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Cleber José De Oliveira

Capítulo 2 - A crônica contemporânea

Na produção de alguns cronistas que escrevem na contemporaneidade, pode-se notar um esforço para manter em suas crônicas certas características modernistas, entre elas a literariedade, como informa Luis Carlos Simom “Cabe reconhecer que a concepção de uma crônica que mantém características literárias e/ou ficcionais sobrevive nos dias atuais, ainda que com menos intensidade” (SIMOM, 2006, p.164). Diante disso, pode-se dizer que alguns cronistas contemporâneos acabaram sendo (e/ou deixando-se ser) influenciados a escreverem à moda modernista, talvez por beberem na fonte de cronistas como Rubem Braga, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, entre outros.
Depois destas ponderações, partiremos em busca de possíveis indícios que nos ajudem a descortinar se Arnaldo Jabor pode ser considerado um contemporâneo que escreve à moda modernista ou se o mesmo distancia-se destes. Para isso analisaremos algumas de suas crônicas. Mas, antes disso, observemos o que diz Joaquim Ferreira dos Santos sobre o autor:

[...] Jabor é reconhecidamente um cronista político, seus textos são tão exaltados quanto seus discursos anti-Bush, têm o poder de despertar, inquietar, polemizar. Ácidos, vorazes, estão sempre sintonizados com os assuntos que mexem com a vida dos brasileiros e brasileiras. Mas em alguns de seus textos o autor revela um lirismo, rodriguiano. Aposta ele, que “mais que o poder, o amor é uma ilusão sem a qual não podemos viver” (SANTOS, 2007, p.77).

A crônica de Jabor, a se pensar com Santos, e tendo em vista os títulos de seus dois últimos livros de crônica: Amor é prosa sexo é poesia (2004) e Pornopolítica (2006),indicam isso, é, sem dúvida, uma crônica político-cultural. Um de seus motes favoritos é comparar a contemporaneidade política e cultural com sua experiência pessoal como militante nos anos 60 e 70.
Ainda, seguindo Santos, Jabor sempre fala do seu tempo – e isso é marca da crônica de Jabor. Ele é contemporâneo. Sua crônica é de fato política e desce fundo ao rés-do-chão ao tocar em assuntos a quente, assuntos que pouco duram no noticiário. Entretanto, seus livros publicados (são dois até agora) dão testemunha de uma crônica que, apesar de presa a seu tempo, tem intenção de permanecer. Nesses termos, é preciso perguntar se Jabor abdica como Simão disso que estamos chamando de literariedade e se de fato o tempo presente é sua exclusiva preocupação. Com esse espírito abordaremos algumas delas.
De posse desta consideração, analisaremos trechos de “O mandacaru na sala de jantar”:

[...] O leitor já viu um mandacaru? Esse deve ter um metro e setenta, com três braços abertos [...] à noite, quando chego no apartamento e o vejo em sua discreta vigília me esperando. Dou-lhe um “olá” [...] durmo e sei que há dois viventes em casa. Eu e ele [...]  aprendo com ele a resistir aos ataques que têm me ferido pela incompreensão do amor virado em ódio  (JABOR, 2006, p. 37, grifo nosso).

Note-se no grifo que o cronista traz o “leitor” para dentro do seu texto, ao modo aliás de muitas crônicas modernistas. Incita este leitor a participar de seu texto e ao mesmo tempo a refletir sobre o objeto em questão, neste caso o mandacaru. Pode-se dizer que se estabelece um “diálogo” entre cronista e leitor, e que este diálogo (contato com leitor) se configura diferente do proposto por José Simão, apesar de escreverem no mesmo contexto, a contemporaneidade. Diante disso, pode-se dizer que Jabor procura manter um diálogo horizontal com seu leitor, ao modo de Rubem Braga. Além disso, o cronista explicita a condição de isolamento do homem contemporâneo em relação ao outro. No trecho, o cronista apresenta-se como alguém que vive em meio à solidão do cotidiano metropolitano. Com isso espera-se uma identificação do leitor com ele (cronista), já que esse é o cotidiano de muitos leitores que moram nos grandes centros urbanos.
Um outro trecho da mesma crônica no qual aparecem outras características:

[...] não é um cáctus qualquer; é um personagem do Nordeste [...] À sua volta abre-se um Nordeste em minha sala, lembrança de retirantes, vaqueiros, cangaço, Lampião e Graciliano. Ele me religa com uma natureza sem exuberâncias, sem românticas esperanças ecológicas, mas uma natureza viril, discreta, [...] me trazendo um sentimento de coragem para enfrentar essa paralisia nacional que finge ser dinâmica, mas que apenas roda no mesmo erro, como um aleijado caído no chão, girando em volta de si mesmo”  ( JABOR, 2006, p.38)

Difícil não ver aqui um diálogo com o Modernismo, sobretudo, nas imagens que lembram o poema “O Cacto” (1925), de Manuel Bandeira, e o romance Vidas Secas (1938), de Graciliano Ramos - neste ultimo, na evocação de imagens do sertão nordestino, na miséria decorrente daí, além dos seus retirantes. Tudo isso no quadro de uma discussão a respeito da inclusão e de um olhar sobre o marginal. Neste sentido, Jabor apresenta mais uma característica recorrente em Braga, a saber, a identificação e o contato com a cultura popular e, consequentemente, com o povo.
O misto de literatura e jornalismo é outra característica que se destaca nesta crônica, pois ao mesmo tempo em que o cronista descreve, com certo lirismo, sua relação com o mandacaru e o ambiente nordestino, critica a uma pretensa “paralisia” da vida brasileira. Em suma, nesta crônica o mundo real é traduzido sob um olhar literário, assim Jabor se configura, além de jornalista, como homem que conhece grandes autores e obras da literatura brasileira, esta última especificidade, como constatamos anteriormente, está ausente em José Simão, porém muito presente em Rubem Braga. O híbrido de gêneros discursivos (literatura e jornalismo) é uma característica marcante do gênero crônica, como vimos no início deste trabalho.
Vejamos o que nos mostra este fragmento de “1964: o sonho e o pesadelo”:

[...] 1964, enquanto a UNE arde em fogo penso: Ali estão queimando nossos sonhos, a libertação do proletariado, queima um Brasil cordial que me parecia fácil de mudar, um Brasil feito de slogans, idéias prontas e esperanças românticas [...] agora cercado de carros de combate, vejo que o mundo mudou. Me sinto como se tivesse acordado de um sonho para um pesadelo ( JABOR, 2006, p. 29, grifo nosso) 

Aqui a linguagem literária se faz presente de modo significativo em contraste com a linguagem jornalística, que, sabemos, convivem dentro da crônica. Note-se o uso das categorias temporais, sobretudo os verbos, nos grifos: “arde”, “penso”, “vejo”, etc. Um texto jornalístico raramente é escrito assim. Ele usaria, no caso dos verbos, o pretérito perfeito, um presente acabado, ou seja: “ardeu”, “pensei”, “vi”. Note-se também o uso da data “1964” e do dêitico “ali” (vide grifo). A crônica em questão foi escrita em 2005 e publicada em 2006. Quando escreve “1964”, o cronista obriga o leitor a voltar ao passado. O discurso literário se faz presente na medida em que o cronista organiza o fato passado como estando ocorrendo no presente. Os fatos estão sendo representados como se tivessem acontecendo logo “ali”. Enfim, cronista e leitor estão, através da crônica, habitando tempo e espaço iguais.
Vê-se aqui os recursos lingüísticos – é preciso dizer: literários – que usa o cronista para apresentar-se como testemunha ocular de dois fatos que marcaram a história de nosso país, o incêndio do prédio da UNE em 31 de março 1964 e a instalação do regime militar no mesmo dia. Jabor, de fato, foi militante de esquerda nos idos dos anos 60 e secundou várias das manifestações políticas importantes contra o regime militar. Na crônica, presente e passado, o Jabor jovem e o maduro, o ex-militante e o cronista se tornam pelo uso literário da linguagem um só. Note-se que, a se depender da linguagem jornalística isso dificilmente poderia ser realizado. Este tipo de linguagem faz questão de separar com linhas muito claras sujeito e objeto, presente e passado, para delimitar com a dita objetividade jornalística o fato literário.
Dando sequencia à análise. No trecho, o cronista deixa claro que tem consciência das mudanças sociais que estão acontecendo ao seu redor naquele momento e entende que essas mudanças se dão à revelia do povo. Exprime com melancolia a perda de ideais que pareciam estar prestes a serem concretizados tal como a igualdade e liberdade social para o povo.  As frustrações em relação ao passado ficam evidentes. Esse sentimento de frustração com a não concretização de certas utopias se faz muito presente nas crônicas de Jabor, como se o cronista refletisse em suas crônicas as desilusões provocadas pelo declínio do projeto modernista.

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