraestrutural e social nas comunidades.
Por outro lado, dada a impossibilidade de verificar todos os diferentes subprojetos produtivos, a atividade manufatural/semi-industrial foi escolhida como norteadora para selecionar as comunidades; deste modo foram visitadas aquelas em que ocorriam as atividades de fabricação de farinha e rapadura. Primeiro porque os tipos de produção em questão exigiam uma atividade anterior que poderia levar a articular a compra do produto agrícola dos seus moradores e/ou das comunidade vizinhas, e o produto final também poderia servir como meio de abastecimento para outras atividades produtivas (fabriquetas de biscoito, por exemplo). Segundo porque da estrutura montada espera-se a geração de produtos diretos, diferente da mecanização agrícola, por exemplo, cujo aproveitamento do maquinário pode ser temporário. Além disto os produtos tratam-se de recursos alimentares tradicionais que auxiliam a sanar necessidades nutricionais, diferente das oficinas de roupas, por exemplo. Considera-se neste trabalho que acompanhar exclusivamente um tipo de atividade, o que torna possível identificar com mais facilidades quais os principais percalços relacionados à autonomia produtiva que retardam a melhoria dos aspectos socioeconômicos no Vale.
Por fim, deve-se dizer que a seleção dos subprojetos de fabriquetas se deram também via amostragem proposital, determinada pelo conhecimento do consultor do IDENE, Irã Pinheiro 2, e visando atender os seguintes requisitos:

  • Que as atividades estivessem situadas em comunidades de diferentes Municípios, de modo a ter diferentes perspectivas sobre a política local e a atuação do CMDRS.
  • Que as atividades estivessem em diferentes fases de constituição, para acompanhar experiências diversificadas.
  • Que as comunidades não fossem próximas umas das outras.
  • Que as comunidades fossem de fácil acesso para quem não detém transporte autônomo.

Assim, foram apontadas cinco comunidades para serem acompanhadas diante destas alternativas, sendo elas as comunidades de Alfredo Graça, Pedra Alta, Piauí Pereira, Queimadão e Paredão. A principal dificuldade inerente ao trabalho foi a ausência de um transporte próprio, de modo que para a sua realização contei com a ajuda de uma série de pessoas3 . Deste modo, a pesquisa se enveredou por uma amostragem não-probabilística de conveniência, que, embora tenha sido condicionada pelas restrições físicas e econômicas impostas à prática de uma pesquisa de mestrado, tem sua modesta importância dado o seu caráter exploratório. 
Em todas as comunidades as entrevistas foram semi-estruturadas, dirigidas por um roteiro de entrevista focalizado nas questões de interesse mas que, no intuito de flexibilizar a coleta de opiniões e reflexões do entrevistado, não foi padronizado. Visou-se valorizar o entrevistado não exclusivamente como objeto, mas como principal sujeito da entrevista. As entrevistas foram realizadas no período que se estendeu entre Julho a Setembro de 2011, e as questões que orientaram a composição do roteiro de entrevista foram as seguintes:

  • O que os beneficiários do PCPR no Vale do Jequitinhonha têm a dizer em relação ao programa e à instituição que o fomenta?
  • Em que medida o PCPR contribuiu para proporcionar meios de sustentabilidade econômica para as comunidades que abrange?
  • Em que medida a atividade do IDENE junto às comunidades rurais do Vale do Jequitinhonha tem promovido meios para o desenvolvimento desta região?

Além disto, outros aspectos foram relevados na pesquisa para constituir um maior aprendizado da pesquisadora em relação aos conhecimentos ofertados pelos entrevistados de modo a contribuir na elaboração deste e de futuros trabalhos4 . No caso, buscou-se verificar o sentido que os entrevistados dão para o Vale do Jequitinhonha, para a sua comunidade, para as atividades do IDENE e do PCPR junto a estas. Após transcritas as entrevistas foram analisadas segundo o método de Análise de Discurso (AD), que tem o interesse de compreender os sentidos pré-construídos que a linguagem abarca, contemplando o posicionamento do sujeito e o contexto sócio-histórico em que se envolve (CAREGATNO e MUTTI, 2006).
Em cada comunidade foram realizadas cinco entrevistas. Em todas elas a “escolha” dos entrevistados foi feita mediante seu interesse e disponibilidade em responder às perguntas; sendo que todos os “escolhidos” foram de sujeitos considerados pelos próprios moradores como indispensáveis para a pesquisa.  Foram assim abordados ex e atuais presidentes, vice-presidentes, tesoureiros, fiscais das associações, bem como pessoas que eram apenas beneficiários mas que tinham o quê dizer 5. Embora nenhuma pergunta seja de conteúdo indiscreto e todos os entrevistados tenham concedido a permissão em mencioná-los este trabalho não trará nomes, dado que é preferível evitar a possibilidade de ocorrer represálias em relação ao resultado da pesquisa, seja por parte de instituições seja dos demais moradores das comunidades que também terão acesso ao mesmo.
Por meio dos resultados das entrevistas e dos dados coletados com a observação não-participante foi realizado o levantamento das características gerais das comunidades visitadas para formar um quadro da realidade vivida no Vale do Jequitinhonha. Tal caracterização visa elucidar aspectos sociais, econômico-produtivos e de recursos naturais, conforme indica Pineda (2005) como sendo de importância para se fazer um diagnóstico comunitário.


1 Confira os tipos de projetos em Anexo VII.

2 Mestre em Produção Vegetal, atualmente desligou-se do IDENE e é professor do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais, Campus de Almenara.

3 Tratam-se de pessoas do IDENE, das comunidades visitadas, das prefeituras, da EMATER e mesmo pessoas ocasionais que aceitaram me dar carona nas tantas vezes que solicitei nas vias urbanas e rurais.

4 O roteiro de entrevista elaborado encontra-se no Anexo IV.

Foi este o sentido dado por alguns dos moradores diante do fato do sujeito indicado ser bastante crítico, ou ter alguma influência por sua história de vida em relação à comunidade.

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