PROPUESTA DE BASES PARA EL DISEÑO DE UN SISTEMA DE GESTIÓN ESTRATÉGICA DE INFORMACIÓN PARA LA DIRECCIÓN DE ENERGÍA RENOVABLE DEL MINBAS

Cleber José De Oliveira

3.2 – É uma questão de identidade; marginal?

 
Além disso, é manifestado o sentimento de pertença (Hall, 1997, p. 55-7) a uma comunidade, um espaço, uma cultura, uma nação, mesmo com o fenômeno, na pós-modernidade, constante da fragmentação das identidades. O ‘sentimento de pertencer’ é tomado como uma manifestação de comunidade. Ainda na esteira do pensamento de Hall, este sentimento pode ser entendido como sendo parte integrante da identidade deste indivíduo que se constitui de aspectos do ‘pertencimento’ às culturas étnicas, raciais, religiosas e linguísticas. O ‘sentimento de pertencer’, decorrente do sentimento de identidade, satisfaz uma necessidade psicológica vital, criando uma sensação de conforto para os indivíduos. Igualmente, esse indivíduo se manifesta pertencente a uma comunidade mestiça, miscigenada, diaspórica, híbrida (Cf. Abdala Jr., 2004), como se pode ver: “somos monjolos, somos branquindiafros, somos Clãnordestino, a peste negra, somos Racionais, somos Negro Drama, e minha posse é mente zulu”. Talvez, por isso o ‘marginal’ fala do seu lugar, do seu lócus – a margem, a periferia – e convida seu leitor para conhecer sua ‘realidade’, sua vida e sua prática cotidiana. Seu discurso é vivenciado na carne todos os dias, como nos mostra o trecho final da crônica em análise:        
[...] Os tidos revolucionários que conheci se deram bem, resolveram seus problemas, alguns até foram eleitos, falam nos palanques com mais energia, e citam exemplos de sofrimento que eu mesmo passo todos os dias [...] Não temos medo nem raiva do poder, mas temos nojo "dessa" forma de poder, a forma que o jeitinho brasileiro consagrou e hoje faz milhões de pessoas choraram lágrimas de sangue [...] não é pelas mortes de pobres nos morros que a elite ta reclamando, que as apresentadoras loiras tão chorando, não é pelo preto, nem pelo pobre, é por seus próprios rabos, a coisa desceu pro asfalto, o sangue chegou perto, quantos avisos, quantos pedidos de socorro, mas a criança cresceu, sem nada, nada. (Ferréz 2009, p. 63-4)

Nesse contexto, pode-se dizer que o indivíduo, apesar de oprimido e subalterno, adquiriu a capacidade de auto-representação por meio do discurso e da construção de comunidade a qual pertence. Tudo isso surge na tentativa de combater as relações sociais verticalizadas impostas pelas elites dominantes detentoras dos meios de produção e informação, na ânsia de subverter o discurso do poder, de se colocar como auto-suficiente e capaz de fazer escolhas, de promover a própria emancipação e dignidade, sobretudo. Tal aspecto se evidencia quando expõe “Não temos medo nem raiva do poder, mas temos nojo "dessa" forma de poder” (Ferréz 2009). A descentralização do discurso evidencia a inversão margem versus centro, o que é base das discussões de Ricardo Piglia (2004) sobre o movimento de deslocamento do discurso.
A análise segue agora com um trecho da crônica “Provocação”

A primeira provocação ele aguentou calado. Na verdade, gritou esperneou. Mas todos os bebês fazem assim, mesmo os que nascem em maternidade, ajudados por especialistas.  E não como ele, numa toca, aparado só pelo chão. A segunda provocação foi à alimentação que lhe deram, depois do leite da mãe. Uma porcaria. Não reclamou porque não era disso. Outra provocação foi perder a metade dos seus dez irmãos, por doença e falta de atendimento. Não gostou nada daquilo. Mas ficou firme. Era de boa paz. Foram lhe provocando por toda a vida. Não pode ir a escola porque tinha que ajudar na roça. Tudo bem, gostava da roça. Mas aí lhe tiraram a roça. (Veríssimo 1999, p. 31-4)

Em “Provocações”, o cronista representa o marginal. Faz isso por meio da observação da vida de um indivíduo marginalizado socialmente que sofre a “décima milésima provocação” e, só então, reage. Pode-se dizer que há um esforço, por parte do cronista, para dar voz a esse indivíduo que tanto sofre com o descaso do Estado. Podemos entender isso da seguinte maneira, o cronista que é intelectual letrado busca denunciar a condição subumana de um indivíduo não alfabetizado, consequentemente, não letrado, ou seja, o seu oposto. Isto configura uma espécie de representação desse oprimido e da realidade em que está inserido. Com isso, pretende expor além das feridas sociais, a hipocrisia humana e o abismo social que infelizmente cresce a cada dia em nosso país. O marginal, aqui, pode ser tomado como uma espécie de metonímia (a parte pelo todo) pois representa toda uma classe social que sofre as mesmas injustiças sociais. Nessa crônica, pode-se inferir que o indivíduo não manifesta a ‘capacidade’ de auto-representação, pois seu discurso é construído pelo cronista. O cronista através de seu texto faz da solidariedade social um valor básico, pois se reconhece no outro ̣̣̣̣̣̣̣̣̣̣(Cf. Arrigucci Jr. 2001). Portanto, o denominador comum é o fato de serem ambos humanos. Nessa igualdade, entretanto, as diferenças são as principais marcas identitárias, ou melhor, é justamente por meio da diferença que a identidade é constituída e, portanto, o outro é essencial no processo de auto-reconhecimento e, acima de tudo, na configuração do eu e da identidade.

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