O SEGUNDO CICLO DE KONDRATIEV (1843-1896) E O SEU LIAME COM A PARTICIPAÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS NA GUERRA DO PARAGUAI

Roberto Mauro da Silva Fernandes

Capítulo 1 - OS CICLOS ECONÔMICOS E A GUERRA DO PARAGUAI
1.1 AS “ONDAS K”

Segundo Fortunato Pastore o ciclo econômico “pode ser definido, simplesmente, como um período flutuante e alternado de expansão e retração da atividade econômica como um todo, de um país ou de um conjunto de países” (PASTORE 2007, p.108).

 Esses ciclos sistêmicos podem apresentar seis fases distintas: depressão absoluta, recuperação econômica, atividade econômica, com os índices atingindo o seu ponto mais elevado, de estagnação e equilíbrio aparente e breve, de crise, seguida pela contração, a depressão (PASTORE, 2007, p.109).
De acordo com as análises de Pastore (2007), existem dois tipos de ciclos econômicos, os de curta e os de longa duração:

Os de curta duração, também conhecidos como Movimentos Breves possuem, basicamente, três dimensões temporais. A menor, de quarenta meses (entre três e quatro anos), conhecida como Ciclo dos Estoques ou Kitchin (do economista Joseph Kitchin. Os ciclos levam o nome do economista que o estudou primeiro ou o fez de forma mais detalhada); a segunda, com uma duração maior, em torno dos oito ou nove anos, chamada de Ciclo Juglar. De Clément Juglar, o economista francês (médico de profissão) que fez fortuna na Bolsa de Valores ao aplicar os seus conhecimentos no mercado de ações (análise ex-ante!). E, por fim, o Ciclo Labrousse, com média de onze anos. [...] Três também são os ciclos de longa duração: o Kuznets (de Simon Smith Kuznets, economista norte-americano, de origem russa), um duplo Juglar, isto é, uns vinte anos; o Kondratieff (Nikolai Dmitrievitch Kondratieff, 1892-1930, economista e estatístico russo), em torno de meio século, e o Ciclo Secular ou Tendência Secular (Trend, em inglês) (PASTORE, 2007, p.109/110).

Pastore (2007, p.110) direciona suas análises desses ciclos sistêmicos da economia com os ciclos de guerras, com base no Ciclo Kondratieff (Figura 1), que se caracteriza como um ciclo de meio século, ou seja, um dos de longa duração.

O ciclo Kondratieff possui quatro “Ondas K” (referência aos ciclos longos de retração e ascensão da economia), nas quais podemos identificar processos de alternância na hegemonia econômica e política mundial, ensejadas pelas mudanças tecnológicas no decorrer de todo século XIX e XX. Processos que fundamentaram as atividades bélicas ao longo desses dois séculos, e que inclui o conflito na Bacia Platina:

Na primeira Onda K tivemos, sob a liderança da Inglaterra, as invenções ligadas à máquina a vapor e a indústria têxtil, características da Primeira Revolução Industrial; na segunda houve a expansão ferroviária e siderúrgica, típica da Segunda Revolução Industrial, que promoveu a incorporação da Europa Ocidental e dos EUA no processo de desenvolvimento econômico acelerado. O uso do petróleo e da energia elétrica em larga escala, em associação com as indústrias ligadas ao motor a explosão, deram a liderança aos EUA na terceira onda. Estes continuaram liderando na quarta onda, mas perderam espaço para Alemanha e Japão, nos novos ramos econômicos como microeletrônica, química fina e biotecnológica (PASTORE, 2007, p.115/116).

Dessa forma, o Ciclo de Kondratieff apresenta os momentos de retração e ascensão da economia mundial, fato que implica, teoricamente afirmando, que os determinantes políticos, econômicos e tecnológicos, coincidem com as fases A e B da economia mundial, “fase A, de expansão e crescimento; e fase B, de crise e depressão” (PASTORE, 2007, p.109).

As “Ondas K” vão nos ajudar a situar a Guerra do Paraguai na conjuntura sistêmica na qual o mundo encontrava-se, como também, serão úteis para verificarmos a origem dos eventos que circunscrevem a participação dos sujeitos internos e externos à Bacia Platina, seja na esfera econômica e/ou militar.
Obviamente que os Ciclos Kondratieff são a representação teórica do ritmo básico da história econômica do mundo desde os fins do século XVIII, não existem por si somente. Assim, as “Ondas K” são o resultado do desencadeamento das conjunturas protagonizadas por fatores exógenos e endógenos e que estão relacionadas às pretensões e as investidas de alguns setores dos Estados. Assim, numa dessas sucessões de “ondas longas” se desenvolveu a Guerra do Paraguai.
O conflito platino como iremos verificar, desencadeou-se por uma série de motivos, entre eles:

  1. A crise comercial pela qual passava o Império do Brasil no início da década de sessenta do século XIX (que corroborou para a atração do capital britânico), fez do conflito um meio para se mitigar os efeitos da depressão econômica pela qual passava o Império;
  2. A Guerra do Paraguai, entre outras questões, contribuiu para a derrota de um concorrente direto do Império brasileiro. O Paraguai, que disputava com o Brasil o mercado de determinados produtos agrícolas, fato que deu maior liberdade para as ações comerciais brasileiras. Ressaltamos que, por outro lado, esse conflito beneficiou os bancos britânicos que emprestaram dinheiro a juro para os beligerantes;
  3. As disputas hegemônicas dos principais Estados da região, que vislumbravam o controle político e econômico da Bacia Platina e do continente. Por exemplo, a Confederação Argentina, sob o comando de Buenos Aires, e o Estado Paraguai tinham pretensões de fundarem confederações Bioceânicas, objetivos divergentes aos interesses do Império brasileiro, que na metade do século XIX, protagonizou uma política expansionista pelo continente, aos moldes da Coroa Portuguesa;
  4. As pretensões expansionistas norte-americanas sobre a América do Sul (preconizadas pela Doutrina Monroe), materializadas com a contribuição dos sujeitos internos do continente sul-americano, devido aos seus interesses;
  5.  A consolidação da indústria bélica norte-americana, que criou um sistema tecnológico de armamentos que nenhuma nação do mundo ocidental possuía. Fato que a credenciou na venda de equipamentos militares, e que gerava margem para a participação direta dos Estados Unidos em conflitos.

 Esses fatores são concomitantes a segunda “Onda K”, delimitado entre 1843 a 1864(fase A) e 1864 a 1896 (fase B). A primeira fase corresponde ao período de ascensão da economia mundial, no qual o processo expansionista dos Estados Unidos pela América Central, Caribe e Pacífico estava a todo vapor, em que os mesmos desenvolvem o “sistema norte-americano de armamentos”, resultado de sua eficiente indústria bélica.

Também nessa fase de ascensão da economia mundial, os Estados sul-americanos passavam por um estágio de intensificação de suas celeumas, sobretudo, àquelas relacionadas às disputas territoriais (demarcação de limites), ao controle das principais vias de comunicação e ao comércio de determinados produtos para mercados internos e externos. A segunda fase, está relacionada  a uma fase de declínio da economia mundo, que culminou em 1896 e foi de extrema importância para a mudança da hegemonia mundial da Grã-Bretanha para os Estados Unidos.

Acreditamos que as conjunturas econômicas da primeira fase dessa “Onda K” contribuíram para eclosão da Guerra do Paraguai, principalmente, pois possibilitou as condições favoráveis de acumulação de capitais, que as fases de ascensão econômica propiciam. Redesenhando as estruturas do setor político e econômico do mundo ocidental no século XIX, ensejando as bases para o desenrolar de alguns  acontecimentos importantes para a história no início do século XX ( A Primeira e a Segunda Guerra Mundial).

As “Ondas K” são importantes em dois planos: no primeiro para situarmos o conflito platino num determinado momento da história econômica do mundo, até porque, como veremos no decorrer desse capítulo, as questões econômicas sempre estiveram relacionadas ao plano militar em fases de ascensão e declínio, seja num plano regional ou mundial. Num segundo, porque no contexto metodológico explicativo, as perspectivas cíclicas longas da economia facilitam a contextualização dos eventos que condicionaram a Guerra do Paraguai. 

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