Os métodos do governo Bush (2001-2008) oscilaram entre o otimismo  neoliberal da globalização e o combate ao terrorismo, sendo convergentes com o  contexto da “Nova Guerra”. Para Robinsón Salazar Pérez, a “Nova Guerra”, foi  inaugurada na década de oitenta do século passado, como uma nova forma de  confrontação bélica caracterizada por fatores de interesse econômico, que não  enfrentam a um inimigo em particular, mas que busca apropriar-se dos recursos  estratégicos e necessários para o capitalismo (PEREZ, 2005, p.69). O autor  ainda ressalta, “sua orientação está em confrontar todos aqueles que se opõem  ou resistem à privatização e usurpação dos recursos previamente focalizados  (gás, petróleo, água e biodiversidade)”.
  Ressaltamos que a  “Nova Guerra”, sobretudo, está associada à criação de novos paradigmas para o  planejamento de defesa dos Estados Unidos. Uma “revolução nos assuntos  militares” acontecera com o 11 de  setembro, a Revisão Quadrienal de  Defesa de 2001, publicada 21 dias após os atentados incorporou políticas que  redefiniram novos recortes baseados em capacidades para o planejamento da força  (JORGE, 2009, p. 26). 
  Todavia, no final de dezembro do ano 2000, George W. Bush ao anunciar  que selecionara Donald Rumsfeld para ser seu secretário de Defesa, expressava  suas intenções sobre uma “transformação militar” nos Estados Unidos, em seu  pronunciamento Bush repetiu as principais idéias de seu futuro secretário.  Segundo Jorge (2009): 
  [...] Rumsfeld acreditava que o controle civil sobre os militares  havia erodido durante os anos Clinton. Para Rumsfeld, os serviços armados ainda  estavam lutando a Guerra Fria. Eram menores do que aqueles que haviam combatido  na Guerra do Golfo, mas ainda não tinham mudado sua estrutura de forma  substancial. Rumsfeld sentia-se bem em advogar o uso do poder militar,  especialmente o poder aéreo. Rumsfeld se opunha à utilização de tropas  terrestres como mantenedoras da paz, assim como era um entusiasta da  inteligência, armas especiais e mísseis (JORGE, 2009, p.28).
Esta nova arquitetura para a defesa dos Estados Unidos e seus aliados  seria implantada por Rumsfeld durante a gestão Bush (2001- 2008), em terra as  forças pesadas seriam mais leves e letais, no ar o poder militar  norte-americano estaria apto para atacar seus inimigos com precisão, fazendo  uso tanto de sistemas tripulados quanto não-tripulados (JORGE, 2009, p. 29). 
  A visão estratégica  do então Secretário de Defesa norte-americano pautava-se na idéia de que a  guerra do futuro se encontrava no espaço, no uso da alta tecnologia e,  sobretudo, na utilização da ciência. Para Lunardi (2004) as operações militares  desse novo século serão dotadas de interações entre a informação, o poder de  combate e o ambiente operacional (LUNARDI, 2004, p.105). Assim, esta nova  tendência estaria circunscrita a “transformação militar” que o governo Bush  (2001-2008) viria implantar no sistema militar norte-americano nos primeiros  anos do século XXI.
  A “transformação  militar” proposta por Donald  Rumsfeld consistia no uso de  brigadas e divisões mais leves e móveis. Era clara a visão de que os campos de  batalha do futuro seriam celulares e não lineares (como foram da Segunda Guerra  Mundial e da Guerra da Coréia, cujo teatros de operações foram constituídos por  linhas de frente). Segundo Jorge (2009): 
  Ninguém queria um Exército que levasse semanas ou meses para ser  deslocado, como aconteceu na Guerra do Golfo. Diferentemente, a Marinha e a  Força Aérea já eram bem servidos de alta tecnologia, enquanto os Marines eram  extremamente móveis [...] os inimigos estariam misturados com as forças dos  Estados Unidos. Eles poderiam estar na frente ou atrás dos soldados  norte-americanos e seriam um novo tipo de inimigo (JORGE, 2009, p. 29).
Assim, a Força aérea e o Comando de Operações Especiais passariam a  ter grande importância nessa revisão da projeção de poder dos Estados Unidos.  Nova estratégia de guerra, é preciso destacar, que já havia sido pensada na  gestão Bill Clinton (1993-2001), o Secretário de Defesa desse governo, Leslie  Aspin, ficou encarregado de definir os novos parâmetros estratégicos para o  contexto do pós-Guerra Fria. Surge então um processo denominado “Revisão  de Baixo para Cima” (Bottoms-Up Review ou BUR)  com o objetivo de repensar inúmeros aspectos da política militar americana.  Dessa forma: 
  A Força Aérea dos Estados Unidos desenvolveu um conceito chamado  “Alcance Global” (Global Reach), que significava que a força  poderia atacar alvos a partir de bases localizadas nos próprios EUA, usando  bombardeiros de longa distância. Isso economizaria tempo, já que não seria  necessário enviar, em um primeiro momento, aviões táticos ao teatro envolvido  ou manter navios ao redor do mundo. O conceito de “Alcance Global” colocou a  Força Aérea dos Estados Unidos da América no centro da emergente nova  estratégia norte-americana. Simultaneamente, o Comando de Operações Especiais e  as Forças Especiais do Exército americano apresentavam soluções para o  deslocamento mais rápido de tropas e efetivo do que as unidades convencionais do  Exército. 
  As Forças de Operações Especiais viam a sua missão da seguinte  maneira: deveriam levar a letalidade rapidamente. Dessa forma, elas propuseram  três maneiras de fazer isto. Primeiro, as suas próprias forças poderiam entrar  rapidamente em um país hostil e executar operações encobertas precisamente.  Segundo, as Forças Especiais do Exército poderiam penetrar as fronteiras de  determinado país, juntar-se à forças locais que eventualmente compartilhassem  dos interesses dos Estados Unidos e guiá-las nas batalhas. Finalmente, na  terceira maneira, os operadores especiais poderiam localizar alvos e chamar  ataques aéreos contra tais alvos (e poderiam fazer isto em dias em vez de  meses). Particularmente nos pequenos conflitos dos anos 1990, o Comando de Operações  Especiais se percebia lutando a guerra até que o Exército convencional pudesse  chegar para ocupar o país (JORGE, 2009, p. 22).
            Nesse  novo modelo de guerra que emergia, as forças de combate em solo seriam mais  leves e sofisticadas tecnologicamente e, sobretudo, organizadas pelo Comando  das Forças Especiais. Caso as forças terrestres maiores fossem necessárias, “elas poderiam ser recrutadas, treinadas e  guiadas pelas Forças Especiais  do Exército dentro da nação inimiga. Isto resolveria o problema de levar as  forças pesadas do Exército ao  conflito” (JORGE, 2009, p.23). Dessa forma, com a “Revisão  de Baixo para Cima” e com o conceito de  “guerra centrada em rede” (network centric warfare – NCW), o governo Bush, a partir de janeiro de 2001, levou adiante a sua  “transformação militar”, que ganhou muita força com os atentados de 11 de setembro, estando inexoravelmente  conectada ao contexto sul-americano.
              As novas orientações do governo Bush (2001-2008) e a  conjuntura de contra-ataque aos autores dos atentados do 11 de setembro ensejaram a materialização dos métodos que  colocariam as Forças Armadas norte-americanas preparadas para os desafios do  século XXI, já que segundo Rumsfeld, as mesmas estavam mais organizadas para as  ameaças da Guerra Fria, ou seja, da “era industrial”. Assim, além da utilização  do Comando das Operações Especiais (“profissionais silenciosos”) e da Força  aérea, sobretudo, era preciso que os Estados Unidos estivessem preparados para  as batalhas da “era da informação”.
              As batalhas da “era da informação” consistem  principalmente no posicionamento de forças no terreno para proteger uma zona de  ação, ou seja, uma medida de defesa ativa, assim como, a utilização de medidas  passivas através da obtenção da informação (contexto da guerra do conhecimento).  Sobre o segundo método Lunardi (2004) afirma:
  Numa era de crescente intangibilidade na guerra, torna-se importante  monitorar comportamentos e atividades, como as opiniões religiosas dos  combatentes inimigos, sua cultura, perspectivas, nível de instrução e  adestramento, fonte de informações, opções de lazer nas horas de folga e  outros. Em suma, dominar o campo do conhecimento será tão importante quanto  estar familiarizado com a área de operações (LUNARDI, 2004, p. 107).
   
  A guerra de conhecimento (e seus métodos) esteve presente na estrutura  sul-americana nessa primeira década do século XXI, sobretudo, em decorrência  das operações conjuntas das forças norte-americanas com as Forças Armadas de  alguns Estados sul-americanos. Como primeiro exemplo podemos citar o Plano  Colômbia com o objetivo de combater o narcotráfico na Colômbia, lançado as  vésperas da Reunião de Presidentes da América do Sul em setembro de 2000.  Segundo Luís Alberto Aldana no ano de 2001 a conjuntura em território  colombiano era a seguinte:
  [...] hacen presencia permanentemente em territorio colombiano al  menos 400 “asesores” norteamericanos, y para nadie es um secreto que decenas de  ellos son mercenarios, entrenados em conflitos padecidos por África, El golfo  Pérsico y los Balcanes.
  No obstante la nueva  modalidad de interveción gringa, no contempla em principio el desenbarco  directo de sus tropas. A cambio, el ejército y la policía colombianos se  transforman aceleradamente em una poderosa máquina de guerra. El 80 % de la  primera parte de ayuda norteamericana (unos 1300 millones de dólares) está  representada em sofisticados radares, aviones espía, 30 helicópteros de guerra  Black Hawk y 75 Huey UH1H reartillados, entrenamiento y financiación e 5 nuevos  batallones hasta alcezar 52.000 soldados profissionales que se sumarán a más de  150.000 personas vinculadas a cuestiones militares, de inteligencia y  seguridade (ALDANA, 2001, p.87).
Essa sintética descrição do estreitamento militar Estados Unidos  -Colômbia está relacionado aos acontecimentos do 11 de setembro que provocaram uma intensificação da pressão dos  Estados Unidos sobre a Colômbia ensejando uma crescente ao combate ao  narcotráfico e, sobretudo, faz parte do contexto da “transformação militar” do  governo Bush (2001-2008), na qual se insere a “guerra de conhecimento”. Esta em  que o Comando de Operações Especiais e a Força Aérea norte-americana têm papel  estratégico. 
  Enfatizamos que o governo brasileiro desde o inicio da implantação do  Plano Colômbia estava preocupado com do seu impacto regional (sobretudo em  relação às questões de segurança amazônica), que incluía o território  brasileiro nos conflitos internos da Colômbia, as agressões ecológicas a  Amazônia brasileira em conseqüência da utilização dos agentes químicos para  destruir as plantações de coca e, acima de tudo, a posição ambígua do governo  norte-americano que negava informações estratégicas. Silva (2010) afirma:
  Militares brasileiros asseguravam que a posição de Washington estava  diretamente ligada ao fato de a Força Aérea dos Estados Unidos realizar  sistematicamente vôos secretos de stealth  (furtiva) e pesados sistemas eletrônicos para esquadrinhar detalhadamente áreas  que consideravam estratégicas ou de acesso complexo para os satélites de alta  resolução, como a Amazônia (SILVA, 2010 (b), p. 361).
Assim, estava (como ainda está) claro que o Plano Colômbia não  circunscrevia somente as ações militares em território colombiano, há uma  inexorável relação com contexto da “Nova Guerra”, da “Guerra Preventiva”, da  “transformação militar” norte-americana que envolve medidas de defesa ativa  (resguardar e proteger uma zona de ação) e passivas (guerra da informação).  Silva (2010) também enfatiza “a região da Amazônia constitui tema central, como  desafio e oportunidade, tanto nas questões de integração, como de segurança  regional” (SILVA, 2010 (b), p. 361).
  Mas, não é somente a região amazônica que causa preocupações, o  processo de militarização da América do Sul nesses primeiros dez anos do século  XXI também atingiu a Bacia Platina. Para muitos analistas o território  paraguaio foi palco (como pode ainda manter tal papel) para os mecanismos da  guerra celular, das táticas passivas e ativas de combate engendradas pela nova  política militar dos Estados Unidos. As discussões que estão circunscritas a  esse território envolvem uma “possível” dominação do núcleo geopolítico central  da América do Sul, sobretudo, porque o controle sobre o mesmo daria ao detentor  desta zona grandes possibilidades de explorar suas riquezas naturais. Para  Millán (2005): 
  [...] Paraguay  constituye la punta de lanza que permitirá el control regional de los EE.UU.  sobre  los recursos naturales como el  Acuífero Guarani y como aliado estratégico para la contención de procesos de  luchas y conflictos sociales causados por la injusticias del modelo de  acumulación actual [...] Este nuevo interés de consolidar alianzas em países  como Paraguay están encaminados a fortalecer la hegemonía de los Estados Unidos  em detrimento de la integración latinoamericana” (Millán, 2005, p.113).
A afirmação de Santiago Millán, a priori, possui um caráter conspiratório, mas, não podemos nos esquecer que durante o governo Bush (2001-2008) a agenda norte-americana gerou uma série de problemas internacionais: as guerras do Iraque e no Afeganistão, a intensificação dos choques entre israelenses e palestinos, as relações tensas com Moscou, o programa nuclear iraniano, os impasses na relação com a Coréia do Norte e as dificuldades de relacionamento com o mundo islâmico são alguns exemplos (Silva, 2010, p. 363). Todas essas conjunturas se desenrolaram concomitante as constrições entre o Brasil e os Estados Unidos durante o governo Lula. Dessa forma, a assertiva de Millán (2005) deve ser levada em consideração.
  Devemos também levar em consideração uma série de  conjunturas circunscritas ao cenário sul-americano nesse primeiro decênio do  século XXI que demonstraram o interesse dos Estados Unidos em aprofundar o seu  movimento de integração total com continente sul-americano, deixando bem  evidente sua linha Realista e belicosa de relações internacionais. Como  destacou Pastore (2007):
  A Área de Livre Comércio das Américas  (ALCA ou FTAA, em inglês) ainda não foi estabelecida e a resistência do Brasil  neste sentido foi fundamental. Todavia, o Acordo de Livre Comércio da América  do Norte (NAFTA, em inglês) já é uma realidade desde 1995 [...] Acordos  econômicos bilaterais foram estabelecidos com o Chile (de Livre Comércio, em  2003), país já bastante integrado na política dita “neoliberal” graças aos  “Chigaco’s Boys”, governantes e empresários favoráveis a uma maior aproximação  com os EUA; com o Equador, que dolarizou a sua economia em 2000; e com o  Uruguai. Estes acordos não só aumentam a penetração econômica e política dos  EUA na América do Sul, como também ameaçam a integridade do Mercado Comum do  Cone Sul (MERCOSUL) (PASTORE, 2007, p. 161).
A  intensificação dos acordos econômicos ocorre, acima de tudo, devido aos  movimentos antagônicos que adotaram posturas divergentes aos Estados Unidos:
  Com o espaço aberto surgiram, mais uma  vez, movimentos e governantes que adotam uma postura contrária aos EUA, como o  presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que vem apoiando Cuba nos últimos anos,  principalmente com petróleo e dinheiro, em troca de médicos e vagas para  estudantes venezuelanos nas universidades cubanas. 
  Além disso, as eleições mais recentes  aumentaram o número de governos latino-americanos mais esquerdizantes, o que  pode provocar um afastamento político e econômico destes países com os EUA. Na  Nicarágua os Sandinistas estão de volta com a vitória de Daniel Ortega nas  eleições presidenciais de 2006, na qual os EUA, claramente, tomaram partido  realizando campanha contra Ortega. A eleição de Rafael Corrêa no Equador,  apoiado por Chávez, pode comprometer a concessão que os governos equatorianos  anteriores deram aos EUA para o uso da base aérea de Manta, onde os militares  norte-americanos investiram muito dinheiro. Além do mais, ele pretende  renegociar a dívida externa e os contratos de exploração de petróleo no país.
  Evo Morales foi outro eleito, na Bolívia  em 2005, que contou com apoio de Chávez. Coerente com as aspirações populares  que o elegeram, e para evitar a queda, como os dois presidentes, desde 2003,  Morales nacionalizou as jazidas de gás natural e as refinarias. Medidas desta  natureza são a tônica do presidente argentino Nestor Kirchner, eleito em 2003,  e que ao renegociar a dívida argentina, sem concessões, conseguiu implementar  um acelerado crescimento econômico. 
  Podendo  ser considerados também como de “esquerda” aparecem, ainda, o presidente do  Brasil, Luís Inácio “Lula” da Silva (eleito em 2002 e reeleito em 2006); Tabaré  Vasquez (Uruguai, 2004) e Michelle Bacheret (Chile, 2006) (PASTORE, 2007, p.  162/3).
Estes eventos conjunturais desfavoráveis, num curto espaço de tempo,  foram ensejo para a adoção de mecanismos por parte dos Estados Unidos que foram  além das aproximações no âmbito econômico, gerando margem para as ações  militares que se inserem nos seus novos métodos de combate para o século XXI. 
  Métodos para um  novo tipo de conflito que alcançaram o Paraguai como território estratégico  para operações militares ativas e passivas no coração da Bacia Platina e do  MERCOSUL. Devemos ressaltar que um posicionamento de tropas militares ou o  posicionamento de qualquer outro ator exógeno com uma forte influência  política, em qualquer setor do interior do núcleo geopolítico da América do  Sul, no qual o Paraguai está inserido, viabilizaria ao mesmo o acesso aos  principais recursos naturais do continente, como também, em caso de um conflito  de grande magnitude, forçaria um alinhamento com esse ator. 
  A obtenção de  recursos naturais por parte de uma força exógena é secundária (apesar da  importância dessa questão) em vista do que pode acontecer com os povos da  América do Sul (assim como de toda América Latina) caso um choque entre grandes  potências que disputam a hegemonia mundial venha a acontecer. Não podemos  esquecer que os Estados sul-americanos sempre estiveram na esfera de influência  norte-americana, auxiliando-o nos grandes conflitos. 
   Assim, de acordo com Freytas (2005) no dia 1º  de julho de 2005 desembarcaram no Paraguai 400 marines norte-americanos, com o  propósito de estabelecer uma base militar no país, o que daria ao Pentágono o  controle estratégico do Cone Sul e, supostamente, dos importantes recursos que  se encontram no setor sul-americano citado.
  Em um artigo  intitulado “Nueva base Del comando Sur de EE.UU em el coração de Sudamérica”,  Carlos A. Pereyra Mele (2005), apresentam-nos a informação da existência de uma  Base militar norte-americana em Mariscal Estigarribia,  localizada no Chaco paraguaio, na qual vivem apenas 3000 habitantes, que se  localiza a 250 km  da Bolívia, cercada pelas províncias argentinas de Salta e Formosa, e que  possui uma pista de pouso com 3.800 metros comprimento, que permitiria a  aterrissagem de aviões como o Galaxy e o B-52 norte-americanos, o objetivo  seria poder abrigar 16.000 em efetivo (MELE, 2005, p.119).
  Para Mele (2005),  essa mobilização ocorre mediante a posição estratégica que o Chaco paraguaio  possui para obtenção de recursos naturais, dessa base as tropas  norte-americanas poderiam controlar as reservas petrolíferas e gasificas de  Tajira (Bolívia), que segundo informações é uma das maiores reservas de gás do  mundo, poderiam monitorar as reservas do Aqüífero do Guarani, e teriam a  possibilidade de mobilizar efetivos para Tríplice Fronteira  (Brasil-Paraguai-Argentina), onde residem importantes comunidades árabes.
  As supostas insinuações dos Estados Unidos a esse território teriam o respaldo  do poder legislativo do Estado Paraguaio, como ressalta Esquivel (2005): 
  [...] Com mucha preocupación vemos la  creciente militarización de América Latina y hechos gravísimos como los del  Congreso Nacional Paraguayo que há sancionado el ingresso de tropas de los  Estados Unidos por um lapso de 18 meses desde 1º de junio del corriente año,  hasta el 31 de diciembre de 2006 (ESQUIVEL, 2005, p.114).
Um estreitamento militar entre Estados Unidos e Paraguai não seria  nenhuma surpresa no continente sul-americano nesse início de século, o Plano  Colômbia é o exemplo mais recente, como também, é fato que a potência dominante  na região (Estados Unidos) no passado já obteve o apoio das elites locais, que  seguramente foram colocadas no poder, através de sistemas ditatoriais. E apesar  de Esquivel (2005) afirmar o término dessas manobras conjuntas para dezembro de  2006, existe a informação de que o acordo entre os dois países foi além do  tempo previsto, como também as instalações militares no Paraguai já existiam  mesmo antes dos acordos de 2005. 
  Igor Ojeda (2010),  por exemplo, nos trás a informação das origens da Base de Mariscal Estigarribia  e ressalta a  condição da mesma e sua pista de pouso:
  Na cidade de Mariscal  Estigarribia, no Departamento de Boquerón, região do  Chaco, uma missão internacional visitou o aeroporto Luis María Argaña, construído  com dinheiro dos Estados  Unidos  em 1986, durante a ditadura paraguaia  (1954-1989). Inicialmente uma instalação militar, hoje o local está sob o  controle da Direção Nacional de Aeronáutica Civil do  Paraguai  (Dinac). As medidas da pista de pouso, em excelentes condições de conservação,  impressionam, principalmente levando-se em conta o tráfego  aéreo quase nulo na área: 70   metros de largura por 3.800 metros de  extensão (OJEDA, 2010, p. 01).
Segundo Fabio Serna, defensor  de direitos humanos na Colômbia e integrante do  Movimento Continental de Cristãos pela Paz com Justiça e Dignidade, integrante  da missão que esteve no aeroporto:
  [...] as dimensões  ultrapassam definitivamente qualquer necessidade da aviação civil, comercial,  ou inclusive da Força Aérea paraguaia [...]  Está claro que é uma pista estrategicamente localizada. Está no coração da  América do Sul. Sua área de influência inclui as  principais cidades da região, toda a Bolívia, o Norte do  Chile, o Oeste do Peru, o Norte da Argentina, Uruguai e o Sul do  Brasil. Em cinco minutos de vôo, se está em qualquer lugar (CERNA apud  OJEDA, 2010, p.01).
Uma base militar encravada no Chaco Paraguaio,  viabilizaria aos Estados Unidos, patrocinador do emprendimento, acesso direto  aos recursos naturais do núcleo geopolítico central sul-americano, o que inclui  acesso direto as fronteiras do Brasil, Argentina e Paraguai, ao triângulo  geopolítico da Bolívia, tão cogitado pelas potências regionais no passado e  alvo de inúmeras teorias, e principalmente, dá aos militares  estadunidenses, o acesso direto das vias de  transporte do continente, principalmente a hidrovia Paraguai-Paraná. 
  Pereira (2007, p.17), afirma que o núcleo geopolítico central (figura nº  1) do continente sul-americano envolve o Centro-Oeste brasileiro, nele inserido  o Pantanal, a Amazônia Ocidental, o Paraguai, a Bolívia e partes significativas  da Argentina, do Peru, da Colômbia e da Venezuela. 
A importância desse núcleo geopolítico está no fato de que:
  Inexistem desertos ou regiões semi-áridas,  e constata-se uma extensa larga faixa subandina, comprovadamente petrolífera,  que se estende em um grande arco, desde o Chaco paraguaio até o Maciço  Guianense, este rico em minerais, como ferro, manganês, cassiterita, etc., e  planícies, em grande parte localizadas no Brasil, com um dos maiores potenciais  agrícolas do mundo, pela natureza das terras e pela abundância das águas  (PEREIRA, 2007, p.18).
Acerca de um possível controle do núcleo geopolítico da América do Sul a  partir de uma base militar localizada no Chaco paraguaio, temos também que  destacar a tese de doutoramento de Fortunato Pastore (2007) que faz uma alusão  ao acordo militar Paraguai/ Estados Unidos e a provável utilização do  território paraguaio por tropas norte-americanas:
  Um acordo  militar firmado entre os EUA e o Paraguai , em julho de 2005, permitiu a  permanência de um batalhão do exército dos EUA na região do Gran Chaco. Eles lá ficaram até o fim do  ano passado. O autor teve a oportunidade de conversar com oficiais paraguaios a  respeito disto. Eles, mais que prontamente, negaram qualquer ação maior dos EUA  no país, dizendo apenas que era um grupo de engenharia militar. Não foram  convincentes, as forçadas evasivas criaram, inclusive, uma sensação de que,  realmente, havia algo que não poderia ser revelado. Afinal, o que um batalhão  de engenharia do exército dos EUA iria querer no Chaco paraguaio? (PASTORE, 2007, p.162).
   
  A respeito do questionamento de Pastore (2007), “o que um  batalhão de engenharia do exército dos EUA iria querer no Chaco paraguaio?” Podemos ensejar algumas respostas, e prováveis  possibilidades. 
  Um acordo militar entre governo Paraguaio e  norte-americano e a existência de um batalhão de engennharia do segundo,  possibilitaria aos Estados Unidos um acesso a Bacia Amazônica a partir do  território paraguaio, visto as reais possibilidades das Bacias do Prata,  Amazônica e do Orinoco (Venezuela) se interligarem via rota fluvial, eixo  central (norte-sul) de integração do continente, chamado de “A Grande Hidrovia”  (LINO, et al, 2008, p.55). Em relação a isso é necessário ressaltar que  projetos dessa magninitude existem desde da segunda metade do século XIX, o  “Plano Moraes” de 1869 já apresentava tal possibilidade. 
  Devemos destacar, também, o sólido interesse pelo Aqüífero do Guarani,  que se estende pelas Bacias dos rios Paraná, Uruguai e Paraguai, com uma  superfície de aproximadamente 1.194.000 Km², que corresponde ao Brasil,  Argentina, Uruguai e Paraguai, e que na sua extremidade norte toma contato com  Pantanal que por sua vez se conecta com a Amazônia, rica também em água  potável, ouro, urânio, titânio e, sobretudo, nióbio, fundamental para a  fabricação dos mísseis intercontinentais e que se encontram somente na Amazônia  (BRUZZONE, 2005, p.141-143). 
  Assim, um contato direto dos Estados Unidos com o território paraguaio  possibilita aos mesmos um estudo minucioso de todas as potencialidades citadas,  como também, a consecução de ações circunscritas a preparação de um provável  Teatro de Operações contra um inimigo futuro.
    Sobre a questão dos Estados  Unidos resguardarem posições estratégicas para um enfrentamento com futuro inimigo,  é necessário levar em consideração as pretensões do governo chinês que nesse  início de século coloca em prática o seu plano de expansão da sua frota naval  pelos oceanos Índico e Pacífico, para provavelmente estabelecer bases em  território sul-americano. Segundo Zajec (2008):
  Em 2007, num esforço de diplomacia naval  sem precedentes, os navios chineses não apenas efetuaram visitas oficiais a  portos franceses, australianos, japoneses, russos, cingapurenses, espanhóis e  norte-americanos, como participaram de manobras internacionais de luta contra a  pirataria marítima, que está recrudescendo. A ambição que visa priorizar o  “soft power” deve ser colocada numa perspectiva que leva em conta o cenário  regional e expressa duas estratégias centrais. A primeira diz respeito às  reivindicações territoriais sobre Taiwan e, de maneira mais ampla, sobre o  perímetro das águas territoriais chinesas, que define a Zona Econômica  Exclusiva (ZEE). Da satisfação dessas pretensões depende o livre acesso aos  vastos espaços oceânicos do Pacífico e aos corredores marítimos do Sudeste  Asiático, para além da península indochinesa. A segunda estratégia é a proteção  das rotas marítimas de abastecimento em hidrocarbonetos, para um país que se  tornou o segundo maior importador mundial de petróleo (ZAJEC, 2008, p.2).
  Em relação à  primeira estratégia que envolve o cenário regional, a China já conseguiu firmar  acordos amigáveis com treze vizinhos sobre os contenciosos fronteiriços  terrestres, a oposição se dá por parte do Butão e da Índia. O governo de Pequim  reivindica o domínio sobre 4 milhões de quilômetros quadrados de mar, Zajec  (2008) ainda enfatiza “No caso de Taiwan, as autoridades chinesas estão  particularmente decididas a recuperar sua soberania, ‘se necessário com uso da  força’”( ZAJEC, 2008, p.2). A China também questiona o Japão sobre a posse das  Ilhas Diaoyu, que abrigam uma base norte-americana que em contrapartida afirma  que a sua Zona Econômica Exclusiva se estende em 450 quilômetros para oeste  desse arquipélago. Como também:
  A China também disputa com Taiwan, Vietnã,  Filipinas, Malásia, Brunei e Indonésia a soberania sobre as ilhas Spratly  (Nansha, em chinês) e sobre o arquipélago das Pratas (Dongsha, para os  chineses). E vem disputando com Vietnã e Taiwan o domínio do arquipélago das  Paracel (Xisha) (ZAJEC, 2008).
Mas, as pretensões chinesas estão além do mar da China meridional, o que  Pequim deseja é o acesso da sua frota ao alto-mar, isso implica em embates com  a marinha japonesa e, sobretudo, com a 7º Frota norte-americana. Para que essa  expansão da marinha chinesa em alto-mar ocorra será necessário conseguir  estabelecer uma linha marinha de acesso que vai do Japão até a Malásia, que  passa por Taiwan e pelas Filipinas e depois tentar estabelecer uma conexão  entre o mar da China do Sul e do Leste, de águas pouco profundas, com águas que  se estendem do Japão até a Indonésia. Assim, para a realização da primeira  etapa a contestação marítima se dá por parte da marinha do Japão, o segundo  enclave é a temível 7º frota dos Estados Unidos.
  Segundo Zajec (2008) assim que os chineses resolverem tais questões no  âmbito regional poderão se dedicar mais livremente à segunda meta estratégica,  que consiste em garantir a segurança dos corredores de abastecimento em  hidrocarbonetos no sul da Ásia: 
  A primeira dessas rotas é utilizada pelos  navios petroleiros de menos de 100 mil toneladas, vindos da África e do oriente  Médio, até o mar da China do Sul, passando pelo estreito de Malaca. Vinda das  mesmas regiões de produção, a segunda rota conduz os petroleiros gigantes  através dos estreitos da Sonda e de Gaspar [5]. A terceira rota parte da América Latina  e passa pelas águas filipinas. A quarta rota, que constitui um trajeto  alternativo a partir do oriente Médio e da África, serpenteia entre os  estreitos de Lombok e de Macassar, as Filipinas e o Pacífico oeste, até  alcançar os portos chineses. O principal gargalo que “estrangula” estes  corredores de abastecimento é o estreito de Malaca, por onde passariam 80%  dessas importações de petróleo. Em caso de conflito, o domínio sobre a área é  um fator de preocupação. Para remediar o problema, Pequim tenta diversificar  seus acessos (ZAJEC, 2008, p.3).
Tal preocupação por parte do governo Chinês ocorre, pois é notável o crescimento econômico da China que desencadeia uma crescente procura de matérias-primas do Continente Africano e, sobretudo, da América Latina. Segundo Mário Machungo a China está interessada em recursos minerais energéticos e outros existentes na América Latina, e além das matérias-primas, é atraída pela possibilidade de desenvolver uma cooperação técnica com benefícios para os países envolvidos (MACHUNGO, 2008).
  Esse interesse pela  região demonstra a grande disponibilidade de Pequim em realizar avultados  investimentos para exploração e o transporte desses recursos. Assim, é razoável  admitir que  a cooperação econômica da China com a América Latina vai  impulsionar o crescimento mais acelerado do comércio marítimo ligando o  Atlântico Sul e o Oceano Índico, passando pela rota do Cabo. Para Mário  Machungo, esta previsão é reforçada “se tivermos em conta que a partir de 1993  a China tornou-se um importador líquido de petróleo a seguir aos EUA, passando  a representar, a partir de 2000 mais de 40% da procura mundial de petróleo  bruto” (MACHUNGO, 2008).
  Dessa forma, o  governo Chinês para alcançar seus objetivos econômicos, concomitante as suas  questões comerciais vem expandindo suas bases militares ao longo do Atlântico  Sul, do Oceano Índico e, sobretudo, das rotas marinhas que são importantes para  as suas relações comerciais exteriores. Para Zajec (2008):
  Ao mesmo tempo, Pequim vem construindo o  “colar de pérolas”, uma série de bases permanentes distribuídas ao longo das  orlas do Oceano Índico e das rotas marinhas que conduzem ao estreito de Malaca:  Marao, nas Maldivas; as ilhas Coco, em Mianmar; Chittagong, em Bangladesh e  Gwadar, no Paquistão. Está previsto também o envio de tropas para o litoral  africano, que vem se mostrando sempre mais aberto aos investimentos chineses  (ZAJEC, 2008, p. 3).
Isso significa que o “colar de pérolas” Chinês consiste na criação de bases navais, de portos fluviais, de diques e bases submarinas protegidas que segundo o próprio Olivier Zajec “vão se multiplicando e se modernizando, acompanhando a explosão econômica de uma nação cujo comércio exterior depende 90% das rotas marítimas” (ZAJEC, 2008, p.4).
  Nesse contexto os Estados Unidos podem considerar essa expansão como uma  intromissão na região (América do Sul) que desde o final do século XIX esteve  sob sua influência econômica e política. Tal conjuntura pode vir a responder  por que a 4º Frota norte-americana, desativada em 1950, foi reativada em 2008. 
  A reativação preocupou (como também, ainda preocupa) as autoridades  sul-americanas, sobretudo, o governo brasileiro. A desconfiança das autoridades  brasileiras era justamente, pois à volta à ativa da 4º Frota coincidia com a  descoberta dos campos de petróleo em águas profundas do pré-Sal. Tal aflição  por parte do Brasil acontecia, acima de tudo, porque naquele momento havia o  crescimento da crise energética de hidrocarbonetos no mundo e os métodos  utilizados pela diplomacia norte-americana que se baseavam na tomada à força de  riquezas, disfarçada no discurso da "redemocratização",  intesificavam-se. 
  Mas, de acordo com Igor Gielow a reativação da Frota norte-americana no  Atlântico sul estava relacionada à expansão da frota chinesa pelo Oceano  Índico, com o objetivo de, possivelmente, estabelecer bases em territórios  sul-americanos e garantir o tráfego de suas mercadorias pelo mundo, avaliadas  em bilhões de dólares.
  A esperança é que estas tendências estejam equivocadas, caso contrário,  poderá surgir um cenário sombrio para o continente sul-americano, já nos anos  finais da segunda década do século XXI. Caso uma suposta guerra entre líderes  mundiais venha a ocorrer, aquele que estiver adequado ao Teatro de Operações  pode possuir uma grande vantagem. 
Dessa forma, mediante o parêntese que abrimos, o interesse pelo núcleo geopolítico central da América do Sul, dotado de uma contigüidade geográfica que abriga o Aqüífero do Guarani, a Bacia Amazônica, as regiões de fronteiras dos territórios dos Estados que compõem esse núcleo, assim como as vias fluvias da Bacia do Prata e todos os seus recursos naturais, desperta o interesse não somente dos Estados Unidos, mas de qualquer potência com interesses econômicos e, sobretudo, com pretensões militares.
  Fato que poderia explicar a mobilização militar norte-americana no  território paraguaio, supostamente utilizando-o como “cabeça-de-ponte” (a  partir da base de Mariscal Estigarribia) para ações militares no núcleo  geopolítico central do continente na tentativa de defesa ou maior proximidade  dos seus recursos naturais com o objetivo de resguardá-los e, sobretudo,  “utilizar” as áreas sob sua influência em eventos bélicos futuros (ou até mesmo  para o usufruto no período que anteceda tais eventos).
  Por exemplo, a Tríplice Fronteira Brasil-Paraguai-Argentina (na qual se  localizam as cidades de Foz do Iguaçu no Paraná/Brasil, Puerto Iguazú na  Argentina e Ciudad del Este no Paraguai) está inserida na biodiversidade do  Aqüífero do Guarani, essa região de fronteira despertou durante a gestão Bush  (2001-2008) interesses do governo norte-americano, devido o combate ao  terrorismo, já que inúmeras famílias árabes residem nessa região e, sobretudo,  pois “a área mais importante e fundamental de recarga e descarga é o corredor  transfronteiriço entre Paraguai, Brasil e Argentina, e este corredor está  localizado na zona da Tríplice Fronteira” (BRUZZONE, 2005, p.144). Assim, é  óbvio que operações militares com medidas passivas (inerentes a “guerra do  conhecimento”) foram realizadas nesta zona de fronteira.
  Dessa forma, o domínio do aqüífero do Guarani, conseqüentemente dá  acesso ao Pantanal, aos seus rios e sua biodiversidade, que por sua vez gera  acesso aos cerrados brasileiro, que inclusive até o final da década de 90 possuía  disponível para a agricultura mais de 80 milhões de hectares. Segundo o  professor Dr. Ady Raul da Silva, engenheiro agrônomo, pesquisador aposentado da  Embrapa (Empresa Brasileira de pecuária e agricultura) e membro titular da  Academia Brasileira de Ciências, em entrevista a Gazeta Mercantil de 9 de  fevereiro de 1998, declarou:
  O potencial de uso dos  “cerrados” não esta esgotado, pelo contrário, há disponíveis e próprio para a  agricultura mais de 80 milhões de hectares, além de uma reserva para assegurar  a biodiversidade de 77 milhões de hectares. Se apenas 25% da área agricultável  disponível for utilizada para produção de soja, o Brasil se tornaria o maior  exportador mundial, superando os Estados Unidos (EXECUTIVE INTELLIGENCE  REVIEW-EIR, 2001, p.164).
  Ressaltamos também que o Cerrado brasileiro, a partir do território  paraguaio, tem sua porta de entrada pelo o estado (UF) de Mato Grosso do Sul,  já que faz fronteira com o país platino. Podemos notar o quão seria importante  para os Estados Unidos o estreitamento de relações com Paraguai e a instalação  de infra-estrutura militar nesse país, assim é possível que implicitamente  estudem a região e se articulem para futuros procedimentos de ação de caráter  militar. 
  As possíveis investidas militares estadunidenses, com  medidas passivas e ativas, no continente sul-americano, valorizam ainda mais a  importância da América do Sul para o mundo. Como ressalta Carlos Pereyra Mele  “é o território que possui quase todos os recursos naturais que faltarão a  humanidade neste século e no próximo, além de estar pouco povoado em relação a  suas dimensões e a maioria de suas classes dirigentes estão esgotadas e  corrompidas” (MELE, 2005).
  Apesar dos analistas afirmarem que existe um mobilização  militar norte-americana em território paraguaio, e que a Base de Mariscal  Estigarribia seria uma materialização dessas manobras, não é possível ainda  afirmar porque tal aparelho exista. Não há como saber se esta base militar está  relacionada as ações norte-americanas para garantir reservas de recursos  naturais para o futuro, se faria (ou faz) parte das medidas de cunho preventivo  contra um inimigo futuro do Estados Unidos num conflito de grande proporção em  que a América do Sul seria o principal palco de operações (expansão chinesa  pelos Oceanos Pacífico, Índico e Atlântico Sul?) ou se simplesmente faz parte  do processo de militarização do continente que esteve associado ao interesses  desse governo nesses dez primeiros anos do século XXI para combater o  terrorismo, o narcotráfico e as prováveis reviravoltas políticas relacionadas a  ascensão dos governos de esquerda no continente.
  Mas é fato que o interesse dos Estados Unidos pelo  Paraguai e consequentemente pela Bacia Platina e o núcleo geopolítico da  América do Sul, não seria consequência de conjunturas mais recentes, ou seja,  do descontentamento do governo paraguaio em relação as políticas de Brasil e  Argentina no seio do MERCOSUL, dos processos recentes que refutaram a política  norte-americana no continente sul-americano, e que tiveram como principal arma  de rechaço o próprio MERCOSUL e as ações da política externa brasileira ou o  processo de expansão da China. 
  Precisamos relembrar que na manobra política para a  construção da hidroelétrica de Itaipu, o acordo entre Brasil e Paraguai fora somente  ratificado depois que o representante   militar dos Estados Unidos no Paraguai deu o consentimento final. Laino  (1979) descreve o acontecimento da seguinte forma:
  Ainda que as expressões  vertidas pelos membros da cúpula brasileira fossem suficientemente claras  faltava ainda uma aprovação final. E ela não tardou: no dia seguinte, 8 de  setembro de 1973, o representante da metrópole e Comandante do Grupo militar  dos Estados Unidos da América no Paraguai, coronel Thomas Meredith Waitt dá a  sua aprovação a orientação que o Itamarati estava imprimindo em sua relações  com o regime do Paraguai (LAINO, 1979, p.30).
O consentimento norte-americano ao Brasil para a  construção do emprendimento Itaipu, tem relação com a manutenção de suas  posições estratégicas na Bacia Platina, visto que naquele momento, tratava-se  da materialização de um processo que iria ser importante para todos os  envolvidos. Era importante para o Brasil, já que precisava conter um possível  avanço dos argentinos sobre a região, para o Paraguai que supostamente resolvia  seus problemas no quesito energia, e para os Estados Unidos, pois aumentava sua  influência em relação a esses  países  sul-americanos e, sobretudo, sobre a Bacia Platina.
  A que se destacar também que no ínicio de novembro de  1975 a agência AP (Associated Press)  transmitia de Washington uma informação do Pentágono sobre um programa de  assistencia militar para a américa Latina, este documento assinalava a  importancia estratégica do Brasil, com seu crescente papel na América Latina. Ao  mesmo tempo que o informe considerava o Brasil como uma possível potência  mundial, também dedicava ao periférico Paraguai alguns parágrafos, mas para  defini-lo como um de seus mais fiéis satélites no continente (Laino, 1979,  p.23-24).
  Ao que pareçe, o Pentágono sempre foi sabedor das  oportunidades militares que o território paraguaio poderia ou pode  proporcionar, da posição estratégica que o território desse Estado possui em  relação a Bacia platina e ao núcleo geopolítico central da América do Sul. Já  que a partir do território paraguaio se realiza   qualquer intervenção direta a Bacia Platina, as fronteiras oeste do  Brasil, ao triângulo econômico Boliviano de Sucre - Santa Cruz de La Sierra -  Cochabamba, ao norte da Argentina, enfim a todo núcleo Geopolítico do  continente.
  Raúl Aragón em 1985, num colóquio internacional de  juristas, realizado em Montividéo (Uruguai), já afirmava  que o governo norte-americano não tinha  interesse nenhum em apoiar aberturas democráticas no Paraguai: “Ao contrário, a  ditadura paraguaia constitui a peça chave de toda estratégia norte-americana na  região” (ARAGÓN, 1985, p.168). A observação desse autor, se dá num momento  histórico de muito importância para a América do Sul e que consistia nos  processos de redemocratização após longos anos de governos ditatorias, apoiados  pelos governos norte-americanos, como parte das ações ensejadas pela Lei de  Segurança Nacional contra o Comunismo, criada nos Estados Unidos (PASTORE,  2007, p.154). 
  Dessa forma, mediante ao que fora levantado e, sobretudo,  ao que se refere as manobras militares expansionistas pelo planeta nesse início  de século XXI, que ignoraram absolutamente o Conselho de Segurança da ONU, é  inevitável não deduzir que sempre haverá um motivo para legitimar  intervenções, ainda mais, quando alguns  atores, sempre foram e são conhecedores da função estratégica que  determinados  territórios podem  proporcionar para as dinâmicas econômicas do  presente e em futuros eventos bélicos. Em terras sul-americanas, o Estado  paraguaio e alguns setores do seu território, supostamente seriam parte de uma  estratégia norte-americana que está relacionada as suas pretenções hegemônicas  na região.
  Dessa forma, uma base militar encravada no Chaco  Paraguaio, viabilizaria aos Estados Unidos, como a qualquer outra potência com  grande estrutura de poder, acesso direto a esse núcleo geopolítico central  sul-americano, mas no momento, a pergunta a se fazer  é a seguinte: em que oportunidade, em quais  condições, e contra qual inimigo, a Base de Mariscal Estigarribia de uma vez  por todas será utilizada? 
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![]() 1647 - Investigaciones socioambientales, educativas y humanísticas para el medio rural Por: Miguel Ángel Sámano Rentería y Ramón Rivera Espinosa. (Coordinadores)  Este  libro  es  producto del  trabajo desarrollado por un grupo interdisciplinario de investigadores integrantes del Instituto de Investigaciones Socioambientales, Educativas y Humanísticas para el Medio Rural (IISEHMER).  Libro gratis  | 
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