DESSACRALIZAÇÃO DO SAGRADO CRISTÃO EM FRIEDRICH NIETZSCHE E RUDOLF OTTO

DESSACRALIZAÇÃO DO SAGRADO CRISTÃO EM FRIEDRICH NIETZSCHE E RUDOLF OTTO

Graça Auxiliadora Nobre Lopes (CV)
Ione Vilhena Cabral (CV)
Tatiani da Silva Cardoso (CV)
Roberto Carlos Amanajás Pena (CV)

3.6. O aspecto fascinante

O fascinante é vivenciado pelo indivíduo no sentir, experiência essa de expectar o algo mais, transcender seu estado mundano para viver um maravilhamento do seu contato com o divino. Para Otto, este aspecto do numinoso apresenta características específicas como ser atraente, sedutor e interage de forma harmônica com os elementos do tremendum.
A aproximação com o misterioso provoca fascínio. Otto esclarece que o aspecto fascinante é visto como assombro e terror, mas isto nada impede de ser intuído pela psique como encantador, sedutor e, que por mais que a criatura esteja estremecida diante do “assombro”, ela é atraída por este para assimilá-lo, pois reconhece e diferencia o que é demoníaco e divino.
Convencionou-se analisar o aspecto fascinante como uma categoria racional, mas Otto afirmará que este aspecto é irracional e este apenas foi esquematizado como racional para explicar conceitos como o amor, misericórdia, compaixão, caridade, recaindo na intenção de exprimir a experiência religiosa do maravilhamento da beatitude, mas a categoria racional utilizada para exprimir os conceitos do fascinas não esgota o mesmo. O que Otto afirmará:

[...] O enlevo beatífico é muitíssimo mais que mero e natural consolo, confiança, felicidade no amor, por mais intensos que sejam. A “ira”, em termos estritamente racionais ou éticos, ainda não esgota o elemento profundamente arrepiante encerrado no mistério da divindade, e “atitude misericordiosa” [gnãdige Gesinnung] ainda não esgota o elemento profundamente prodigioso [wundervoi] do beatífico mistério contido na experiência da divindade. [...] (2007, p. 69)

Afinal, o que se pode deduzir de modo abrangente é que a criatura ao experimentar um sentimento com o arrepiante, fascinante, encantador, atraente, todos de forma expressiva, externaliza sua experiência da divindade como algo inexplicável, indizível, vivenciado no mais extremo estado da beatitude; busca intuir palavras para descrever o aspecto fascinante que algumas vezes não corresponde ao que foi experimentado. Os atos e ritos sacramentais são realizados para alcançar de alguma forma o divino, mas a criatura apresenta receio em se aproximar ou se apossar do numinoso.
Para alguns, o mistério da divindade, seja como for, exerce uma qualitativa atração, “extremamente beatífica”, não podendo ser expressa através de conceitos, sejam eles doutrinários ou não. O aspecto fascinante é experimentado num inebriante estado de beatitude que se configura como algo que está além de convenções lingüísticas e imagéticas.