PATRIMÓNIO, TURISMO E LAZER

Paulo Carvalho

Viagem ao universo e património literário de Miguel Torga
A Cordilheira Central Portuguesa através do Diário (1932-1993)

 

1. Nota preambular

A nossa participação no “Painel 2 – Discurso ficcional e realidade da viagem”, do Colóquio “Viagem e(m) Movimento” (Faculdade de Letras de Coimbra, 3 e 4 de Março de 2009), teve como suporte uma comunicação em torno do valor documental da literatura de viagem de matriz realista para reconstituir dinâmicas territoriais e revisitar paisagens, designadamente a Cordilheira Central Portuguesa. A escolha desta temática decorre da investigação realizada nos últimos meses (que corresponde ao aprofundamento de linhas de pesquisa emergentes no contexto do nosso doutoramento), tendo em vista a publicação de um artigo nos Cadernos de Geografia (Faculdade de Letras/Universidade de Coimbra). A realização deste evento coincidiu com a fase final de redacção do referido texto que, com as alterações necessárias, constituiu o ponto de partida da presente reflexão.
A estrutura da comunicação reflecte dois objectivos principais: por um lado, pretendemos contextualizar, de forma simplificada, o percurso e a obra literária de Miguel Torga; por outro, pretendemos explicitar as dinâmicas territoriais das áreas de montanha, nomeadamente a Cordilheira Central, utilizando com referência uma das obras mais originais do universo literário torguiano: o Diário. Será este, também, o fio condutor do texto que agora apresentamos.
As obras literárias de cariz realista, centradas na leitura das experiências relacionadas com os territórios e as populações, configuram um recurso relevante para a reconstituição histórico-geográfica de espaços específicos e um registo essencial da sua memória. A geografia, através de contributos diversos, tem reconhecido a importância destas fontes de informação escrita para melhor compreender as paisagens.
Na amplitude dos trabalhos geográficos a respeito desta temática, evoco o pioneirismo do professor doutor Aristides de Amorim Girão (1896-1961), que em meados do século passado, em nota publicada no Boletim do Centro de Estudos Geográficos de Coimbra, sob o sugestivo título “Geografia e Literatura”, chamava a atenção dos geógrafos para o facto de a investigação se revelar em muitos casos incapaz de fazer a “(…) cabal interpretação da fisionomia terrestre, e como a ciência e a arte precisam de aliar-se com o objectivo de nos darem o quadro completo das nossas paisagens” (Girão, 1952: 106). 

2. Miguel Torga: viagens, paisagens e património literário


Adolfo Correia Rocha (Miguel Torga) nasceu em São Martinho de Anta, uma pequena aldeia do concelho de Sabrosa, distrito de Vila Real, a 12 de Agosto de 1907, e faleceu em Coimbra, a 17 de Janeiro de 1995. Oriundo de uma família de camponeses, aos 10 anos vai trabalhar, como “criado”, para o Porto, em casa de uns parentes. Aos 13 anos, após uma passagem pelo Seminário de Lamego, embarca para o Brasil (Leopoldina – Minas Gerais), onde permanecerá cinco anos na fazenda de um tio paterno. Aos 18 anos regressa a Portugal. Retoma os estudos (liceu) em Coimbra e apenas três anos depois ingressa no curso de Medicina da Universidade de Coimbra (que concluirá em Dezembro de 1933). Após uma passagem meteórica pela sua terra natal (final de 1933), Miguel Torga vai trabalhar como clínico geral para Vila Nova – Miranda do Corvo (Serra da Lousã), entre 1934 e 1938. Depois, regressa a Coimbra, faz a especialidade médica (final de 1938) e trabalha algum tempo em Leiria (meados de 1939 até 1941). Em 1941, muda-se definitivamente para Coimbra, onde vai exercer medicina por mais de cinquenta anos.
Motivos profissionais, relações de amizade e sobretudo uma paixão profunda e declarada pela descoberta e fruição da paisagem, explicam o lugar destacado de Torga entre os grandes calcorreadores e conhecedores de Portugal. Como confessa o próprio autor:
“Açor, Serra da Lousã, 25 de Outubro de 1942 – Aqui estou, no alto desta serra ondulada, sentado, a contemplar um largo horizonte (…).
As dobras e as cores do chão onde firmo os pés foram sempre no meu espírito coisas sagradas e íntimas como o amor. Falar duma encosta coberta de neve sem ter a alma branca também, retratar uma folha sem tremer como ela, olhar um abismo sem fundura nos olhos, é para mim o mesmo que gostar sem língua, ou cantar sem voz. Vivo a natureza integrado nela. De tal modo, que chego a sentir me, em certas ocasiões, pedra, orvalho, flor ou nevoeiro”. (Diário II, 1999: 184).
“Fundão, Serra da Gardunha, 24 de Fevereiro de 1945 – Pareço um doido a correr esta pátria. Do Gerez a Monchique e do Caldeirão a Bornes, não tenho sossego. E nem saber ao certo para quê! (…) Talvez sem eu ter consciência disso, cultivo-me assim pelos olhos e pelos pés, no alfabetismo íntimo das cousas; expressivas na sua luz, no seu clima e no seu paralelo particular. A terra não é igual em lado nenhum (…)”. (Diário III, 1999: 303).
“Pinhel, 21 de Outubro de 1955 – Ah, sim lá conhecer Portugal conheço-o eu! Não houve aceno de monte ou de planície a que não respondesse. Subi a todas as serras e calcorreei todos os vales desta pátria”. (Diário VIII, 1999: 809).
A obra literária de Miguel Torga, com início em 1928 (ano em que publica o seu primeiro livro de versos, Ansiedade), reparte-se por mais de meia centena de livros, em edições de autor, que cruzam diversos géneros: poesia, teatro, ficção narrativa, literatura de viagem e diarística. Neste percurso literário destacam-se duas obras de características marcadamente autobiográficas: a Criação do Mundo e o Diário. A Criação do Mundo é um romance autobiográfico, uma transposição narrativa da vida e vivências de Torga, da infância até à idade adulta. O Diário, publicado em 16 volumes que abrangem mais de 3000 páginas, com acontecimentos datados de 1932 a 1993, portanto mais de 60 anos de registos, é um exemplo muito relevante de como uma obra literária centrada no registo quotidiano de acontecimentos e vivências de lugares é, ao memo tempo, uma fonte de informação essencial para reconstituir a memória do século XX português. Para além de Portugal, o Diário retrata outras escalas geográficas das viagens de Torga, a cerca de duas dezenas de países (Europa, Américas, África e Ásia), destacando-se Espanha, nomeadamente as regiões raianas da Galiza, Estremadura, Andaluzia, Castela e Leão, como o destino mais referenciado (cerca de 30%) no total de entradas de territórios estrangeiros (CHOUPINA, 2005).
A investigação geográfica realizada por Francisco CHOUPINA (2005) permite conhecer em profundidade os lugares e os percursos registados no Diário. O Diário apresenta quase 3000 entradas ao longo das 3244 páginas dos 16 volumes que o compõem. “A cada entrada corresponde uma referência geográfica, que quase sempre corresponde ao nome de uma localidade, mas que também pode ser o nome de uma capela, de um bairro, de um rio, de uma serra, de uma linha ferroviária, de uma província, de uma ilha. São estas referências que espacializam os registos de Torga e nos permitem ir no encalço do próprio Autor” (CHOUPINA, 2005: 161).
De acordo com o citado investigador, as referências geográficas (mais de 550 distintas, o que dá uma média de 35 por volume) apresentam uma distribuição e uma frequência muito diferenciadas em Portugal Continental. A este respeito, importa destacar as seguintes evidências:
– O maior número de referências está relacionado com o espaço de residência (em particular Coimbra) e de origem (São Martinho de Anta).
– Gerês e Chaves aparecem também com uma boa representatividade pois configuram os espaços de ocasião mais frequentados, ligados ao termalismo.
– Em torno destes lugares (Coimbra, São Martinho, Chaves e Gerês) destaca-se “um conjunto de referências-satélite, resultantes das incursões das estadas, mais ou menos longas, mas quase sempre assíduas, do Poeta” (CHOUPINA, 2005: 278).
O fascínio de Torga pelo mundo rural e pelos ambientes de montanha está bem documentado nesta obra. As serras do Minho, as elevações Transmontanas, as serranias do Centro de Portugal e em particular algumas serras de xisto da Cordilheira Central (como a Lousã e o Açor) fizeram parte dos percursos, das vivências e das reflexões do escritor. 
    

3. A Cordilheira Central através do Diário (1932-1993): impressões e registos em torno do diacronismo paisagístico e patrimonial   

A Cordilheira Central configura um espaço de montanha no coração de Portugal, estruturado em torno de dois blocos principais: o noroeste, com as serras da Lousã, do Açor e da Estrela, e o sudoeste, com as serras de Alvelos, Muradal e Gardunha – a que podemos associar outras sub-unidades morfo-estruturais de menor dimensão. A imponência destes relevos, sobretudo de xisto e de granito, mas também com alguns alinhamentos de quartzito, profundamente talhados por linhas de água (em particular o Mondego e o Zêzere) é um desafio permanente às capacidades do homem para ocupar e transformar as suas paisagens, apropriar recursos e induzir alterações funcionais (no espectro das actividades produtivas às práticas do lazer), de acordo com os diferentes objectivos, valores e meios técnicos e tecnológicos que marcam a sucessão do tempo histórico.
No Diário, a Cordilheira Central aparece confinada às serras de xisto, designadamente a Lousã e o Açor. A Estrela, apesar da sua imponência e relevância paisagística, mereceu apenas algumas breves referências (através das entradas Sabugueiro, Poço do Inferno, Assedasse e Folgozinho) e quase todas desterritorializadas, ou seja, sem ligação (pelo menos aparente) às suas características geográficas. De facto, as deambulações de Torga pela Cordilheira Central revelam a primazia das paisagens de xisto e a importância da montanha como um símbolo incontornável da Beira e uma força que “tudo atrai e que tudo dispõe” (Torga, 2007: 59).
“Vide, 16 de Outubro de 1943 – A Beira, surpreendida na sua xística pureza. Uma ribeira de água cristalina, mãe do Alva, meia dúzia de ovelhas e o seu pastor – o símbolo aqui, está tão confundido com a realidade, que tanto monta entender ovelhas por gado como por gente, e pastor por um homem de manta às costas ou pelo padre Cândido”. (Diário III, 1999: 266).
“Arganil, 21 de Julho de 1944 – Esta Beira confunde-me. Vejo que há nela qualquer coisa de específico e seu, que tem grandeza e verdade, quase que vislumbro a coisa nestes pequenos rios que correm sem fúria e nestas serras sem majestade, mas não apanho a verdade toda.” (Diário III, 1999: 289).
A montanha como dimensão monumental e centrípeta da Beira é reconhecida também na obra Portugal, editada pela primeira vez em 1950. Nesta obra, Torga explica que “Beira quer dizer já de si beira da serra. Mas não contente com essa marca etimológica que lhe submete os domínios, do seu trono de majestade a esfinge de pedra exige a atenção inteira. Alta, imensa, enigmática, a sua presença física é logo uma obsessão. (…) O Marão separa dois mundos – o minhoto e o transmontano. O Caldeirão, no pólo oposto de Portugal, imita-o como pode. Mas a Estrela não divide: concentra. O muro cresceu, alargou, e transformou-se na extensão que teria de partilhar. O pouco que ficou desse abraço, são flancos, abas, encostas e escorrências de aluvião. (…)
Jungida assim à razão centrípeta da granítica matriz, a Beira ganha um sentido geográfico que não anda nos mapas administrativos, mas se imprime na retina” (TORGA, 2007: 53-54).
O poeta não esconde a sua adoração pelas belezas naturais da Beira, destacando o rio Alva, o fascínio da subida aos cumes da montanha e a admiração pela tenacidade do homem nesse contexto frequentemente adverso:
“Barril de Alva, 27 de Setembro de 1942 – É bonito, o Alva! Manso, claro, calado, sem a tragédia do Doiro nem a grandeza do Tejo, é bem o rio da Beira que define a Beira. O Mondego envenenou se em Coimbra dum lirismo de borla e capelo, que o comprometeu; o Zêzere deu lhe para uma retórica de sermão do encontro, que lhe tira o sentido; o Ceira, com a façanha do Cabril, esgotou se. De maneira que ficou a representar a sua terra, a Beira das ovelhas, dos pinhais e duma tenacidade sem palavras, este veio de água pura, que desce da Estrela, toca um milheiro ou dois de rodas, lava os avós, os filhos e os netos da mesma família, e acaba pudicamente quando tem a sua missão cumprida.” (Diário II, 1999: 181).
“Cepos, 21 de Abril de 1946 – (…) Os penedos de Fajão em frente, os de Vidual mais além, ondas e ondas de estamenha encapeladas até ao fim dos olhos, num exemplo viril de criação. Mas o gérmen da inversão de tudo reside em tudo. Este pobre homem, sem o saber, representa aqui o gigantesco papel de oposição da vida à sua própria plenitude.” (Diário III, 1999: 340-341).
“Coja, 29 de Dezembro de 1952 – Subida ao Colcorinho, coberto de neve e aureolado de nevoeiro. Quatro horas a esmagar brancura, no meio duma paisagem irreal, fechada, que se abria de vez em quando num relâmpago de mágica, deixando ver no fundo de cada abismo uma aldeia furtiva, de saragoça, – cortiço a hibernar, com o enxame calado debaixo da ardósia.” (Diário VI, 1999: 663).
Ao mesmo tempo, a percepção da geografia humana da Cordilheira Central, através do olhar atento e dos registos diarísticos de Torga, revela sinais como o isolamento, o carácter inóspito e repulsivo da montanha, e o papel secundário (marginal) que o Estado atribuiu a estes espaços no âmbito das políticas públicas. São estes os traços mais evidentes das dinâmicas de desenvolvimento da montanha em Portugal, pelo menos até meados do século XX.
“Fajão [Pampilhosa da Serra], 23 de Fevereiro de 1945 – Depois de seis tentativas, consegui, finalmente chegar a esta terra que encheu a Beira-Serra de anedotas e de riso. (…) E dei com uma povoação morta, nem inteiramente coberta de lousa, nem inteiramente coberta de telha, indecisa sobre a ponte da vida (…). Houve um salto brusco de mais na aprendizagem ruminante que iam fazendo da técnica e da cultura. Passaram do carro de bois às fortalezas voadoras sem a transição do comboio e do automóvel. De maneira que perderam o pé, e olham com a mesma desconfiança as asas do futuro e os tamancos do passado.” (Diário III, 1999: 302).
Torga deixou mais alguns apontamentos no mesmo sentido, em particular sobre as condições de vida nos espaços rurais mais remotos, como os que passamos a transcrever do Diário e da Criação do Mundo II (O Terceiro Dia), respectivamente, a partir da sua experiência de vida em Vila Nova (Miranda do Corvo):
“Vila Nova, 5 de Fevereiro de 1937 – É escusado. Ou se lavram estes montes a instrução e a higiene, ou então não vale a pena um médico perder a vida aqui. Estas santas pessoas adoecem, metem se na cama como raposas na toca, e esperam. Se Deus faz o milagre, muito que bem: erguem se; se Deus não faz o milagre, mandam chamar o padre para os untar, o doutor para dar uma satisfação ao povo, fecham os olhos, e não dizem mais nada.” (Diário I, 1999: 47).
“Um Portugal velho e rotineiro, de senhores e servos, estava ali vivo e presente. De mão vazia, ninguém pedisse justiça, conforto divino, instrução ou saúde. (…) Crédulo e submisso como há mil anos, o camponês gemia, mas esvaziava a salgadeira, a tulha e o curral. Cair no desagrado de tais divindades, seria a perdição total neste mundo ou no outro.” (Torga, 1938: 149-150).
O sentimento de isolamento e abandono dos espaços montanhosos é reforçado em anotações de visitas, nos anos 40, às montanhas do Alto Minho (referência geográfica habitual de meados dos anos 40 ao final dos anos 70, relacionada com a frequência da estância termal das Caldas do Gerês):
“Gerês, Vilarinho da Furna, 25 de Julho de 1945 – (…) A Serra Amarela é um dos ermos mais perfeitos de Portugal. Situada entre o Gerês e o Lindoso, as suas dobras são largas, fundas e solenes. (…) Não há estradas, senão as da raposa matreira, nem pousadas, senão as cabanas dos pastores. É o Portugal nuclear, a Ibéria na sua pureza essencial e granítica.” (Diário III, 1999: 312).
“Castro Laboreiro, 24 de Agosto de 1948 – Estas pequenas comunidades que nos restam, Rio de Onor, Vilarinho da Furna, Laboreiro, etc., estão na última agonia. O Estado já não as pode tolerar, alheias à vida da nação, estrangeiras dentro do próprio território.” (…) E assim, um a um se vão apagando estes pequenos enclaves, não digo de paradisíaca felicidade, mas de humana e natural liberdade.” (Diário IV, 1999: 425).
Esta derradeira ideia de Torga inscreve-se no contexto da crise das actividades tradicionais (que durante séculos alicerçaram a economia da montanha) e do intenso êxodo rural que afectou a maioria da população, com particular intensidade entre 1940 e 1980. As montanhas transformam-se em espaços fragilizados (na óptica funcional e demográfica), despovoados, vazios, “apagados” e envelhecidos (Carvalho, 2005).
O declínio das montanhas acompanha a crise do sistema rural (que se generaliza no país), que por sua vez se manifesta no desaparecimento de modos de vida seculares e de formas de organização do território, através das quais se expressavam as relações harmoniosas mantidas entre a sociedade e o território, ao longo do tempo. Factores externos como a florestação estatal dos baldios serranos e os aproveitamentos hidro-eléctricos contribuíram também para alterar esse equilíbrio ecológico.
A título de exemplo, recuperamos dois extractos literários do Diário muito expressivos do estado de alma do autor relativamente aos efeitos antagónicos de algumas destas medidas na montanha do Centro de Portugal:
“Serra da Lousã, 18 de Fevereiro de 1949 – O homem do passado viu estes montes cobertos de carvalhos, e o futuro há-de vê-los cobertos de pinheiros. Dantes, a natureza na sua espontaneidade; amanhã, a natureza disciplinada e utilizada. Por isso, quero gozar este último e fugidio momento de vê-la gasta e dilapidada, maninha com um palácio que o dono incendiasse num dia de bebedeira, e dentro do qual nascessem tojos e malmequeres.
Serras nuas, esqueléticas e ossudas, mas de uma beleza que nem o passado viu, nem o futuro há-de adivinhar.” (Diário IV, 1999: 453).
“Vidual de Baixo… de água”, 9 de Maio de 1943 – (Para datar com propriedade esta página, escrita sobre as últimas vigas de uma povoação que a técnica alagou com a chuva do céu, o caudal da Ribeira de Unhais e as lágrimas de trezentas almas).
Escrevo ao lado de um cego e, como ele, olho sem ver o tamanho físico da desgraça. O mar cresce de minuto a minuto, engole as casas, afugenta os santos das igrejas, mas o meu espírito recusa-se a abranger a grandeza material da avalanche. E não são as expropriações baratas, o esquecimento de que havia reparações morais a considerar, nem outras coisas assim que me inibem. É a catástrofe em si, o fenómeno, o aparecimento insólito e demoníaco de um lago num sítio que desde o quaternário foi sempre de courelas, soitos e penedias.” (…)
Evidentemente que uma barragem pode ser um factor necessário de progresso. Mas é evidente, também, que se impunha almofadar de todas as maneiras humanas a dor deste gente infeliz, cujos sentimentos e haveres a albufeira alagou (…)”. (Diário II, 1999: 255).
Com perspectivas de trabalho praticamente inexistentes, a população serrana intensifica a sua mobilidade e alimenta os movimentos migratórios internos (com destaque para a região de Lisboa) e externos (em particular o Brasil e os Estados Unidos da América, até meados do século passado, quando a França e a Alemanha, na atmosfera de reconstrução da Europa Ocidental, marcam os novos destinos da emigração portuguesa). O efeito mais preocupante deste fenómeno é o seu carácter selectivo, já que afecta, principalmente, os grupos de população mais jovem, os de maior capacidade produtiva e reprodutiva (ARAQUE JIMÉNEZ e PLAZA GUTIÉRREZ, 2004).
Como já referimos, Torga percebeu e denunciou o isolamento, o esquecimento, o abandono e as dificuldades de vida dos espaços de montanha. Ao mesmo tempo, a montanha permanece como temática marginal no quadro das políticas de desenvolvimento. Os grandes investimentos (públicos e privados) privilegiaram o litoral, impulsionados por uma ideologia de crescimento urbano-industrial, descendente e ditatorial, que foi completamente cega em relação aos problemas e às especificidades de um Portugal rural que, na ausência de políticas e instrumentos territorializados, estava condenado a desaparecer na sua configuração secular. Evocamos e acompanhamos o pensamento do escritor, através de alguns registos muito expressivos dessa realidade:
“Salgueiral, Coja, 23 de Dezembro de 1958 – São muito pobres estas nossas aldeias sertanejas, onde a graça de Deus só chega por alturas da côngrua e a de César por alturas da décima. Mas gozam dum bem que nenhuma riqueza compra: a de serem imunes à solidão. Apesar de viverem desterradas do mundo, e fazerem parte de uma pátria de desterrados, dentro dos seus muros reina o convívio. A vida articula se nelas de tal maneira, que a lepra do ensimesmamento não as pode contaminar. A velha que espreita à janela, o homem que sai de enxada às costas e a criança que solta o gado da loja são pedras indispensáveis dum jogo de muitos, figuras essenciais do mesmo retábulo, que nem separadas ficam sozinhas.” (Diário VIII, 1999: 905).
“Castelo Mendo, 25 de Outubro de 1970 – Páro alguns instantes a enxugar a testa, cansado de saltar paredes esbarrondadas, de atravessar leiras a monte, de ladear aldeias desertas (…). Sei que metade da nação está condenada ao dente roaz dos matagais, por não ser possível nela qualquer cultivo económico, e que ainda temos um milhão de portugueses a mais a lavrar seixos. (…) Estes muros caídos, estas courelas recusadas e estas aldeias vazias são o testemunho vivo de uma política sem horizontes, sem patriotismo e sem fraternidade. Que troca criminosamente o chão bom e mau do país e o sangue dos seus melhores filhos por divisas.” (Diário XI, 1999: 1199).
“Cadaval, Miranda do Corvo, 26 de Outubro de 1980 – Mais um triste sinal dos tempos pátrios. Tantas vezes aqui vim em missão médica dar ânimo ao desespero e ajudar a nascer a esperança, e agora pareço um sonâmbulo a deambular por uma aldeia fantasma, deserta, comida de silvas. (…) Um palco ainda quente de todas as paixões humanas, e já arqueológico.” (Diário XIII, 1999: 1431).

Apesar dos efeitos negativos da marginalização do mundo rural (incluindo as montanhas), Torga encontra na pureza e simpatia das suas populações ou na solidão povoada dessas paisagens motivos de algum conforto espiritual:
“Piódão, 16 de Dezembro de 1962 – Ia a passar coberto de suor, dei as boas tardes a uma vaga forma feminina somada à entrada da sua furna de troglodita, e recebo, juntamente com o troco da salvação, este juro imprevisto:
– O senhor vai alagado! Quer beber uma pinga? Ele é do arreganhado, mas para um remedeio...
– Bem haja…
– Prove, ao menos. Nós achamo lo bom, porque não temos outro...
Azedo como rabo de gato, realmente, mas dado com a infinita doçura deste santo povo português, a quem nenhum desterro, nenhum abandono, nenhuma incultura, nenhuma pobreza conseguem avinagrar o coração.” (Diário IX, 1999: 1018).
“Piódão, 24 de Outubro de 1965 – Olho do alto da serra as aldeias cavernícolas que nos boqueirões esperam em vão pelo sol natural e social, ponho me a pensar no que vai pelo mundo, e em vez da revolta antiga invade me uma espécie de confuso contentamento instintivo. Qualquer coisa dentro de mim sente se nelas preservado, defendido das mil agressões do momento. É como se as raízes mais profundas do meu ser se vissem de repente em segurança no desterro de cada um destes redis primitivos, transformados milagrosamente pelo próprio abandono em promissoras ilhas de reserva humana.” (Diário X, 1999: 1072).
“Fajão, 21 de Julho de 1968 – Ainda se encontram terras singulares neste país. Desterradas do mundo e obrigadas a serem um mundo, criam no à sua medida, com todo o sentido prático que a necessidade impõe, e toda a liberdade imaginativa que os lazeres permitem. O bafo de cada habitante a aquecer o vizinho, a carga de presuntos a servir de unidade monetária, a lei codificada em parábolas, histórias fantásticas em que os penedos, cansados da incómoda imobilidade milenária, mudam ardilosamente de posição, e torres de cortiços sobrepostos permitem alargar os horizontes da inquietação emparedada. O real e o irreal agasalhados no mesmo gabão.” (Diário X, 1999: 1134).
A singularidade destes lugares e os seus valores patrimoniais serão motivos de atracção, anos mais tarde, para outras populações que partindo de contextos urbanos procuram no mundo rural, de forma sazonal ou permanente, novos sentidos para as suas vidas. Com efeito, a partir de meados da década de 70 (século XX), emergem novos usos relacionados com o interesse crescente dos territórios montanhosos por parte da população urbana, em especial no âmbito dos tempos livres. A melhoria da acessibilidade e a mutação da imagem da maioria dos espaços de montanha decorre, entre outros factores, da modernização viária (em que os Serviços Florestais e as Autarquias Locais tiveram um papel muito relevante) e do lançamento/melhoria de outras infra-estruturas básicas. O título “da montanha produtiva à montanha recreativa” enquadra o que de mais importante marca a evolução do perfil territorial e a renovação da imagem da montanha, sendo que estes são indissociáveis da emergência de um novo sistema social de valores e de práticas turísticas e recreativas. Os recursos da montanha mais valorizados socialmente afastam-se dos valores produtivos (ligados às terras, pastos e florestas), embora se reconheça o papel desse espectro para a manutenção da paisagem e a importância estratégica dos recursos florestais, minerais, hídricos e eólicos (CARVALHO, 2008). A apropriação da montanha é comandada do exterior e a população urbana procura a montanha para (re)criar refúgios (MORENO, 1999) que ocupa de forma permanente (neo-rurais), ou utiliza no âmbito dos tempos livres (residência secundária, turismo, desporto, visitas culturais, entre outras).
Este último período está pouco documentado na escrita diarística de Torga. Os registos da transição funcional e dos novos usos da montanha são escassos no Diário, seja pelas limitações de saúde e a redução da mobilidade (em especial a partir de meados de 80 – Diário, volumes XIV, XV e XVI) quando as habituais referências à Beira Serrana e Interior praticamente desaparecem, seja pelo carácter subjectivo das anotações e dos temas que despertaram o interesse do autor.
Torga é muito crítico em relação ao turismo, como depreendemos das seguintes notas, a partir das suas experiências nas regiões do Algarve e da  Madeira:
“Praia do Carvoeiro, 21 de Julho de 1972 – Depois de percorrer o resto do país em todas as direcções, a tentar radiografar-lhe as mais íntimas pregas do corpo e da alma, aventurei-me até estas paragens, com a mesma intenção. E confesso que tive nessa altura uma das maiores desilusões da minha vida. (…) Todo ele [Algarve] me parecia insólito no contexto da nação. (…) O tempo passou, o mundo deu muitas voltas, e venho agora encontrar o éden povoado por Evas loiras e Adões barbudos, que nem falam português, nem sabem que estão em Portugal.” (Diário XI, 1999: 1220).
“Pico do Areeiro, 28 de Agosto de 1980 – A Madeira que eu amo verdadeiramente, que não me canso de admirar, que não tem comparação com outra qualquer realidade geográfica minha conhecida. Que se não deixou corromper por nenhum turismo, que se mantém ciclópica, abissal, rebeldemente estéril e inacessível. (…) Que não cabe nos olhos que a vêem e nas palavras que a descrevem. Que é uma espécie de alucinação da natureza.” (Diário XIII: 1999: 1426).
O avanço do tempo torna ainda mais evidente a transformação contínua e irreversível do mundo rural, a morte anunciada dos velhos ofícios, a descaracterização da paisagem e a reconstrução da identidade (local e nacional), como demonstram diversos registos lavrados nos dois últimos volumes do Diário, a partir das deambulações do poeta pelo Algarve, Minho, Trás-os-Montes e Beira.
As críticas e as preocupações de Torga transpostas para o Diário, sugerem que o autor, uma vez mais, não pretendeu ser cúmplice através do silêncio. Antes, continuou a denunciar as desigualdades de oportunidade dos territórios e das populações, e a cultivar até ao fim uma paixão centrada na pureza e largueza de horizontes, na língua e nos símbolos históricos e arquitectónicos da nação, simbolizados nos castelos, nas igrejas, nos pelourinhos, nos solares e nos fontanários.
“Linhares, 16 de Novembro de 1986 – Aqui ando num pânico fervor a revisitar estas terras velhas de Portugal. É na sua autenticidade que se fortalece a minha esperança inquieta. Apesar dos remendos de cimento e telha Marselha, são elas a imagem castiça da nossa soberania. Vem aí o invasor de sempre, agora sofisticado, com os renegados que o momento propicia dispostos de antemão a recebê-lo de braços abertos. Os trinta dinheiros da traição significam agora milhões. O capital não tem pátria ou tem a pátria que mais dá.” (Diário XIV, 1999: 1566).
“Tinhela, Chaves, 8 de Setembro de 1989 – Cá ando a inventariar, numa ternura estrangulada, o Portugal remoto e arcaico que nos resta. Um Portugal sóbrio e digno, de solares arruinados e calçadas gastas pelos socos do tempo, que porfia na sua identidade profunda, a respirar a custo ao lado dum outro espalhafatoso e presumido que o nega de raiz e é apenas uma pátria de férias.
Velhos e velhas dormitam aninhados nas soleiras das portas. E são eles a bússola a que recorro para me orientar nos caminhos que levam a terras vizinhas também assim espectrais e desfiguradas.” (Diário XV, 1999: 1666).
“Buçaco, 21 de Julho de 1991 – Portugal já nem nos seus lugares mais emblemáticos, com pergaminhos históricos e naturais, é Portugal. Desfigurado pelos emigrantes e invadido por turistas de calção e sandália, só a custo deixa vislumbrar a identidade profunda.” (Diário XV, 1999: 1723).

No ocaso de um longo e intenso percurso pelos caminhos e veredas da vida, tendo como missão e inclinação de espírito “escalar montanhas abruptas ou rasgar horizontes infinitos”, “aproximar a alma do céu e calcar a sombra do corpo na terra” (Diário XIII, 1999: 1353), Torga ainda reúne forças para revisitar um lugar que simboliza quase todos os valores que o escritor celebrou no seu apostolado de ideias e itinerário geográfico:
“Piódão, 7 de Abril de 1991 – Com o protesto do corpo doente pelos safanões tormentosos da longa caminhada, vim aqui despedir-me do Portugal primevo. Já o fiz de outras imagens da sua configuração adulta. Faltava-me esta do ovo embrionário.” (Diário XVI, 1999: 1710). 

4. Conclusão

As fontes literárias de recorte realista são muito relevantes para a reconstituição histórica de lugares e paisagens. O Diário de Miguel Torga, sedimentado em relatos das suas vivências geográficas, é uma ferramenta de enorme alcance para reconstituir os traços estruturantes da organização e evolução do espaço nacional no período de 1930 até quase ao final do século XX, nomeadamente o mundo rural e as montanhas.
Torga foi um incorrigível calcorreador de Portugal e um admirador declarado das suas paisagens, em particular o Minho, Trás-os-Montes e a Beira. As deambulações corográficas do poeta e os registos lavrados no Diário revelam a sua veneração pela sociedade/mundo rural e pelos estribos arcaicos da identidade e da memória da nação portuguesa.
Os ambientes de montanha, para além da centralidade que ocupam no Diário, mereceram, de igual modo, amplo destaque em outras obras do autor como, por exemplo, Contos da Montanha (1941), Novos Contos da Montanha (1944) e Vindima (1945).
A Cordilheira Central, segundo as anotações do Diário, está confinada às serras de xisto, designadamente a Lousã e o Açor. Vila Nova, Coja e Piódão, correspondem ao maior número de referências geográficas, relacionadas com a área de residência principal (1934-1938), o exercício profissional, a caça, os passeios e as relações de amizade (nomeadamente com o médico Fernando Valle).
São, igualmente, os territórios serranos mais marcantes no plano das homenagens e das memórias póstumas em torno do poeta. Miranda do Corvo descerrou um busto esculpido em granito e bronze, com a imagem de Torga, no centro de Vila Nova (em meados de 1995) e atribuiu o seu nome à biblioteca municipal (2003). Arganil promoveu uma jornada de homenagem por ocasião do centenário do seu nascimento (12 de Agosto de 2007), com uma conferência (relativa à sua figura e obra) em que foi reconhecido o contributo do médico e do escritor para o concelho, e o descerramento de um memorial ao poeta e de uma placa evocativa das palavras do escritor sobre o Piódão (registadas no Diário, a 7 de Abril de 1991), nos Penedos Altos (proximidade do Piódão).
Na amplitude de seis décadas de anotações de acontecimentos, Torga enfatiza principalmente o isolamento, o esquecimento, o declínio, o abandono e a degradação paisagística da montanha. As novas funções e utilizações relacionadas com os tempos livres não mereceram particular atenção do autor, neste contexto geográfico.
No final do seu périplo, Torga mantém a vinculação aos lugares e aos valores de sempre, admira as populações dos lugares mais remotos e isolados e vê nelas uma espécie de último reduto de um Portugal arcaico e genuíno (que teima em resistir ao avanço da modernidade, mas que está condenado a desaparecer).
Em síntese, o Diário é um património literário e uma memória atenta e crítica dos processos de mudança em Portugal nas últimas décadas. É uma referência incontornável para compreender a evolução das suas paisagens e descobrir a sua linguagem de estruturação. 

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