POTENCIALIDADES LOCAIS, TURISMO E DESENVOLVIMENTO LOCAL CARIRI PARAIBANO

Luiz Gonzaga De Sousa

3.1.2 Um atraso para o progresso

            Para conseguir um desenvolvimento local, faz-se necessário entender o processo como se deu a formação do entorno; a história da localidade tem indicado um atraso, dentro de um ponto de vista tanto social, como econômico e ambiental; do mesmo modo, o usufruto dos recursos naturais da localidade, que caracteriza o módus vivendi de um povo, bem como os ciclos próprios do local, que impulsionam o progresso do entorno e proporcionam melhora na qualidade de vida no local, que acontece de forma lenta.
            O Cariri paraibano teve sua origem da forma mais natural possível; em uma época em que as viagens eram desgastantes, longas e bastante cansativas; passavam-se semanas e até meses em viagens para chegar às feiras de gado, ou comprar produtos outros para manutenção da família, ou abastecimento de algum comércio local, onde não havia os produtos que a sociedade local necessitava para sobrevivência familiar, em seu cotidiano (Depoimento in loco, 2009).
            Ainda reportando a tal formação, dos tempos remotos, ou mais recente, dependendo do local, as viagens eram feitas a pé, a cavalo, ou a qualquer um outro tipo de locomoção para as compras de produtos que não eram produzidos no local; produtos que exigiam alguma tecnologia, nova à época, que o povo da localidade ainda não conhecia e o mundo desenvolvido já possuía um certo domínio, aí já aparecem as externalidades para o local.
Já em meados do século XX, pouquíssimas famílias possuíam automóveis particulares, cujo público maior era transferido via caminhão coberto com lonas e algumas tábuas transversais para acomodação, os bem conhecidos “pau de arara” que transportavam os habitantes para longas distâncias (São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília), se quisessem encurtar o tempo para chegar logo ao destino pretendido, isto significa atraso.
Os produtos comuns no local eram os das plantações agrícolas, tipo: feijão, milho, fava, mandioca, incluindo uma criação de galinhas, porcos, bodes, assim como o cultivo de uma horta e fruteiras que circundavam a residência, onde muitas vezes ficavam ou ficam à margem de um açude, ou às de algum rio, que deixa (va) escorrer suas águas permanentes nas valas que propiciam (vam) as vazões naturais ao cultivo de tais produtos (Entrevista a agricultor).
Alguns outros mantimentos que o local não produzia, os comerciantes da cidade partiam para conseguir abastecimento de seu negócio, em outros lugares, isso continua até hoje; às vezes pequenos empreendimentos, ou médios distribuidores, que iam as famosas feiras para comprar produtos especiais, eram muito distantes, pois eram necessários dias para efetuar tal comércio das mercadorias que a população precisava; daí, a movimentação do setor comercial da localidade (HUBERMAN, 1978).
As longas distâncias forçavam alguns pernoites, para que os comerciantes pudessem descansar em algumas pousadas, quando do traslado aos pontos de negociação dos produtos desejados, no caso, os mercados; isto deu inicio a assentamentos para a ampliação de muitos povoados nordestinos, especificamente paraibanos, que depois se tornaram cidades que constituem as microrregiões do interior da região nordestina.
Alguns comerciantes foram se estabelecendo nestes povoados, ao se formar seu novo ambiente familiar, com oportunidade satisfatória no momento, que em qualquer outro conhecido; cujo trabalho que se efetivava na agricultura, na pecuária e/ou na mineração, era fonte de prosperidade para muitos, que não tinham ainda uma renda suficiente para um bem-estar digno para sua família, quando este ambiente oferecia oportunidade para melhorar a sobrevivência (MARIZ, 1939).
A chegada de famílias ou pessoa de maneira isolada incentivou a que irmãos, parentes e amigos também estabelecessem nestes novos ambientes, que proporcionavam tranqüilidade e futuro; esse processo não foi acompanhado por uma organização e estruturação estratégica no local, que não era a preocupação do momento, nem tão pouco no que respeita às condições de preservação e manutenção da natureza que lentamente ia sendo degradada pelos novos habitantes que chegavam.
Os povoados foram surgindo; as indústrias de fundo de quintal; a feira livre na localidade ainda pequena; as padarias; as mercearias (bodegas); as farmácias (drogarias); e, outros serviços importantes, que avançaram nas terras do interior do Estado, especificamente no Cariri paraibano, ao devastar as matas, ou florestas, extinguindo os pequenos animais, abrindo estradas e cavando açudes, sendo o início das desertificações, cujos habitantes não tinham a mínima preocupação com o que pudesse acontecer no futuro (PEREIRA, 2008).
No trato com a agricultura, quanto aos fundadores da microrregião, o primeiro passo foi o desmatamento (brocar a mata, ou fazer as famosas queimadas) para a plantação de milho, feijão, fava, uma horta próxima à residência e o corte de lenha para fazer o fogo, para cozer a alimentação; por não existir fogão a gás, nem tão pouco elétrico e com isto, não ouve a preocupação em restituir à mata, aquilo que foi retirado para suprir as necessidades pessoais e até mesmo familiares.
Já quanto ao processo de transformação industrial, mesmo embrionário, que se implantava com as padarias, necessitava-se de lenha para aquecer os fornos, mesmo que rudimentares e ainda bastante criativos; pois, a fonte de abastecimento são as matas aparentemente abundantes, onde os governos não estavam voltados para as dificuldades que em um futuro próximo fossem surgir, não somente para a localidade, como para a humanidade.
As padarias não são as únicas causadoras de tais problemas ambientais, que estavam emergindo, mas, também, as cocadeiras, as doceiras, as passadeiras com o seu ferro de engomar a carvão, assim como os marceneiros no fabrico de móveis para uso doméstico; cuja floresta para tal uso era muito pequena, mas servia para que se intensificasse o desmatamento sem a devida reposição para manutenção que o ambiente reclamava.
Adveio, em seguida, o setor serviços propriamente ditos que aparecia com um trabalho a ser executado na viabilização da agricultura comercial, da pequena indústria, assim como de alguns serviços outros, que a comunidade necessitava em seu dia a dia, tais como: a barbearia, os correios, os concertos a carros avariados, a eletrificação que surgiu ao longo da história, a venda no balcão das mercearias (bodegas), os professores, mesmo os particulares e muitas outras formas de serviços comunitários.
Essa era a idiossincrasia dos habitantes que chegavam e habitavam o local caririseiro, em que as necessidades eram supridas pelas vastas disponibilidades de recursos ambientais locais e humanos no entorno, com baixo custo de aquisição e oportunidades de uso em sua abundância relativa ser evidente; cuja população não estava no nível de evitar a degradação que ela própria praticava.
As matas do Cariri paraibano eram exuberantes, no inverno, com árvores frondosas, bonitas e viçosas como que louvando a natureza pelos seus encantos e perfumes que exalavam de seus ventres viçosos, sugerindo belas poesias e romances inspirados, por aqueles que relatavam os encantos da criação, com seus mitos e lendas que encantavam e causavam perturbações e medos às crianças, ao fomentar as crenças em muitos adultos, que tinham dificultado alguns avanços importantes para a vida.
Os rios, açudes e lagos dessa microrregião armazenavam pouca água que dessedentava os seres vivos que precisavam desse líquido tão precioso e sustentava a vida das plantações agrícolas, da criação pecuária, de miúnças (animais de pequeno porte) e, até mesmo, na implementação de pequenas indústrias; este líquido tão importante estava presente, como ainda está para a manufatura dos produtos ali gerados.
Com este capital natural existente, a pecuária vivia o seu momento de abundância em sua alimentação, ao mesmo tempo, em que pisoteava a terra, compactando-a para prejuízos em futuros não muito distantes, por conta da invasão da população que crescia e cresce de forma assustadora, sem planejamento e sem orientação mínima na distribuição e uso locacional para os que demandavam moradia para  as suas famílias.
O uso intensivo e extensivo das terras semi-áridas (caatinga) pela pecuária, foi como é, um dos elementos fundamentais de pauperização e desertificação (atraso) do imenso Cariri paraibano e a isto se agrega o fato de abertura de estradas e mais estradas, para passagem de automóveis e caminhões que são necessários para transportar as pessoas, como também de escoamento da produção gerada no interior das fazendas, que exportavam para as feiras, os produtos gerados em suas entranhas (PRODEMA, 2000).
Não se deve esquecer que, mesmo com a compactação da terra pela pecuária, obedecia-se a algum descanso, que a terra precisava para sua recuperação e retorno ao plantio da agricultura em ano próximo; pois, essa forma de tratamento para com a terra nos tempos modernos, já não existe com freqüência, devido à necessidade de produção em alta escala que as cidades e os povoados precisam para o auto-consumo cotidiano (DARRE, 1996).
O tempo passa e as árvores frondosas endêmicas do Cariri paraibano foram eliminadas impiedosamente do cenário florestal e com elas foram-se as lendas e estórias que não se contam mais e tudo isto em obediência a um progresso que não veio, ou de uma acomodação das populações que surgem com a sua necessidade de espaço, para habitação e para seu trabalho efetivo, cuja terra já não produz como antigamente, por conta da falta de descanso e da sua degradação.
O Cariri paraibano possui algo mais, pois é composto por alta porcentagem de pedregulhos (semi-aridez), médios e grandes lajedos, montanhas íngremes, que dificultam a agricultura e a pecuária, mas proporcionam outras condições de valorização econômica e social do local, com capacidade para revitalizar algumas espécies nativas já extintas pela intervenção do homem, de maneira descontrolada e inconsciente, cujo resultado hoje se sente o efeito de tudo isto (Visita in loco, 2009).
A chegada das secas devastava a população imprevidente, matava de sede e fome aqueles que não se estruturavam para atravessar os momentos difíceis de escassez de água e de produção, ao mesmo tempo outros apetrechos de manutenção da vida; por isso, a emigração era constante em todo o Nordeste para a construção civil e fazendas do Centro Sul do país, onde a seca não tinha chegado de maneira tão feroz quanto à nordestina (MANUEL CORREIA, 1998).
As informações que se têm sobre as secas no Nordeste são de verdadeiras catástrofes anunciadas, especificamente em comunidades pobres; isto afetava severamente a população mais agrícola, que não tinha como se orientar para ultrapassar essa fase, que seria a armazenagem de mantimentos e cisterna abastecida, para esses momentos difíceis; cuja falta maltratava de maneira inconseqüente os que mais utilizavam os recursos naturais e fraquejavam a todos diante de estiagens prolongadas (CASTILLO, 2007).
Daí, as freqüentes mortandades que aconteceram nos diversos cantos do nordeste, especificamente nas regiões semi-áridas (caatinga), ou claramente áridas do interior nordestino, com as constantes fugas do homem do campo para as cidades mais próximas, ou distantes, ou para a capital do estado, exercer sua atividade de ajudante sem qualificação, aos que possuíam alguma posse e tinham condições de dividi-la com os que agora chegam à cidade grande (JOSUÉ DE CASTRO, 2003).
Com a grande migração forçada, o latifúndio foi se apoderando das terras que não tinham donos legais e iniciava seu processo de investimentos em produção agrícola em larga escala, assim como aumentando o seu rebanho de pecuária mais lucrativa para o seu processo de acumulação financeira e expansão de suas terras, onde a chuva já chegou e começou a proporcionar bons frutos aos que puderam enfrentaram a seca, que de tempo em tempo, abate o interior do Estado.
Com os desmatamentos para construção de residências na cidade ou no campo; aparece a utilização de madeiras para queima em fornos de olarias (caeiras para tijolos e telhas); para uso em padarias dos mais diversos níveis de escala de produção; para a confecção de móveis modernos em marcenarias; isto acelerou o processo de desmatamento que, cada vez mais foi se estendendo, tornando as terras do Cariri paraibano, mais improdutivas (baixa produtividade), cujo progresso não venceu ainda os males das extensas estiagens nordestinas.
No inicio do século XXI, a fauna e a flora estão em plena extinção; as florestas são parcas, mesmo as asseguradas por Lei e monitorada pelo INCRA; assim como, são mínimas as endêmicas como existiam antes, tais como os cactos (facheiro, cardeiro, etc) que estão desaparecendo e o local está perdendo a sua forma de ser mais pura, frente ao seu clima noturno bastante agradável; a alegria nos momentos de chuvas torrenciais e as festas entre amigos e parentes, com a colheita da produção agrícola que a todo ano deveria se repetir e já não apresenta a elegância de outrora, isto pode ser convertido em momento turístico.
Ao longo dos anos, tem-se observado que os municípios do Cariri paraibano não têm progredido (atraso); em outras palavras, não têm se desenvolvido, isto quanto ao aspecto econômico, como no social; pois, quando se olha ao aspecto ambiental, nota-se que houve uma degradação no que respeita à fauna e à flora e, ao mesmo tempo, quanto à geografia da localidade, com os impactos ambientais provocados pelo homem, portanto o atraso econômico e social é evidente.

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