MUSEUS, TURISMO E TERRITÓRIO

MUSEUS, TURISMO E TERRITÓRIO

Paulo Carvalho
Universidade de Coimbra

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O RENASCER DO MOSTEIRO DE VERRIDE: UMA PROPOSTA DE MUSEALIZAÇÃO

Natália Quitério

Resumo:
A investigação recente no contexto dos museus enfatiza o conceito de museu interativo, como estratégia para facilitar a transmissão de conhecimentos e promover a experiência do visitante.
Neste contexto, pretende-se aprofundar a relação turismo cultural/museus, apresentando-se uma proposta de musealização do Mosteiro de Verride (Montemor-o-Velho/Baixo Mondego), destinada a valorizar um espaço, que carece de recuperação prévia, (por se encontrar abandonado e em avançado estado de degradação) pelo que se expõe uma sugestão de organização do mesmo e de um percurso de visita.

Palavras-chave: Musealização. Turismo Cultural. Mosteiro de Verride. Montemor-o-Velho.

1. A musealização e o turismo cultural
1.1. Conceitos e a sua evolução
A história e a evolução do museu está intimamente relacionada com a própria história da evolução do Homem, no sentido em que este sempre teve a necessidade de colecionar diversos objetos, tal como de preservá-los para o futuro. Neste sentido assiste-se ao nascimento do museu como meio de explicar a evolução humana nas suas múltiplas vertentes (social, cultural, técnica e científica). Pode-se por isso afirmar que os museus constituem-se como um “depósito” de testemunhos. O museu, como instituição pública a acessível a todos os visitantes, é um acontecimento recente, pois até finais do século XVIII a cultura e a arte eram encaradas como meros adornos das classes altas, e aspetos de exaltação religiosa, pelo que eram as igrejas e os palácios que detinham quase na totalidade todo o património histórico e artístico da humanidade produzido até então (Fernández, 1995). Nos séculos XV e XVI, foram criados espaços onde se reuniam os artefactos de povos não europeus, surgindo as coleções de objetos exóticos, resultantes das expedições marítimas sendo exemplo o depósito de armas criado por D. Manuel, no antigo Paço da Ribeira, em Lisboa. Os “museus” eram assim, nesta altura, considerados gabinetes de curiosidades que projetavam a visão do mundo do colecionista (Peréz, 2009). No final do século XVIII, nasce a ideia de que tais riquezas deveriam pertencer ao povo, à nação, ideia essa motivada pelos ideais preconizados pela Revolução Francesa. No século seguinte, os grandes museus europeus estão já constituídos dividindo-se em históricos, museus da ciência, museus de arte, sendo que nessa altura e no século seguinte, essencialmente na Europa, assiste-se ao surgimento de um grande número de espaços museológicos o que se deveu em parte à necessidade que os nacionalismos tiveram em “construir” identidades para os novos Estados-nação que emergiram. Na segunda metade do século XIX, o museu passa a debruçar-se sobre outras temáticas e objetos, deixando de focar-se somente na história dos homens ilustres e em questões relacionadas com a própria história das guerras, abrindo as suas galerias para objetos e temas “menos nobres”, mas muito interessantes, a exemplo, a vida de uma família vitoriana, ou até mesmo atividades do quotidiano, triviais, como o tecer da lã e outras. (Dall´igna e Gastaud, s/d). O conceito de museu transformara-se desde a sua origem, pelo que segundo G. Goode, 1895, citado por Fernández (1995:29), museu definia-se como sendo uma instituição para a preservação daqueles objetos que melhor explicam os fenómenos da natureza e a obra do Homem, tal como o contributo da civilização destes para o aumento do saber e da cultura e ilustração do povo. No entanto, anos mais tarde, em 1929, M. Foyles, citado por Fernandéz (1995:30), introduz a ideia de que o museu tem como objetivo não somente a preservação, mas também a conservação dos objetos que visam ilustrar os fenómenos da natureza e os trabalhos do Homem. Rivière (1993) apresenta uma conceção diferente de museu, pelo que segundo este, o museu é uma instituição ao serviço da sociedade, que adquire, conserva, comunica, e sobretudo expõe, com fins de estudo, de educação e de deleite, os testemunhos materiais da evolução da natureza e do Homem. É precisamente esta definição que servira de base para a definição adotada pelo Conselho Internacional de Museus (ICOM), em 1975. Neste sentido, o conceito de museu apresentado pelo ICOM evoluiu, e em 2007, museu definia-se como uma instituição de carácter permanente, sem fins lucrativos, ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público, que adquire, conserva, estuda, expõe e transmite o património material e imaterial da humanidade e do seu meio, com fins de estudo, de educação e deleite. No que concerne aos museus, Portugal rege-se pela Lei-quadro dos Museus Portugueses (Lei nº 47/2004, de 19 de agosto), que aplica em termos gerais a definição apresentada pelo ICOM. Deste modo, museu é uma instituição de carácter permanente, com ou sem personalidade jurídica, sem fins lucrativos, dotada de uma estrutura organizacional que lhe permite: garantir um destino unitário a um conjunto de bens culturais e valorizá-los através da investigação, incorporação, inventário, documentação, conservação, interpretação, exposição e divulgação, com objetivos científicos, educativos e lúdicos; facultar o acesso regular ao público e fomentar a democratização da cultura, a promoção do indivíduo e o desenvolvimento da sociedade. Para se perceber como surgiu o museu é importante recorrer-se à sua ciência de estudo, a museologia. O desenvolvimento das investigações museológicas, tal como o estabelecimento dos seus princípios, remontam ao século XX, quando a museologia fora reconhecida como a ciência dos museus, pois até aí era a museografia 1, pelo que não existia consenso entre os vários autores sobre qual a ciência do museu. Neste sentido, segundo Rivière, a museologia é a ciência aplicada ao museu tendo como principais objetivos o estudo da história e o papel na sociedade, as formas específicas de investigação, e de conservação física, de exposição, animação e difusão, de organização e de funcionamento, de arquitetura nova ou musealizada, os locais admitidos ou selecionados, a tipologia e a deontologia (Rivière, 1981,citado por Fernández, 1995). Associado ao conceito de museologia é importante compreender-se as várias etapas do processo de musealização. A musealização inicia-se com uma etapa de separação, na qual os objetos são apartados do seu local de origem com o objetivo de serem estudados. Uma vez deslocados, assumem o estatuto de objetos de museu, ou seja, os objetos que tinham utilidade acabam por perdê-la transformando-se em meros objetos de coleção, cuja sua única função é serem comtemplados e admirados pelo visitante. Na deslocalização dos objetos, por meio da separação, pode haver perda de informação, o que se verifica frequentemente em escavações arqueológicas ilegais (Desvallées e Mairesse, 2013). No final do processo de musealização, como Rivière (1993:229) refere, pode-se distinguir dois tipos de documentos adquiridos. Por um lado, as coisas reais tomam o valor de testemunhos objetivos, já que são fonte de um número infinito de interpretações e de análises, enquanto dure a sua existência museológica - documentos museológicos primários. Quando pelo contrário se trata de fixar fenómenos naturais ou culturais, o museu efetuará registos graças ao arsenal de meios audiovisuais que tem ao seu dispor - documentos museológicos secundários. Ao longo do tempo, e com as diversas manifestações culturais, assiste-se à renovação da ciência museológica surgindo novas correntes, entre as quais a nova museologia, que se contrapõe à denominada museologia tradicional. Esta nova museologia preconiza e impulsiona uma tipologia distinta de museu, sendo que alguns autores defendem que esta terá tido origem em França, depois de 1982. O essencial para a nova museologia era aprofundar as questões da interdisciplinaridade no domínio da museologia, facto que contrariava o saber isolado, absoluto, e redutor da museologia tradicional instituída (Fernandéz, 1995). Deste modo, a museologia tradicional era aquela que se exercia no interior de um edifício, com uma coleção, para um público determinado, exercendo uma função educadora (educação formal) enquanto que a nova museologia era exercida dentro de um território, “trabalhando” o património cultural, com uma comunidade participativa, aspetos esses que faziam com que o museu fosse entendido como um ato pedagógico para o desenvolvimento local, como é possível observar-se no quadro1.

É neste contexto que se torna importante introduzir o conceito de turismo cultural, uma vez que o museu constitui um forte atrativo deste tipo de turismo, podendo-se considerar como o principal produto cultural do turismo. A origem do conceito de turismo, associado ao de cultura, remonta ao Grand Tour, que consistia numa viagem realizada por nobres e burgueses, cujo destino era a Europa e tinha como objetivo principal o contacto com outras culturas e a aprendizagem de novas experiências, tal como a visita aos principais polos culturais, Itália e França (Pérez, 2009). Pode-se por isso afirmar que nestas viagens já estava presente o conceito de turismo cultural, contudo não era ainda muito percetível. Hoje em dia, viajar por motivos culturais é algo recorrente existindo também uma vertente educativa subjacente. Este facto levou à discussão por parte de alguns autores sobre o que é afinal o turismo cultural. O turismo cultural é visto na atualidade como uma alternativa ao turismo convencional (sol e praia) podendo este ser entendido como um ato e uma prática cultural, pelo que falar em turismo cultural é uma reiteração(Pérez, 2009:108). Tal complexidade em definir esta noção constituiu um estímulo para o lançamento do projeto de investigação em turismo cultural pela European Association for Tourism ad Leisure Education (ATLAS), em 1991 (Richards, 1996). Assim, o turismo cultural foi definido como o movimento de pessoas em direção às atrações culturais, específicas, tais como sítios de interesse patrimonial, manifestações artísticas e culturais, fora dos seus habituais lugares de residência, com o intuito de obter novas informações e experiências, de modo a satisfazerem as suas necessidades culturais (Richards, 1996:24). De uma forma geral, o turismo cultural pode ser entendido como o consumo do património e das várias manifestações culturais. A noção de turismo cultural foi alargada ao âmbito do património natural pela World Tourism Organization, em 1985 (Leslie e Sigala, 2005, s/p). Contudo, nem todos os autores concordam com esta definição. Neste sentido, para Barretto (2007), o turismo cultural é todo o turismo cujo principal atrativo não é a natureza, mas algum aspeto da cultura humana podendo ser a história, o quotidiano, o artesanato.

1.2. O novo conceito de museu: o museu interativo e o visitante
Este novo conceito de museu tem gerado consenso entre os especialistas em museologia (Orozco, 2005). Os museus contemporâneos não devem ser organizados nem concebidos como lugares para a contemplação ou observação passiva, por parte dos seus visitantes, mas sim, como cenários propícios ao desenvolvimento educativo, por meio de situações comunicativas que propiciem uma interação lúdica, a própria exploração criativa e o desenvolvimento intelectual (físico e emocional) dos seus visitantes. Por museus interativos entende-se que são aqueles que de alguma forma, oferecem exposições ou objetos interativos de qualquer tipo, o que se deve em parte à utilização crescente de novas tecnologias interativas nos museus (Gonçalves, 2012). Pode-se assim caracterizar este tipo de museus como sendo flexíveis, onde a vertente educativa ocorre sob a forma de “diálogo”, não existindo, por isso, barreiras entre o visitante e o museu. De acordo com Gonçalves (2012), o principal objetivo das exposições interativas é facilitar o processo de transmissão do conhecimento, potenciado a experiência do visitante. Neste sentido, pode-se acrescentar que o museu interativo permite ao visitante sentir-se parte integrante da história que é exibida. Este novo conceito de museu já se encontra em Portugal, e exemplo disso é o Museu dos Descobrimentos, em Belmonte que é um dos mais modernos do país a nível tecnológico, tendo já vencido o prémio Inovação e Criatividade, em 2012. Em contexto museológico, a interatividade consiste na possibilidade de o visitante dar instruções ao módulo interativo, através de ações efetuadas no próprio módulo ou nos seus objetos (Gonçalves, 2012). Neste sentido, pode-se distinguir dois tipos de instalações interativas: as instalações digitais de que são exemplo, os pisos interativos e as não digitais como os elementos rotativos deslizantes.

1.3. Museus, turismo cultural e território
O turismo como motor de desenvolvimento assume-se como uma atividade importante para a economia de um território, capaz de proporcionar desenvolvimento nas várias vertentes, tanto a uma escala nacional, mas também local. Desde sempre que lhe foram reconhecidos benefícios, facto que se deve essencialmente ao efeito multiplicador que se traduz em vantagens tanto diretas como indiretas para os setores económicos locais (Barretto, 2006). A atividade turística usa a singularidade e as especificidades dos locais como atrativos, pelo que a relação do turismo com o património cultural é cada vez maior, uma vez que se utiliza cada vez mais uma grande variedade de produtos culturais, traduzindo-se nem sempre numa relação equilibrada, pois o desenvolvimento da atividade turística nem sempre é benéfico para o património. Todavia, pode acarretar alguns benefícios, nomeadamente económicos tanto para a comunidade local como para o próprio património no que à sua conservação diz respeito. Neste contexto, os museus são parte de uma unidade global e surgem como elemento de ligação privilegiado no diálogo entre o passado e o futuro, porém na atual sociedade do lazer, disputam o tempo livre do indivíduo com um cada vez maior número de atrações (Gonçalves, 2006). De facto, o museu é um elemento fundamental para o turismo cultural, pois em alguns casos o turismo cultural precisa do museu, e noutros é o museu quem precisa do turismo cultural para a sua própria sobrevivência, pelo que os turistas representam uma parte importante das visitas nos museus, assumindo em alguns casos uma percentagem expressiva do seu público. Em tempos cada vez mais difíceis, para o museu, torna-se importante que este coloque à disposição do visitante um conjunto de equipamentos que podem ser: teatros, bibliotecas especializadas, espaços de consumo, como cafetarias, de modo a que a oferta consiga dar origem a um maior tempo de permanência naquele espaço, o que consequentemente se traduzirá em benefícios para o museu e para a própria comunidade local. Hoje não basta que os territórios sejam detentores de um legado histórico relevante, pois é necessário que o território tenha capacidade de atrair turistas, e com isso afirmar-se como destino de turismo cultural, sendo portanto também necessário envolver a população dos territórios, tal como é preconizado pela nova museologia. O território é dinâmico, sendo que por vezes converte-se em museu, e por sua vez, o museu representa um espaço territorial, de expressão da história e arte de uma área geográfica (Gonçalves, 2006). Pode-se, por isso dizer que existe uma dialética entre museu e território, facto que se deve à forte ligação dos recursos patrimoniais com o território, onde estes se inserem. Assim, os museus constituem-se como um forte recurso de dinamização socioeconómica e cultural, pelo que devem ser pensados como uma estratégia de desenvolvimento local, de forma a poder trazer benefícios para o desenvolvimento local nas várias vertentes (Mendes, 2011).

Apesar de existir uma forte relação de “diálogo” entre museu e turismo, esta é ainda pouco significativa, embora já sejam cada vez mais as empresas de animação turística que organizam atividades culturais nos museus, direcionadas em especial para os turistas, não descurando também a população local. Desta forma, pode-se afirmar que existe uma relação de “simbiose" entre museus, turismo, nomeadamente o cultural, e território como é demonstrado na figura 1.

2. Espaços museológicos em Montemor-o-Velho: uma proposta para Verride
2.1. Retrato territorial
O município de Montemor-o-Velho, que se encontra assinalado no mapa, (figura 2) pertence ao distrito de Coimbra, situa-se na Região Centro de Portugal (NUT II) e na sub- região do Baixo Mondego (NUT III), ocupando uma área de 235 km2 que se distribui essencialmente por áreas agrícolas e rurais. O município em estudo encontra-se limitado pelos seus congéneres de Cantanhede a norte, a sul por Soure, a este por Condeixa-a-Nova e Coimbra, e a oeste pela Figueira da Foz. Montemor-o-Velho é composto por 11 freguesias, entre as quais destaca-se a freguesia de Verride, para a qual se destina a proposta museológica. Montemor-o-Velho encontra-se a 16 km da Figueira da Foz e a 25 km de Coimbra, principais polos turísticos especializados na área do comércio e serviços, Montemor-o-Velho apresenta uma forte componente agrícola, embora não predominante, destacando-se as culturas do arroz e milho, bem como a produção do leite, aspetos esses que serão alvo de análise posteriormente.
No que concerne aos aspetos demográficos, verifica-se um decréscimo de população na Região Centro, entre 2001 e 2011. Em 2011, segundo fonte do Instituto Nacional de Estatística (INE), a população residente na Região Centro era de 2.34839 habitantes, enquanto que uma década depois, verificou-se uma diminuição ainda que pouco significativa (0.88 %).
Na sub-região do Baixo Mondego o decréscimo de população é ainda mais visível, sendo que no período homólogo verificou-se uma diminuição na ordem dos 2.35 %. Contrariando esta tendência apresenta-se o Município de Montemor-o-Velho, com um aumento significativo de população entre 2001 e 2011. Assim, em 2001, no município residiam 25.478 indivíduos, tendo esse número aumentado para 26.171, em 2011, registando-se um aumento de 2.72 %. No que respeita à freguesia de Verride, esta tem vindo a perder população residente registando em 10 anos um decréscimo de 16.02 %. O quadro apresentado em seguida (quadro 2) demonstra de forma sintética as variações percentuais que ocorreram em termos de população residente, não só a nível de Montemor-o-Velho, mas também num contexto mais amplo.
Em relação à economia, o concelho de Montemor-o-Velho assistiu a uma profunda alteração na sua estrutura produtiva. Pode-se pensar, a priori, que o principal setor de atividade económica é o primário, em parte devido à predominância dos grandes campos agrícolas e das principais produções agrícolas serem o milho e o arroz, como já fora mencionado, facto que poderá conduzir a uma interpretação errónea sobre a estrutura económica do município. A par disto, e dado o crescente número de população residente neste território, verifica-se que o município não tem capacidade para albergar grande parte da população ativa:Segundo os dados do INE, cerca de 44% dos ativos do concelho trabalham fora deste, ou seja, o concelho de Montemor-o-Velho apenas garante emprego a 56% da sua população ativa residente” (Brites, 2004: 65).
Hoje, as principais atividades no município são as inseridas no setor terciário pelo que em 2011, empregavam cerca de 68% da população residente, existindo no mesmo ano 135 empresas relacionadas com o comércio grosso e de retalho, e apenas uma relacionada com as atividades artísticas de espetáculos, desportivas e recreativas. Em segundo lugar, o setor predominante é o secundário, ao qual 26% da população se dedicava, pelo que no mesmo ano existiam 63 empresas direcionadas para a indústria transformadora. No que respeita ao setor primário este é pouco significativo pelo que empregava apenas 6% da população. Atentando-se mais detalhadamente na figura 3, verifica-se uma inversão na ordem dos setores de atividade. Deste modo, em 1961, o principal setor que empregava a população residente era o primário (71%), seguindo-se o setor terciário (18%) e em último lugar encontrava-se o setor secundário empregando apenas 11% da população residente.
No que concerne ao turismo, o município de Montemor-o-Velho, tal como as suas freguesias nomeadamente Pereira e Tentúgal, possuem centros históricos de grande valor patrimonial e turístico. Neste sentido, o município dispõe de inúmeros recursos turísticos sendo de destacar os edifícios históricos e os de arquitetura religiosa. Em relação aos edifícios históricos, são exemplo: o Solar dos Gavichos e a Casa da Arieira, situados em Tentúgal. Como edifícios de arquitetura religiosa tem-se, por exemplo: o Convento de Nossa Senhora dos Anjos, a Igreja de São Martinho, a Igreja da Misericórdia, na sede de freguesia, e o antigo Mosteiro de Verride na freguesia homónima, entre outros. Para além da vertente cultural, o município apresenta ainda uma forte componente relacionada com a gastronomia, em especial com a doçaria conventual, de que são exemplo, as Queijadas de Pereira, as Queijadas de Tentúgal e o bem conhecido Pastel de Tentúgal. Aliado ainda à vertente gastronómica, o visitante pode ainda degustar pratos cujo ingrediente principal é o arroz e que sempre esteve ligado a esta área, como é o caso do prato de arroz de lampreia. Numa ótica mais direcionada para outras tipologias de turismo, o visitante poderá disfrutar do património natural no qual se integram as paisagens e a área dos bem conhecidos Campos do Mondego, tal como a Reserva Natural do Paul de Arzila e o Paul do Taipal, onde é possível observarem-se inúmeras espécies de animais, em especial as aves que procuram estes locais para nidificar. Ainda na vertente ligada ao “natural”, é de salientar o Parque Zoológico Europaradise que alberga cerca de 250 espécies de animais. Para além disto, e relacionado com as atividades de lazer, é possível praticar hipismo, ciclismo, pesca, canoagem, tiro, entre outras modalidades desportivas. O município de Montemor-o-Velho tem vindo a desenvolver roteiros turísticos, de forma a potenciar os recursos essencialmente relacionados com o passado histórico. Deste modo, foram desenvolvidos três roteiros: o roteiro medieval em Montemor-o-Velho, o roteiro turístico de Tentúgal e ainda o roteiro turístico de Pereira. O roteiro medieval tem como pontos de passagem: a Capela de São João, em ruínas, a Igreja de Santa Maria de Alcáçova (igreja do castelo), o próprio castelo, as ruínas da Igreja de Santa Maria Madalena e da Capela de Santo António, e como ponto final de passagem a Igreja de São Martinho. O roteiro de Tentúgal tem como pontos fundamentais: a Capela de Nossa Senhora das Dores, a Igreja da Misericórdia, a Igreja Matriz, a Torre do Relógio e o Convento de Nossa Senhora do Carmo. Em relação ao roteiro de Pereira, são pontos de passagem: o Celeiro dos Duques de Aveiro, a Igreja da Misericórdia e a Igreja Matriz de Santo Estevão. Relacionado com a atividade cultural em Montemor-o-Velho é importante salientar o festival de teatro CITEMOR que é um dos mais antigos do país, e que curiosamente atrai muitos visitantes, mas não a comunidade local, e o festival de Jazz, denominado INJAZZ. O município apesar de possuir recursos turísticos variados não conseguiu ainda desenvolver atividades culturais, ou outras, capazes de aumentar o número de visitantes que permaneçam durante um determinado período de tempo, o que em parte se deve ao facto deste possuir apenas um hotel, tal como é referenciado no anuário estatístico da Região Centro relativamente ao ano 2012.

2.2.O Mosteiro de Verride
Verride fora durante anos um couto do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, tendo tido Foral Manuelino em 1514, e na época constitucional, de 1844 a 1853, fora um concelho, existindo mesmo o título de Conde de Verride (Correia e Gonçalves, 1953:154). É nesta atual freguesia, outrora bastante conhecida, que se encontra o antigo Mosteiro de Verride, também designado por Convento de Almiara, por pertencer à Quinta de Almiara. O mosteiro (figura 4) encontra-se situado perto da estação ferroviária, a sensivelmente 15 minutos a pé. O edifício em si abrange uma área considerável, encontrando-se delimitado por uma Zona Especial de Proteção (ZEP) atribuída pelo Instituto de Gestão do Património Arquitetónico e Arqueológico (IGESPAR), aquando da sua classificação (figura I, em anexo). O acesso ao mosteiro não é fácil, uma vez que as terras envolventes se encontram vedadas, sendo que o único caminho possível é mesmo por estas, pois a entrada pelo lado da linha férrea é bastante perigosa, dado o perfil do terreno. A entrada pelas traseiras, à data da visita, foi também completamente impossível devido à densidade da vegetação. A par disto, é também importante referir que nem todas as alas se encontram acessíveis, sendo que algumas apresentam mesmo risco de ruir, encontrando-se em perigo quem ousar transpô-las.
2.2.1.Percurso histórico
A primeira referência a Almiara, conhecida, aparece na doação de Afonso Gonçalves e de sua mulher Belida Soares, de terras em Verride, na Almiara, feita em 1194. Posteriormente, em 1285, sabe-se que a quinta se encontra na posse da Prioresa do Mosteiro de Santana sendo nesse mesmo ano, por ela, vendida ao Prior-mor de Santa Cruz paraos seus religiosos se irem recrear e aliviar dos trabalhos do mosteiro, uma vez no ano, nos meses de verão” (Conceição, 1992:360-361). Aliados à “vida” de Verride, estão a partir desta data os monges de Santa Cruz de Coimbra a quem se deve o arroteamento das lezírias, tal como a introdução do cultivo do arroz tendo naquele sítio edificado o mosteiro (Góis, 1995). Mais tarde, sabe-se que em janeiro de 1572, a quinta deixou de pertencer à ordem de Santa Cruz pois o Prior-geral, D. Lourenço Leite, adquiriu a Quinta de Almiara a João Gonçalves Azambuja, tendo nesse mesmo ano retomado para a posse da ordem de Santa Cruz de Coimbra, dando-se a fundação do mosteiro2 (Carvalho, 2011). Já no século XVIII verificou-se uma reforma arquitetónica do edifício, sendo que ainda hoje, se conservam muitos elementos arquitetónicos desta época. Em 1834, aquando da extinção das ordens religiosas, o mosteiro é vendido em hasta pública, pelo que hoje pertence a particulares. Pode-se assim, depreender que mosteiro não teve somente uma função religiosa em toda a sua história, mas também uma função residencial. De acordo com o jornal Gazeta de Coimbra, de 2 de outubro de 1919, pensou-se que o antigo Mosteiro de Verride seria propício para a instalação de um asilo onde fossem recebidos os filhos e filhas dos militares mortos em combate, na primeira Guerra Mundial, mas rapidamente o espaço revelou-se inadequado tendo-se abandonado essa ideia. A partir desta altura a história do mosteiro perde-se no tempo, e pelas informações que se obtiveram, dos habitantes locais, conseguiu-se saber que entre 1952 e 1954, o mosteiro era ainda habitado, mas após o falecimento do último habitante da casa, esta fora encerrada. Posteriormente, nos anos 90, a recuperação do imóvel esteve para se realizar, mas na época o antigo Instituto Português do Património Arquitetónico (IPPAR) inviabilizou o negócio, levando os interessados no espaço a desistir do projeto de converter o mosteiro num hotel de charme.
A 23 de Março de 2000, o mosteiro é classificado como imóvel de interesse público (IIP). Apesar desta classificação, o edifício encontra-se num avançado estado de degradação, e completamente ao abandono, apesar de ser bastante conhecido e contemplado por quem passa por Verride.

2.2.2. Aspetos arquitetónicos
O edifício apresenta uma longa fachada Setecentista (figura II, em anexo), conservando a cor avermelhada que se desenvolve num sentido horizontal, destacando-se a área central, cuja entrada apresenta arcaria de volta perfeita (figura II, em anexo), embora não seja muito percetível, devido à vegetação que a envolve. A fachada é composta por duas filas de janelas, sendo que as do piso térreo são “cegas”, o mesmo acontecendo no terceiro andar do torreão (figura II, em anexo). É importante também destacar o frontão triangular (figura II, em anexo), por se tratar de um belo elemento arquitetónico, tal como o pombal existente. Pensa-se que o projeto inicial contemplava dois torreões, dos quais resta apenas um, e alguns vestígios do segundo, que não se sabe se foi destruído ou nunca chegou a ser concluído (Carvalho, 2011). Na fachada posterior, existe uma parte perpendicular que articula o edifício habitacional com a capela, paralela a este alçado. Pelo que se conseguiu saber perpendicularmente à igreja existiria um claustro, com arcaria semelhante a da entrada, mas que desde 2009 está completamente inacessível. Em relação aos pátios, um conduziria às áreas agrícolas e outro às cavalariças, atualmente também inacessíveis. No interior do edifício destaca-se a sala do refeitório dos monges, com painéis azulejares azuis e brancos e o teto de caixotões. A sala “principal” localizada no segundo piso do torreão, para além de também ser composta por painéis azulejares, dos quais atualmente existem apenas vestígios, apresenta um fresco (figura III, em anexo) no teto, que exibe a data de 1755, retratando as armas de Portugal e as insígnias da ordem de Santa Cruz, o que denota a relação com a ordem. Para além destas duas salas importantes, os dormitórios apresentam ainda algumas peças de mobiliário que poderão eventualmente ainda ser do século XVII.
A capela adjacente ao edifício principal é característica do barroco. Na capela privativa, dedicada a Santo Agostinho, ainda se conservam alguns vestígios dos conjuntos azulejares do século XVIII, de fabrico coimbrão, em azul e branco, que representam cenas da vida dos crúzios e de Santo Agostinho (Correia e Gonçalves,1953:155). A capela inicialmente, junto ao altar-mor, seria composta por dois retábulos em talha dourada, mas que acabaram por ruir (figura IV, em anexo) tendo a talha sido furtada. A sacristia tem azulejos de ramagens (Dias, 2010).

2.2.3 O espólio
O espólio do Mosteiro de Verride é essencialmente constituído por mobiliário (mesas, cadeiras, armários) e ainda por alguns vestígios azulejares, embora parcos, devido aos furtos ocorridos nos últimos anos. Em relação aos painéis azulejares, conseguiu-se saber que alguns azulejos encontram-se sob a guarda de alguém que denota interesse neste género de elementos. Em relação às esculturas que ornamentavam o altar nada se sabe acerca destas.
Por esta razão, e dado o facto de o espólio existente ser bastante reduzido, aquando da musealização do espaço poder-se-ia contactar o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, a fim de se averiguar se o mesmo possuiria no seu acervo alguns objetos relacionados com o Mosteiro de Verride, e que eventualmente poderiam ser incluídos no museu. O facto de a proposta museológica se encontrar direcionada para a ordem de Santa Cruz, possibilitaria de certa forma a concessão de empréstimos, nomeadamente com o Museu Nacional Machado de Castro, que possui no seu acervo algumas peças de arte sacra ligadas ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Para além disto, poder-se-ia também realizar uma investigação mais profunda junto de todos os proprietários, dado o facto de serem catorze, de forma a conseguir-se algumas informações acerca do paradeiro de outras peças relevantes. Pelo facto de o espólio ser parco, muito do material expositivo teria de ser criado, partindo de investigações, de forma a colmatar este entrave.

2.3. Da recuperação à musealização
O projeto inicialmente seria divulgado junto de possíveis investidores, como a Câmara Municipal de Montemor-o-Velho, que neste momento manifestou interesse em adquirir o imóvel, tendo já encetado contactos nesse sentido. Posteriormente seria importante encontrar instituições dispostas a levar a cabo o projeto, para que se pudessem formar parcerias.
Neste sentido, como possíveis parcerias ter-se-ia: a Federação de Amigos dos Museus de Portugal, a Direção Geral do Património Cultural (DGPC), o Turismo do Centro, o Hotel Abade João, em Montemor-o-Velho, a Câmara Municipal de Coimbra, e possivelmente o Mosteiro de Santa Cruz e a Universidade de Coimbra, não como entidades financiadoras, mas como entidades de apoio na investigação necessária. Posteriormente seria necessário realizar uma avaliação das condições estruturais do edifício, bem como dos elementos arquitetónicos passiveis de recuperação, restauração. Ainda nesta etapa, proceder-se-ia a outros trabalhos prévios, como por exemplo, o isolamento das paredes, em especial as da Sala Multimédia, ou até mesmo a demolições em pequena escala, de forma a adequar o espaço às necessidades do museu. Depois desta etapa concluída proceder-se-ia à limpeza da vegetação e consequentemente ao início das obras propriamente ditas. Dado o facto de o edifício ser antigo e de se encontrar abandonado teriam de se instalar alguns equipamentos básicos como: eletricidade, saneamento, água canalizada, gás canalizado, caso possível, rede de comunicações (telefones e internet), ar condicionado, e outros equipamentos básicos a fim de promover o bem-estar dos visitantes. Após a conclusão geral das obras dar-se-ia início à restauração dos azulejos de cada uma das salas e da capela, os possíveis de restaurar, tal como o mobiliário e outras peças passiveis de restauração. Posteriormente dar-se-ia início ao processo de musealização com a deslocalização dos objetos para as diferentes salas existentes, utilizando os mais adequados em cada uma delas, começando-se também nesta etapa a organizar as exposições. Dado que seria necessário construir algum material expositivo era também nesta etapa que se realizaria. A par disto, seria imprescindível proceder à instalação de luminárias nos painéis expositivos, tal como de equipamento de som, em especial na capela e na Sala Multimédia. Após todos os trabalhos concluídos inaugurar-se-ia o espaço museológico.

2.4. Principais objetivos do núcleo museológico
Os objetivos do núcleo museológico devem ir ao encontro do projeto museológico adotado por este. Neste sentido, passa-se a elencar os objetivos do núcleo museológico de Verride:

  • Preservar e documentar o espólio que esteja sob a gestão do museu;
  • Promover a autoaprendizagem que será inferida pelos visitantes de forma lúdica;
  • Proporcionar serviços a um público tão amplo quanto o possível;
  • Promover a investigação e publicação de uma revista mensal ou anual, por exemplo, em que estivessem documentadas todas as atividades realizadas nesse período de tempo;
  • Desempenhar um papel ativo na vida cultural da comunidade local;

2.5. A ideia e a temática do projeto museológico
A proposta de musealização aqui apresentada tem como tema principal a ordem de Santa Cruz de Coimbra, sendo em torno desta que se desenvolverá as exposições. Por esta não ter um espaço museológico e pelo facto de Montemor-o-Velho não possuir um museu, esta proposta torna-se uma mais-valia para o desenvolvimento local do município, não só em termos turísticos, mas sobretudo em termos culturais. Com esta ideia museológica espera-se conseguir cativar e instruir, por um lado a comunidade local, que deverá ser sempre envolvida neste tipo de projetos, tal como os visitantes nacionais e estrangeiros que com este espaço ficarão a perceber um pouco mais da história, não só do mosteiro, mas também da ordem que a ele está associada. Neste sentido, o museu integrar-se-á na nova corrente museológica, pelo que se procurará uma interação constante com o visitante, o que só é possível através de módulos interativos, fazendo com que as barreiras entre a história e este se dissipem. Deste modo, e aproveitando-se ao máximo a estrutura arquitetónica, o núcleo museológico seria composto por oito salas expositivas, sendo que três delas seriam a recriação das celas dos monges, e uma, o refeitório dos mesmos. Para além destas existiria ainda uma cafetaria, de traços muito simples, de forma a proporcionar um espaço de lazer ao visitante e ainda uma loja integrada na receção, onde fosse possível a aquisição de produtos relacionados com a temática do núcleo museológico. Em relação à capela está seria recuperada, mas não musealizada. Na receção encontrar-se-ia à disposição do visitante o hábito tradicional da ordem de Santa Cruz de Coimbra, em tamanhos diferentes, que caso entendesse poderia usar durante a visita, para se sentir parte integrante da história que é exposta. Na Sala Santa Cruz (figura V, em anexo) encontrar-se-iam cinco rolos de papel presos ao teto, onde cada um teria inscrito um dos cinco princípios das regras de Santo Agostinho, por onde a ordem de Santa Cruz se rege. Neste seguimento o visitante poderia encontrar exposto o traje representante da ordem, juntamente com uma legenda, para que o processo de aprendizagem fosse mais fácil. Em redor da sala seriam também colocados cinco painéis expositivos, devidamente iluminados, que contariam a história da ordem de forma sucinta e criativa aludindo também à introdução da prática do cultivo do arroz. Ainda nesta sala, seria possível encontrar-se um mapa interativo que demonstraria os vários coutos pertencentes à ordem de Santa Cruz, tal como uma vitrina, onde eventualmente pudessem ser expostos objetos da ordem. Outra sala seria a Sala Multimédia (figura VI, em anexo), esta teria capacidade para 30 pessoas sentadas e é onde seria visualizado um documentário acerca da ordem de Santa Cruz, funcionando como um complemento à Sala Santa Cruz. A Sala Volátil (figura VII, em anexo) seria o espaço destinado às exposições de carácter temporário, pelo que a sua organização seria adaptada às necessidades expositivas. Como cartão-de-visita da exposição temporária, existiria um piso interativo, onde se encontraria a imagem de marca da exposição a acontecer. A Sala Almiara (figura VIII, em anexo) seria o espaço dedicado ao mosteiro, nesta sala o visitante poderá encontrar um fresco no teto com as armas de Coimbra e as insígnias da ordem, datado de 1755, tal como alguns azulejos restaurados. Esta sala faria referência às várias etapas desde a recuperação até à musealização do mosteiro, através de fotografias que estariam expostas, tal como de um vídeo que explicaria todo o processo. Para contar a história do mosteiro, desde a sua fundação, existiria uma estante cujas caixas em forma de livro, estariam dispostas por ordem cronológica, pelo que o visitante se quisesse saber mais sobre essa data só teria de abrir o “livro”. Seguidamente ter-se-ia o refeitório dos monges (figura IX, em anexo), sendo que o mobiliário seria recuperado dentro dos mesmos padrões estéticos usados na época, mantendo-se também o teto de caixotões. Em relação às celas (figura X, em anexo) o mobiliário seria de características simples, como é um dos princípios da ordem. No núcleo educativo do museu, que seria posteriormente criado, desenvolver-se-iam atividades, como pintura, jogos, caça ao tesouro, destinadas ao público infantojuvenil.

2.6. A promoção e a dinamização do espaço
A promoção do espaço seria essencialmente feita através do Website do museu, que seria criado posteriormente e que permitiria a realização de uma visita virtual. As redes socais também teriam um papel fundamental (facebook, twitter) de forma a conseguir-se atingir um público-alvo mais amplo e não só nacional. Neste mesmo seguimento, criar-se-ia uma revista anual ou quinzenal, onde constassem as atividades desenvolvidas pelo núcleo museológico. O museu, bem como os eventos nele realizados seriam ainda publicitados nos jornais locais, tal como nas cidades de Coimbra e Figueira da Foz, dada a sua proximidade geográfica com Montemor-o-Velho. Em relação à dinamização do espaço existiriam eventos, como por exemplo, as conversas no Museu, relacionadas com a arte da talha dourada e com o azulejaria, que seriam realizadas na Sala Multimédia. A par disto, poderia existir o “ jantar conventual” organizado uma vez por mês, no refeitório dos monges. Poder-se-iam também realizar concertos de música na capela, dado o facto da ordem de Santa Cruz possuir um acervo musical bastante denso, que se encontra ainda em estudo. Estes eventos organizados, tal como a promoção do museu, constituir-se-iam fundamentais para a projeção da imagem de Montemor-o-Velho e de Verride, no contexto nacional e internacional.

2.7. Um percurso de visita para o núcleo museológico de Verride
O visitante é livre de visitar o museu pela ordem que bem entender, sendo que o percurso mais lógico a realizar é o que será aqui apresentado. Deste modo, o visitante entra no museu e a primeira sala a visitar é a Sala Santa Cruz e como forma de complemento sugere-se que a próxima seja a Sala Multimédia. De seguida, o visitante iria até ao primeiro andar, onde passaria pelas celas, e posteriormente pelo refeitório dos monges. Depois, ascenderia ao segundo andar, onde encontraria a Sala Almiara. Posteriormente regressaria ao primeiro piso e passaria pela Sala Volátil e para terminar a visita passaria pelo claustro (figura. XI, em anexo) e visitaria a capela, podendo depois realizar uma pausa na cafetaria do museu (figura XII, em anexo).

2.8. Análise SWOT do projeto
A análise SWOT tem como objetivo perceber quais seriam as forças (Strengths), as fraquezas (Weaknesses) e as oportunidades (Opportunities) para o município e para a própria freguesia, tal como as possíveis ameaças (Threats) que podem existir, a um projeto com estas características. A análise SWOT encontra-se de forma sucinta no quadro abaixo apresentado (quadro 3).
2.9. Sugestão de um plano de gestão
Hoje em dia, é importante para qualquer museu ter um plano de gestão não só das atividades, mas da própria gestão dos recursos humanos. Em relação à gestão do espaço de lazer, optar-se-ia por entregar a mesma a uma empresa de concessão sendo que esta teria de pagar uma renda fixa à administração do museu. Para além disto, todas as limpezas do espaço seriam da inteira responsabilidade de um grupo de Limpeza externo ao museu, escolhido por concurso público. No que concerne aos recursos humanos, ter-se-ia três categorias: internos, móveis e externos, num total de aproximadamente 5 funcionários internos e um número ainda indefinido dos restantes funcionários, que seria destinado consoante as necessidades do museu, como se apresenta no seguinte organigrama (figura 5).
Relativamente à gestão das atividades faz-se a sugestão do programa para o dia da inauguração do museu. No primeiro dia de abertura, os visitantes não terão de suportar o custo dos ingressos, à exceção de lembranças caso as pretendam adquirir na loja. Em seguida, apresenta-se o calendário das atividades para o dia da inauguração (quadro 4).

3. Conclusão
O tema enfoque neste trabalho de investigação foi o turismo cultural, sendo que a partir deste apresentou-se uma proposta de musealização para o antigo Mosteiro de Verride, situado na freguesia homónima, pertencente ao Município de Montemor-o-Velho. A proposta apresentada constituiria uma mais-valia para a projeção do município, tal como de Verride não só a nível nacional, mas também internacional, o que ainda é um aspeto pouco desenvolvido, apesar do território possuir imensas potencialidades e recursos turísticos, que não estão a ser aproveitados de forma adequada. O facto de Montemor-o-Velho não possuir alojamentos hoteleiros, a não ser um hotel com apenas 20 quartos, inviabiliza os eventos que se poderão vir a organizar no museu do mosteiro, pois os sítios de pernoita mais próximos situam-se em Coimbra e Figueira da Foz, o que faz com que as receitas não revertam para o desenvolvimento da comunidade local. Um dos aspetos que se pôde observar é que os roteiros organizados pela câmara (roteiro medieval, roteiro de Pereira, e o roteiro de Tentúgal) não se encontram devidamente organizados, pelo que o visitante que os queira realizar, não encontra a duração do percurso, nem o grau de dificuldade dos mesmos. Neste sentido, Montemor-o-Velho é um município que em termos turísticos ainda se encontra muito pouco desenvolvido e organizado, pois apesar de no Website da câmara municipal se indicar que existe um posto de turismo na área do castelo, ao visitar o local, em 2014, não encontrei qualquer sinalética que indicasse a sua existência, sendo que me foi dito por um habitante que o único local de informação dentro do castelo seria a Casa de Chá, mas que só estaria aberta na época estival. Em alternativa a esta, a Biblioteca Municipal seria o ponto mais próximo, embora pude constatar que quem nela trabalha não possui um bom conhecimento acerca do território, não podendo informar o visitante sobre quais os pontos de interesse turístico. Para além disto, pode-se verificar que o município não investe na divulgação da sua imagem turística, enquanto destino de turismo cultural, apesar de possuir recursos patrimoniais para tal. Já no que concerne ao antigo Mosteiro de Verride, apesar de se encontrar abandonado, e em avançado estado de degradação, é conhecido por imensos estrangeiros e nacionais, como é corroborado pelos inúmeros blogs e websites na Internet que referem o espaço, razão pela qual a proposta museológica apresentada faria sentido.

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1 De acordo com Rivière (1993), a museografia é um corpo de técnicas e de práticas aplicadas ao museu.

2 A data de fundação do mosteiro não gera consenso entre os autores, apontando-se duas datas possíveis, 1285 e 1572, como fora mencionado.