MANIFESTAÇÃO RELIGIOSA DA IGREJA CATÓLICA: A FESTA DE SÃO TIAGO NO MUNICÍPIO DE MAZAGÃO VELHO – AP

Ione Vilhena Cabral
Tatiane da Silva Cardoso
Roberto Carlos Amanajás Pena

2.3 A FESTA DANÇANTE OU PROFANA

Como foi verificado, a comunidade de Mazagão Velho deposita uma fé muito grande em São Tiago, pois observou-se o quanto eles são devotos do santo. Assim como a presença dos moradores e dos turistas é marcante no caráter sagrado, o mesmo ocorre com o caráter profano que, durante as observações realizadas in loco, constatou-se que os três (03) barracões e os restaurantes da comunidade ficavam lotados de pessoas.
Vale ressaltar aqui, que nem todos os moradores da comunidade freqüentam as festas profanas, como já foi mostrado anteriormente, a maioria das pessoas que participam dessas festas são de fora da comunidade. Além disso, as festas profanas só iniciam quando termina o ato religioso, indo até ao amanhecer, assim como a movimentação de pessoas é grande durante o dia, à noite não é diferente, pois o pequeno vilarejo “não dorme para não perder nada do espetáculo”.
Assim, as festas profanas são realizadas com o objetivo de animar, divertir e alegrar as pessoas, após o momento de êxtase religioso que dedicam aos santos (Tiago e Jorge), como relata o Sr. Woshington Santos (seu “vava”). Vejamos a sua fala a respeito do caráter profano:

“Acredito que é importante ter o caráter profano da festa, porque é impossível prender o pessoal só no ato religioso, então as pessoas se divertem depois das missas” (Woshington Elias dos Santos, 86 anos, entrevistado em 15/09/2006).

Através desse depoimento, percebe-se que a comunidade apresenta uma preocupação em manter tanto o caráter sagrado quanto o profano da festa. Dessa forma, observou-se que existe uma espécie de ritual de preparação antes das festas profanas, onde as pessoas, após o momento religioso, vão para suas casas, trocam “a roupa da missa” e colocam a “roupa do baile dançante” e saem convidando os amigos e parentes para irem dançar, se divertir e até namorar.
Além disso, verificou-se que muitas pessoas vão somente aos restaurantes para jantar com suas famílias e retornam para as casas onde estão hospedadas. “Mas, em contra partida, a maioria das pessoas prefere ficar nos barracões, dançando, bebendo, fumando e namorando a noite toda e, assim, vão até o “raiar do sol”.
Um outro ponto observado é com relação ao som que vem dos barracões, pois são extremante altos, e, como, a vila é pequena se torna impossível dormir durante a noite. Assim, por mais que alguns moradores não se envolvam diretamente na festa dançante, acabam participando indiretamente, pois o som das aparelhagens se espalha por toda a comunidade. Para as pessoas que moram ali esse fato já é normal e os mesmos já estão acostumados com a movimentação das pessoas durante a noite e, além disso, para os comerciantes que possuem restaurantes, essas festas acabam gerando renda para sua família e para a comunidade de uma forma geral.
Assim, as festas profanas da comunidade de Mazagão velho, seguem a tradição das festas populares existentes no Brasil, onde o caráter profano está ligado ao caráter sagrado. E, assim, como temos o arraial em outras festividades, na festa de São Tiago não é diferente, já que a noite as pessoas aproveitam para comprar objetos nas barraquinhas espalhadas pelo vilarejo, jogar e apostar nos jogos de azar que também circulam na comunidade. E, como é de praxe, em todas as festas, ao seu término, todo dinheiro arrecadado na festa de São Tiago, é dividido tanto para a igreja quanto para os organizadores da festa profana. De acordo com o exposto, vejamos o que Mary Del Priore (1999), fala a respeito dessas festas:

“A festa relaciona-se com a quebra das regras sociais. Por um momento os indivíduos libertam-se de seus papéis, transformando a ordem cotidiana a fim de realizar seus desejos, ainda que estes implicassem atos de violência. (...) È possível citar uma quantidade inumerável de festas folclóricas no Brasil que preenchem extenso calendário nas mais diversas cidades do país, desde o período colonial. Ocupam grande parte do tempo ocioso dos moradores, os quais por vezes mal acabam de encerrar uma festa e já começam os preparativos para a seguinte estabelecendo-se assim laços de solidariedade que contribuem para formação da identidade do grupo. (...) Em algumas das festas do Bumba-meu-boi realizadas no Brasil, por exemplo, reparte-se, no final da festa, a carne de um boi. A distribuição das partes da carne obedece a critérios relacionados ao papel social que cada um ocupa na comunidade”. (Mary Del Priore: 1999: 57 e 58).

Desta maneira, percebe-se que esse fato também ocorre na festa de São Tiago, pois é no profano que as pessoas se libertam por algumas horas e esquecem a vida normal da cidade, do trabalho, da casa, para viver um momento de felicidade que as festas profanas proporcionam. Além disso, o que a autora aborda a respeito dos indivíduos que mal acabam de encerrar uma festa e já se preparam para iniciar a seguinte, assim ocorre na comunidade mazaganense, uma vez que, durante os dias de celebração, iniciando do dia 23 até 26 de julho, todas as noites têm festa em Mazagão Velho, e elas não se limitam aos festejos só de São Tiago, mas a todas as festividades de santos ou não que se comemoram na comunidade. 

 Foto 20: Um dos momentos de diversão para os visitantes e para os moradores

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